Buscar

Monografia - Sinopse - Redução da informação

Prévia do material em texto

ANDRÉ LUIS CAVALLINI FERREIRA
Sinopse: Um Processo de Redução de Informação e Sua Aplicação na Mídia
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP
Coordenadoria Geral de Especialização, Aperfeiçoamento e Extensão – COGEAE
São Paulo, março de 2011
1
ANDRÉ LUÍS CAVALLINI FERREIRA
Sinopse: Um Processo de Redução de Informação Aplicado na Mídia
2
Monografia apresentada como exigência parcial 
para obtenção do título de Especialista em 
Língua Portuguesa à Pontifícia Universidade 
Católica de São Paulo, sob orientação da Profa. 
Dra. Aparecida Regina Borges Sellan.
3
Para ser grande, sê inteiro: nada 
Teu exagera ou exclui. 
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és 
No mínimo que fazes. 
Assim em cada lago a lua toda 
Brilha, porque alta vive. 
Fernando Pessoa (Ricardo Reis)
4
Dedico este trabalho a minha noiva, a quem agradeço pelo apoio, 
por acreditar em mim e estar ao meu lado, sempre paciente; aos 
meus pais por estimularem e me darem o suporte para chegar até 
aqui; a todos os professores de minha graduação e pós-
graduação, que contribuíram para construir o estudante e 
profissional que sou hoje. Dedico aos amigos da Ropema, pela 
ajuda criativa, e também a todas as pessoas que cruzaram o meu 
caminho até hoje e contribuíram de alguma forma para que este 
trabalho fosse concluído.
SUMÁRIO
Apresentação.............................................................................................................07
Capítulo 1: Em Busca de Compreender o que É Texto.........................................10
1.1 Texto e Informação...................................................................................10
1.2 Organizando a Informação......................................................................13
Capítulo 2: O Processo e as Estratégias de Sumarização da Informação..........16
2.1 O Resumo..................................................................................................17
Capítulo 3: A Informação Reduzida: A Sinopse.....................................................21
3.1 A Estética da Sinopse..............................................................................22
3.1.1 A Aplicação Profissional da Sinopse.........................................23
3.1.2 O Caráter Persuasivo da Sinopse...............................................24
Capítulo 4: A Sinopse na Prática: Estudo de Caso...............................................26
4.1 Sinopses encontradas em capas de livros............................................26
4.1.1 Caso 1.............................................................................................27
4.1.2 Caso 2.............................................................................................31
4.1.3 Caso 3.............................................................................................34
4.2 Sinopses encontradas em capas de DVD e Blu-ray.............................37
4.2.1 Caso 1.............................................................................................37
4.2.2 Caso 2.............................................................................................39
4.2.3 Caso 3.............................................................................................42
4.3 Sinopses encontradas em jornais, revistas e páginas de internet.....45
4.3.1 Caso 1.............................................................................................45
4.3.2 Caso 2.............................................................................................48
4.3.3 Caso 3.............................................................................................50
4.3.4 Caso 4.............................................................................................53
5
Considerações Finais...............................................................................................59
Bibliografia.................................................................................................................63
Anexos........................................................................................................................65
6
APRESENTAÇÃO
Como se dá a construção de textos sociais que se apresentam em forma 
reduzida? Como é resumindo o conteúdo de obras literárias e audiovisuais, tanto na 
mídia impressa quanto no ambiente on-line? O que é e como se constrói uma 
sinopse? Tais perguntas serviram de motivação para esta monografia, que abordará 
nas próximas páginas teorias e exemplos acerca da redução da informação, 
incluindo o estudo de casos a título de amostragem, identificando em textos 
retirados de veículos de comunicação e mídias do cotidiano a matéria-prima para 
isso.
Para desenvolver tais análises, antes se faz necessário abordar um tema que, 
apesar de parecer simples e corriqueiro, apresenta-se um tanto complexo: a 
definição de um texto. O que faz de um conjunto de vocábulos posicionados em 
determinada ordem ser um texto? Tendo esta diretriz como ponto de partida, a 
explicação para o que é um texto traz à tona uma série de informações sobre 
cognição e memória as quais são essenciais para a segunda etapa da 
fundamentação teórica desta monografia: os processos de redução de informação.
A sumarização da informação na memória é um processo comum a todo ser 
humano. O cérebro não tem a capacidade, nem a necessidade, de armazenar 
totalmente o universo de dados com que uma pessoa tem contato diariamente. À 
semelhança de um computador, a memória humana organiza as informações 
utilizando pistas que servem de conexão entre diversas informações similares e, 
assim, economizam espaço e facilitam o acesso posterior às informações. Um dos 
teóricos estudados para esta monografia é Van Dijk, cuja teoria sobre a noção de 
7
macroestrutura foi essencial para o desenvolvimento tanto da base teórica quanto 
analítica desta etapa da monografia.
As macroestruturas nada mais são que grandes conjuntos de informação, 
organizados por temas e índices que facilitam a ordenação de dados na memória. 
Este sistema se mostra funcional e extremamente importante do ponto de vista 
comparativo quando se analisam exemplos de sinopses no dia a dia. A separação 
da informação por grandes blocos (macro) e subdividida em conjuntos menores 
(micro) dá parâmetros para que a escolha de cada palavra na construção de uma 
sinopse seja importante e valorizada como tal, já que cada escolha lexical serve 
como link ou pista para um universo particular de informações, guardadas dentro do 
cérebro do leitor.
Em adição à teoria de Van Dijk, os trabalhos de Koch na seara da construção 
dos sentidos do texto também foram uma notória contribuição para esta monografia. 
Apoiado na tese de que as informações contidas em um texto são repletas de 
referências e conexões de intertextualidade, foi possível compreender que as 
sinopses trabalham, além dos grupos de macroinformação, marcas que recuperam 
na memória do leitor uma gama de dados de conhecimento comum de mundo e que 
dão suporte para o entendimento do texto com maior facilidade. Ademais, a 
atualização constante das informações já existentes na memória pelo acesso aos 
dados previamente armazenados é de suma importância para a manutenção do 
conhecimento já estabelecido e sua atualização.
Partindo para a concepção de redução de informação, o trabalho de Leite, 
recuperando as contribuições de Koch e Van Dijk, entre outros, trouxe a esta 
monografia informações cruciais sobre a produção e o desenvolvimento de resumos, 
outra forma de texto originadona sumarização da informação, traçando um paralelo 
8
com as sinopses. O resumo, e suas diversas manifestações no mundo acadêmico e 
social, é trazido à luz a título de informação e de exemplo para as estratégias de 
sumarização que, posteriormente, serão retomadas nos estudos de casos de 
sinopses.
Findada a parte de introdução de conceitos teóricos sobre o que é texto, a 
redução de informação, as estratégias de sumarização e os resumos propriamente 
ditos, chega-se ao momento de desenvolver os estudos sobre a sinopse, objeto de 
estudo desta monografia. Compilando os dados teóricos retirados dos capítulos 
anteriores e com o suporte das estratégias presentes nos resumos, fica mais 
simples compreender o que é uma sinopse, sua aplicação e como ela é construída, 
pois este tipo de texto possui sutis diferenças com relação ao resumo, como a mídia 
em que é veiculada a sinopse e a presença de marcas de persuasão, como pode ser 
visto nos estudos de caso.
Como o título desta monografia já diz, além do estudo da sinopse, também é 
abordado o local em que tal tipo de texto se apresenta e como isso influencia o seu 
desenvolvimento, desde sua concepção, considerando o suporte, o leitor, a 
informação e o objetivo que o texto quer atingir, o que atesta uma afirmação que 
ecoou nas salas de aula desde o princípio da graduação no curso de Letras: “não há 
texto sem intenção”. As próximas páginas servirão para mostrar que sinopse não é 
um resumo, mas uma variação da redução da informação, e traz consigo muito mais 
do que o simples ato de informar.
9
CAPÍTULO 1
EM BUSCA DE COMPREENDER O QUE É TEXTO
Para o desenvolvimento do estudo proposto para esta monografia, faz-se 
necessário discorrer sobre as etapas que compõem o processo de construção do 
texto, apresentando informações detalhadas sobre o funcionamento cognitivo de 
criação, produção e compreensão daquilo que conhecemos como um texto. Os 
subitens que organizarão este capítulo tratarão separadamente da essência do que 
entendemos ser um texto, dos processos de absorção da informação por parte tanto 
do produtor quanto do receptor durante o ato comunicativo e durante o 
funcionamento da atividade de redução da informação, para, por fim, detalhar a 
construção da sinopse e suas características e funções.
1.1 – Texto e Informação
Em um dia comum, além de processar diversas funções básicas do corpo e 
as informações recorrentes do dia a dia, o cérebro também fica responsável por 
administrar e armazenar a enorme quantidade de informações novas que recebe a 
cada momento, como notícias que são vistas na televisão, pessoas novas que são 
conhecidas, até mesmo as previsões meteorológicas e os planos para o final de 
semana. Não há limites para esse processo – o trânsito de novidades e de acessos 
aos “arquivos” da memória é constante. Contudo, nem toda a informação precisa ser 
guardada por completo. Detalhes insignificantes acabam se perdendo no processo 
de seleção automática que o cérebro faz na hora de colocar a memória para 
funcionar. Isso é parte do processo cognitivo do ser humano.
