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Pericia antropológica

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Pericia antropológica
INTRODUÇÃO 
A história indígena e a do Brasil andam de mãos dadas, desde antes da chegada dos portugueses em 1500 os índios já aqui habitavam. A terra sempre teve um dono, e com a ocupação que não pode ser considerada “amigável” ,os donos das terras perderam o espaço e o domínio dos terrenos que ocupavam. Quando falamos em povo indígena o que vem na cabeça é uma cultura diferente, um povo diferente que possuem costumes e crenças diferentes, mas o que não levamos em consideração é que o povo indígena não é um só, eles são uma junção de povos com particularidades especificas que necessitam de estudos individuas, pois cada um deles possui sua própria cultura, religião e costumes. Os pioneiros indígenas viviam totalmente da terra, o contato com a natureza era a única fonte de subsistência e tudo que vinha da terra lhes garantiam o sustento. Historiadores calculam que existiam de 3 a 4 milhões de índios no Brasil antes de 1500 e que hoje esse número foi reduzido a cerca de 400 mil, ou seja, o contato dos índios com os portugueses foi extremamente nocivo aos povo indígenas brasileiros, eles foram enganados, explorados, escravizados e ainda perderam suas terras e foram submetidos a abandonarem sua cultura em favor de outra e aderirem a crenças que não eram as suas. 
	Com a miscigenação dos povos e o aumento populacional que ocorreu no Brasil, muitas tribos perderam traços culturais e muitas aderiram a da população não indígena, e esse contato trouxe malefícios graves como: a contração de doenças por parte dos indígenas e consequentemente a redução da população nativa. Algumas tribos isoladas conseguiram ficar longe da influência branca, e ainda possuem sua cultura intacta, já os que convivem entre os brancos e próximo a eles, acabam por travar uma guerra constante por manter seus direitos e lutas por suas terras, tudo na busca de que o mínimo em relação a dignidade da pessoa humana lhes sejam garantidos como cidadãos. 
	 O direito indígena é um direito especial que deve ser tratado com cuidado e rigor, para não prejudicar uma classe que já foi tão prejudicada pela ambição e a incompreensão do branco. Dentro das Universidades o direito indígena é tratado em conjunto com o direito ambiental, o que ainda não é satisfatório. Como estudar todos os direitos de um povo em uma única disciplina?. Uma das maiores batalhas do povo indígena é a luta por suas terras, o processo de demarcação e desapropriação de terras indígenas é um assunto muito polêmico no Brasil, isso porque ainda há quem acredite que os índios não possuem direitos sobre a terra, há quem ache que há muita terra para pouco índio, ou até que eles não trabalham o suficiente para merecer tal pedaço de terra. O que muita gente parece não se lembrar é que essa terra nunca deixou de ser deles, que o tipo de trabalho que eles realizam nela é a única maneira que conhecem de sobreviver, e que se hoje muitos não conseguem “trabalhar na terra” isso se dá devido a invasão que o povo sofreu em suas terras. É na busca de afirmar e garantir o direito desses povos que o Estado se tornou responsável por zelar de seus interesses, e talvez devido a isso muitos assuntos indígenas acabam por ser relacionados a temas políticos. 
A perícia antropológica é solicitada pelo Estado e por trabalhar com repercussões políticas acaba tendo seus procedimentos relacionados a tal assunto. A grande maioria das solicitações de pericias antropológicas são relacionadas a demarcações de terras indígenas, que eram demarcadas levando em consideração os três modelos ligados a contextos distintos. O primeiro modelo vigente no século XX não se preocupou em estabelecer a relação indissociável, de natureza sociocultural, entre o povo indígena e a terra. O SPI (serviço de proteção aos Índios), na tentativa de separar terras indígenas se ocupou da perspectiva humanitária e genérica, separava o povo em terras muitas vezes obtidas através do espólio e ou terras devolutas ,e administrava com a autorização dos povos indígenas essas reservas em partes do território nacional. Essas reservas não se preocupavam com a cultura de cada povo, não havia a preocupação de inter-relacionar os indígenas e os recursos naturais existente nesse território, havia problemas como o aumento populacional que não eram compatíveis com o tamanho da área fornecida. O governo atuava de forma segregacionista voltada para a ideia do desejável isolamento entre os indígenas e a sociedade nacional, o encontro entre eles só se realizava através do próprio Estado em conjunto com o SPI. 
	 Com a visível ineficácia dos programas governamentais, o antropólogo surge de forma necessária, seu trabalho deve ser respeitado e como profissional ele deve se qualificar de forma cientifica nos fóruns. Possui como objeto de estudo o quadro histórico, político e jurídico que é composto pela: nossa CF, a legislação indígena e a política indigenista. Com o estudo aprofundado de tais temas o antropólogo possui as ferramentas para realizar seu trabalho. Graças à o estudo de tais profissionais a tradição indigenista no Brasil sofreu grandes evoluções, os direitos indígenas foram melhorados e como resultado há os procedimentos administrativos como no estado do Mato Grosso do sul, em que nas pequenas áreas destinadas aos Terena, que são insuficientes para suas atividades agrícolas de subsistência, estão cercados por fazendas e cidades. Em geral, contudo, o primeiro modelo de demarcação das terras indígenas acabou reformulado pelas próprias práticas administrativas e, em seguida, revogado por disposições constitucionais. 
