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Resumo de Metodologia da Pesquisa Jurídica - Prof. Gustavo Smizmaul

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RESUMO DE METODOLOGIA DA PESQUISA JURÍDICA
(primeiro semestre)
Estudo Processo estratégico + estratégias
comportamentais para sua eficácia
	Abordagem do estudo como processo estruturado e das estratégias comportamentais para sua eficácia.
Objetivos pedagógicos:
Retornar a noção de empoderamento/protagonismo do aluno (autonomia – responsabilidade).
Perceber o gerenciamento (meta) cognitivo para articular o comportamento, a ação e a cognição. 
	O estudo assim como acontece com inúmeras outras atividades, acaba sendo mais uma coisa que se faz por repetição, de modo enfadonho e mecânico sem “alma” e sem “vida” e, claro, termina em baixo rendimento.
Estudo:
Ato ou processo de estudar no qual existe a aplicação da inteligência para aprender, compreender algo que se desconhece ou de que se tem um conhecimento insuficiente.
Conhecimento:
Resultado adquirido à custa de se aplicar a inteligência, o raciocínio lógico sobre determinado assunto ou disciplina ou área. 
Motivação:
Conjunto de processos mentais (conscientes) que dão ao comportamento uma intensidade, uma direção e uma forma que o conduzem para um determinado objetivo.
Motivação Decisão Ação Cognição.
Falta de motivação: apatia e displicência (“fazer corpo mole” = fracasso)
Metacognição (busca do domínio cognitivo)
Importância para a aprendizagem.
Vantagens de lidar conscientemente com as informações.
Vantagens de lidar com os processos de pensamento.
As investigações sobre aprendizagem, como regra, sempre cuidaram:
Das capacidades cognitivas.
Das questões motivacionais
Mas desde 1970, as variáveis metacognitivas passaram a compor esse campo de investigações.
Funções mentais: Normalmente as funções mentais podem ser entendidas como sendo de três ordens:
Afeto
Volição (vontade)
Cognição
	Para o conhecimento do objeto. O processo cognitivo é perpassado pelas três.
Cognição
	Faculdade, ato ou processo de aquisição de informações e sua posterior elaboração mental (sensações, representações e lembranças), em parte consciente, em parte inconsciente, até atingir o estágio de conhecimento.
Cognição processamento de informações.
Metacognição
	Etimologicamente, significa “para além da cognição”, isto é, a faculdade de conhecer o próprio ato de conhecer (conscientizar, analisar e avaliar como se conhece).
Pode ser entendida como um tipo de experiência intelectual ou cognitiva reflexiva.
Metacognição cognição de 2ª ordem. 
Cognição de 1ª ordem relação sujeito – objeto/fato
Metacognição – cognição
 
 Cognição
 
 Objeto/fato
Implicações da metacognição
Eficácia dos comportamentos pró-cognição: sujeitos eficientes na execução de tarefas acadêmicas possuem também competências metacognitivas.
Influência em diversas habilidades: compreensão, comunicação (oral e escuta) e resolução de problemas.
Motivação: responsabilidade/ empoderamento pelo fato do aluno gerenciar seu próprio processo de aprendizagem. (virar-se por si mesmo).
Mapeamento das potencialidades e das dificuldades cognitivas assim como o progresso cognitivo: conhecer o que se sabe e o que se ignora.
Tratamento “epistêmico” de ignorância.
Ignorância: posição mental do individuo que ignora algo, que não está a par da existência de algo. (desconhecimento). Pode evitar a ignorância de 2ª ordem: ignorar a própria ignorância. É de desconhecer que não sabe aquilo que pensa que sabe. 
Metacognição: Significa portanto, o conhecimento do próprio conhecimento, a aplicação, a regulação, e a organização dos próprios processos cognitivos.
Trata-se de uma cognição de 2ª ordem:
Pensamentos sobre pensamentos
Conhecimentos sobre conhecimentos
Reflexões sobre ações.
Formas Essenciais:
	Conhecimento sobre o conhecimento: dos processos e das competências necessárias para a realização da tarefa.
O seu controle e autorregulação: avaliar a execução da tarefa e fazer correções quando for necessário: a metacognição gerencia as operações cognitivas.
A leitura exaustiva
	Descrição: exame da forma correta de lidar com textos no ensino superior e as técnicas para leitura eficiente.
Objetivos pedagógicos:
Definir parâmetros para analise do texto
Superestimação do texto
	Subestimação 1: o aluno acha que sabe tudo sobre o texto e assim confia que seu conhecimento prévio sobre o texto (assunto) basta (carência hermenêutica) não associa conhecimentos prévios ao texto.
	Superestimação 2: o texto é tomado de modo absoluto, esgotando-se nele todo o aprendizado (carência analítica) não associa conhecimentos prévios ao texto.
Consequências:
	Tais posturas estão embasadas no senso comum e na reprodução de padrões educacionais de baixo rigor teórico-metodológico. 
	A cultura pedagógica de facilitação retira do aluno a chance de lidar com a sua dificuldade e, a partir dela, construir sua autonomia. 
	Via de superação: domínio do instrumental analítico e hermenêutico para reconstrução do sentido do texto, com o texto. 
Como abordar um texto complexo?
	Pressuposto cognitivo
	Ciência: conhecimento sistematizado (adquirido por meio da observação, identificação, pesquisa e explicação) sobre um dado fenômeno que é formulado metodicamente e racionalmente.
BUSCAR NO TEXTO!Características de textos científicos:
Rigor de pensamento e expressão
Ordem na conciliação das ideias
Demonstração das afirmações
Obs: Leitura, sempre um processo ativo. Nunca passivo, o texto quer ser descoberto.
Tipos básicos de leitura
Interna ou Estrutural abordagem focada na arquitetura interna; analise de suas partes (identificação, descrição, organização). A leitura básica. 
Externa trata-se da inserção histórico-cultural do texto, situando-o num contexto.
1ª regra da Leitura Estrutural Leitura Averiguativa
	Ler inicialmente o texto inteiro, de uma só vez, para obter uma visão de conjunto, da sua totalidade Ideia básica.
Foco prestar atenção apenas no que se destaca.
2ª regra da Leitura Estrutural Leitura Aprofundada (Estrutura)
	Ler para identificar as partes do texto que contém as ideias secundárias, bem como o modo como estão relacionadas.
Foco prestar atenção aos detalhes, aos elementos subordinados a ideia central e como de uns se passa aos outros. 
As ideias secundárias trazem os conceitos
3ª regra da Leitura Estrutural Leitura Conceitual
	Ler para aprender os elementos das diferentes partes do texto.
	 
Foco prestar atenção aos detalhes, as minúcias conceituais, precisando o sentido de cada palavra, com as indicações dadas pelo próprio texto.
	
