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201846 16057 PENAL+III+ +AULA+V

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DIREITO PENAL III
INFANTICIDIO
Docente: TIAGO CLEMENTE SOUZA
E-mail: tiago_csouza@hotmail.com
INFANTICÍDIO – ART. 123
Conceito
Segundo o disposto no art. 123 do Código Penal, podemos definir o infanticídio como a cisão da vida do ser nascente ou do neonato, realizada pela própria mãe, que se encontra sob a influência do estado puerperal.
Trata-se de uma espécie de homicídio doloso privilegiado, cujo privilegium é concedido em virtude da “influência do estado puerperal” sob o qual se encontra a parturiente.
O estado puerperal, por vezes, pode acarretar distúrbios psíquicos na genitora, os quais diminuem a sua capacidade de entendimento ou autoinibição, levando-a a eliminar a vida do infante.
Elementares do Tipo:
Assim é que o delito de infanticídio é composto pelos seguintes elementos: matar o próprio filho; durante o parto ou logo após; sob influência do estado puerperal. 
Excluído algum dos dados constantes nessa figura típica, esta deixará de existir, passando a ser outro crime (atipicidade relativa).
Bem Jurídico: vida extrauterina.
Ação nuclear: matar, assim como no delito de homicídio, que significa destruir a vida alheia, no caso, a eliminação da vida do próprio filho pela mãe. 
A ação física, todavia, deve ocorrer durante ou logo após o parto, não obstante a superveniência da morte em período posterior.
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		Meios de Execução: Crime de forma livre, que pode ser praticado por qualquer meio comissivo, por exemplo, enforcamento, estrangulamento, afogamento, fraturas cranianas; 
Entretanto, pode também ser praticado por qualquer meio omissivo, por exemplo, deixar de amamentar a criança, abandonar recém-nascido em lugar ermo, com o fim de provocar a sua morte.
 	Abandono de recém-nascido. Configuração do art. 134, § 2º, ou 123 do CP? Conforme vimos logo acima, a conduta infanticida pode ser a de abandonar o recém-nascido em lugar ermo, sob condições que o farão perecer. Tal conduta não se confunde com a prevista no art. 134, § 2º, do CP. 
Neste último, trata-se de crime de perigo, em que o agente quer tão somente abandonar, livrar-se do bebê, que é a personificação de sua desonra pessoal, mas, com isso, quer ou aceita apenas colocá-lo em situação perigosa para sua vida, sua saúde, um dolo que não chega a ser o de dano (vontade de, abandonando, matar).
***O resultado morte, que agrava a pena da agente, é de ter decorrido apenas culposamente, vale dizer, ser apenas previsível, mas jamais querido, nem sequer aceito.
Sujeito Ativo: Trata-se de crime próprio. Somente a mãe puérpera, ou seja, a genitora que se encontra sob influência do estado puerperal, pode praticar o crime em tela. 
Nada impede, contudo, que terceiro responda por esse delito na modalidade de concurso de pessoas.
Sujeito Passivo: O art. 123 do Código faz expressa referência ao filho, “durante o parto ou logo após”. Se o delito for cometido durante o parto, denomina-se “ser nascente”; se logo após, “recém-nascido” ou “neonato”.
Haverá o delito de infanticídio se for constatado que o feto nascente estava vivo.
Sujeito passivo que já se encontrava morto. Crime impossível. Constituirá crime impossível pela absoluta impropriedade do objeto (CP, art. 17).
Sujeito passivo. Adulto. Se a mãe matar um adulto sob a influência do puerpério, responderá pelo delito de homicídio.
Infanticídio putativo. Se a mãe matar outra criança sob a influência do estado puerperal, haverá infanticídio putativo.
Agravantes. Não incidem as agravantes previstas no art. 61, II, e e h, do CP (crime cometido contra descendente e contra criança), vez que integram a descrição do delito de infanticídio. Caso incidissem, haveria bis in idem.
Cláusula temporal: “durante o parto ou logo após”
O delito em questão faz referência à cláusula temporal “durante o parto ou logo após”.
Antes do início do parto a ação contra o fruto da concepção caracteriza o delito de aborto.
Quando se inicia e se finda o parto?
O parto inicia-se com o período de dilatação, apresentando-se as dores características e dilatando-se completamente o colo de útero; segue-se a fase de expulsão, que começa precisamente depois que a dilatação se completou, sendo, então, a pessoa impelida para o exterior; esvaziado o útero, a placenta se destaca e também é expulsa: é a terceira fase.
