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CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 1 Aula 07 Caros, alunos! Esta é nossa sétima aula. É bastante coisa, né? Mas saibam que estudar para concurso é como investir na bolsa: o retorno é mais garantido quando investimos no longo prazo; no curto prazo o risco é bem maior. Nesta aula vamos estudar os seguintes itens: Aula 07 – 25/05: Gestão pública empreendedora. Gestão da mudança organizacional: ferramentas e perspectivas de mudança organizacional. Desenvolvimento institucional. Gestão por competências; Comunicação na gestão pública e gestão de redes organizacionais O item gestão pública empreendedora cai para os concursos de AFRFB, AFT e CGU, mas é importante também para o MPOG, pois trata-se de uma escola que se insere no modelo pós-burocrático. Já a gestão da mudança organizacional é um tema mais voltado para os concursos do MPOG, enquanto festão por competências cai também na CGU, inclusive foi o tema da prova discursiva do último concurso, como veremos na aula. Comunicação na gestão pública e gestão de redes é um item do edital da CGU e faz parte do edital de administração geral dos concursos do MPOG. Além disso, a parte de gestão de redes é importantíssima para esses concursos, tanto que caiu nas duas últimas provas de EPPGG. O conteúdo da aula de hoje não foi muito cobrado pela ESAF, por isso decidi incluir algumas questões do CESPE e da FCC. Bons estudos! SUMÁRIO 1 GESTÃO PÚBLICA EMPREENDEDORA ...................................................................... 2 2 MUDANÇA ORGANIZACIONAL ................................................................................ 9 2.1 DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL .............................................................................. 14 CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 2 3 GESTÃO POR COMPETÊNCIAS .............................................................................. 22 3.1 CONCEITO DE COMPETÊNCIA ...................................................................................... 22 3.2 COMPETÊNCIAS INDIVIDUAIS E ORGANIZACIONAIS ............................................................ 23 3.3 GESTÃO POR COMPETÊNCIAS ...................................................................................... 25 4 COMUNICAÇÃO NA GESTÃO PÚBLICA ................................................................... 39 4.1 COMUNICAÇÃO NAS ORGANIZAÇÕES ............................................................................. 43 4.2 COMUNICAÇÃO GOVERNAMENTAL ................................................................................. 47 5 GESTÃO DE REDES ORGANIZACIONAIS ............................................................... 49 5.1 ORGANIZAÇÕES EM REDE .......................................................................................... 51 5.2 REDES DE POLÍTICAS PÚBLICAS .................................................................................. 54 6 QUESTÕES ........................................................................................................... 59 6.1 GESTÃO PÚBLICA EMPREENDEDORA ............................................................................... 60 6.2 GESTÃO DA MUDANÇA ORGANIZACIONAL ........................................................................ 68 6.3 GESTÃO POR COMPETÊNCIAS ...................................................................................... 74 6.4 COMUNICAÇÃO NA GESTÃO PÚBLICA .............................................................................. 80 6.5 GESTÃO DE REDES ORGANIZACIONAIS .......................................................................... 88 6.6 GABARITO ........................................................................................................... 94 6.7 LISTA DAS QUESTÕES .............................................................................................. 94 7 LEITURA SUGERIDA ........................................................................................... 108 8 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................... 108 1 Gestão Pública empreendedora O livro “Reinventando o Governo: Como o espírito empreendedor está transformando o setor público”, de David Osborne e Ted Gaebler, é a base dos estudos acerca do empreendedorismo governamental. Este deveria ser um livro de cabeceira de todo gestor público. Lançado no início da década de 1990, nele os autores analisam diversas iniciativas de administrações públicas, principalmente municipais, que demonstram que o Estado poderia eliminar a burocracia, superando a crise que se instalara em todo o mundo. Segundo os autores, transformar burocracias públicas em governos empreendedores, produtivos e eficientes, tem uma relação estreita com um recente fenômeno mundial: o ceticismo do cidadão sobre a capacidade do Estado em administrar a sociedade e satisfazer suas crescentes e complexas necessidades sociais. Em todas as partes do CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 3 mundo verifica-se essa crise de governabilidade, um contexto de deterioração e descrédito geral na administração pública. O problema foi que, ao buscar controlar ao máximo os desvios do patrimonialismo, a burocracia acabou criando uma série de outros problemas. Ao dificultar o desvio de dinheiro público, tornou virtualmente impossível administrá-lo bem. O governo tornou- se ineficiente, lento e impessoal, no sentido ruim da palavra, auto-referido. Uma coisa importante em relação ao conceito de governo empreendedor é não confundir com governo empresário. O verdadeiro significado da palavra empreendedor é bem mais amplo. Segundo os autores, ela foi usada inicialmente por volta do ano 1800, para se referir àquele que “movimenta recursos econômicos de um setor de menor produtividade para um outro de maior produtividade e melhor rendimento”. Em outras palavras, o empreendedor emprega recursos de novas formas, para maximizar a produtividade e a eficiência. Esta definição se aplica igualmente ao setor privado, ao setor público e ao setor voluntário. Superintendentes e diretores escolares dinâmicos usam recursos de novas formas para maximizar a produtividade e a eficiência das escolas. Os gerentes de aeroportos inventivos fazem o mesmo. Quando queremos identificar instituições do setor público que sejam empreendedoras, olhamos para as que usam constantemente seus recursos de novos modos, para aumentar sua eficiência e sua efetividade. A partir desta noção de que empreendedor não é a mesma coisa que empresário, os autores defendem que não se pode “governar como quem administra uma empresa”. Os autores afirmam que o governo é uma instituição fundamentalmente diferente da empresa. Os empresários são motivados pela busca do lucro; as autoridades governamentais se orientam pelo desejo de serem reeleitas. As empresas recebem dos clientes a maior parte dos seus recursos; os governos são custeados pelos contribuintes. As empresas trabalham em regime de competição; os governos usam habitualmente o sistema de monopólio. Analisando diversas iniciativas inovadoras de administrações públicas americanas, os autores identificaram alguns traços comuns a todos esses esforços: I . Governo catalisador: navegando em vez de remar Segundo o Dicionário Houaiss, catalisar significa: Desencadear pela própria presença ou existência (um processo); estimular, incentivar; Diz-se de ou o que estimula ou dinamiza. CURSO ON-LINE– ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 4 Portanto, cabe ao governo modelar a sociedade, dar o rumo a ela, definir a política a ser seguida, manejar, o máximo que puder, instituições econômicas e sociais, enfim, regular e cumprir a função regulatória. Catalisando a sociedade, o governo amplia sua ação. Isso não significa que ele executa mais, mas que ele consegue chegar onde ele estava ausente quando queria fazer tudo sozinho. No entanto, é importante fazer uma observação. O fato dos autores defenderem que o Estado não deve remar, isso não quer dizer que eles se enquadrem no managerialism. A discussão de Osborne e Gaebler começa subvertendo o ideal que impulsionou o gerencialismo na Grã-Bretanha no início da década. Em vez de propor o “rolling back the state” thatcheriano, os autores propõem uma redefinição da atividade governamental. Nosso problema fundamental é o fato de termos o tipo inadequado de governo. Não necessitamos de mais ou menos governo: precisamos de melhor governo. Para sermos mais precisos, precisamos de uma melhor atividade governamental. O intuito da noção de navegar ao invés de remar não é tornar o Estado mínimo, mas redirecionar a atividade governamental. Inclusive, os autores renegam o conceitual privatista, típico do neoliberalismo. “A privatização é uma resposta, não a resposta”, afirmam Osborne e Gaebler. O CESPE cobrou uma questão um pouco polêmica a respeito disso: 1. (CESPE/TRE-MA/2005) Um governo empreendedor caracteriza-se por ser catalisador, ou seja, um governo que se limita a decidir e dirigir. A execução é geralmente feita por outrem por meio da mobilização de iniciativas e recursos. A questão foi dada como certa no gabarito preliminar, mas foi anulada com a seguinte justificativa: Anulada pelo