	A leitura interna, em suma, deve dar conta dos 3 níveis de um texto, sem confundi-los. Portanto, deve-se ler no mínimo 3 vezes um texto técnico ou cientifico (ou tantas vezes quanto forem necessárias para dominar os níveis textuais).
Análise Externa:
Examinando o contexto.
	Premissa de base: todo texto está inserido num contexto.
O contexto não se apresenta não se apresenta diretamente ao leitor; deve ser procurado, pesquisado e reconstruído.
Contexto lógico:
Os elementos de ordem intelectual que circundam o texto; se o antecederem são os pressupostos, mas se forem consequências do próprio texto, são as suas implicações.
Pressupostos Texto/Contexto Implicações	
Contexto histórico: 
	Os acontecimentos que se situam fora do texto e que o inserem num dado momento histórico. 
TEXTO Politica, Economia, Cultura e Sociedade.
Esquematização da Leitura Exaustiva:
O contexto não se apresenta diretamente ao leitor; deve ser procurado, pesquisado e reconstruído.
Leitura Interna (Estrutural) Leitura Averiguativa (texto) Leitura Estrutural Leitura Conceitual
Leitura Externa (Contextual) Contexto lógico Contexto histórico
Resultado da Leitura Exaustiva:
Mapeamento do texto – visão geral (o que se diz)
Conhecimento da estrutura – ordem tepológica e ordemdas razões (onde se diz e como se diz)
Conhecimento dos conceitos – visão “microscópica” (o que se diz detalhadamente)
Exame do contexto – inserção do texto na comunicação circundante (nível lógico e histórico)
Construção do entendimento-compreensão integral da proposta do texto (o sentido da mensagem)
Apenas depois de ter sido devidamente compreendido é que um texto pode ser:
Discutido
Criticado
Aceito
Rejeitado
A cientificidade do Direito
	Descrição: enquadramento inicial da problemática metodológica, especialmente no âmbito jurídico.
	Objetivos: 
pensar a relação entre Método e Conhecimento Científico-Jurídico 
refletir sobre a incidência de um sistema de referencia – cortes epistemológicos e perspectivas de análise. 
Questão Metodológica na Ciência Jurídica
Como estabelecer os limites exatos para a incursão no mundo jurídico, com base num raciocínio “essencialmente” cientifico, superando, assim, o embate entre sujeito/objeto/sociedade?
É possível sustentar a existência de parâmetros de racionalidade no discurso jurídico?
Para a Ciência do Direito, a questão metodológica implica na reflexão sobre...
<< A importância da escolha do caminho que deve ser percorrido pelo investigador do fenômeno jurídico, para que suas formulações acerca deste campo do saber não se incidam em erros >>
THEORIA CONTEMPLATIO RAZÃO
PHÁXIS ACTIO AÇÃO
Finalidade prática: satisfação de necessidades vitais. 
Elementos do conhecimento
O Sistema de Referência:
	Na relação cognoscitiva nota-se que <<sem sistema de referência, o conhecimento é desconhecimento. O sistema de referência é condição do conhecimento>>
Função: <<verificar a presença de todos os pressupostos lógicos das afirmações acerca de um objeto, os quais ratificarão a densidade cientifica do trabalho de conhecimento do sujeito>>
Tipologia Básica do Conhecimento
Senso Comum
Apresenta-se como um conhecimento <<cercado de conceitos vagos, incoerentes e fragmentados, sem compromisso com qualquer ação perante a nossa realidade, cujo referencial encontra-se difuso, desorientado>>
Trata-se do conhecimento popular, vulgar, cotidiano e que “orienta” a ação do “Homem da rua”.
A ciência 
	Apresenta um <<caráter racional e sistemático, permite o alcance de um resultado perante o mundo exterior, com a utilização de um referencial cercado por um núcleo comum de formulações, premissas que obedecem a certos critérios de racionalidade dentro da construção de um sistema de pensamento>>
	A ciência almeja a inteligibilidade do mundo.
Aquisição e Manifestação
O Conhecimento “Empírico”
É um tipo de conhecimento que advém da experiência e fundamenta o senso comum. Pressupõe como verdade o que se experimenta, o que se vive; é ametódico e assistemático, não tem preocupação com a “verdade”.
É, no geral, simplista e se transmite via uma forma de interação social menos estruturada. 
O Conhecimento “Dogmático” 
Dogma é resistente a mudanças
Como regra, é o que se apresenta como certeza absoluta, inquestionável (fé ou crença, “cega” e não racionada)
O dogmatismo é o resultado do pensamento ou da atitude que professam uma “verdade” decorrente da adesão restrita a princípios (dogmas) tidos como absolutos. 
	Em síntese: envolve uma “decisão” sobre aceitá-lo como verdadeiro.
O Método na Ciência do Direito
(Elementos Introdutórios)
	
	Descrição: enquadramento inicial da problemática metodológica, especialmente no âmbito jurídico. 
	Objetivos pedagógicos: 
Pensar a relação entre método e conhecimento cientifico jurídico.
Conhecimento (aquisição e manifestação) 
Empírico (fundamenta o senso comum é diferente do Empirismo Científico);
Dogmático (apresenta-se como certeza absoluta, como inquestionável);
Filosófico (busca a compreensão do mundo, da realidade, assim como do seu sentido); 
Cientifico (busca a explicação e a comprovação dos fatos).
SISTEMA SOCIAL (comunicação) Sistema Político/Sistema Jurídico/Sistema Econômico/Sistema Científico/Sistema das Artes = SENSO COMUM 
		Cada pessoa é um Sistema psíquico
Verdade e Método
	
O problema da “certeza”
<<Aliás, diga-se desde já que a verdade ou falsidade é algo ligado às proposições apresentadas>>
Instrumentalidade do método
<<O método consiste no vinculo que une o sujeito e objeto a ser conhecido, revelando uma preocupação nitidamente instrumental, [...] ao definir o grau de precisão do conhecimento>>
Esquematização
Sujeito Objeto
 
 Método
 “Teoria”
Fundamentação e Validade
	<< Toda e qualquer forma de questionamentos cientifico pode ser considera valida, em razão do referencial adotado. [Ele] determinará a veracidade de nossas preposições, criando um sistema de pensamento “fechado”, cujo a coerência de um argumento dependerá única e exclusivamente de sua adequação para com os princípios e com as orientações previamente estabelecidas pelo cientista para iniciar sua observação>>
	Tipologia do conhecimento cientifico	
Os níveis do conhecimento cientifico são:
Inorgânicas – ciências físicas
Orgânicas – ciências biológicas
Superorgânica – ciências sociais ou humanas, pois o objetivo é o homem em sociedade.
Características do objeto:
	É histórico – grupos sociais, costumes, leis, instituições, etc. Pois, por ser socialmente determinada, sofre um “desgaste” temporal.
	Os fenômenos observados estão marcados pela conjunção de espaço e tempo em que ocorrem.
 Objeto
Contexto	
Característica da Pesquisa
	Apresenta uma orientação mais qualitativa que quantitativa, ao invés de se mensurar o objeto.
	Portanto, o foco está:
na sua interpretação
na sua analise e contextualização
rotulação e síntese compreensível
Característica de relação sujeito-objeto
	É “ideológica” não se pode pesquisar em ciências sociais, sem se posicionar ideologicamente. O método serve de controle e tenta ser um meio de deferir maior isenção, porém, a desconfiança epistemológica é fundamental.
	“A visão de mundo do pesquisador e dos indivíduos é que dirige o processo de conhecimento e pesquisa”.
	
Conceito de Ciência do Direito
	Definição usual – um “sistema” de conhecimentos sobre a “realidade jurídica”.
 Problemas quanto ao termo ciência:
Incongruência semântica – falta de um sentido só para tema/termo.
Incongruência metodológica – dualidade entre ciências naturais e ciências humanas. (inorgânicas e orgânicas).
Incongruência epistemológica – existe uma ciência exclusiva do Direito? 
Incongruência Semântica
Enunciados Científicos
A ciência refere-se a um conjunto de enunciados que visa transferir, de modo altamente adequado, informações verdadeiras sobre algo.
Enunciados Constatações
	A linguagem comum também possui constatações, porem os enunciados científicos completam e refinam as constatações da linguagem comum.
	As constatações cientificas buscam um caráter estritamente designativo ou descritivo,, mais bem comprovado e sistematizado. 
A “verdade” cientifica 
O conhecimento cientifico constrói-se a partir de constatações certas, cuja evidência, em determinada época, nos indica, em alto grau, que elas são verdadeiras. 
A noção de enunciado verdadeiro está ligada as provas propostas e aos instrumentos de verificação desenvolvidos no correr da História.
Quais são os questionamentos? 
Graus de “certeza” 
Hipóteses: enunciados que, em certa época, são de comprovação e verificação relativamente frágeis. 
Exemplo:
Difusionismo: teoria segundo a qual um elemento cultural é a maior força da inovação e mudança transmitida de um povo a outro ou irradiada de grandes centros para determinadas áreas sob sua influência. 
Leis: enunciados que realizam comprovação e verificação plenas e servem de base à sistematização visada. 
Exemplo: Lei de Ação e Reação – lei segundo a qual força (ação) exercida por um corpo sobre outro corresponde a uma força contrária (reação) de mesma intensidade e direção. 
“A lei é uma ciênciado direito que tem como teoria as hipóteses”.
Operacionalidade
A ciência tem por objetivo constatar: o que existiu, o que existe e também o que existirá. 
Logo, possui um sentido operacional manifesto, constituindo um sistema de previsões prováveis e seguras, bem como de reprodução e interferência nos fenômenos que descreve.
“Relativização” da dicotomia teoria x Práxis, ainda que muitos prefiram sustentá-la. 
	Incongruência Metodológica	
Ciências Naturais e Humanas
Segundo a posição assumida até agora, a disputa se dá no âmbito metodológico do objeto:
Método: refere-se a um conjunto de princípios de avaliação da evidência, cânones para julgar a adequação das explicações propostas, critérios para selecionar hipóteses. 
O problema do método, portanto, diz respeito a definição de enunciado verdadeiro (e não de verdade).
Em complemento:
Técnica é o conjunto dos instrumentos, variáveis conforme os objetos e temas.
Método Objeto
 