10
Quando lemos um texto ou assistimos a um filme, por exemplo, as funções 
cognitivas automaticamente entram em operação na memória e dividem por meio de 
macroestruturas a informação que chega ao cérebro. Van Dijk (1984), autor dessa 
denominação, apresenta em suas teorias que uma das funções cognitivas das 
macroestruturas é a organização, pelo tratamento na memória, da informação 
semântica completa, o que implica diretamente a necessidade de reduzir o conteúdo 
informativo que é recebido, de modo que a informação seja mais facilmente 
armazenada e posteriormente acessada pela memória. Tal seleção é feita por meio 
das relações que cada indivíduo estabelece com o conteúdo que está sendo 
fornecido, novo ou já visto anteriormente, e com as macroestruturas particulares 
criadas pelo processo cognitivo individual. Em geral, essas estruturas seguem um 
padrão que pode ser tido como comum em um grupo de pessoas, considerando 
para isso fatores como cultura, religião e o ambiente socioeconômico, por exemplo, 
além da idade, formação acadêmica, entre outros. Concluem Van Dijk & Kintsch 
(1983) em Koch (2010, p.22):
Embora venhamos a fazer uso de diferentes tipos de 
informações, tais como unidades sintáticas ou unidades 
semânticas, nosso modelo opera em fatias mais complexas. 
Assim sendo, analisaremos o processamento do discurso 
partindo das unidades de palavras, no nível inferior, para as 
unidades de temas gerais ou macroestruturas. Diversos tipos de 
informações podem ser usados para a compreensão e 
integração dessas diferentes unidades. Dessa maneira, 
podemos usar palavras, talvez palavras temáticas, para construir 
as macroestruturas; e podemos, ainda, usar macroestruturas na 
compreensão de palavras.
11
Conhecido comumente como “uma unidade linguística com superioridade 
hierárquica em relação à frase” ou como “um apanhado delas formando um sistema 
ou cadeia”, definições que podem ser encontradas em uma rápida leitura de 
diferentes autores e em variados níveis de profundidade, o texto também pode ser 
encarado por diferentes outras formas. Considerando sua natureza pragmática, 
sendo abordado como um processo de planejamento complexo e em constante 
construção, uma parte da atividade comunicativa do homem, com função social, 
interacional, consciente e criativa, baseada em estratégias e com objetivos bem 
definidos por seu produtor, Koch (2009, p.25-27) define texto como o fruto da 
seleção racional e direcionada de elementos linguísticos, que são organizados e 
modelados durante o processo de interação entre seus produtores; assim, não se 
restringe apenas ao campo semântico, compreendido de acordo com os processos 
cognitivos individuais, influenciados pelo meio social, mas também à compreensão 
eficiente das informações passadas pelo texto, pois a comunicação textual efetiva só 
pode ser considerada bem-sucedida quando os objetivos de seu produtor são 
atingidos. Em Koch (2009, p.30):
Um texto se constitui enquanto tal no momento em que os 
parceiros de uma atividade comunicativa global, diante de uma 
manifestação lingüística, pela atuação conjunta de uma 
complexa rede de fatores de ordem situacional, cognitiva, 
sociocultural e interacional, são capazes de construir, para ela, 
determinado sentido.
A organização das informações é fundamental para que o texto seja 
compreendido, logo, é importante frisar alguns pontos-chave sobre a construção dos 
sentidos e os processos cognitivos que são ativados durante a comunicação verbal. 
12
1.2 – Organizando a Informação
A organização da informação textual, segundo Koch (2009), tem por base a 
informação semântica contida no texto. Tal informação é dividida em duas partes: o 
dado e o novo. Ambas interferem na construção do sentido na comunicação. A 
informação dada é aquela que já faz parte do repertório dos interlocutores e é o 
ponto de fixação, ou ancoragem, para a compreensão e assimilação do conteúdo 
considerado novo.
Durante o processo cognitivo no ato comunicativo, o texto pode ser 
fundamentado em informações que já foram dadas anteriormente. Este processo é 
realizado por meio da remissão e da referência. Para que o texto fique bem 
organizado ao recuperar informações já fornecidas e faça sentido, a construção de 
cadeias coesivas (Koch, 1989) tem papel fundamental.Tais recursos trabalham com 
conteúdos já presentes na memória dos interlocutores. Eles recuperam dados do 
passado por meio de pistas, que podem ser artigos, pronomes ou mesmo palavras 
específicas, que acessam estas informações antigas e as ativam para que o texto 
atual seja melhor compreendido – uma forma de organização similar à noção de 
macroestruturas de Van Dijk. Este processo de recuperação de informação antiga 
chama-se inferência, é uma estratégia cognitiva bastante eficiente e funciona como 
ponte para a ligação entre a informação dada e a informação nova, sempre 
considerando o conhecimento supostamente partilhado entre os interlocutores do 
processo de comunicação. A mesma linha de trabalho cognitivo segue a 
intertextualidade, que tem por meta acessar conteúdo partilhado entre os 
interlocutores, considerando o contexto sociocultural em que acontece a 
comunicação – ou a construção do texto.
13
Estabelecidos os processos de construção e de organização, fica mais 
simples propor uma definição mais clara de o que seria um texto. O texto se constitui 
no momento em que um ato comunicativo é realizado, por meio de processos de 
manifestação linguística, considerando fatores culturais, cognitivos, sociais e 
situacionais, resultando em uma unidade de sentido que seja compreendida por 
completo pelos participantes. Para Charaudeau (2008), “o texto representa o 
resultado material do ato comunicativo, resultante de escolhas conscientes (ou não) 
feitas pelo sujeito falante de acordo com o que oferecem sua língua, o modo de 
organizar o discurso e a situação em que os interlocutores se encontram”. 
Há um item importante que deve ser levado em conta, segundo Van Dijk 
(1977): o contexto comunicativo. Por mais que a construção dos sentidos de um 
texto ou ato de comunicação sejam embasados no encadeamento coerente de 
informações e possuam os elementos certos para trabalhar as informações dadas e 
as novas, o olhar pragmático sobre o contexto em que a comunicação tem como 
cenário é essencial. 
As referências de organização e processamento cognitivo de informação 
trabalham apenas no nível informativo e têm como base as estruturas textuais ou 
linguísticas. O juízo de valor das informações que cada indivíduo faz não está 
incluído neste modelo organizacional e deve ser levado em conta quando 
estratégias de construção lógicas e cognitivas forem utilizadas na elaboração de um 
enunciado. As informações semânticas que cada palavra guarda estão ligadas 
diretamente à interpretação relativa de cada falante da língua. Portanto, para a 
construção de um texto é preciso levar em conta também o nível semântico 
independente e individual para o uso das macrorregras. Tais estruturas são partes 
de um texto/informação que possuem o mínimo de significado completo. É por meio 
14
dessas estruturas básicas que é possível compreender plenamente, todavia, com o 
mínimo de dados, tudo o que está envolto na semântica daquilo que se teve como 
fonte original de informação. Conclui-se este raciocínio com o que explica Koch 
(2009, p.35) acerca deste tópico:
A análise estratégica depende não só de características 
textuais, como também de características dos usuários da 
língua, tais como seus objetivos, convicções e conhecimento de 
mundo, quer se trate de conhecimento de tipo episódico, quer do 
conhecimento mais geral e abstrato, representado na memória 
semântica ou enciclopédica. Desta forma, as estratégias 
cogniticas consistem em ‘estratégias de uso’ do conhecimento. E 
esse uso, em cada situação, depende dos objetivos do usuário, 
da quantidade de conhecimento disponível a partir do texto e do 
contexto, bem como de suas crenças, opiniões e atitudes, o que 
torna possível, no momento da compreensão, reconstruir não 
somente o sentido intencionado pelo produtor do texto, mas 
também outros sentidos, não previstos ou mesmo não desejados 
pelo produtor.
Em síntese, os pressupostos apresentados neste capítulo como definição de 
texto servirão de base para o entendimento e para o desenvolvimento das teorias 
sustentadas pelos capítulos a seguir, tratando mais especificamente dos processos 
de sumarização da informação. 
15
CAPÍTULO 2
O PROCESSO E AS ESTRATÉGIAS DE SUMARIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO
A informação é parte do todo que compõe um texto, levando em conta a 
finalidade com que ele é produzido e a importância que a informação tem dentro 
deste cenário. Excluindo deste cenário a motivação dos interlocutores (contexto) e 
as escolhas lexicais e estruturais que foram feitas para a produção do texto 
(execução da comunicação), a informação que é registrada deste ato comunicativo, 
nova ou trabalhando com os “arquivos” do cérebro, é armazenada por meio de um 
complexo processo cognitivo. Este ato de guardar a informação, seja por meio de 
segmentos de memória não existentes antes, seja agregando a novidade a algum 
modelo anterior pré-existente, sempre acontece por um processo de seleção 
automática individual. Este processo de compreensão inclui a redução da 
informação a pequenas estruturas semânticas – organizadas em macroestruturas – 
de fácil acesso posterior pelos interlocutores. 
