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CAPÍTULO 2 Fundamentos e Processos de Auditoria A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Saber os fundamentos de auditoria das demonstrações contábeis e qual seu objetivo. � Saber o que é um processo auditorial. � Compreender as exigências, demandas, atribuições e responsabilidades de um auditor. 26 Fundamentos e Objeto da Auditoria 27 Fundamentos e Processos de Auditoria Capítulo 2 Contextualização No capítulo anterior, foi visto que o objeto de estudo da contabilidade é o patrimônio, e para assegurar a integridade deste são utilizados fundamentos teóricos e práticos que geram informações úteis e fidedignas ao usuário da informação contábil. Neste contexto, vimos que existe uma área da contabilidade que é responsável pela verificação e estudo das rotinas contábeis de uma entidade: a auditoria. Dentre os diferentes tipos de auditoria, temos a auditoria independente, também conhecida como auditoria das demonstrações contábeis. Neste capítulo, aprofundaremos os fundamentos para realização de auditoria nas demonstrações contábeis e como fazê-la. Para atingir seu objetivo, a auditoria examina os registros contábeis e expressa uma opinião sobre esses registros, assegurando que eles representem adequadamente o patrimônio em um dado momento do tempo. Assim, na auditoria, o objeto de estudo são todos os elementos de controle que assegurem a integridade dos saldos patrimoniais. Os processos de auditoria só podem ser realizados por um profissional qualificado. Portanto, além de abordar o processo auditorial, discutiremos aqui quais as exigências e características para se tornar um auditor independente e qual a postura ética e responsabilidade legal que este auditor deve ter. Fundamentos De Auditoria Das Demonstrações Contábeis As demonstrações contábeis vão de acordo com a Estrutura Conceitual do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (00–R1), são “demonstrações cujo propósito reside no atendimento das necessidades informacionais dos usuários externos que não se encontram em condições de requerer relatórios especificamente planejados para atender as suas necessidades peculiares” (CPC, 2011, s.p.). Desta forma, retratam os efeitos patrimoniais e financeiros que ocorrem em uma determinada entidade durante um período de tempo, geralmente (mas não exclusivamente) um ano. Auditar as demonstrações contábeis significa que o auditor concentra sua atenção em cada uma das afirmações contidas nas demonstrações em exame, “o objeto, nesse caso, é o enfoque que o auditor dá aos saldos e valores constantes nas informações da empresa sob auditoria e o que tais saldos e valores representam em termos patrimoniais” (ATTIE, 2010, p. 3). Demonstrações cujo propósito reside no atendimento das necessidades informacionais dos usuários externos que não se encontram em condições de requerer relatórios especificamente planejados para atender as suas necessidades peculiares 28 Fundamentos e Objeto da Auditoria O objetivo das demonstrações contábeis é de fornecer informação contábil-financeira que seja útil a seus usuários, isto é, que façam a diferença na tomada de decisão e representem autenticidade nos dados contábeis. Para que sejam úteis, essas informações precisam respeitar as características qualitativas fundamentais, ou seja, identificam os tipos de informações que muito provavelmente são reputadas como as mais úteis para a tomada de decisão. Para tanto, precisam conter relevância e fidedignidade. a) Para ter relevância, a informação fornecida na demonstração contábil precisa ter: • valor preditivo; • valor confirmatório. Valor preditivo significa que a informação pode ser utilizada pelos usuários para resultados futuros, enquanto valor confirmatório serve como um feedback para informações anteriores, confirmando-as ou corrigindo-as. Uma informação pode ser, ao mesmo tempo, preditiva e confirmatória quando apontar resultados passados que podem refletir tendências futuras. b) Para ser fidedigna, uma informação precisa ter três atributos: • ser completa; • ser neutra; • ser livre de erro. Uma