 Técnica 
 
	Os modos de aplicar o método.
Método previsto pelo próprio método.
Compreensão e Explicação
Para fenômenos naturais, o método de abordagem refere-se a possibilidade de explicá-los (constatar a existência de ligações constantes entre fatos, deles deduzindo que os fenômenos estudados daí derivam).
Para fenômenos humanos se acresce à explicação o ato de compreender (isto é, o cientista procura “reproduzir intuitivamente” o sentido dos fenômenos, valorando-os).
O conceito de valor
O comportamento humano, não tendo apenas o sentido que lhe damos, mas também o sentido que ele próprio se dá, exige um método próprio que faz repousar sua validade na validade das valorações (individuais? Sociais? Ideais? Históricas?) Que revelam aquele sentido. 
O valor opera com a distinção: positivo/negativo
	
Incongruência Epistemológica
O significado do Método Compreensivo:
Não existe consenso sobre o sentido do método compreensivo: para uns, é essencialmente valorativo (Reale); para outros, é axiologicamente neutro (Kelsen).
Dificuldade adicional: o estreitamento entre agente social e cientista, aumenta a complexidade do saber jurídico, pois se trata de uma ciência normativo-descritiva, isto é, que conhece e/ou estabelece normas para o comportamento. 
O Caráter Científico do Direito:
A dogmática jurídica 
A Ciência do Direito pretende distinguir-se, via de regra, pelo seu método e também pelo seu objeto. 
Ela é vista pelos juristas como uma atividade sistemática que se volta principalmente para as normas (positivas, vão dizer alguns), baseada num método próprio que procuraria captá-las na sua situação concreta.
 
Dogmática
Ciência do Direito Objeto: realidade jurídica [normas] “fatos”/casos hipoteticos
		 Dogmática
Direito: Ciência Interpretativa 
A captação da norma na sua situação concreta faria então da ciência jurídica uma ciência interpretativa. 
A ciência do direito teria, neste sentido, por tarefa interpretar textos e situações a ela referidos, tendo em vista uma finalidade prática. 
Direito: Ciência Normativa
A ciência do direito implica em enunciados de natureza prescritiva.
O jurista não se limita a levantar possibilidades e, em certas circunstancias, a suspender o juízo, mas é forçado a realizar, por vezes, uma verdadeira opção decisória.
A sua intenção não é apenas conhecer, mas também conhecer tendo em vista as condições de aplicabilidade de norma enquanto modelo de comportamento obrigatório. 
Conclusão: 
Direito: Ciência Interpretativa/Normativa
	A Ciência do Direito por ter uma finalidade prática, leva ao uso de variadas técnicas. A multiplicidade terminológica das diferentes técnicas provoca muitas dificuldades. Com isso, temos o problema da unidade metodológica. 
CDD – Ciência Dogmática do Direito
	Descrição: a delimitação do campo teórico da Ciência do Direito.
	Objetivo Pedagógico: definir o campo teórico da Ciência do Direito como decorrente de um enfoque dogmático. 
As fronteiras do Direito Positivo:
Antecedentes históricos
	Jusnaturalismo dos séculos XVII e XVIII – secularização do direito natural.
Séc. XIX – o direito como fenômeno social.
	“O homem é percebido como um ser ambíguo, ao mesmo tempo um ser que pela ação, cria, modifica e transforma as estruturas do mundo, e delas faz parte como simples elemento de estrutura planificada.”
A positivação do Direito
	Direito positivo, em termos gerais, é o que vale em virtude de uma decisão e só por força de uma nova decisão pode ser revogado.
	O legalismo do séc. XIX entendeu isso de modo restrito, reduzindo o direito à lei enquanto norma posto pelo legislador.
Obs: Atualmente o alcance de positivação é muito maior (concorrência de normas especificas e dos princípios em relação ao direito codificado).
A positivação como decisão
	Toda decisão implica: motivos decisórios, premissas de valor que se referem a condições sociais e nelas se realizam.
	O que caracteriza o Direito Positivado é o fato de que estas premissas de decisões jurídicas só podem ser pressupostas como direito válido quando se decide também sobre elas.
	Para Luhman: na positivação “valores, normas e expectativas de comportamento na sociedade tem que ser filtradas, através de processos decisórios antes de poder adquirir a validade.”
Direito Positivo e Mudança Social
	O direito positivado se liberta de parâmetros imutáveis ou longamente duradouros, de premissas materialmente invariáveis e, por assim dizer, institucionaliza a mudança e a adaptação mediante procedimentos complexos e altamente móveis. 
	Em suma: o direito positivo é um direito que pode ser mudado por decisão!
O “Objetivo Central” da Dogmática Jurídica
	A positivação forçou a tematização do ser humano como objeto da Ciência do Direito.
	Mesmo correntes modernas que procuram fazer da ciência jurídica uma ciência da norma não podem deixar de enfrentar o problema do comportamento humano e de suas implicações na elaboração e aplicação do Direito. (pág. 42).
Direito e Decidibilidade
 	A questão da verdade
	Fala-se em problema, não em objeto.
	Problema básico: toda ciência pretende obter enunciados independentes da verdade.
	Níveis de manifestação da “verdade”
	Um enunciado aspira a verdade a medida que propõe, concomitamente, os critérios e os instrumentos de sua verificação.
A Ciência do Direito como Dogmática Jurídica
(O Direito como tecnologia)
Direito e Positivação:
	A Questão da Verdade
Fala-se em problema, não em objeto.
Problema básico: toda ciência pretende obter enunciados independentes da situação em que são feitos, à medida que aspiram a uma validade erga omnes.
Níveis de manifestação da “verdade”
Um enunciado aspira à verdade à medida que propõe, concomitamente, os critérios e os instrumentos de sua verificação intersubjetiva.
Quanto à referencia à realidade, um enunciado pode ser descritivo, prescritivo, resolutivo etc. O enunciado cientifico é basicamente descritivo.
Quanto ao conteúdo informativo, o enunciado pretende transmitir uma informação precisa sobre a realidade a que se refere significativamente.
	A impossibilidade da “verdade”
	A positivação cortou a possibilidade de Ciência do Direito trabalhar com este tipo de enunciado (V/F):
O direito positivo não é criação de decisão legislativa (relação de causalidade), mas surge da imputação da validade do direito a certas decisões (legislativas, judiciárias, administrativas).
	Foco na Experiência Atual e Corrente
	O Direito prescinde, até certo ponto, de uma referencia genética aos fatos que o produziram (um ato de uma vontade historicamente determinada) e sua positividade passa a decorrer da experiência atual e corrente, que se modifica a todo instante e determina a quem se devam endereçar sanções; obrigações, modificações etc.
	Regulamentação do Comportamento
	O direito continua resultando de uma serie de fatores causais muito mais importantes que a decisão, como valores socialmente prevalentes, interesses de fatosdominantes, injunções econômicas, políticas etc.
	Contudo, a decisão do legislador, que não o produz, tem a função importante de escolher uma possibilidade de regulamentação do comportamento em detrimento de outras que, apesar disso, não desaparecem do horizonte da experiência jurídica. 
	
