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artigo HISTÓRIA E ARQUITETURA DO CONSERVATORIO ESTADUAL DE MÚSICA JUSCELINO Juscelino Kubitschek de Oliveira POUSO ALEGRE JASMINE LUIZA

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II Simpósio Científico do ICOMOS Brasil 
Belo Horizonte/MG - de 25 a 28/04/2018 
CONSERVATÓRIO ESTADUAL DE MÚSICA JUSCELINO 
KUBITSCHEK DE OLIVEIRA: A História de Um Edifício. 
SILVA, JASMINE LUIZA S. 
 
1. Universidade de São Paulo Campus São Carlos 
Programa de Pós-graduação do Instituto de Arquitetura e Urbanismo 
Rua Josefina Ferreira Bolzan, 82 
37558-333, Pouso Alegre - MG 
contato@jasminearquitetura.com 
 
RESUMO 
O Conservatório Estadual de Música Juscelino de Oliveira Kubitschek localizado em Pouso Alegre, 
MG, ocupa um edifício histórico da cidade que traz consigo uma longa bagagem histórica e 
arquitetônica. O edifício que hoje é tombado como patrimônio histórico municipal foi construído em 
1918 pelo arquiteto paulista Mario Gissoni para servir como Escola Normal e educar as moças da 
cidade e região. A construção de 3.943 m² abrigada 300 moças em regime de internato com 
administração religiosa, o edifício foi projetado seguindo as preocupações higienistas dando 
prioridade para ventilação e insolação dos espaços. A partir de 1978 o prédio passa a ser ocupado 
pelo Conservatório Música Juscelino de Oliveira Kubitschek como escola de música, canto e cursos 
técnicos. Esse trabalho propõem uma leitura história e arquitetônica do prédio para entender sua 
importância para história do município e região. Este estudo realizado junto ao programa de pós-
graduação da Universidade de São Paulo campus São Carlos, objetiva compreender o edifício 
propondo uma leitura história e arquitetônica do prédio, colocando em pauta sua restauração e 
estado de preservação para compreender os significados de sua presença na cidade. 
Palavras-chaves: Conservatório de Música; Escola Normal; Instituto Santa Dorothea; Patrimônio de 
Pouso Alegre. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
II Simpósio Científico do ICOMOS Brasil 
Belo Horizonte/MG - de 25 a 28/04/2018 
 
 
Introdução 
O Conservatório Estadual de Música Juscelino de Oliveira Kubitschek (CEMJPA), é 
um dos 12 Conservatórios de Minas Gerais, sendo um dos maiores e mais reconhecidos, 
situado na região central de Pouso Alegre, no sul de Minas Gerais é um importante edifício 
na história educacional e social da cidade. Localizado em local estratégico na cidade, na 
esquina das Ruas Cel. Otávio Meyer e Francisco Sales, no centro de Pouso Alegre, um 
edifício imponente com três pavimentos ganhava destaque nas fotografias e na paisagem 
urbana. 
 
Figura 1: Praça Senador José Bento em Pouso Alegre. Ao fundo o Instituto Santa Dorothéa, atual 
Conservatório de música. Foto sem data definida, porém podemos perceber que é anterior a 1947 
pela presença da antiga Catedral. Fonte: Acervo Museu Tuany Toledo. 
Este estudo realizado junto ao programa de pós-graduação da Universidade de São 
Paulo campus São Carlos na disciplina “Produção Arquitetônica Paulista do Séc. XIX ao 
Séc. XX”, objetiva compreender o edifício propondo uma leitura história e arquitetônica do 
prédio, colocando em pauta sua restauração e estado de preservação para compreender os 
significados de sua presença na cidade. 
 
 
 
