Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Fundação Centro de Ciências e Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro Centro de Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro Universidade Federal Fluminense Curso de Licenciatura em Letras- UFF / CEDERJ Disciplina: Literatura Portuguesa I Coordenador: Maria Lúcia Wiltshire de Oliveira AP 3 – 2 017. 1 - GABARITO Instruções: Escreva à tinta (azul ou preta) e com a maior legibilidade possível. Não e screva em tópicos. Escreva as respostas em texto coerente e coeso, em registro linguístico compatível com o trabalho acadêmico formal. Utilize o mínimo de 5 (cinco) e o máximo de 10 (dez) linhas par a cada resposta dissertativa. QUESTÃO 1 Com que objetivos o cronista Fernão Lopes defendeu “evangelho português”? Resposta possível: O “evangelho português” foi uma metáfora usada por Fernão Lopes para se referir aos portugueses, coman dados por Nuno Álvarez Pereira , como “apóstolos” de uma nova ordem social e política representada pela noção de portugalidade ou lusitanidade, distinta da dos castelhanos. Esta ordem justicada a ascensão da nova dinastia de Avis. QUESTÃO 2 Explique a af irmação de Eduardo Lourenço d e que Os Lusíadas de Camões são simultaneamente “sinfonia e réquiem”.. Resposta possível: A expressão “sinfonia e requiem”, originária da arte musical, foi aplicada pelo crítico Eduardo aos Lusíadas de Camões, para mostrar os lados celebrató rio (próprio a sinfonia) e disfórico/ crítico /sombrio (próprio a peça musical usada em missas de 7ºdia) do poema às conquistas da pátria portuguesa. Por exemplo, na e strofe inicial o p oeta diz de forma eufórica: “Cantando espalharei por toda p arte, se a tanto me ajudar engenho e a rte”. Mas, no final do poema, ele se lamenta: “No mais, Musa, no mais,…. QUESTÃO 3 Faça uma comparação entre o Auto da Índia de Gil Vicente , dramaturgo português do sé culo XVI e o o Auto da Compadecida do dramaturgo brasileiro Ariano Suassuna. Resposta possível O tema da crítica p olítica é tratado de f orma cômica nas duas ob ras, mas o alvo é dife rente. Por exemplo, no caso d e Suassuna, a crítica recai sobre a s figuras da elite que oprimem o povo (o b ispo, o pa deiro) e nquanto e m Gil Vicente dá-se um questionamento da p olítica expansionista portuguesa (o marido é meton ímia da corrupção). Outro aspecto é o adultério, presente nas duas obras, que mostra a corrupção da família ocasionada pelo fator econômico. QUESTÃO 4 Que recursos narrativos inovadores o romance Viagens na minha terra, de Almeida Garrett, apresenta para a sua época (1845)? Resposta possível A resposta pode versar sobre o encaixe narrativo de uma h istória de molde romântico (A menina dos rouxinóis) dentro do volume chamado “viagens” e /ou a mescla de gêneros, como viagens, autobiografia, ca rtas, n ovela romanesca numa mesma obra; pode mostrar a presença do leitor com quem o autor (dito A.) estabelece um diálogo; pode se referir às inúmeras passagens intertextuais, por exemplo com Os Lusíadas (através de Camões) e com Cervantes (através d as figuras de Dom Qu ixote e Sancho Pança); a prática de uma “navegação” às avessas do que con tou Camões, fazendo uma “descoberta” de Portugal na da eufórica Tejo acima. São todos recursos novos na narrativa da época e, para além d o rom ance histó rico que e ntão se praticava, é uma obra de denúncia. QUESTÃO 5 Ao exercer-se como “autor” de uma novela, o prota gonista Gonçalo Mendes Ramires de A Ilustre Casa de Ramires, romance de Eça de Queirós, modifica o seu caráter, o que mostra o poder da escrita, confirmando a ideia de que “contar é igual a viver”. Explique. Resposta possível O Gonçalo que começa a novela não é o mesmo quando a conclui. P or exemplo, a princípio e le se mo stra intimidado quando provocado e depois reage com energia, tal com o se deu no caso dos encontros com o mocetão de Narcejas. A mudança de comp ortamento do prota gonista fo i decorrente de um sonho com os seus ancestrais, to rnados vivos em sua novela , que o estimularam a reagir como eles faziam na Idade Média. QUESTÃO 6 Disse o crítico David Mourão-Ferreira que em “Sentimento dum ocidental” “[...] a cida de, neste p oema, é um pretexto para fugir de la. Mas o que se torna evidente é o pouco à vontade, o verdadeiro mal -estar de Cesário Verde [...] ” (“Notas sobre Cesário Verde”. In : Hospital das Le tras. Col. Estudos Portugueses, 2ª ed., INCM, 1981 .) Comente esta ideia a partir dos fragmentos a seguir: Nas nossas ruas, ao anoitecer, Há tal soturnidade, há tal melancolia, Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia Despertam um desejo absurdo de sofrer. (…) E eu desconfio, até, de um aneurisma, Tão mórbido me sinto, ao acender das luzes; À vista das prisões, da velha Sé, das Cruzes, Chora-me o coração que se enche