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SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros 
 
ZILIO, D. A natureza comportamental da mente: behaviorismo radical e filosofia da mente [online]. 
São Paulo: Editora UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010. 294 p. ISBN 978-85-7983-090-7. 
Available from SciELO Books <http://books.scielo.org>. 
 
 
 
All the contents of this chapter, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution-Non 
Commercial-ShareAlike 3.0 Unported. 
Todo o conteúdo deste capítulo, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a licença Creative Commons Atribuição - 
Uso Não Comercial - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 Não adaptada. 
Todo el contenido de este capítulo, excepto donde se indique lo contrario, está bajo licencia de la licencia Creative 
Commons Reconocimento-NoComercial-CompartirIgual 3.0 Unported. 
 
 
 
 
 
 
Fundamentos do behaviorismo radical 
 
 
Diego Zilio 
2
FundAmentos 
do behAviorismo rAdicAl
2.1 definindo o comportamento
comecemos com a definição do objeto de estudo da psicologia 
tal como apresentada pelo behaviorismo radical: o comportamento. 
no entanto, definir o que é comportamento não é tarefa simples. 
trata ‑se de uma das questões mais debatidas e nebulosas a respeito 
do behaviorismo (e.g., abib, 2004; Burgos, 2004; De rose, 1999; 
Kitchener, 1977; lee, 1983, 1999; lopes, 2008; matos, 1999; Pe‑
ressini, 1997; ribes ‑iñesta, 2004). catania & harnad (1988), por 
exemplo, colocaram o problema da definição do comportamento 
como uma das dez questões centrais do behaviorismo radical que 
ainda geram equívocos e desentendimentos.
a nossa estratégia para chegar a uma definição do comporta‑
mento consistirá na análise de alguns textos em que skinner apre‑
senta características do comportamento, o que nos dará indícios de 
uma possível definição. a primeira dessas citações apresenta uma 
tentativa manifesta de definição do comportamento. sob o subtí‑
tulo “a definition of behavior”, do livro The behavior of organisms, 
skinner (1938/1966a, p.6) escreve:
64 DIEgo ZILIo
É necessário começar com uma definição. o comportamento é 
apenas parte da atividade total de um organismo. [...] o com‑
portamento é o que o organismo está fazendo. […] é aquela parte 
do funcionamento do organismo encarregada de agir sobre, ou 
em ter comércio com, o mundo externo. […] Por comporta‑
mento, então, eu quero dizer simplesmente o movimento de um 
organismo, ou de suas partes, em um quadro de referência forne‑
cido pelo próprio organismo ou por vários objetos externos ou 
campos de força. É conveniente falar [do comportamento] como 
a ação do organismo sobre o mundo externo, e é mais desejável 
lidar com um efeito do que com o movimento em si.
o comportamento seria, então, apenas parte da atividade do or‑
ganismo. a filtragem do sangue feita pelos rins, por exemplo, é um 
processo que ocorre no organismo, mas não se enquadraria na defi‑
nição de comportamento. isso porque o comportamento é o que o 
organismo está fazendo. o verbo “to do”1 em inglês indica essen‑
cialmente uma ação, então não podemos dizer que qualquer ati‑
vidade que ocorra no organismo seja comportamento. skinner 
continua com sua definição dizendo que o comportamento é a parte 
do funcionamento do organismo responsável pela sua ação sobre, 
ou em interação com, o mundo externo, e, ao concluir sua definição, 
apresenta mais algumas características: o comportamento seria o 
movimento do organismo como um todo ou de suas partes num 
quadro de referência.
tratemos primeiramente do que significa dizer que o com‑
portamento é parte da atividade do organismo. em outro texto, 
skinner (1931/1961c, p.337) afirma que o comportamento deveria 
“incluir a atividade total do organismo – a função de todas as suas 
partes”. ao que parece, então, skinner se contradiz. antes o autor 
(1931/1961c) afirma que o termo deveria se referir à atividade total 
do organismo, mas depois (1938/1966a) defende que o comporta‑
1. em inglês o, trecho de skinner (1938/1966a, p.6) é: “Behavior is what an orga‑
nism is doing”.
A NATUREZA ComPoRTAmENTAL DA mENTE 65
mento é parte da atividade do organismo. entretanto, a contradição 
não se sustenta. ao afirmar que o conceito de comportamento de‑
veria abarcar a atividade total do organismo, talvez skinner apenas 
esteja sugerindo que a atividade total do organismo é necessária 
para a ocorrência do comportamento – todos os processos que 
ocorrem no organismo são necessários para, pelo menos, mantê ‑lo 
vivo e apto para se comportar. ou talvez a ênfase na atividade total 
seja reflexo de seu ideal de assumir o comportamento como um 
objeto de estudo em si mesmo (skinner, 1931/1961c, 1938/1966a, 
1961f, 1979, 1980/1998). De qualquer forma, na sequência do 
texto, skinner (1931/1961c, p.337) afirma que um conceito tão 
geral, que abarcaria a atividade total do organismo, não se sustenta: 
“obviamente, [uma] aplicação adequada [do termo] é muito menos 
geral, mas é difícil alcançar uma distinção clara”. isso significa que 
não há uma delimitação clara entre qual seria exatamente a parte da 
atividade do organismo que poderíamos classificar como compor‑
tamento.
não obstante, a dificuldade reside apenas quando tentamos de‑
limitar a atividade que faz parte do comportamento do organismo 
focando ‑se apenas na própria atividade. É por isso que skinner 
(1938/1966a) afirma que comportamento é o que o organismo faz, e 
“fazer” indica uma atividade que está sendo realizada num dado 
intervalo de tempo. Dessa forma, o comportamento seria um pro‑
cesso, mas não um processo qualquer – especificamente, o compor‑
tamento envolve uma ação, o processo em que o organismo age 
sobre, e interage com, o mundo externo. skinner (1938/1966a) possi‑
velmente destacou a questão do agir sobre o mundo externo a fim 
de diferenciar as relações respondentes das relações operantes: en‑
quanto as primeiras envolveriam respostas eliciadas por estímulos 
antecedentes, as últimas seriam constituídas por classes de res‑
postas selecionadas de acordo com as consequências, ou seja, de 
acordo com os efeitos que ação produz no ambiente (seção 2.3). 
outro ponto importante é que skinner (1988, p.469) afirmou, em 
texto posterior ao que contém a sua definição, que a expressão “‘o 
que o organismo faz’ é problemática porque ela implica que o orga‑
66 DIEgo ZILIo
nismo inicia o seu comportamento”. Deveríamos, então, aban‑
donar a caracterização “o que o organismo faz” na definição do 
comportamento? Da forma como ela está posta, talvez seja a me‑
lhor alternativa. entretanto, ela indica uma característica impor‑
tante do comportamento: o comportamento está na atividade do 
organismo cuja característica principal é a interação com o mundo 
externo.
outro termo utilizado na definição de skinner (1938/1966a) é 
“movimento”. a atividade que define o comportamento seria ca‑
racterizada apenas por movimentos musculares, observáveis e ma‑
nifestos? De acordo com matos (1999), o comportamento não deve 
ser definido pela topografia, mas sim pela função. De fato, po‑
demos interpretar dessa forma, pois skinner conclui sua definição 
dizendo que devemos atentar para os efeitos da ação em vez de pro‑
priamente para os movimentos. Dessa forma, a atividade que de‑
fine o comportamento não é – mas pode incluir – o movimento 
muscular, observável e manifesto. em outros textos, skinner é mais 
explícito sobre essa questão: “eu não acho que o comportamento é 
necessariamente ação muscular” (skinner, 1988, p.469); e “Pa‑
drões de comportamento não são simplesmente padrões de movi‑
mento” (skinner, 1969b, p.129).
como vimos anteriormente, a atividade que define o comporta‑
mento é caracterizada pela interação com o mundo externo. mas 
que mundo seria o mundo externo? no contexto da definição de 
skinner (1938/1966a), o mundo externo é o ambiente, ou seja,o que 
não é a própria ação. É pertinente ressaltar que o ambiente, ou o 
mundo externo, não é o oposto, o que está fora da pele, enfim, não é 
o que circunda o organismo. o termo “externo” apenas indica que 
o ambiente é externo à ação. De acordo com skinner (1953/1965, 
p.257), o ambiente é qualquer “evento no universo capaz de afetar 
o organismo”. não se trata, portanto, do universo como um todo, 
mas da parte do universo que afeta o organismo. mas o que seria 
essa afetação? afetar o organismo pode significar fazê ‑lo responder 
de alguma forma – como um estímulo que elicia uma resposta; 
pode significar o fortalecimento de uma classe operante de seu re‑
A NATUREZA ComPoRTAmENTAL DA mENTE 67
pertório comportamental – como um evento consequente refor‑
çador; pode significar a sinalização da vigência de uma dada 
contingência – como um estímulo discriminativo que estabelece a 
ocasião em que respostas pertencentes a uma dada classe serão se‑
guidas de consequências reforçadoras; enfim, em linhas gerais, 
afetar o organismo significa modificar, de alguma forma, o seu 
comportamento.
em que consiste, por sua vez, o “quadro de referência” ao qual 
skinner se refere? De acordo com matos (1999), o quadro de refe‑
rência seria tanto o contexto ambiental em que o comportamento 
ocorre quanto o próprio repertório comportamental e história de 
vida do organismo estudado. skinner (1931/1961c, p.337) afirma 
que o behaviorismo radical está “principalmente interessado no 
movimento do organismo em um quadro de referência”. É impor‑
tante ressaltar que, nesse momento, estamos tratando da questão 
da observação, da explicação e da interpretação do comportamento. 
colocar o comportamento num dado quadro de referência é dar a 
ele sentido. É impossível explicar o comportamento apenas através 
da topografia. suponhamos que estamos assistindo a um vídeo em 
que uma pessoa está correndo. vemos suas pernas se movimen‑
tando freneticamente, o suor escorrendo pelo seu rosto e os braços 
balançando de um lado para o outro. entretanto, nesse vídeo só po‑
demos ver a pessoa, pois todo o ambiente que a cerca está escuro. 