	Enunciados e Decisão
	Os enunciados da Ciência do Direito tem natureza criptonormativa, deles decorrendo consequências programáticas de decisões: devem prever que, com sua ajuda, uma problemática social determinada seja solucionável sem exceções perturbadoras.
	Os enunciados da dogmática jurídica tem sua validade dependente da sua relevância prática. Não sendo possível deduzir deles as regras de decisão, pode-se encará-los como instrumentos utilizáveis para a obtenção de uma decisão. 
A decidibilidade dos conflitos
	Direito: Tecnologia de Controle Social
	Ao envolver uma questão de decidibilidade, a Ciência do Direito manifesta-se como pensamento tecnológico.
	Por um lado, aproxima-se do pensamento cientifico stricto sensu (ex: parte das mesmas premissas), porém os seus problemas tem uma relevância pratica. 
	Isto exige uma interrupção na possibilidade de indagação: a tecnologia dogmatiza os seus pontos de partida e problematiza apenas a sua aplicação na solução de conflitos. 
	Enfoques teóricos
Zetético
Do grego Zetein: perquirir, indagar, pesquisar.
Aspecto pergunta da investigação é acentuado
Função informativa (caráter aberto)
Enunciados partem de evidências (constatam verdades)
Servem primariamente para delimitar o horizonte problemático de um campo temático, mas ao mesmo tempo, ampliam esse horizonte, trazendo essa problematicidade para dentro deles mesmos.
Dogmático 
Do grego dokeir: ensinar, doutrinar.
Aspecto resposta de investigação é acentuado
Função informativa + diretiva (caráter fechado)
Enunciados partem de dogmas (constatam decisões)
As questões dogmáticas são tipicamente tecnológicas: de modo geral, as questões jurídicas são dogmáticas, sendo sempre restritivas (finitas) e, neste sentido, positivistas (de positividade).
Modelos teóricos da dogmática jurídica
	Dogmática Analítica (Norma)
	Dado um conflito hipotético e uma decisão hipotética, busca-se determinar as condições de sua adequação, ou seja, as possibilidades (normativas) de decisão. 
	Pressuposto: o homem possui necessidades e interesses que podem se tornar incompatíveis. 	
	Aqui, a Ciência do Direito aparece como uma sistematização de regras.
	
	Dogmática Hermenêutica (Interpretação)
	A relação entre a hipótese de conflito e a hipótese de decisão é considerada em sua relevância significativa. 
	
	Dogmática da Decisão (Argumentação)
	Retoma-se a relação entre a hipótese de decisão e a hipótese de conflito, procurando-se determinar as condições desta relação para além da mera adequação formal.
A Ciência do Direito como Teoria da Norma
(ou dogmática analítica)
	Descrição: questão da decidibilidade
	Objetivo: apreender o Direito como uma analítica das figuras jurídicas. 
Conceito de Norma
	Introdução:
	O conceito de norma aparece como uma noção integradora, capaz de determinar o objeto e o âmbito da Ciência do Direito.
	Na verdade, porém, nas formas e no modo pelo qual é tratada pela dogmática jurídica, percebemos que o conceito representa, no mais das vezes, um ponto critico a partir do qual se põem a amostra as limitações do pensamento científico-jurídico.
	
	Uma definição usual:
	Direito é o conjunto de normas coativas validas num Estado, e esta definição a meu ver atingiu perfeitamente o essencial. Os dois fatores que ela inclui são o da norma e o da realização através de coação.
	O conteúdo da norma é um pensamento, uma proposição (jurídica), mas uma proposição de natureza pratica, isto é, uma orientação para a ação humana, a norma é portanto, uma regra, conforme a qual nos devemos guiar.
	Caracteres distintivos:
Em comum com as regras gramaticais, a norma tem o caráter de orientação delas separando-se porém, à medida que visam especificamente à ação humana.
Nem por isso elas se reduzem à orientação para a ação humana (como as máximas de moral) a elas se acresce um novo aspecto, ou seja, o seu caráter imperativo.
	Síntese:
	Portanto, a norma é uma relação entre vontades, sendo imperativo obrigar/proibir.
	A norma manifesta o poder de uma vontade mais forte, capaz de impor orientações de comportamento para vontades mais fracas.
	A norma jurídica é um imperativo abstrato dirigido ao agir humano, na natureza, mundo das ações humanas.
	Teoria Imperativista:
	Identificar analiticamente a norma jurídica enquanto regra coativa. 
	O conceito de vontade serve-lhe bem a propósito, pois lhe dá a oportunidade de ver na norma jurídica uma relação de superioridade entre o que ordena e o que recebe a ordem.
Estado (emissor) Cidadão (receptor)
Impositividade do direito um caso de um querer dotado de poder
[poder] controle
	Analítica das figuras jurídicas: 
	A teoria imperativista, permite-nos colocar uma série de problemas que acabaram por se constituir objetos centrais da Teoria Jurídica.
	 As diversas respostas dadas a estas questões levaram a Ciência do Direito a constituir-se como uma espécie de analítica das figuras.
	A finalidade seria a preposição de um saber sistemático capaz de dar um quadro coerente e integrado do direito como conexão de normas e dos elementos típicos que as compõem. 
	Teoria Imperativista: Problematização
	Problema 1: o “conceito de vontade”
Estava muito ligado à uma psicologia individualista.
Dificuldades em transpor-se para situações mais complexas em que a determinação de um individuo portador do ato de vontade era difícil de ser feita.
Problema 2: a “forma imperativa”
As normas jurídicas raramente assumem formas imperativas (faça isto, proíba-se aquilo).
Como regra, são expressas em proposições hipotéticas do tipo se alguém se comporta de tal modo, então deverá sofrer tal sanção.
Se F, deve ser S.
	
	Problema 3: o “sujeito de direito” 
A noção de vontade não cabia para muitos casos em que o detentos de um direito era, por exemplo, uma fundação, uma sociedade, etc.
Solução: apelar para uma ficção que atribuía “vontade” a quem não se identificava sequer como um ser humano.
Isto desencadeou uma serie de distinções e criticas em torno de temas centrais, como “pessoa física” e “pessoa jurídica”, “obrigação”, “responsabilidade”, “capacidade”, “competência”, etc.
	
