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Inquérito Civil

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Inquérito Civil e Procedimento preparatório
-Conceito: procedimento administrativo investigatório, de natureza inquisitiva, informal, privativo do Ministério Público, e voltado à coleta de subsídios para a atuação judicial ou extrajudicial em defesa dos interesses transindividuais que incumbe àquela instituição tutelar.
O procedimento preparatório do IC, por seu turno, é procedimento investigatório de natureza inquisitiva, informal, privativo do Ministério Público, cuja instauração pode ser cabível previamente a um inquérito civil, quando não houver certeza sobre a necessidade de instauração do mesmo ou sobre a atribuição de determinado membro do MP para instaurá-lo.
-Prazos para conclusão: procedimento preparatório> 90 dias, prorrogável por uma única vez, em caso de motivo justificável (art. 2º, §6º, Res. CNMP 23/2007). No Ministério Público do Estado de São Paulo tal prazo é de 30 dias, também prorrogável, uma única vez, por igual período (art. 23, §§ 2º e 5º, Ato Normativo 484/2006 – CPJ), ou seja, o prazo máximo será de 60 dias, não podendo, em nenhuma hipótese tramitar por prazo superior.
Vencidos tais prazos, com ou sem atendimento das providencias preparatórias, o membro do Ministério Público poderá promover: I – arquivamento; II - ajuizar a respectiva ação civil pública; ou III – converter em inquérito civil (art. 2º, §7º, Res. CNMP 23/2007 e art. 23, §3º do Ato Normativo 484/2006 – CPJ).
			 Inquérito Civil> 1 ano, prorrogável pelo mesmo prazo, quantas vezes forem necessárias, por decisão fundamentada de seu presidente, à vista da imprescindibilidade da realização ou conclusão de diligências, dando ciência ao Conselho Superior, à Câmara de Coordenação e Revisão competentes, ou à Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, conforme dispuser a respectiva lei orgânica. No entanto, cada Ministério Público, no âmbito de sua competência administrativa, poderá estabelecer prazo inferior, bem como limitar a prorrogação mediante ato administrativo do Órgão da Administração Superior competente (art. 9º, parágrafo único, Res. CNMP 23/2007). No Ministério Público do Estado de São Paulo, por exemplo, o prazo para conclusão do IC é de 180 dias, prorrogável quando necessário, devendo expor-se a motivação nos autos (art. 24, Ato Normativo 484/2006 – CPJ).[1: Art. 24. O inquérito civil deverá ser concluído no prazo de 180 (cento e oitenta) dias, prorrogável quando necessário, cabendo ao órgão de execução motivar a prorrogação nos próprios autos. Parágrafo único: A motivação referida no "caput" deverá necessariamente ser precedida de um relatório circunstanciado acerca das providências já tomadas e daquelas ainda em curso. (Incluído pelo Ato (N) nº 531 – CPJ, de 11/04/2008).]
Arquivamento e seu controle pelos órgãos de revisão
O IC e o Procedimento Preparatório, quando esgotadas todas as possibilidades de diligências, ou quando seu presidente se convencer de que não existe fundamento para a propositura de ação civil pública, poderão ser arquivados pelo mesmo (art. 9º da Lei 7.347; art. 223, §1º do ECA; art. 92, §1º do Estatuto do Idoso; art. 10, Res. CNMP 23/2007). Isso ocorrerá quando se constatar:
Que não houve lesão ou ameaça de lesão a um interesse cuja tutela incumbisse ao MP tutelar, ou não se conseguiu identificar um responsável por sua reparação (lesão) ou eliminação (ameaça);
Que a lesão foi reparada ou a ameaça desapareceu, e não se vislumbra a necessidade de medidas adicionais (ex: empresa poluidora reparou espontaneamente o dano ambiental e tomou medidas para que não se repita);
Que o responsável pelo dano ou ameaça assinou perante o Ministério Público um termo de compromisso de ajustamento de conduta.
E no caso de IC ou Procedimento Preparatório que tenha por objeto mais de um fato, havendo necessidade de ação civil pública em face de apenas um deles? Nesse caso, não basta ajuizar a ação em face de algum e silenciar em relação aos demais. Seria um “arquivamento implícito”, esbarrando no princípio da obrigatoriedade, que rege o Ministério Público. Outrossim, contrariaria o disposto no art. 9º da LACP, o qual exige fundamentação do arquivamento. Sendo assim, os fatos que não forem causa de pedir na ação civil pública deverão ser alvo de promoção de arquivamento, submetida à revisão do órgão competente (art. 13, Res. CNMP 23/2007).[2: Art. 13. O disposto acerca de arquivamento de inquérito civil ou procedimento preparatório também se aplica à hipótese em que estiver sendo investigado mais de um fato lesivo e a ação civil pública proposta somente se relacionar a um ou a algum deles.]
