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Código Civil COMENTADO (Obrigações)

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P A R T E E S P E C I A L 
 LIVRO I 
DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES 
 TÍTULO I 
DAS MODALIDADES DAS OBRIGAÇÕES 
 CAPÍTULO I 
DAS OBRIGAÇÕES DE DAR 
 Seção I 
Das Obrigações de Dar Coisa Certa 
Art. 233. A obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios dela embora 
não mencionados, salvo se o contrário resultar do título ou das circunstâncias do 
caso. 
É uma decorrência do princípio geral do direito, universalmente aplicado, segundo 
o qual o acessório segue o destino do principal. O principal é o bem que tem existência 
própria, que existe por si só. Já o acessório é aquele cuja existência depende do 
principal. 
Nada obsta(impede) a que se convencione o contrário. No silêncio do contrato 
quanto a esse aspecto, a venda de um terreno com arvores frutíferas inclui os frutos 
pendentes; a alienação(venda) de um imóvel inclui, como acessórios, os melhoramentos 
ou benfeitorias realizados, assim como o ônus dos impostos; a de um veículo abrange os 
acessórios colocados pelo vendedor etc. 
Pode o contrário não somente resultar de convenção(acordo), mas também das 
circunstâncias do caso. Por exemplo: embora o alienante responda pelos vícios 
redibitórios(redibição = meio pelo qual se anula uma compra e venda de coisa móvel ou 
semovente que possui defeitos ocultos a serem descobertos pelo adquirente), certas 
circunstâncias podem excluir essa responsabilidade, como o conhecimento do vício por 
parte do adquirente. 
O princípio de que “o acessório segue o principal” aplica-se somente às partes 
integrantes (frutos, produtos e benfeitorias), mas não às pertenças, que não constituem 
partes integrantes e se destinam, de modo duradouro, ao uso, ao serviço ou ao 
aformoseamento de outro (Artigo 93 do Código Civil). Com efeito, prescreve o artigo 
94 do Código Civil que “os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal não 
abrangem as pertenças, salvo(exceto) se o contrário resultar da lei, da manifestação de 
vontade, ou das circunstâncias do caso. 
Dessa maneira, mesmo não existindo disposição em contrário, as pertenças como 
o mobiliário, por exemplo, não acompanham o imóvel alienado ou desapropriado. 
Na grande classe dos bens acessórios compreendem-se os produtos e os frutos 
(artigo 95 do Código Civil). Produtos são as utilidades que se retiram da coisa, 
diminuindo-lhe a quantidade, porque não se reproduzem periodicamente, como, por 
exemplo, as pedras e os metais, que extraem das pedreiras e das minas. Distinguem-se 
dos frutos porque a colheita destes não diminui o valor nem a substância da fonte, e 
daqueles sim. 
Os frutos são as utilidades que uma coisa periodicamente produz. Nascem e 
renascem da coisa, sem acarretar-lhe a destruição no todo ou em parte, como, por 
exemplo, os cereais, as frutas das árvores etc. Dividem-se, quanto à origem, em 
naturais, industriais e civis. 
Frutos naturais são os que se desenvolvem e se renovam periodicamente, em 
virtude da força orgânica da própria natureza, como, por exemplo, as frutas das árvores, 
as crias dos animais etc. 
Frutos industriais são os que aparecem pela mão do homem, isto é, os que surgem 
em decorrência da atuação do homem sobre a natureza, como a produção de uma 
fábrica. 
Os frutos civis são os rendimentos produzidos pela coisa, em virtude de sua 
utilização por outra pessoa que não o proprietário, como os juros e os aluguéis. 
Quanto ao estado, os frutos classificam-se em: 
- frutos pendentes(em espera), enquanto unidos à coisa que os produziu. Ex: uma maçã 
verde presa a uma árvore; 
- frutos percebidos(recebidos) ou colhidos, depois de separados; 
- frutos estantes, os separados e armazenados ou acondicionados para a venda; 
- frutos percipiendos, os que deviam ser, mas não foram colhidos ou 
percebidos(retirados, recebidos); 
- e consumidos, os que não existem mais porque forem utilizados. 
Também se consideram acessórias todas as benfeitorias, qualquer que seja o seu valor. 
O Código Civil, no artigo 96, considera: 
- benfeitorias necessárias: aquelas que têm por fim(objetivo) conservar(preservar) o bem 
ou evitar que o bem se deteriore; 
- benfeitorias úteis: aquelas que aumentam ou facilitam o uso do bem (acréscimo de um 
banheiro ou de uma garagem à casa, por exemplo); 
- benfeitorias voluptuárias: as de mero deleite(usufruto) ou recreio (jardins, mirantes, 
fontes, cascatas artificiais), que não aumentem o uso habitual do bem, ainda que o 
tornem mais agradável ou sejam de elevado valor. 
A Obrigação de Entregar(da Tradição) 
Já foi enfatizado que se cumpre a obrigação de dar a coisa certa através da 
entrega(tradição) (como na compra e venda) ou a restituição (como no comodato, por 
exemplo) da coisa. 
Comodato = empréstimo gratuito de coisa não fungível(substituível), que deve ser 
restituída no tempo convencionado pelas partes. 
Às vezes, no entanto, a obrigação de dar não é cumprida porque, antes da entrega ou da 
restituição, a coisa pereceu ou se deteriorou, com culpa ou sem culpa do devedor. 
Perecimento significa perda total; e deterioração, perda parcial da coisa. São expressões 
consagradas da doutrina. O Código Civil usa os vocábulos “perda” e “deterioração” no 
sentido de perda total e perda parcial. Se o veículo, que deveria ser entregue, incendeia-
se, ficando totalmente destruído, ou é furtado ou roubado, por exemplo, diz-se que 
houve perda total. Se o incêndio, no entanto, provocou apenas uma pequena avaria, 
então a hipótese é de deterioração. 
Quem deve, nesses casos, suportar o prejuízo? Tal questão diz respeito à atribuição dos 
riscos na obrigação de dar frustrada e é a de maior importância tratada no presente 
capítulo. O Código Civil apresenta solução para as diversas hipóteses que podem 
ocorrer, como, por exemplo, para a do vendedor que, já tendo recebido o preço, se vê 
impossibilitado, sem culpa e em razão do caso fortuito ou da força maior, de entregar a 
coisa alienada. 
O princípio básico, que norteia as soluções as soluções apresentadas, vem do direito 
romano: res perit domino, ou seja, a coisa perece(se perde totalmente) para o dono. 
Efetivamente, o outro contratante, que não é dono, nada perde com o seu 
desaparecimento. 
 
 
 
Art. 234. Se, no caso do artigo antecedente, a coisa se perder, sem culpa do 
devedor, antes da tradição(entrega), ou pendente a condição suspensiva(SE), fica 
resolvida(extinta) a obrigação para ambas as partes; se a perda resultar de culpa 
do devedor, responderá este pelo equivalente e mais perdas e danos. 
Perecimento sem culpa e com culpa do devedor 
Em caso de perecimento (perda total) de coisa certa antes da tradição(entrega da 
coisa), é preciso verificar, primeiramente, se o fato decorreu de culpa ou não do 
devedor. Comecemos pelo caso de perda sem culpa do devedor. 
O devedor, obrigado a entregar a coisa certa, deve conservá-la com todo zelo e 
diligência. No entanto, se apesar de sua diligência(cuidado), a coisa certa se perde, sem 
culpa (destruída por um raio, por exemplo), antes da tradição(entrega), ou pendente a 
condição suspensiva(SE), a solução da lei é esta: resolve-se(extingue-se), isto é, 
extingue-se a obrigação para ambas as partes, as quais retornam à situação primitiva 
(statu quo ante). Se o vendedor já recebeu o preço da coisa, então deve devolvê-lo ao 
adquirente, em decorrência da resolução(extinção) do contrato, sofrendo, por 
conseguinte(isso), o prejuízo decorrente do perecimento(perda total). Porém, não está 
obrigado a pagar perdas e danos. 
Se o perecimento(apodrecimento, perda) ocorreu pendente(em espera) condição 
suspensiva(SE) (aprovação em concurso, vencimento de uma disputa, casamento, por
exemplo), então não se terá adquirido o direito que o ato visa (artigo 125 do Código 
Civil), e o devedor suportará o risco(perigo de não conseguir) da coisa. 
Artigo 125: Subordinando-se a eficácia(efeito social) do negócio jurídico à condição suspensiva(SE), 
enquanto essa condição suspensiva não se verificar(resolver), então não existirá o direito adquirido ao 
qual esse negócio jurídico pretende (existe apenas uma expectativa de direito -> uma pendência(espera)). 
Quem sofre o prejuízo, pois, na obrigação de entregar(de fazer a tradição), que 
emerge de uma compra e venda, por exemplo, havendo perecimento da coisa, sem 
culpa, é o próprio alienante(vendedor), pois continua sendo o proprietário, até a 
tradição(entrega da coisa) (res perit domino: a coisa perece para o dono). O princípio é 
reiterado(reafirmado) no artigo 492 do Código Civil: “Até o momento da 
tradição(entrega da coisa), os riscos da coisa correm por conta do vendedor, e os preços 
por conta do comprador”. 
Havendo perecimento(perda) da coisa com culpa do devedor, então provoca a 
responsabilidade pelo pagamento de perdas e danos. Neste caso, o credor tem o direito a 
receber o seu equivalente em dinheiro, mais as perdas e danos comprovadas. 
Dispõe, com efeito, o artigo 234, segunda parte, do Código Civil, “Se a perda 
resultar de culpa do devedor, então o devedor responderá pelo 
equivalente(correspondente) em dinheiro, mais as perdas e danos. Quando a lei se refere 
ao termo “equivalente”, quer mencionar o equivalente em dinheiro. O devedor deve 
entregar não outro objeto semelhante, mas sim o equivalente em dinheiro, que 
corresponde ao valor do objeto perecido, mais as perdas e danos, que 
denotarão(definirão) o prejuízo invocado(chamado). 
As perdas e danos compreendem o dano emergente e o lucro cessante, ou seja, 
além do que o credor efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar 
(Artigo 402 do Código Civil), pois, todo o prejuízo experimentado e comprovado pela 
vítima. 
Artigo 402: Exceto as exceções(defesas) expressamente(claramente) previstas em lei, as perdas e danos 
devidas ao credor compreendem aquilo que razoavelmente(moderadamente) aquilo que o credor deixou 
de lucrar, além daquilo que o credor efetivamente(permanentemente) perdeu. 
 