Pode-se, portanto, afirmar que o cérebro reduz, ou sumariza, dados o tempo 
todo. É um processo natural ao homem e significa que as informações apresentadas 
foram compreendidas e registradas, sem considerar o julgamento de valor desta 
compreensão, o que é relativo e varia para cada interlocutor. Neste cenário mental, 
criado individualmente, é praticamente impossível explicar em termos gramaticais ou 
linguísticos a presença de noções de coerência e de interpretação textual da 
informação dada (nova ou sendo retomada). 
Um modo alternativo e eficiente de entender e de explicar o sistema de 
organização da informação e como o discurso foi compreendido pelo indivíduo foi 
proposto de forma similar por Van Dijk & Kintsch (1983) e Schank & Abelson (1977): 
16
os modelos de frames ou scripts. Jargões da linguagem cinematográfica, um frame 
consiste em uma imagem fixa que é capturada pela câmera na película de filme; o 
script é o roteiro propriamente dito, que ordena as ações em cena. Logo, a ação de 
cada cena que é produzida é organizada e apresentada em por atos individuais, 
posteriormente ordenados por um roteiro. O processo cognitivo humano trabalha de 
forma similar, criando padrões de situações, comuns ao cotidiano ou não, que o 
cérebro reconhece e grava na memória, e que servem de ponto de partida para a 
organização da informação que nos é fornecida a todo o momento. Assim, a 
informação pode ser mais facilmente sumarizada dentro destes denominadores 
comuns e posteriormente acessada e reproduzida. Lê-se em Van Dijk (2010, p.30):
É plausível a ideia de que o usuário da língua adivinhará o 
tópico a partir de um mínimo de informações textuais 
provenientes das primeiras proposições. Tais previsões serão 
sustentadas pelos vários tipos de informações, tais como títulos, 
palavras temáticas, sentenças temáticas iniciais, conhecimento 
sobre possíveis ações ou acontecimentos globais resultantes, 
assim como informação provinda do contexto.
2.1 – O Resumo
O processo de sumarização de informações é amplamente utilizado no meio 
acadêmico, como parte da organização e da apresentação de trabalhos dos mais 
variados portes, e também por instituições de ensino, como forma de validação da 
compreensão da leitura e como exercício defixação. Para estes fins, a sumarização 
é mais conhecida como resumo. 
Apesar de uma prática comum, o resumo possui diversas formas de 
apresentação e de aplicação. Tanto que a Associação Brasileira de Normas 
17
Técnicas (ABNT) emitiu, em novembro de 2003, uma norma, a NBR 6028, que 
classifica o resumo em três tipos diferentes – crítico, indicativo e informativo – 
indicando as regras básicas e limitações para a redação de cada um dos textos 
destes tipos.
A forma crítica de resumir um texto, ou informação, segundo a norma da 
ABNT, é aquela realizada com juízo de valor por um especialista na área de 
conhecimento a que o objeto de sumarização se refira. Este modelo de sumarização 
também é conhecido como resenha e não é o foco deste estudo. O resumo 
denominado pela norma como sendo indicativo é o mais sucinto de todos, 
apresentando apenas as ideias principais do texto, sem aprofundamento ou 
detalhamento de qualquer informação. O terceiro e último modelo de resumo 
normatizado pela NBR 6028 é o informativo. Este aproveita melhor o conteúdo 
informativo do original, sintetiza de forma completa as informações do texto-base e 
assume função de novo original para o leitor, dada a fidelidade que consegue 
manter da matriz informativa. 
A mesma norma também indica a forma de apresentação do resumo, 
incluindo as referências bibliográficas do original, escolha de palavras-chave para 
classificação do texto e os pontos principais que a forma reduzida do original deve 
conter (objetivo, método, resultados e conclusões da matriz). 
A NBR 6028 também indica a voz verbal – preferencialmente ativa e na 
terceira pessoa do singular – o não uso de tópicos ou itens que enumerem o texto e 
as construções verbais que não façam parte do conhecimento ou uso comum. A 
norma é finalizada indicando que o resumo deve ser composto por frases 
afirmativas. 
18
Há limitação de palavras para os textos indicativos e informativos, 
dependendo de sua destinação. Os indicativos são os menores e devem, pela 
ABNT, conter de 50 a 100 palavras. Já os informativos possuem duas variações, 
uma composta por uma média entre 150 e 500 palavras quando o resumo for parte 
de trabalhos acadêmicos ou relatórios técnico-científicos, e entre 100 e 250 palavras 
quando se tratar de um artigo de periódico. Recomenda-se, por fim, que um resumo 
de qualquer tipo limite-se a apenas um parágrafo.
No âmbito escolar, há poucas regras a serem seguidas e muitas delas se 
restringem às escolhas pedagógicas e metodológicas de cada instituição e cada 
docente. Geralmente, os resumos são aplicados como forma de exercício para 
verificação de leitura de obras literárias, artigos ou textos jornalísticos e material 
teórico de cada disciplina. Muitas vezes, também são indicados como forma de 
estudo para aprimorar a memorização e a assimilação de conteúdo. Segundo Leite 
(2006), “só é possível resumir aquilo que compreendemos”. 
Considerando os conceitos de ancoragem, pistas e macroestruturas, é 
importante atentar para os núcleos de informação que cada texto possui. Qualquer 
ato comunicativo, seja por expressão verbal ou escrita, é composto por palavras 
selecionadas por critérios individuais, considerando-se inúmeras variáveis. Cada 
escolha lexical feita, de modo consciente ou não pelos interlocutores, resulta em 
pontos de referência para o cérebro processar as informações apresentadas durante 
a comunicação. Esses pontos de referência são fundamentais para a redução da 
informação durante o processo cognitivo, que realiza, a partir deles, a seleção dos 
itens que serão armazenados e a parte da informação que o cérebro de cada 
indivíduo considera irrelevante e que será “apagada” da memória. O processo 
mental de exclusão de partes que o cérebro considera desnecessárias faz parte de 
19
uma estratégia denominada seleção (Leite, 2006), que trabalha o conceito de cópia 
e apagamento, ou seja, as partes da informação que são registradas e gravadas 
pelo cérebro, eliminando o restante do processo de armazenamento.
Outra estratégia comum é a construção (Leite, 2006), que consiste na 
substituição da sequência de informação dada por outra. Este processo pode ser 
realizado de duas formas: por meio da generalização (troca das informações 
consideradas genéricas por outras de conhecimento específico do interlocutor) ou da 
construção (estabelecendo relações da informação nova com as antigas por meio 
da associação de significados). 
O sucesso de qualquer uma das estratégias propostas varia de acordo com o 
indivíduo e, para os fins deste estudo, elas são apresentadas a título de exemplo, 
estabelecendo uma relação direta entre os processos cognitivos e métodos práticos 
de produção de resumos.
20
CAPÍTULO 3
A INFORMAÇÃO REDUZIDA: A SINOPSE
O resumo, conforme já foi apresentado, possui diversas aplicações, tanto no 
ambiente acadêmico como no profissional, chegando a ser normatizado pela ABNT 
(NBR 6028). Entretanto, há outra modalidade de redução de informação que, apesar 
de muito parecida com o resumo indicativo, ganha características e aplicações um 
pouco diferentes: a sinopse. Segundo definições de dicionários como Houaiss 
(versão em CD-ROM, em dezembro de 2010) e Michaelis (versão on-line no portal 
do UOL, em dezembro de 2010), este tipo de sumarização trata de uma visão geral 
ou síntese de uma ideia ou teoria, um sumário daquilo que outro texto, seu original 
mais extenso e completo, apresenta. Conforme consta no material didático da aula 
de número 12 do curso virtual de Revisão Sistemática e Metanálise (em janeiro de 
2011), promovido pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a sinopse...
...É um texto breve dos resultados da revisão, claramente 
redigido e dirigido aos consumidores e leitores não-especialistas. 
A sinopse é um produto adicional que não substitui o resumo da 
revisão sistemática; tem o objetivo de aumentar a acessibilidade 
da revisão, disseminar amplamente seus achados para a 
comunidade internacional e servir como ajuda à leitura.
Apesar de vastamente utilizada em documentos oficiais de áreas como a 
legislativa, a científica, a literária, entre muitas outras, a sinopse não possui 
regulamentação ou delimitações estéticas para a sua construção. Sabe-se, todavia, 
que é um texto bastante sucinto, por isso comparado, neste estudo, com o resumo 
indicativo. Esta modalidade de texto é destinada a leitores que desconhecem o tema 
21
ou objeto de síntese, funcionando muitas vezes como o primeiro contato com a 
informação que está sendo apresentada. Por essa natureza, as escolhas lexicais e 
sintáticas são mais genéricas, considerando as variações mais simples do idioma e 
buscando manter-se o mais claro e objetivo possível com relação ao conteúdo e à 
compreensão e absorção do máximo da informação.