nessa situação, não podemos saber exatamente o que a pessoa está 
fazendo. Podemos descrever meticulosamente a topografia dos seus 
movimentos, mas não a função do seu comportamento. ela poderia 
estar correndo de um bandido ou fugindo da polícia; ela poderia 
estar correndo uma maratona ou correndo em uma esteira; enfim, 
ela poderia nem mesmo estar correndo. sendo assim, é imprescin‑
dível à análise do comportamento estudá ‑lo a partir de um quadro 
de referência. tal quadro, por sua vez, é em grande parte histórico: 
só podemos dar sentido ao comportamento de um organismo se ti‑
vermos acesso à sua história de interação com o ambiente.
o que podemos dizer, então, sobre o organismo? afinal, quando 
tratamos do comportamento, sempre estamos lidando com o com‑
68 DIEgo ZILIo
portamento de um organismo. Porém, não há uma definição consen‑
sual de organismo (e.g., Palmer, 2004; roche & Barnes, 1997). até 
mesmo skinner (1947/1961b, p.236) estava ciente do problema: 
“afortunadamente para a psicologia, tem sido possível lidar com o 
comportamento sem uma compreensão clara sobre quem ou o que 
está se comportando”. Para uma definição aproximada de orga‑
nismo, devemos levar em conta as seguintes passagens de skinner: 
“o organismo é uma unidade biológica” (skinner, 1947/1961b, 
p.236); o “indivíduo é no máximo um lugar em que muitas linhas 
de desenvolvimento se reúnem em uma configuração única” 
(skinner, 1971, p.209); o organismo é “mais que um corpo; ele é 
um corpo que faz coisas” (skinner, 1989b, p.28). Para Palmer 
(2004), a definição de organismo como “unidade biológica” nos re‑
mete a uma visão morfológica, segundo a qual a pele seria o critério 
de distinção entre organismo e ambiente. o organismo seria o sis‑
tema encerrado dentro da pele e fora dela estaria o ambiente 
(Palmer, 2004). esse critério só é relevante na medida em que a 
partir dele temos um ponto de referência relativamente estável para 
o estudo do comportamento. afinal, o sujeito experimental é facil‑
mente delimitado por essa definição morfológica. não é possível, 
porém, esgotar a definição de organismo apenas pela morfologia. 
há também uma definição processual, segundo a qual o organismo 
seria um lócus em que variáveis filogenéticas e ontogenéticas são 
combinadas numa configuração única. essa configuração atesta ao 
organismo singularidade acerca do seu complexo repertório de 
comportamento. temos, então, uma definição morfológica que 
serve bem aos propósitos práticos de se delimitar um sujeito expe‑
rimental. mas, por outro lado, temos também uma definição de 
organismo que leva em conta o seu repertório comportamental e 
esse organismo não pode ser cingido pela sua pele. nas variáveis 
filogenéticas responsáveis pelo desenvolvimento de sua espécie e 
nas variáveis ontogenéticas que constituem a sua história de vida, o 
organismo vai além da pele. em tempo, a definição de organismo 
como um corpo que faz coisas é bastante precisa, pois abrange tanto 
a definição morfológica (“corpo”) quanto a processual (“que faz 
A NATUREZA ComPoRTAmENTAL DA mENTE 69
coisas”), estabelecendo, assim, um ponto de equilíbrio entre mor‑
fologia e processo ao mesmo tempo em que nos leva novamente às 
relações entre ambiente e ação que, por si só, são suficientes para 
definir o comportamento.
É possível supor, portanto, que o comportamento é a relação 
entre o ambiente e as ações de um organismo.2 trata ‑se de uma defi‑
nição fundamentalmente relacional, pois os termos “ambiente” e 
“ação” só adquirem sentido quando postos em relação. e mais, essa 
relação é o próprio ponto de partida para a definição dos termos 
envolvidos na definição. o ambiente é qualquer evento que afete o 
organismo, podendo ser tanto os estímulos eliciadores ou discrimi‑
nativos quanto os eventos consequentes da ação. ao longo do texto, 
quatro termos foram utilizados para tratar da parte do comporta‑
mento que cabe ao organismo executar: atividade, movimento, 
ação e resposta. o comportamento envolve uma atividade? sim, 
mas não toda atividade do organismo. sua característica principal 
é a interação com o ambiente. o comportamento envolve movi‑
mento? não necessariamente, pois a atividade não é definida pela 
topografia, ma sim pela função. o comportamento envolve a ação? 
Depende do sentido dado ao termo. se ação for definida como res‑
postas do organismo em relação ao ambiente, então o comporta‑
mento envolve a ação.3
2. É preferível definir o comportamento como a relação entre “ambiente e as 
ações de um organismo” a defini‑lo como a relação entre “organismo e am‑
biente” por dois motivos: (1) não há definição consensual de “organismo”, 
sendo, portanto, problemático fundamentar a definição de comportamento 
apenas a partir do organismo. ao utilizar como definição “a ação de um orga‑
nismo”, focamos a própria relação que interessa ao behaviorismo radical, mas 
sem perder o “organismo” de vista; e (2) o organismo pode fazer parte do seu 
próprio ambiente. Por esse motivo, contrapor numa definição o organismo com 
o ambiente pode sugerir que eles são opostos, o que, para o behaviorismo ra‑
dical, não é correto.
3. ao longo deste livro o termo “ação” será utilizado para indicar o sentido mais 
geral das respostas do organismo em relação com o ambiente, em que não há 
ainda unidades de análises ou classes de respostas. o termo “resposta”, por 
sua vez, será utilizado para indicar as ocorrências únicas.
70 DIEgo ZILIo
entrementes, em diversos textos, skinner também apresenta 
características do comportamento com as quais ainda não lidamos. 
segundo o autor (1953/1965, p.15), o comportamento “é um pro‑
cesso, e não uma coisa. [...] É mutável, fluido, e evanescente” e “é 
a atividade coerente e contínua doorganismo completo” (p.116). 
e mais, o “comportamento está em estado de fluxo e de mudan ças 
contínuas que chamamos ‘processos’” (skinner, 1954, p.305). Pelas 
citações é possível reforçar a ideia de que o comportamento é 
um processo. mas há novas características: trata ‑se de um processo 
fluido, em constante modificação e evanescente, mas que é con‑
tínuo e de fluxo constante. ora, como algo evanescente pode 
ser contínuo e constante? nesse momento é pertinente apresen‑
tarmos uma divisão conceitual do comportamento em três níveis. 
essa manobra contribuirá para o entendimento sobre o que é o 
comportamento.
o primeiro nível consiste nas ocorrências comportamentais. são 
as respostas únicas, as “instâncias” comportamentais que ocorrem 
num dado período de tempo (skinner, 1953/1965). imaginemos 
um rato pressionando a barra numa caixa de skinner. cada ocor‑
rência do pressionar a barra é uma resposta singular. a única coisa 
que podemos fazer a respeito é observá ‑la. não podemos fazer mais 
nada porque o caráter evanescente do comportamento está nas 
ocorrências. Uma ocorrência nunca se repetirá pelo simples fato de 
que ela se esvaiu no tempo, agora fazendo parte apenas do passado. 
É justamente nesse sentido que skinner (1969b, p.86) afirma que 
“o comportamento é evanescente. o que o homem faz e diz são 
coisas do momento. não sobra nada quando uma resposta se com‑
pleta, exceto o organismo que respondeu. o comportamento em si 
desapareceu na história”.
Por meio da análise experimental, várias ocorrências compor‑
tamentais são observadas e postas em relação com variáveis am‑
bientais. a partir dessa análise, é possível observar que ocorrem 
mudanças ordenadas, e, assim, padrões de comportamento são de‑
lineados. voltando ao exemplo do rato na caixa de skinner, ao ob‑
servarmos todo o processo de condicionamento que levou o rato a 
A NATUREZA ComPoRTAmENTAL DA mENTE 71
pressionar a barra podemos explicar a função do seu comporta‑
mento. as respostas únicas são analisadas como pertencentes a 
uma mesma classe de respostas cujo caráter definidor está nas con‑
sequências que elas produzem, isto é, em suas funções.4 o quadro 
de referência apresentado na definição de skinner (1938/1966a) 
entra nesse nível. só podemos entender o comportamento do or‑
ganismo quando temos acesso não só às suas respostas únicas, mas 
também à sua história de condicionamento e ao seu repertório 
comportamental. entretanto, skinner (1953/1965, p.116) observa 
que “qualquer unidade do comportamento operante é em certa 
medida artificial. […] embora o [comportamento] possa ser ana li‑
sado por partes para fins teóricos ou práticos, nós precisamos reco‑
nhecer sua natureza contínua”. ou seja, as classes comportamentais, 
que constituem o segundo nível conceitual, são ferramentas con‑
ceituais que possibilitam o estudo do comportamento ao alocar 
as ocorrências comportamentais em unidades funcionais que não 
são evanescentes como as ocorrências propriamente ditas, mas que, 
por outro lado, são por elas constituídas. mas como algo eva nes‑
cente constitui alguma coisa? as ocorrências constituem as classes 
enquanto frequência de respostas e são classificadas de acordo 
com as suas funções. isso significa que o observador não vê uma 
classe comportamental, mas sim ocorrências únicas. as classes 
são construções teórico ‑analíticas que facilitam o estudo do com‑
por tamento.5
É possível sustentar que as classes comportamentais são decor‑
rências do estudo do comportamento em processo, o que nos leva 
ao terceiro nível conceitual: o fluxo comportamental. o comporta‑
mento é um processo contínuo, um fluxo de atividade que nunca 
4. serão apresentados mais detalhes sobre o processo de condicionamento e sobre 
a noção de classes na seção 2.3.
5. abib (2004, p.53), por exemplo, é bem claro sobre esse ponto: “o ‘comporta‑
mento operante’ que se vê ali fora no mundo é construção teórica. Quem não 
domina a teoria operante do comportamento não vê ‘comportamento ope‑
rante’. sem uma teoria científica e filosófica do comportamento ninguém sabe 
o que é comportamento”.