Ex: Antônio obrigou-se a entregar a Benedito, Carlos, Dario e Ernesto um determinado 
touro reprodutor, avaliado em R$ 80.000,00 (oitenta mil reais). Embora bem guardado e 
bem tratado em lugar apropriado e seguro, o animal morreu afogado em inundação 
causada por fortes chuvas (Força Maior). Nesse caso, a obrigação é de dar coisa 
certa(determinada), indivisível(una), resolvida(acabada) para ambas as partes (devedor e 
credores) com ausência de culpa do devedor, diante do perecimento(perda) do objeto. 
Entretanto, se Antônio deixasse o boi ingerir veneno por negligência, então ele seria 
culpado e, portanto, responderia por perdas e danos. 
Ex: Caroline comprometeu-se entregar(fazer a tradição) a Joana, em razão de contrato 
de compra e venda o cachorro Icks OU o cachorro Jack (obrigação alternativa), ambos 
de seu premiado canil. O preço ajustado é de R$ 1.500,00. O direito de escolha é 
conferido a Caroline (escolha do credor) que deverá exercê-lo até 1 de outubro de 2009, 
direito que é exercido em 25 de setembro recaindo a escolha sobre o cachorro Icks. A 
comunicação da escolha é feita em 26 de setembro. A tradição do bem, então deverá ser 
realizada até 10 de novembro de 2009 no domicilio da credora. Em outra situação, após 
a concentração da obrigação, o cachorro escolhido morre porque Caroline deixou de 
vaciná-lo; nesse caso, a obrigação se concentrará no cachorro remanescente, nos termos 
do art. 234. 
Art. 235. Deteriorada a coisa, não sendo o devedor culpado, poderá o credor 
resolver(extinguir) a obrigação, ou aceitar a coisa, abatido de seu preço o valor que 
perdeu. 
Em caso de deterioração ou perda parcial da coisa também importa saber, 
preliminarmente, se houve culpa ou não do devedor. Não havendo culpa, o credor 
poderá escolher por resolver(extinguir) a obrigação, por não lhe interessar receber o 
bem danificado, voltando as partes, neste caso, ao estado anterior; ou aceitá-lo no estado 
em que se acha, com abatimento do preço, proporcional à perda. 
Dispõe, efetivamente, o artigo 235 do Código Civil: 
“Deteriorada a coisa, não sendo o devedor culpado, poderá o credor resolver a 
obrigação, ou aceitar a coisa, abatido de seu preço o valor que perdeu”. 
Reduzindo-se, com a danificação, o valor econômico do bem e, com isso, desfeito o 
equilíbrio na relação jurídica, ao credor compete verificar se, no estado correspondente, 
ainda lhe interessa, ou não, a coisa, para dela desvincular-se, ou então para aceitar a 
entregar, com a redução do valor. 
Havendo culpa pela deterioração, as alternativas deixadas ao credor são as mesmas do 
supratranscrito o artigo 235 do Código Civil (resolver a obrigação, exigindo o 
equivalente em dinheiro, ou aceitar a coisa, com abatimento, mas com direito, em 
qualquer caso, à indenização das perdas e danos comprovados. 
Marcos vendeu uma máquina industrial a Mévio que lhe pagou R$ 20.000,00 por esta. 
Ex: O devedor ficou de entregar o bem na semana seguinte, mas, por falta de sorte, teve 
a sua loja arrombada e perdendo a aludida(referida) máquina. Como se 
resolverá(extinguirá) a obrigação? 
Marcos devolverá os R$ 20.000,00, pois Marcos não teve culpa: não responde por 
perdas e danos. Trata-se de uma perda por caso fortuito. 
 
 
Art. 236. Sendo culpado o devedor, poderá o credor exigir o equivalente, ou 
aceitar a coisa no estado em que se acha, com direito a reclamar, em um ou em 
outro caso, indenização das perdas e danos. 
Observa-se assim que, no geral, sem culpa, resolve-se(extingue-se) a obrigação 
sendo as partes respostas ao estado anterior, sem perdas e danos, estes são devidos, 
respondendo o culpado, ainda, pelo equivalente em dinheiro da coisa. 
A obrigação de restituir é uma subespécie da obrigação de dar. A obrigação de 
restituir se caracteriza pela existência de coisa alheia em poder do devedor, a quem 
cumpre devolver a coisa alheia ao dono. A obrigação de restituir impõe ao devedor a 
necessidade de devolver coisa que, em razão de estipulação contratual, encontra-se 
legitimamente em seu poder. 
É o que sucede(procede), por exemplo, com o comodatário, o depositário, o 
locatário, o credor pignoratício (Pignoratício é quem tem título de penhor instituído em 
seu favor. Credor pignoratício é o credor que possui um bem móvel empenhado como 
garantia. Empenho vem de penhor, que é um direito real de garantia e não tem nada em 
comum com penhora, pois penhora é um ato do oficial de justiça no processo de 
execução) e outros, que devem restituir ao proprietário, nos prazos ajustados, ou no da 
notificação quando a avença(acordo) for celebrada(realizado) por prazo indeterminado, 
a coisa que se encontra em seu poder por força do vínculo obrigacional. 
Em inúmeras figuras contratuais e na própria lei civil são identificadas obrigações 
de restituir, como, por exemplo, as de devolução ou restituição de sinal dado (Artigos 
417 e 420 do Código Civil), coisa achada (artigo 1.233), recebimentos de dívida ainda 
não vencida em detrimento de outros credores quirografários (artigo 162), bens que se 
encontram na posse de herdeiros da pessoa declarada ausente e que aparece (artigo 36 
do Código Civil), frutos pendentes ao tempo em que cessar a boa-fé do possuidor 
(artigo 1.214, parágrafo único), bens dados em penhor (artigo 1.435, IV), frutos e 
rendimentos percebidos(recebidos) pelo indigno (artigo 1.817, parágrafo único), bens 
sonegados (artigo
1.992) etc. 
A obrigação de restituir distingue-se da obrigação de dar propriamente dita. A 
obrigação de dar propriamente dita destina-se a transferir o domínio, que se encontra 
com o devedor na qualidade (o vendedor, no contrato de compra e venda). Na obrigação 
de restituir a coisa se acha com o devedor para o seu uso, mas pertence ao credor, titular 
do direito real. 
Essa diferença vai repercutir na questão dos riscos a que a coisa está sujeita, pois 
se se perder, sem culpa do devedor, prejudicado será o credor, na condição de dono, 
segundo a regra res perit domino (a coisa perece para o dono). 
Art. 237. Até a tradição(entrega) pertence ao devedor a coisa, com os seus 
melhoramentos e acrescidos, pelos quais poderá exigir aumento no preço; se o 
credor não anuir(consentir), poderá o devedor resolver(extinguir) a obrigação. 
Parágrafo único. Os frutos percebidos(recebido) são do devedor, cabendo ao 
credor os pendentes(em espera). 
 
Art. 238. Se a obrigação for de restituir(repor) coisa certa, e esta(a coisa 
certa), sem culpa do devedor, se perder antes da tradição(entrega), então sofrerá o 
credor a perda, e a obrigação se resolverá(extinguirá), ressalvados(excetuados) os 
seus direitos até o dia da perda. 
Na obrigação de restituir coisa certa ao credor, como já dito, prejudicado será este, 
na condição de dono. Assim, se o animal objeto de comodato(empréstimo de coisa 
infungível(insubstituível)), por exemplo, não puder ser restituído, por ter 
perecido(perdido) devido a um raio, resolve-se(extingue-se) a obrigação de 
comodatário, que não terá que pagar perdas e danos, exceto se estiver em mora(atraso), 
quando então responderá pela impossibilidade da prestação mesmo que essa prestação 
decorra de caso fortuito ou de força maior, se estes ocorrerem durante o atraso (artigo 
399 do Código Civil). 
Suportará a perda, assim, no exemplo dado, o comodante, na qualidade de 
proprietário da coisa, “ressalvados(excetuados) os seus direitos até o dia da perda” 
(artigo 238 do Código Civil). Por conseguinte(isso), se a coisa emprestada, verbi gratia, 
gerou frutos, naturais ou civis (como aluguéis), sem despesa ou trabalho do 
comodatário, terá aquele direito sobre eles (artigo 241 do Código Civil). 
Ex: João, proprietário de uma casa situada na cidade de Belo Horizonte, celebra um 
contrato de locação do referido imóvel residencial urbano com Mário, o qual figura na 
relação jurídica na qualidade de locatário. Posteriormente, durante a vigência do 
contrato, a queda de um raio atinge o quadro de distribuição de energia elétrica da casa, 
ensejando(provocando) um incêndio que destrói completamente o imóvel. Ainda que se 
trate de caso fortuito ou força maior, João poderá pleitear(demandar(procurar) a justiça) 
de Mário, que estava na posse do bem, os valores referentes aos aluguéis vencidos e não 
pagos até o evento danoso, resolvendo-se(extinguindo-se) o contrato locatício. 
 
Art. 239. Se a coisa se perder por culpa do devedor, responderá este pelo 
equivalente, mais perdas e danos. 
A obrigação de restituir importa a obrigação de conservar a coisa a zelar por ela. 
Deixando de fazê-lo, o devedor sofre as consequências da sua culpa: deve 
ressarcir(compensar) o mais completamente possível a diminuição causada ao 
patrimônio do credor, a partir o pagamento do equivalente em dinheiro do bem 
perecido(perdido), mais as perdas e danos. 
A regra tem o escopo(alvo) ético, sempre presente no novo Código, de reprimir a 
culpa e a má fé, como se pode verificar, por exemplo, na repressão à sonegação de bens 
no inventário, prevista no artigo 1.995, verbis: “Se não se restituírem os bens 
sonegados, por já não os ter o sonegador em seu poder, pagará ele a importância dos 
valores que ocultou, mais as perdas e danos”. 
 