O ato de construir uma sinopse é diferente da produção de um resumo em 
certos aspectos. Pode-se determinar como pontos comuns entre as duas 
modalidades de sumarização de informação a obrigatoriedade de se manter a 
fidelidade ao original, a exclusão de opinião particular no plano das ideias e a 
limitação da extensão do texto, necessariamente curto. Entretanto, há diferenças 
importantes a serem destacadas entre o resumo e a sinopse. A ABNT recomenda na 
NBR 6028 os tempos verbais, a ordem das frases e a forma como o texto deve ser 
apresentado, o que serve de padrão para aprodução do resumo em praticamente 
todos os seus campos de aplicação. Já a sinopse usufrui certa liberdade estética, já 
que tem função diferente do resumo. Por se tratar de um texto que é de consumo 
comum a diversos tipos de público e pode ser encontrado em diferentes veículos de 
comunicação, é necessário que a sinopse possua mais flexibilidade em sua forma e 
conteúdo, adequando-se ao leitor e ao meio a que se destine.
O subitem a seguir tratará com mais detalhes de características particulares e 
fundamentais da sinopse.
3.1 – A Estética da Sinopse
No item anterior, algumas características comuns da sinopse e do resumo 
foram apresentadas e comparadas, a título de ilustração dos dois tipos de texto. 
Todavia, a sinopse tem aplicações práticas que vão muito além daquelas que o 
22
resumo tradicional possui, e isso exige do produtor do texto certos cuidados e 
bastante conhecimento sobre o público-alvo a que o texto que está sendo criado se 
destina. Por isso, a estética da sinopse é um aspecto essencial para o sucesso da 
compreensão do texto e para que os efeitos desejados pelo produtor sejam de fato 
obtidos.
Apesar de se tratar de um texto basicamente informativo, a sinopse possui 
estrutura similar à de um texto narrativo-descritivo, ou seja, dependendo do seu 
original, a versão reduzida do conteúdo deve ser apresentada ou como uma 
descrição ou como uma narração. Textos que sumarizam originais como livros, 
filmes, peças de teatro e outros tipos de materiais cuja estrutura básica seja a de 
uma história devem ter, consequentemente, características similares, ou seja, a 
sinopse de um livrou ou de um filme, por exemplo, possui estrutura narrativa 
predominante, reproduzindo de forma reduzida o conteúdo da obra da mesma forma 
como é apresentada no original. Quando o original é uma reportagem, entrevista, 
documento ou outro tipo de texto com características diferentes da narrativa, a 
estrutura da sinopse passa a ser predominantemente descritiva, apresentando ao 
leitor o conteúdo do original descrevendo sem muitos detalhes, mas de forma 
simples e direta.
3.1.1 – A Aplicação Profissional da Sinopse
Por ter características simples, que facilitam sua leitura por qualquer tipo de 
público, a sinopse é um tipo de texto bastante utilizado pela mídia, de forma geral. 
Veículos de comunicação impressos e também on-line utilizam a sinopse 
frequentemente na hora de apresentar versões curtas de notícias, reportagens e 
23
afins, dando ao leitor uma noção do que ele encontrará na versão completa do texto, 
ou seu original. 
A área do entretenimento também faz uso da sinopse. Pode-se encontrar este 
tipo de texto em diversos canais de comunicação, como jornais, revistas, portais de 
notícias, blogs, entre outros, sinopses de filmes, novelas, livros, CDs e shows 
musicais e espetáculos teatrais, por exemplo. A função da sinopse dentro de tais 
canais é levar de forma simples, direta e clara para o leitor o máximo de informações 
sobre o assunto de que trata no menor tamanho possível. 
Os setores de propaganda e marketing também aproveitam a sinopse para 
apresentar ao consumidor uma visão geral de qualquer produto, em especial quando 
o objeto é relacionado ao entretenimento doméstico, casos de livros ou filmes em 
DVD e Blu-ray, por exemplo. Isso pode acontecer por meio de informes publicitários 
ou mesmo de anúncios, veiculados em qualquer tipo de mídia impressa ou on-line. E 
as mesmas sinopses também podem ser encontradas em embalagens (na capa ou 
contracapa) e materiais de divulgação, em geral.
Em todos os casos, pode-se notar uma função comum da sinopse – a 
persuasiva, já que todas apresentam informações básicas, mas que devem ser 
suficientemente atrativas para levar o público a ler o texto original ou a comprar o 
produto que está sendo descrito (resumido). O subitem a seguir tratará com mais 
profundidade desta característica.
3.1.2 – O Caráter Persuasivo da Sinopse
Estruturalmente, além do uso de linguagem simples e de fácil leitura por todo 
indivíduo, há determinadas expressões e palavras que são escolhidas de acordo 
com o produto sendo vendido e o tipo de apelo que se quer dar a ele. É nessa hora 
24
que começam a ser aplicadas técnicas de persuasão, já que o texto da sinopse, em 
adição à função informativa, tem por meta convencer o leitor a consumir o produto 
em questão, que seria a fonte original da informação sendo sumarizada e 
apresentada ao seu público-alvo.
A sinopse não é tratada apenas como ato isolado de comunicação. Seu 
caráter de discurso persuasivo dentro de um determinado ambiente é parte 
fundamental do seu processo de construção, já que seu desenvolvimento vai além 
de seu autor e circula como fonte de informação constante e atinge diversos tipos de 
público como receptores da informação nela contida. Portanto, a sinopse pode ser 
considerada parte de um discurso persuasivo construído por um enunciador que é 
desconhecido do público, coletivo ou individual, e parte de um conjunto maior, a 
mídia, o jornalismo ou o entretenimento, de modo geral, o que Citelli (2007, p.37) 
considera grandes formações discursivas. Assim sendo, cada uma dessas 
formações possui estilo peculiar ao seu ambiente de circulação e ao seu 
destinatário.
A leitura de uma sinopse por seu destinatário gera um ato comunicativo e dá 
início a um novo processo cognitivo de absorção de informação. Seguindo a lógica 
do discurso persuasivo, além das marcas lexicais que funcionam como gatilhos para 
que a informação seja facilmente compreendida e memorizada pelo leitor, uma 
sinopse também exerce a função de convencimento do interlocutor a realizar 
determinada ação. A sinopse bem-sucedida é aquele que cumpre tanto a função 
informativa quanto a persuasiva. O próximo item deste estudo apresentará exemplos 
de sinopses retiradas de diferentes meios de comunicação e uma breve análise de 
suas estruturas.
25
CAPÍTULO 4
A SINOPSE NA PRÁTICA: ESTUDO DE CASO
Considerando as informações apresentadas nos capítulos anteriores, este 
item será destinado a expor alguns exemplos de sinopses encontradas em veículos 
de comunicação diferentes. Esses exemplos serão analisados tendo por base 
critérios como a presença de macroestruturas, mecanismos de referência, remissão 
e intertextualidade, escolhas lexicais e construções que visem a persuasão do leitor, 
aspecto este comum encontrado em sinopses e que vai além do mero ato de 
informar. Os textos objetos de análise serão distribuídos em subitens do capítulo 
nomeados segundo o tipo de mídia em que a sinopse é encontrada. Fotocópias dos 
originais analisados podem ser encontradas na seção de Anexos deste trabalho.
4.1 – Sinopses encontradas em capas de livros
Muito utilizadas nas capas, contracapas, orelhas e também nos meios de 
divulgação de obras literárias, as sinopses fazem função dupla quando produzidas 
tendo como original um livro, qualquer que seja o seu conteúdo informativo. Em 
geral, as sinopses encontradas impressas no material gráfico de uma publicação 
literária têm por meta dar uma primeira ideia ao futuro leitor/comprador do assunto 
de que a obra trata, dados sobre o autor, contexto e outros detalhes que indiquem o 
que está escrito nas páginas do livro.
Os primeiros exemplos a serem apresentados são os textos encontrados na 
quarta capa, ou nas costas, e na orelha da primeira capa do livro 1808 (São Paulo: 
Planeta, 2009, 2ª Edição), de Laurentino Gomes. 
26
4.1.1 – Caso1
A primeira sinopse que será analisada é aquela que está impressa na orelha 
da capa do exemplar acima descrito:
D. João VI foi o único soberano europeu a colocar os pés 
em terras americanas em mais de quatro séculos, e foi quem 
transformou uma colônia em país independente.
No entanto, seu reinado no Brasil padece de um relativo 
esquecimento e, quando lembrado, é tratado de forma caricata, 
como no filme Carlota Joaquina, de Carla Camurati.
Mas o Brasil de D. João VI não se resume a graçolas. A 
fuga da família real para o Rio de Janeiro ocorreu num dos 
momentos mais apaixonantes e revolucionários do Brasil, de 
Portugal e do mundo. Guerras napoleônicas revoluções 
republicanas e escravidão formaram o caldo no qual se deu a 
mudança da corte portuguesa e sua instalação no Brasil.