A ciência do Direito como Teoria da Norma
	Analítica das Figuras Jurídicas:
	A teoria imperativista permite-nos uma serie de problemas que acabaram por se constituir objetos centrais da Teoria Jurídica.
	As diversas respostas dadas a estas questões levaram a Ciência do direito a constituir-se como uma espécie de analítica das figuras jurídicas.
A Questão do Método
	Significado para a dogmática Analítica:
	Essa questão cuida do modo pelo qual a Ciência Dogmática do Direito tenta captar o fenômeno jurídico como um fenômeno jurídico como um fenômeno normativo, realizando uma sistematização das regras para a obtenção de decisões possíveis.
	Análise (def): separação (dissolução, desligamento, exame) de um todo em seus elementos ou partes que o compõem. 
	Procedimentos lógicos (analíticos):
	Se a análise, de um lado, é um processo de decomposição, o método analítico é um exame discursivo que procede por distinções, classificações e sistematizações.
	De outro lado, analise significa resolução ou solução regressiva, que consiste em estabelecer uma cadeia de proposições, a partir de uma proposição que por suposição resolve o problema posto, remontando às condições da solução [decisão].
	Tipos de procedimento:
Dedução: procedimento intelectual conclusivo que parte de preposições gerais para particulares.
Indução: procedimento intelectual que passa do particular para o geral.
Analogia: procedimento intelectual que passa de um particular para outro particular.
Tem por principio a noção de semelhança.
Sua aplicação requer uma construçãode certa similitude entre dois objetos estudados e, a seguir, um juízo de valor que mostra a relevância desta similitude sobre as diferenças, tendo em vista um problema a resolver.
Posso manipular as analogias para a solução dos litígios.
Procedimentos básicos
	Ligação: é um recurso analítico que se refere ao sentido de resolução de analise e consiste na aproximação de elementos distintos, que estabelece entre eles uma solidariedade, valorizando-os, positiva ou negativamente, um pelo outro. (Ex: P.F/P.J).
	Diferenciação: é um recurso analítico que se refere ao sentido de decomposição da analise, e consiste uma ruptura, que visa dissociar elementos que se admitem como formando um todo ou, pelo menos, um conjunto solitário (Ex: homicídio/legitima defesa).
Conclusão
	Na verdade, a analítica jurídica mesmo quando se vale de dedução e indução raramente se guia pelas estritas regras da lógica formal.
	Para Aristóteles, a propósito da argumentação judicial e deliberativa, trata-se de um procedimento de natureza retórica, do qual se pode dizer que é quase lógico.
RESUMO DE METODOLOGIA DA PESQUISA JURÍDICA
(segundo semestre)
A ciência do direito como teoria da norma
(A construção analítica I)
	
Estado – norma – conduta – ação – sociedade
Ordenamento validade.
O direito positivo é uma norma posta pelo Estado.
A norma como conceito-chave
Preocupação central: separar as normas jurídicas de outras normas (morais, de etiqueta, etc).
Em geral as normas jurídicas se distinguem: 
por sua validade
por sua estrutura condicional 
por sua organização num conjunto entrelaçado: o ordenamento como sistema.
A problemática da Validade
	Afirma-se com certa frequência que a validade é propriedade da norma jurídica.
	No entanto, o jurista não emprega o conceito de validade de modo sistemático... Até certo ponto é utilizado de modo oportunistico.·.
	Como regra, a ciência dogmática do direito lida com três conceitos de validade (imprecisos e alvos de disputas teóricas):
Validade fática 
	Sentido 1: uma norma vale faticamente no sentido de ser de tal modo efetiva que quando o comportamento que ela configura (hipótese de incidência) ocorre, a consequência jurídica que ela prevê, ocorre também (sanção).
A CDD refere-se a ela, como regra, por eficácia: termo técnico que significa ter a norma possibilidade de ser aplicada, de exercer seus efeitos, porque as condições para isto exigidas estão cumpridas.
 Exemplo: norma regulamentadora. 
Sentido 2: Validade fática são aquelas que expressam a atividade do aparelho sancionador do Estado. De modo geral, o apelo do jurista, no estudo de um instituto jurídico, as decisões de jurisprudência representa, assim, um recurso à validade no sentido fático. 
Exemplo: Direito simulado.
Validade constitucional
Sentido 1: Uma norma vale constitucionalmente, no sentido que ela é conforme as prescrições constitucionais sobre a própria validade, isto é, respeita um conteúdo superior, obedece a tramites, faz parte de um sistema unitário. 
A CDD refere-se a ela, como regra, por vigência. Termo técnico que significa ter uma norma com condições formais de ser aplicada, isto é, foi elaborada por órgão competente, nos limites da sua competência e em obediência aos procedimentos legais.
Sentido 2: Validade no sentido constitucional que se confunde com a noção de vigência. Ela conduz, porém, a um conceito extranormativo, qual seja o da legitimidade do Direito.
O seu modelo básico é a hierarquia das formas e das matérias, uma relação de subordinação vertical e compatibilidade horizontal, que desemboca num vértice ultimo e supremo: a norma primeira, fundamental ou constituição.
O problema da legitimidade
Ele é tipicamente aporitico, sua relevância é doutrinária e atua na esfera de persuasão.
Perspectivas básicas de tratamento:	
Teoria de Direito Natural: pressupõem normas não postas por nenhum legislador (ditadas pela natureza das coisas/ pela razão humana/ por Deus, por intermédio da bíblia, etc).
Teoria sobre a validade fática – a constituição vale porque é ato de poder efetivo (i, é, norma posta).
Teoria sobre a validade hipotética – engloba os que como Kelsen, veem o fundamento da constituição uma norma pressuposta de natureza teórica, que apenas prescreve ao jurista que aceite a constituição do primeiro legislador. 
Validade ideal 
A questão da validade ideal é em regra, pouco problematizada – exceto quando à doutrina como fonte do direito.
 A opção por uma ou outra teoria sobre a legitimidade representa a validade ideal ou por força de argumento de autoridade competente. 
Incidência: nos casos onde há divergências interpretativas e não houve decisão de autoridade competente.
 O recurso à chamada doutrina dominante é um exemplo típico (a mais aceita no meio jurídico dependendo do caso).
A construção analítica I
A estrutura da norma
Operadores lógicos: os trabalhos da lógica jurídica consideram como normativas as proposições construídas mediante os seguintes operadores lógicos: 
É proibido que...
É obrigatório que...
É permitido que...
Os dois primeiros, com o auxilio da negação, são redutíveis um ao outro: é proibido fumar equivale a é obrigatório não fumar. Já o terceiro caso é diferente.
Dever ser Ser
(normativo) (fático)
Norma Conduta / Ação, causa. Efeito
Proibir, obrigar, facultar. Interferência.
Operadores lógicos e as ações: 
	A ação pode ser definida como “uma interferência humano no curso da natureza” (Von Wright).
	As ações podem ser atos ou interferências positivos, omissões ou interferências negativas.
	A diferença entre ambos é relativa e depende da situação em que ocorrem.
	Basicamente depende das expectativas situacionais, ex: (câmara escura).
	Portanto, para que ocorram ações é preciso, a interferência humana no curso da natureza, de tal modo que:
A situação X, devendo permanecer X, mude para Y: no caso temos um ato (ação em sentido strito); NÃO FAÇA.
Ou que devendo mudar de X para Y, permaneça X: no caso, temos uma omissão.
Exemplos: 
Exemplo - Ato: Violação de correspondência; Art. 151: Devassar indevidamente o conteúdo de correspondência fechada, dirigida a outrem. Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa.
Exemplo – Omissão: Omissão de socorro; Art. 135. Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa invalida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade publica. Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa.
Descrição lógica da norma
	Podemos descrever logicamente a estrutura de uma norma como composta de:
Um operador normativo que determina o caráter normativo, norma obrigatória ou proibitiva ou permissiva.
Uma descrição da ação que é seu argumento e constitui o conteúdo da norma.
Uma descrição da condição da ação que é a sua condição de explicação.
Obs. (1): qualificação normativa= (2 e 3)= suposto fático ou hipótese de incidência.
Se F é, deve ser C: Se um fato acontecer, deve ser uma consequência. 
Se não – C, deve ser S: Se não houver uma consequência deve haver uma sanção.
	F = complexo fático. C = consequência. S = sanção (civil ou penal)
Síntese: Se F é, deve ser S.
	No entanto, não é porque um fato aconteceu que necessariamente ocorrerá sanção, um bom exemplo é o código de defesa do consumidor. 
	