II Simpósio Científico do ICOMOS Brasil 
Belo Horizonte/MG - de 25 a 28/04/2018 
 
O conservatório em atividade a mais de 60 anos, oferece aulas musicais, aulas 
artísticas de pintura e interpretação além de cursos técnicos como: Técnico em Instrumento, 
Técnico em Canto e Técnico em Design de Interiores. Foi a partir da escola que surgiram 
diversos grupos musicais, grupos de teatros e atores, orquestras, cantores solistas e corais. 
 A história do edifício começa com a chegada da Madre provincial das Irmãs Dorothea 
a Pouso Alegre, vinda de Portugal em fevereiro de 1911. Em 1918 tem início as primeiras 
obras do edifício, projetado para abrigar a Escola Normal Santa Dorothea, um colégio para 
meninas, a construção se inicia sob projeto do engenheiro e arquiteto Mário Gissoni. 
Baseados nos ensinamentos religiosos e morais, a escola Santa Dorothea ensinava 
as meninas e moças da cidade uma educação pontada pela sabedoria religiosa e 
habilidades para exercerem as atividades domésticas. Para dar apoio ao ensino religioso e 
evitar que as estudantes se desloquem para as outras igrejas da cidade, em outubro de 
1926 é inaugurada a Capela do Sagrado Coração de Jesus, junto à Escola Normal. O 
colégio funcionou no local até 1975, após a construção de novo prédio próximo a Av. Tuany 
Toledo, as freiras transferiram suas atividades para o novo local. 
 O conservatório anteriormente se localizava na Praça João Pinheiro, antiga 
Rodoviária de Pouso Alegre, onde funcionou por 24 anos. Após a saída das freiras para a 
nova localidade, em 1978 o edifício passa a abrigar o Conservatório Estadual de música J. 
Kubitschek até março de 1987 quando acontece um incêndio criminoso no prédio. Somente 
após 7 anos, o Conservatório volta a ocupar o edifício retomando as aulas em setembro 
1994. 
A pesquisa abordou uma investigação da história, feita através de leitura e análise 
das bibliografias existentes que tratam do tema de patrimônio arquitetônico, dissertações 
que se referem ao Conservatório de Música e o Instituto Santa Dorothea. Para melhor 
compreensão foi realizada visita ao local, estudo de sua arquitetura, fotografias, análise do 
projeto de reforma e entrevista com um dos arquitetos responsáveis pela restauração do 
edifício após o incêndio. 
Entender o Conservatório foi indispensável para entender seu processo de 
tombamento e analisar as condições de preservação. O estudo faz uma apuração da 
 
 
 
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história do edifício, o incêndio e o processo de reconstrução, de que modo a população teve 
papel importante na reabertura da escola e como se encontra a arquitetura desse edifício 
com o passar dos anos. 
História 
Escola Santa Dorothea 
Em 11 de fevereiro de 1911, a Escola Normal Santa Dorotéia foi fundada pela Madre 
Antonieta Montani Leoni - provincial da congregação de Santa Dorotéia. Foi equiparada à 
Escola Normal do Estado pelo Decreto de nº. 3.256 de 25 de julho do mesmo ano. A escola 
para moças era a única forma de educação da região para as filhas de fazendeiros e de 
ricos comerciantes. Responsável pela difusão de comportamentos considerados adequados 
às mulheres com currículo enciclopédico com predomínio dos estudos clássicos, oferecia 
uma educação dentro dos padrões europeus. 
Pouso Alegre foi uma das cidades pioneiras ao receber um Instituto de educação 
para mulheres: àquela época, o bispo local viaja à Itália com a missão de convidar as 
religiosas da Congregação de Santa Dorotéia, para assumirem a direção da futura Escola 
Normal para meninas. As irmãs Dorotheas vieram de Portugal, devido à situação política 
criada pela Revolução Republicana de Portugal, em fins de 1910, cujo governo expulsou, 
violentamente de suas casas e colégios, todas as religiosas. Aproveitando o convite de Dom 
Antônio Augusto de Assis, estabelecendo na cidade para dirigir a Escola Normal. 
 
 
 
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Figura 2: Instituto Santa Dorothéa, 1930 – Sede atual do Conservatório. Fonte: 
http://museutuanytoledo.blogspot.com.br/2012/05/conservatorio-estadual-de-musica.html 
As aulas do curso normal iniciaram-se em março de 1911 ainda no Convento de 
Visitação, em 7 de abril há a mudança para o sobrado cedido por uma família no Largo da 
Catedral. Porém, já no início de 1912 o prédio mostrou-se pequeno para atender a procura 
dos pais de toda a região do Sul de Minas, e mais alguns cômodos foram construídos. O 
trabalho das irmãs popularizava-se na região, e o número crescente de alunas também,forçando-as, em janeiro de 1914, a mudarem para o Palácio Episcopal. 
A escola funcionou no Palácio até 1915 quando há a transferência das Irmãs da 
Visitação para São Paulo e a eleição do novo bispo de Pouso Alegre. De volta ao Convento 
de Visitação, a escola fica por pouco tempo nesse local em razão da solicitação do Governo 
Federal pedindo o espaço para instalação do 8º Regimento de Artilharia Montada. 
Recebendo as Irmãs Dorotheas uma indenização de Cr$ 35.000,00 para auxiliar a 
construção de um novo Edifício. 
Em 29 de junho de 1919 inaugura-se o imponente edifício, terminando, assim, a 
prolongada fase de transferências do colégio, agora confortavelmente instalado no centro da 
cidade. Projetado especialmente para abrigar a Escola Normal, o edifício em estilo 
 