fato de a redação dada à opção C possibilitar mais de uma interpretação, podendo a assertiva ser considerada correta ou incorreta. Assim, haveria mais de uma resposta possível para a questão. Se pensarmos que navegar ao invés de remar se refere justamente a dirigir e decidir, a questão deveria ser realmente considerada correta. No entanto, como vimos acima, os autores não são defensores do Estado mínimo. CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 5 II . O governo pertence à comunidade: dando responsabilidade ao cidadão, em vez de servi-lo A reforma do sistema significa, ao mesmo tempo, a introdução de métodos voltados para a produção qualitativa de serviços públicos com a prioridade dada aos clientes e cidadãos como razões últimas do setor público, o que quer dizer não só que eles devem ser bem atendidos, mas que devem ser também chamados a participar do governo, definindo os destinos de suas comunidades. A maioria dos exemplos do livro de Osborne e Gaebler mostra que a melhor resposta para tornar melhor um serviço público é chamar a comunidade a participar de sua gestão, seja fiscalizando, seja trabalhando voluntariamente na prestação de serviços — constituindo-se numa resposta adequada tanto para a questão da eficiência como para o problema da transparência. Portanto, a modernização do setor público deve caminhar pari passu com o aumento da accountability. III . Governo Competitivo: introduzindo a competição na prestação de serviços Outro traço dos governos empreendedores é a promoção da competição. A competição seria uma forma de melhorar a qualidade do governo, uma vez que garante o controle dos serviços públicos pela população. Competição, para os autores, não é um conceito que só tem validade no contexto do setor privado. O ambiente competitivo, na verdade, serve para acabar com o monopólio — que tanto pode reinar no setor público como no privado — e encorajar a inovação organizacional. O princípio da competição nos serviços públicos tem como meta a competição não apenas entre os setores público e privado, como por exemplo entre uma empresa estatal e uma concessionária na área de limpeza pública, mas dentro de cada um desses dois setores que operam na jurisdição de um dado governo. A questão não é público versus privado, mas competição versus monopólio. Assim, podemos ter os seguintes tipos de competição: 1. Público versus privado; 2. Privado versus privado; 3. Público versus público. IV . Governo orientado por missões: transformando órgãos burocratizados CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 6 A maioria das organizações públicas é orientada não por suas missões, mas por suas regras e sua previsão orçamentária. Estabelecem uma regra para tudo que eventualmente possa sair errado, com uma linha adicional para cada subcategoria de gastos em cada unidade, de cada departamento. Em outras palavras, é como se uma cola poderosa unisse todas as burocracias públicas. É como uma supercola: vem em duas bisnagas diferentes. Em uma bisnaga, as regras; na outra, as contas separadas. Misture tudo e o resultado será cimento. Governos de mentalidade empreendedora dispensam as duas bisnagas. Livram-se do velho livro de regulamentos e abandonam as contas. Definem as missões fundamentais e, só então, estabelecem um orçamento e um conjunto de critérios que deixem os funcionários à vontade para perseguir as missões propostas. V . Governo de Resultados: financiando resultados, e não recursos Governos tradicionalmente burocráticos concentram-se excessivamente sobre as entradas, os recursos, e não sobre as saídas, os resultados. Continuam financiando escolas com base no número de alunos matriculados; a assistência social em função do número de atendimentos; e os departamentos de polícia com base nas estimativas próprias de pessoal necessário para combater o crime. Presta-se muito pouca atenção aos resultados. Pouco importa como as crianças se saem nas escolas, ou quantas pessoas finalmente conseguem se empregar e deixar de receber o seguro-desemprego, ou em quanto tenham baixado os índices de criminalidade. Na realidade, escolas, instituições de assistência social e departamentos de polícia ganham mais dinheiro à medida que fracassam, ou seja, quando as crianças vão mal, o desemprego aumenta e a taxa de criminalidade sobe. VI . Governos e seus clientes: atendendo às necessidades do cliente e não da burocracia Pouca gente no governo usa o termo cliente. A maioria das organizações públicas nem mesmo sabe quem são seus clientes. Governos democráticos existem para servir aos cidadãos. As empresas existem para gerar lucro. No entanto, quem mais se empenha para servir ao povo, de maneira até obsessiva, são as empresas. A maioria dos governos é absolutamente cega aos clientes, ao passo que o McDonald's está totalmente voltado para eles. Por que é assim? Para os autores é por que os órgãos públicos, via de regra, não obtêm seus recursos diretamente dos clientes; as empresas sim. Se uma empresa satisfaz seus clientes, as vendas aumentam. Os órgãos públicos recebem a maior parte dos CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 7 seus recursos do Legislativo e a maioria de seus “clientes” é cativa e tem poucas alternativas para os serviços oferecidos por seus governos. Assim, os administradores públicos passam a ignorá-los. Os clientes-alvo, a quem o administrador público tenta satisfazer, são o Legislativo e o Executivo, pois são eles que fornecem os recursos. VII . Governo empreendedor: gerando receitas ao invés de despesas Nos governos burocráticos, os sistemas orçamentários levam aspessoas a gastar dinheiro, sem qualquer preocupação de produzi-lo. Na maioria dos governos, poucas pessoas fora dos departamentos financeiros sequer pensam sobre receitas. Ninguém se preocupa com o lucro. A palavra lucro é vista pelos governos tradicionais como um verdadeiro pecado. Os governos empreendedores, terrivelmente pressionados pela crise fiscal da década de 1980, concentram-se na busca de receitas não tributárias. Passaram a mensurar o nível de retorno de cada investimento. Não se quer dizer, com isso, que a maioria dos serviços públicos deva ser vendida visando ao lucro. Ao contrário! Mas muitos serviços beneficiam indivíduos isolados. Uma outra característica reconhecida nos governos empreendedores é uma certa perspectiva de investimento, ou seja, o hábito de mensurar os retornos dos gastos como se fossem investimentos. A estratégia não visa ganhar dinheiro, mas poupá-lo. Através da avaliação de retorno de seus investimentos, é possível entender quando um gasto lhes permitirá poupar dinheiro. VIII . Governo preventivo: a prevenção em lugar da cura Os governos burocráticos tradicionais se concentram na prestação de serviços destinados a enfrentar problemas. Contra a doença, custeiam serviços médicos; e para combater o crime, aumentam o aparato policial; para lutar contra os incêndios, adquirem mais carros de bombeiros. O modelo burocrático trouxe consigo uma preocupação com a prestação do serviço – a preocupação em remar. Gastam somas consideráveis tratando os sintomas, atuando apenas quando os problemas se transformam em crises, enquanto faltam estratégias para a prevenção desses problemas. A burocracia é cega no que se refere ao futuro. Numa era em que as mudanças ocorrem com assustadora rapidez, a cegueira com relação ao futuro é uma falha mortal. Os governos empreendedores passaram a atuar de forma completamente diferente, fazendo da prevenção um tema central de sua administração. CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 8 Alguns governos estão tentando não apenas prevenir problemas, como também tentar antecipar o futuro. Diz-se que há três tipos de pessoas: as que fazem as coisas acontecerem, as que observam as coisas acontecerem e as que não sabem o que está acontecendo. O mesmo se pode dizer dos governos; infelizmente a maioria está na terceira categoria. IX . Governo descentralizado: da hierarquia à participação e ao trabalho de equipe Há 50 anos, as organizações centralizadas eram indispensáveis. As tecnologias de informação eram primitivas, a comunicação entre localidades diferentes difícil e a mão- de-obra disponível relativamente pouco instruída. Não havia outra alternativa, senão a de juntar todos os profissionais em uma mesma organização. Havia tempo de sobra para que a informação subisse lentamente toda a cadeia de comando e depois descesse, pelo mesmo percurso, sob a forma de decisões. Hoje em dia, entretanto, a informação é praticamente sem limites. A comunicação entre as mais recônditas localidades é instantânea. Muitos funcionários públicos têm boa formação acadêmica, e as condições mudam à velocidade da luz. Não se pode desperdiçar tempo com o lento fluxo de informações hierarquia acima, ou de ordens hierárquicas abaixo. No mundo de hoje, as coisas simplesmente funcionam melhor se os funcionários públicos tiverem autonomia para tomar algumas decisões por conta própria. X . Governo orientado para o mercado: induzindo mudanças através do mercado Os governos não têm a capacidade de resolver todos os problemas sozinhos, nem mesmo uma significativa parcela deles. Por isso, devem utilizar as decisões dos agentes privados como uma forma de alavancagem na prestação de serviços, de modo a alcançar metas coletivas. Trata-se de um método clássico de atividade governamental empreendedora: implica um governo ativo, mas não burocrático. Não querem dizer que os mecanismos de mercado sempre funcionem. Muitos bens coletivos fornecidos pelo governo – de parques à segurança pública – não são negociados no mercado. E há muitos mercados com falhas fundamentais. No entanto, os mecanismos de mercado têm muitas vantagens com relação aos sistemas administrativos: os mercados são descentralizados, normalmente competitivos, delegam a escolha aos interessados, e vinculam os recursos diretamente aos CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 9 resultados. Os mercados também reagem com velocidade às mudanças rápidas e sua reestruturação permite aos governos alcançar a escala necessária para resolver os problemas mais sérios. 