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Vacinologia – 1ª Avaliação 2017/2 Página | 1 AULA 1 - Vacinologia – Revisão de Imunologia (28/09) Professora Ana Paula Peconick Esta aula é uma revisão de conceitos de imunologia que precisam estar sólidos para a matéria – cai na prova aplicada à vacinologia, não será perguntando de maneira direta da imunologia básica. * “Vacina ideal” ainda não existe, uma vacina atender todos os pré-requisitos biológicos já é muito difícil, e se atender já quebra um custo que seria ideal. 1. DEFINIÇÕES - Imunidade (immunis) é a capacidade do organismo de reconhecer substâncias, considerá-las estranhas e promover uma resposta contra elas, tentando eliminá-las. É um sistema que já está “pronto” e se adapta a presença do corpo estranho. Imunidade inata é a primeira linha de defesa, e a especializada é a Adaptativa. Existe reposta imune estéril, sem a presença de um patógeno ou corpo estranho? Sim, pode haver resposta autoimune. Também pode ser desejável sem um corpo estranho, como por exemplo atividade física. Esporte: não tem resposta de um corpo estranho, mas tem uma resposta imunológica. Quando sofremos um trauma há uma resposta que é desejável para controla-lo, mas não é um corpo estranho. Assim como ocorre em fraturas não expostas – tem uma resposta inflamatória necessária para reestabelecer função, com imunidade atuando. Não precisa de um CORPO ESTRANHO, precisa de alguma coisa que seja considerada estranha naquele momento. - Formas de Ativar o SI: • DAMP: Padrões moleculares associados ao dano. • PAMP: Padrões moleculares associados ao patógeno. • Quando as células mudam as expressões dos receptores delas, como por exemplo pela ausência de MHC, pode ser suficiente para ativar uma célula Natural Killer (NK). - Pensando em vacinas, a principal forma de ativação vai ser mesmo utilizando um antígeno (PAMP). Mas se já penso em um adjuvante, imunomodulador inespecífico, já posso pensar em DAMP – é uma linha de pesquisa que existe na UFLA. - Porque seria interessante o uso de imune estimulante inespecífico? Em doenças imunodepressoras ou um animal em tratamento imunossupressor que está mais debilitado, é interessante o uso do imunoestimulante inespecífico para deixar seu SI em estado de alerta em geral, pois não sabemos o que vem por aí. Já existem para cães, aves e bovinos. • Mesmo para o animal saudável ás vezes é interessante. Ex: Ir para um ambiente que não se conhece a situação epidemiológica, ou situação em que não há imunopreveníveis/vacina, já dá uma ajuda para esses animais. Vacinologia – 1ª Avaliação 2017/2 Página | 2 - “Estranho”: • substâncias que não são próprias do organismo • micro-organismos • células neoplásicas • substâncias próprias o Ou substâncias próprias no “lugar errado”: ácido úrico, proteínas de choque térmico, ácido lático no exercício. Ativam o sistema imune. SITUAÇÃO NÃO PERIGOSA, ativação via DAMPs ou células NK. o Questão autoimune. PERIGO - Diferença entre SISTEMA X RESPOSTA IMUNE: O sistema imunológico (Imunidade) ou sistema imune é aquele responsável pela imunidade, ou seja, que determina a defesa do indivíduo contra agentes agressores. “É o que nos constitui, todos nós temos”, o que não significa que todos estamos ativando o SI neste momento. Quem ativa é quem está de fato produzindo uma RESPOSTA. Ás vezes há como usar como sinônimos, mas outros fica distorcido. Ex: Alguém muito estressado, alguém que está tentando metabolizar uma toxina estão produzindo resposta neste momento, mas ter o sistema todos nós temos sempre. A resposta imunológica é o mecanismo pelo qual o organismo reconhece e responde à substância que considera estranha. 2. FUNÇÕES DA RESPOSTA IMUNE Para proteger o indivíduo de maneira eficaz contra uma doença, o sistema imune deve satisfazer quatro principais características. Ou seja, deve passar por essa sequência de eventos: 1. Reconhecimento imunológico: do que é estranho/está no lugar errado. 