 
 
 
 
Art. 240. Se a coisa restituível se deteriorar sem culpa do devedor, recebê-la-
á o credor, tal qual se ache, sem direito a indenização; se por culpa do devedor, 
observar-se-á o disposto no art. 239. 
Mais uma vez, a solução é dada pela regra res perit domino (a coisa perece para o 
dono). Isso significa que, inutilizado o bem, quem deve arcar com o prejuízo é seu 
legitimo proprietário. Se a coisa se danificar (perda parcial) sem culpa do devedor (em 
razão do fortuito e da força maior, por exemplo), o credor suportará o prejuízo, na 
qualidade de proprietário. 
No entanto, havendo culpa do devedor na deterioração, “observar-se-á e disposto 
no artigo 239 (artigo 240, segunda parte, do Código Civil), ou seja, responderá o 
devedor pelo equivalente em dinheiro, mais perdas e danos. 
O Código de 1916 mandava aplicar, nesse caso, a mesma regra prevista para a 
hipótese de deterioração da coisa por culpa do devedor na obrigação de entregar coisa 
certa, ou seja, facultava ao credor aceitá-la no estado em que se achava, mais perda e 
danos, em lugar de exigir o equivalente e as perdas e danos. 
O novo Código omitiu-se a esse respeito, entendendo o legislador ser dispensável 
a menção expressa a essa possibilidade, porque o proprietário sempre tem o direito de 
exigir a restituição, em decorrência do que a recebeu por força de um contrato, da coisa 
que lhe pertence, esteja em perfeito estado ou danificada (artigo 1.228 do Código Civil). 
E, neste último caso, também lhe assiste o direito de pleitear(questionar em juízo) 
perdas e danos (artigo 389 do Código Civil). 
Artigo 1.228 do Código Civil: 
O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o dinheiro de revê-la(repô-la) do 
poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha. 
Artigo 389 do Código Civil: 
Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualizações 
monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado. 
Observa-se, em resumo, que o devedor está obrigado a restituir a coisa tal qual a 
recebeu. Se essa coisa se deteriora sem culpa sua, não pode ele ser responsabilizado 
pelo prejuízo, sofrido exclusivamente pelo dono, isto é, pelo credor. Nenhum motivo, 
jurídico ou moral, poderia ditar solução diferente. 
Todavia, se causada a deterioração por culpa do devedor, que omitiu, por 
exemplo, o dever de custodiar, cabe-lhe suportar as consequências de sua 
desídia(intenção). Neste caso, assiste ao credor o direito de exigir o equivalente em 
dinheiro, podendo optar, todavia, pelo recebimento da coisa, no estado em que se acha, 
acrescido das perdas e danos, num e noutro caso. 
Ex: Ana Maria, produtora rural do oeste de São Paulo, firmou com Pedro Augusto a 
obrigação de entregar dez sacas de café Catauí, tipo exportação que estavam 
armazenadas em seu galpão ao final do mês de abril. Para tanto, Pedro adiantou a 
quantia de R$7.000,00 (sete mil reais). Ocorre que antes do termo fixado, uma chuva 
torrencial destruiu o galpão com as sacas destinadas ao credor. 
 
Art. 241. Se, no caso do art. 238, sobrevier melhoramento ou acréscimo à 
coisa, sem despesa ou trabalho do devedor, lucrará o credor, desobrigado de 
indenização. 
 
Art. 242. Se para o melhoramento, ou aumento, empregou o devedor 
trabalho ou dispêndio, o caso se regulará pelas normas deste Código atinentes às 
benfeitorias realizadas pelo possuidor de boa-fé ou de má-fé. 
Parágrafo único. Quanto aos frutos percebidos, observar-se-á, do mesmo 
modo, o disposto neste Código, acerca do possuidor de boa-fé ou de má-fé. 
 Seção II 
Das Obrigações de Dar Coisa Incerta 
Art. 243. A coisa incerta será indicada, ao menos(no mínimo), pelo gênero e 
pela quantidade. 
Já vimos que a coisa certa é individualizada, determinada. A expressão “coisa 
incerta”
indica que a obrigação tem objeto indeterminado, mas não totalmente, porque 
deve ser indicada, ao menos, pelo gênero e pela quantidade. A coisa incerta é, portanto, 
indeterminada, porém determinável. Falta apenas determinar a sua qualidade. 
É indispensável, portanto, nas obrigações de dar a coisa incerta, a indicação, de 
fala o texto. Se faltar também o gênero, ou a quantidade (qualquer desses elementos), a 
indeterminação será absoluta, e a avença(convenção), como tal objeto, não produzirá a 
obrigação. A coisa incerta não pode ser objeto de prestação, por exemplo, a prestação de 
“entregar sacas de café”, por faltar a quantidade, assim como a prestação de entregar 
“10 sacas”, por faltar o gênero. 
Porém constitui a obrigação de dar a coisa incerta a obrigação de “entregar 10 
sacas de café”, porque o objeto é determinado pelo gênero e pela quantidade. Falta 
determinar somente a qualidade do café. Enquanto isso não ocorre, a coisa permanece 
incerta. 
Álvaro Villaça Azevedo já criticava a utilização da palavra “gênero” no Código 
Civil de 1916, observando, corretamente, que melhor seria se “tivesse dito o legislador: 
espécie e quantidade. Não: gênero e quantidade, pois a palavra gênero tem um sentido 
muito amplo. 
Considerando a terminologia do Código, por exemplo, dizia o mestre paulista, 
“cereal é gênero e feijão é espécie. Se, entretanto, alguém se obrigasse a entregar uma 
saca de cereal (quantidade: uma saca; gênero: cereal), essa obrigação seria impossível 
de cumprir-se, pois não se poderia saber qual dos cereais deveria ser o objeto da 
prestação jurídica. Nestes termos, é dizer-se: espécie e quantidade. No exemplo 
supracitado, teríamos: quantidade (uma saca); espécie (de feijão). De maneira que, aí, o 
objeto se torna determinável, desde que a qualidade seja posteriormente mostrada. 
Nesse exemplo, até que se demonstre a qualidade da saca de feijão, fica coisa incerta. 
Atendendo a essa sugestão do ilustre professor mencionado, o Projeto de Lei 
número 6.960 de 2002, atual Projeto de Lei 276 de 2007, apresentado à Câmara dos 
Deputados pelo Deputado Ricardo Fiúza, com proposta de alteração de 160 artigos do 
novel diploma, propõe que se dê a seguinte redação ao retrotranscrito artigo 243 do 
Código Civil: “A coisa incerta será indicada, ao menos, pela espécie e pela quantidade”. 
 A designação(indicação, nomeação) do gênero, por si só, não contém base 
suficiente para a indicação exigida pela lei, sendo mister(de ofício) mencionar também a 
quantidade, para que o devedor não se libere com prestação insignificante. 
A principal característica dessa modalidade de obrigação reside no fato de o 
objeto ou conteúdo da prestação, indicado genericamente no começo de relação, vir a 
ser determinado por um ato de escolha, no instante do pagamento. Esse objeto são, 
normalmente, coisas que se determinam por peso, número ou medida. 
 
Diferenças e afinidades com outras modalidades 
As obrigações de dar a coisa incerta, também chamadas de genéricas, distinguem-
se das de dar a coisa certa, também chamadas de obrigações específicas, sob vários 
aspectos. Nas obrigações incertas (gerais, genéricas), a prestação não é determinada, 
mas sim apenas determinável, dentre uma pluralidade(variedade) indefinida(ilimitada) 
de objetos; já nas obrigações de dar a coisa certa (específicas, particulares), a prestação 
tem, desde logo, o conteúdo determinado, pois concerne a um objeto singular, 
perfeitamente individualizado. 
Observe-se que coisa incerta (geral, genérica) não é uma coisa indeterminada, ou 
seja, não é qualquer coisa, mas uma obrigação parcialmente determinada, 
suscetível(sujeita) de uma completa determinação oportunamente, através da escolha da 
qualidade ainda não indicada. 
Anote-se também que nas obrigações de dar coisa incerta (geral, genérica) o 
devedor se encontra em situação mais cômoda(tranquila), porque se libera com uma das 
coisas compreendidas no gênero indicado, à sua escolha. 
As obrigações de dar a coisa incerta (geral, genérica) têm acentuada afinidade 
com as obrigações alternativas, que serão estudadas logo adiante. Em ambas (a 
obrigação de dar a coisa incerta e a obrigação alternativa) a definição a respeito do 
objeto da prestação se faz a partir do ato de escolha e essa escolha passa a ser chamar 
concentração depois da referida definição. Em ambas também compete ao devedor a 
escolha, se outra coisa não se estipulou (ajustou conforme o contrato jurídico). 
Todavia, a obrigação de dar a coisa incerta (geral) e a obrigação alternativa se 
diferenciam devido ao fato de as obrigações alternativas apenas conterem 2 ou mais 
objetos individualizados (específicos), devendo a escolha recair em apenas um deles; 
nas obrigações de dar a coisa incerta (geral, genérica), o objeto é apenas um, apenas 
indeterminado quanto à qualidade. 
Nas obrigações alternativas, a escolha recai sobre um dos objetos in obligatione, 
enquanto nas obrigações de dar a coisa incerta (geral, genérica), a opção recai sobre a 
qualidade de um único objeto existente. Nas obrigações alternativas, ainda, tem 
consequências relevante o perecimento de um dos objetos a ser escolhido, ocorrendo a 
concentração, neste caso, por força da lei e, portanto, independentemente de escolha, no 
remanescente(restante). Nas obrigações de dar a coisa incerta (geral, genérica) não 
ocorre a concentração compulsória nem altera a obrigação com as perda da coisa, em 
decorrência do princípio genus nunquam perit (o gênero nunca perece(se perde)) que 
será estudado a seguir e pelo qual, antes da determinação do objeto pela escolha, não 
poderá o devedor alegar a perda da coisa por força maior (ex: enchente, terremoto, 
furacão) ou caso fortuito (incêndio causado por gambiarras, tumultos de greve) (Artigo 
245 de Código Civil). 
Pode ocorrer, no entanto, a confusão entre as duas modalidades, quando o gênero 
se reduz a número muito limitado de objetos (alguém se obriga, por exemplo, a entregar 
garrafas de vinho de determinada marca e, na data do cumprimento, só existem duas ou 
três garrafas). Somente a interpretação do contrato poderá esclarecer se se trata de uma 
obrigação genérica (de dar a coisa incerta) ou obrigação alternativa. Ex: o testador deixa 
ao legatário um de seus cavalos e somente possui, ao morrer, 2 ou 3. 
Costuma-se apontar, também, a diferença existente entre a obrigação de dar a 
coisa incerta (geral, genérico) e obrigação fungível(substituível). A obrigação de dar a 
coisa incerta (geral, genérica) tem por objeto a coisa indeterminada, que ao devedor 
cabe entregar(fazer a tradição), com base na qualidade média (nem deve a pior nem tem 
a obrigação de dar a melhor), para efeito de liberação de liberação do vínculo. A 
obrigação fungível(substituível) pode ser substituída por outra da mesma espécie, 
qualidade e quantidade (por exemplo: o dinheiro), para efeito de desvinculação do 
devedor. 
 