2 Mudança Organizacional O conceito de mudança organizacional, bem como os estudos acadêmicos sobre esse fenômeno, encontram-se em fase inicial de desenvolvimento. O que se tem é um conceito em construção que se caracteriza por heterogeneidade de definições e pela inexistência de consenso. Vejamos algumas definições: Bruno & Faria: Qualquer alteração, planejada ou não, ocorrida na organização, decorrente de fatores internos e/ou externos à organização que traz algum impacto nos resultados e/ou nas relações entre as pessoas no trabalho. Wood Jr: Qualquer transformação de natureza estrutural, estratégica, cultural, tecnológica, humana ou de outro componente, capaz de gerar impacto em partes ou no conjunto da organização. Nadler: Resposta da organização às transformações que vigoram no ambiente, com o intuito de manter a congruência entre os componentes organizacionais (trabalho, pessoas, arranjos/estrutura e cultura). Araujo: Alteração significativa articulada, planejada e operacionalizada por pessoal interno ou externo à organização, que tenha o apoio e supervisão da administração superior, e atinja integradamente os componentes de cunho comportamental, estrutural, tecnológico e estratégico. Há cinco possíveis coisas que os gerentes podem mudar na organização: Estrutura: implica fazer uma alteração nas relações de autoridade, mecanismos de coordenação, redesenho de cargos ou em variáveis estruturais semelhantes. As responsabilidades departamentais, por exemplo, podem ser combinadas, as camadas verticais removidas e as amplitudes de controle podem ser alargadas para tornar a organização mais horizontal e menos burocrática. A administração também pode introduzir modificações maiores no desenho estrutural, como a passagem de uma estrutura simples para outra baseada em equipes, ou a criação de uma estrutura matricial. CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 10 Tecnologia: envolve modificações no modo como o trabalho é processado e nos métodos e equipamentos utilizados. Fatores competitivos ou inovações dentro de um setor exigem freqüentemente que os gerentes introduzam novos equipamentos, ferramentas ou métodos operacionais. Ambiente: implica alterar o espaço e a disposição do local de trabalho. A distribuição do espaço de trabalho não deve ser algo aleatório. É preciso considerar as demandas de trabalho, as exigências de interação e as necessidades sociais. A eliminação de paredes e divisórias permite que os funcionários se comuniquem facilmente. Da mesma forma, pode-se mudar a quantidade de luz, o nível de calor ou frio, os níveis e tipos de ruídos, etc. Pessoas: diz respeito a mudar atitudes, habilidades, expectativas, percepções ou comportamento dos funcionários, dando assistência aos indivíduos e grupos da organização para obtenção de maior eficácia em seu trabalho conjunto. A mudança ocorre por meiode processos de comunicação, tomada de decisões e solução de problemas. Cultura: exige a reformulação dos valores centrais da organização. As culturas são altamente resistentes à mudança, o que faz com que o processo seja lento e gradual. A mudança organizacional é uma resposta da empresa às alterações que ocorrem em seu ambiente. Para adaptarem-se às mudanças, as empresas precisam mudar, o que podem fazer de forma planejada (proativa ou proposital), ou deixando que a mudança simplesmente aconteça. As mudanças podem ser corriqueiras e passarem despercebidas ou serem marcos na história da organização. “Alguns desses indícios [de mudança] são mais visíveis porque alteram características muito evidentes, como episódios de crescimento organizacional acelerado ou quando a organização decide, intencionalmente, modificar suas finalidades, a forma de atuar, seus procedimentos técnicos ou administrativos”. Vamos ver alguns tipos de mudanças: Incremental/Organizacional Aumento da eficiência e do uso dos recursos, mudança na arquitetura da empresa. Transformacional/Institucional Questionamento e mudança da missão, natureza e objetivo da organização. Contínua Episódica CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 11 1ª Ordem Não implica mudanças fundamentais nas pressuposições dos funcionários 2ª Ordem re-enquadramento de pressupostos sobre a empresa e o ambiente em que ela se insere Incremental/Contínua Continuação do padrão existente, Descontínua Mudança do padrão existente Para Lewin, a mudança significa a passagem de um estado para outro diferente. A mudança envolve transformação, interrupção, perturbação, ruptura, dependendo da sua intensidade. O autor desenvolveu um modelo em que a mudança constitui um processo composto de três etapas: descongelamento, mudança e recongelamento. 1. Descongelamento: é a fase inicial da mudança, na qual as velhas idéias e práticas são derretidas, abandonadas e desaprendidas. Representa a abdicação ao padrão atual de comportamento para ser substituído por um novo padrão. Se não houver o descongelamento, a tendência é o retorno ao padrão habitual de comportamento. O descongelamento significa a percepção de necessidade de mudança. 2. Mudança: é a etapa em que novas idéias e práticas são experimentadas, exercitadas e aprendidas. Ocorre quando há a descoberta e adoção de novas atitudes, valores e comportamentos. A mudança envolve dois aspectos: a identificação (processo pelo qual as pessoas percebem a eficácia da nova atitude ou comportamento e a aceita) e a internalização (processo pelo qual as pessoas passam a desempenhar novas atitudes e comportamentos como parte de seu padrão normal de comportamento). 3. Recongelamento: é a fase em que as novas idéias e práticas são incorporadas definitivamente no comportamento. O recongelamento requer dois aspectos: o apoio (é o suporte através de recompensas que mantém a mudança) e o reforço positivo (é a prática proveitosa que torna a mudança bem-sucedida). Este modelo é criticado por alguns autores, que afirmam que as empresas não podem mais recongelar. Elas devem estar em permanente adaptação, uma vez que o mundo está em constante mudança. Na literatura, existem duas visões acerca do processo de mudança. Para entendê-las são usadas duas metáforas: a das águas calmas e a das águas turbulentas. A metáfora das águas calmas imagina a organização como um grande navio navegando, cruzando um oceano de águas calmas. O capitão e a tripulação sabem CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 12 exatamente para onde estão indo. A mudança surge na forma de uma tempestade ocasional, uma breve distração em uma viajem que, caso contrário, seria calma e previsível. Em virtude da tempestade, o comandante deve realizar um desvio no caminho, mas assim que tudo volta ao normal ele restabelece sua rota em direção ao destino programado. Na metáfora das águas turbulentas, a organização é vista como um bote inflável, descendo um rio cheio de corredeiras, em meio a pedras enormes. No bote estão algumas pessoas que nunca antes remaram juntas, não conhecem um palmo do rio, estão inseguras quanto ao seu eventual destino, e que, como se as coisas já não estivessem suficientemente ruins, estão navegando numa noite muito escura. Na metáfora das águas turbulentas, a mudança é um estado natural e administrá-la é um processo contínuo. Fischer apresentou outro modelo, que possui quatro etapas: 1. Auscultação: Corresponde ao que estudamos como fase de diagnóstico. Inclui o mapeamento de aptidões e resistência à mudança, o mapeamento dos agentes do contexto interno e externo, o levantamento de restritores e alavancadores, a identificação de projetos e ações de aperfeiçoamento em andamento e o levantamento de opiniões e sugestões de atores sociais relevantes. Fischer também ressalta a necessidade do diagnóstico participativo dizendo que nesse momento inicia-se o processo de estabelecimento de compromisso com o corpo diretivo, gerencial e técnico da organização. 2. Concepção: Nessa etapa busca-se a construção e planejamento de uma forma exequível de conceber e implementar as mudanças e aperfeiçoamentos pretendidos. Para tanto, deve ser definido um grupo de mobilização, que deve ser constituído por representantes de todas as áreas e níveis hierárquicos da organização. Esse grupo será o responsável pela gestão e disseminação da mudança, pela integração do planejamento e ação e pelo monitoramento de resultados. Também será o principal elo de comunicação e a interface com a estrutura formal. Um dos principais produtos dessa etapa é a elaboração do plano de ação para concretizar as transformações necessárias. 