2. Funções imunes efetoras: para tentar eliminar ou neutralizar o antígeno. O SI não é imune, ás vezes ele só neutraliza um patógeno e ele acha que o problema está resolvido, mesmo não estando. Ex: Tuberculose. 3. Regulação imune: Depois que o organismo entende que ele eliminou/neutralizou o antígeno, ele tem que retornar aos níveis basais. Faz parte do SI uma regulação imune, seja para retornar a homeostasia ou para prevenir respostas exacerbadas. 4. Memória imunológica: “menina dos olhos da Vacinologia” – graça à construção da memória imunológicas as vacinas são possíveis. Exemplo: Se fizer um novo vírus “Peconick” em laboratório, nosso SI está pronto para reconhecer o vírus? Sim, mas não para montar resposta para eliminá-lo. Lembrar que a produção de receptores, principalmente do SI adaptativo que sofrem rearranjo genético é um evento absolutamente aleatório. Já temos receptores tanto de células B quanto T prontos até para o que não existe. Iríamos morrer? Provavelmente, se for um vírus de alta taxa de letalidade – ele vai atacar antes da resposta ser consolidada. Se nos dessem uma dose de vacina antes: O objetivo da vacinação não é produzir mecanismo que reconhecem o vírus, é multiplicar o que reconhece. É ensinar para o corpo como eliminar e neutralizar aquele vírus antes de ele causar doença, mas teoricamente nós já temos os receptores que precisamos no corpo. Do SI inato são receptores que vêm da linhagem germinativa – então Vacinologia – 1ª Avaliação 2017/2 Página | 3 dependem do pai e da mãe, enquanto humanos teremos basicamente os mesmos – mas o sistema imune adaptativo vem da história de vida de cada um, mas não esquecer que é um evento aleatório: Não precisa da vacina para reconhecer um novo antígeno, mesmo que surja uma doença nova. A vacina é para poder responder de uma forma mais rápida e efetiva. 3. CLASSIFICAÇÃO DA RESPOSTA IMUNOLÓGICA - Humoral e Celular • Humoral: É a resposta mediada por uma coleção de moléculas, constituída por componentes bioquímicos do organismo. o Ex: RI adaptativa – principal componente da resposta humoral são as moléculas de anticorpo. o Na RI inata – são as citocinas, proteínas de fase aguda (com destaque para as proteínas do complemento), mediadores químicos, tudo isso é constituinte da resposta humoral inata. Lembrando que as citocinas também pode participar da RI adaptativa. • Celular: Mediada por células. o Na RI adaptativa são os linfócitos T. A função primordial efetora do LB é produção de anticorpo, então não consideramos o LB como importante mediador na resposta celular adaptativo. o SI inato: Neutrófilos, eosinófilos, células dendríticas, basófilos, mastócitos, linfócitos T-gama-delta, células NK. Exemplo: Somos responsáveis por uma clínica, e vem um representante tentar nos vender uma vacina. Se ele disser que “A vacina é muito boa pois tem um título de anticorpo alto”. Considerando a maior parte das vacinas, elas são prevenção para que tipo de agente etiológico? Vírus. Qual resposta é mais importante contra vírus, celular ou humoral? A celular sem dúvida nenhuma, porque o AC só consegue pegar o vírus antes dele infectar a célula. Depois que ele entrou na célula o AC não consegue atingi-lo, quem vai agir será Linfócito T-citotóxico e células NK principalmente. A resposta mais importante contra patógenos intracelulares e células alteradas é a resposta celular. Considerando isso, porque então a primeira informação que se dá sobre vacina é título de anticorpo? A maioria dos folders de vacina está falando em título. Ou quando falamos se estamos protegidos contra a raiva, vamos ver a titulação. Porque isso, se é a celular que interessa? Ou pensando por outro ângulo, como avalia a resposta celular de uma pessoa ou animal? Como sabemos queum animal produziu resposta celular após aplicar uma vacina? A sorologia por exemplo, serve para medir a resposta humoral. Teria que coletar um órgão e fazer uma imuno-histoquímica (Ex: baço). Isso é absolutamente inviável na rotina, só é feito em pesquisa. Por isso fazemos a avaliação da resposta imune humoral – é muito mais fácil dosar anticorpo no soro, criança pode avaliar até com saliva, do que fazer uma avaliação da resposta celular. Mas devemos ter em mente que o que interessa para um patógeno intracelular é principalmente a resposta celular. Então por isso se fomos tomar uma decisão sobre esse representante comercial querendo que nós comercializemos sua vacina, teríamos que perguntar, “Mas foi feito um estudo de resposta celular na sua vacina? Ou só tem título alto?”