informação completa é aquela que fornece ao usuário tudo o que ele precisa para compreender o fenômeno que está sendo reportado, incluindo todas as descrições e explicações necessárias. O objetivo das demonstrações contábeis é de fornecer informação contábil-financeira que seja útil a seus usuários, isto é, que façam a diferença na tomada de decisão e representem autenticidade nos dados contábeis. Um retrato completo de um grupo de ativos incluiria: a) descrição da natureza dos ativos que compõem esse grupo; b) o retrato numérico de todos os ativos desse grupo; c) a descrição acerca do que o retrato numérico representa (por exemplo, se foi avaliado por custo histórico ou custo histórico ajustado). 29 Fundamentos e Processos de Auditoria Capítulo 2 Para ser neutra, a informação precisa ser desprovida de viés, seja na sua seleção ou apresentação, ou seja, deve ser isenta de qualquer tipo de manipulação que aumente a probabilidade dessa informação ser recebida por seus usuários de modo favorável ou desfavorável. A prudência (ou conservadorismo) foi, por muitos anos, condição de fidedignidade da informação contábil. Sua prerrogativa consiste na subavaliação de ativos e superavaliação de passivos no sentido de proteger o patrimônio administrado. Entretanto, em consonância à convergência às normas internacionais, no Brasil a prudência não é mais característica de fidedignidade, pois é incompatível com a neutralidade da informação contábil. Por fim, a informação livre de erro significa que não há erros ou omissões no evento que está sendo retratado e que o processo utilizado para produção da informação foi selecionado e aplicado livre de erros. Essa é uma característica na qual grandes esforços são produzidos, pois nem todas as informações são reconhecidas com facilidade, por exemplo, a estimativa de preço de um produto. Essa não pode ser qualificada como algo exato ou inexato, contudo, o que a normatização orienta é que o montante estimado para esse item seja descrito clara e precisamente como sendo uma estimativa, que a natureza e as limitações do processo sejam devidamente reveladas e que nenhum erro possa ter sido cometido no processo de desenvolvimento dessa estimativa. É importante atentar para o fato de que, para ser útil, a informação precisa ser, ao mesmo tempo, relevante e fidedigna. Não importa o grau dos esforços realizados para gerar uma informação com tempestividade se essa informação não reporta, com fidedignidade, o evento, assim como não importa se um determinado registro é evidenciado com exatidão, mas não corresponde a uma realidade atual. A figura a seguir apresenta um esquema que representa a utilidade da informação contábil: É importante atentar para o fato de que, para ser útil, a informação precisa ser, ao mesmo tempo, relevante e fidedigna. 30 Fundamentos e Objeto da Auditoria Figura 1 – Utilidade da informação contábil Fonte: A autora. Para Attie (2010, p. 5), “a ação da auditoria não pode se limitar àquilo que está registrado nos livros oficiais, mas também àquilo que pode ter sido omitido nos registros principais”. Nesse sentido, como a auditoria das demonstrações contábeis tem seu foco em atestar a representatividade destas, o trabalho e esforço do auditor estão centrados em verificar se foram observadas, nas atividades que produzem as demonstrações, as características qualitativas fundamentais para sua publicação. Observamos que as normatizações de procedimentos contábeis fluem para uma aproximaçãoda maior veracidade e autenticidade das informações contábeis retratadas pelas demonstrações contábeis. Você acha que isso diminui a necessidade de auditoria independente? 