3. Disseminação/adesão: Essa etapa busca disseminar o conteúdo elaborado na etapa de concepção. Visa a geração de idéias, sugestões e críticas que aperfeiçoem as propostas originalmente concebidas, assim como o estímulo a adesão consciente dos funcionários. Dessa forma pode ocorrer a internalização dos novos princípios e o comprometimento de todos com os resultados. 4. Sustentação: Envolve o monitoramento e avaliação das ações de mudança, trazendo subsídios para o contínuo aperfeiçoamento do processo. A gestão CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 13 participativa deve promover a revitalização dos compromissos que unem as pessoas em torno dos objetivos comuns de mudanças. Na visão tradicional, a mudança é vista como um problema, uma ruptura com a estabilidade da organização. Em uma visão mais moderna, a mudança é vista como um processo contínuo, que faz parte da rotina das organizações. É o que Fischer chama de paradigma da transformação. “Esse paradigma pressupõe que o esforço de direcionamento de uma organização deve estar voltado para o aperfeiçoamento contínuo, e não para a estabilidade de normas, padrões e regras previamente instaurados e perenemente tornados rotineiros”. Um dos principais fatores que justificam esse posicionamento das empresas modernas é a necessidade constante de inovação. “Produtos e serviços inovadores dão sustentação à empresa nas relações com seus clientes atuais e potenciais. Como os produtos e serviços não duram para sempre, a inovação (em geral combinada com velocidade) é um fator de competitividade (...) como a inovação de hoje é o trivial de amanhã a busca de novas idéias é uma condição para a sobrevivência”. Para Chiavenato, o processo de inovação ocorre em quatroetapas: Criação de idéias: Proporciona novas formas de conhecimento por meio de descobertas, extensões de conhecimentos atuais ou criatividade espontânea pela inventividade das pessoas e comunicação. Experimentação inicial: as idéias são inicialmente testadas em seus conceitos por meio de discussões com outras pessoas, clientes, consumidores ou técnicos e/ou na forma de protótipos ou amostras. Determinação da viabilidade: a praticidade e o valor financeiro das idéias em estudo são examinados em estudos formais de viabilidade que identificam custos e benefícios potenciais, assim como mercados e aplicações potencias. Aplicação final: Ocorre quando o novo produto/serviço é finalmente comercializado e posto a venda no mercado aberto ou o novo processo é implementado como parte da rotina operacional normal. A necessidade de inovação nos traz a habilidade cada vez mais cobrada de pessoas e organizações de “aprender a aprender”. “Numa organização em mudança constante, nenhum conhecimento ou habilidade técnica permanece estático. Reciclar-se passa a ser obrigatoriamente a preocupação de qualquer empregado e propiciar oportunidades para isso torna-se uma necessidade da organização. Empregados e empregadores precisam aprender diferentes tarefas, e saber que devem aperfeiçoá-las de maneira continuada e permanente. Assim, aprender a aprender passa a ser o grande conhecimento e habilidade procurada em qualquer membro da organização”. CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 14 Devemos perceber também que a capacidade de mudança e inovação da empresa pode ser restrita por vários fatores. Vamos estudar esses fatores por meio da seguinte questão do CESPE: 1. (CESPE/TCU/2007) Algumas das barreiras à inovação estão relacionadas à formalização, centralização, normas e influências de poder na organização, que podem ser processuais — procedimentos e regulamentos —; de carências profissionais, de tempo, de recursos financeiros e informações e medo de risco, intolerância à ambigüidade, dogmatismo, inflexibilidade, entre outros. O item está correto e nos apresenta algumas importantes barreiras ao processo de inovação. “A formalização representa o grau em que o comportamento das pessoas dentro da organização é determinado por regras e regulamentos”. O excesso de formalização tende a inibir a criatividade das pessoas, que só podem se manifestar de certas formas e por meios definidos. Já a centralização “representa o grau com que cada membro de uma organização participa das decisões que afetam a sua vida. Quando centralizada, significa que as decisões são tomadas por um pequeno grupo de pessoas, normalmente detentoras de posições no topo da organização hierárquica e que fazem parte do círculo detentor do poder organizacional”. O excesso de centralização também é restritor da inovação, pois, em organizações muito centralizadas, apenas os gerentes têm chance de se expressar e assumir responsabilidades. Os funcionários tendem a apenas obedecer regras e realizar seu trabalho de acordo com os procedimentos já estabelecidos. As configurações de poder dentro da organização também possuem grande influência no processo de mudança. Nessa questão aprendemos também que as barreiras à inovação podem se manifestar em diversos elementos, como procedimentos, competências, tempo, recursos e comportamentos. Enquanto a tendência global é de necessidade de inovação, muitos elementos dentro de uma empresa podem ser reforçadores do status quo. 2.1 Desenvolvimento Institucional Antes de estudarmos o conceito de desenvolvimento institucional, temos que dar uma olhada no Desenvolvimento Organizacional (DO). A Teoria do Desenvolvimento Organizacional representa a fusão de duas tendências no estudo das organizações: o CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 15 estudo da estrutura, de um lado, e o estudo do comportamento humano nas organizações, de outro, integrados através de um tratamento sistêmico. Segundo Daft, trata-se de um “processo sistemático e planejado de mudança que usa o conhecimento e as técnicas da ciência comportamental para melhorar a saúde e a eficiência da organização por meio da sua habilidade de se adaptar ao ambiente, melhorar os relacionamentos internos e aumentar o aprendizado e as capacidades de resolução de problemas”. O DO foca nos aspectos humanos e sociais da organização e trabalha para mudar as atitudes e os relacionamentos individuais entre os funcionários. Na realidade, é um termo utilizado para englobar uma série de intervenções de mudança planejada, com base em valores humanos e democráticos, que buscam melhorar a eficácia organizacional e o bem-estar dos funcionários. O paradigma do DO valoriza o crescimento humano e organizacional, os processos colaborativos e participativos e o espírito investigativo. Os diversos modelos de DO consideram basicamente quatro variáveis: 1. o meio ambiente, focalizando aspectos como a turbulência ambiental, a explosão do conhecimento, a explosão tecnológica, a explosão das comunicações, o impacto dessas mudanças sobre as instituições e valores sociais, etc.; 2. a organização, abordando o impacto sofrido em decorrência da turbulência ambiental e as características necessárias de dinamismo e flexibilidade organizacional para sobreviver nesse ambiente; 3. o grupo social, considerando aspectos de liderança, comunicação, relações interpessoais, conflitos, etc.; 4. o indivíduo ressaltando as motivações, atitudes necessidades, etc. French e Bell definem o DO como: Esforço de longo prazo, apoiado pela alta direção, no sentido de melhorar os processos de resolução de problemas de renovação organizacional, particularmente através de um eficaz e colaborativo diagnóstico e administração da cultura organizacional. O Desenvolvimento Organizacional é uma resposta da organização às mudanças. É um esforço educacional muito complexo, destinado a mudar atitudes, valores, comportamentos e a estrutura da organização, de tal maneira que esta possa se adaptar melhor às novas conjunturas, mercados, tecnologias, problemas e desafios que estão surgindo em uma crescente progressão. CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 16 O DO visa à clara percepção do que está ocorrendo nos ambientes interno e externo da organização, a análise e decisão do que precisa ser mudado e a intervenção necessária para provocar a mudança, tornando a organização mais eficaz, perfeitamente adaptável às mudanças e conciliando as necessidades humanas fundamentais com os objetivos e metas da organização. O DO exige a participação ativa, aberta e não-manipulada de todos os elementos que serão sujeitos ao seu processo. Os autores salientam essas variáveis básicas de maneira a poderem explorar sua interdependência, diagnosticar a situação e intervir em variáveis estruturais e em variáveis comportamentais, para que uma mudança permita a consecução tanto dos objetivos organizacionais quanto individuais. Portanto, a ênfase é dada na gestão de pessoas e processos. As organizações só aprendem se as pessoas aprendem. Mas desenvolvimento individual não é garantia do desenvolvimento institucional, a menos que existam condições para um aprendizado coletivo. A maioria dos autores especialistas em DO, conquanto tenham idéias e abordagens bastante diversificadas, apresentam muitos pontos de concordância, principalmente no que se refere aos pressupostos básicos que fundamentam o DO. Vejamos abaixo:1. A constante e rápida mutação do ambiente - O mundo moderno caracteriza-se por mudanças rápidas constantes e numa progressão explosiva. 