. E além disso, título é um ótimo padrão, mas não é tudo – ás vezes ter um título alto não significa necessariamente que a resposta será boa. Vacinologia – 1ª Avaliação 2017/2 Página | 4 Vamos considerar um vírus e uma célula, e considerar que o vírus só consegue entrar na célula se esta parte mais abaulada (representada em vermelho) conseguir se ligar ao receptor da célula. E em seguida vamos considerar dois tipos de anticorpo: AC1 (Y roxo) e AC2 (bolinha amarela). Considerando o desenho como sendo representativo, o AC 2 tem um título de anticorpos maior do que o AC1. Agora, qual anticorpo é o neutralizante? O AC1, pois se cobriu só esse pedacinho vermelho já impediu que o vírus entre – então essa vacina vai prevenir a infecção. A neutralização pode ser a principal função realizada por uma imunoglobulina. Claro que o AC2 (bolinha) ali vai contribuir com a opsonização e a citotoxicidade celular, mas o neutralizante aqui é o AC1. Por isso devemos ser chatos com os vendedores de vacina. A vacina deste AC1 não previne infecção, mas poderia evitar uma doença grave. Existem vacinas assim: algumas que previnem infecção, e outras que previnem a doença (existem várias no mercado, como por exemplo a para catapora. A pessoa pode ter uma catapora branda mesmo vacinada). * Vacina de Giárdia: não tem bons resultados. Hoje a professora ainda não recomenda esta vacina, do ponto de vista prático é melhor seguir a recomendação: “a água que você toma, é a que você dá para o seu cachorro” (seja filtro, torneira, mineral, etc.) Se você tiver giardíase, o cachorro também terá. Muito mais efetivo que a vacina, pois ela tem um resultado controverso (variável). Ás vezes é bom ter no consultório, porque na cabeça do proprietário ele pode considerar que você não é bem equipado. A título de curiosidade, vacina veterinária é muito fácil de entrar no mercado, mais do que na medicina humana. Em contrapartida, é mais bem fiscalizada e é por isso que algumas vacinas que começamos a usar logo saem do mercado. As vacinas humanas ficam mais tempo porque a fiscalização e a checagem se a vacina está funcionando ou não é menor. A desvantagem de entrar rápido é que as vezes entram coisas que não estão funcionando. Vacinologia – 1ª Avaliação 2017/2 Página | 5 Outra questão: tem o calendário vacinal do governo e o calendário da sociedade brasileira de vacinação. A vacina da catapora por exemplo é só dada uma dose de maneira gratuita, mas com só uma dose chega em torno de 75% de eficácia. Já se der outra dose, chega a 95%. A qualidade da vacina pública é boa pois o Brasil é referência na produção de imunobiológicos e temos uma política muito boa para entrada de vacinas no país. (Ex. Vacina francesa contra a dengue, a França tem 5 anos para comercializar e depois será obrigada a ensinar o Brasil para depois produzirmos uma vacina nacional com a mesma tecnologia). A pública vem várias doses em um mesmo frasquinho, a particular é uma dose individual. Ambas têm boa qualidade, ás vezes o que se deve considerar é por exemplo, na pública existe uma na infância que é pentavalente (+ Hepatite) e particular é Hexavalente e uma vacina que dá menos reação – pode ser vantagem, mas em questão de eficácia é equivalente. “Segunda Revolta das Vacinas” – vindo de cima para baixo, pessoas instruídas estão usando informações não confiáveis para tentar derrubar as vacinas. Muitas