Art. 244. Nas coisas determinadas pelo gênero e pela quantidade, a escolha 
pertence ao devedor, se o contrário não resultar do título da obrigação; mas não 
poderá dar a coisa pior, nem será obrigado a prestar a melhor. 
A escolha somente competirá ao credor se o contrato assim dispuser. Sendo 
omisso nesse aspecto, então a escolha pertencerá ao devedor. 
O artigo 244 estabelece, no entanto, os limites para a atuação do devedor, 
dispondo que “não poderá dar a coisa pior, nem será obrigado a prestar a coisa melhor”. 
O devedor deve guardar, portanto, o meio-termo entre os congêneres(de mesmo gênero) 
da melhor e da pior qualidade. Pior é a coisa que está abaixo da média. Esse é o 
parâmetro que deve guiar o julgador, quando o credor rejeitar
escolha, valendo-se ainda 
dos usos e costumes do lugar da execução ou da conclusão do negócio jurídico. 
Desse modo, adotou-se o critério da qualidade média ou intermediária. Se alguém, 
por exemplo, se obrigar a entregar(fazer a tradição de) uma saca de café a outra pessoa, 
não se tendo convencionado a qualidade, deverá o devedor entregar uma saca de 
qualidade média. Se existirem 3 qualidades, A, B e C, entregará uma saca de café tipo 
B. Nada impede, porém, que opte por entregar, ao invés de uma saca de qualidade 
intermediária, a de melhor qualidade. Apenas não pode ser obrigado a fazê-lo. 
Se, no entanto, da coisa a ser entregue somente existirem duas qualidades, então o 
devedor poderá entregar qualquer uma delas, até mesmo a pior coisa. Caso contrário, 
escolha não haverá. Nessa hipótese torna-se inaplicável, pois, o critério da qualidade 
intermediária. 
 
Art. 245. Cientificado da escolha o credor, vigorará o disposto na Seção 
antecedente. 
A determinação da qualidade da coisa incerta (genérica, geral) perfaz(conclui, 
torna completo) através da escolha. Feita a escolha, e cientificado o credor, então acaba 
a incerteza, e a coisa se torna certa, vigorando, portanto, as normas da seção anterior do 
Código Civil, que tratam das obrigações de dar a coisa certa (específica). 
O ato unilateral de escolha denomina-se concentração. Para que a obrigação se 
concentre em determinada coisa não basta a escolha. É necessário que a obrigação se 
exteriorize(formalize) através da entrega(tradição), pelo depósito em pagamento, pela 
constituição em mora(demora) ou por outro ato jurídico que importe a cientificação do 
credor. 
Com a concentração passa-se de um momento de instabilidade e indefinição para 
outro, mais determinado, consubstanciando(consolidando), por exemplo, em pesagem, 
medição, contagem e expedição, conforme o caso. 
 
Art. 246. Antes da escolha, não poderá o devedor alegar perda ou 
deterioração da coisa, ainda que por força maior ou caso fortuito. 
 
Os efeitos da obrigação de dar coisa incerta (genérica, geral) devem ser 
apreciados(avaliados) em 2 momentos diferentes: a situação jurídica anterior e a 
posterior à escolha. Determinada a qualidade, então a coisa individualizada se torna 
certa (específica). Antes da escolha, porém (a definição somente se completa com a 
cientificação do credor), seja a partir do credor, seja a partir do devedor, a coisa 
permanece indeterminada, clamando pela individualização, pois somente a referência ao 
gênero e quantidade não a habilita a ficar sob um regime igual à obrigação de dar a 
coisa certa (específica). 
Nesta última fase, se a coisa se perder, não se poderá alegar a culpa ou força 
maior. Somente a partir do momento da escolha é que ocorrerá a individualização e a 
coisa passará a aparecer como objeto determinado da obrigação. Antes, o devedor não 
poderá alegar a perda ou a deterioração, ainda que por força maior ou por caso fortuito, 
pois o gênero nunca perece(se perde totalmente) (genus nunquam perit). 
Se alguém, por exemplo, obriga-se a entregar 10 sacas de café, não 
eximirá(livrará) da obrigação, ainda que se percam todas as sacas que possui, porque 
pode obter, no mercado ou em outra propriedade agrícola, o café prometido. Entram 
nessa categoria também as obrigações em dinheiro, pois o devedor não se 
exonera(desobriga) se vem a perder as cédulas que havia separado para solver(quitar) a 
dívida. 
Diferente será a solução se se obriga a dar a coisa certa, que venha a parecer(se 
perder), sem a culpa sua (em incêndio acidental, por exemplo), ou se se tratar de gênero 
limitado, ou seja, circunscrito(delimitado) às coisas que se acham em determinado lugar 
(animais de determinado fazenda, cereais de determinado depósito etc.). Sendo 
delimitado(definido), dessa forma, o genus (gênero), então o perecimento(perda) de 
todas as espécies que o compunham acarretará(causará) a extinção da obrigação. Nesse 
caso, não existe qualquer restrição à regra genus nunquam perit (o gênero nunca 
perece(se perde, apodrece) ou genus perire non censetur (o gênero nunca se perde, pois 
é considerado o tipo(espécie) de). Ex: Se um livreiro emprestar a um colega 50 
exemplares de uma determinada obra, para lhe restituir daí a 6 meses, e se no final desse 
prazo a obra estiver esgotada, então é claro que haverá a impossibilidade absoluta de 
restituir os exemplares novos. 
A expressão “antes da escolha”, que constava do artigo 877 do Código Civil de 
1916 e foi reproduzida no artigo 246 do novo diploma, tem sido criticada pela doutrina, 
pois não basta que o devedor separe o produto para entregá-lo ao credor, sendo mister 
(de ofício, necessário) realize ainda o ato positivo de colocá-lo à disposição deste. 
Somente nesse caso ele exonerará da obrigação, caso se verifique a perda da coisa. 
Enquanto a coisa não é efetivamente entregue(tradicionada), ou, pelo menos, colocada à 
disposição do credor, impossível a desoneração do devedor, que terá sempre diante de si 
a parêmia(expressão do pensamento) genus nunquaum perit (o gênero nunca perece). 
 