2. A necessidade de contínua adaptação - O indivíduo, o grupo, a organização e a comunidade são sistemas dinâmicos e vivos de adaptação, ajustamento e reorganização, como condição básica de sobrevivência em um ambiente em constante mudança. 3. A interação entre a organização e o ambiente - As qualidades mais importantes da organização são sua sensibilidade e sua adaptabilidade: sua capacidade de percepção e de mudança adaptativa ante a mudança de estímulos externos. 4. A interação entre indivíduo e organização - Toda organização é um sistema social. 5. Os objetivos individuais e os objetivos organizacionais - É plenamente possível o esforço no sentido de se conseguir que as metas dos indivíduos se integrem com os objetivos da organização. 6. A mudança organizacional deve ser planejada - A mudança planejada é um processo contínuo, e que leva anos. CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 17 7. A necessidade de participação e comprometimento - A mudança planejada é uma conquista coletiva e não o resultado do esforço de algumas pessoas. O aprendizado de novos comportamentos através de variadas técnicas introduz, além da competência interpessoal (relacionamento humano isento de bloqueios e preconceitos), maior adaptabilidade às mudanças. 8. O incremento da eficácia organizacional e do bem-estar da organização dependem de uma correta compreensão e aplicação dos conhecimentos acerca da natureza humana - As ciências do comportamento buscam localizar e criar nas organizações o ambiente de trabalho ótimo, em que cada indivíduo possa dar sua melhor contribuição e, ao mesmo tempo, ter consciência do seu potencial. 9. A variedade de modelos e estratégias de DO - Não há uma estratégia ideal nem ótima para o DO. Existem, isto sim, modelos e estratégias mais ou menos adequados para determinadas situações ou problemas, em face das variáveis envolvidas e do diagnóstico efetuado. 10. O DO é uma resposta às mudanças - É um esforço educacional muito complexo, destinado a mudar atitudes, valores comportamentos e estrutura da organização, de tal maneira que esta possa se adaptar melhor às demandas ambientais, caracterizadas por novas tecnologias, novos mercados, novos problemas e desafios. 11. Um objetivo essencial das organizações é o de melhorar a qualidade de vida - As meras alterações estruturais (rearranjos no organograma, mudanças na hierarquia etc.) ou funcionais (alterações de rotinas e procedimentos), bem como os métodos científicos que visam melhorar a eficiência organizacional podem desenvolver estratégias de forma paralela às intervenções mais amplas para melhorar o processo de relações entre indivíduos, entre grupos, organização e seu ambiente, etc. 12. As organizações são sistemas abertos - A organização em si consiste em um número de subsistemas dinamicamente interdependentes, e mudanças em alguns deles podem afetar os outros subsistemas. Da mesma forma, a organização é em si um subsistema em um ambiente que consiste em muitos outros sistemas, todos dinamicamente interdependentes. Ao longo do tempo, foram sendo desenvolvidas atividades de DO. Vamos ver alguns tipos de técnicas ou intervenções do DO para a realização das mudanças: Treinamento de Sensibilidade: pode ainda ser chamado de grupos de encontro ou Grupos T. Trata-se de uma interação de grupo não-estruturada, em que os CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 18 membros são reunidos em um ambiente livre e aberto no qual, com a facilitação de um cientista do comportamento, discutem sobre seus processos interativos e sobre si mesmos. O grupo é orientado para o processo, ou seja, as pessoas aprendem por meio da observação e da participação, e não por meio de instruções recebidas. O objetivo desses grupos de treinamento são oferecer aos participantes uma melhor consciência de seu próprio comportamento e de como ele é percebido pelos outros, reforçar a sensibilidade em relação ao comportamento dos outros e aumentar a compreensão dos processos do grupo. Construção de equipes: utiliza atividades grupais de alta interatividade para aumentar a confiança e a abertura entre os membros. Pode-se ser utilizada tanto nos grupos como nos níveis intergrupos, em que as atividades são interdependentes. O objetivo é melhorar a coordenação dos esforços dos membros, o que resulta em melhoria no desempenho da equipe. As atividades incluídas aqui geralmente envolvem a fixação de objetivos, o desenvolvimento das relações interpessoais, a análise de papéis para esclarecer as responsabilidades de cada um e a análise do processo de equipe. Feedback da pesquisa: questionários são distribuídos aos funcionários para avaliar sua opinião sobre o clima organizacional e outros fatores e seus resultados são informados a eles por um agente de mudança. O levantamento de feedback é uma ferramenta usada para avaliar atitudes assumidas pelos membros da organização, identificar discrepâncias entre as percepções das pessoas e solucionar estas diferenças. Consultoria de processo: um consultor externo é chamado para ajudar a organização a perceber, compreender e agir em relação aos eventos dos processos com os quais precisa lidar. Esses processos podem incluir o fluxo de trabalho, as relações informais entre os membros da unidade e os canais formais de comunicação. Utiliza-se principalmente quando os executivos percebem que o desempenho de suas unidades poderia ser melhorado, mas não conseguem identificar o que pode ser melhorado ou como fazer isso. Investigação apreciativa: enquanto a maioria das abordagens do DO são centradas nos problemas para buscar a solução, esta técnica acentua os pontos positivos. Em vez de procurar problemas que devam ser solucionados, essa abordagem busca identificar as qualidades únicas e as forças especiais de uma organização, que podem servir de ponto de partida para a melhoria do desempenho. Agora vamos dar uma olhada no Desenvolvimento Institucional (DI). O Desenvolvimento Organizacional envolve o aperfeiçoamento dos mecanismos internos CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 19 de uma dada organização, enfocando as áreas financeira, administrativa, organizativa e os seus sistemas de planejamento, monitoramento e avaliação. O conceito de Desenvolvimento Institucional extrapola esta dimensão e configura "a articulação entre o respectivo desenvolvimento organizacional e sua rede de ações e relações externas". Segundo Domingos Armani, o conceito de Desenvolvimento Institucional (DI) origina-se nas décadas de 1960-70. Relaciona-se ao desenvolvimento de instituições que buscam dar suporte ao desenvolvimento econômico capitalista, especialmente nas áreas de fronteira. Hoje, este conceito é muito usado, por exemplo, na Rússia - dentro do processo de transformação interna em um país capitalista, com a construção de instituições como Bolsa de Valores, mercado, regras de contrato. Nos anos 60, este termo também começa a aparecer nas políticas de desenvolvimento e cooperação dos países europeus como estratégia de desenvolvimento para os países pobres, definida a partir dos países desenvolvidos. Neste período, a política de cooperação do Reino Unido, da Holanda, da Alemanha, da França, defendem o desenvolvimento das instituições locais, nativas, nos países pobres, para que elas possam promovero desenvolvimento local. Atualmente esta concepção, em geral, defende o fortalecimento das ONGs e dos movimentos sociais enquanto organizações da sociedade civil . Articula-se, numa visão sistêmica das organizações, as relações e os processos internos com as relações e os processos que conectam essas organizações com outros atores da sociedade. O Desenvolvimento Institucional de uma determinada organização, neste sentido, inclui o desenvolvimento de relações inter-institucionais e tematiza as articulações e redes, as relações com atores diversos da sociedade e com a própria cultura que permeia esses intercâmbios. O DI é um conceito importante para a sustentabilidade das organizações. “Sustentabilidade” é um conceito sistêmico, relacionado com a continuidade dos aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais da sociedade humana. Significa que devemos tomar medidas agora para que haja condições de sobrevivência no futuro. Nas organizações, o conceito é o mesmo. Envolve a capacidade de a organização manter as condições de se sustentar ao longo do tempo. O desenvolvimento institucional compreende os processos e iniciativas que visam assegurar a realização, de maneira sustentável, da missão institucional; e fortalecer o posicionamento estratégico de uma determinada organização na sociedade. Para tanto, exigem–se medidas (i) que fortaleçam a capacidade de articulação das iniciativas e de promoção de processos de mudança social, e (ii) que ampliem a base CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 20 social/legitimidade e credibilidade da organização, assim como (iii) busquem o aprimoramento gerencial e operacional. O DI permite pensar e planejar de forma orgânica o futuro de uma organização, com uma perspectiva da sustentabilidade sistêmica (político-social – Institucional – Econômica). Ele não é fruto do acaso, mas de uma série de ações que seus membros decidem tomar, com o intuito de alcançar determinados objetivos. Isto porque o desenvolvimento institucional envolve a visão que a organização tem do contexto social, econômico, político e cultural onde atua, seu projeto político mais amplo, a definição (ou revisão) de suas formas de atuação, métodos de intervenção na realidade e do impacto que sua ação deve ser capaz de provocar. O elemento em torno do qual o DI pode ser pensado é o papel que uma organização pretende cumprir em determinado momento histórico e pelo qual deseja ser reconhecida. Por meio do DI a organização poderá atualizar seus valores e sua missão, analisar as parcerias desejáveis e que decisões devem tomadas no presente levando em conta o que se quer alcançar no futuro previsto. Desta análise também decorrem decisões que dizem respeito aos aspectos internos: pessoas, procedimentos, estruturas de poder, recursos materiais etc. Apesar da grande variedade de conceitos em voga, podem–se identificar dois enfoques básicos a eles subjacentes: o enfoque gerencial, que tende a privilegiar os desafios da gestão e das condições de eficácia e eficiência de organizações específicas, preocupando–se com a sua "profissionalização", por intermédio de: planejamento estratégico, sistema de monitoramento & avaliação com base em indicadores, captação de recursos, marketing, gestão administrativo–financeira, capacitação técnica dos recursos humanos etc.; o outro é o enfoque sistêmico, que também integra a dimensão gerencial, mas de forma articulada à dimensão sociopolítica da organização, isto é, sua base social e legitimidade, sua transparência e credibilidade (accountability), sua rede de interlocução e ação conjunta com organizações da sociedade civil e com o Estado, sua autonomia e sua capacidade de oferecer serviços de qualidade e de promover processos de mudança social. Sob essas premissas, a promoção do DI deve ser pensada a começar pelas definições de foco e estratégia que toda organização deve estabelecer. Toda organização é capaz de determinar como deseja ser reconhecida e por quem. Também é capaz de especificar o que deseja obter como impacto de seu trabalho e como vai dirigir seus esforços para chegar lá. Precisa, também, ser capaz de adotar uma postura crítica quanto a seus projetos e formas de trabalho. Isto significa que deve encarar as mudanças que precisa promover de maneira positiva: enfrentar seus pontos fracos e valorizar seus pontos fortes, CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 21 incorporar processos participativos e descentralizados na condução de seu futuro, rever suas estruturas de poder e decisão. Não basta falar de mudanças pontuais, destinadas a melhorar, aqui e ali, o trabalho que já se realiza. Para que o desenvolvimento institucional seja fruto da vontade da organização, precisa incorporar o longo prazo, o contexto institucional e suas relações, assim como seu projeto político mais amplo. O que se pode prever, a partir deste processo, é uma organização com mais clareza quanto a suas possibilidades e restrições, menos exposta às variáveis sobre as quais não tem controle e com alternativas para a construção de seu futuro. Independente das configurações institucionais, os objetivos e estratégias devem estar fundamentados sobre os pressupostos da sustentabilidade, transparência, governabilidade e impacto sócio-econômico. Para implementar sua estratégia de expansão, as organizações necessitam reforçar certas áreas de operações conforme suas fortalezas e as oportunidades de melhoria identificadas, centrando-se nos fatores que são essenciais para sua sustentabilidade e desempenho efetivo e rentável. O Plano de Desenvolvimento Institucional é o documento que representa a racionalização do que a organização pretende fazer para alcançar seus objetivos. O PDI é uma forma das organizações centrarem seu trabalho em objetivos institucionais e organizacionais-chave e em seu desenvolvimento, cujo alcance é um requisito fundamental para o cumprimento de sua missão institucional. Ao delinear o seu plano institucional, a organização deve ser capaz de pensar estrategicamente o seu futuro, considerando os interesses, as necessidades e demandas da maioria da sociedade na qual está inserida e definir, com clareza, as metas que pretende atingir. Estas, por sua vez, necessitam ser articuladas em torno dos objetivos institucionais e envolver todos os que dela fazem parte de forma crítica e comprometida com tais objetivos. O Ministério da Educação, na implantação do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES) constatou a necessidade de incluir, como parte integrante do processo avaliativo das Instituições de Ensino Superior, o seu planejamento estratégico, por isso passou a exigir que as IES elaborassem seu PDI, que, portanto, representa uma forma de planejamento estratégico das organizações. Segundo o MEC: O PDI consiste num documento em que se definem a missão da instituição de ensino superior e as estratégias para atingir sua metas e objetivos. Abrangendo um período de cinco anos, deverá contemplar o cronograma e a metodologia de implementação dos objetivos, metas e ações do plano da IES, observando a coerência e a articulação entre as diversas ações, a manutenção de padrões de qualidade e, quando CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 22 pertinente, o orçamento. Deverá apresentar, ainda, um quadro- resumo contendo a relação dos principais indicadores de desempenho, que possibilite comparar, para cada um, a situação atual e futura (apósa vigência do PDI). Podemos observar várias dos elementos de um planejamento estratégico no PDI, que, além de orientar as ações futuras da Universidade se tornará um instrumento legal para a aferição da qualidade da gestão. 3 Gestão por Competências Antes de entrarmos na gestão por competências em si, vamos estudar o conceito de competência e os tipos de competências individuais e orhganizacionais. 3.1 Conceito de Competência Inicialmente, o termo “competência” dizia apenas respeito a faculdade atribuída a alguém ou a uma instituição para apreciar e julgar certas questões. Em seguida, o termo passou a abranger o reconhecimento social sobre a capacidade de alguém pronunciar-se a respeito de determinado assunto. Mais tarde, passou a ser empregado para designar o indivíduo capaz de realizar certo trabalho ou desempenhar, de modo eficiente, determinado papel. Gilbert, em 1978, foi um dos primeiros a discutir a utilização desse conceito, afirmando que a competência humana é expressa em função do desempenho da pessoa no trabalho, o que envolve não apenas o comportamento que o individuo adota, mas também suas consequências, no tocante a realizações. A frequente utilizacão do termo “competência” nas organizações fez com que surgissem duas grandes correntes: a primeira entendia a competência como um estoque de qualificações – conhecimentos, habilidades e atitudes – que credencia a pessoa a exercer determinado trabalho. a segunda associava a competência as realizações da pessoa em determinado contexto, ou seja, a aquilo que ela produz ou realiza no trabalho. Estas duas correntes se uniram. Uma definição que abrange ambas é a de Carbone: CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 23 Combinações sinérgicas de conhecimentos, habilidades e atitudes, expressas pelo desempenho profissional dentro de determinado contexto organizacional, que agregam valor a pessoas e organizações. As competências agregam valor econômico às organizações e valor social aos indivíduos, na medida em que contribuem para a consecução de objetivos organizacionais e expressam o reconhecimento social sobre a capacidade das pessoas. No entanto, este valor só será agregado se as competências forem reveladas quando as pessoas agem ante as situações profissionais com as quais se deparam e servem como ligação entre as condutas individuais e a estratégia da organização. A competência não se completa apenas dentro da pessoa. Ela deve ser apresentada ao mundo exterior. Competência significa a qualidade que uma pessoa possui e que é percebida pelos outros. Não adianta possuir competências, é preciso que as outras pessoas as reconheçam. A competência está associada às realizações da pessoa em determinado contexto, ou seja, a aquilo que ela produz ou realiza no trabalho. 