coisas públicas precisam ser feitas em função de recursos e logística em vez de raciocínio biológico. Por exemplo, na Leishmaniose faz a Cromatografia (teste rápido) e depois ELISA – mas como pode dar falso negativo o ideal seria fazer ELISA primeiro, todo sanitarista e veterinário sabe isso. Mas não se faz, pois ELISA não é viável de rotina, só que isso é errado pois quer dizer que tem positivo escapando na triagem. Portanto o que se tenta fazer é trabalhar na cromatografia para ter menor incidência de falso negativo, é uma coisa só para não ficar parado. Em qualquer outra situação normalmente o teste da triagem serve para eliminar os negativos (não pode dar falso negativo) e o segundo teste serve de confirmatório, Leishmaniose é o único que é ao contrário por causa de manejo. - Inata e Adaptativa • Resposta Inata: primeira linha de defesa, baixa sensibilidade, baixa especificidade, não tem memória, baixa diversidade, tolerância a antígenos próprios, capacidade retornar a homeostasia. A resposta independe do tipo do antígeno: responde sempre na mesma velocidade e magnitude. • Resposta adaptativa: alta sensibilidade, alta especificidade, alta diversidade, tolerância a antígenos próprios, memória, retorno a homeostasia e expansão clonal. É onde as vacinas vão atuar, pois o objetivo da vacinação é a construção da memória para imunização. Eu preciso preocupar com a inata quanto penso com uma vacina? Sim, pois se não ativar a inata não ativa a adaptativa. Na vacina, esta ativação da RI inata se dá através do adjuvante (provoca uma inflamação). Se a inata tem baixa especificidade, significa que eu posso usar o mesmo adjuvante para todas as vacinas. A maioria das vacinas veterinárias vão ser constituídas ou por hidróxido de alumínio ou saponina. Humana, usa hidróxido de alumínio. O objetivo do adjuvante é só ativar a imunidade inata. Em algumas vacinas se tenta tirar o adjuvante para diminuir a ocorrência de fibrossarcoma, mas ainda é questionado. Fibrossarcoma em gatos: na verdade, vacina cauda aumenta a probabilidade do fibrossarcoma pois é extremidade. (Assim como pernas) A circulação é mais difícil, aumenta a resposta inflamatória e pode ficar mais crônica e aumenta probabilidade. Mas em contrapartida, se vir a ocorrer é mais fácil tirar a cauda ou um membro do que se for um fibrossarcoma muito agressivo no dorso. Então temos uma balança – o que temos de fato? Os estudos mostram que a maioria dos veterinários ainda vacinam no dorso. Então ainda não se pode falar se a incidência é maior ou menor, pois só vacina lá praticamente. O que é unânime para especialista em felinos no Brasil é vacinar cauda pensando na Vacinologia – 1ª Avaliação 2017/2 Página | 6 amputação, mas a reposta é a mesma – só aumenta a probabilidade de fibrossarcoma. A incidência não é muito alta, é 1% - menos provável de ter do que uma doença para qual se vacina, por isso não se recomenda de maneira alguma suspender a vacina. Normalmente o que se faz na Europa é montar um mapinha para poder dividir as vacinas. A Ana Paula como visão de imunologista prefere vacinar o dorso pois como a incidência é baixa, vacinando no dorso fica mais baixa ainda, mas os especialistas em felinos no Brasil costumam recomendar a cauda. Ainda falta respaldo científico para se ter certeza absoluta sobre a ocorrência, só há relatos boca-a-boca sobre a incidência cauda x dorso e dados brutos. - (Resposta) Primária e Secundária • Primária: É o que seu organismo entende como primeiro contato com o antígeno. Nem sempre a resposta primária é de fato o primeiro contato – pode ser a segunda vez queo antígeno entra em contato, mas é resposta primária. Ex: Herpesvírus, vem toda hora na boca e deixa lesões no mesmo local. Porque? Cada hora ele apresenta determinantes antigênicos diferentes, então o organismo entende como resposta primária – na hora que ele constrói a secundária, o vírus já escondeu no SNC de novo esperando nós estarmos imunocomprometidos. Vírus