 CAPÍTULO II 
Das Obrigações de Fazer 
Art. 247. Incorre(incide) na obrigação de indenizar perdas e danos o devedor 
que recusar a prestação a ele só imposta, ou só por ele exequível(capaz de se 
executar). 
Esse dispositivo(artigo) cuida das obrigações infungíveis(insubstituíveis) ou 
personalíssimas (intuitu personae) por convenção expressa(categórica) ou 
tácita(subentendida), sendo essa convenção tácita(subentendida) a que resulta de sua 
natureza, pactuada em decorrência das qualidades pessoais do devedor. A recusa 
voluntária induz a culpa. O cantor, por exemplo, que se recusa a se apresentar no 
espetáculo contratado, e o escultor de renome que se recusa a fazer a estátua prometida, 
respondem pelos prejuízos acarretados aos promotores do evento e ao que encomendou 
a obra, respectivamente. 
A recusa ao cumprimento de obrigação de fazer infungível(insubstituível) resolve-
se(extingue-se), tradicionalmente(através da entrega), em perda e danos, pois não se 
pode constranger fisicamente o devedor a executá-la. Atualmente, todavia, como já foi 
dito, admite-se a execução específica das obrigações de fazer, como se pode verificar 
pelos artigos 287, 461 e 644 do Código de Processo Civil, que contemplam meios de, 
indiretamente, obrigar o devedor a cumpri-las, através da cominação(prescrição da 
pena) de multa diária (astreinte). 
Cândido Dinamarco preleciona(ensina) que o dogma(ponto indiscutível de uma 
doutrina) da intangibilidade da vontade humana, que impedia a execução específica das 
obrigações de fazer, devendo resolver-se(extinguir-se) em perdas e danos, zelosamente 
guardando nas tradições pandectistas francesas, somente foi relativizado graças à 
tenacidade de pensadores como Chiovenda e Calamandrei, cujos estudos permitiram a 
diferenciação entre infungibilidade(insubstituibilidade) natural e infungibilidade 
jurídica. Hoje, aduz(demonstra) o renomado processualista, considera-se integrada em 
nossa cultura a ideia de que em nada interfere na dignidade da pessoa, ou em sua 
liberdade de querer, qualquer mecanismo consistente na produção, mediante atividades 
estatais imperativas, da situação jurídica final a que o cumprimento da obrigação de 
fazer ou de não fazer deveria ter conduzido. Aceita-se também a imposição de medidas 
de pressão psicológica deveria ter conduzido. Aceita-se também a imposição de 
medidas de pressão psicológica (Calamandrei), assim como as multas periódicas e 
outras, destinadas a induzir o obrigado renitente(teimoso, obstinado) a querer 
adimplir(cumprir com a obrigação) para evitar o agravamento da
situação. 
Dispõe o § 1º do artigo 461 do citado diploma que a obrigação somente se 
converterá em perdas e danos se o autor o requerer ou se impossível a tutela(proteção) 
específica ou a obtenção do resultado prático correspondente. Regra semelhante 
encontra-se no artigo 35 do Código de Defesa do Consumidor. Aduz(demonstra) § 2º 
que a indenização por perdas e danos dar-se-á sem prejuízo de multa (artigo 287). 
As perdas e danos constituem, portanto, o mínimo a que tem direito o credor. O 
credor pode se contentar com as perdas e danos, se preferir. Nesse sentido deve ser 
interpretado o artigo 247 do Código Civil, que se reporta somente a essa consequência 
do inadimplemento(não cumprimento da obrigação) contratual e não tem natureza 
processual. No entanto, o credor pode, baseado nos dispositivos do diploma processual 
civil transcritos, pleitear(questionar em juízo) as perdas e danos 
cumulativamente(somadamente) e sem prejuízo da tutela(proteção) específica da 
obrigação. 
O referido artigo 461 do diploma processual regula a ação de conhecimento, de 
caráter condenatório, e não a execução específica da obrigação de fazer ou não fazer, 
constante de sentença transitada em julgada (que não cabe mais recurso), ou de um 
título executivo extra-judicial (artigo 645 do Código de Processo Civil), que deve seguir 
o rito estabelecido no artigos 632 e do estatuto processual. 
Atualmente, portanto, a regra quanto ao descumprimento da obrigação de fazer ou 
não fazer é da execução específica, sendo exceção a resolução em perdas e danos. Vem 
decidindo o Superior Tribunal de Justiça que é facultado ao autor pleitear(questionar em 
juízo) a cominação(prescrição da pena) de pena pecuniária(de dinheiro) tanto nas 
obrigações de fazer infungíveis(insubstituíveis) quanto nas obrigações de fazer 
fungíveis, malgrado(apesar de) o campo específico de aplicação da multa diária seja o 
das obrigações infungíveis(insubstituíveis). 
Art. 248. Se a prestação do fato tornar-se impossível sem culpa do devedor, 
resolver-se-á a obrigação; se por culpa dele, responderá por perdas e danos. 
Não é só a recusa do devedor em executar a obrigação de fazer mas também a 
impossibilidade de cumpri-la acarretam(provocam) o inadimplemento(não cumprimento 
da obrigação) contratual. Neste caso, é preciso verificar se o fato tornou-se impossível 
sem culpa ou por culpa do obrigado. Como ninguém pode fazer o impossível, então 
resolve-se(extingue-se) a obrigação, sem consequências para o devedor sem culpa. 
Porém, havendo culpa da parte do devedor, então o devedor responderá pela satisfação 
das perdas e danos. 
Assim, por exemplo, o ator que fica impedido de se apresentar em um 
determinado espetáculo por ter pedido a voz ou em decorrência de acidente a que não 
deu causa, ocorrido no trajeto para o teatro, sendo hospitalizado, não responde por 
perdas e danos. Mas a resolução obriga o ator a restituir o eventual adiantamente da 
remuneração. 
Responde, no entanto, o devedor pelos prejuízos acarretados ao outro contratante 
se a impossibilidade foi pelo devedor criada, ao viajar para local distante, por exemplo, 
às vésperas da apresentação contratada. 
Para que a impossibilidade de cumprimento da prestação exonere o devedor sem 
culpa de qualquer responsabilidade, tendo efeito liberatório, é necessário que esse efeito 
se desincumba satisfatoriamente do ônus, que lhe cabe, de cumpridamente prová-la. 
Deve a impossibilidade ser absoluta, isto é, atingir a todos, indistintamente. A relativa, 
que atinge o devedor mas não outras pessoas, não constitui obstáculo ao cumprimento 
da avença(acordo) (Artigo 106 do Código Civil). 
A impossibilidade deve ser, também, permanente e irremovível, pois se trata de 
simples dificuldade, embora intensa, que pode ser superada à custa de grande esforço e 
sacrifício, não se justifica a liberação. 
Art. 249. Se o fato puder ser executado por terceiro, será livre ao credor 
mandá-lo executar à custa do devedor, havendo recusa ou mora deste, sem 
prejuízo da indenização cabível. 
Parágrafo único. Em caso de urgência, pode o credor, independentemente de 
autorização judicial, executar ou mandar executar o fato, sendo depois ressarcido. 
Assim, por exemplo, se uma pessoa aluga um imóvel residencial e, no contrato, o 
locador se obriga a consertar as portas de um armário que estão soltas, mas não cumpre 
a promessa, pode o inquilino mandar fazer o serviço à custa do aluguel que terá de 
pagar. 
Quando se trata de obrigação fungível(substituível) (a assumida por um 
marceneiro, de consertar o pé de uma mesa, por exemplo), não importa, para o credor, 
que a prestação venha a ser cumprida por terceiro, as expensas(despesas, custos) do 
substituído. Interessa-lhe o cumprimento, a utilidade prometida (Artigo do Código de 
Processo Civil). 
O parágrafo único supratranscrito possibilita ao credor, em caso de urgência e sem 
necessidade de autorização judicial, executar ou mandar executar a prestação por 
terceiro, pleiteando(questionando em juízo) posteriormente o ressarcimento. Como 
assinala Álvaro Villaça Azevedo, a inovação constitui “um princípio salutar de 
realização de justiça pelas próprias mãos do lesado, pois a intervenção do Poder 
Judiciário retardaria, muito, a realização do seu direito. 
Há situações em que, efetivamente, caracterizada a recusa ou mora(atraso no 
pagamento da dívida) do devedor, a espera de uma decisão judicial poderá causar 
prejuízo de difícil reparação ao credor, como no caso, por exemplo, de necessidade 
urgente de se erguer um muro de arrimo ou realizar outra obra de proteção contra 
enchentes, em épocas de chuvas. 
Não havendo urgência, pode o credor simplesmente optar pela resolução da 
avença(convenção jurídica) e contratar outra pessoa para executar o serviço ou mandá-
lo executar por terceiro, sem prejuízo de posterior ressarcimento. 
Os artigos 634 a 637 do Código de Processo Civil descrevem todo o procedimento 
a ser seguido, para que o fato seja prestado por terceiro. Todavia, pouquíssimas vezes 
esses procedimentos tem sido usado. A razão é evidente: além da demora, decorrente da 
avaliação e publicação de editais, o procedimento acaba sendo oneroso em 
demasia(exagero). E, se é certo que todas as despesas serão carreadas ao devedor, 
também é certo que ao credor caberá antecipá-las, assumindo o risco de, mais tarde, não 
encontrar no patrimônio do devedor bens que permitam a recuperação de tudo que foi 
despendido. 
Na hipótese de o devedor ter iniciado o cumprimento da obrigação, porém 
retardando-o, pode o credor, por precaução, promover a medida cautelar de produção 
antecipada de provas (artigo 846 do Código de Processo Civil), para retratar a situação 
existente e comprová-la na ação principal. 
 CAPÍTULO III 
Das Obrigações de Não Fazer 
Art. 250. Extingue-se a obrigação de não fazer, desde que, sem culpa do 
devedor, se lhe torne impossível abster-se do ato, que se obrigou a não praticar. 
Assim, por exemplo, não pode deixar de atender à determinação da autoridade 
competente, para construir um muro ao redor de sua residência, o devedor que 
prometera manter cercas vivas, assim como será obrigado a fechar a passagem existente 
em sua propriedade, por ordem de autoridade, aquele que prometera não obstar(criar 
obstáculo) seu uso por terceiros. 
Art. 251. Praticado pelo devedor o ato, a cuja abstenção se obrigara, o credor 
pode exigir dele que o desfaça, sob pena de se desfazer à sua custa, ressarcindo o 
culpado perdas e danos. 
Parágrafo único. Em caso de urgência, poderá o credor desfazer ou mandar 
desfazer, independentemente de autorização judicial, sem prejuízo
do 
ressarcimento devido. 
Se o devedor realiza o ato, não cumprindo o dever de abstenção, então o credor 
pode exigir que o devedor desfaça o ato, sob pena de ser desfeito à sua custa, além da 
indenização de perdas e danos. Incorre(incide) ele em mora(atraso no pagamento da 
dívida) desde o dia em que executa o ato de que deveria abster-se. Dessa maneira, se 
alguém se obriga a não construir o muro, então a outra parte, desde que a obra é 
realizada, exigir, com o auxílio da Justiça, que seja desfeita e, no caso de recusa, mandar 
desfazê-la à custa do inadimplente(aquele que não cumpriu a obrigação), reclamando as 
perdas e danos que possam ter resultado do mencionado ato. 
A mora, nas obrigações de não fazer, é presumida pelo só descumprimento do 
dever de abstenção, independente de qualquer intimação. 
De acordo com a disciplina legal, ou o devedor desfaz pessoalmente o ato, 
respondendo também por perdas e danos, ou poderá vê-lo desfeito por terceiro, por 
determinação judicial, pagando ainda perdas e danos. Em ambas as hipóteses submete-
se ao pagamento de perdas e danos, como consequência do inadimplemento(não 
cumprimento da dívida(da obrigação)). Nada impede que o credor peça somente o 
pagamento destas. 
Existem casos em que apenas resta ao credor esse caminho, como na hipótese de 
alguém divulgar um segredo industrial que prometera não revelar. Feita a divulgação, 
não há como pretender a restituição das partes statu quo ante (o estado em que as coisas 
estavam antes da “guerra”). 
O parágrafo único do artigo 251 do Código Civil, retrotranscrito, reproduz a regra 
já consubstanciada(consolidada) no parágrafo único do artigo 249 do mesmo diploma, 
facilitando com isso a realização do direito do interessado, possibilitando a reposição, 
manu propria, pelo interessado, da situação ao estado primitivo, em caso de urgência. 
 
