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Efeito de diferentes diluentes sobre a viabilidade espermática do sêmen ovino mantido a 5°C por até 72 horas. Heydt, D. R.; Cesca, S.; Tomasini, L.; Bragança, J. F. R.; Bennemann, P. E. Universidade Do Oeste De Santa Catarina – UNOESC - Xanxerê-SC RESUMO A ovinocultura é uma importante fonte de subsistência, através do leite e da carne para o consumo, de lã e pele para os vestuários. Desta forma, algumas técnicas estão sendo desenvolvidas para aumentar os índices produtivos e reprodutivos, dentre elas, esta a inseminação artificial (IA). Para que isso ocorra existe a necessidade de um sêmen de boa qualidade e que esteja viável no momento da inseminação. Este estudo utilizou dois tipos de diluentes, o Dilutris (T1) e Tris Salomon (T2) para conservação a 5°C por até 72 horas. Foi observado que T1 teve uma motilidade espermática e integridade da membrana superior ao T2 nas 72 horas de armazenamento a 5°C. INTRODUÇÃO A ovinocultura sempre foi para a humanidade uma importante fonte de subsistência, no fornecimento de leite e carne para a alimentação e de lã e pele para o vestuário. No Brasil, a ovinocultura está presente em todas as regiões e em grande difusão, sendo que para isso, o manejo reprodutivo é importante para o bom desenvolvimento dessa atividade. Algumas biotecnologias vem sendo desenvolvidas visando o aumento dos índices produtivos e reprodutivos da espécie ovina e, consequentemente, a sua rentabilidade. Dentre estas podemos citar a criopreservação de sêmen e a inseminação artificial (IA) (SIMPLICIO et al., 2007). O uso de sêmen congelado na ovinocultura ainda apresenta resultados insatisfatórios, tendo como principal agravante a dificuldade de transpor a cérvix devido a sua anatomia. Dessa forma, é necessário o uso de laparoscopia para a deposição do sêmen no interior do útero, tornando o procedimento laborioso (BICUDO et al. 2005). Para simplificar o processo de IA, o método mais difundido é através da utilização do sêmen fresco diluído. Atualmente a manutenção do gameta masculino em estado refrigerado a 5º C surge como uma opção para a difusão da biotécnica da IA. O sêmen refrigerado a 5ºC apresenta fertilidade mais elevada após a IA em comparação ao sêmen congelado, pois mantém a viabilidade espermática por mais tempo, sem que aconteça uma redução na capacidade fertilizante dos espermatozoides devido às crioinjúrias. Segundo Roca et. al. (2000), o uso do sêmen resfriado para IA, depende da habilidade do diluidor em promover um ambiente propício para o espermatozoide durante sua conservação, para que a viabilidade espermática seja prolongada. Isso mostra a importância do uso de diluentes como suporte energético e proteção contra o resfriamento. Para que isso ocorra, estes devem conter substâncias tamponantes como o Fosfato de Sódio, Citrato de Sódio e TRIS (Tris-hidroximetil-aminometano), uma fonte energética como glicose ou frutose, bem como crioprotetores internos e externos, podendo ser glicerol e gema de ovo respectivamente (SILVA, 2001). Diante deste contexto surge a necessidade do aperfeiçoamento dos processos de tecnologia do sêmen, principalmente, quanto ao uso de diluentes, assim como avaliar as alterações espermáticas após a diluição e a refrigeração. Por estes motivos, esta pesquisa tem como objetivo avaliar a viabilidade do sêmen ovino refrigerado a 5º C, diluído em TRIS-Gema e um diluente comercial por um período de até 72 horas. MATERIAL E MÉTODOS Como doadores de sêmen, foram utilizados 5 carneiros da raça Texel, com idade de 1 a 3 anos, submetidos previamente a um exame andrológico. Os animais estavam no Setor de Ovinocultura da Universidade do Oeste de Santa Catarina – Campus Xanxerê, localizada no Município de Xanxerê (SC). Os cinco carneiros foram avaliados em processados em split sample em pool de sêmen, sendo este fracionado em dois tratamentos. O Sêmen diluído em diluente comercial Dilutris (Minitub) (T1) e Sêmen diluído em diluente TRIS-Salomon (T2). Os carneiros foram mantidos em um regime de uma coleta semanal, sendo realizadas 10 coletas de cada carneiro. Foi utilizados somente ejaculados que atenderem a um padrão mínimo de volume de 0,7 ml, 70% de motilidade, vigor 3, turbilhão 3 e 80% de espermatozoides normais. O sêmen foi obtido através da técnica de colheita com vagina artificial. Os ejaculados ovinos foram avaliados individualmente quanto ao turbilhão, motilidade, vigor e morfologia espermática, sendo após processados em pool de sêmen (3 carneiros). Os carneiros foram submetidos a um regime de uma coleta semanal. Imediatamente após a colheita as amostras foram colocadas em banho-maria a 34°C e avaliadas conforme