da AIDS, mesma coisa – não conseguimos a cura pois cada hora vem um determinante antigênico. Não tem como ter uma AIDS branda, as formas de evasão desse vírus são assustadoras, por isso as vacinas objetivam impedir a infecção. • Secundária: Ponto subsequente, um mesmo antígeno reconhecido como sendo o mesmo onde nós vamos ter uma resposta mais forte e mais rápida. Uma resposta que é quantitativa e qualitativamente superior a primária. É por causa desta resposta secundária que podemos utilizar as vacinas – vou produzir uma resposta mais forte e mais rápida. Cuidado: Por uma questão de marketing, as indústrias farmacêuticas acabam chamando qualquer coisa que estimula o sistema imunológico de vacina, mas as vezes há coisas que não são vacinas no sentido de induzir memória. Há várias “vacinas contra o câncer” que na verdade são tratamento que trabalham com ativação do sistema imunológico. “Vacina da imunocastração” é um GnRH modificado. Também a “vacina contra o Ebola” é um tratamento – você já foi infectado e vai impedir a entrada do vírus, não gera memória, cuidado com as terminologias. - (Resposta) Ativa e Passiva Não vai classificar agora, pois haverá depois uma aula só de passiva, e depois o restante todo do curso será focado na ativa. 4. RESPOSTA HUMORAL E CELULAR - Imunidade Humoral: Mediada por moléculas, como os anticorpos (Acs – SI adaptativo) que são produzidos pelos linfócitos B, proteínas do complemento e outras moléculas solúveis. Os Acs reconhecem os Ags microbianos, neutralizam a infecciosidade dos mos e o preparam para serem eliminados por diversos mecanismos efetores. • Principal mecanismo de defesa contra mos extracelulares e suas toxinas. o Mas a resposta humoral também é desejável contra mos intracelulares antes deles entrarem na célula. o Então é interessante para aquilo que está fora da célula. Vacinologia – 1ª Avaliação 2017/2 Página | 7 Precisa de um título de anticorpos altos para estar protegido contra determinada doença? A resposta é que depende. Para algumas doenças sim, como por exemplo na raiva precisa do título alto. Para outras basta você ter células de memória pois há tempo hábil para reativar estas células, produzir anticorpo e ainda assim neutralizar a doença. Ex: Hepatite. Depende então de característica do agente etiológico agente etiológico. Se ele é muito agressivo, tenho que estar sempre com o título alto. Se ele não é tão agressivo, se dá tempo do SI reativar as células de memória, posso esperar e não precisa do título alto (basta saber se tem células de memória). Mas se não tem como coletar um linfonodo ou um baço para avaliar as células de memória, como vou saber que elas estão suficientes? Como exemplo prático, um doador de sangue que toma uma vacina contra hepatite, acabou o protocolo. Como saber se tem células de memória? Não sabemos, então o que é feito é titular o AC 15-21 dias depois da última dose. Uma vez que teve esse título alto, nunca mais precisa preocupar com aquela doença. Se não atingiu, toma mais uma dose e faz novamente. Já doenças como a raiva é diferente – tem sempre que titular. (Grupo de risco: reavaliar de 6 em 6 meses), não tenham a falsa sensação de que “vacinei estou protegida” pois não é bem assim que funciona. Imunizar é o objetivo de vacinar, mas não quer dizer automaticamente que deu certo. Quanto seu título de raiva permanece alto mesmo você tendo tomado a vacina a muito tempo, pode ser que você foi exposta ao vírus e não sabe. Veterinário é grupo de risco – fazer sorologia a cada 6 meses se trabalha com grandes e 1 ano se trabalha com pequenos. Sobre a questão de agora a vacinação da raiva está intradérmica, é uma vantagem pois pode ser capaz de estimular mais a resposta imune inata devido a vi (é mais reativa, tem tido um resultado melhor então diminui a quantidade de dose necessária). Outro ponto interessante: Botulismo – tenho vacina contra a toxina e contra o Clostridium botulinum (agente bacteriano). Considerando