Prosseguindo, quando arquivado, os autos do IC ou procedimento preparatório deverão ser remetidos com a promoção do arquivamento ao órgão de revisão competente, no prazo de 3 dias, sob pena de falta grave, contado da efetiva cientificação pessoal dos interessados, ou, quando não localizados, por meio de publicação na imprensa oficial ou da lavratura de termo de afixação de aviso no órgão do MP (art.10, §1º, Res. CNMP 23/2007 e art. 9º da LACP).
OBS: os autos somente serão remetidos ao órgão revisor após a comprovação da efetiva cientificação dos interessados.
Se o arquivamento do procedimento for parcial, como os autos originais terão instruído a ação civil pública, devem-se remeter ao órgão revisor apenas suas cópias, acompanhadas da promoção de arquivamento parcial e de cópias da inicial da ação civil.
OBS: o CSMP-SP possui entendimento peculiar no que toca ao arquivamento de inquéritos civis em matéria eleitoral: alegando que o MP eleitoral é órgão híbrido, pois a função do Promotor Eleitoral perante juízes e juntas eleitorais é exercida por Promotores de Justiça dos Estados e, perante outros órgãos, por membros do MPU, aponta a necessidade de criação de colegiados híbridos, compostos por membros do Ministério Público Estadual e do Federal, para revisão daqueles arquivamentos. Enquanto não são criados tais órgãos mistos, sustenta que a competência revisora é tanto do Conselho Superior do Ministério Público Estadual como das Câmaras de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal.[3: O mesmo CSMP-SP, por meio da Súmula 47, entende que os procedimentos administrativos atinentes à matéria eleitoral, como, por exemplo, os relativos à prestação de contas de candidatos, propagandas eleitorais, regularidade do registro ou diplomação, dentre outros, dada a falta de previsão legal, a decisão do Promotor Eleitoral não está sujeita à revisão por aquele órgão superior. Diversamente, em se tratando de procedimentos cujo objeto possa ensejar propositura de ação civil pública (como IC eleitoral, peças de informação), seu arquivamento deve ser submetido à revisão pelo CSMP-SP.Súmula 47: Não devem ser submetidos à homologação do Conselho Superior, as promoções de arquivamento ou os indeferimentos de representação, lançados em procedimentos pura e tipicamente eleitorais. Tal não se aplica ao Inquérito Civil Eleitoral nem às peças de informação capazes de ensejar a propositura de ação civil pública, hipóteses em que a revisão do Conselho é obrigatória.]
Cumpre observar que, enquanto o Conselho Superior do MP (ou outro órgão competente) não homologar ou rejeitar a promoção de arquivamento, poderão as associações legitimadas apresentar razões escritas ou documentos, que serão juntados aos autos do inquérito ou anexados às peças de informação (art. 9º, §2º, LACP). Na verdade, qualquer ente legitimado, e não apenas as associações, poderão exercer esse direito, e tais manifestações poderão ser a favor ou contra o arquivamento, e dar-se tanto nos inquéritos civis como nos procedimentos preparatórios (art. 10, §3º, Res. CNMP 23/2007).
-não promoção de arquivamento pelo órgão revisor: nesse caso, poderão ser tomadas as seguintes providências:
a) converterá o julgamento em diligência para realização de atos imprescindíveis à sua decisão;
b) rejeitará o arquivamento, deliberando pelo prosseguimento do IC ou do Procedimento Preparatório;
c) rejeitará o arquivamento, deliberando pelo ajuizamentoda ação.
Art. 9º Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas as diligências, se convencer da inexistência de fundamento para a propositura da ação civil, promoverá o arquivamento dos autos do inquérito civil ou das peças informativas, fazendo-o fundamentadamente.
§ 1º Os autos do inquérito civil ou das peças de informação arquivadas serão remetidos, sob pena de se incorrer em falta grave, no prazo de 3 (três) dias, ao Conselho Superior do Ministério Público.
§ 2º Até que, em sessão do Conselho Superior do Ministério Público, seja homologada ou rejeitada a promoção de arquivamento, poderão as associações legitimadas apresentar razões escritas ou documentos, que serão juntados aos autos do inquérito ou anexados às peças de informação.
§ 3º A promoção de arquivamento será submetida a exame e deliberação do Conselho Superior do Ministério Público, conforme dispuser o seu Regimento.
§ 4º Deixando o Conselho Superior de homologar a promoção de arquivamento, designará, desde logo, outro órgão do Ministério Público para o ajuizamento da ação.
Qualquer que seja a razão da não homologação do arquivamento, o órgão revisor deverá fundamentar sua decisão, bem como designar outro membro para assumir o caso (art. 11, Res. 23/2007). Nas palavras de Adriano Andrade, Cleber Masson e Landolfo Andrade tal designação “não pode recair no mesmo membro que promoveu o arquivamento, pois ele já expressou sua convicção pessoal pela desnecessidade da ação civil pública. Do contrário, haveria violação do princípio constitucional da independência funcional”.