 
 CAPÍTULO IV 
Das Obrigações Alternativas 
Art. 252. Nas obrigações alternativas, a escolha cabe ao devedor, se outra 
coisa não se estipulou. 
Esse artigo tem caráter supletivo: se os contratantes não estipulam(ajustam 
conforme as cláusulas do contrato) para quem caberá o direito de escolha, a lei supre a 
omissão, deferindo-o(anuindo-o, permitindo-o) ao devedor. 
Portanto, para que a escolha caiba ao credor é necessário que o contrato assim o 
determine expressamente, embora não se exijam palavras sacramentais. O direito de 
opção transmite-se aos herdeiros, seja esse direito de opção pertencente aos herdeiros, 
seja esse direito de opção pertencente ao credor. 
Essa deferência(anuência) ao devedor do fato de ser considerado o mais fraco na 
relação contratual. É por essa mesma razão que, na dúvida, sempre se decide contra 
quem redigiu o contrato e dele se beneficia. Dependendo o cumprimento da 
avença(convenção) precipuamente(principalmente) da possibilidade e determinação do 
devedor, é razoável que ao devedor se confiram(atribuam) maiores facilidades para 
libertar-se da obrigação. 
Ex: Paulo e Pedro firmaram contrato pelo qual Pedro comprometeu-se a comprar o 
automóvel de placas XX-22 ou o caminhão de placas YY-33, ambos de propriedade de 
Paulo, no prazo de 30 dias, pelo preço médio de mercado. O contrato nada mais 
estabeleceu a respeito. Nesse caso, preenchidas as condições de prazo e de preço, Como 
não se estipulou quem é o responsável pelo escolha, então a escolha incumbe(se atribui) 
ao devedor (Pedro). “Nas obrigações alternativas(OU), a escolha cabe ao devedor, se 
outra coisa não se estipulou(ajustou conforme as cláusulas do contrato)”. 
§ 1
o
 Não pode o devedor obrigar o credor a receber parte em uma prestação 
e parte em outra. 
Se se obriga a entregar duas sacas de café ou duas sacas de arroz, por exemplo, 
não poderá compelir(impulsionar) o seu credor a receber uma saca de café e uma saca 
de arroz. O aludido(referido) dispositivo legal estabelece a indivisibilidade do 
pagamento. 
§ 2
o
 Quando a obrigação for de prestações periódicas (mensais, anuais, por 
exemplo), a faculdade de opção poderá ser exercida em cada período. 
Dessa maneira, poderá em um deles (no primeiro ano, por exemplo), entregar 
somente sacas de café, e no outro momento as sacas de arroz, e assim sucessivamente. 
Também nesta hipótese não poderá dividir o objeto da prestação. 
§ 3
o
 No caso de pluralidade de optantes, não havendo acordo unânime(em 
que há a concordância de todo mundo) entre eles, decidirá o juiz, 
findo(terminando) o prazo por este (o juiz) assinado para a deliberação. 
Não é aplicada à escolha da prestação, nas obrigações alternativas, o princípio 
jurídico do meio-termo ou da qualidade média: o titular do direito de escolha pode optar 
livremente por qualquer das prestações in obligatione (no acordo), porque todas essas 
prestações cabem no círculo das prestações previstas pelas partes. 
Admite-se também que a escolha da prestação, nas obrigações alternativas, seja 
determinada por sorteio, invocando-se(chamando-se) para tanto o artigo 87 do Código 
Civil. 
§ 4
o
 Se o título deferir a opção a terceiro, e este não quiser, ou não puder 
exercê-la, caberá ao juiz a escolha se não houver acordo entre as partes. 
Podem as partes, como já foi dito, estipular que a escolha se faça pelo credor ou 
deferir(anuir, consentir) a opção a terceiro, que neste caso atuará na condição de 
mandatário comum. Se esse mandatário comum não puder ou não quiser aceitar a 
incumbência(atribuição). 
A omissão do Código Civil de 1916 possibilitava o entendimento de que, se o 
terceiro não pudesse ou não quisesse aceitar a incumbência(atribuição), ficaria sem 
efeito o contrato, salvo quando acordassem(chegassem num acordo) os contraentes 
designar(indicar) outra pessoa, aplicando-se, por analogia, o critério estabelecido no 
artigo 1.123 do Código Civil de 1916 para a fixação do preço por terceiro no contrato de 
compra e venda. Outros, no entanto, entendiam, sem respaldo no ordenamento jurídico 
e alicerçados(fundamentados) apenas na equidade(conhecimento do juiz conforme a 
ética e a bia razão), que neste caso a escolha seria deferida(permitida) ao juiz. 
Art. 253. Se uma das duas prestações não puder ser objeto de obrigação ou se 
tornada inexequível(incapaz de se executar), subsistirá(continuará existindo) o 
débito quanto à outra. 
Nesse caso, prevê-se a hipótese de impossibilidade originária, ou da 
impossibilidade superveniente(que vem depois), de uma das prestações, por causa não 
imputável a nenhuma das partes. Cuida-se da impossibilidade material, decorrente, por 
exemplo, do fato de não mais se fabricar uma das coisas que o devedor se obrigou a 
entregar, ou de uma delas ser imóvel que foi desapropriado. A obrigação, nesse caso, 
concentra-se automaticamente, independentemente da vontade das partes, na prestação 
remanescente(restante), deixando essa obrigação de ser complexa para se tornar 
simples. 
Quando a impossibilidade de uma das prestações é superveniente(vem depois) e 
não existe a culpa do devedor, então dá-se a concentração da dívida na outra, ou nas 
outras. Dessa maneira, por exemplo, se alguém se obriga a entregar um veículo ou um 
animal, e esse animal vem a morrer depois de ser atingido por um raio, então concentra-
se o débito do veículo. Mesmo que o perecimento decorra da culpa do devedor, 
competindo a esse devedor a escolha, então poderá concentrar a dívida na prestação 
remanescente(restante). 
Ex: Paulo e Pedro firmaram contrato pelo qual Pedro comprometeu-se a comprar o 
automóvel de placas XX-22 ou o caminhão de placas YY-33, ambos de propriedade de 
Paulo, no prazo de 30 dias, pelo preço médio de mercado. O contrato nada mais 
estabeleceu a respeito. Nesse caso,
preenchidas as condições de prazo e de preço, Se o 
automóvel pegar fogo em decorrência de caso fortuito, então nenhuma das duas parte 
teve culpa. Logo, como não há mais como escolher a prestação, permanece a outra 
possibilidade, a prestação de entregar o caminhão. “Se uma das duas prestações não 
puder ser objeto de obrigação ou se tornada inexequível(incapaz de se realizar), então 
permanecerá(restará) o débito quanto à outra”. 
Ex: Caroline comprometeu-se entregar(fazer a tradição) a Joana, em razão de contrato 
de compra e venda o cachorro Icks OU o cachorro Jack (obrigação alternativa), ambos 
de seu premiado canil. O preço ajustado é de R$ 1.500,00. O direito de escolha é 
conferido a Caroline (escolha do credor) que deverá exercê-lo até 1 de outubro de 2009, 
direito que é exercido em 25 de setembro recaindo a escolha sobre o cachorro Icks. A 
comunicação da escolha é feita em 26 de setembro. A tradição do bem, então deverá ser 
realizada até 10 de novembro de 2009 no domicilio da credora. 
a) Pode-se afirmar que quanto ao cachorro escolhido, Caroline é o 
solvens(devedora) e Joana o accipiens(credora)? Sim. Caroline = sujeito passivo. 
Joana = sujeito ativo. 
b) Trata-se de uma obrigação natural, divisível, facultativa, de execução 
instantânea e condicional? 
Falso: Trata-se de uma obrigação civil, indivisível, alternativa, de execução diferida e a 
termo (tem evento futuro e certo(determinado)). 
c) A sua fonte mediata é a lei e a fonte imediata obrigação de dar coisa certa (antes 
da concentração), cuja escolha pertence ao devedor? 
Falso: A sua fonte imediata(direta) é a lei e sua fonte mediata(indireta) o contrato de 
compra e venda cuja escolha pertence ao devedor. 
d) O seu objeto imediato é o contrato de compra e venda e seu objeto mediato é a 
obrigação de dar coisa certa (após concentração)? 
Falso: O seu objeto imediato(direto) é a obrigação de dar coisa certa (depois da 
concentração) e o seu objeto mediato(indireto) é o cachorro escolhido (após 
concentração). 
e) Imagine que antes da concentração da obrigação, o cachorro Jack morre 
fulminado por doença genética incurável; pode-se afirmar que a obrigação, nesse 
caso, se resolverá(extinguirá) nos termos do art. 234, CC? Não -> nos termos do 
artigo 253. 
Art. 253. Se uma das duas prestações não puder ser objeto de obrigação ou se tornada 
inexequível(incapaz de se executar), subsistirá(continuará existindo) o débito quanto à outra. 
 
f) Em outra situação, após a concentração da obrigação, o cachorro escolhido 
morre porque Caroline deixou de vaciná-lo; nesse caso, a obrigação se 
concentrará no cachorro remanescente, nos termos do art. 253, CC? Não -> Nps 
termos do artigo 234. 
 