31 Fundamentos e Processos de Auditoria Capítulo 2 A resposta a este questionamento é negativa. A realização de auditoria das demonstrações contábeis testa a eficiência dos controles internos da empresa, aumentando o grau de confiabilidade dos saldos contábeis da empresa. Objetivo da Auditoria das Demonstrações Contábeis O objetivo da auditoria das demonstrações contábeis é expressar uma opinião sobre estas demonstrações e assegurar que representem a posição patrimonial e financeira, o resultado das operações, as mutações do patrimônio líquido e demais demonstrativos de uma determinada entidade em um determinado momento. Assim, o principal propósito desse tipo de auditoria é obter segurança razoável e não absoluta sobre a veracidade das demonstrações contábeis da empresa auditada. No Capítulo 4 veremos todas as demonstrações contábeis exigidas atualmente no Brasil. Assim, o principal propósito desse tipo de auditoria é obter segurança razoável e não absoluta sobre a veracidade das demonstrações contábeis da empresa auditada Registro do Auditor Independente A Instrução nº 308 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), de 14 de maio de 1999, alterada pelas Instruções nº 509/11, nº 545/14 e nº 591/17, dispõe sobre o registro e o exercício da atividade de auditoria independente e define os deveres e responsabilidades dos administradores das entidades auditadas na relação com os auditores independentes. O exercício da atividade de auditoria independente é prerrogativa de contador legalmente habilitado com registro no Conselho Regional de Contabilidade. Seu registro como auditor independente deve ser solicitado junto à CVM por meio das orientações previstas na Instrução nº 308/99. Logo, o registro na CVM não constitui nova categoria profissional, mas uma habilitação no escopo do contador. 32 Fundamentos e Objeto da Auditoria Os auditores independentes registrados na CVM, além de se subordinarem às normas emanadas por esta, estão subordinados à Lei de Regência da profissão contábil – Decreto-Lei nº 9.295/46 com posteriores alterações, e à regulamentação do exercício da atividade profissional do Conselho Federal de Contabilidade e à orientação técnica emanada do Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (IBRACON). Ética Profissional Um auditor independente deve seguir as orientações previstas na legislação em que atua e obedecer aos parâmetros instituídos socialmente, que norteiam tanto a vida social quanto profissional. No caso específico das profissões, cada uma tem seu código, que confere ao ser humano as diretrizes para sua conduta no exercício da profissão. Müller (2003, p. 22) entende que a ética: Contribui para fundamentar ou justificar certa forma de comportamento moral. É a ética que irá questionar toda a fundamentação dos valores e das normas de uma determinada cultura e sociedade. A existência de qualquer reflexão sobre o comportamento humano moral somente é possível porque o ser humano é racional e criativo; porque é um sujeito do conhecimento, tem capacidade de comunicação, interage com a natureza e seus semelhantes, e possui a vontade livre de decidir e agir. Na Contabilidade, a legislação vigente que regulamenta o exercício profissional no Brasil é o Código de Ética Profissional Contábil (CEPC), instituído em 1996 pelo CFC em sua Resolução nº 803/96 e posteriores alterações. O CEPC “apresenta deveres, proibições, normas de conduta e penalidades aplicáveis ao contador em exercício, inclusive na atuação como perito, assistente técnico, auditor ou árbitro” (ITO; NIYAMA; MENDES, 2008, p. 6). Assim, o contador tem o dever de “exercer a profissão com zelo, diligência e honestidade, observada a legislação vigente e resguardados os interesses de seus clientes e/ou empregadores, sem prejuízo da dignidade e independência profissionais” (BRASIL, 1996, p. 2). Na Contabilidade, a legislação vigente que regulamenta o exercício profissional no Brasil é o Código de Ética Profissional Contábil (CEPC). 