O propósito deste livro, resultado de dez anos de 
investigação jornalística, é resgatar e contar de forma acessível 
a história da corte portuguesa no Brasil e tentar devolver seus 
protagonistas à dimensão mais correta possível dos papéis que 
desempenharam duzentos anos atrás. Como se verá nos 
capítulos adiante, esses personagens podem ser, sim, 
inacreditavelmente caricatos, mas isso é algo que se poderia 
dizer de todos os governantes que os seguiram, inclusive alguns 
muito atuais.
O primeiro aspecto a ser ressaltado antes de dar continuidade à análise da 
estrutura desta sinopse é o fato de o livro tratar de um relato histórico. Com isso, 
torna-se pré-requisito para uma leitura completa o mínimo de conhecimento da 
História do Brasil, portanto, quaisquer referências ou conexões de intertextualidade 
partem do pressuposto de que o leitor/comprador da obra possui o conhecimento 
27
prévio (ou de mundo) necessário para compreender e aproveitar o máximo da 
leitura.
Apesar de ser mais longa que o usual, encontramos no texto da orelha da 
capa de 1808 uma sinopse. Pode-se dizer que a divisão em parágrafos distintos 
possui maior função estética em detrimento da informativa, pois a construção da 
ideia apresentada trabalha uma primeira parte informativa afirmativa e duas 
adversativas – tanto o segundo quanto o terceiro parágrafos começam com 
conjunções adversativas –, explicando, claro, do que tratará o livro. Seguindo essa 
linha de raciocínio, o quarto, e último, parágrafo faz uso do conhecimento que 
ofereceu nos três anteriores e indica ao leitor o objetivo da obra 1808. Outra 
característica que não deixa dúvidas com relação à classificação deste texto como 
uma sinopse é sua função informativa-persuasiva, que será abordada um pouco 
mais adiante neste subitem.
Logo no início do primeiro parágrafo, encontramos a informação-síntese que 
vai acionar no leitor seu conhecimento prévio em relação à História Geral. Quando o 
autor da sinopse apresenta D. João VI e indica que ele foi o único soberano europeu 
a pisar no Brasil, o leitor automaticamente traz de sua memória a informação de que 
grande parte dos regimes governamentais da Europa no século XIX era monárquica 
e que poucos eram os soberanos que vinham a suas colônias na América. E o autor 
ainda usa essa informação para determinar que tal visita foi de suma importância 
para futuros eventos históricos.
No segundo parágrafo, há duas marcas interessantes na construção da 
sinopse e que também são essenciais para a construção de sentido: uma pista 
macroestrutural (em “caricata”) e outra de intertextualidade (referência ao filme 
Carlota Joaquina, de Carla Camurati). Quando o autor faz uso da palavra “caricata”, 
28
ele sintetiza todo o contexto de humor e escárnio que uma caricatura faz, como é 
usual nos periódicos atuais retratar de forma caricata personagens públicos em 
destaque, e posiciona os membros da corte real portuguesa em situação tal qual os 
políticos de hoje se encontram, em detrimento do esquecimento a que o autor 
também se refere. Já a intertextualidade vem na sequência, quando o autor ilustra a 
forma caricatural a que ele se refere como os personagens criados pela cineasta 
Carla Camurati no filme Carlota Joaquina. Tal referência exige/pressupõe que o 
leitor já tenha assistido à produção de Camurati e compare e relacione o 
personagem D. João VI, interpretado de forma cômica por Marco Nanini, com o 
mesmo ícone histórico a que o livro fará referência. Essa é uma forma de ajudar o 
leitor a criar uma imagem mental do personagem de forma viva, ao contrário das 
pinturas e retratos estáticos dos livros de história usados nas escolas. A referência 
ao filme também pode ser considerada como uma função persuasiva, pois Carlota 
Joaquina fez relativo sucesso nos cinemas do país, já foi televisionado e pode servir 
de suporte para que o leitor da sinopse se interesse mais por conhecer os fatos 
narrados por Laurentino Gomes em 1808.
O terceiro parágrafo novamente exige do leitor certo conhecimento prévio, 
pois as escolhas lexicais (“graçolas”) e as referências históricas (guerras e 
revoluções) feitas pelo autor demandam o saber além da história brasileira – é 
preciso conhecer História Geral – e conhecimento vocabular do leitor, remetendo-se 
ao período social e político de tempo em que se situa o livro. Núcleos de informação 
são encontrados em todas as referências históricas que o texto apresenta e 
funcionam como pistas e referências a outros momentos passados que aconteceram 
paralelamente à mudança da corte portuguesa para o Brasil e dão ao leitor maior 
noção do cenário da narrativa da obra de Gomes. Tal construção também prepara o 
29
leitor para o parágrafo seguinte, em que o autor explica e justifica as escolhas que 
fez para construir a sinopse e o próprio livro. 
A sinopse termina com uma referência de intertextualidade que retoma a 
ligação da política durante o período colonial brasileiro com o atual momento em que 
o Brasil se encontra – o humor, resgatado pelo novo uso da palavra “caricata”. 
Menos politizado e mais histórico e romantizado, o texto encontrado na quarta 
capa do livro é uma sinopse cuja construção é mais comum e trabalha com ênfase 
os contextos temporal e social da obra de Laurentino Gomes, 1808:
Nunca algo semelhante tinha acontecido na história de 
Portugal ou de qualquer outro país europeu. Em tempos de 
guerra, reis e rainhas haviam sido destronados ou obrigados a 
se refugiar em territórios alheios, mas nenhum deles tinha ido 
tão longe a ponto de cruzar um oceano para viver e reinar do 
outro lado do mundo. Embora os europeus dominassem colônias 
imensas em diversos continentes, até aquele momento nenhum 
rei havia colocado seus pés em territórios ultramarinos para uma 
simples visita – muito menos para morar ali e governar. Era, 
portanto, um acontecimento sem precedentes tanto para os 
portugueses, que se achavam na condição de órfãos de sua 
monarquia da noite para o dia, como para os brasileiros, 
habituados até então a serem tratados como uma simples 
colônia de Portugal.
Construída de forma simples, esta sinopse trabalha a contextualização da 
trama de 1808 e dá pistas de referência menos elaboradas ao leitor, para que ele 
tenha acesso mais rápido e de modo mais objetivo às informações básicas para o 
pleno entendimento da trama da obra – ou o original desse texto. Sem dar nomes ou 
precisar o momento histórico em que se passa a trama, este texto reduzido 
30
apresenta mais características de persuasão do que de informação. Tal conclusão 
pode ser justificada pelo uso de determinadasexpressões e construções, como o 
início do primeiro parágrafo da sinopse: “Nunca algo semelhante tinha acontecido na 
história de Portugal ou de qualquer outro país europeu”. A marca que determina tal 
função é a expressão “nunca antes”, que gera surpresa ou curiosidade e convida o 
leitor que não conhece a trama ou esta versão dela a ler o livro 1808, de Laurentino 
Gomes.
Em vez de trabalhar a redução da informação por meio de apagamento, esta 
sinopse trabalha com o leitor utilizando referências históricas já conhecidas para 
provocar nele o “desejo” de saber mais sobre aquilo que já sabe, mas por outra 
perspectiva que lhe parece interessante, assim, indicando a expansão do 
conhecimento do leitor – o que muitas vezes o leva à leitura, culminando na 
aquisição do livro pelo consumidor.
A estratégia utilizada pelo autor da sinopse é dar o predomínio da 
reconstrução de um fato já conhecido e comum ou uma releitura de uma informação 
já tida como dada no ambiente social e cultural do leitor em potencial. O autor realiza 
tal estratégia ao escrever de modo diferente algo que já é supostamente conhecido.
4.1.2 – Caso 2
Continuando as análises de sinopses encontradas em capas de livros, o 
próximo texto a ser estudado foi retirado da obra Curso de Redação, de Antônio 
Suárez Abreu (São Paulo: Ática, 2002, 11ª Edição), e se encontra na quarta capa, 
ou verso, da publicação.
Curso de Redação é um livro que ensina a redigir da 
maneira mais eficaz e natural possível, articulando, 
31
continuamente, a estrutura básica do texto com os objetivos de 
quem escreve. Essa postura, absolutamente inovadora, coloca 
sempre a gramática a serviço da resolução de problemas 
textuais. Os exercícios atendem aos objetivos tanto daqueles 
que precisam dominar com segurança o discurso argumentativo 
de informação e pesquisa, quanto daqueles que têm 
necessidade de narrar acontecimentos ou descrever processos.
Este é um livro básico porque apresenta: uma visão 
moderna do que seja um texto, em sua dimensão de coesão e 
coerência; a correlação entre tipos textuais e recursos 
gramaticais retóricos; os procedimentos necessários para 
conseguir objetivos e efeitos diversos, seja argumentando sobre 
um tema, seja narrando fatos de qualquer natureza; recursos 
que possibilitam fazer a composição de um texto de maneira 
agradável e motivadora; um apêndice gramatical elaborado 
especificamente em função dos problemas que normalmente 
ocorrem no processo de redação.