que somos responsáveis por uma propriedade que o proprietário diz que tem dinheiro para comprar uma só, e não é a polivalente. Qual escolher? Depende do status epidemiológico deste rebanho. Se é um rebanho que já está circulando o agente, e teve um surto mesmo nas propriedades vizinhas, o melhor é vacinar contra a toxina. Se for uma propriedade que quero certificar, está tudo zerado e é bem isolada e com bons níveis de Biosseguridade, podemos vacinar contra a bactéria para prevenir a entrada dela e consequentemente das toxinas. O que costuma ser feito na prática é já comprar a polivalente (vem contra a bactéria e contra a toxina). - Imunidade Celular: Mediada por linfócitos T, macrófagos, neutrófilos, células NK. Promove a destruição dos mos localizados em fagócitos ou a destruição de células infectadas (e por tabela acaba destruindo tudo que está dentro dela incluindo o mo invasor) para eliminar os reservatórios da Vacinologia – 1ª Avaliação 2017/2 Página | 8 infecção. Interessante contra mos intracelulares e células alteradas, principalmente tumorais ou neoplásicas. 5. RESPOSTA INATA E ADAPTATIVA - Imunidade Inata: Imunidade natural ou nativa. Linha de defesa inicial contra mos, consistindo em mecanismos de defesa celulares e bioquímicos (humorais) que já existiam antes do estabelecimento de uma infecção (presença do antígeno, e não se adaptam a presença dele) e que estão programados para responder rapidamente a infecções. - Imunidade Adaptativa: Imunidade adquirida ou específica. Resposta imunológica que é estimulada pela infecção a agentes infecciosos ou outros antígenos, cuja magnitude e capacidade defensiva aumentam com exposições posteriores a um antígeno particular. É a resposta que se adapta a um antígeno particular e também aos determinantes antigênicos. Comentário: Um artigo que saiu na Nature fala que pessoas que têm doença autoimune tem probabilidade maior de curar contra o vírus da AIDS. A pessoa que tem doença autoimune tem o SI mais reativo, mais células descontroladas escapam dos órgãos linfoides primários e ficam pela circulação. É como se o SI de uma pessoa saudável para reconhecer um MO como estranho precisava reconhecer todas as características dele – todos os determinantes antigênicos, se mudar alguma coisinha ele reconhece como uma coisa nova. O SI de uma pessoa tem uma doença autoimune, pode estar sem alguma das características, mas só na hora de reconhecer uma determinada estrutura ele já ataca, por isso ele ataca coisas próprias. Então quando o vírus da AIDS faz as suas mudanças de epítopos no organismo de uma pessoa com doença autoimune, o SI dela acaba atacando o vírus uma hora sem querer – porque como ele não é tão específico (mais auto-reativo) não precisa reconhecer todo o repertório. Vacinologia – 1ª Avaliação 2017/2 Página | 9 - Comparação - Receptores da superfície celular: Aqui estão esquematizadas quatro pessoas. De um lado os receptores do SI inato, e do outro do SI adaptativo. • SI INATO: Os receptores do Inato são da linhagem germinativa, nascemos e morremos com eles. O que significa que considerando uma mesma espécie, temos os mesmos receptores. o “Um número limitado de receptores de reconhecimento de padrões constitutivos” • SI ADAPATIVO: Como eles vão se adaptando a história de vida de cada um de nós, nem gêmeos univitelinos não é igual. (Estímulos diferentes, selecionam umrepertório celular diferente) o “Um número enorme de receptores gerados somaticamente por rearranjo genético”. • A figura representa os receptores inatos de reconhecimento de padrões e receptores adaptativos gerados somaticamente. Cada indivíduo expressa receptores de reconhecimento de padrões (SI inato) e receptores somaticamente gerados (SI adaptativo). - Comparação – Tempo e intensidade de resposta: A forma geométrica (bolinha ou quadrado) indica intensidade de resposta e o reloginho, tempo. • Na Imunidade inata isso não varia. • Na adaptativa, o reloginho vai