 
 
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Neoclássico segue os padrões higienistas da época, presando por grandes quantidades de 
aberturas para garantir a ventilação dos espaços. 
Conservatório Estadual De Música Juscelino Kubitschek De Oliveira 
Em 1951, o governador de Minas Gerais da época, Juscelino Kubitschek de Oliveira, 
baixou um ato criando seis Conservatórios Estaduais de Música que deveriam ser instalados 
em regiões distintas do Estado, Pouso Alegre foi uma das cidades contempladas. O então 
Conservatório foi inaugurado no dia 30 de maio de 1954 pelo então governador de Minas 
Gerais Juscelino Kubitschek, teve três dias de festas para comemorar a abertura da escola. 
A princípio a escola funcionava em um imóvel alugado na Praça João Pinheiro, nº 114, que 
pertencia ao patrimônio da Associação de Proteção à Infância (API). 
O Início das atividades foram em setembro de 1954 quando aconteceu a primeira 
seleção de candidatos a alunos. As aulas começaram em fevereiro do ano seguinte 
contando com pouco menos de 40 alunos. A primeira apresentação dos alunos do 
Conservatório em público ocorreu no dia 4 de junho de 1956 em uma audição geral para 
todos os pousoalegrenses. 
O Conservatório realizou diversos festivais de música e arte, entre eles, em 1968, o 
primeiro Festival de Música Erudita (Festival Debussy) e o Concurso Nacional de Piano, 
trazendo à cidade músicos e professores de diversas localidades, como São Paulo e 
Paraná, e de outros países, como Rússia, Alemanha e França. (Borges, pag. 40) 
Com o crescente número de alunos, em 1978, após 24 anos funcionando na Praça 
João Pinheiro, o Conservatório foi transferido parcialmente para o prédio na Rua Francisco 
Sales, dividindo o espaço com a Escola Estadual Ana Augusta de Faria e também o curso 
pré-vestibular do Colégio Anglo. O ginásio e os cursos técnicos passaram a funcionar na 
nova sede, mas o primário musical continuava as suas atividades no prédio da Praça João 
Pinheiro, nesta data o Conservatório já possuía 1.529 alunos. 
 O Doloroso Incêndio 
Em março de 1987 o Conservatório enfrentou um grande desastre, um incêndio 
criminoso começou na madrugada do dia 9 e resultou em grande perda material e simbólica 
para a cidade. Quem primeiro notou o incêndio foi o vigia, ao escutar barulhos de explosões, 
 
 
 
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avistou algumas chamas na entrada do prédio. Também estava no edifício o professor de 
violino Dalton Ferreira Nunes, que havia vindo de Campinas e encontrava-se instalado no 
segundo andar da construção. Ambos acionaram a polícia para dar início a tentativa de 
apagar as chamas. 
 
Figura 3: Foto do interior do edifício após o incêndio. Fonte: Museu Municipal Tuany Toledo 
O fogo se espalhou rápido por todo prédio que possuía assoalho de madeira. Muitos 
ex-alunos e moradores próximos ajudaram na retirada de instrumentos enquanto os 
bombeiros tentavam diminuir as chamas, contaram também com a ajuda do 14º Grupo de 
Artilharia de Campanha do Exército e 20º batalhão de Polícia Militar. Infelizmente, antes 
que conseguissem acabar com as chamas, a água do carro de bombeiro se esgotou e foi 
preciso retirar água do Rio Mundo, que ficava a 2,5km de distância do local. Nesse espaço 
de tempo o fogo alastrou-se por todo o assoalho de madeira, cortinas e instrumentos. 
O incêndio destruí todo assoalho do 2° piso e do 3°, queimou o telhado, história, 
instrumentos musicais, arquivos. A memória da escola que estava registrada em livros de 
atividades, onde continha todos os trabalhos anuais, bem como um arquivo iconográfico, 
 