Dividida em duas partes, esta sinopse descreve o conteúdo do livro 
apresentando ao leitor as qualidades e os benefícios que seu conteúdo pode trazer 
a quem o ler. Voltado para estudantes universitários que precisam dominar a escrita 
técnica e científica, o autor utiliza termos particulares desta modalidade de texto 
para persuadir quem lê a sinopse a adquirir o livro. A linguagem, apesar de se tratar 
da sinopse de uma obra teórica, é bastante simples e não faz uso de vocabulário 
rebuscado. Também não possui grandes marcas de intertextualidade ou 
macroestruturas que sumarizem grandes quantidades de informação. Esta primeira 
parte da sinopse tem como principal foco apresentar as qualidades do conteúdo do 
livro e informar ao possível comprador o que ele poderá aprender – e como fará isso 
– lendo a publicação.
32
A seletividade lexical, como em “eficaz” e “natural”, e em expressões como 
“resolução de problemas textuais” e “dominar com segurança o discurso” têm 
completa função persuasiva, considerando que o público-alvo da obra é o estudante 
que tem dificuldades para produzir textos ou que precisa de literatura técnica de 
apoio para desenvolver a escrita, não importando sua área de conhecimento ou de 
formação acadêmica. Secundariamente, o livro pode também atingir quaisquer 
interessados em obter mais informações acerca do tema ou queira aprimorar suas 
técnicas de produção textual. O tema com maior ênfase da sinopse, portanto, é o 
suporte a quem tem dificuldade para dominar a escrita, de modo geral, não ficando 
em destaque quaisquer outras informações, como dados sobre o autor, contexto 
acadêmico ou social. O texto pode ser consumido por qualquer público.
A segunda parte da sinopse trabalha mais o conteúdo teórico da publicação, 
fazendo o uso de tópicos para enumerar os assuntos abordados pelo autor em seu 
texto, reforçando a tese de que o conteúdo do livro ajudará o leitor a desenvolver ou 
aprimorar sua produção textual. Apesar de se tratar de um texto mais informativo, as 
opções lexicais do autor continuam a desempenhar também a função persuasiva, 
fazendo com que a continuação da sinopse, mesmo com apresentação diferente da 
primeira parte, persista na tentativa de convencer o leitor a adquirir o livro – explícito 
nos trechos “uma visão moderna do que seja um texto”, “os procedimentos 
necessários para conseguir objetivos e efeitos diversos” e “maneira agradável e 
motivadora”, que visam dizer/indicar ao leitor o que ele será capaz de fazer depois 
de ler o livro. 
A soma das duas partes do texto constrói uma unidade informativa, 
entretanto, sempre buscando convencer o leitor a adquirir o livro, apresentando as 
qualidades que poderão ser agregadas à produção textual do leitor se ele comprar e 
33
fizer uso da publicação. O discurso é bastante direto e claro em seus objetivos, 
fazendo pouco uso de macroestruturas e de referências ou pistas de 
intertextualidade.
4.1.3 – Caso 3
A terceira e última sinopse a ser estudada como caso encontrado em livros foi 
retirada de uma versão da obra A Volta ao Mundo em 80 Dias, de Julio Verne, 
editada e traduzida por Edy Lima para a Coleção Grandes Aventuras (São Paulo: 
Abril, 1979). Texto retirado a orelha da capa da publicação:
Tudo começa em Londres, no século passado: Fíleas 
Fogg, milionário inglês, aposta com alguns amigos que é capaz 
de dar a volta ao mundo em oitenta dias. Os amigos, incrédulos, 
aceitam a aposta. Assim, junto com seu criado, o milionário 
começa a longa viagem. Trens, navios, carruagens, e até 
elefantes, ele vai utilizando para cruzar os continentes. E, nessa 
louca correria, as aventuras e os imprevistos vão se sucedendo, 
pondo em perigo os planos de Fíleas Fogg. E para complicar um 
pouco mais sua já atribulada viagem, todo o caminho do 
milionário também é percorrido por um detetive que quer prendê-
lo pelo roubo do Banco da Inglaterra. Lutas, correrias, 
confusões, gestos de cavalheirismo, tudo se mistura até o 
inesperado final desta sensacional viagem contra o tempo.
O primeiro item a ser ressaltado nesta sinopse é o veículo ou mídia em que 
está publicada – uma versão para o público jovem de um clássico da literatura 
mundial. Esta informação indica o público-alvo da obra literária e também o tipo de 
linguagem que foi empregado na produção do texto – direta, simples e de fácil leitura 
por um estudante de qualquer nível.
34
Alguns detalhes da trama de A Volta ao Mundo em 80 Dias foram 
propositalmente omitidos, como contexto histórico e social do ambiente em que o 
protagonista vive suas aventuras, por exemplo. A opção por um texto mais dinâmico 
e focado nas aventuras de Fíleas Fogg é feita para persuadir o jovem a ler, pois 
passa a ideia maior de ação e agilidade da trama, em vez de trabalhar aspectos 
formais ou a importância histórica da obra, considerada um clássico da literatura 
universal. 
A linha-base da trama é o ponto de partidada sinopse, dando ao leitor 
informações como o que motivou a viagem e como a viagem é feita pelo 
protagonista. O texto exalta fatos inusitados do percurso, como os tipos de 
transporte que foram utilizados pelo personagem para realizar sua jornada e 
algumas curiosidades da história, como o uso de um elefante como veículo e a 
entrada de um possível vilão para dar mais emoção à história. O texto termina 
criando no leitor a expectativa de saber como termina a longa viagem e algumas das 
atitudes e momentos de ação que o texto original reserva ao leitor.
No lugar de macroestruturas para reduzir a informação, esta sinopse faz uso 
de algumas referências, que, apesar de parecerem obvias para um leitor mais 
informado, podem ajudar um estudante (relembrando que este é o público-alvo da 
publicação) a se posicionar geograficamente melhor, já que poucas pistas de 
período histórico são dadas – à exceção da primeira informação dada: “Tudo 
começou em Londres, no século passado”. Se o leitor não possui conhecimento de 
mundo e de geografia, informações que detalham o modo como a viagem de Fíleas 
Fogg é feita servem como referência para o leitor ter maior noção de distância e de 
locomoção ao redor do mundo.
35
Retomando o aspecto persuasivo da sinopse em estudo, por se tratar de um 
texto voltado para atrair o jovem à leitura de uma obra literária, o autor foca seu texto 
na agilidade da trama e apresenta ao leitor em potencial a ideia de ação e aventura 
que a história escrita por Julio Verne possui. Trechos como “nessa correria louca” e 
“atribulada viagem” são construídos com vocabulário extremamente simples e 
aproximam o texto escrito no século XIX ao leitor do século XX (data da edição da 
publicação), afora dar um aspecto mais cinematográfico ao texto – outra 
característica que pode agradar e persuadir o público-alvo.
Concluindo as análises das sinopses extraídas do material gráfico de livros, 
por se tratar de uma mídia impressa e de contato físico com o leitor em potencial, os 
textos possuem como característica básica – e fundamental – a presença de marcas 
informativas e persuasivas, já que visam dar dados simples sobre o conteúdo das 
obras (ou seus textos originais) e também convencer o leitor a comprar o produto. 
Macroestruturas para fins de sumarização não são frequentemente utilizadas, dando 
lugar a marcas de referência e intertextualidade – características que podem ser 
classificadas como de persuasão, já que trabalham a informação do conhecimento 
de mundo comum do leitor e de seu contexto social e histórico.
O vocabulário possui variação simples, pois, por se tratar de um texto que 
deverá atingir diferentes classes sociais, as sinopses não podem ser construídas de 
forma rebuscada ou conter detalhes que fogem do universo de conhecimento 
comum do público. As escolhas lexicais variam também segundo a temática do texto 
original, adequando-se ao perfil do consumidor do livro, tratado aqui como um 
produto sendo comercializado. Mesmo com tal adequação, a primeira afirmação 
deste parágrafo continua a ter valor neste aspecto, já que independente do 
36
conteúdo, esta forma de mídia sempre fica exposta e em contato com qualquer tipo 
de audiência, seja em bibliotecas ou no comércio de varejo.
A seguir, serão analisadas sinopses extraídas de capas de filmes e seriados 
em DVD e em Blu-ray, comercializados em lojas varejistas e videolocadoras. Foram 
escolhidos três produtos como originais, com materiais, públicos-alvo e conteúdos 
diferentes.