 
Art. 254. Se, por culpa do devedor, não se puder cumprir nenhuma das 
prestações, não competindo ao credor a escolha, ficará aquele(o devedor) obrigado 
a pagar o valor da que por ÚLTIMO se impossibilitou, mais as perdas e danos que 
o caso determinar. 
Isso porque, com o perecimento(perda, apodrecimento) do primeiro objeto, então 
concentrou-se o débito(dívida) naquele que por último pereceu(apodreceu, se perdeu). 
No entanto, se a escolha couber ao credor, o credor pode exigir o valor de 
qualquer das prestações (e não somente daquela prestação que por último 
pereceu(apodreceu, se perdeu), pois a escolha é sua), além das perdas e danos. 
Assevera(afirma) Sílvio Rodrigues que a solução da lei é extremamente lógica, pois o 
credor tinha a legítima expectativa de eleger qualquer das prestações e, se todas as 
prestações pereceram(se perderam), então o mínimo que se lhe pode deferir(permitir) é 
o direito de pleitear(questionar em juízo) o valor de qualquer uma dessas prestações, 
mais a indenização pelo prejuízo experimentado pelo ato censurável do devedor, o qual 
sofre apenas as consequências de seu comportamento culposo. 
Ex: Paulo e Pedro firmaram(estabeleceram) um contrato pelo qual Pedro comprometeu-
se a comprar o automóvel de placas XX-22 ou o caminhão de placas YY-33, ambos de 
propriedade de Paulo, no prazo de 30 dias, pelo preço médio de mercado. O contrato 
nada mais estabeleceu a respeito. Nesse caso, preenchidas as condições de prazo e de 
preço, se Pedro for o responsável pelo desaparecimento do automóvel e do caminhão, 
Paulo terá direito a receber o valor do que desaparecer por último + perdas e danos. 
“Se, por culpa do devedor, não se puder cumprir nenhuma das duas prestações, não 
competindo ao credor a escolha, então ficará aquele(o devedor) obrigado a pagar o 
valor da que por último se impossibilitou, (+)mais as perdas e danos que o caso 
determinar”. 
Allan se obriga com Mateus a entregar o carneiro Yuri ou a entregar o carneiro Teco. A escolha 
cabia a Mateus, mas antes de realizá-la, Allan deixa de alimentar os carneiros, o que acarreta a 
morte de Yuri e, depois, a morte de Teco. Escolha a opção que possui a consequência jurídica 
correta 
Allan responderá pelo valor correspondente ao carneiro Teco mais indenização por perdas e danos, 
pois foi o último a falecer. 
Mateus pode exigir de Allan o valor correspondente a qualquer dos carneiros, mais indenização por 
perdas e danos. 
(acordo prévio) 
Art. 255. Quando(se) a escolha couber ao credor e uma das prestações 
tornar-se impossível por culpa do devedor, então o credor terá direito de exigir a 
prestação subsistente(que continua existente) ou o valor da outra, com perdas e 
danos; se, por culpa do devedor, ambas as prestações se tornarem 
inexequíveis(incapazes de se realizar), então poderá o credor reclamar o valor de 
qualquer das duas, além da indenização por perdas e danos. 
Se somente uma das prestações se tornar impossível por culpa do devedor, 
cabendo ao credor a escolha, então o credor terá o direito de exigir ou a prestação 
subsistente(que continua a existir) ou o valor da outra prestação, com perdas e danos. 
Neste caso, o credor não é obrigado a ficar com o objeto remanescente(restante), pois a 
escolha era sua. Pode dizer que pretendia escolher justamente o que pereceu, optando 
por exigir seu valor, mais as perdas e danos. No exemplo supracitado, pode alegar, por 
exemplo, que não tem onde guardar o animal, se esse animal for remanescente(restante), 
e exigir o valor do veículo que pereceu(se perdeu), mais perdas e danos. 
Art. 256. Se todas as prestações se tornarem impossíveis sem culpa do devedor, 
extinguir-se-á a obrigação. 
 CAPÍTULO V 
Das Obrigações Divisíveis e Indivisíveis 
Art. 257. Havendo mais de um devedor ou mais de um credor em obrigação 
divisível, esta presume-se(pressupõe-se) dividida em tantas obrigações, iguais e 
distintas, quantos os credores ou devedores. 
Quando na obrigação concorrem um só credor e um só devedor a obrigação é 
única e simples. As obrigações divisíveis e indivisíveis, porém, são compostas pela 
multiplicidade de sujeitos. Nas obrigações divisíveis e indivisíveis existe um 
desdobramento de pessoas no polo ativo ou polo passivo, ou até mesmo em ambos, 
passando a existir tantas obrigações distintas quantas as pessoas dos devedoras ou dos 
credores. Nesse caso, cada credor apenas pode exigir a sua quota a cada devedor 
somente responde pela parte respectiva. 
A prestação é assim distribuída rateadamente (divididamente), segundo a regra 
concursu partes fiunt (as partes se satisfazem pelo concurso, pela divisão). Todavia, a 
prestação sofre essas duas importantes exceções: a da indivisibilidade e da 
solidariedade, nas quais, embora concorram várias pessoas, cada credor tem direito de 
reclamar a prestação por inteiro e cada devedor responde também pela totalidade. 
Ex: Caio e Trício formalizaram contrato de conta-corrente com um Banco, tendo 
recebido talões de cheque para movimentação
da conta. Trício emitiu um cheque no 
valor de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) sem a devida provisão(abastecimento) de 
fundos. Aduzindo(demonstrando) existir solidariedade passiva entre os correntistas, o 
Banco comunicou o evento aos órgãos de proteção ao crédito, com inscrição de Caio e 
Trício como devedores. Inconformado, Caio postulou(fez a requisição) ao Banco a 
retirada do seu nome dos citados órgãos de proteção ao crédito, o que foi indeferido(não 
permitido) administrativamente. Observando o instituto da solidariedade civil, não 
havendo solidariedade, então cada devedor responde por parte da dívida, em proporção. 
Tendo expirado(finalizado) o prazo legal para resposta do réu, a revelia é medida que se 
impõe. Na hipótese de conta corrente conjunta, cada um dos titulares é responsável 
pelos cheques por ele emitidos, não respondendo o outro titular pelos títulos por ele não 
assinados, uma vez que a solidariedade neste caso é apenas ativa (de credores e não de 
devedores). Havendo a negativação do correntista não emitente do título, em cadastros 
de emitentes de cheques sem fundos, configura-se ato ilícito, advindo a obrigação de 
indenizar pelos danos morais causados. A indenização por danos morais deve ser fixada 
com prudente arbítrio, para que não haja enriquecimento ilícito e para que a condenação 
atinja sua finalidade. 
 Embora o pleito(questionar em juízo) de Caio tenha sido indeferido(não permitido) 
pelo órgão de proteção ao crédito, me parece que ele é credor perante Trício, tendo em 
vista que a quantia foi retirada de seu patrimônio. Não consigo, no momento, ver de 
outra maneira. 
Art. 258. A obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma 
coisa ou um fato não suscetíveis(vulneráveis) de divisão, por sua natureza, por 
motivo de ordem econômica, ou dada a razão determinante do negócio jurídico. 
A exegese(interpretação), a contrario sensu (em sentido contrário), desse artigo 
permite afirmar que a obrigação é divisível quando tem por objeto uma coisa ou um fato 
suscetíveis de divisão. 
Como foi dito, as obrigações divisíveis e indivisíveis são compostas pela 
multiplicidade de sujeitos. Essa classificação somente oferece interesse jurídico 
existindo a pluralidade de credores ou de devedores, pois, existindo um único devedor 
obrigado a um só credor, a obrigação é indivisível, isto é, a prestação deverá ser 
cumprida por inteiro, seja divisível, seja indivisível o seu objeto. 
De fato, o problema da divisibilidade somente oferece algum interesse no direito 
das obrigações se houver pluralidade de pessoas na relação obrigacional. O interesse 
jurídico resulta(decorre) da necessidade de fracionar-se o objeto da prestação para ser 
distribuído entre os credores ou para que cada um dos devedores possa prestar uma 
parte desse objeto. Portanto, se for um o devedor e um o credor, então o objeto deve ser 
prestado por inteiro, salvo(exceto) disposição em contrário, diante do princípio da 
indivisibilidade do objeto. 
Contudo, se muitos forem os credores ou os devedores, em face(virtude) da 
divisibilidade do objeto da prestação, entre as mesmas partes far-se-á o rateio(divisão). 
Por exemplo: se duas pessoas devem R$ 200.000,00 a determinado credor, cada credor 
está apenas obrigado a pagar a sua respectiva(devida) quota, correspondente a R$ 
100.000,00, partilhando-se a dívida por igual, portanto, entre os dois devedores. Se a 
hipótese for de obrigação divisível com pluralidade de credores, então o devedor 
comum pagará a cada credor uma parcela de débito, equivalente à sua quota, igual para 
todos. O devedor comum de uma dívida de R$ 200.000,00, por exemplo, deverá pagar a 
cada um dos credores a importância(quantia) de R$ 100.000,00. 
Exemplo de obrigações divisíveis previstas no Código Civil de 2002: 
Artigo 252, § 2
o
 Quando(se) a obrigação for de prestações periódicas, então a faculdade de opção 
poderá ser exercida em cada período. 
 Art. 445. O adquirente decai do direito de obter a redibição(meio pelo qual se anula uma compra 
e venda de coisa móvel ou semovente que possui defeitos(vícios) ocultos a serem descobertos pelo 
adquirente) ou abatimento no preço no prazo de trinta dias(30) se a coisa for móvel, e de um ano se for 
imóvel, contado da entrega efetiva; se já estava na posse, o prazo conta-se da alienação, reduzido à 
metade. 
Art. 776. O segurador é obrigado a pagar em dinheiro o prejuízo resultante do risco assumido, 
salvo(exceto) se convencionada a reposição da coisa. 
Art. 812. Quando a renda for constituída em benefício de duas ou mais pessoas, sem determinação 
da parte de cada uma, entende-se que os seus direitos são iguais; e, salvo estipulação diversa, não 
adquirirão os sobrevivos direito à parte dos que morrerem. 
Art. 830. Cada fiador pode fixar no contrato a parte da dívida que toma sob sua responsabilidade, 
caso em que não será por mais obrigado. 
Art. 831. O fiador que pagar integralmente a dívida fica sub-rogado(substituído) nos direitos do 
credor; mas só poderá demandar(exigir o pagamento) a cada um dos outros fiadores pela respectiva quota. 
Art. 858. Sendo simultânea a execução, a cada um tocará quinhão igual na recompensa; se esta não 