72 DIEgo ZILIo
cessa, dividido metodologicamente apenas para análise. nós obser‑
vamos as ocorrências enquanto ocorrências comportamentais graças 
ao caráter relacional da definição do comportamento, em que o am‑
biente é definido em relação à ação do organismo e vice ‑versa. em 
poucas palavras, a relação é pressuposta na observação. Já as classes 
comportamentais, por sua vez, são dependentes das ocorrências, 
justamente por serem constituídas por elas. e, finalmente, há o 
fluxo comportamental, cuja ideia básica é a de que o comporta‑
mento, em seu sentido mais amplo, fundamental e independente 
de observações e análises, é um processo relacional constante. o 
que podemos dizer a respeito do fluxo comportamental? Primeira‑
mente, que ele não é observável. observamos apenas ocorrências 
comportamentais. Por outro lado, não podemos sustentar que o 
fluxo é também produto da análise, pois a análise é, em si mesma, a 
quebra do fluxo em unidades funcionais. Dessa forma, podemos 
concluir apenas que o fluxo comportamental é pressuposto no beha‑
viorismo radical, sendo o processo relacional responsável tanto pelas 
ocorrências comportamentais (enquanto eventos comportamentais 
observáveis) quanto pelas classes (enquanto construções teórico‑
‑analíticas). afinal, o fluxo comportamental está fora do alcance 
visível do observador, já que se trata do processo essencial para a 
sua própria existência enquanto ser que se comporta. ou seja, tanto 
a observação de ocorrências quanto a construção de classes é 
também comportamento (do cientista, do analista do comporta‑
mento, do homem comum, etc.). as características principais dos 
três níveis conceituais do comportamento estão resumidas no 
Quadro 2.1. 
traçamos, nessa seção, dois caminhos para caracterizar o que é 
o comportamento sob a óptica do behaviorismo radical. o primeiro 
deles colocou em evidência a natureza relacional do conceito, se‑
gundo a qual a própria relação entre ambiente e ação é o comporta‑
mento, já que os termos envolvidos na definição só fazem sentido 
quando postos dessa forma. o segundo caminho, por sua vez, nos 
ajudou a esclarecer o status dos níveis de análise do comporta‑
mento. Primeiramente, há as ocorrências comportamentais, que, 
A NATUREZA ComPoRTAmENTAL DA mENTE 73
por serem os únicos eventos observáveis, são essenciais para o 
estudo do comportamento. há também os construtos teórico‑
‑analíticos facilitadores do estudo do comportamento denominados 
classes comportamentais. finalmente, há o fluxo comportamental, 
cuja existência é pressuposta e fundamental para a concepção de 
ocorrências e de classes. em ambos os caminhos, todavia, che‑
gamos ao mesmo resultado: o comportamento é a relação essencial, 
pressuposta e contínua entre o ambiente e as ações de um organismo.
2.2 Filosofia e ciência
o objetivo desta seção é apresentar alguns pontos da filosofia 
da ciência behaviorista radical que são especialmente importantes 
no contexto deste livro. são basicamente dois temas a serem tra‑
tados: (1) as diferenças entre narração, descrição, explicação, teori‑
zação e interpretação do comportamento; e (2) a troca da noção de 
causa pela de função. a posição behaviorista radical a respeito 
desses temas, entretanto, decorre da própria concepção de skinner 
sobre o que seria praticar ciência. Podemos encontrar uma clara 
descrição do skinner cientista na seguinte passagem do autor (1956, 
p.227):
Quadro 2.1
Ocorrências Classes Fluxo
característica evanescente conceitual contínuo
status do ponto 
de vista do 
observador
observável construída Pressuposto
constituição respostas únicas
frequência de 
respostas
relação 
fundamental
74 DIEgo ZILIo
eu nunca lidei com um Problema que fosse além do eternopro‑
blema de encontrar ordem. eu nunca ataquei um problema 
através da construção de uma hipótese. eu nunca deduzi teo‑
remas ou submeti teoremas ao exame experimental. [...] eu não 
tive nenhum modelo preconcebido do comportamento. [...] De 
fato, eu estava trabalhando sobre uma suposição básica – a de 
que havia ordem no comportamento [...] – mas essa suposição 
não é para ser confundida com as hipóteses da teoria dedutiva.
ao que parece, skinner não era adepto do método hipotético‑
‑dedutivo. a construção de modelos e hipóteses e a dedução de 
teoremas não são práticas que skinner adotou na análise expe‑
rimental do comportamento. segundo o autor (1969b, p.xi), “o 
compor tamento é um dos objetos de estudo que não precisam 
do método hipotético ‑dedutivo” e se tais métodos são utilizados 
no estudo do comportamento “é só porque o investigador atentou 
para evetos inacessíveis – alguns deles fictícios, outros irrele‑
vantes”. assume ‑se que, em vez de seguir o modelo newtoniano, 
skinner adotou um modelo científico baseado em Bacon e mach, 
no qual havia uma forte tendência ao empirismo e indutivismo 
(moore, 2008; smith, 1986). É possível notar essas características 
no modelo de ciência behaviorista radical quando skinner apre‑
senta os passos na construção da sua teoria do comportamento.
Primeiramente, a ciência decorre da experiência. skinner (1989c, 
p.43) afirma que nós “descobrimos as leis da natureza pela expe‑
riência” e que os cientistas “aperfeiçoam suas experiências experi‑
mentando – fazendo coisas para ver o acontece”. o autor conclui 
que através da “experiência e dos experimentos surgem os especia‑
listas”. a experiência, no contexto do behaviorismo radical, é a his‑
tória de vida do cientista, as contingências que modelaram o seu 
comportamento. Dessa forma, fazer ciência implica se comportar. 
esse ponto fica claro quando skinner apresenta cinco princípios 
não formais da prática científica: (1) “quando você se deparar com 
algo interessante, deixe todo o resto de lado e estude isso” (skinner, 
1956, p.223); (2) “algumas formas de se fazer pesquisa são mais fá‑
A NATUREZA ComPoRTAmENTAL DA mENTE 75
ceis do que outras” (skinner, 1956, p.224); (3) “algumas pessoas 
têm sorte” (skinner, 1956, p.225); (4) “às vezes os instrumentos 
quebram” (skinner, 1956, p.225); e (5) “serendipity – a arte de achar 
uma coisa enquanto se está olhando para outra coisa” (skinner, 
1956, p.227). esses princípios da prática científica representam, na 
verdade, a história de vida do skinner enquanto cientista. o pri‑
meiro princípio reflete o contexto em que skinner estava inserido 
quando iniciou suas práticas experimentais e indica o estudo do 
organismo como um todo. o segundo princípio, por sua vez, é 
resultado da construção de aparatos e de instrumentos que faci‑
litam o controle das variáveis experimentais – a caixa de skinner é o 
mais famoso dentre eles. o terceiro princípio originou ‑se na “des‑
coberta” do registro cumulativo, principal ferramenta da análise 
experimental do comportamento para coleta de dados. entretanto, 
como prevê o quarto princípio, os aparatos podem quebrar e 
quando isso acontece surgem coisas interessantes – no caso de 
skinner, o primeiro processo de extinção ocorreu quando a parte do 
instrumento responsável pela apresentação da consequência refor‑
çadora (comida) se quebrou, o que fez com que a frequência de res‑
postas do sujeito experimental caísse, já que a classe operante em 
questão não estava mais sendo reforçada. finalmente, um exemplo 
de serendipity na prática científica de skinner é descoberta e desen‑
volvimento do esquema de reforço de razão fixa – relação em que 
um dado número de respostas deve ocorrer para que a consequência 
seja apresentada –, pois, na ocasião, skinner não estava propria‑
mente interessado nas propriedades desse tipo de esquema, mas 
sim nas possíveis relações entre grau de privação e frequência de 
respostas.
É possível notar, portanto, que skinner não era adepto da 
formulação de uma metodologia ou de modelos da ciência. o má‑
ximo que se pode fazer é estudar a história de vida dos cientistas e 
avaliar quais eventos foram importantes para a construção das suas 
teorias científicas. no caso de skinner, a história relevante estaria 
nos cinco princípios supracitados. assim sendo, um dos problemas 
do método hipotético ‑dedutivo é justamente este: ser um método. 
76 DIEgo ZILIo
se fazer ciência é essencialmente se comportar, com que compe‑
tência uma pessoa poderia descrever o método ou o modelo ade‑
quado da ciência sem estudar o que é comportamento? em diversas 
passagens, skinner expressa sua posição de maneira contundente:
certas pessoas [...] afirmaram ser capazes de dizer como a mente 
científica funciona. elas estabeleceram regras normativas da 
conduta científica. o primeiro passo para qualquer interessado 
no estudo do reforço é desafiar essas regras. (skinner, 1958, 
p.99) 
se estamos interessados em perpetuar as práticas responsáveis 
pelo corpo atual de conhecimento científico, nós devemos lem‑
brar que [...] não sabemos o bastante a respeito do compor‑
tamento humano para saber como o cientista faz o que faz. 