os critérios: Volume: O volume foi mensurado através de um copo de coleta graduado. Turbilhão: Uma gota de sêmen puro foi colocada, por meio de uma pipeta Pasteur, sobre lâmina aquecida a 34°C e observada em microscopia de campo claro a 40 aumentos. Os resultados foram expressos de acordo com a escala de valorização de 0 a 5, segundo EVANS e MAXWELL (1987). Motilidade espermática: Em um frasco eppendorf foi adicionada uma amostra de 50 microlitros de sêmen puro. Nesta amostra foi adicionado 500 microlitros de solução salina previamente aquecida a 34 0 C. A seguir uma gota deste homogeneizado foi colocada entre lâmina e lamínula aquecidas a 34°C, para avaliação em microscopia de campo claro em 100 aumentos. Foram avaliados três campos, sendo o resultado expresso em percentual de espermatozoides móveis. Vigor: Simultaneamente à determinação da motilidade foi avaliado o vigor espermático, sendo o resultado expresso em escala de 0 a 5 conforme CHEMINEAU e COGNIÉ (1991). Concentração espermática: Do pool de sêmen puro foi retirada uma alíquota de 20 microlitros que foi adicionada a um frasco eppendorf contendo 7.980 microlitros de solução de formol citrato 2,94%, perfazendo uma diluição de 1:400. Após homogeneização, uma alíquota de 30 microlitros foi depositada em cada lado da Câmara de Neubauer (hemocitométrica) sendo realizada a determinação da concentração espermática através da contagem dos espermatozoides em microscópio de campo claro. Morfologia espermática: Imediatamente após a homogeneização dos ejaculados, foi colhida uma alíquota de 50 microlitros que foi depositado em um frasco eppendorf contendo 500 microlitros de solução de formol citrato 2,9% previamente aquecido a 34 o C. Para a preparação das lâminas foi colocada uma gota do sêmen conservado na solução formol-citrato entre lâmina e lamínula e foram contadas 200 células por lâmina em microscópio de contraste de fase (1000 X). Imediatamente após a homogeneização dos ejaculados realizou-se a coloração supra vital onde que foi colhida uma alíquota de 20 microlitros que foi depositado em um frasco eppendorf. A esta amostra de sêmen in natura foi adicionado 20 microlitros do corante Eosina Amarela 2%, sendo a amostra homogeneizada por 30 segundos. Após este período foi adicionado ao frasco ependorff 20 microlitros de Negrosina 10% e aguardado o período de 30 segundos. Foi realizado um esfregaço em lâmina de vidro para avaliação em microscopia de campo claro em 1.000 aumentos. Foram contados 200 espermatozoides, os quais forma classificados em vivos (não corados) e mortos (corados). O resultado foi expresso em percentual de espermatozoides vivos. Foram testados os diluentes TRIS-Salomon e DILUTRIS. Os diluentes foram preparados 30 minutos antes do início das coletas, sendo mantidos em banho-maria a 34°C até o momento da diluição. Após a avaliação seminal começou-se o processo de refrigeração do sêmen, onde, foi realizado o poolde sêmen e diluição do mesmo. Foi colocado em tubos de ensaio tampados e logo após em um recipiente, contendo água a 34°C. Este conjunto foi levado ao refrigerador, sendo acompanhado a queda da temperatura por um dataloger até a temperatura de 5°C. A refrigeração para atingir 5°C foi feita gradualmente em 2 horas, correspondendo à diminuição progressiva de 0,3 a 0,5 °C/min. A motilidade e vigor espermático foram avaliadas após a diluição, após o resfriamento a 5°C, 12, 24, 36, 48,60 e 72 horas de armazenamento a 5°C. A morfologia espermática e a coloração Supra Vital foi realizada nos tempos zero (sêmen puro), 24, 48 e 72 horas de armazenamento a 5°C. O pool de sêmen foi utilizado como unidade experimental. Dessa forma o efeito variação de machos foi controlado. Foram realizadas análises de medidas repetidas comparando o efeito do diluente sobre os parâmetros de qualidade espermática. As variáveis motilidade, morfologia espermática e percentual de espermatozoides vivos foram avaliadas através da análise de variância, sendo as médias comparadas pelo teste de Tukey-Kramer do pacote estatístico SAS. A variável vigor espermático foi comparada através do teste de chi-quadrado. RESULTADOS O volume médio do pool de ejaculados foi de 2,94±0,13 ml, o turbilhão foi 4,35±0,11, o vigor médio foi de 4,4±0,11. No sêmen diluído a média da motilidade espermática ao longo do período de 72 horas foi 73,68%±1,21 (média ± erro padrão) para o T1 e 64,37±1,21 para T2. Os dados de motilidade e viabilidade espermática no sêmen ovino armazenado por até 72 horas são apresentados na tabela 1. Tabela 1. Motilidade e viabilidade espermática no sêmen ovino armazenado a temperatura de 5°C por um período de até 72 horas de acordo com o tratamento aplicado. T1- diluente