Por fim, vale ressaltar que o fato de ter havido arquivamento do IC, não gera, para o investigado, direito subjetivo de não vir a ser futuramente processado. Primeiro, porque a lei não prevê tal consequência. Segundo, porque o MP não é titular privativo da ação civil pública: nada impede que algum dos demais colegitimados ajuíze a ação, se entender cabível.
Desarquivamento
O IC poderá ser desarquivado se, dentro de 6 meses após o arquivamento:
	1 – surgirem novas provas sobre o fato nele investigado;
2 – emergir a necessidade de investigar um fato novo relevante, que tenha relação com o fato nele investigado, o IC poderá ser desarquivado.
Conforme preconiza o art. 12 da Res. CNMP 23/2007, se algum desses eventos ocorrer após o prazo de 6 meses, o IC não poderá ser desarquivado, devendo-se instaurar um novo inquérito civil, sem prejuízo das provas já colhidas no anterior.
Outrossim, no caso do IC desarquivado não resultar em ação civil pública, deverá submeter-se a novo arquivamento (art. 12, parágrafo único, Res. CNMP 23/2007).
Princípio da Publicidade x Sigilo
Em regra, os atos praticados no IC e em seu procedimento preparatório, são regidos pelo princípio da publicidade, pois configuram procedimentos administrativos (art. 37, CF). A publicidade do IC será assegurada nos termos do art. 7º, §2º da Res. CNMP 23/2007:
	§2º A publicidade consistirá:
I – na divulgação oficial, com o exclusivo fim de conhecimento público mediante publicação de extratos na imprensa oficial;
II – na divulgação em meios cibernéticos ou eletrônicos, dela devendo constar as portarias de instauração e extratos dos atos de conclusão;
III – na expedição de certidão e na extração de cópias sobre os fatos investigados, mediante requerimento fundamentado e por deferimento do presidente do IC;
IV – na prestação de informações ao público em geral, a critério do presidente do IC.
Há outras possíveis formas de publicidade. No MP/SP, por exemplo, determina, desde que não haja prejuízo para investigação, a cientificaçao do representante e a afixação de cópia da portaria de instauração no local de costume e sua disponibilização no Portal da Instituição (art. 19, IV, Ato 484/2006), bem como, desde que não haja prejuízo ao interesse público, a cientificação do interessado acerca da decisão de instauração do IC.[4: Art. 19. O inquérito civil será instaurado por portaria, numerada em ordem crescente, renovada anualmente, devidamente registrada em livro próprio e autuada, observados os requisitos legais e também: I – o fundamento legal que autoriza a ação do Ministério Público, a descrição de seu objeto e a justificativa, ainda que sucinta, da necessidade da instauração e da atribuição do Ministério Público; (Redação dada pelo Ato (N) nº 718/2011 – CPJ, de 01/12/2011) II – a indicação, se possível, das pessoas envolvidas no fato a ser apurado; III – a data e o local da instauração e a determinação das diligências iniciais, se isso não for prejudicial à investigação; (Redação dada pelo Ato (N) nº 718/2011 – CPJ, de 01/12/2011) IV – a cientificação do representante e a afixação de cópia da portaria em local de costume e sua disponibilização no portal da Instituição, se não houver prejuízo para a investigação]
No que tange ao fornecimento de informações a interessados em geral ou à imprensa, em cumprimento ao princípio da publicidade das investigações, nada obsta que o membro do MP preste informações, inclusive aos meios de comunicação social, acerca das providências adotadas para apuração de fatos em tese ilícitos, vedando-se tão somente a emissão ou antecipação de juízos de valor a respeito de apurações ainda não concluídas (art. 8º, Res. CNMP 23/2007).
Também é de se lembrar o direito de advogados terem acesso a autos, mesmo sem procuração, quando não estejam sujeitos a sigilo, e ainda que conclusos, assegurada a obtenção de cópias e a tomadas de apontamentos.
-restrição da publicidade: excepcionalmente a publicidade poderá ser restringida. Isso se dará nos casos de sigilo legal, bem como naqueles cuja publicidade possa prejudicar as investigações, casos em que o sigilo, em prol do interesse público, poderá ser decretado, em decisão motivada (art. 7º, Res. CNMP 23/2007). Tal restrição é indispensável à segurança da sociedade ou do Estado, sob pena de afronta à CF (art. 5º, XXXIII).
No MP/SP há vedação expressa à possibilidade de retirar os autos da secretaria da Promotoria (art. 116, Ato 484/2006).
Por fim, a restrição da publicidade poderá ser limitada, conforme seja suficiente, a determinadas pessoas, provas, informações, dados períodos ou fases, cessando quanto extinta a causa que a motivou. Os documentos resguardados por sigilo legal serão autuados em apenso (art. 7º, §§ 4º e 5º, Res. CNMP 23/2007).

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