 
 
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contendo mais de 700 fotografias, desde a sua criação, foram todas consumidas pelo fogo. 
Aproximadamente 100 atividades desenvolvidas, desde a inauguração do Conservatório até 
o ano de 1978 foram perdidas. Dos 20 pianos, 4 deles foram queimados. O prejuízo ficou 
em torno de cinco milhões de Cruzados. 
Sabe-se que o incêndio foi criminoso, porém até hoje o caso não foi solucionado a ponto 
de identificar o autor do crime. A primeira hipótese era de o incêndio ter iniciado por um 
curto-circuito, no entanto, no ambiente onde se iniciou o fogo havia apenas um interruptor de 
luz e este se encontrava no lado oposto do local que iniciara as chamas. A fiação toda foi 
examinada e não foi encontrado nada irregular. O relatório assinado pelo delegado Carlos 
Eduardo Pinto, com data de 15 de julho de 1987 ficou bem claro que o incêndio foi 
criminoso, causado por uma substância inflamável. 
A Reconstrução e Restauração 
O incêndio causou muitas perdas lastimáveis, dezenas de instrumentos musicais, 
registros, documentos, memorias importantes. O edifício permaneceu com as fachadas 
intactas, por algumas fotografias cedidas pelo Museu Municipal Tuany Toledo1, percebe-se 
que as paredes internas permaneciam “em pé”, porém sem revestimento, os assoalhos de 
madeira dos pisos superiores foram totalmente queimados, como também todo telhado e a 
escada de madeira maciça que dava acesso aos demais pavimentos. 
Também pelas fotos percebe-se que algumas salas de aula do piso térreo não foram 
atingidas pelo fogo. Segundo informações fornecidas pela arquiteta Daniela Guilherme2, 
docente do curso Técnico Design de Interiores, as últimas duas salas do pavimento térreo 
do corredor direito, permanecem com sua configuração inicial sendo os pisos, paredes, 
janelas e portas originais anteriores ao incêndio. 
 
1 O Museu Municipal Tuany Toledo cedeu de forma digital as fotografias do conservatório após solicitação via e-
mail. 
2 As informações fornecidas pela arquiteta Daniela Guilherme foram cedidas em conversa informal no dia 
1/11/2017. 
 
 
 
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O incêndio causou grande comoção nos moradores de Pouso Alegre, para arrecadar 
fundos para a restauração do prédio foram realizadas diversas festas como a tradicional 
Caipiarte. Muitos comerciantes e empresas locais fizeram doações através de uma 
campanha organizada pela Associação do Médio Sapucaí. A reconstrução do prédio 
começou devagar em 1988, com projeto de restauração doado pelos arquitetos Marcos 
Vilas Boas e Roduvaldo Vono Carneiro. (XAVIER,2016. Pag. 22 ) 
 
Figura 4: Conservatório Estadual de Música Juscelino Kubitschek de Oliveira, estado atual do edifício 
feita em novembro de 2017 pela autora. Acervo pessoal da autora. 
Em entrevista informal com Marcos Vilas Boas, o arquiteto contou que foi convidado 
a participar do projeto pelo arquiteto Roduvaldo que havia recebido da diretora do 
conservatório na época, Wilma Andery, o pedido para o desenvolvimento do projeto 
arquitetônico. Nas palavrasde Marcos Vilas Boas “O fogo destruiu tudo, mas foi tudo 
mesmo destruído... só sobraram as paredes e mais nada... e o reboco externo, de resto, por 
dentro, tudo destruído”. (Vilas Boas, 2017) 
Segundo o arquiteto, no projeto de reconstrução, haviam proposto uma rampa para 
acesso aos pavimentos superiores, prevista para ser implantada no local das “saletas” de 
 
 
 