Dilutris, T2- diluente TRIS Salomon. Média±Desvio Padrão. Letras diferentes no mesmo tempo de armazenamento diferem para um nível de significância de 5%. Nos valores de motilidade observou-se diferença significativa a partir de 24 horas de armazenamento. A analise dos dados obtidos com a coloração supravital mostrou que a integridade da membrana do espermatozoide foi semelhante ao percentual de espermatozoides moveis. O vigor espermático e o percentual de células anormais armazenados á 5°C por 72 horas estão apresentados na tabela 2. Tabela 2. Vigor espermático e percentual de células anormais no sêmen ovino armazenado a temperatura de 5°C por um período de até 72 horas de acordo com o tratamento aplicado. Tratamento Tempo (h) Vigor (n±DP) Morfologia (%±DP) 1 0 4,00 12,46±1,23ª 2 3,95±0,12 14,00±1,24ª 1 24 3,55±0,11 16,00±2,19ª 2 3,25±0,12 11,60±1,72 b 1 48 3,15±0,08 a 18,53±1,99ª 2 2,85±0,11 b 11,20±1,26 b 1 72 2,90±0,07 a 16,86±2,52ª 2 2,55±0,15 b 11,80±1,28ª T1- diluente Dilutris, T2- diluente TRIS Salomon. Média±Desvio Padrão. Letras diferentes no mesmo tempo de armazenamento diferem para um nível de significância de 5%. Quando avaliado o vigor espermático, foi observada diferença significativa a partir de 48 horas armazenamento entre os dois tratamentos, sendo favorável ao T1 (P<0,05). Tratamento Tempo (h) Motilidade (%±DP) Supravital (%±DP) 1 0 83,25±0,75 a 76,86±1,38 2 79,75±0,93 a 73,87±2,11 1 24 76,25±1,01 a 71,87±1,77 2 69,00±1,87 b 67,33±1,72 1 48 71,75±1,78 a 65,33±1,97 2 58,25±2,30 b 62,00±2,00 1 72 63,50±1,92 a 61,20±2,52 2 50,50±2,92 b 56,60±2,91 A morfologia espermática não diferiu entre os tratamentos nos períodos 0 e 72 horas. Porém quando avaliado o período 24 e 48 horas foi observada diferença entre os tratamentos (P<0,05). DISCUSSÃO De acordo com McKINNON (1996), quando as células espermáticas são mantidas a 5ºC ocorre uma redução no metabolismo para valores de até 10%, quando comparado com o das células mantidas à temperatura de 37ºC. Em consequência, a peroxidação será mais lenta e a produção de catabólitos são menores, de modo que o desgaste da célula não ocorra tão rápido. Porém, essas diferenças não se limitaram apenas à curva de resfriamento, mas também ao diluente utilizado. Observou-se os espermatozoides com maior vigor e motilidade no período 0, 24, 48 e 72 horas diluídos no T1 (Dilutris) comparado com o T2 (Tris-Salomon), demonstrando que a composição dos mesmos pode ter interferido na manutenção da motilidade e vigor espermáticos. De acordo com Moscardini et al. (2014), a motilidade espermática apresentou valores inferiores a 40% quando o sêmen foi armazenado a 5°C por até 72 horas. Este dado difere dos resultados encontrados no presente estudo onde, no T1 foi observada uma motilidade de 63,5% até 72 horas de armazenamento. Da mesma forma Milczewski et al. (2000) avaliando o sêmen de ovino após 8 horas de armazenamento a 5°C observou uma motilidade espermática de 42,17%. Este fato demonstra que o T1 foi capaz de manter a viabilidade espermática por um período superior ao relatado pela literatura, uma vez que este manteve uma motilidade espermática de 63,5% e integridade de membrana de 61,2%. Quando os dados são comparados até o período de 48 horas a motilidade e o vigor espermático foram semelhantes aos observados por Sousa et al. (2010) o qual obsevou uma motilidade de 68,33% e o vigor de 3,3. CONCLUSÃO Nas condições em que foi realizado o presente estudo, é possível concluir que o sêmen ovino diluído em Dilutris ® e armazenado a 5°C mantém os parâmetros mínimos de motilidade espermática, vigor e integridade de membrana por até 72 horas. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS BICUDO,S.D. et al. Aspectos peculiares da inseminação artificial em ovinos. Acta Scientiae Veterinariae. 33 (Supl 1): 127-130. 2005. CHEMINEAU, P.; COGNIÉ, Y. Training manual on artificial insemination in sheep and goats. Rome : FAO, p. 222, 1991. EVANS, G.; MAXWELL, W. M. C. Salamon's Artificial Insemination of Sheep and Goats. Sydney : Butterworths, 1987. ROCA, J. et al. Viability and fertility af rabbit spermatozoa diluted in Tris-buffer extenders and stored at 15ºC. Animal Reproduction Science, v.64, p.103-112, 2000. MILCZEWSKI, V.; KOZICKI, L. E.; Neves, J.P. viabilidade do semen ovino refrigerado em diferentes diluentes. Archives of veterinary Science, v.5, p29-33, 2000. MOSCARDINI, M. M. et al. Viabilidad de espermatozoides ovniso mantenidos a 5° y 15 °C en diferentes sistemas de refrigeración. R. bras. Ci. Vet., v. 21, n. 2, p. 122- 126, abr./jun. 2014 SILVA, L.D.M. Avanços da inseminação artificial na espécie canina. 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