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CONTRATOS BANCÁRIOS E O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

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LEI 4596/64
CAPÍTULO IV -DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS
SEÇÃO I - Da caracterização e subordinação
Art. 17. Consideram-se instituições financeiras, para os efeitos da legislação em vigor, as pessoas jurídicas públicas ou privadas, que tenham como atividade principal ou acessória a coleta, intermediação ou aplicação de recursos financeiros próprios ou de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, e a custódia de valor de propriedade de terceiros.
Parágrafo único. Para os efeitos desta lei e da legislação em vigor, equiparam-se às instituições financeiras as pessoas físicas que exerçam qualquer das atividades referidas neste artigo, de forma permanente ou eventual.
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Art. 18. As instituições  financeiras  somente poderão   funcionar  no País  mediante  prévia autorização do Banco Central  da República do Brasil ou decreto do  Poder  Executivo, quando forem estrangeiras.
 § 1º Além dos estabelecimentos bancários oficiais ou privados, das sociedades de crédito, financiamento e investimentos, das caixas econômicas e das cooperativas de crédito ou a seção de crédito das cooperativas que a tenham, também se subordinam às disposições e disciplina desta lei no que for aplicável, as bolsas de valores, companhias de seguros e de capitalização, as sociedades que efetuam distribuição de prêmios em imóveis, mercadorias ou dinheiro, mediante sorteio de títulos de sua emissão ou por qualquer forma,
e as pessoas físicas ou jurídicas que exerçam, por conta própria ou de terceiros, atividade relacionada com a compra e venda de ações e outros quaisquer títulos, realizando nos mercados financeiros e de capitais operações ou serviços de natureza dos executados pelas instituições financeiras.
Na atividade das instituições financeiras, existem operações ativas, em que a entidade fornece crédito e figura como credora, e passivas, nas quais recebe numerário de terceiros e assume obrigações. 
Nas operações ativas, a obrigação do banqueiro tem por objeto imediato da relação a intermediação do crédito , e o objeto mediato é o crédito em si, com a disponibilização de numerário ou a entrega da moeda. 
Nas operações ativas, em que o banco é o credor, a obrigação do cliente do banco consiste na obrigação de dar - pagar os juros e o principal.
Nas operações passivas, como no contrato de depósito ou de aplicações em títulos bancários (CDB, RDB, etc.), há a especificidade de ser do banqueiro a conduta esperada quanto ao pagamento de juros, acessórios e restituição do capital.
Assim:
No desempenho de sua atividade, o banco realiza operações em que ele é o devedor -quando o banco recebe fundos, de que é exemplo típico o depósito- ou recebe fundos via CDB ou RDB, 
Ou,
 em que figura como credor (mediante a alocação de recursos, de que é exemplo mais comum o mútuo). Além disso, efetua operações acessórias, que não significam direta intermediação de crédito, mas sim prestação de serviços, como a cobrança de títulos, função hoje também exercida pelas sociedades de faturização.
Contrato de adesão. 
Muito raramente, os contratos bancários são negociados. Na grande maioria das vezes, celebram-se mediante a adesão do cliente (aderente) às condições gerais do negócio, estipuladas pelo estabelecimento financeiro.
Normalmente, essa posição de supremacia se reflete no conteúdo do contrato. Por isso, deve ser reconhecida a preponderância da parte que estipula as condições a serem aceitas pela outra sem discussão. 
Sigilo. 
O contrato bancário está fundado numa operação de confiança entre banco e cliente, com a garantia do sigilo: 
"As instituições financeiras conservam sigilo em suas operações ativas e passivas e serviços prestados" (art. 38 da Lei 4595/64; art. 1º da Lei Complementar nº 105, de 10.1.2001). 
Informações e esclarecimentos sobre tais registros somente serão fornecidos por ordem do Poder Judiciário (art. 88, § 1º, da Lei 4595/64 e art. 3º da Lei Complementar 105/2001) ou de comissão parlamentar de inquérito, que tem poderes de investigação próprios das autoridades judiciais (art. 58, § 3º, da Constituição da República). Esse poder de investigação foi negado ao Ministério Público em decisão do Supremo Tribunal Federal (RECR 215.301/CE, DJ de 28.05.99). 
Operações ativas: 
• Abertura de crédito, simples e em conta-corrente; 
• Desconto de títulos; 
• Concessão de crédito rural; 
• Concessão de empréstimo para capital de giro; • Aplicações (próprias) em títulos e valores mobiliários; 
• Depósitos interfinanceiros; 
• Operações de repasses e refinanciamentos 
• Concessões de financiamentos de projetos do Programa de Fomento à Competitividade Industrial. 
Operações passivas: 
• Depósitos a vista (de pessoas físicas ou jurídicas); 
• Depósitos a prazo fixo (de pessoas físicas ou jurídicas); 
• Obrigações contraídas no país e no exterior relativas a repasses e refinanciamentos; 
• Emissões de certificados de Depósitos Interfinanceiros (CDIs). 
O contrato de depósito é o mais comum e consiste na entrega de valores mobiliários a um banco, que se obriga a restituir quando solicitado.
O depósito pode ser à vista ou a prazo fixo, via de regra remunerado. 