33 Fundamentos e Processos de Auditoria Capítulo 2 A Resolução nº 803/96, desde sua instituição, sofreu algumas alterações, o que é natural com o desenvolvimento da sociedade. O CEPC tem sido bastante discutido entre os profissionais, e até o início de 2018 a minuta do novo CEPC está disponibilizada para audiência pública no site do CFC. Os profissionais de contabilidade podem conhecer e opinar sobre o conteúdo que revoga a Resolução nº 803/96 (e alterações posteriores). Confira! Lembrando que o CEPC, após a audiência pública, será transformado na Norma Brasileira de Contabilidade Profissional Geral (NBC PG) 01. De acordo com seu art. 1º, o Código de Ética Profissional “tem por objetivo fixar a forma pela qual se devem conduzir os Contabilistas, quando no exercício profissional”. Para Müller (2003, p. 26), “o objetivo do código de ética para o profissional é habilitá-lo a adotar uma conduta pessoal, de acordo com os princípios éticos conhecidos e aceitos pela sociedade”. A auditoria, como já discutido anteriormente, é uma área da Contabilidade e, assim sendo, responde e respeita o CEPC. Para assegurar que os itens averiguados estejam de acordo ou sugerir correções, é necessário que o profissional respeite as diretrizes fundamentadas na legislação, a fim de resguardar não somente as suas atividades, mas a adequada postura diante de um mundo globalizado e competitivo. Há muitas discussões que permeiam o campo da ética na auditoria. Se o auditor ou firma de auditoria são pagos pela Empresa X, como poderão agir de forma que a prejudiquem emitindo relatórios contraditórios e desfavoráveis? Uma empresa, ou um auditor, deve sempre se pautar pelos princípios éticos de sua profissão, não se deixando levar por pressões de superiores. Grandes firmas se consolidam no mercado em razão de sua postura ética e não corrupta. Pense a respeito. 34 Fundamentos e Objeto da Auditoria O trabalho executado pelo auditor deve ser realizado de tal forma que tenha e mereça toda credibilidade possível, não havendo quaisquer sombras de dúvidas quanto à honestidade e à moralidade do auditor. A seguir, será abordada a profissão do auditor, que exige obediência e princípios éticos profissionais de independência, integridade, eficiência e confidencialidade: a) A independência é condição primeira para o trabalho de auditoria. O auditor deve ser absolutamente independente e imparcial na interpretação de tudo que estiver em seu campo de averiguação, atestando conclusivamente cada um dos dados verificados. b) A integridade do profissional em seus compromissos que envolvam a empresa auditada, o público em geral e pessoas interessadas na opinião emitida e à classe dos contadores. A Instrução CVM nº 308, em seu artigo 25, identifica como ato de descrédito o auditor que, no desempenho de suas funções, agir com falta de integridade, como por exemplo, não registar um fato importante que conheça, não reunir evidências suficientes para justificar sua opinião, não relatar qualquer desvio importante ou omissão que tenha percebido. c) A eficiência dos trabalhos prestados está relacionada à objetividade e clareza das conclusões apresentadas, seja em caso favorável ou não à empresa auditada. d) A confidencialidade é elemento singular na atividade de auditoria e as informações obtidas só podem ser utilizadas para a execução do serviço para o qual o auditor foi contratado. Assim como na questão da integridade, a CVM também prevê punições ao auditor que não respeitar os limites da confidencialidadede auditoria das demonstrações contábeis. Resumindo, a técnica não sobrevive sem a ética. Por mais que o contador domine todas as ferramentas e técnicas da contabilidade, jamais será um profissional completo sem obediência aos ditames éticos que regem a profissão. Nesse processo de humanização do profissional contábil, o CEPC exerce papel de suma relevância, norteando a conduta esperada pela sociedade dos verdadeiros contadores. Responsabilidade Legal em Auditoria Na auditoria independente, a responsabilidade do auditor é ampla em razão da complexidade e do volume das operações. Sua responsabilidade sobre seus trabalhos se inicia no momento em que determina o número de operações a serem examinadas para obter elementos que sejam válidos para sua conclusão. 