ficando cada vez mais rápido e a resposta mais intensa. • Uma coisa que a professora não chama a atenção na disciplina de Imunologia, mas chamará aqui: quando chega a um determinado fator de respostas subsequentes, essa RI adaptativa é quase tão rápida quanto a inata. Daí a gente entende as manifestações alérgicas, por exemplo, serem mediadas por IgE e serem alguns minutos após o contato com o antígeno – já tem tantos efetores ali esperando, que a resposta é rápida. • Avançando com outra informação importante ainda não vista na Imunologia básica pela turma: existem os linfócitos B e T - Eles são divididos em linfócito efetor, naive e de memória. Vacinologia – 1ª Avaliação 2017/2 Página | 10 Então agora apresentando uma nova divisão: temos 2 tipos de linfócitos de memória – linfócitos de memória central e de memória efetores. Alguns livros classificam como linfócitos de memória (centrais) e plasmócitos de longa duração (“memória efetora”). o As células de memória central são aqueles que vão migrar de volta para os órgãos linfoides primários, principalmente medula e ficar ali guardando aquela memória pelo maior tempo de vida que for possível. o Os linfócitos de memória periféricos (ou plasmócitos de longa duração/células de memória efetores) são as células de memória que estão nos órgãos linfoides secundários, e às vezes até na circulação para responder mais rápido ao encontro secundário. o Lá no início da graduação só falava que “responde mais rápido”, mas ficava a dúvida “como, se migrou lá na medula?” – é porque não são todas que migram. o Malária – pode pegar mais de uma vez? Infelizmente segundo a WHO sim, existe uma brasileira que pegou mais de 30 vezes. Não há vacina contra malária, embora existem muitas pessoas estudando. Qual o problema da malária? Só gera célula de memória central – não gera célula de memória efetora então não responde mais rápido nunca. Tão difícil que nem infecção natural gera memória, pior ainda quando pensar em produzir uma vacina. ▪ Característica de evasão do patógeno, ele reconhece, mas também não promove expansão clonal de forma eficaz, ou as células de memória efetora até são geradas, mas não tem um ciclo de divisão acelerado e não dura. Virulência do patógeno para o qual ainda não temos resposta para driblar. 6. RESPOSTA PRIMÁRIA E SECUNDÁRIA - O desenho ao lado é o exemplo de um protocolo vacinal de duas doses – já alcanço a resposta que quero o animal está protegido. - Porque algumas polivalentes dou mais doses? Pois quanto mais eu divido a valência de uma vacina (doenças) mais fraca fica essa reposta. • Já “aprendemos” isso em veterinária pois já chegaram a existir vacinas de 20 valências (com vários tipos de doenças e ainda sorotipos), mas isso divide muito a resposta. Já em humana estão procurando muito aumentar a valência por questão de “manejo” (“furar a criança menos”), não estão aprendendo com nossos erros. • Se a vacina está funcionando bem, custo é bom, eficácia é boa, melhor não mexer. Algumas vacinas que produzimos hoje ainda são protocolo de Pasteur (primeira pessoa que deu metodologia científica na produção de vacinas). Se funciona bem, nem tudo precisa aperfeiçoar para engenharia genética desde que o risco esteja aceitável. Vacinologia – 1ª Avaliação 2017/2 Página | 11 - Fases da Resposta Imune: Este gráfico (resposta x tempo após exposição do antígeno) está mostrando as fases da resposta imunológica, desde ativação da ri adaptativa, expansão clonal, produção de células efetoras, recrutamento de células efetoras inclusive do inato, destruição de células, retorno a homeostasia, células de memória. Toda resposta imunológica passa por isso (no sistema imune adaptativo). Todo antígeno tem um tempo. Exemplo: Se é uma vacina que precisa de reforço anual. Se 2 meses depois você dá uma dose, cai no meio da construção de uma resposta – é como se essa segunda dose não existisse! Por isso que a gente NÃO adianta vacina. É preferível atrasar um