O contrato de conta corrente é o contrato pelo qual o banco recebe numerário do correntista ou de terceiros e se obriga a efetuar pagamentos por ordem do cliente, pela utilização daqueles recursos,
O contrato de aplicação financeira consiste na autorização dada ao banco para que os recursos nele depositados sejam aplicados no mercado de capitais (compra de ações, de títulos da dívida pública, etc.), o que é feito de acordo com a escolha do banco, no que se distingue do mandato ou da corretagem. 
Contratos comuns de aplicação financeira são os feitos para a aquisição de CDB ou de RDB (certificados ou recibos de depósito bancário), com o direito de o aplicador receber do banco certa remuneração, pré ou pós-fixada.
Nas operações ativas, o banco realiza diversos negócios, sendo o mais comum o mútuo bancário, que é o empréstimo de certa soma em dinheiro, para receber no vencimento o capital e o juro; 
o desconto bancário, pelo qual o banco antecipa o valor do crédito do cliente com terceiro, recebendo o título representativo dessa dívida por endosso ou cessão; 
o contrato de abertura de crédito, que consiste na alocação de certa quantia de dinheiro à disposição do cliente para possível utilização futura, e o cheque especial, espécie de contrato de abertura de crédito.
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA
Quando um consumidor vai comprar um carro a crédito, utilizando-se de financiamento bancário, ele assina o contrato com o banco ou outra instituição financeira, com o objetivo de fazer a retirada do veículo de sua preferência em um estabelecimento determinado. Desse modo, o motorista torna-se devedor da instituição, precisando quitar as parcelas com ela acordadas, referentes ao veículo que está desfrutando.
Isto significa que o bem (ou seja, o carro) não é de propriedade ainda daquele que tem a posse, mas sim do banco ou da instituição financeira que custeou a aquisição. No documento do veículo, o gravame da alienação fiduciária segue registrado, até que o motorista devedor pague a última parcela do financiamento e, em consequência do término da dívida, “dê baixa” (retire) a anotação. Com o término da pendência financeira, o veículo fica desvinculado da empresa que o financiou, podendo ser transferido, enfim, para o nome do motorista, que passa a ser o proprietário.
INCERTEZA JURISDICIONAL E CRÉDITO DE LONGO PRAZO Edmar Lisboa Bacha 
O termo “incerteza jurisdicional” foi proposto em artigo recente que escrevi com Persio Arida e André Lara Resende (“Credit, Interest, and Jurisdictional uncertainty: Conjectures on the Case of Brasil”, para designar a incerteza sobre a estabilidade e a segurança dos contratos financeiros firmados sob jurisdição brasileira. 
A tese é que o mercado financeiro interno de longo prazo é pequeno devido à resistência dos agentes privados em aplicarem sua poupança em instrumentos financeiros de longo prazo sujeitosà jurisdição brasileira. 
Gostaria aqui de tentar precisar esse conceito de incerteza jurisdicional e sua relação com a pequenez do mercado financeiro de longo prazo no país. E também indagar sobre o que seria possível fazer para ampliar o alcance do mercado financeiro doméstico. 
A incerteza jurisdicional reflete um viés anti-credor não precificável, manifestando-se no risco de atos do Príncipe mudando o valor dos contratos financeiros durante sua vigência ou por ocasião de sua cobrança, ou de decisões das Cortes desfavoráveis ao credor até mesmo por sua demora. 
Associa-se ao conceito de “impunidade civil” do devedor, mas enfatiza fraquezas jurisdicionais no sentido do poder do Estado, em sua soberania, de fazer leis e administrar a Justiça. 
Por não poder ser precificada, a incerteza jurisdicional tem por conseqüência a quase inexistência de uma oferta privada voluntária de financiamento de longo prazo na jurisdição interna. É útil contrastar essa tese com uma alternativa bastante popular: o crédito de longo prazo inexiste porque a taxa de juros de curto prazo é tão alta. Muita gente pergunta: “Com essas taxas de juros tão altas no curto prazo, quem vai querer fazer empréstimos de longo prazo?”. 
A implicação dessa postura é que a solução para permitir o alongamento das aplicações estaria em reduzir a taxa de juros de curto prazo. Tal redução, segundo uns, viria naturalmente com o tempo, desde que se persistisse na atual política macroeconômica conservadora. Para outros, crentes na teoria dos equilíbrios múltiplos, essa baixa da taxa de juros poderia ser obtida por um ato voluntarista do Banco Central. 
A INSEGURANÇA JURÍDICA É TAMBÉM DO DEVEDOR: SELEÇÃO ADVERSA E CUSTO DO CRÉDITO NO BRASIL
Ana Lúcia Pinto da Silva, Luciana Luk-Tai Yeung e Carlos Eduardo Carvalho
Para o tomador de crédito, a incerteza é gerada por diversas fontes: 
(i) porque o banco tem condições para tomar atitudes não previstas ou previstas de forma insuficiente no contrato inicial (cobrança de taxas adicionais, exigência de reciprocidades);
 (ii) porque o banco pode estabelecer exigências descabidas no caso de dificuldades de pagamento pelo devedor;
 (iii) porque o banco pode negar a renovação do crédito ou exigir condições muito desfavoráveis para a renovação; 
(iv) e, finalmente, porque o tomador tem menor conhecimento sobre as reais conseqüências do descumprimento do contrato. Em suma, o tomador de crédito tem uma assimetria de informação maior e está numa posição de maior vulnerabilidade diante de práticas oportunistas por parte do banco e está sujeito a condições muito adversas em caso de dificuldades para pagamento dos encargos e principal do contrato.

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