for divisível, conferir-se-á por sorteio, e o que obtiver a coisa dará ao outro o valor de seu quinhão. 
A concepção adotada no Código Civil de 2002, ao proclamar, no artigo 258 
retrotranscrito, que a obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma 
coisa ou um fato não suscetíveis(vulneráveis) de divisão. Assim, se 2 devedores 
prometem entregar duas sacas de café, então a obrigação é divisível, devendo cada 
devedor uma saca de café. No entanto, se o objeto for um cavalo ou um relógio, então a 
obrigação será indivisível, pois os devedores não podem fracioná-los. 
Por isso, pode-se definir obrigação divisível e indivisível com base na noção de 
bem divisível e indivisível (artigos 87 e 88 do Código Civil). O bem divisível é aquele 
que se pode fracionar sem alteração na sua substância(essência), diminuição 
considerável de valor, ou prejuízo do uso a que se destina (artigo 87). 
Obrigação indivisível pela natureza 
Resulta(decorre) da natureza do objeto da prestação. Pode-se dizer que a 
obrigação é indivisível por natureza quando o objeto da prestação não pode ser 
fracionada sem prejuízo da sua substância ou de seu valor. São assim naturalmente 
indivisíveis as obrigações de entregar um animal, um relógio, um documento, uma obra 
literária (ainda que em vários volumes), uma escultura. 
Obrigação indivisível pela determinação da lei 
Malgrado(apesar de) o objeto ser naturalmente divisível, a indivisibilidade da 
prestação advém da lei. Algumas vezes, o Estado em atenção ao interesse público ou 
social, impede a divisão do bem, como ocorre com a dívida de alimentos (pensão 
alimentícia), áreas rurais de dimensões inferiores ao módulo regional (o módulo rural 
(menor terreno na rural), embora o terreno, normalmente seja um bem divisível, por 
questões econômicas, a lei determina ser ele indivisível), pequenos lotes urbanos, assim 
como alguns direitos reais (das coisas), como a servidão, o penhor e a hipoteca. 
Obrigação indivisível pela convenção entre as partes (o credor e o devedor) 
Às vezes, ainda, a indivisibilidade da obrigação decorre de estipulação ou 
convenção das partes (indivisibilidade subjetiva). As obrigações indivisíveis pela 
convenção entre as partes são obrigações cuja prestação é perfeitamente fracionável, 
sem prejuízo da sua substância ou do seu valor, mas em que partes, de comum acordo, 
afastam a possibilidade de cumprimento parcial. Nesses casos, a intenção das partes 
mostra-se decisiva para a conversão da obrigação
divisível em obrigação indivisível. 
Ex: Pagar quantia em dinheiro, por acordos entre os contratante, passa a ser 
obrigação indivisível. 
Art. 259. Se, havendo dois ou mais devedores, a prestação não for divisível, 
cada um será obrigado pela dívida toda. 
Parágrafo único. O devedor, que paga a dívida, sub-roga-se(substitui-se) no 
direito do credor em relação aos outros coobrigados. 
Nos casos de obrigação indivisível com pluralidade passiva, como a prestação não 
pode ser efetuada por partes, duas soluções se apresentam em seu regime: ou o credor 
pode exigir o cumprimento de cada um dos devedores, respondendo o escolhido e 
interpelado (intimado a prestar declarações, a dar esclarecimentos, em tribunais) pelo 
pagamento da prestação única ou integral, ou o credor tem que interpelar todos eles, 
para validamente exigir o cumprimento. 
Pluralidade de devedores 
Ana é credora de Jorge, de Marcos e de Lúcio. A dívida dos 3 é de R$ 300,00, 
onde cada um deve R$ 100,00. Mas somente Marcos paga os 300 reais. Então Marcos 
sub-roga-se(substitui-se) no lugar de Ana (Credora) e passa a ser Credor de Marcos e de 
Júlio: estes devendo R$ 200,00. 
Geralmente, a prestação é distribuída rateadamente (divididamente) entre as 
partes. O benefício e o ônus(obrigação), inerentes à relação obrigacional, devem ser 
reapartidos; cada credor tem direito a uma parte, assim como cada devedor responde 
apenas pela sua devida quota. Essa regra geral sofre, contudo, duas importantes 
exceções: a da indivisibilidade e da solidariedade. Numa e noutra, embora concorram 
várias pessoas, cada credor tem direito de reclamar a prestação por inteiro e cada 
devedor responde também pelo todo. 
Assim, se a obrigação é indivisível (entregar um animal ou um veículo, por 
exemplo) e há pluralidade de devedores, então cada devedor será obrigado pela dívida 
toda. Porém somente porque o objeto não pode ser dividido, sob pena de perecer(perda) 
a sua substância(essência). Por isso, aquele devedor que paga(solve, quita) a dívida sub-
roga-se(substitui-se) no merecido direito do credor (de cobrar) em relação aos demais 
co-obrigados, dispondo de ação regressiva para cobrar a quota-parte de cada um desses 
demais devedores. 
Os efeitos da indivisibilidade consistem exatamente nas regras com que o 
legislador procura harmonizar essa necessidade de dividir, imposta pela justiça, com a 
impossibilidade de dividir, oriunda da natureza da prestação. Nas relações entre 
credores e devedores o efeito que produz a obrigação indivisível é este: cada devedor é 
obrigado pela dívida total. 
É com esse princípio que a lei obedece à necessidade que torna impossível a 
divisão: eu sou herdeiro por um terço de quem prometeu uma servidão de passagem, 
não posso prestar 1/3 da servidão, porque a servidão não poderia ser estabelecida por 
uma parte. Nisso se tocam a indivisibilidade e a solidariedade: seja numa, seja noutra, 
cada um dos devedores responde pela totalidade da dívida. 
No entanto, a solidariedade ou a obrigatoriedade pela totalidade é meramente de 
fato na relação de obrigação indivisível, tendente a desaparecer se a prestação se 
resolver(extinguir) em perdas e danos (artigo 263 do Código Civil), diferentemente 
daquilo que ocorre com a obrigação solidária, que conversa a sua natureza em 
ocorrendo o mesmo fenômeno (artigo 271). 
Isso não implica em dizer que o credor somente pode acionar o devedor único em 
condições de satisfazer a prestação, porque a obrigação é de todos e tem aquele a 
faculdade de acionar a coletividade para conseguir uma condenação divisível, mas o 
pagamento total, considerada a natureza da prestação. 
Nas relações dos devedores entre si, restabelece-se a igualdade entre os 
coobrigados em dívida indivisível pela regra legal: o que paga, sub-roga-se(substitui-se) 
no direito do credor em relação aos outros (artigo 259, parágrafo único). Assim, por um 
ficção jurídica, extingue-se o crédito, com o pagamento, em decorrência do credor, não 
do devedor. Aquele que satisfez a obrigação assume o lugar do credor satisfeito, para 
exigir dos outros a parte que lhe cabe. 
Trata-se de hipótese de sub-rogação(substituição) legal, aplicando o Código Civil 
o disposto no artigo 346, III. Por conseguinte(isso), o coobrigado, que paga a dívida 
indivisível, não se limita a gozar de um direito de regresso contra os restantes 
coobrigados. O parágrafo único do artigo 259 retrotranscrito considera-o sub-
rogado(Substituído) no direito do credor, em relação aos outros coobrigados. Essa sub-
rogação(substituição) demonstra que a lei equipara o credor a um terceiro em relação à 
parte da prestação que excede(ultrapassa) a sua quota e que competia aos outros, a partir 
da qual também era obrigado, por devê-la como qualquer outro por inteiro. 
Demandado(procurado para pagar) por obrigação indivisível, o devedor não pode 
exigir que o credor acione conjuntamente todos os codevedores. Qualquer um desses 
devedores, à escolha do autor, pode ser demandado(chamado a pagar) 
isoladamente(individualmente) pela dívida inteira. Ressalva-se(faz-se uma exceção) 
apenas ao devedor, que solve(paga) sozinho o débito por inteiro, sub-
rogação(substituição) dos direitos creditórios, a fim de reaver(recuperar) dos 
consortes(indivíduos que têm o mesmo destino que os outros) as quotas 
respectivas(devidas). 
O devedor, sub-rogados(substituído) nos direitos do credor, não pode pretender, 
na via de regresso, nada além da soma que tiver desembolsado para desobrigar os outros 
devedores, deduzida(descontada) a quota que lhe compete (artigo 350 do Código Civil). 
Em caso de pagamento apenas parcial da dívida por um dos devedores, a partir do 
acordo com o credor, não se pode negar o direito ao solvens(devedor) de voltar-se 
contra os demais coobrigados, pela quantia que pagou, se superior à sua quota. 
Art. 260. Se a pluralidade for dos credores, poderá cada um destes exigir a 
dívida inteira; mas o devedor ou devedores se desobrigarão, pagando: 
I - a todos conjuntamente; 
II - a um, dando este caução de ratificação dos outros credores. 
Como já foi dito, nas obrigações indivisíveis, embora concorram várias pessoas, 
cada credor tem direito de reclamar a prestação por inteiro e cada devedor responde 
também pela totalidade. 
A rigor, nas obrigações divisíveis e nas indivisíveis cada devedor somente deve a 
sua quota. Nas obrigações indivisíveis, porém, pode ser compelido(impulsionado) a 
cumpri-la por inteiro somente porque o objeto da prestação é indivisível, sob pena de 
modificação na sua substância(essência), perecimento(apodrecimento, perda) ou perda 
do valor econômico. 
Sendo indivisível a obrigação (de entregar um cavalo, por exemplo), o pagamento 
deve ser oferecido a todos os credores conjuntamente. Nada obsta(impede), todavia, que 
se exonere(livre) o devedor pagando a dívida integralmente a um dos credores, desde 
que autorizado pelos demais credores, ou que, na falta dessa autorização, esse credor dê 
a caução de ratificação(confirmação) dos demais credores (artigo 260, I e II, do Código 
Civil). Não havendo essa garantia, o devedor deverá, após constituí-los em mora 
(prorrogação de um prazo para pagamento ou restituição de qualquer dívida), promover 
o depósito judicial da coisa devida. Se só um desses credores se recusa a receber, a sua 
negativa não induz mora(prorrogação de um prazo para pagamento ou restituição de 
qualquer dívida) dos demais credores. 
Se um dos credores receber sozinho o cavalo, mencionado no exemplo 
supracitado, então poderá cada um dos demais exigir desse credor a parte que lhe 
competir, em dinheiro. Dessa maneira, sendo os 3 credores e

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