(skinner, 1956, p.221)
como podemos ter certeza de que um modelo é um modelo do 
comportamento? o que é comportamento e como ele deve ser 
analisado e mensurado? Quais são as características relevantes 
do ambiente e como elas devem ser mensuradas e controladas? 
como esses dois conjuntos de variáveis estão relacionados? as 
respostas para essas questões não podem ser encontradas na 
construção de modelos. (skinner, 1961f, p.251)
o argumento central de skinner parece ser que nós ainda não 
sabemos ao certo como o comportamento do cientista funciona, 
ou melhor, quais as variáveis envolvidas no ambiente científico 
e que, por isso, não podemos delinear regras do “pensamento cien‑
tífico” que devem ser seguidas a todo custo nem uma metodologia 
única que abarque a ciência em todos os âmbitos possíveis. Preci‑
samos entender o comportamento para, só assim, entendermos o 
comportamento do cientista e, por fim, apresentarmos as regras 
que aumentam a probabilidade de ocorrência das classes operantes 
adequadas ao contexto científico.
embora seja avesso à construção de modelos e metodologias 
que supostamente esgotariam os parâmetros adequados da prática 
A NATUREZA ComPoRTAmENTAL DA mENTE 77
científica e embora afirme que a “ciência é um processo contínuo 
e, muitas vezes, desordenado e acidental” (skinner, 1956, p.232), a 
prá tica científica de skinner não é livre de pressupostos. na verdade, 
é possível encontrar os princípios ‑guia de skinner (1953/1965, p.6) 
na seguinte citação:
a ciência [...] é uma tentativa de descobrir ordem, de mostrar 
que certos eventos estão em relação ordenada com outros 
eventos. nenhuma tecnologia prática pode se basear na ciência 
até que essas relações sejam descobertas. entretanto, a ordem 
não é apenas um produto final possível; é uma hipótese de tra‑
balho que precisa ser adotada desde o início. nós não podemos 
aplicar os métodos da ciência a um objeto de pesquisa que se as‑
sume ser movido pelo capricho. a ciência não apenas descreve, 
ela prevê. ela lida não apenas com o passado, mas com o futuro. 
nem é predição sua última palavra: a partir do ponto em que 
condições relevantes possam ser alteradas, ou de algum modo 
controladas, o futuro pode ser controlado. se nós formos usar os 
métodos da ciência no campo das questões humanas, então de‑
vemos assumir que o comportamento é ordenado e determinado.
então, para skinner, a ciência é a busca da ordem e, por isso, 
pressupõe ‑se que o fenômeno a ser estudado seja ordenado e de‑
terminado. enquanto descrição, a ciência lida com o passado, e a 
partir do estudo dos eventos passados é possível prever e controlar 
os eventos futuros. a questão do controleé essencial para a filo‑
sofia da ciência proposta pelo behaviorismo radical. De acordo com 
skinner (1947/1961b, p.225), “na psicologia, ou em qualquer 
ciência, o coração do método expe5rimental é o controle direto da 
coisa estudada” e, assim, o objetivo principal da análise experi‑
mental do comportamento é “encontrar todas as variáveis das quais 
a probabilidade de resposta é função” (skinner, 1966c, p.214). mas 
quais seriam os objetivos da ciência psicológica? Qual seria a função 
da ciência do comportamento? observar e controlar o objeto de es‑
tudo experimentalmente são práticas que, por si só, não constroem 
uma ciência. o acúmulo de dados, ou melhor, de fatos científicos, 
78 DIEgo ZILIo
não é o bastante para que uma prática se firme como ciência. Para 
skinner (1947/1961b, p.290), o comportamento só pode ser “com‑
preendido satisfatoriamente indo ‑se para além dos fatos em si 
mesmos” e para que isso seja possível “é preciso uma teoria do 
comportamento”.
temos, assim, os pressupostos iniciais que constituem a filo‑
sofia da ciência de skinner. o objeto de estudo é, evidentemente, o 
comportamento. Pressupõe ‑se que o comportamento seja ordenado, 
no sentido de ser regido por leis, e, consequentemente, que ele seja 
determinado, no sentido de ocorrer em função de eventos passados. 
o princípio básico do método experimental é o controle das va‑
riáveis e as análises experimentais são práticas cujo fim é localizá‑
‑las. entretanto, o objetivo último da ciência do comportamento é 
construir uma teoria do comportamento. nas palavras de skinner 
(1947/1961b, p.230): “Quer os psicólogos experimentais gostem 
ou não, a psicologia experimental está devida e inevitavelmente com‑
prometida com a construção de uma teoria do comportamento”. 
esse comprometimento justifica ‑se pelo fato de que uma “teoria é 
essencial para o entendimento científico do comportamento como 
objeto de estudo” (skinner, 1947/1961b, p.230). em síntese, uma 
teoria é bastante útil à ciência do comportamento, principalmente 
porque, com o seu auxílio, a possibilidade de criar condições efe‑
tivas para previsão e controle do comportamento, dois objetivos es‑
senciais propostos pela filosofia da ciência de skinner (1953/1965), 
aumentaria consideravelmente. sendo assim, é importante saber 
quais seriam os passos necessários para se chegar a uma teoria do 
comportamento.
De acordo com skinner (1957/1961d), o primeiro passo é esco‑
lher um organismo para ser o sujeito experimental (rato, pombo, 
macaco, ser humano, etc.). o passo seguinte é selecionar um “pe‑
daço do comportamento” (skinner, 1957/1961d, p.101) – trata ‑se 
da quebra do fluxo comportamental sobre a qual discorremos na 
seção dedicada à definição do comportamento (seção 2.1). o ter‑
ceiro passo é a construção de um ambiente experimental onde os 
estímulos, as respostas e as consequências possam estar correlacio‑
A NATUREZA ComPoRTAmENTAL DA mENTE 79
nadas num conjunto de contingências sobre o qual o cientista possa 
ter controle (skinner, 1966c). É preciso também trabalhar com um 
plano prévio a respeito das contingências (skinner, 1966c). ou 
seja, o cientista decide previamente quais os esquemas de reforça‑
mento que serão utilizados no controle experimental (e.g., ferster 
& skinner, 1957).
no contexto experimental, também é muito importante ter um 
vocabulário de termos próprios para serem utilizados na descrição 
do fenômeno (skinner, 1938/1966a, 1947/1961b). esse vocabu‑
lário deve originar ‑se da observação direta do fenômeno e suas de‑
finições devem ser fundamentadas a partir das relações funcionais 
entre as respostas verbais do cientista (os “termos” ou “conceitos” 
que ele usa) e as condições que estabelecem a ocasião em que elas 
ocorrem (skinner, 1945/1961g). Dessa forma, por exemplo, temos 
os principais conceitos que envolvem a análise experimental do 
comportamento – estímulo, resposta, consequência, respondente e 
operante; conceitos que, embora tenham sido construídos a partir 
da observação de eventos únicos, são genéricos a ponto de trans‑
cenderem esses eventos, possibilitando, assim, a criação de leis e, 
por fim, a construção de uma teoria do comportamento.6 
conforme o que foi dito anteriormente, a prática experimental 
consiste basicamente em fazer coisas para ver o que acontece em 
seguida; especificamente, dizemos que o cientista manipula certos 
eventos para analisar as consequências resultantes. os eventos ma‑
nipulados pelo cientista do comportamento estão no ambiente, 
ou seja, são os estímulos que controlam as respostas do sujeito ex‑
perimental, e fazem parte das variáveis independentes (skinner, 
1947/1961b, 1953/1965). as respostas do organismo, por sua vez, 
são as variáveis dependentes, e levam esse nome porque ocorrem em 
função da manipulação das variáveis independentes – em certa 
medida, elas dependem das variáveis independentes (skinner, 
1947/1961b, 1953/1965).
6. a questão do caráter genérico dos conceitos envolvidos na análise do compor‑
tamento será apresentada com mais detalhes na seção 2.3.
80 DIEgo ZILIo
no laboratório, a principal função do cientista é observar e 
descrever os eventos que constituem as variáveis dependentes e 
independentes. entretanto, é preciso ter cuidado com algumas de‑
clarações de skinner. o autor (1938/1966a, p.44) afirma que a aná‑
lise experimental do comportamento “se limita à descrição em vez 
de explicação” dos eventos, e que “a explicação é reduzida à des‑
crição” (skinner, 1931/1961c, p.338). É preciso ter cuidado porque 
a noção de descrição no contexto do behaviorismo radical não é a do 
senso comum. skinner (1938/1966a, 1947/1961b) sustenta que a 
mera descrição, ou narração, dos eventos não quer dizer nada numa 
análise experimental. a descrição, para ser útil no contexto da 
ciência do comportamento, deve envolver a relação entre as va‑
riáveis – trata ‑se da descrição funcional entre eventos. Para skinner 
(1931/1961c, p.337), a psicologia, enquanto disciplina científica, 
“deve descrever o evento não em si, mas em relação com outros 
eventos; e, num ponto satisfatório, ela deve explicar”. o autor con‑
clui afirmando que “essas são atividades essencialmente idênticas”. 
Portanto, explicar é descrever, mas na exata medida em que des‑
crição implica relacionar funcionalmente os eventos.
todavia, para skinner (1947/1961b, p.229), a “catalogação de 
relações funcionais não é o bastante”. esses são os fatos básicos da 
ciência, mas a acumulação de fatos não é suficiente para a cons‑
trução de uma ciência – uma teoria do comportamento é indis‑
pensável (skinner, 1947/1961b). mas, novamente, é preciso ter 
cuidado com o que skinner quer dizer em suas afirmações. o autor 
foi bastante criticado por supostamente defender que a ciência psi‑
cológica deveria ser construída sem teorizações (skinner, 1969b). 
De fato, o autor (1950/1961a) dirigiu críticas ferrenhas às teorias 
da aprendizagem em psicologia, mas deixou bem claro qual seria a 
má teoria sob o ponto de vista do behaviorismo radical: “qualquer 
explicação de um fato observado que apele para eventos que 
ocorram em qualquer outro lugar, em outro nível de observação, 
descritos em termos diferentes, e medidos [...] em diferentes di‑
mensões” (skinner, 1950/1961a, p.39). ou seja, na análise experi‑
mental, o cientista não deve ir para além do comportamento: as 
A NATUREZA ComPoRTAmENTAL DA mENTE 81
explicações devem ser dadas a partir de descrições funcionais entre 
as variáveis dependentes e independentes que, por sua vez, são 
todas observáveis.7 os termos teóricos devem se referir aos eventos 
observados em vez de ser construtos ad hoc que supostamente au‑
xiliariam na explicação. Por outro lado, para skinner (1947/1961b, 
p.229), a boa teoria seria constituída apenas por “afirmações sobre 
a organização dos fatos [...] [cuja] generalidade transcendeos fatos 
particulares dando a eles uma utilidade mais ampla”. em outro 
texto, skinner (1950/1961a, p.69) afirma que a boa teoria é uma 
“representação formal dos dados reduzida a um número mínimo 
de termos”. em poucas palavras, é preciso ir além dos fatos, mas 
fazer isso a partir dos fatos. À medida que o número de observações 
e descrições de relações funcionais particulares aumenta é possível 
extrair certos padrões gerais que, subsequentemente, serão leis do 
comportamento que, por sua vez, formarão o corpo teórico da ci‑
ência do comportamento (skinner, 1947/1961b).
com uma teoria do comportamento disponível é possível, 
então, fornecer interpretações sobre o comportamento. stalker & 
Ziff (1988) afirmam que skinner, a partir da década de 1940, 
deixou de ser o analista experimental do comportamento interes‑
sado em construir uma tecnologia que possibilitasse prever e con‑
trolar o comportamento, para focar seus interesses em questões 
filosóficas. os autores sugerem que ao longo dos anos, na obra de 
skinner, a análise experimental perdeu cada vez mais espaço para a 
teorização filosófica, até que chegou a um ponto em que só a última 
restou.8 em resposta aos autores, skinner (1988) afirma que para 
7. ser “observável”, nesse contexto, significa que todas as variáveis são observá‑
veis no nível comportamental. isto é, não vamos além do comportamento para 
explicar o comportamento. como veremos adiante neste livro (seção 2.6 e ca‑
pítulo 3), o behaviorismo radical não exclui de sua análise os eventos privados. 
assim, ser “observável” não deve ser confundido com ser “público”. tanto os 
eventos públicos quanto os eventos privados são “observáveis” no nível com‑
portamental. o número de pessoas que observa não é critério para exclusão.