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ensaio no corredor da biblioteca, essas salas seriam transferidas para o então sótão, entre 
as tesouras do telhado, porém, na obra o projeto foi alterado excluindo a rampa e 
reconstruindo as pequenas salas de ensaio no mesmo local. 
“As paredes internas continuaram, apenas algumas 
foram demolidas e eliminadas, mas 90% foram recuperadas. 
Quase não haviam estrutura de concreto armado, algumas 
paredes inferiores sim, havia vigas de ligação para vão 
maiores e/ou em corredores maiores, de resto, toda a 
estrutura das paredes eram e foram executadas em 
argamassas mistas e de barro, na maioria eram em barro o 
assentamento dos tijolos, estes, os tijolos, é que faziam 
parte da estrutura, por ser sua forma na época das olarias e 
o costumeiro de se construir, a composição de tijolos de 14 
x 29 x 6,5. ” (Vilas Boas, 2017) 
Marcos Vilas Boas contou que no projeto novo (depois do incêndio) foram adicionados 
estrutura de concreto armado para ancorar e segurar as paredes internas que ficaram 
totalmente comprometidas pelo fogo, foram colocadas as lajes de piso, lajes treliçadas com 
ferragem adicional. Na proposta do projeto, mantinha-se a execução da escada original em 
madeira, mas foi feita de concreto na obra. Algumas orientações de gestão do espaço foram 
alteradas pela própria diretoria da escola como sala diretor, secretaria e atendimento, bem 
como acesso secundário do conservatório. 
Sobre as janelas e portas externas: “foram todas reconstruídas... foram feitos os 
desenhos de toda a fachada lá na calçada, copiado e por fotos executadas. ” (Vilas Boas, 
2017) 
De acordo com Xavier, 2016, o edifício sofreu algumas alterações quando se deu o início 
a restauração. Forma elaborados os projetos elétrico, hidráulico e telefonia para se adequar 
as necessidades da escola de música. A entrada principal, que antes ficava entre a 
secretaria e biblioteca, passou a ser usada como sala de direção, além disso, o auditório foi 
modificado sendo invertido a posição do palco, os camarins passaram a ocupar a sala onde 
 
 
 
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antes funcionava a supervisão, as poltronas foram trocadas pela do antigo cinema da 
cidade, Cine El Dourado. No local onde funciona a sala de direção, no segundo piso, 
transformou-se em banheiros para os professores. 
Os pisos do segundo e terceiro pavimentos, anteriormente de assoalhos de madeira 
foram substitutos por lajes de concreto. A escada que antes era toda de madeira, 
atualmente é de mármore e somente o corrimão de madeira, além desta, foi implantada uma 
nova escada para acesso aos pisos superiores. Em uma comparação entre duas fotografias 
do edifício, uma sem data registrada, porém ainda com a denominação de Escola Normal, 
ou seja, anterior a 1975, e outro registrada em novembro de 2017, podemos identificar 
somente alteração da porta principal na fachada. 
Somente em 1993, após 6 anos do incêndio, foram liberadas as verbas do Estado de 
Minas Gerais para finalização da obra. No ano seguinte, em 10 de setembro o Conservatório 
foi reinaugurado com uma festa com apresentação de musicais, bancas, homenagens e 
exposições de quadros doados por artistas da cidade. 
Algumas outras modificações foram realizadas no prédio, porém não é possível afirmar 
que fazem parte da restauração de década de 1990, sendo algumas visivelmente novas 
como a implantação de porta de vidro colocada recentemente entre a entrada de 
funcionários e o corredor das salas de aula. A construção do prédio anexo com 10 salas de 
aulas, implantação de cobertura translucida e cobertura metálica nos corredores laterais, 
algumas salas foram subdivididas e foi retirado o do jardim que ocupava o pátio com duas 
árvores Paineiras, atualmente há somente uma árvore no pátio. 
Características Arquitetônicas 
Segundo o laudo técnico de tombamento (1999), o edifício é caracterizado como estilo 
arquitetônico Neoclássico e detalhes barrocos em seu interior. Nesse trabalho não será feito 
uma classificação de qual estilo arquitetônico o edifício segue, mas sim dar atenção 
adequada a sua morfologia, elementos e detalhes. 
Construído em 1918 pelo arquiteto paulista Mario Gissoni e a construção 
supervisionada por engenheiros do exército, tem 3.943 m2 de área construída. Foi projetado 
 
 
 