pouco e perder um pouco de título de anticorpo, o prejuízo é menor do que adiantar a vacina. Quando “adianta” vacina é com outro objetivo, como dar um gás em cavalos para produzir soro hiperimune, em pesquisas. Não é com objetivo de construir memória. Sempre verificar a bula da vacina e ver se conduziram estudos sobre isso para saber qual sua tolerância de atrasar a vacina ou mudar protocolo. Já vacinas polivalentes – a cada 21 dias a 30 dias pode dar uma dose, isso foi estudado e dá tempo de construir resposta – ver se a bula permite esta flexibilidade, normalmente sim. A próxima dose começa a responder a partir da última curva (como mostra o gráfico acima de resposta primária e secundária), então atrasar o que acontece é só que vai produzir uma resposta menor do que seria se Vacinologia – 1ª Avaliação 2017/2 Página | 12 tivesse dado o reforço no dia certo. Em humanos a orientação é não atrasar vacina nem 24 horas que seja. Só é válido adiantar protocolo se o fabricante fez estudo científico comprovando isso (ex: raiva em equinos em caso de surto algumas indústrias autorizam adiantar, alguém estudou e viu que não atrapalha a resposta e pode vacinar a cada 6 meses em vez de a cada ano). Cuidado para não adiantar as vacinas no geral sem respaldo científico, senão é como se a segunda dose não tivesse acontecido e é jogar dinheiro fora. A maioria das vacinas funciona muito bem dando o reforço a cada 21 dia. “Mundo real” – porque a gente recomenda a cada 30 dias? Questão de dinheiro, quando as pessoas receberam o salário e cada dose paga em um mês. O fator financeiro influencia muito na prática da clínica. Além disso, as pessoas adotam muito as práticas de Biosseguridade quando veem a relação com o financeiro (quanto custa, como vai beneficiar, quanto vai economizar a propriedade/proprietário/indústria). - Principais Características da Imunidade Inata e Imunidade Adaptativa (Resumo) Vacinologia – 1ª Avaliação 2017/2 Página | 13 - Classes de Linfócitos: Revisão Então basicamente: • T auxiliar: ativa macrófagos e ativa LB • T citotóxico: destrói células • B: produz anticorpo • Tgamadelta: é um linfócito do SI inato tanto com função do inato quanto do adaptativo. Dentro do adaptativo, tanto com função do auxiliar quanto do citotóxico. • NK: linfócitos do SI inato. • NKT: Céls regulatórias com função de equilíbrio. - Subconjuntos das células T CD4+: Importante destacar, as células T auxiliares se dividem em perfis de resposta. Divisão em perfis de resposta • Perfil TH1: efetivo contra protozoários, vírus, bactéria, fungo. Onde houver uma resposta inflamatória, antes de ativar os LTaux provavelmente vou estar conduzindo uma resposta deste tipo. • Perfil TH2: resposta contra helmintos, ectoparasitos e é a resposta desejável na gestação normal. (Pois se for TH1, vai induzir a abortamento do embrião em má formação) É também a resposta na hipersensibilidade do tipo 1. • Perfil TH17: associada a mucosas e o desequilíbrio dela a doenças autoimunes (uma resposta pró-inflamatória muito exacerbada)• Perfil TREG: relacionada ao retorno a homeostasia. Vacinologia – 1ª Avaliação 2017/2 Página | 14 Lembrar que a construção de uma resposta atrapalha na outra. Ex: quando estivermos falando de vacinação em gestante, primeiro – vacina viva será contraindicado, pois se é vivo, por mais que esteja atenuado para o feto pode ser muito. Quando quebrar essas regras? Se o risco da doença for maior para a mãe, mas em geral contraindicado para as gestantes. Mas mesmos as vacinas inativadas tenho que ter um momento ideal da vacina. Por exemplo se estou fazendo uma fertilização in-vitro, não é bom vacinar muito próximo daquele dia antes de estabelecer o perfil th2 – pois na vacina eu quero o perfil th1 e a gestação precisa da th2. * Sugestão de leitura: http://www.scielo.br/pdf/rbr/v50n4/v50n4a08.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbr/v50n5/v50n5a08.pdf
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