Exemplo: Se F é, deve ser C.
	CDC da Oferta; Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados (Se F é...), obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integrar o contratoque vier de ser celebrado (deve ser C).
Exemplo: Se não C, deve ser S.
	CDC; Art. 35. Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar cumprimento à oferta, apresentação ou publicidade, o consumidor poderá, alternativamente e à sua livre escolhe (Se não C):
	I – exigir o cumprimento forçado de obrigação, nos termos da oferta, apresentação ou publicidade (deve ser S).
A construção analítica II 
	
O agrupamento das Normas Jurídicas
Pressupostos:
	Com a ênfase no direito escrito, válido e vigente, o modelo de raciocínio jurídico é tipicamente dogmático, centrado na:
(Auto) Limitação ao estudo da lei positiva.
Tese da estabilidade do direito. (Tem que ser feita (lei) por uma autoridade competente).
Concepção teórica do direito como sistema (ainda que haja divergência).
Os 2 sentidos de “sistema”:
Direito como sistema fechado:
Trata-se de uma totalidade que se manifesta no sistema de conceitos e preposições conexas.
As lacunas (aparentes) devem ser resolvidas vias ato interpretativo, evitando-se a criação de uma nova lei, mas redirecionando um dado caso a uma lei (ou norma) de hierarquia superior.
Fechado Ordenamento
Sistema como método: Instrumento metódico
	
	Funciona como instrumento metódico da Ciência Dogmática do Direito e assenta-se sobre 2 procedimentos básicos:
O dogma da subsunção (hipotético – dedutivo)
Procedimento construtivo (regras jurídicas são “deduzidas”) derivadas de um ou mais princípios. 
A identificação do Direito como Norma
		O jurista, com base na dogmática jurídica, capta o direito num procedimento de incidência.
Isto é, imputação de normas a situações (fatos) sociais atuais ou potencialmente conflitivas.
Com base no dogma da “inegabilidade” dos pontos de partida, o pensamento dogmático deve identificar as suas premissas. 
	O direito, como dado objetivo, contém as premissas que dever ter um mínimo de generalidade.
Passo 1: Principio da Legalidade
	
	Constituição Federal de 1988
Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza..
	II. Ninguém será obrigado a fazer (ação) ou deixar de fazer (omissão) alguma coisa senão em virtude de lei.
Passo 2: Análise Dogmática
		Após identificar a(s) norma(s) referente(s) ao caso em analise, o jurista irá lidar com procedimentos analíticos já estudados:
Ligação (aproximação de elementos distintos).
Diferenciação (dissociação de elementos que se admitem como formando um conjunto solidário).
Empregará, para isso, raciocínios dedutivos, indutivos e analógicos. 
Passo 3: Elaboração de sistemas
		Construir sistemas para o agrupamento de normas de modo racional e coerente: 
Não é suficiente só ler a(s) norma(s), mas encontrar critérios de organização do direito como referencia ao caso.
 Tais critérios devem ser passiveis de generalização mínima, pois a dogmática busca a decisão de conflitos em geral.
O sistema não é fechado.
Numero de sistemas = numero de sujeitos envolvidos
Critérios básicos para agrupamento
Critério material: O jurista vislumbra campos do comportamento humano sobre os quais incide um grupo de normas de diferentes tipos. Funcionam, assim, como núcleos aglutinadores de normas (ex: família, contrato, sucessão...), às vezes extraídas de diferentes códigos e ramos do direito, mas que compõe regulamentação (governadores de normas).
Critério Formal: O jurista vislumbra a relação entre as normas jurídicas em função de um caso. Assim, agrupamentos que se fundam em relações formais, como, por exemplo, relações de generalidade e especialidade, estabelecem uma textura de relações entre normas, a partir da posição de princípios, que constituem, igualmente, um conjunto.
Modelos de agrupamento 
	Modelo Problemático: as normas acabam, em função da matéria questionada, por adquirir certa unidade.
	Exemplo: O fenômeno “poluição” na chamada “árvore do direito” se raciocínio parte do problema (a situação concreta da poluição), deve-se buscar normas de diferentes ramos jurídicos (constitucional, administrativo, tributário, comercial, civil, econômico, penal, trabalhista, internacional), para compreendê-lo juridicamente.
	Modelo Sistemático: a teoria jurídica trata do agrupamento das normas em função dos princípios setoriais, que dividem, de antemão, as normas em conjuntos mais de natureza didática. 
Exemplo: (Ramos e sub-ramos do direito)
Direito Publico e Privado
Direito interno e internacional
Direito internacional publico e privado.
Unidade do ordenamento: (I)
	Qualquer dos modos inclui normas de diferentes tipos, que são inseridas num conjunto, numa espécie de combinatória. 
	O uso dos termos problemáticos e sistemático divide a analítica jurídica em dois processos que se opõem mas se complementam.	
	(II) Em síntese: quem parte do problema efetua uma relação de sistemas, ao passo que, quem parte do sistema, efetua uma relação de problemas.
	O uso dos termos problemático e sistemático divide a analítica jurídica em dois processos:
Um problema pode ser visto como um conjunto de alternativas que apontam para uma série de soluções, cada uma constituindo um sistema.
Sistema, por sua vez aparece como um conjunto de princípios válidos para determinados problemas.
	Um modelo não exclui o outro, se completam, só que dependendo da situação pode-se colocar um em primeiro plano e o outro em segundo plano e vice-versa.
Conclusão I
		O modelo piramidal	
	A noção de ato jurídico (que põe o direito) centraliza a produção do direito diferenciando-a a partir de centros irradiadores e de sua força impositiva.
	Hierarquia é uma relação de subordinação vertical, conforme as noções de superior e inferior, e uma relação de coordenação horizontal, conforme o critério de não contradição e compatibilidade, culminando num princípio único que nos da uma representação de ordem unitária.
Conclusão II
O modelo em “Rede”
	
	Há vários centros produtores do direito, organizados a partir de situações concretas e, concatenados entre si em função de critérios pragmáticos (decibilidade).
	A noção de hierarquia passa a ser secundária (não é o único modo de representação possível).
	A linha produtora do direito não é vertical nem contínua, pois as normas agrupadas têm seu sentido potenciado umas pelas outras, nas mais diferentes funções.
	
A Ciência do Direito como Teoria da Interpretação I
(ou Dogmática Hermenêutica)
	Descrição: exame da Dogmática Jurídica como Teoria da interpretação, tendo como plano de fundo a decidibilidade. 
Objetivo pedagógico:
Apreender o Direito por meio da Teoria da Interpretação compreendida aqui, como a busca pela determinação do seu sentido.
Analisaremos:
O problema da interpretação.
Teoria da Interpretação: a polêmica entre doutrina subjetivista e objetivista.
Introdução
Modelo teórico da hermenêutica
	A relação entre hipótese de conflito e hipótese de decisão é considerada significativa.
	Busca-se o sentido numa atividade interpretativa na qual se constrói um sistema compreensivo do comportamento humano.
O problema da Interpretação 
Conceitos iniciais
	Interpretação:
Ato ou efeito de interpretar: é determinar o significado de um texto, de uma lei.
Tem como objetivo traduzir de uma língua para outra (sentido).
Comunicar conteúdo latente que existe nas palavras e nos comportamentos do homem. 
Hermenêutica
	