8. os autores colocam como ponto de referência dessa fase o livro About behavio‑
rism, de 1974.
82 DIEgo ZILIo
além da ciência não há apenas a filosofia: no meio do caminho há a 
interpretação. skinner (1953/1965, 1956/1961j, 1988) defende 
que a sua prática, quando não é experimental, é interpretativa, e 
apresenta claramente o que isso significa: interpretar é usar os 
“termos e princípios científicos ao discorrer sobre fatos a respeito 
dos quais pouco se sabe para tornar a predição e o controle possí‑
veis” (skinner, 1988, p.207). o autor (1956/1961j, p.206) afirma 
que por meio da teoria do comportamento seria possível “inter‑
pretar certas instâncias do comportamento inferindo variáveis pos‑
síveis sobre as quais nos falta informação direta”. a interpretação, 
portanto, ocorre quando não se tem acesso às variáveis de controle 
do comportamento sob foco de análise. não se trata de uma estra‑
tégia livre de pressupostos ou de informações científicas: as inter‑
pretações são construídas a partir das leis do comportamento 
resultantes da análise experimental.
É possível dizer, então, que numa análise experimental as con‑
dições de controle e predição são maiores, o que fornece uma base 
sólida para a teoria do comportamento. em casos mais complexos, 
como os comportamentos classificados como “mentais”, em que o 
controle de todas as variáveis não é possível e, portanto, a predição 
está ameaçada, a teoria do comportamento serve como ferramenta 
de generalização indutiva. a interpretação não é, portanto, uma ex‑
plicação. afinal, explicar é descrever as relações funcionais entre as 
variáveis, e, se não temos acesso às variáveis, não temos condições 
de explicar – só é possível interpretar. essa questão fica clara na 
seguinte passagem de skinner (1988, p.364):
eu realmente aceito “que essas qualidades [processos comporta‑
mentais, suscetibilidade ao reforço, etc.] [...] são suficientes para 
explicar o que é mais interessante sobre o comportamento dos 
animais e humanos?”. [...] a resposta é não. eu acho que elas são 
suficientes para explicar o comportamento de organismos sele‑
cionados, em condições controladas na pesquisa de laboratório, 
e afirmações sobre os dados feitas nesse lugar são falseáveis. 
essas pesquisas resultam em conceitos e princípios que são úteis 
A NATUREZA ComPoRTAmENTAL DA mENTE 83
na interpretação do comportamento em qualquer outro lugar. 
meu livro Verbal behavior (1957) foi uma interpretação, e não 
uma explicação, e é apenas útil, em vez de verdadeiro ou falso.
skinner deixa claro que suas pretensões “filosóficas” que extra‑
polam o âmbito da análise experimental consistem apenas em pos‑
síveis interpretações sobre comportamentos complexos. ele não 
defende que essas interpretações são explicações passíveis de falsi‑
ficação, porque, desde o princípio, elas nem são explicações pro‑
priamente ditas. De acordo com o autor, o único fator que justificará 
a permanência de uma interpretação é a sua utilidade na previsão e 
controle do comportamento.
É possível notar que, ao longo de toda a seção, o termo “causa” 
não foi utilizado em nenhum momento. a ciência não foi definida 
como a busca das causas do comportamento; as explicações não 
foram caracterizadas pela localização de relações causais entre os 
eventos; enfim, em nenhum momento da apresentação da con‑
cepção de ciência proposta por skinner há menção ao conceito de 
causa. isso ocorre porque, sob influência de mach, o autor substi‑
tuiu o conceito pela noção de relação funcional. De acordo com 
skinner (1953/1965, p.23), no behaviorismo radical:
a “causa” se torna a “mudança em uma variável independente” 
e o “efeito” “a mudança em uma variável dependente”. a velha 
“conexão causa ‑efeito” se torna uma “relação funcional”. os 
novos termos não sugerem como a causa produz o seu efeito; eles 
meramente afirmam que diferentes eventos tendem a ocorrer ao 
mesmo tempo em uma certa ordem. isso é importante, mas não 
crucial. não há perigo particular em usar “causa” e “efeito” em 
uma discussão informal se nós estivermos sempre prontos para 
substituí ‑los por suas contrapartidas mais exatas.
ao trocar as relações causais pelas relações funcionais, skinner 
evita os problemas metafísicos da causalidade, principalmente no 
que concerne à natureza da relação, já que os conceitos não sugerem 
84 DIEgo ZILIo
como ela ocorre. entretanto, isso não impossibilita o estudo expe‑
rimental do comportamento. as relações funcionais são apenas 
constatações obtidas a partir de observações sucessivas no labo‑
ratório: observa ‑se que um evento (variável dependente) ocorre 
sempre após a ocorrência de outro evento (variável independente); 
manipula ‑se a variável independente e, com isso, modifica ‑se a va‑
riável dependente, o que sugere que há uma relação entre elas; ao 
longo dos experimentos chega ‑se à conclusão de que a variável de‑
pendente em questão relaciona ‑se funcionalmente com a variável 
independente – no sentido de ocorrer em função da ocorrência da 
variável independente –, o que é o bastante para a construção de 
leis e, assim, de teorias.9
no entanto, talvez outra razão para deixarmos de lado o con‑
ceito de “causa” nas explicações behavioristas radicais advenha dos 
próprios dados experimentais, especificamente das pesquisas sobre 
comportamento supersticioso. em linhas gerais, o procedimento 
clássico para estudo do comportamento supersticioso envolve a 
apresentação não contingencial de estímulos reforçadores. nessa 
situação, a apresentação do reforço independe do comportamento 
do sujeito experimental (skinner, 1948). mas isso não quer dizer 
que o sujeito não esteja se comportando quando há a apresentação 
do reforço. Por conta desse fato, o efeito cumulativo desse procedi‑
mento é o aumento da frequência de respostas que ocorreram pre‑
viamente à apresentação do estímulo reforçador, mesmo não 
existindo nenhuma relação contingencial entre esses eventos.
os experimentos sobre comportamento supersticioso sugerem 
que a seleção do comportamento não depende, necessariamente, 
de uma relação do tipo causa‑efeito. no ambiente experimental, 
assume ‑se que haja uma relação desse tipo porque são os próprios 
experimentadores que controlam as contingências: as respostas do 
9. há diversos textos que discorrem sobre a influência de mach na obra de 
skinner, especialmente no que diz respeito à sua concepção de causalidade 
(e.g., Barba, 2003; chiesa, 1992, 1994; laurenti, 2004; laurenti & lopes, 
2008; marr, 2003; moore, 2008; smith, 1986; Zuriff, 1985).
A NATUREZA ComPoRTAmENTAL DA mENTE 85
sujeito “causam” a ocorrência do estímulo reforçador (efeito) 
porque foi essa a condição que o experimentador decidiu estabe‑
lecer. Porém, da perspectiva do sujeito experimental, há apenas a 
contiguidade temporal entre suas respostas e a ocorrência de estí‑
mulos reforçadores.10 skinner (1973/1978a, p.20) parece defender 
posição semelhante: “os reforçadores que figuram na análise do 
comportamento operante [...] são consequências apenas no sentido 
de que eles sucedem ao comportamento”. em outra passagem, 
o autor (1978b, p.172) é ainda mais incisivo: “coincidência é o 
âmago do condicionamento operante. respostas são fortalecidas 
por certos tipos de consequências, mas não necessariamente porque 
elas produzem as consequências”.
em síntese, talvez não seja necessário falar de “causalidade” na 
análise do comportamento porque o seu próprio objeto de estudo 
parece não ser submisso a esse tipo de relação. É plenamente pos‑
sível que uma relação resposta ‑consequência seja do tipo causa‑
‑efeito, mas é igualmente possível que essa relação seja meramente 
uma coincidência. o ponto central é que a seleção do comporta‑
10. atualmente, algumas teorias da aprendizagem sustentam que são duas as con‑
dições necessárias para que ocorra seleção do comportamento: contiguidade e 
discrepância (Donahoe & Palmer, 1994; Donahoe & Wessells, 1980; Pearce & 
Bouton, 2001; rescorla & Wagner, 1972; Williams, 1983). a contiguidade 
abarca, nas contingências respondentes, as relações temporais entre estímulos 
antecedentes (cs) e estímulos incondicionados (Us) e, nas contingências ope‑
rantes, as relações temporais entre respostas (r) e estímulos consequentes (sc). 