4.2 – Sinopses encontradas em capas de DVD e de Blu-ray
4.2.1 – Caso 1
A primeira sinopse retirada deste tipo de mídia a ser apresentada e analisada 
será a do box de DVDs do seriado televisivo The Mentalist – A Primeira Temporada 
Completa, distribuída no Brasil pela Warner Home Vídeo:
Um mentalista é um mestre manipulador de pensamentos 
e de comportamentos. The Mentalist é Patrick Jane (Simon 
Baker em uma aclamada performance), uma celebridade 
paranormal cuja esposa e filho são cruelmente assassinados por 
um terrível serial killer conhecido como Red John. Devastado, 
Patrick admite que sua paranormalidade é falsa, renuncia sua 
vida pregressa e usa sua incrível capacidade de observação e 
análise – talentos que fazem-no parecer portador de poderes 
psíquicos – para trazer criminosos perante a Justiça. 
Frequentando cenas de crimes Califórnia afora, Patrick agora 
ajuda uma equipe de elite de detetives a solucionarem seus 
casos mais complexos. Mas não importa quantos bandidos ele 
coloque atrás das grades, Patrick nunca esquece sua principal 
tarefa, encontrar Red John. E fazê-lo pagar pelos crimes que 
cometeu.
37
Esta sinopse apresenta o conteúdo de um seriado de televisão exibido na TV 
a cabo por meio de uma breve biografia de seu protagonista, sem dar mais detalhes 
sobre o conteúdo dos episódios ou dos outros personagens. A estrutura do texto é 
bastante linear e simples, com orações na ordem direta, com poucas exceções, sem 
uso de vocabulário rebuscado e com trechos bastante informativos, como mostra 
logo o início do texto. “Um mentalista é um mestre manipulador de pensamentos e 
comportamentos” já apresenta ao leitor da sinopse uma explicação do título do 
seriado e de como o protagonista da história também pode ser visto e considerado, 
tratado aqui como o original do texto. Em seguida, é contada a história do 
protagonista, o que explica muito do que poderá ser assistido durante os episódios 
que compõem o original. 
Algumas expressões podem ser encontradas no texto como forma de 
construir uma referência para que o leitor identifique e conheça o personagem 
principal da trama do seriado, um mentalista. Considerando o conhecimento comum 
de mundo do consumidor em potencial do produto, como conhecimento geográfico 
(saber onde fica a Califórnia) e jargões policiais tradicionais (“equipe de elite”, “serial 
killer” e “cenas de crimes”), a sinopse explora o suspense policial contido na trama e 
o drama familiar do personagem principal – o que é uma ferramenta de persuasão.
O autor faz uso de conexões de intertextualidade com o intuito de levar o 
leitor a ser persuadido também pelas características peculiares do protagonista 
dando pistas sobre detalhes que exploram o lado público e célebre das funções de 
um “manipulador de mentes”, o mentalista do título. Expressões como “celebridade 
paranormal” e “poderes psíquicos” guardam significados que, apesar de comuns ao 
tipo de leitor do texto em questão, exploram o lado místico e despertam curiosidade. 
Expandindo a informação destas duas expressões citadas, todo um universo 
38
histórico de mistério pode ser encontrado e tal informação, todavia, fica resumida 
para dar espaço a outras informações consideradas pelo autor como mais 
relevantes.
O processo de sumarização escolhido pelo autor para reduzir a informação 
original e dar ao leitor os dados necessários para que ele compreenda a sinopse de 
forma plena é a generalização ou substituição, método que consiste na troca de 
palavras ou sentenças mais extensas por outras mais simples ou apenas por uma 
palavra que generalize a informação em um grupo sintético que recupere na 
memória do leitor, em linhas gerais, o que o autor quer expressar no texto. Termos 
como “celebridade paranormal” e “manipulador de mentes” funcionam como 
exemplos dessa técnica e funcionam como gatilhos ou pistas para que o leitor 
facilmente recupere de suamemória um provável perfil do personagem descrito na 
sinopse e construa com maior facilidade o conteúdo do texto original. Estas 
expressões, ainda, além de substituir uma descrição mais elaborada e extensa, 
funcionam como termos genéricos (ou de generalização) para colocar o personagem 
descrito no lugar comum do leitor. Também é possível encontrar o recurso da 
reescrita, trabalhando as informações do original apenas com os dados essenciais 
para a compreensão do texto.
4.2.2 – Caso 2
Esta sinopse foi retirada da embalagem do disco de Blu-ray da minissérie de 
televisão A História de Ester, exibida pela Rede Record e lançada no home vídeo 
pela Flashstar Filmes e pela Record Entretenimento:
A trajetória de uma jovem órfã judia, de grande fibra e 
beleza. Ao despertar o interesse do rei Assuero e tornar-se 
39
Rainha da Pérsia, Ester (Gabriela Durlo) influencia 
decisivamente o futuro de seu povo. Coragem, determinação e 
fé fizeram de Ester uma das grandes referências da cultura 
judaica e uma das mulheres mais notáveis de toda a História. 
Com direção geral de João Camargo e adaptação de Vivian de 
Oliveira, a trama de A História de Ester se passa por volta de 
400 a.C., na antiga Pérsia, onde hoje é o Irã.
Esta sinopse apresenta o conteúdo de uma obra de temática histórica e 
religiosa, e apresenta a vida de uma personagem importante para determinada 
cultura e religião. No entanto, tal faceta do original não é explorada, focando o texto 
no conhecimento comum do consumidor sobre personagens bíblicos e a 
protagonista, antes de dar detalhes mais precisos dos autores e desenvolvedores do 
produto. A sinopse é escrita de forma linear, direta e com vocabulário simples, o que 
facilita sua leitura por qualquer tipo de consumidor em potencial, considerando que o 
original é uma obra audiovisual popular que é comercializada no varejo e fica 
exposta para todos os públicos. 
O texto começa dando detalhes de quem é a protagonista da trama, 
explicitando de forma bastante clara as características físicas e étnicas da 
personagem. Estas características a destacam das demais, em especial “uma jovem 
órfã judia”, uma macroestrutura que sintetiza uma série de informações de interesse 
social, político e histórico. Em seguida, são dadas mais informações sobre o 
desenrolar da trama e já dá ao leitor o desfecho da história, indicando que a 
protagonista foi importante para a cultura judaica. 
No campo do léxico, a importância histórica da personagem Ester é 
ressaltada por meio de referências histórico-geográficas, utilizando mais adjetivos de 
qualificação e ênfase (“Rainha da Pérsia”, “influencia decisivamente”, “futuro”, “seu 
40
povo” e “cultura judaica”), que levam o leitor a posicionar-se geograficamente, 
culturalmente e também a dar a importância social e histórica da trama do original.
Funcionando também como ferramentas de persuasão, tais referências 
atingem também uma parcela de consumidor que a obra audiovisual pretende 
atingir: os cristãos. Como o original trata de uma personagem bíblica considerada de 
grande importância para os que acreditam e seguem tal cultura, tais escolhas de 
referência fazem função maior que a de informação e apelam para a curiosidade e 
para o valor moral que o público possa dar à trama. 
Continuando o texto, dados sobre os autores da obra são fornecidos, o que 
pode servir tanto como referência de intertextualidade para quem já conhece o 
trabalho destes profissionais, como também como voz de autoridade para retificar e 
justificar a qualidade profissional de A História de Ester, estabelecendo novas 
referências para outros produtos a serem exibidos ou lançados futuramente. 
Também há mais informações de contexto histórico e geográfico, reforçando o que 
já foi dado e pode não ter ficado claro para determinada fatia de consumidor com 
menor conhecimento de mundo sobre o tema. Em adição, pode-se entender que o 
fornecimento mais completo e objetivo da localização histórico-geográfica vá além 
do reforço contextual e sirva como característica persuasiva, pois o Irã é um país 
que está em evidência no momento político mundial atual e isso serve como gerador 
de interesse e curiosidade cultural.
Concluindo o caso de número dois, os métodos de sumarização escolhidos 
para este texto são a generalização e a construção. Generalização, pois as escolhas 
lexicais do autor, de modo geral, são todas referenciais, apresentando ao leitor 
termos de fácil assimilação e que guardam em si pistas para uma construção mais 
elaborada na memória, como pode ser observado, por exemplo, em “jovem órfã 
41
judia” e “referência da cultura judaica”, construindo o perfil da protagonista da 
minissérie. Construção, já que a conclusão da sinopse traz uma referência que o 
autor considera insuficiente para que o leitor faça a conexão de intertextualidade 
sozinho, e dá a ele uma nova referência, mais atual e conhecida, para explicar a 
informação anterior.
4.2.3 – Caso 3
A terceira e última sinopse selecionada para esta etapa de análises foi 
retirada da capa do disco de Blu-ray de uma animação japonesa chamada Akira, 
baseada em um famoso mangá e relançada no Brasil pela Focus Filmes:
Kaneda é um líder da gangue de motoqueiros, cujo amigo 
Tetsuo é dominado por uma força sobrenatural e passa a ser 
objeto de um projeto experimental secreto chamado Akira. Para 
salvar seu amigo, Kaneda se envolve com grupos anarquistas e 
passa a lutar contra o governo em uma explosiva guerra civil. 
Em 1988, Akira foi a principal referência em animação japonesa, 
criado e dirigido por Katsuhiro Otomo, o longa revolucionou o 
conceito de animação em todo o mundo.