35 Fundamentos e Processos de Auditoria Capítulo 2 Todo trabalho de auditoria está fundamentado no estabelecimento de critérios e de metodologia que vislumbrem segurança sobre a totalidade dos dados apresentados nas demonstrações contábeis analisadas. O auditor pode ser responsabilizado quando agir com negligência na execução das normas de auditoria ou em consequência de não tê-las aplicado devidamente. São atribuições de um auditor: • entender do negócio do cliente e do setor no qual este negócio está inserido; • obter e avaliar evidências referentes às demonstrações contábeis; • verificar consonância das demonstrações às exigências legais; • emitir sua opinião no relatório de auditoria; • entregar relatório de auditoria ao cliente; • apresentar recomendações que agreguem valor para a companhia e seu conselho. DEVERES E RESPONSABILIDADES DOS AUDITORES INDEPENDENTES O artigo 25 da Instrução nº 308 da Comissão de Valores Mobiliários traz os deveres e responsabilidades de um Auditor Independente em seus trabalhos. Veja a seguir quais são esses direitos e deveres: No exercício de suas atividades, no âmbito do mercado de valores mobiliários, o auditor independente deverá, adicionalmente: I- Verificar: a) se as demonstrações contábeis e o relatório de auditoria foram divulgados nos jornais em que seja obrigatória a sua publicação e se estes correspondem às demonstrações contábeis auditadas e ao relatório originalmente emitido; b) se as informações e análises contábeis e financeiras apresentadas no relatório da administração da entidade estão em consonância com as demonstrações contábeis auditadas; c) se as destinações do resultado da entidade estão de acordo com as disposições da lei societária, com o seu estatuto social e com as normas emanadas da CVM; d) o eventual descumprimento das disposições legais e regulamentares aplicáveis às atividades da entidade auditada e/ou relativas a 36 Fundamentos e Objeto da Auditoria sua condição de entidade integrante do mercado de valores mobiliários, que tenham, ou possam vir a ter reflexos relevantes nas demonstrações contábeis ou nas operações da entidade auditada. II- elaborar e encaminhar à administração e ao Conselho Fiscal, relatório circunstanciado que contenha suas observações em relação aos controles internos e aos procedimentos contábeis da entidade auditada, descrevendo, ainda, as eventuais deficiências ou ineficácias identificadas no transcorrer dos trabalhos; III- conservar em boa guarda pelo prazo mínimo de cinco anos, ou por prazo superior por determinação expressa desta comissão em caso de inquérito administrativo, toda a documentação, correspondência, papéis de trabalho, relatórios e pareceres relacionados com o exercício de suas funções; IV- indicar com clareza, e em quanto, as contas ou subgrupos de contas do ativo, passivo, resultado e patrimônio líquido que estão afetados pela adoção de procedimentos contábeis conflitantes com os princípios fundamentais de Contabilidade, bem como os efeitos no dividendo obrigatório e no lucro ou prejuízo por ação, conforme o caso, sempre que emitir relatório de revisão de informações intermediárias ou relatório de auditoria adverso ou com ressalva; V- dar acesso à fiscalização da CVM e fornecer ou permitir a reprodução dos documentos referidos no item III, que tenham servido de base à emissão do relatório de revisão de informações intermediárias ou relatório de auditoria; VI- possibilitar, no caso de substituição por outro auditor, resguardados os aspectos de sigilo e mediante prévia concordância da entidade auditada, o acesso do novo auditor contratado aos documentos e informações que serviram de base para a emissão dos relatórios de revisão de informações intermediárias ou relatórios de auditoria dos exercícios anteriores. VII- garantir que todos os sócios, diretores, gerentes, supervisores ou quaisquer outros integrantes, com função de gerência, na equipe destinada ao exercício da atividade de auditoria em entidades reguladas pela CVM, tenham sido aprovados em Exame de Qualificação Técnica específico para a CVM. VIII- comunicar os principais assuntos de auditoria nos relatórios de auditoria de demonstrações financeiras de todas as entidades 37 Fundamentos e Processos de Auditoria Capítulo 2 reguladas ou supervisionadas pela CVM, nos termos das normas profissionais de auditoria independente aprovadas pelo Conselho Federal de Contabilidade – CFC. Parágrafo único. Constatada qualquer irregularidade relevante em relação ao que estabelece os incisos I e II, o auditor independente deverá comunicar