3.2 Competências Individuais e Organizacionais Carbone fala em “conhecimentos, habilidades e atitudes”, o famoso CHA das competências. Trata-se de recursos ou dimensões da competência, ou seja, os conhecimentos, habilidades e atitudes que se pressupõem sejam necessários para que a pessoa possa apresentar determinado desempenho no trabalho. No entanto, outros autores utilizam outras dimensões. Ao invés de CHA, alguns autores falam em CHAVE, incluindo Valores e Experiências. Outros autores colocam as atitudes junto com valores, como sinônimos. Há uma predominância em torno dos seguintes elementos que constituem a competência: conhecimentos, habilidades, experiência, juízos de valor, atitudes, experiências e traços de personalidade. Vamos ver os conceitos do CHA. Conhecimentos: incluem todas as técnicas e informações que o gerente domina e que são necessárias para o desempenho de seu cargo. São informações que, ao serem reconhecidas e integradas pelo indivíduo em sua memória, causam impacto sobre seu julgamento ou comportamento. Refere-se ao saber que a pessoa acumulou ao longo de sua vida, algo relacionado a lembrança de conceitos, ideias ou fenômenos Habilidades: estão relacionadas com a aplicação produtiva do conhecimento, ou seja, a capacidade da pessoa de instaurar conhecimentos armazenados em sua memória e utilizá-los em uma ação. Podem ser classificadas em Habilidade CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 24 Técnica (relacionada com a atividade específica do gerente, tais como conhecimentos, métodos e equipamentos necessários para a realização das tarefas); Habilidade humana (capacidade de entender, liderar e trabalhar com pessoas) e habilidade conceitual (capacidade de compreender e lidar com a complexidade total da organização e de usar o intelecto para formular estratégias, analisar problemas e tomar decisões). Para Katz, conforme o gerente sobre na hierarquia, a importância da habilidade técnica diminui, enquanto a habilidade conceitual torna-se mais necessária. Atitudes: são competências que permitem às pessoas interpretar e julgar a realidade e a si próprios. As atitudes formam a base das opiniões segundo as quais outras pessoas e os fatos, as ideias e os objetos são vistos, interpretados e avaliados. Há pessoas que encaram de maneira positiva a possibilidade de ocupar um cargo gerencial. Este tipo de atitude deve ser determinante na escolha de pessoas para ocuparem tais posições, porque sua probabilidade de sucesso é maior do que aqueles que não enxergam atrativos na carreira gerencial. Estas dimensões se referem às competências pessoais. Mas também existem outras competências dentro da organização. Segundo Chiavenato, podemos falar em quatro categorias de competências: Competências Essenciais: chamadas também de “core competences”, são as competências básicas e fundamentais para o sucesso de uma organização em relação aos clientes, à sociedade e aos concorrentes. Corresponde àquilo que cada organização sabe fazer melhor do que ninguém. Cada organização precisa identificar e localizar as competências essenciais capazes de levá-la ao sucesso. As competências essenciais são fundamentais para a eficácia organizacional. Competências de Gestão: são as competências relacionadas com a gestão de recursos – financeiros, comerciais, produtivos, etc. Refere-se a como os recursos organizacionais são utilizados e os processos mobilizados para obter melhores resultados. As competências e a gestão são fundamentais para sua eficiência interna. Competências Organizacionais: são as competências relacionadas com a vida íntima da organização. Correspondem ao modus vivendi da organização, à sua cultura corporativa, como a organização se estrutura para realizar o trabalho organizacional. As competências organizacionais se referem ao aparato interno por meio do qual a organização se articula e se integra para poder funcionar. CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 25 Competências Pessoais: são as competências que cada indivíduo aprende e desenvolve em suas atividades pessoais na organização. Após descrever as quatro categorias de competências, Chiavenato afirma que: As competências pessoais conduzem às competências organizacionais, estas, às competências de gestão e, por fim, às competências essenciais. Assim, estaríamos diante de um processo bottom-up, em que as competências pessoais é que formam a base das demais. No entanto, como afirma Joel Souza Dutra: Há uma relação íntima entre as competências organizacionais e as individuais, portanto, o estabelecimento das competências individuais deve estar vinculado à reflexãosobre as competências organizacionais, uma vez que há uma influência íntima entre elas. A empresa transfere seu patrimônio para as pessoas, enriquecendo-as e preparando-as para enfrentar novas situações profissionais e pessoais, dentro ou fora da organização. As pessoas, por seu turno, ao desenvolver sua capacidade individual, transferem para a organização seu aprendizado, dando-lhe condições para enfrentar novos desafios. Agora que vimos os conceitos relacionados à competência, vamos ver como é a “gestão por competências”. 3.3 Gestão por Competências Nos modelos tradicionais de administração de recursos humanos o eixo central era o cargo, o foco estava nas funções, tarefas, normas e na hierarquia formal da empresa. Assim, o que importava eram unicamente as habilidades técnicas de execução das tarefas por parte dos empregados. Entretanto, com a evolução da economia mundial, o aumento da competitividade e as novas exigências da sociedade, as organizações, inclusive públicas, tiveram que considerar os aspectos atitudinais e a capacidade de seus funcionários de contribuir efetivamente para o alcance dos objetivos organizacionais. Afinal de contas, do que adiantava o empregado realizar sua tarefa dentro dos padrões e cumprir seu horário de trabalho regularmente se isso não estava contribuindo para a melhoria do desempenho organizacional? É a partir dessa lógica que surgem os modelos de gestão de pessoas por competências: vamos gerir a vida funcional de CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 26 nossos empregados (ou servidores) de forma que possam agregar valor efetivo ao nosso negócio e à nossa missão! Dessa forma, segundo Carbone: “muitas organizações têm adotado a gestão por competências como modelo de gestão, visando orientar seus esforços para planejar, captar, desenvolver e avaliar, nos diferentes níveis da organização (individual, grupal e organizacional), as competências necessárias à consecução de seus objetivos”. Simplificando, a Gestão de Pessoas por competências é a maneira de administrar todos os processos de gestão de pessoas (seleção, desenvolvimento, movimentação interna, carreira, avaliação de desempenho, remuneração etc.) com base nas competências organizacionais e individuais, de forma a atingir o alcance dos objetivos da organização. Podemos afirmar então que o objetivo da aplicação de um modelo de gestão por competências é alinhar as práticas de gestão de pessoas para que as competências humanas possam sustentar competências organizacionais e, consequentemente, o alcance de objetivos e metas estratégicos. Novamente, antes de continuarmos, estudaremos uma questão de prova para fixarmos este conteúdo: 2. (CESPE/ANA/2006) A gestão por competências é um programa sistematizado que objetiva definir perfis profissionais a fim de elevar a produtividade e a adequação ao negócio. A gestão por competências, em última instância, possui os mesmos objetivos e abordagens que o tradicional levantamento de necessidades de treinamento. A primeira oração do item está correta. Percebam que existem inúmeros conceitos, então não adianta decorar um conceito e achar que está resolvido na hora da prova. Nessa questão, por exemplo, podemos relacionar “programa sistematizado” como as “práticas de gestão de pessoas” ou com o próprio “modelo de gestão de pessoas”. Já os perfis profissionais podem ser entendidos como o conjunto de conhecimentos, habilidades, atitudes e características pessoais que a pessoa apresenta. E quando o examinador diz “elevar a produtividade e a adequação ao negócio” não fica fácil reconhecer a ideia de se alcançar os objetivos organizacionais? CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 27 A segunda parte dessa questão contraria o que dissemos sobre o histórico do modelo de gestão por competências, pois esse modelo é inovador, e não tradicional. O levantamento de necessidades de treinamento era uma forma de diagnóstico de modelos tradicionais de gestão de pessoas, com foco nos requisitos de cada tarefa e, consequentemente, nos treinamentos necessários para que o ocupante do cargo preencha plenamente os requisitos. Não havia correlação direta com os objetivos organizacionais nem com as competências requeridas. No máximo buscava-se, por meio de treinamentos formais, aperfeiçoar os conhecimentos e as habilidades dos funcionários. Vejam que para acertar essa questão bastava uma percepção aguçada de que os objetivos e as abordagens do modelo de gestão por competências (método inovador) não são os mesmos do TRADICIONAL levantamento de necessidades de treinamento! Que tal fixarmos os pontos centrais no conceito de gestão por competências vistos até agora? Os processos de gestão de pessoas no modelo de competências visam ao desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e ATITUDES (o aspecto comportamental é um grande diferencial em relação aos modelos tradicionais), para que os funcionários possam fazer entregas efetivas à organização; Foco no alcance dos objetivos organizacionais (o sistema de gestão por competências deve estar fortemente alinhado às estratégias organizacionais). Veja como esse segundo ponto foi cobrado na prova da Agência Nacional de Águas em 2006: 3. (CESPE/ANA/2006) Os alinhamento da área de gestão de pessoas com as metas e os objetivos estratégicos da organização é preceito fundamental para a gestão por competências. Questão certa. Conforme destacamos, na gestão por competências é imprescindível que as práticas de gestão