e que se abisma. (VERDE, Cesário. Poesias Completas de Cesário Verde. Rio de Janeiro: Ediouro, 1987, p. 25 -26.) Resposta possível a ser completada com exemplo do texto: O tema d a fuga, como ressalta David Mourão -Ferreira, estará sempre presente no poema, afina l Cesário fog e tanto passado quanto para o futuro, projetando -o ao seu m odo, como um delírio, no qual a cidade deixa de ser apenas a cidade vista para se tornar motivo de escrita. QUESTÃO 7 Que diálogos existem entre Os Lusíadas d e Camões e o livro Mensagem, de Fernando Pessoa quanto à identidade nacional portuguesa? Resposta possível Em Mensagem, Fernando Pessoa retoma a história de Portugal na pa rte I, Brasão, mediante a seleçã o de heróis do pa ssado que são vistos como construtores da pátria e d a identidade nacional. Na Parte II , Mar Português, faz um balanço da aventura marítima e, por fim, na Parte 3 – O Encoberto, busca uma nova forma de valorização da pátria como império espiritual. Assim, Pessoa em Mensagem, tanto se aproxima, quanto se afasta de Camões. QUESTÃO 8 Sophia de Mello Breyner A ndresen sofreu pressões políticas d a ditadura salazarista, sendo obrigada a se “exilar” dentro de Portugal. Desenvolva uma argumentação que com prove a relaç ão entre a escrita e a luta por justiça na poesia desta autora. Resposta possível A concepção de poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen sempre foi um exercício n ecessariamente ético. Di sse uma vez que o poeta que procura uma relação just a com a realidad e é necessariamente levad o a procurar uma relação justa com o homem. É o que vemos em alguns poemas sobre a cidade equiparadaà pátria degradad a pela o pressão política. Durante o período mais duro da ditadura, há poemas diretamente referidos à situação de Portugal, em que se conf igura a ideia de e xílio no interior da pátria ( Livro Sexto, 1962). Há em e special um poema em que associa a f igura de Salazar a um velho abutre, numa crítica a perfídia, esperteza, mesquinhez e sadismo do ditador: QUESTÃO 9 Comente as implicações políticas da concepção antib iográfica de Ruy Belo e sua insistência na afirmação da inexistência do sujeito poético. Faça u so do fragmento que se segue: “A minha vida passou pa ra o dicionário que sou . A vida não interessa. Alguém que me procure tem de começar – e de se ficar - pelas palavras.” (BELO, 2000, 259) Resposta possível a ser completada com exemplos do texto: A negação da existência do sujeito poético e a recusa da transparência biográfica do texto mostram o caráter linguageiro do sujeito, po is ele se f az em meio aos discursos, como revelam os versos de Fiamma Brandão (“o hermetismo de uma biografia”), de Ru y Belo (“o dicionário que sou”) de Llanso l (“O indizível é feito de mim mesma”). O po der procu ra controlar os sujeitos, oferecendo-lhes espelhos míticos de identificação (“ (…) histó ria / progressivamente mítica”), feitos igualm ente de linguagem, como a p átria, o herói, a be leza ideal, etc. Ao n egarem a sua “realidade”, sua su bstancialidade comosujeito, as poéticas dos autores citados negam e fragilizam as noções de real e verdade veiculadas pelo discurso vigente, apontando para a falência do ideal de uma unidade nacional, seja ela política ou cultural. Aos espaços geopolíticos de dominação, os poetas propõem um espaço cultu ral não hierarquizado, agregador d e diferenças e singularidades, indefinível, semp re sujeito à transformação ativa. QUESTÃO 10 “Toda leitura é n ecessariamente intertextual, pois, ao ler, estabelecemos associações desse texto do momento com outros já lidos. ” Comprove esta afirmativa levando em conta o roman ce Levantado do chão de Saramago e a peça Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto. Resposta possível: Lembremos que a temática d o romance Levantado do chão ultrapassa os limites de Portugal, podendo ser encontrada em obras de auto res b rasileiros. Além disso, pode -se dizer que uma obra gera ou tras e, muitas vezes, em outras fo rmas midiáticas. No primeiro caso, temos a temática da f ome e da opressão, que f oi tratada no romance regionalista brasileiro e, em e special, na peça Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto. No segundo caso, a intertextualidade p ode ser reconhecida no d iálogo intencional realizado entre o romance, os poemas de Chico Bu arque de Holanda e as fotografias de Sebastião Salgado. Além disso, a Literatura dialoga intertextualmente com a História de Portugal, m ostrando uma versão crítica d o discurso oficial do Estado, da Igreja e do latifúndio sobre o Alentejo e o pa ís na primeira meta de do sé culo XX até a Revolução dos Cravos. O romance mo stra as lacu nas da História assim como o ponto de vista dos esquecidos e oprimidos, aquela “gente miúda” que atravessa várias gerações.
Compartilhar