o fato à CVM, por escrito, no prazo máximo de vinte dias, contados da data da sua ocorrência. Fonte: Adaptado de: <http://www.cvm.gov.br/export/sites/cvm/legislacao/ notas-explicativas/anexos/nota308.pdf>. Acesso em: 20 jan. 2018. Processo Auditorial: o Que é e Como se Constitui O processo auditorial é o conjunto de técnicas que permite ao auditor obter evidências ou provas suficientes e adequadas para fundamentar sua opinião sobre as demonstrações contábeis analisadas. Na figura a seguir, podem ser visualizadas as etapas desse roteiro: Figura 2 – Etapas do processo auditorial Fonte: Adaptado de Attie (2010). 38 Fundamentos e Objeto da Auditoria Uma afirmação é uma informação passada pela empresa e que será escopo de averiguação da auditoria, por exemplo, o Balanço Patrimonial da Empresa ABC representa a posição patrimonial e financeira da Empresa ABC em um dado momento. Esta é uma afirmação de ABC em relação ao seu patrimônio e sua posição financeira. Análise da Afirmação O primeiro passo realizado num processo de auditoria é a análise da informação. A análise da informação compreende: revisão analítica, planejamento, conhecimento e conteúdo. Assim, o pressuposto da análise baseia-se na identificação do significado da afirmação, traçando um plano estratégico para se obter conhecimento das atividades da entidade e identificar eventos e transações relevantes que afetem as demonstrações contábeis. Seguindo o exemplo do Balanço Patrimonial como uma afirmação, seu significado é o reflexo patrimonial e financeiro da empresa por meio dos itens que o compõe, como bens, direitos e obrigações. Cada um desses itens é uma afirmação isolada e, uma vez identificada a natureza e origem da afirmação, pode-se entender qual sua importância e seu impacto no patrimônio da empresa. Avaliação da Afirmação A avaliação da afirmação é a determinação dos métodos e medidas utilizados para o levantamento e recolhimento de evidências. Alguns fatores podem influenciar nessa determinação, como o nível de efetividade e qualidade dos controles internos, a subjetividade do item estudado, a integridade dos administradores etc. Imagine uma empresa que compra e revende sapatos. O controle desse estoque de sapatos pode ser realizado tanto numérica quanto fisicamente, certo?Então, em uma auditoria, para se determinar qual a melhor forma que esse estoque será analisado, é preciso saber quais os modelos, valores e quantidades de sapatos compõem as transações da empresa e definir se a análise será feita de forma física ou numérica. 39 Fundamentos e Processos de Auditoria Capítulo 2 Obtenção de Elementos Comprobatórios A obtenção de elementos comprobatórios implica a escolha e aplicação dos procedimentos de auditoria. É a fase de concretização dos trabalhos. Nesse momento, o auditor reúne os elementos comprobatórios por meio da utilização de testes. Os principais testes são o teste de procedimentos (também chamados de testes de observância) e o teste de saldos (também chamados de testes substantivos). O teste de procedimentos tem o intuito de provar a efetividade das atividades de controle interno praticadas pela empresa: a) verifica-se se há consonância entre informações dos funcionários acerca das transações e o funcionamento do sistema; b) determina-se a natureza e a quantidade de erros que possam ter ocorrido na aplicação dos procedimentos de controle previstos no sistema. O teste de saldos tem a finalidade de comprovar que as transações ocorridas em determinado período de tempo de fato existiram, que os saldos demonstrados existem e são correspondentes à empresa e estão corretamente avaliados e aferidos. Formação de Opinião A emissão de opinião é o último passo a ser cumprido num processo de auditoria. Com base nas informações obtidas nas outras três etapas, o auditor tem conteúdo suficiente para opinar acerca das demonstrações contábeis em análise. Caso tenha interesse em aprofundar seus conhecimentos sobre cada uma dessas etapas do processo auditorial, o terceiro capítulo do livro Auditoria: conceitos e aplicações, explora muito bem esse conteúdo. Fonte: ATTIE, William. Auditoria: conceitos e aplicações. 