A melhor orientação é aquela que leva em consideração a duração do estado puerperal, exigindo-se uma análise concreta de cada caso. Assim, o delito de infanticídio deve ser cometido enquanto durar o estado puerperal, não importando avaliar o número de horas ou dias após o nascimento, e, se aquele não mais subsistir, não mais poderemos falar em delito de infanticídio, mas em delito de homicídio.
Elemento psicofisiológico: estado puerperal
O delito de infanticídio, segundo as legislações penais pátria e estrangeira, pode fundar-se em um dos seguintes critérios: a) critério psicofisiológico – a atenuação da pena leva em consideração o desequilíbrio fisiopsíquico da mulher parturiente; b) critério psicológico – a minoração da pena tem em vista especial motivo de honra, como a gravidez extramatrimonial, que gera angústia e desespero na genitora, levando-a a ocultar o ser nascente. É o chamado infanticídio honoris causa. 
O critério adotado pelo nosso Código Penal é o psicofisiológico, pois o art. 123 faz menção ao estado puerperal. Trata -se o estado puerperal de perturbações, que acometem as mulheres, de ordem física e psicológica decorrentes do parto.
ELEMENTO SUBJETIVO
Dolo. O crime pode ser praticado pelo agente a título de dolo direto ou eventual.
Culpa. Não há a modalidade culposa no crime de infanticídio.
MOMENTO CONSUMATIVO
Trata-se de crime material. A consumação se dá com a morte do neonato ou nascente. A ação física do delito deve ocorrer no período a que a lei se refere, “durante ou logo após o parto”, diferentemente da consumação, ou seja, a morte do recém -nascido ou neonato, que pode ocorrer tempos depois.
TENTATIVA
Por se tratar de plurissubsistente, a tentativa é perfeitamente possível, e ocorrerá na hipótese em que a genitora, por circunstâncias alheias a sua vontade, não logra eliminar a vida do ser nascente ou neonato.
Por exemplo: a genitora, ao tentar sufocar a criança com um travesseiro, tem a sua conduta impedida por terceiros.
Concurso de Pessoas:
Quando o Código Penal trata do concurso de agentes, estabelece em seu artigo 30 que:
Circunstâncias incomunicáveis
Art. 30 Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime. (g.n.).
Sendo elementares, comunicam-se ao coautor ou partícipe (CP, art. 30), salvo quando este desconhecer a sua existência, a fim de evitar a responsabilidade objetiva.
Diferentes, porém, poderão ser as consequências, conforme o terceiro seja autor, coautor ou partícipe.
Há três situações possíveis:
1ª) Mãe que mata o próprio filho, contando com o auxílio de terceiro: a mãe é autora de infanticídio e as elementares desse crime comunicam-se ao partícipe, que, assim, responde também por infanticídio. A “circunstância” de caráter pessoal (estado puerperal), na verdade, não é circunstância, mas elementar; logo, comunica -se ao partícipe.
2ª) O terceiro mata o recém-nascido, contando com a participação da mãe: o terceiro realiza a conduta principal, ou seja, “mata alguém”. Como tal comportamento se subsume no art. 121 do CP, ele será autor de homicídio. A mãe, que praticou uma conduta acessória, é partícipe do mesmo crime, pois o acessório segue o principal. Com efeito, a mãe não realizou o núcleo do tipo (não matou, apenas ajudou a matar), devendo responder por homicídio.
No entanto, embora esta seja a solução apontada pela boa técnica jurídica e a prevista no art. 29, caput, do CP (todo aquele que concorre para um crime incide nas penas a ele cominadas), não pode, aqui, ser adotada, pois levaria ao seguinte contra-senso: se a mãe mata a criança, responde por infanticídio, mas como apenas ajudou a matar, responde por homicídio. Não seria lógico.Portanto, nesta segunda hipótese, a mãe responde por infanticídio.
3ª) Mãe e terceiro executam em coautoria a conduta principal, matando a vítima: a mãe será autora de infanticídio e o terceiro, por força da teoria unitária ou monista, responderá pelo mesmo crime, nos expressos termos do art. 29, caput, do CP. Não pode haver coautoria de crimes diferentes, salvo nas exceções pluralísticas do § 2º do art. 29 do CP, as quais são expressas e, como o próprio nome diz, excepcionais.
*** Há posição minoritária na doutrina que afirma que por se tratar de condição personalíssima (Estado Puerperal), não há possibilidade de comunicação.
CONCURSO DE CRIMES
Haverá concurso material com o delito de infanticídio se a genitora também ocultar o cadáver do infante (CP, art. 211).

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