	O segundo modelo em que o Estado atuou na demarcação de terras indígenas, foi a criação do Parque Indígena do Xingu, os estudos e debates se estenderam por anos e graças à atuação de antropólogos, juristas, cientistas, diplomatas, militares e sertanistas a região dos altos cursos do rio Xingu foi descrita como habitat de diferentes povos que se isolavam da população branca por terem uma relação simbiótica de adaptação cultural, ou seja, o governo foi além ao formular um padrão de proteção conjunta de populações, culturas e territórios. Porém esse modelo de definição das terras indígenas se condensou no critério de imemorialidade, e este critério foi o norte da nova agencia indigenista criada pelo Estado ,a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), e desde então para uma terra ser reconhecida como indígena, era preciso que a área tivesse sido sempre ocupada por índios e jamais habitada por brancos. De maneira ingênua, essa administração quis traçar um mapa histórico do Brasil, separando índios e brancos desrespeitando as posses precedentes dos indígenas. O resultado dessa intervenção foi a penetração da população branca nos territórios ocupados pelos indígenas como no caso da maraiwatsede em Mato Grosso, onde a população ocupou por mais de vinte anos a terra indígena, houve a separação de famílias e grupos que possuíam fortes ligações, os donos da terra foram muitas vezes chamados de invasores. Essa segunda intervenção só fez com que houvesse um deslocamento forçado dos índios pelo país e que ocorressem migrações devido à falta de recursos naturais. 
	 O último modelo de demarcação de terra indígena veio com a nossa CF\88, que graças a práticas administrativas, atualmente reconhece o direito dos índios em manter seu modo de vida, costumes e sua língua. Reconhece que a terra indígena deve corresponder a necessidades culturais especificas, e há o reconhecimento de uma territorialidade indígena plena.
O índio hoje pode ocupar o território segundo as perspectivas de sua cultura e necessidades, não há necessidade de agências indigenistas ou peritos comprovarem a presença de indígenas em determinados locais, pois o fato de algumas práticas administrativas, como as portarias da Funai que normatizam os procedimentos para o reconhecimento das terras indígenas, ainda qualificarem os estudos a ele ligados como “etnohistóricos”, e não simplesmente “antropológicos”, apenas reflete a lenta conversão dos preceitosconstitucionais em práticas administrativas, sobretudo na ausência da necessária adaptação da legislação específica sobre a matéria. Isso pode ser observado no fato do estatuto do índio ainda não ter sido aprovado pelo congresso ainda baseado no critério de imemorialidade que é vedada pela CF. 
A criação de terras indígenas é realizada por equipes especializadas, a proposta é elaborada em conjunto com os estudos que foram realizados e em seguida são publicados no Diário Oficial da União iniciando-se um prazo de 60 dias para que se manifestem, ainda no plano administrativo, todos aqueles que não concordam com seus termos ou se consideram prejudicados por ela. A terra indígena é criada não por portaria da Funai e sim por decreto do Presidente, da República e assim a presunção de que as áreas indígenas constituem faixas do território que são imunes ao poder nacional não tem fundamento, o que ocorre geralmente é a aplicação da legislação e o exercício da autoridade, que não deve ser dar de maneira genérica e indiferenciada, ou seja, o poder público deve agir em articulação com a agência indigenista, levando em consideração as referências culturais de cada comunidade.
O povo não indígena do Brasil tende a ter uma ideia errônea de como conceber os Índios, muitos os veem como povos primitivos e os consideram diferentes da população branca e isso ocorre graças as informações que a mídia fornece e aos preconceitos que são repassados com os anos. Os antropólogos e historiadores conhecem de perto essa situação, eles se remostam ao período colonial, onde as autoridades coloniais portuguesas lidavam com a população indígena em índios mansos e índios bravos, separando uma categoria da outra conforme a conversão destes. Essa divisão fez com que muitos índios fossem escravizados e como no caso da escravidão de negros no Brasil, isso ainda alimenta e emoldura as representações contemporâneas sobre as populações do nosso país, como exemplo há a redação do índio de 1973, que define o índio como “a pessoa ou coletividade que, em razão de suas características culturais, distingue-se da sociedade nacional,”., o certo seria dizer que na sociedade nacional, uma vez que os índios não podem ser pensados como seres exteriores à nação brasileira, pois, se nasce no brasil ele é brasileiro independente de sua etnia. Temos que nos desvincular a essas ideias ultrapassadas e evoluir, não estranhar ao encontrar índios iguais a nós, escolarizados, com diplomas e profissionais, devemos deixar essa catarse intelectual e nos desvincular do passado para assim pensar de acordo com as leis e o marco histórico atual. 