Ciência ou técnica por objeto da interpretação dos textos.
Teoria voltada a interpretação dos significados e seus valores simbólicos.
Conjunto de regras e princípios da interpretação do texto legal.
Situação interpretativa:
Interprete hermenêutica texto/lei 
 Jurídica 
 
sentido aplicação JaSJ
 caso concretointerpre. Dever ser Ser N1 
 1 norma Fato – situação N2 A R
sujeito -> pressuposto normativa N3 SA SR
 enunciado. Texto natural N4
O problema inicial da interpretação
	Postulado (quase) universal da Ciência Jurídica: “Não há norma sem interpretação, ou seja, toda norma é, pelo simples fato de ser posta, passível de interpretação”.
Os objetivos básicos da interpretação:
Aplicação de norma
Constatar e preencher lacunas
Constatar e resolver antinomias
	Em sentido contrário, temos a proibição de Justiniano de que se interpretassem as normas do seu Corpus Juris...
	Mas, com essa proibição, não se desejou romper com o postulado em tela, afirmando tão somente que se reconhecia como vinculante apenas a interpretação do próprio imperador.
	A proibição de interpretação não era uma supressão, mas um limite.
Ciência da interpretação
	No século XIX, a interpretação deixa de ser uma questão técnica da atividade do jurista para ser objeto de reflexão, tendo em vista a constituição de uma teoria.
	Interpretar o direito significa, então, a partir do final do século XVIII, a inserção da norma em tela da totalidade do sistema.
	A ligação, porém, entre o conceito de sistema e o de totalidade acabou por colocar a questão geral do sentido da unidade do todo.
	Adotou-se 2 modelos de referência:
Modelo mecânico: A unidade era dada pela integração das partes segundo um principio de não contradição e de complementaridade. (Pirâmide Formal)
Modelo orgânico: A unidade era um “plus” em relação às partes, alguma coisa que não se reduzia à mera soma das partes, mas garantia a unidade do seu sentido (por exemplo: nos organismos biológicos, a ideia de “vida” como irredutível dos órgãos, mas imamente a eles. (Modelo em rede) 
No plano jurídico, a questão da unidade se torna um problema de sentido da ordem normativa.
Qual o fundamento deste sentido?
	A doutrina jurídica vai oscilar entre 2 pontos de apoio?
O sentido está ancorado no texto da lei
O sentido está ancorado no pensamento do legislador. [competência/função]
O fundamento do “Sentido” em Savigny
	Em fase anterior a 1814:
Savigny afirmava que interpretar era mostrar aquilo que a lei diz.
Estava preocupado, desse modo, com o texto da lei.
A questão técnica da interpretação era, então, como determinar o sentido textual da lei.
Daí a elaboração de 4 técnicas interpretativas:	
A interpretação gramatical, que procurava o sentido vocabular da lei.
A interpretação lógica, que visava o seu sentido proposicional.
A sistemática, que buscava o sentido global.
A histórica, que tentava atingir o seu sentido genético.
Em fase posterior a 1814:
A questão deixa de ser a mera enumeração de técnicas interpretativas, para referir-se ao estabelecimento de um teoria da interpretação.
Surge o problema de se procurar um critério para a interpretação autentica. A pergunta é: Qual o paradigma para se reconhecer que uma interpretação do texto da lei é autentica? 
	A resposta envolve a possibilidade de um sentido ultimo e determinante:
A concepção de que o texto da lei é expressão da mens legislatoris leva Savigny a afirmar que interpretar é compreender o pensamento do legislador manifestado no texto da lei. 
	Em “Da vocação de nosso tempo para a legislação e a jurisprudência” (1814), posiciona-se contrariamente à codificação do direito alemão, com base no seu caráter cultural, construído pelas sucessivas gerações
Teoria da Interpretação
O problema básico da Ciência Dogmática do Direito
	O problema básico da atividade jurídica é a configuração sistemática da ordem normativa e a determinação do seu sentido (que ganha relevância).
Nota-se o aparecimento de um método peculiar, ligado à ideia de compreensão e de uma disputa em torno do objeto da própria teoria jurídica. 
De modo geral, os atos intencionais produtores do direito e, por isso mesmo, dotados de um significado que deve ser elucidado.
Método e objeto
	Do ângulo do objeto, o direito é visto como posição de um sentido através de um ou mais atos normativos.
	Do ângulo do método, o problema é como e onde captar este sentido
	A doutrina se cindiu em 2 grupos, separados conforme o reconhecimento (i) da vontade do legislador ou (ii) da vontade da lei como sede do sentido da norma.			
Vontade do legislador Vontade da lei
(subjetivista)			 (Objetivista)
Doutrina Subjetivista: Vontade do legislador.
Doutrina Objetivista: Sentido próprio da norma. Vontade da lei. 
	
Doutrina Subjetivista
	Insiste em que, sendo a ciência jurídica uma ciência hermenêutica, toda interpretação é basicamente uma compreensão do pensamento do legislador.
	Portanto, interpretação ex tunc (desde então, isto é, desde o aparecimento da norma), ressaltando-se o papel preponderante do aspecto genético e das técnicas que lhe são apropriadas. 
Doutrina Objetivista
	
	A norma tem um sentido próprio, determinado por fatores objetivos, independente ate certo ponto do sentido que quis dar-lhe o legislador.
	Donde a concepção da interpretação como uma compreensão ex tunc (desde agora, isto é, tendo em vista a situação atual em que ela se aplica), ressaltando-se o papel preponderante dos aspectos estruturais em que a norma vige e das técnicas apropriadas para a sua captação.
Os objetivistas contestam os subjetivistas
Pelo argumento da vontade: a vontade do legislador é mera ficção (o legislador raras vezes é identificável).
Pelo argumento da forma: só manifestações normativas trazidas na forma jurídica tem força para obrigar (o legislador é apenas uma competência legal).
Pelo argumento da confiança: o interprete tem de conceder confiança à palavra da norma como tal (que deve ser inteligível por si).
Pelo argumento da interpretação: só a concepção que leve em conta os fatores objetivos na sua continua mutação explica a complementação e a criação do direito pela jurisprudência. 
Os subjetivistas contestam os objetivistas
O recurso à técnica histórica de interpretação, aos documentos e às discussões preliminares, que deram ensejo ao aparecimento da norma, é incontornável, donde a impossibilidade de se ignorar o legislador originário.
Os fatores (objetivos) que eventualmente determinam a vontade objetiva da lei também estão sujeitos à interpretação (um curioso subjetivismo que põe a vontade do intérprete acima da vontade do legislador e da própria norma legislada).
Seguir-se-ia um desgaste para a captação do direito em termos de segurança e de certeza, que estaria a mercê da opinião da interprete. 
Os 2 atos interpretativos
	Quando dizemos que interpretar é compreender outra interpretação (a fixada da norma), afirmamos a existência de dois atos:
Um que dá à norma o seu sentido.
Outro tenta captá-lo (aplicador do direito). 
	Portanto, para que haja interpretação jurídica é preciso que ao menos um ato doador de sentido seja fixado. (mensagem que o interpretador quer transmitir)
	Obs: A norma não tem em sentido, o sentido é isoladamente produzido na hermenêutica para ser aplicado na interpretação da norma.
Pressupostos da Hermenêutica Jurídica 
Caráter dogmático: Ponto de partida:
	O dogma inicial (hipótese argumentativa) pode ser colocado em diferentes níveis, hierarquizados ou não. 
Exemplo: 
Do ponto de vista da sua justiça. (uma concepção de justiça novo ponto de partida)
Do ângulo da sua efetividade (a possibilidade de produção de efeitos novo ponto de partida)
A partir de pontos de partida pluridimensionais, compatíveis entre si.
Podem ser hierarquizados ou não.
Finalidade de questionar: a justiça (concepção), o ângulo de efetividade (possibilidade da produção de efeitos -> novo ponto de partida) e os pontos de partida pluridimensionaiscompatíveis entre si. 
Liberdade do interprete: 
A interpretação jurídica deve ter um ponto de partida tomado como indiscutível, para impedir o recuo infinito.
Porém, sua identificação é materialmente aberta, portanto, o ato interpretativo tem um sentido problemático localizado nas múltiplas vias que podem ser escolhidas...
Isso manifesta a liberdade do interprete como outro pressuposto básico de hermenêutica jurídica.
Caráter Deontologico e Normativo
A tensão entre o dogma (um critério objetivo) e a liberdade do interprete (o arbitro).
Não apenas estamos obrigados a interpretar (não há norma sem sentido, nem sentido sem interpretação), como também deve haver uma interpretação e sentido que preponderem e coloque fim (prático) à cadeia das múltiplas possibilidades interpretativas. 
	O critério para entender-se este fim prático é o problema da decidibilidade. 
Síntese Dogma inicial
Hermenêutica jurídica Liberdade do interprete
Pressupostos básicos Caráter deontológico normativo
Técnicas interpretativas
	Finalidade prática
	O propósito básico do jurista não é simplesmente compreender um texto, como faz, por exemplo, o historiador ao estabelecer-lhe o sentido e o movimento no seu contexto, mas também determinar-lhe a força e o alcance, pondo o texto normativo (modelo de comportamento obrigatório) em presença dos dados atuais de um problema.
	Interpretação e Pragmática
	Princípio da economia do pensamento
Do ângulo pragmático para elucidar o texto normativo não é necessário ir sempre até o fim, mas até o ponto em que os problemas pareçam razoavelmente decidíveis.
	Este era, sem duvida, o propósito de um famoso aforisma jurídico, hoje abandonado, segundo o qual “in claris cessat interpretatio”.
Movimento básico: estabelecer uma definição
	A definição jurídica oscila entre o aspecto cronológico da palavra, isto é, o uso corrente da palavra para a designação do fato (designação nomial), e o aspecto semasiológico, isto é, a sua significação normativa. 
A integração do direito
Problemática:
	