Quanto mais curto for o espaço de tempo entre cs ‑Us e r ‑sc maior serão as 
chances de seleção do comportamento. a discrepância, por sua vez, consiste na 
tese de que, além de ocorrer em contiguidade temporal, os estímulos (antece‑
dentes e consequentes) devem originar mudanças no comportamento do su‑
jeito que não ocorreriam de outra forma. Para sustentar essa hipótese é comum 
recorrer ao fenômeno de bloqueio (blocking). nas relações respondentes, por 
exemplo, o bloqueio pode ocorrer quando um estímulo não adquire função eli‑
ciadora por conta da presença de outro estímulo que já possui essa função 
(Kamin, 1969). Já nas relações operantes, o bloqueio pode ocorrer quando um 
estímulo não adquire função discriminativa por conta da presença de outro es‑
tímulo que já possui essa função (miles, 1970; vom saal & Jenkins, 1970).
86 DIEgo ZILIo
mento pode ocorrer a partir de ambas as condições e é justamente 
esse fato que interessa à análise do comportamento.
2.3 do reflexo ao operante
sob influência do filósofo Bertrand russell, skinner já havia 
escolhido o caminho behaviorista antes mesmo de iniciar seus estu‑
dos e pesquisas em psicologia na Universidade de harvard (skinner, 
1979). a escolha pelo behaviorismo se torna mais evidente, porém, 
quando o autor (1979, p.4) enumera os primeiros livros que consti‑
tuíram sua biblioteca da área: “eu comecei a montar uma biblio‑
teca, iniciando com Philosophy, de Bertrand russell, Behaviorism 
de John B. Watson, e Conditioned Reflexes, de i. P. Pavlov – os li‑
vros com os quais pensei preparar ‑me para a carreira em psicolo‑
gia”. embora Watson seja conhecido como o fundador e principal 
divulgador do behaviorismo (Wozniak, 1993, 1994), a influência de 
Pavlov em skinner parece ser mais categórica (skinner, 1966/1972e, 
p.594):11
Possivelmente, a lição mais importante, e uma facilmente não 
notada, que aprendi com [Pavlov] foi o respeito pelo fato. no dia 
15 de dezembro de 1911, exatamente às 1:55 da tarde, um cão 
secretou nove gotas de saliva. aceitar esse fato seriamente, e 
fazer com que o leitor o aceitasse seriamente, não foi pouca coisa. 
também foi importante que esse foi um fato a respeito de um 
organismo único. [...] Pavlov estava falando do comportamento 
de um organismo por vez. ele também enfatizou as condições de 
controle. o seu laboratório à prova de som, cuja foto apareceu 
em seu livro, impressionou ‑me muito, e o primeiro aparato que 
construí consistiu numa câmara à prova de som e numa caixa 
de atividade silenciosa. [...] o lema dessa sociedade é tirado de 
Pavlov: “observação e observação”. Pavlov queria dizer, certa‑
11. a influência manifesta de Pavlov na obra e na vida de skinner é analisada por 
catania & laties (1999).
A NATUREZA ComPoRTAmENTAL DA mENTE 87
mente, a observação da natureza e não do que alguém escreveu 
sobre a natureza.
as principais características da concepção de ciência proposta 
por skinner já estavam em Pavlov: a importância e atenção aos 
fatos, mesmo que à primeira vista pareçam insignificantes e mesmo 
que fujam do planejamento prévio da pesquisa; a importância do 
estudo com sujeito único, em vez de análises estatísticas com 
grande amostragem que poderiam mascarar a nuance dos processos 
comportamentais, dificultando, assim, a análise funcional; a utili‑
zação de aparatos para o controle das variáveis independentes; a 
observação direta da natureza em vez de ater ‑se em construtos teó‑
ricos que vão além dela.12
evidentemente, na medida em que Pavlov foi uma influência 
notável para skinner, nada mais natural que o segundo passasse 
a estudar o processo pelo qual o primeiro ganhou reconhecimento: 
o re flexo condicionado. De acordo com skinner (1931/1961c, 
1938/1966a, 1980/1998), o reflexo é uma correlação observada 
entre um estímulo e uma resposta. o reflexo, portanto, é um pro‑
cesso caracterizado pela relação funcional entre os eventos envol‑
vidos – o estímulo só pode ser caracterizado em função da resposta 
e a resposta em função do estímulo. ao analisar a história do re‑
flexo, skinner (1931/1961c) percebeu que o termo figurava sempre 
nos estudos fisiológicos. a própria justificativa da utilização do 
termo “reflexo” indica a influência da fisiologia, segundo a qual o 
estímulo causaria um distúrbio no organismo que, por sua vez, pas‑
saria pelo sistema nervoso central para, em seguida, ser refletido nos 
músculos (skinner, 1938/1966a, 1953/1965). até mesmo o subtí‑
tulo do livro de Pavlov era uma constatação desse fato: “Uma in‑
vestigação da atividade fisiológica do córtex cerebral” (skinner, 
1966/1972e, p.594). o problema é que, embora afirmasse estudar 
o sistema nervoso, Pavlov estava na verdade lidando apenas com 
correlações entre estímulos e respostas. Portanto, não se estudava o 
12. a concepção de ciência proposta por skinner já foi apresentada na seção 2.2.
88 DIEgo ZILIo
sistema nervoso real (skinner, 1966/1972, 1975, 1979, 1988); es tu‑
dava ‑se o reflexo e o sistema nervoso aparecia como um aparato 
conceitual inferido a partir desse processo (skinner, 1975). ao cons‑
tatar esse fato, skinner percebeu que não era preciso recorrer ao 
“sistema nervoso conceitual” para estudar o reflexo. assim conclui 
o autor (1931/1961c, p.333): “podemos notar […] que a descrição 
do reflexo em termos funcionais (como a correlação entre o estí‑
mulo e a resposta) é sempre precedente à descrição do seu arco”. 
sendo assim, o “arco” da fisiologia não é necessário para o estudo 
da relação funcional. aliás, a relação funcional é sempre estabele‑
cida antes da postulação do “arco reflexo”. essa constatação foi de 
grande valia porque permitiu a skinner estudar o comportamento 
pelos seus “própriostermos”, sem precisar recorrer à fisiologia ou a 
qualquer outra área de estudo (skinner, 1931/1961c, 1938/1966a, 
1961f, 1979, 1980/1998). em suas palavras (1947/1961b, p.232‑
‑233): “o que está surgindo na psicologia [...] é uma teoria que se 
refere aos fatos em um único nível de análise. [...] em nenhum mo‑
mento a teoria irá criar termos que se refira a um objeto de estudo 
diferente – a estados mentais, por exemplo, ou a neurônios”. Quais 
seriam, então, os “termos próprios” ao reflexo condicionado?
o experimento de Pavlov com cães tornou ‑se o exemplo 
clássico de reflexo condicionado. É fato que cães na presença de co‑
mida salivam. em termos específicos, a comida (estímulo incon‑
dicionado) elicia a salivação (resposta incondicionada). suponha ‑se, 
então, que ao apresentarmos a comida ao cão também soemos uma 
campainha. a relação reflexa “comida → salivação” é incondicio‑
nada, o que significa que sua ocorrência independe da história de 
condicionamento do cão. não se pode dizer o mesmo da relação 
“campainha → salivação”. só após várias apresentações da comida 
acompanhada pelo estímulo sonoro é que o último também passará 
a eliciar a resposta de salivação. o processo está simplificado no 
Quadro 2.2.
A NATUREZA ComPoRTAmENTAL DA mENTE 89
Quadro 2.2
situação 1
comida (se 
– estímulo 
eliciador)
→ salivação (r – resposta reflexa incondicionada)
situação 2
campainha (sn 
– estímulo 
neutro)
+
comida (se – 
estímulo eliciador) →
salivação (r 
– resposta reflexa 
incondicionada)
situação 3
campainha (se 
– estímulo 
eliciador)
→ salivação (r – resposta reflexa condicionada)
na situação 1 temos a relação reflexa incondicionada. na si‑
tuação 2 temos a relação incondicionada com a adição do estímulo 
sonoro que, em princípio, seria neutro nessa relação reflexa.13 a si‑
tuação 2 também pode representar o próprio processo de condicio‑
namento pelo qual a antes inexistente relação reflexa entre estímulo 
sonoro e salivação é estabelecida. em seguida, temos a situação 3, 
na qual a campainha passa a eliciar a salivação.
embora skinner (1935/1961h, 1953/1965) tenha sustentado 
que o condicionamento reflexo é um processo de “substituição de 
estímulos” no qual um “estímulo previamente neutro adquire o 
poder de eliciar uma resposta que era originalmente eliciada por 
outro estímulo” (skinner, 1953/1965, p.53), tal caracterização é 
imprecisa. Primeiro porque a topografia das respostas se modifica 
em função da natureza do estímulo (catania, 1999). talvez essa 
diferença seja menos visível no caso da salivação, mas, no caso de 
respostas de flexão de perna eliciadas por estímulos condicionados 
13. o tempo entre a apresentação de cada estímulo (campainha e comida) é uma 
das variáveis passíveis de controle no condicionamento respondente. catania 
(1999) afirma que os casos em que as apresentações dos estímulos ocorrem em 
intervalos variáveis entre 0,5 e 5 segundos podem ser arbitrariamente enqua‑
drados como “condicionamento simultâneo”.