Há povos que esqueceram de falar sua língua por medo, que abandonaram seus costumes por temer represálias, o tratamento discriminatório faz com que muitos percam suas características históricas e isso contribuiu no passado para que em algumas províncias no século XIX, os índios tenham sido considerados extintos e suas terras distribuídas entre particulares, ainda existem numerosas coletividades que reivindicam a identidade indígena e a posse das terras pertencentes aos antigos aldeamentos. Na condição de unidades socioculturais, os povos indígenas detêm uma forma de existência que não deve ser descrita por meio de categorias como vida e morte, ou apogeu e declínio. Uma cultura e um povo indígena não morrem como resultado de um processo natural. Uma coletividade pode desaparecer, se todos os seus membros forem mortos e se sua existência for inteiramente suprimida da memória local e de arquivos e documentos. A cultura não vai se perder, o processo não pode ser invalidado, as comunidades indígenas que buscam por conhecimento oficial não merecem ser chamadas de aproveitadoras, se a identidade indígena lhe dá direitos, nada mais justo que obtê-los. Não é porque um índio não vive em uma aldeia que ele vai deixar de ser índio, a dívida histórica não vai deixar de existir e ele não vai deixar de possuir a cultura indígena, não há índio aculturado pois não há coletividade humana que independa dos processos de empréstimo cultural.
O ANTROPOLOGO 
	Como qualquer outro profissional o antropólogo necessita de um diploma e de pós graduação, ou seja, ele deve ser mestre ou doutor. No Brasil não é comum as graduações em antropologia e mais raros ainda são aquele que se intitulam como antropólogos. Um antropólogo é um especialista, mas não é necessariamente um especialista em índios, ele apenas possui instrumentos, métodos e técnicas de investigação que vão permitir estudos necessários para descrever e analisar o funcionamento de diferentes sociedades humanas, assim o antropólogo deve ter conhecimento teórico e etnográfico sobre manifestações culturas e formas de sociabilidade existentes no mundo.
	Um antropólogo deve ler sobre várias culturas para assim compor uma visão comparativa das várias formas de organização social e do complexo dinamismo das manifestações culturais, ou seja, a antropologia não vai estudar apenas as comunidades indígenas, ela irá estudar também os fenômenos sociais, realizará pesquisas sobre áreas rurais, migrantes, afrodescendentes, minorias étnicas, populações urbanas, vida política e movimentos sindicais, entre outras coisas. Ele poderá se especializar em uma área de conhecimento sobre o qual trabalha mas jamais esgotara seu campo de investigação, assim não há motivos para rivalizar com o conhecimento dos indígenas ou dos membros das sociedades que estuda já que o antropólogo é um observador externo ancorado em um saber acumulado e universal, não é somente um vínculo de autoconhecimento. 
	 Se um programa do Governo resolve desenvolver um projeto e busca adesão de um grupo indígena, essa ação deve ser analisada pelos próprios indígenas, pois estes sim merecem ser convidados a debater sobre seus interesses e eventualmente endossada por antropólogos. Como todos os brasileiros, os indígenas são agentes históricos que disputam e legislam por sua própria cultura. São eles que atualizam e idealizam o seu próprio futuro. Numa palavra, o antropólogo não deve substituir a participação indígena, mesmo que seu trabalho promova encontros interculturais realizados de forma mutuamente respeitosa e profícua. Os profissionais desta área precisam consolidar uma relação de confiança com a população que estuda, o antropólogo só consegue seus objetivos quando, o conhecimento obtido nas várias formas de vida social for livre de estereotipados e pragmáticos. Por essa razão, não se admite a presença de terceiros durante o trabalho de campo, pois eles inibem os informantes e deslegitimam o encontro etnográfico. Quando o indígena está acompanhado seja pela Funai ou por fazendeiros e missionários ele acaba sofrendo pressões, defendendo-se e tentando se explicar segundo o ponto de vista de outros, e o objetivo do antropólogo é buscar que o indígena se expresse e consiga formular seu ponto de vista. Não há sentido em pretender controlar o trabalho do antropólogo enquanto este está em curso. Caso se queira impugná-lo, devem-se avaliar ou questionar suas conclusões ou procedimentos. Um antropólogo pode ser contratado por qualquer uma das partes envolvidas nos processos que demandam perícias, isto é, por uma empresa, um sindicato ou o próprio Estado. Se for um bom profissional, fará sua pesquisa com independência, buscando estabelecer uma relação direta com os indígenas. Em geral, os antropólogos preferem trabalhar como peritos do juiz, pois consideram que nessa situação podem contribuir de maneira mais efetiva para a aplicação da legislação. O antropólogo tem de ouvir as falas de muitas pessoas de uma mesma coletividade e observar cuidadosamente o seu comportamento, para assim estar apto a indicar um conjunto de possibilidades culturais. Em sua atividade analítica, deverá chegar a descrever, por meio da abstração e da síntese, certos padrões de pensamento e de ação, a serem testados empiricamente.

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