	O problema da integração coloca-se, basicamente, para uma concepção do Direito que distingue a atividade legislativa da executiva e da judiciária.
	Discute-se aqui a legitimidade de o interprete ir alem da compreensão da norma, configurando novas hipóteses normativas, quando o direito vigente não as prevê, ou mesmo quando as prevê, mas de modo insatisfatório. 
Origem: inicio do séc. XIX:
	A ciência jurídica (hermenêutica) tinha diante de si uma sociedade relativamente estável, em que os problemas jurídicos eram, na maior parte das vezes, de natureza privada, sendo o conteúdo dos seus conflitos questões entre indivíduos.
	O problema da integração do direito surge quando as necessidades de uma sociedade já em modificação começam a romper com uma espécie de admiração acrítica pelo jurista do direito positivo vigente. 
Razões do rompimento:
	Este rompimento, ao nível da teoria jurídica, expressou-se de 2 modos:
Nas discussões em torno da existência ou não de lacunas nos ordenamentos vigentes.
Admitida a sua existência, em torno da legitimidade e dos limites da atividade integradora do interprete. 
As lacunas do direito
Lacunas da Lei ou do Direito
Lacunas da lei: O problema das lacunas foi concebido, inicialmente, como restrito.
	Por lacunas a lei reconhece, salvo quando assimilamos o direito à lei, que, se o ordenamento legal é lacunoso, não o seria, eventualmente, o direito como um todo.
Lacunas do direito: É possível, contudo, colocar a questão mais ampla das lacunas do direito, como um corpo de normas não necessariamente constituído de normas legais. 
	
	Esta questão, mais ampla, tem dois aspectos:
Problema lógico da completude do sistema das normas.
Instrumentos integradores do direito.
A completude do Sistema
 Foco: os comportamentos “juridicamente indiferentes”
Ex: Podemos assumir que fumar em sua própria casa é um desses comportamentos.
Há autores, porem, que dizem que o direito regula os comportamentos de dois modos: 
Ou proibindo e obrigando ou, se nem proíbe nem obriga
Permitido. 
	Ora, fumar na própria casa seria um comportamento juridicamente permitido, nada havendo de indiferente para o direito.
	
	A questão tem relevância para os casos em que o juiz, não encontrando nenhuma norma que regulasse determinado comportamento, tivesse de julgá-lo como permitido automaticamente.
Exemplo: o furto de energia elétrica, que, quando apareceu, não era configurado por nenhuma lei penal, e, por força do principio “nullum crimen nulla poena sine lege”, deveria ser considerado como comportamento juridicamente permitido.
	Furto (de energia). Art. 155. Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel. Pena – reclusão de um a quatro anos, e multa.
Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico. 
A completude do sistema
Lacunas do Ângulo Processual (Processo hermenêutica)
	Para alguns autores a questão de lacuna surge somente no momento da aplicação de um sistema normativo e determinado caso, para o qual aparentemente ou realmente, não há norma especifica. 
	Quanto a essa colocação, basicamente temos 2 posicionamentos na doutrina.
Doutrina da incompletude (Geny): Aqui a plenitude lógica da legislação escrita aparece como um postulado, uma ficção aceita de um ponto de vista e por um motivo puramente prático.
Liberdade de agir
Real e incompleto, mas aceita na ficção que é completo. 
Doutrina da completude: Aqui admite-se a completude como uma ficção que permite estabelecer limites ideológicos ao arbitro do juiz nos casos de comportamentos permitidos, mas do ponto de vista da ordem social indesejadamente permitidos (ex: furto de energia).
Real. 
É completa, mas aceita na ficção que é incompleta para estabelecer limites nos casos permitidos. 
 
 Norma (ordem)
Interprete discurso
Carga simbólica
 Fato
Problemas de Definição:
	Admitida a existência das lacunas, ainda assim, a doutrina encontra dificuldade em determinar o seu estrito significado, separando-o de outros casos:
Das normas abertas (que pedem por parte do interprete, uma fixação do seu sentido ainda vago ou propositalmente vago na letra da lei).
Dos casos valorativos (como de honestidade, bons costumes, que a própria lei usa, mas não define etc.).
Em saber até que ponto o ato interpretativo capta o texto legal, compreendendo-o, e até que ponto esta compreensão já é um acréscimo;
Quanto aos casos em que a integração é legitima e ilegítima. Fala-se em lacunas “autênticas” e “inautênticas” ou verdadeiras e falsas ou de lege lata (já feita) e de lege ferenda (a ser feita), ou de lacunas propriamente ditas e meras faltas ou erros de política jurídica.
		Assim, a doutrina raramente consegue distinguir o conceito de lacuna.
Nos seus aspectos estáticos (ausência de uma norma num ordenamento, dado e desligado da sua dinamicidade) e;
Nos seus aspectos dinâmicos (a própria historicidade do direito, revelando lacunas que antes não existiam e preenchendo outras antes reconhecidas).
Instrumentos integradores
Imprecisão doutrinária:
	Fala-se em analogia, em interpretação extensiva, em equidade, em princípios gerais e indução amplificadora etc.
	Embora a doutrina os reconheça como meios de integração, há incerteza quanto ao seu sentido metodológico, ora chamando-se analogia o que para uns é interpretação extensiva e vice-versa, ora chamando-se equidade o que para outros é principio geral etc.
Função do conceito de lacuna:
	Do ângulo argumentativo é um recurso hermenêutico da CDD cuja função é permitir-lhe o caráter de procedimento persuasivo.
	Sem eles, nos limites da positividade, o interprete estaria sem defesa contra uma estritalegalidade, pois não teria meios de cobrir o conflito entre a dura letra da lei e as exigências peculiares da equidade.
	Nestes termos, o conceito de lacuna (e o que lhe são apresentados) confere ao jurista a possibilidade de se valer daqueles fatores extrapositivos, como se fossem positivos ou, positiváveis.
	O conceito de lacuna alarga o campo da positividade a partir dele próprio.
	Esse procedimento tem dois aspectos correlatos, porém, independentes: constatação e preenchimento.
Correlação: à medida que o preenchimento pressupõe a constatação, esta, curiosamente, exige o uso de instrumentos integradores (para completar e também para mostrar o vazio).
Independência: pode haver constatação de lacunas cujo sentido ultrapasse os limites de preenchimento possível (lacunas técnicas que só o legislador pode completar) e porque o preenchimento da lacuna, salvo disposição expressão, não impede a sua constatação em novos casos e circunstancias, donde uma espécie de “criação” continua do direito pelo interprete. 
Conclusão:
	Assim, a constatação da lacuna, embora aparentemente tenha um significado descritivo, representa, na verdade, um procedimento inventivo, nos termos da retórica (como uma regra de natureza permissiva).
	“em casos de lacuna pode o interprete...”, sempre que se tenha em mente que a própria determinação daqueles casos requer, do jurista, uma verdadeira avaliação do sentido global do direito e das exigências da decisão justa.

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