de pessoas estejam alinhadas aos objetivos estratégicos organizacionais. Esse é um dos grandes diferenciais do modelo em relação às formas tradicionais de se pensar a gestão de pessoas. É essa característica de alinhamento do modelo de gestão de pessoas às estratégias do negócio que confere ao modelo de gestão por competências a característica de ser um modelo estratégico de gestão de pessoas. CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 28 3.3.1 Características da Gestão por competências Depois de vermos o histórico e o conceito da gestão por competências, vamos nos aprofundar um pouco mais nesse modelo de gestão de pessoas. Para que um modelo de gestão de pessoas por competências seja efetivo e atinja seus objetivos é necessário que tenha as seguintes características: 1) Ser patrocinado pela alta cúpula (dirigentes) e estar diretamente relacionado às diretrizes estratégicas da organização. O modelo de gestão de pessoas por competências é um instrumento estratégico e deve contribuir para que a missão, os objetivos, as metas e os projetos organizacionais sejam cumpridos de maneira efetiva; 2) Ser simples, prático e possível de ser operacionalizado no contexto específico da organização. Ou seja, do que adianta um modelo complexo e perfeito que não funciona na prática?; 3) Ser amplamente comunicado e compreendido, para que os gestores e funcionários percebam seus benefícios e contribuam para sua implementação e consolidação; 4) Ter a competência como elo entre indivíduo e organização. De acordo Hamel e Prahalad (1990), as competências servem como ligação entre as condutas individuais e a estratégia da organização. Ou seja, é a partir da entrega de uma competência que o indivíduo contribui para o efetivo desempenho organizacional; 5) Ser um integrador entre as várias políticas e práticas de gestão de pessoas na organização (recrutamento e seleção, desenvolvimento, avaliação, remuneração...);6) Proporcionar benefícios tanto para a organização como para os funcionários (lembram do conceito de Fleury e Fleury de que a competência deve agregar valor econômico à organização e valor social ao indivíduo?). 3.3.2 Etapas De acordo com Chiavenato, a Gestão por competências é um programa sistematizado e desenvolvido no sentido de definir perfis profissionais que proporcionem maior produtividade e adequação ao negócio, identificando os pontos de excelência e os pontos de carência, suprindo lacunas e agregando conhecimento, tendo por base certos critérios objetivamente mensuráveis. Já Carbone afirma que muitas empresas têm adotado a gestão por competências como modelo de gestão, visando orientar seus esforços para planejar, captar, desenvolver e CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 29 avaliar, nos diferentes níveis da organização, as competências necessárias à consecução de seus objetivos. Portanto, podemos dizer que a gestão de competências se configura no processo que, com base na estratégia da organização, identifica às competências necessárias para o alcance dos objetivos e busca desenvolver elas na organização. A etapa inicial, portanto, é a definição da estratégia, oportunidade em que são definidos sua missão, sua visão de futuro e seus objetivos estratégicos. Definindo-se quais são os objetivos da organização, é possível identificar as competências que serão essenciais para concretizar o desempenho esperado, as competências que serão imprescindíveis para a organização. Em seguida, realiza-se o diagnóstico ou mapeamento das competências, ou seja, identifica-se o chamado “gap”, traduzido por “lacuna” existente entre as competências necessárias ao alcance do desempenho esperado e as competências já disponíveis na organização. Para preencher esta lacuna, ou seja, adquirir as competências que estão faltando, a organização pode realizar a captação, que diz respeito à seleção de competências externas e sua integração ao ambiente organizacional, ou então desenvolver as competências internamente, por meio da aprendizagem no nível individual e por intermédio de investimentos no nível organizacional. Finalmente, a última etapa é o acompanhamento e avaliação, que funciona como um mecanismo de feedback, à medida que os resultados alcançados são comparados com aqueles que eram esperados. Podemos resumir assim: 1. Definição da estratégia; 2. Definição das competências essenciais; 3. Mapeamento das competências existentes – gap; 4. Desenvolvimento de competências; 5. Acompanhamento e avaliação. Existem, essencialmente, dois tipos de abordagens no processo de mapeamento de competências. A abordagem top-down, em que as competências tendem a derivar da missão, da visão, dos valores e objetivos estratégicos até chegar, definindo-se então as competências essenciais necessárias a implementação desta estratégia, definindo-se a partir daí as competências organizacionais e, por fim, as pessoais. CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 30 Já a abordagem bottom-up é inversa à anterior, em que se parte da análise funcional e, em muitos casos, não se trabalha com base nas orientações estratégicas da organização. A maior parte da doutrina segue a linha top-down, em que primeiro define-se a estratégia, para se definir as competências essenciais e assim por diante. É o caso de Rodriguez y Rodriguez: A definição das competências necessárias a uma empresa precisa ser feita a partir do seu plano estratégico e dos fatores críticos de sucesso, para que os objetivos estratégicos sejam atingidos. Por isso, é importante que a identificação das competências seja feita inicialmente no nível estratégico da organização para, depois, serem desdobradas em competências específicas a cada nível organizacional. O processo é, portanto, top-down. Já outros autores defendem que não é nem top-down nem bottom-up, mas circular, como é caso de Brandão e Guimarães: Seria temerário afirmar que o processo de gestão de competências é do tipo top-down, em que as competências essenciais da organização determinam as competências humanas, ou o contrário, que esse processo seria do tipo bottom-up, em que estas determinam aquelas. A gestão de competências deve ser vista como um processo circular, envolvendo os diversos níveis da organização, desde o corporativo até o individual, passando pelo divisional e o grupal. O importante é que a gestão de competências esteja em perfeita sintonia com a estratégia organizacional (missão, visão de futuro e objetivos). 3.3.3 Seleção por competências Vamos ver como a gestão por competências se aplica a alguns processos específicos de administração (seleção, avaliação, remuneração). Seleção é uma espécie de filtro de pessoas. É por meio delas que identificamos indivíduos aptos ou que possuem o potencial para integrar a empresa e colaborar com o alcance de determinados resultados. A seleção pode ser externa (por exemplo, concurso público) ou interna (por exemplo, um processo seletivo entre os servidores para identificar o que tem maior potencial para ocupar determinada função gerencial). CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 31 Seleção por competências nada mais é do que incluir, nestes filtros, métodos, técnicas e parâmetros que identifiquem os indivíduos que possuem as competências necessárias para realizar determinado trabalho. Realizar a seleção por competências traz os seguintes ganhos para a gestão de pessoas: Ter um quadro completo dos requerimentos do trabalho; Focar a atenção em pessoas que efetivamente terão maior probabilidade de sucesso no trabalho; Haver um certo “desinvestimento” naquelas pessoas que não atendem aos requerimentos da companhia; Assegurar um processo de entrevista sistemático e profundo; Ajudar a distinguir entre aquelas competências que são mais “treináveis” daquelas mais difíceis de se desenvolver. Se competência é entrega, nada melhor, para a empresa, do que selecionar pessoas que sejam capazes de realizar estas entregas. Com isto em mente, Dutra nos ensina as principais diferenças entre a seleção tradicional e a seleção por competências: Aspectos analisados na seleção Seleção tradicional Seleção por competência Horizonte profissional Cargo a ser ocupado Carreira na empresa Perfil Para um cargo específico Para atender a demandas presentes e futuras Processo de escolha Observa a adequação para o cargo Observa a adequação para uma trajetória específica Ferramentas de escolha Testes de conhecimentos, habilidades e atitudes necessárias para o cargo Análise da trajetória profissional para avaliar a maturidade profissional e o ritmo de desenvolvimento Contrato psicológico Contrato construído visando a determinada posição na empresa Contrato construído visando a uma carreira ou trajetória profissional na empresa Compromisso da organização Manter o cargo para o qual a pessoa está sendo captada Desenvolver a pessoa para determinada trajetória dentro da empresa Internalização Adequação ao cargo Adequação a uma trajetória CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 32 No processo seletivo, para pesquisar competências, devemos fazer uma pesquisa do passado, ou seja, verificar como, em uma situação já ocorrida, a pessoa agiu. Em uma entrevista, não adianta perguntarmos como o candidato
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