Desconsiderando os erros de construção gramatical desta sinopse, o texto 
apresenta a linha básica da trama de Akira e também contextualiza o leitor da 
origem da história ao narrar a trajetória do protagonista, dar alguns detalhes do 
contexto social e histórico em que o roteiro da produção se desenrola e também 
apresentar o autor e o contexto temporal-geográfico em que a animação foi 
desenvolvida e exibida pela primeira vez no cinema. 
Lexicalmente, o perfil do personagem principal e, consequentemente, de seus 
amigos, é escrito por meio de simples descrições, que, quando analisadas como 
42
referências, revelam muito mais sobre Kaneda ao recuperar o conhecimento de 
mundo que cada leitor possuir. A expressão “gangue de motoqueiros” resgata uma 
série de características descritivas sobre comportamento, vestimentas e linguagem e 
dão ao leitor o suporte necessário para criar uma imagem do protagonista e dos 
outros personagens da trama.
Ainda no campo das referências e da intertextualidade, o desconhecido ou 
místico é tratado de forma a fazer uso do conhecimento comum por meio da 
expressão “força sobrenatural” quando o autor explica um dos momentos de maior 
tensão da animação. Tal escolha lexical remete o leitor a diversas possibilidades de 
interpretação, sem relevar, entretanto, o tipo exato de “força” em questão. Na 
continuação do texto, é apresentado o clímax da trama de Akira, dando ao leitor 
mais informações sobre o percurso que Kaneda percorrerá em sua trajetória para 
salvar seu amigo. Dado o contexto, fica implícito que a trama se desenvolve usando 
pistas de intertextualidade como “grupos anarquistas” e “guerra civil”, excluindo-se 
os adjetivos, para recuperar da memória do leitor mais detalhes de oque seriam 
“anarquistas” dentro do conhecimento comum e o que seria uma “guerra civil” neste 
mesmo universo. A escolha das palavras também funciona como elemento de 
persuasão, já que despertar a curiosidade no leitor é característica básica do 
convencimento.
A segunda parte da sinopse trata de apresentar o autor de Akira, Katsuhiro 
Otomo, em um momento em que, contrário aos dias presentes, as animações 
originárias do Japão não eram tão disseminadas e nem bem conceituadas 
internacionalmente. O nome do autor é uma referência de intertextualidade, pois os 
aficionados pelas animações do mesmo gênero conhecem o trabalho de Otomo e, 
além de servir como descrição da temática da obra, também opera como elemento 
43
de persuasão para atrair os fãs do autor. Ao dar ao leitor o ano, 1988, o texto 
posiciona o momento do lançamento da animação e destaca a influência que Akira 
teve na época de seu lançamento. Este nível de detalhamento oferece a 
possibilidade de informar ao possível comprador época e circunstância em que o 
longa-metragem foi desenvolvido e também apela ao leitor que já havia visto o filme 
naquele momento a revê-lo no relançamento na forma de disco de Blu-ray – funções 
informativas e persuasivas, novamente.
Concluindo o terceiro caso, a sumarização das informações do original de 
Akira foi feita utilizando a generalização das características da trama por meio de 
expressões simples que, no entanto, recuperam na memória do leitor uma série de 
eventos de conhecimento comum, facilitando a leitura e a construção de uma linha 
geral para o roteiro da animação. A seleção e o apagamento também foram 
utilizados nesta sinopse, pois nenhum detalhe revelador da trama é fornecido, 
excluindo-se, portanto, tais informações e deixando ao leitor somente o necessário 
para elaborar uma vaga idéia, com base no texto construído por meio da 
generalização.
Considerando as características encontradas nas três sinopses analisadas, 
pode-se estabelecer um padrão de balanceamento de informação e persuasão, já 
que a mídia em que os textos são veiculados é bastante semelhante ao das 
sinopses de material gráfico de livros. As artes das embalagens de DVDs e discos 
de Blu-ray também foram desenhadas para circularem no comércio varejista e nas 
vídeolocadoras, ou seja, em contato direto com diversos tipos de público, com 
variados níveis de conhecimento comum e de mundo. Logo, estão justificadas as 
escolhas lexicais, de construção gramatical e de referenciação, tanto por meio da 
generalização ou substituição e do apagamento para sumarizar o original, quanto 
44
por meio da intertextualidade, recuperando o que o possível leitor já saiba sobre os 
temas abordados.
Como última parte deste subitem, serão realizadas as análises de sinopses 
extraídas de jornais, revistas e páginas de internet, com o objetivo de apresentar as 
possíveis variações que as mídias em que tais textos são publicados e veiculados 
podem provocar.
4.3 – Sinopses encontradas em jornais, revistas e páginas de internet
Este subitem é dedicado à análise de sinopses retiradas de veículos de 
comunicação em larga escala, como jornais, revistas e portais de internet que tratam 
de assuntos relativos ao entretenimento, como livros, filmes, teatro e música. 
4.3.1 – Caso 1
O primeiro texto desta natureza a ser analisado é uma sinopse encontrada no 
jornal O Estado de S. Paulo do dia 19 de abril de 2010, na seção Caderno 2, página 
D7:
Em 1954, o detetive Teddy Daniels viaja até um hospital 
psiquiátrico – localizado em uma ilha – de onde uma perigosa 
assassina fugiu. Ao longo de sua investigação, porém, ele 
percebe que os médicos podem ser os verdadeiros vilões – e 
que ele pode ser uma vítima. E tem de tentar escapar (ou 
descobrir a verdade).
A sinopse acima tem como original o filme Ilha do Medo, de Martin Scorsese, 
e foi produzida à época do lançamento da produção nos cinemas nacionais. 
Bastante curto e objetivo, este texto sintetiza a ideia principal do filme e dá ao leitor 
45
algumas pistas da trama central da obra, sem mais detalhes que ajudem a 
contextualizar o conteúdo. Antes da sinopse, é apresentada uma ficha do filme, com 
nome original, origem, minutagem, gênero, direção e elenco. Tais informações 
preparam o leitor para o texto que vem a seguir e também já eliminam possíveis 
dados que supostamente deveriam estar contidos na sinopse – o que abre mais 
espaço para detalhes da trama no texto.
Por se tratar de um veículo de comunicação que atinge diversas camadas da 
população, com grande variação no conceito de conhecimento de mundo, a 
construção da sinopse é feita de forma direta e objetiva, sem haver grandes 
mudanças na ordem das frases. 
As escolhas lexicais são simples e claras para descrever cenários e 
personagens, permitindo ao leitor organizar e acessar seus conhecimentos já 
existentes sobre a temática do filme. 
Em termos de referências, o início do texto, “Em 1954”, já dá ao leitor o ponto 
de partida para a construção da imagem de Ilha do Medo, pois tudo o que vier a 
partir desta informação deverá ser adequado ao momento temporal a que o autor se 
refere. Por consequência, a denominação do protagonista como “detetive” já 
recupera na memória do leitor a imagem descritiva de um profissional deste tipo 
dentro do período histórico previamente determinado. Depois, é dado o local em que 
a ação se passa e uma descrição categórica do motivo desta ação – um hospital 
psiquiátrico em uma ilha e uma assassina perigosa. Em seguida, é fornecida da 
informação crucial para o momento de transformação da história, revelando os 
verdadeiros vilões e o que isso causa ao protagonista. 
Ao fornecer ao leitor a informação de que os médicos são os vilões, ou esta 
possibilidade, há uma quebra de paradigma, pois o significado da palavra “médico” 
46
implícito na memória do leitor vem do conceito de cura ou salvação. Ao dar a 
informação oposta e qualificar tal profissional como provável anti-herói, o autor do 
texto se aproveita dessa ruptura de expectativa para criar uma ferramenta de 
persuasão, uma marca para despertar a curiosidade do leitor. 
A parte final da sinopse também trabalha outra marca de persuasão ao 
apresentar duas possibilidades para o desfecho de Ilha do Medo – o protagonista 
tentar escapar ou descobrir a verdade. Tal conclusão se aproveita da descrição de 
um cenário de um hospital psiquiátrico localizado em uma ilha e de os médicos 
serem os possíveis vilões para, sem maiores detalhes, dar ao leitor a sensação de 
suspense, o que revela mais uma faceta da trama e funciona como estimulador de 
curiosidade por meio do conhecimento prévio do leitor e como estas referências são 
trabalhadas em conjunto dentro da sinopse.
É importante ressaltar que o tempo da narrativa escolhido para a elaboração 
dessa sinopse é zero, logo, não há informação alguma sobre progressão temporal 
pelo protagonista ou pela trama em momento algum. O único dado temporal 
fornecido é o ano em que se passa a história e isso é parte da construção do 
cenário, sem influenciar na progressão temporal da narração. 
A principal estratégia de sumarização utilizada para a produção do texto do 
caso dois é o apagamento, pois não há detalhamento algum com relação à trama e 
suas variações ao longo do filme, à exceção de informações sobre o protagonista e 
o mote que dá o estarte à história. Houve nesta sinopse a reconstrução

Continue navegando