40 Fundamentos e Objeto da Auditoria 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010. Atividades de Estudos: 1) O que são demonstrações contábeis? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2 Analise as sentenças a seguir e assinale V para as verdadeiras e F para as falsas: a) ( ) O objetivo das demonstrações contábeis é o de reportar informações econômico-financeiras apenas para os gerentes e sócios da empresa. b) ( ) Uma informação é relevante quando ela possui três atribu- tos: é completa, é neutra e é livre de erro. c) ( ) As características qualitativas da informação contábil iden- tificam os tipos de informação que muito provavelmente são repu- tadas como as mais úteis para a tomada de decisão. d) ( ) Em geral, uma informação não tem utilidade caso não seja relevante ou não tenha representação fidedigna. Entretanto, caso a entidade maximize seus esforços para aplicação das caracte- rísticas qualitativas de melhoria, o resultado desses esforços pro- duz utilidade na informação contábil reportada. e) ( ) Ainda que as demonstrações contábeis sejam elaboradas obedecendo a preceitos de relevância e fidedignidade, é impor- tante a realização de auditoria independente. 3) Qualquer pessoa pode solicitar registro como um auditor independente? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 4) Sobre o Código de Ética Profissional Contábil, qual o dever de um auditor no dia a dia de suas práticas? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 41 Fundamentos e Processos de Auditoria Capítulo 2 ____________________________________________________ 5) O que é um processo auditorial? Quais são as suas etapas? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Algumas Considerações A auditoria das demonstrações contábeis é de fundamental interesse para toda a sociedade. Ainda que estes demonstrativos sejam produzidos para representar fielmente o patrimônio e a saúde financeira da empresa, o processo de auditoria garante a todos os interessados na informação contábil que aquilo que foi publicado é, de fato, um reflexo da empresa. Desta forma, descrevemos passo a passo o processo de auditoria das demonstrações contábeis. Discutimos neste capítulo, além dos fundamentos da auditoria das demonstrações contábeis, questões que envolvem a figura do profissional. A questão ética é muito importante para o exercício da auditoria e é tema discutido no mundo dos negócios. A ética profissional recai sobre o profissional da contabilidade, este atuará no âmbito da auditoria, sendo necessário cumprir com seus deveres, e que tenha conhecimento da matéria, mas, sobretudo, conhecimento de seus deveres éticos. Desta forma, destacamos as responsabilidades do auditor no exercício de sua função. No próximo capítulo, abordaremos quais são as normas de auditoria que orientam a profissão e os fundamentos sobre o parecer de auditoria. Referências ATTIE, William. Auditoria: conceitos e aplicações. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010. BRASIL. Conselho Federal de Contabilidade. Resolução nº 803, 10 out. 1996. Aprova o Código de Ética Profissional do Contador – CEPC. Brasília, DF, p. 42 Fundamentos e Objeto da Auditoria 1-11, 1996. CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. CPC 00 (R1) - Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro. Brasil, 2016. ITO, Elisabeth Yukie Horita; NIYAMA, Jorge Katsumi; MENDES, Paulo César de Melo. Controle de qualidade dos serviços de auditoria independente: um estudo comparativo entre as normas brasileiras e as normas internacionais. Revista Unb Contábil, Brasília, n. 11, p. 312-328, jan. 2008. LAFFIN, Nathália Helena Fernandes. Normas profissionais de auditoria: o que mudou com a adoção das normas internacionais. 2011. 59 f. Monografia (Graduação) – Curso de Ciências Contábeis, Departamento de Ciências Contábeis, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2011. MÜLLER, Rodrigo. Sobre ética para o exercício da profissão contábil. 2003. 69 f. Monografia (Graduação) - UFSC, Florianópolis, 2003.
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