90 DIEgo ZILIo
ou por estímulos incondicionados, as diferenças topográficas são 
evidentes (catania, 1999). mesmo eliciando uma resposta de fle‑
 xão de perna, é improvável que um estímulo condicionado, como 
uma campainha, possa produzir resultado idêntico ao do estímulo 
incondicionado, como um choque elétrico. o segundo motivo – e 
talvez o mais importante – que indica a imprecisão na caracteri‑
zação do condicionamento reflexo como um processo de “substi‑
tuição de estímulos” está no fato de que o estímulo condicionado 
não passa propriamente a ter a mesma função que o estímulo in‑
condicionado. colocando de maneira simples: “no caso clássico de 
Pavlov, por exemplo, a campainha não substitui a comida (o cão 
não tenta comer a campainha)” (catania, 1999, p.213).14 Qual seria, 
então, a função do reflexo condicionado? É skinner (1935/1961h, 
p.375) quem nos dá a resposta: “ele [o reflexo condicionado] pre‑
para o organismo ao obter a eliciação da resposta antes que o estí‑
mulo original tenha começado a agir, e ele faz isso ao deixar qualquer 
estímulo que tenha incidentalmente acompanhado ou an tecipado o 
estímulo original agir em seu lugar”. assim, na relação reflexa condi‑
cionada, o estímulo condicionado não substitui o estímulo incon‑
dicionado, mas tem a função de preparar o organismo para a sua 
apresentação: ao eliciar a salivação, a campainha “prepara” o cão 
para a apresentação da comida e, no caso da flexão de perna, a 
campainha “prepara” o cão para a apresentação do choque elétrico. 
a importância da “preparação” se torna evidente quando se avalia o 
valor seletivo do processo. De acordo com skinner (1984, p.219), 
o respondente condicionado “não tem valor de sobrevivência a não 
ser que seja seguido pelo incondicionado”. continuando com o 
autor (1984, p.219): “embora alguém possa demonstrar que a sa‑
livação é eventualmente eliciada por um sino, não há vantagens 
para o organismo a menos que seja seguida pela comida”. na 
função de estímulo “preparatório”, a capacidade de eliciar a sali‑
14. Porém, deve ‑se ressaltar que essa não é uma opinião consensual. há os experi‑
mentos de automodelagem com pombos que parecem indicar a ocorrência de 
substituição de estímulos (moore, 2004).
A NATUREZA ComPoRTAmENTAL DA mENTE 91
vação pela campainha antes da apresentação da comida pode tornar 
o comportamento alimentar mais eficaz, pois o organismo já estaria 
“preparado” para comer o alimento mesmo antes da presença do 
alimento.
Uma das características principais da relação reflexa pavloviana 
é a dependência entre o estímulo e a resposta. trata ‑se de uma re‑
lação do tipo “tudo ou nada” (skinner, 1953/1965, 1957/1961d): a 
resposta sempre ocorrerá em função da presença do estímulo, ou 
seja, se não houver estímulo não há resposta. É por isso que di‑
zemos que o estímulo elicia a resposta do organismo (skinner, 
1937/1961i, 1938/1966a, 1953/1965, 1966b, 1969e, 1980/1998). 
entretanto, ao constatar que muitas respostas não possuíam es‑
tímulos prévios correlatos, skinner sugeriu que haveria um se‑
gundo tipo de relação reflexa: o operante. nas palavras do autor 
(1937/1961i, p.378):
Primeiramente, há o tipo de resposta que é [eliciada] por uma 
estimulação específica, em que a correlação entre a resposta e o 
estímulo é um reflexo no sentido tradicional. irei classificar esse 
reflexo de respondente. [...] mas há também um tipo de resposta 
que ocorre espontaneamente na ausência de qualquer estimu‑
lação com a qual ela possa estar especificamente correlacionada. 
[...] É da natureza desse tipo de comportamento ocorrer sem um 
estímulo eliciador, embora estímulos discriminativos sejam pra‑
ticamente inevitáveis após o condicionamento. não é necessário 
identificar unidades específicas antes do condicionamento, mas 
durante o condicionamento elas poderão se estabelecer. irei 
chamar tais unidades de operantes, e o comportamento em geral 
de comportamento operante.
É nesse texto que pela primeira vez skinner utilizou o termo 
“operante” (skinner, 1980/1998). À relação reflexa tradicional, 
isto é, ao reflexo pavloviano, skinner deu o nome de respondente. 
nesse caso, como já vimos, o condicionamento ocorreria mediante 
a apresentação de estímulos neutros pareada à apresentação de estí‑
92 DIEgo ZILIo
mulos incondicionados. com o condicionamento estabelecido, o 
estímulo condicionado passa a exercer a função de “preparar” o or‑
ganismo para a apresentação do estímulo incondicionado. nota ‑se 
que todo o processo de condicionamento envolve a manipulação 
de estímulos para que respostas sejam eliciadas. entretanto, o 
operante exigiria outra estratégia, já que não haveria relações res‑
pondentes previamente identificáveis ou estímulos eliciadores 
específicos (skinner, 1937/1961i).
a falta de um estímulo prévio eliciador gerou um problema prá‑
tico naanálise experimental do comportamento: a impossibilidade 
de controlar a ocorrência de respostas por meio da apresentação de 
estímulos (skinner, 1980/1998). no experimento de Pavlov, con‑
trolar a ocorrência da salivação era relativamente fácil, pois bastava 
apenas apresentar o estímulo eliciador. no operante, por outro 
lado, era preciso esperar a resposta aparecer para só então exercer 
algum tipo de controle sobre ela (skinner, 1980/1998). mas o pro‑
cesso não é tão simples quanto parece. em um primeiro contato 
com a caixa de skinner, por exemplo, é improvável que o pressionar 
a barra esteja entre as respostas iniciais de um sujeito experimental. 
trata ‑se de uma resposta com topografia bastante complexa se le‑
varmos em conta o organismo (rato) e a sua história filogenética. 
nesse contexto, a modelagem do comportamento – atividade que 
consiste em manipular o ambiente por meio da apresentação de es‑
tímulos consequentes contingenciais às ocorrências de respostas 
com o objetivo de reforçar classes de respostas que sucessivamente 
se aproximam topograficamente da classe de respostas desejada – é 
imprescindível (skinner, 1980/1998). no caso do pressionar a 
barra, a primeira aproximação pode ser o movimento da cabeça do 
organismo em direção à barra; a segunda aproximação pode ser 
tocar o focinho na barra; a terceira pode ser morder a barra; a quarta 
pode ser levantar a pata enquanto o focinho está encostado na 
barra; e assim por diante, até que, eventualmente, a resposta dese‑
jada – pressionar a barra com a pata – ocorra. comportamentos 
bastante complexos, e que possivelmente não ocorreriam se os 
organismos estivessem em seus ambientes naturais, foram mo‑
A NATUREZA ComPoRTAmENTAL DA mENTE 93
delados em situações experimentais. skinner (1958) chegou, a 
modelar pombos a ponto de conseguir fazê ‑los jogar boliche.
o processo de modelagem traz questões importantes. Qual 
seria a função do estímulo antecedente? o foco, no condiciona‑
mento operante, voltou ‑se totalmente para a resposta e, à primeira 
vista, parece que o estímulo antecedente perdeu importância. e 
mais, a modelagem só é possível graças às consequências apresen‑
tadas após as ocorrências das respostas. Qual seria, então, o papel 
das consequências no condicionamento operante? as respostas a 
essas questões constituem o âmago do operante.
Diz ‑se que o organismo opera sobre o ambiente gerando, 
assim, consequências (skinner, 1953/1965). É interessante notar 
que o termo “operar” indica uma ação. as definições do dicionário 
 houaiss (2001) são esclarecedoras: “1. exercer ação, função, ati‑
vidade ou ofício; agir, trabalhar, obrar; 3. provocar uma reação; 
produzir, surtir (um efeito)”. assim, a resposta operante é essencial‑
mente uma ação do organismo que produz efeitos no ambiente. as 
consequências, em seu turno, são as modificações geradas pela ação 
do organismo. a caracterização das consequências dependerá da 
análise funcional feita sobre a relação como um todo. observa ‑se 
a frequência de uma dada resposta, depois torna ‑se um evento a ela 
contingente (consequência) e, finalmente, constata ‑se se há qual‑
quer mudança na frequência de respostas pertencentes à classe sele‑
cionada para estudo (skinner, 1953/1965). se houver aumento nessa 
frequência, o que indicaria também o aumento da probabi lidade de 
que respostas pertencentes a essa classe possam ocorrer, o evento 
contingente é classificado como sendo reforçador sob aquela dada 
circunstância. sendo assim, as respostas operantes ocorrem sempre 
em função dos eventos consequentes (skinner, 1938/1966a). 
o organismo sempre está inserido em um ambiente. no caso do 
respondente, os estímulos eliciadores são eventos ambientais res‑
ponsáveis diretamente pela ocorrência de respostas reflexas. Já no 
caso operante, “o estímulo é meramente a ocasião para a ação” 
(skinner, 1967, p.326). a diferença essencial é que, em vez de eli‑
ciarem respostas, numa relação operante os estímulos constituem a 
94 DIEgo ZILIo
ocasião em que uma dada contingência está em vigor (skinner, 
1945/1961g, 1953/1965, 1966b, 1967, 1975, 1969e). entretanto, a 
ausência de um estímulo eliciador pode sugerir a ideia errada de 
que não há qualquer função para os estímulos antecedentes na re‑
lação operante. essa ideia é errada porque “os estímulos estão 
sempre agindo sobre o organismo” e a única diferença é que as 
“suas conexões funcionais com o comportamento operante não são 
iguais às do reflexo” (skinner, 1953/1965, p.107).
a função dos estímulos antecedentes na relação operante se 
torna evidente no caso dos operantes discriminados. tomemos como 
exemplo uma relação operante em que a classe de respostas de 
pressionar a barra seja contingente à apresentação de alimento 
(consequência reforçadora). num dado momento, modificamos o 
ambiente acendendo uma luz dentro da caixa de skinner e estabele‑
cemos a seguinte contingência: paramos de apresentar a conse‑
quência reforçadora quando a luz estiver apagada e voltamos a 
apresentar a consequência reforçadora quando a luz estiver acesa. 
os passos do processo estão no Quadro 2.3. 
nas situações 1 e 2 temos a contingência previamente estabele‑
cida, em que tanto a presença quanto a ausência da luz não pos‑
suem função discriminativa. entretanto, as situações 3 e 4 atribuem 
uma função discriminativa à luz acesa. com a luz apagada, as res‑
postas de pressionar a barra não são seguidas por consequências 
reforçadoras (situação 3). Por outro lado, com a luz acesa, as res‑
postas de pressionar a barra são seguidas por consequências refor‑
çadoras (situação 4). Dessa forma, a luz acesa passa a exercer a 
função de estímulo discriminativo (sd) que indica a ocasião em que 
respostas de pressionar a barra serão seguidas de consequências re‑
forçadoras. classificamos a luz acesa como estímulo discriminativo 
porque ela não é responsável diretamente pela ocorrência da res‑
posta, mas serve apenas como uma “propriedade do ambiente” que 
discrimina, isto é, que distingue a ocasião ou o contexto em que a 
ocorrência da resposta será seguida pela consequência reforçadora.