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para abrigar 300 moças em regime de internato na Escola Normal Santa Dorothéa, o prédio 
segue princípios higienistas característicos da época, pensando em melhor ventilação e 
insolação dos ambientes é vasto em aberturas e varandas. 
Uma arquitetura voltada para educação que se preocupará com a organização do 
espaço escolar. O terreno foi estrategicamente escolhido com localização privilegiada, ao 
alto com vista para toda cidade. Inicialmente com três pavimentos, era uma construção 
imponente, marcava seu significado no tecido urbano contribuindo para a composição de 
uma paisagem urbana que expressava o requinte dos materiais e elementos arquitetônicos 
importados, principalmente da Europa. 
A planta em formado de L forma um pátio, que anteriormente ajardinado, dava 
acesso a Capela Santa Dorothéa construída em 1926 para servir de apoio ao ensino 
religioso da Escola Normal. Atualmente, o edifício e a capela são separados por um muro. O 
pátio é uma clara influência dos antigos mosteiros onde era principal local de socialização, 
porém sempre “vigiado” pelas janelas altas do prédio. 
As paredes externas do prédio possuem espessuras diferentes em cada pavimento, 
característica comum das construções da época, no primeiro pavimento as paredes 
externas são de 80cm de espessura, no segundo 60cm e no terceiro 40cm. Os ambientes 
possuem pé direito alto, entre 3,45m e 4,20m. A cobertura é feita em estrutura de madeira e 
telhas tipo francesas. 
Construído no alinhamento das ruas, possui dois “braços” tangenciados pela fachada 
principal. Quatro portas externas dão acesso ao prédio, cada uma com duas folhas de 
madeira com visor protegido por grades, no alto das portas, bandeira com caixilho de vidro. 
No segundo pavimentos, as portas dão acesso a sacadas em balaústre vazadas 
sustentadas por elementos decorativos, guisas de mão francesa. Acima das portas há 
elementos decorativos retangulares. 
As janelas do primeiro pavimento são tipo de porão de guilhotina de duas folhas 
protegidas por grades metálicas, no segundo e terceiro pavimentos as janelas possuem 
peitoril baixo, aproximadamente 40cm, são em guilhotina de três folhas, atualmente 
 
 
 
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protegidas com grades metálicas devido ao peitoril baixo. São emolduradas por faixas em 
alto relevo, abaixo e acima, arabescos e elementos decorativos geométricos. 
As colunas são destacadas da fachada com elementos que se alargam na altura das 
sacadas, no alto do segundo e terceiro pavimento uma faixa em alto relevo com detalhes 
decorativos fitomorfos, circulares e arabescos, vão unindo as janelas em todas fachadas do 
edifício. No alto da cobertura, mãos francesas decorativas apoiam um beiral proeminente 
frisado que se alonga portoda extensão das fachadas, duas colunetas limitam beiral em 
arco em três elementos vazados, no centro se insere um globo pleno e em cima um 
medalhão. 
Tombamento 
O edifício onde hoje funciona o Conservatório Estadual de Música JKO é parte 
importante na história da cidade, como já mencionado, foi o primeiro colégio para atender 
moças que de Pouso Alegre e região, tem em sua história um incêndio que comoveu toda 
população e hoje é um dos maiores Conservatórios de música de Minas Gerais, faz parte do 
acervo arquitetônico da cidade por ser um edifício imponente e significativo. 
O processo de tombamento teve início logo após sua reinauguração, após a restauração 
do prédio, em 1995, pela prefeitura municipal de Pouso Alegre. Foram feitos laudos técnicos 
para avaliar as condições dos elementos como piso, paredes, pintura e estrutura. Em 1999, 
o prédio é tombado como patrimônio histórico e arquitetônico, feito pelo Decreto nº 
2348/1999 de 06/04/1999 assinado pelo então prefeito Jair Siqueira. 
 
Curiosidades 
O arquiteto Mário Gissoni era um profissional de renome na cidade, já havia realizado 
construções expressivas, onde, diversas delas, hoje, são tombadas e consideradas 
Patrimônio da cidade de Pouso Alegre, como por exemplo: o Colégio Estadual Professor 
José Marques de Oliveira, o Palácio Episcopal, o Fórum, entre outros. 
 