É importante ressaltar que, embora não atue diretamente como 
estímulo eliciador da resposta, o estímulo discriminativo possui 
A NATUREZA ComPoRTAmENTAL DA mENTE 95
controle sobre a ocorrência de respostas operantes (skinner, 
1953/1965, 1966b, 1989c). especificamente, se respostas perten‑
centes à mesma classe forem seguidas de consequências reforça‑
doras quando uma dada propriedade do ambiente estiver presente, 
e não forem seguidas de consequências reforçadoras na ausência da 
mesma propriedade do ambiente, então a probabilidade de ocor‑
rência de respostas pertencentes a essa classe será maior quando 
tal propriedade do ambiente estiver presente. assim, os estímulos 
discriminativos exercem controle sobre a frequência de respostas 
operantes (skinner, 1969b). no caso do exemplo, o aumento da 
frequência de respostas de pressionar a barra quando a luz está 
acesa e a diminuição da frequência quando a luz está apagada 
indica que a luz possui função discriminativa nessa contingência 
operante. se não possuísse, a frequência de respostas possivel‑
mente não variaria de acordo com sua ausência ou presença. a se‑
guinte citação de skinner (1969e, p.7) resume de maneira acurada o 
processo:
Quadro 2.3
situação 1 caixa de skinner – luz apagada :
r: Pressionar a barra 
(resposta operante) →
sr: comida 
(consequência 
reforçadora)
situação 2
caixa de skinner 
– luz acesa
:
r: Pressionar a barra 
(resposta operante)
→
sr: comida 
(consequência 
reforçadora)
situação 3
caixa de skinner 
– luz apagada
:
r: Pressionar a barra 
(resposta operante)
→
não há 
consequência 
reforçadora
situação 4
caixa de skinner 
– luz acesa 
(estímulo 
discriminativo)
:
r: Pressionar a barra(resposta operante)
→
sr: comida 
(consequência 
reforçadora)
96 DIEgo ZILIo
Usar a frequência de respostas como a variável dependente, 
tornou possível formular de maneira mais adequada as intera‑
ções entre um organismo e o seu ambiente. os tipos de conse‑
quências que aumentam a frequência (‘“reforçadoras”) são 
positivas ou negativas, dependendo se elas reforçam quando 
aparecem ou quando desaparecem. a classe de resposta sobre a 
qual um reforço é contingente é chamada de operante, para su‑
gerir a ação sobre o ambiente seguida pelo reforço. construímos 
um operante ao tornar um reforço contingente a uma resposta, 
mas o fato importante sobre as unidades resultantes não é sua 
topografia, mas sim sua probabilidade de ocorrência, observada 
como frequência de emissão. o estímulo precedente não é irrele‑
vante. Qualquer estímulo presente quando um operante é re‑
forçado adquire controle no sentido de que a frequência [de 
resposta] será maior em sua presença. tal estímulo não age como 
incitador; ele não elicia a resposta no sentido de forçá ‑la a 
ocorrer. ele é simplesmente um aspecto essencial da ocasião em 
que uma resposta, [se emitida], é reforçada. a diferença fica 
clara ao chamá ‑lo de estímulo discriminativo (ou sd). Uma for‑
mulação adequada da interação entre um organismo e seu am‑
biente deve sempre especificar três coisas: (1) a ocasião em que 
uma resposta ocorre, (2) a resposta em si, e (3) as consequências 
reforçadoras. as inter ‑relações entre esses três [eventos] são as 
“contingências de reforço”.
no entanto, antes mesmo de propor uma divisão entre res‑
pondente e operante, skinner estava preocupado com o estabeleci‑
mento dos parâmetros que deveriam ser seguidos na delimitação 
dos estímulos, das respostas e do reflexo e com a possibilidade de 
se fazer uma análise acurada do comportamento levando ‑se em 
conta as “linhas naturais de fratura ao longo das quais o comporta‑
mento e o ambiente realmente se separam” (skinner, 1935/1961e, 
p.347). De acordo com o autor (1935/1961e), a análise não poderia 
fundamentar ‑se na divisão arbitrária do ambiente e do comporta‑
mento em unidades estímulo ‑resposta. era preciso o desenvolvi‑
mento de uma estratégia adequada para fazê ‑lo. nesse contexto, 
A NATUREZA ComPoRTAmENTAL DA mENTE 97
uma estratégia possível seria apresentar uma descrição meticulosa 
tanto do estímulo quanto da resposta a partir de suas propriedades 
físicas. essa descrição priorizaria as propriedades independentes 
do estímulo e da resposta, isto é, um estímulo S seria descrito a 
partir de suas propriedades físicas Fs1, Fs2, Fs3..., Fsn, e uma res‑
posta R seria descrita a partir de suas propriedades físicas Fr1, 
Fr2, Fr3..., Frn. consequentemente, as definições (sempre descri‑
tivas) tanto do estímulo quanto da resposta seriam independentes 
entre si.
skinner (1935/1961e) afirma que definir os estímulos e as res‑
postas por meio das descrições de suas propriedades físicas oca‑
siona problemas. os estímulos e as respostas são, acima de tudo, 
eventos e não propriedades dos eventos (skinner, 1935/1961e). isso 
significa que a ocorrência de um estímulo não é a ocorrência de 
uma mudança física do ambiente que, em si, possui a propriedade 
de ser um estímulo. Pelo contrário, o estímulo é, em si, o evento 
que ocorre, e sua identificação não está em suas propriedades fí‑
sicas, mas em sua relação funcional com a resposta subsequente. 
Dessa forma, definir o estímulo apenas a partir de suas proprie‑
dades físicas pode excluir o caráter relacional do conceito.
outro problema da definição baseada nas propriedades físicas é 
que os eventos não se repetem exatamente da maneira como ocor‑
reram no passado. Precisamente, os eventos nunca se repetem. É 
improvável que um evento E2 possua exatamente as mesmas pro‑
priedades físicas que constituíram um evento E1 no passado. Por‑
tanto, se levarmos em conta apenas as propriedades físicas dos 
eventos, em seus mínimos detalhes, seremos exatos em nossas des‑
crições, mas trataremos de eventos sempre diferentes. a busca de 
uma descrição precisa pode resultar na restrição da pesquisa a 
eventos únicos, o que impossibilitaria o desenvolvimento de uma 
unidade conceitual pela qual seria possível estudar o comporta‑
mento. Um exemplo de unidade conceitual é a relação respondente 
“estímulo sonoro à salivação” citada anteriormente. o problema 
nesse caso é que não poderíamos definir essa relação como uma 
“unidade” porque as propriedades físicas do estímulo sonoro e da 
98 DIEgo ZILIo
salivação seriam únicas a cada ocorrência. não poderíamos dizer, 
portanto, que o cão está sob controle de uma relação respondente 
específica porque cada relação seria uma relação diferente.
em suma, a descrição baseada puramente nas propriedades fí‑
sicas pode transgredir a natureza relacional dos conceitos e acaba 
por resultar no estudo de eventos únicos, impossibilitando, assim, 
o desenvolvimento de uma unidade conceitual de análise do com‑
portamento. a saída de skinner a esse problema está no conceito de 
classes. nas palavras do autor (1938/1966a, p.34):
o termo “estímulo” precisa se referir a uma classe de eventos 
cujos membros possuem alguma propriedade em comum, mas 
que, em outros aspectos, diferem livremente, e o termo “res‑
posta” para uma classe similar que mostra um maior grau de li‑
berdade de variação, mas que é também definida rigorosamente 
a partir de uma ou mais propriedades. a correlação chamada re‑
flexo é uma correlação entre classes, e o problema da análise é o 
problema de achar as propriedades definidoras corretas.
existem estímulos e respostas que podem diferir livremente em 
suas propriedades físicas. o caráter demarcatório que justificará 
classificar respostas e estímulos que possuem propriedades físicas 
diversas nas mesmas classes é a função que essas respostas e estí‑
mulos exercem numa relação comportamental. o problema da 
análise será, então, descobrir quais são as propriedades funcional‑
mente relevantes. no caso do exemplo de condicionamento ope‑
rante de pressionar a barra na presença da luz, sabemos que a 
propriedade funcionalmente relevante do estímulo discriminativo 
é ser uma luz com uma dada intensidade e sabemos que no caso das 
respostas a propriedade topográfica “pressionar a barra com a 
pata” possui relevância funcional. sabemos disso porque, ao apa‑
garmos a luz da caixa, a frequência de respostas diminui, e, se o rato 
pressionar a barra com o focinho, a consequência reforçadora não 
se seguirá. a questão central é que, embora o organismo possa 
pressionar a barra de uma maneira bastante estereotipada, a ocor‑
A NATUREZA ComPoRTAmENTAL DA mENTE 99
rência de uma resposta nunca é idêntica à ocorrência de outra. É 
por isso que falamos de “classes de respostas” e “classes de estí‑
mulos” e é justamente por isso, também, que skinner (1935/1961e, 
1938/1966a, 1979, 1980/1998) afirma que os estímulos e as res‑
postas são conceitos de natureza genérica, passíveis de identificação 
apenas por meio das relações funcionais estabelecidas entre os 
eventos estudados.
Uma questão importante a ser ressaltada quando se trata dos 
conceitos genéricos é: o que as consequências modificam? afinal, 
se uma resposta nunca é idêntica à outra, como uma consequência 
poderia surtir qualquer efeito na resposta que já ocorreu? enfim, 
como seria possível o processo de condicionamento? De acordo 
com skinner (1953/1965, 1989c), as consequências não alteram as 
respostas que já ocorreram, mas sim a probabilidade de que res‑
postas que pertencem à mesma classe possam ocorrer no futuro. É 
nesse contexto que o termo “reforço” faz sentido. Dizemos que um 
evento é reforçador quando ele fortalece a classe operante da qual faz 
parte no sentido de aumentar a probabilidade de que respostas que 
pertençam à mesma classe ocorram (skinner, 1953/1965, 1969e,

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