 
 
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Posteriormente, denominou-se Conservatório Estadual de Música de Pouso Alegre 
(CEMPA), retornando à denominação de origem de acordo com a Lei N.º 8.709, de 24 de 
outubro de 1984, publicada no MG de 25 de outubro de 1984, folhas 05, coluna 01. 
Em 1969, devido aos grandes trabalhos que estavam sendo realizado pelo 
Conservatório, este foi escolhido como uma das cinco melhores escolas de música do país 
em 1970. Foi realizada a pesquisa por músicos da rádio Jovem Pan de São Paulo, onde 
trouxe à escola o título de Conservatório Modelo do Estado e o Cartão de Prata, como 
Estabelecimento do Ano. 
Além de vários conjuntos de câmara e bandas, o Conservatório mantém uma Big Band, 
uma camerata de cordas, duas orquestras (Orquestra Experimental e Orquestra de violões); 
mantém diversos corais e grupos teatrais (infanto-juvenis, adultos e da terceira idade); 
promove mostras e exposições de artes visuais, decoração; e mantém programas de 
integração cultural, realizando eventos oferecidos à sociedade de toda região. (Borges,2008. 
pag.39) 
Considerações Finais 
A história de uma cidade também pode ser contada através da história de suas 
arquiteturas, assim como, podemos conhecer a sociedade e modos de vida da época. O 
edifício do Conservatório Estadual de Música JKO tem grande valor histórico e cultural para 
a cidade, em utilização até hoje, o patrimônio foi palco para músicos, instrumentistas e 
cantores. 
Levando-se em conta o que foi estudado, podemos ressaltar que a reconstrução tentou 
manter ao máximo a arquitetura original respeitando fielmente a fachada que possui 
diversos adereços típicos das construções da década de 20. Por mais que o edifício se 
apresente em bom estado de preservação ainda assim necessita de muitos cuidados. 
Sendo tombado municipalmente como patrimônio histórico o prédio tem seu valor 
reconhecido, grande apreço da população da cidade, alunos e Ex alunos, porém, ao visitar a 
escola percebe-se as marcas do tempo, o edifício se encontra em situação precária por mal-
uso, as paredes e pisos com revestimentos desgastados, sujas e com pichações. Após 23 
 
 
 
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anos de sua reinauguração, entende-se que é necessário realizar uma restauração do 
prédio, priorizando a preservação de sua arquitetura e características que dão beleza ao 
edifício e mostram sua importância para o município. 
Em conversa informal com arquiteta docente da escola, pode-se perceber que está em 
andamento o processo para uma possível reforma. Ao se estudar o projeto, pode-se 
identificar algumas alterações no pátio, a implantação de um anexo, retirada do “palco” de 
apresentações externas e acréscimo de banheiros e rampas para alunos com necessidades 
especiais. É necessário que haja uma preocupação sobre como essa reforma será 
realizada, se está será feita respeitando o patrimônio e suas características e 
principalmente, respeitando sua história. 
O edifício que traz grande alegria a cidade, ainda mantem suas atividades, mesmo 
passando por diversos empecilhos durante as décadas, o Conservatório forma diversos 
alunos todos os anos e atrai filas de próximos candidatos e amantes da arte musical. 
Diferente de que estamos acostumados e ver com imponentes arquiteturas históricas que, 
ao se tornar patrimônio também se tornam museus ou são destinados a utilidades 
diferentes, o Conservatório mantem sua função de educacional. É necessário que prédios 
históricos não percam sua função dentro da sociedade, a restauração e conservação devem 
ser diários mas para ser arquitetura deve-se ter uma função, para não se tornarem apenas 
monumentos. 
 
 
 
 
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Referências 
1. BALBINO, Antônio Gilberto. História e Memória Do Instituto Santa Dorotéia De 
Pouso Alegre Mg -1911-1976. Universidade São Francisco. 
2. BORGES, Alvaro Henrique. Abordagens Criativas: Possibilidades Para O 
Ensino/Aprendizagem Da Música Contemporânea. São Paulo, 2008. Dissertação -
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Instituto de Artes 
3. MUSEU HISTÓRICO MUNICIPAL TUANY TOLEDO. Conservatório Estadual de 
Música Juscelino Kubitschek de Oliveira. Disponível em:< 
http://museutuanytoledo.blogspot.com.br/2012/05/conservatorio-estadual-de-
musica.html> Acesso em: outubro, 2017. 
4. SANCHES, William; CASTRO, Luciene F. Memórias que um incêndio não destruiu. 
Pouso Alegre – MG, 2003. Apoio cultural Prefeitura de Pouso Alegre. 
5. XAVIER, Tamires Mayara Lopes. Conservatório Estadual de Música Juscelino 
Kubitschek de Oliveira. Poços de Caldas, 2016, Monografia - Pontifícia Universidade 
Católica campus Poços de Caldas.

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