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XX Apostila Aldo Sabino Processo civil Parte Geral

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL – Volume 1 
Novo CPC – Parte Geral – Professor Aldo Sabino 
 
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ESTUDOS PRELIMINARES SOBRE O NOVO CPC 
 
VOLUME 1 - PARTE GERAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PROFESSOR ALDO SABINO 
Atualizada até 10 de agosto de 2018. 
Inclui anotações e comentários rápidos e objetivos sobre as 
disposições do Novo CPC (Lei 13.105/2016). 
Já de acordo com as Leis 13.256/2016 e 13.363/2016, 
 que alteraram o texto principal do Novo CPC, e com a Lei 13.466/2017 
(prioridade especial dos maiores de 80 anos) 
Inclui também as disposições finais e transitórias do Novo CPC 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL – Volume 1 
Novo CPC – Parte Geral – Professor Aldo Sabino 
 
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Currículo do autor 
 
a) Graduação: 
 
 Bacharel em direito pela antiga Universidade Católica do Estado de 
Goiás – PUC-GO (conclusão em 1997) 
 
b) Pós-graduação: 
 
 É especialista em Direito Civil e em Direito Processual Civil pela 
Faculdade Anhanguera. 
 
c) Atividade Profissional: 
 
 É professor (de Direito Processual Civil) da Escola Superior da 
Magistratura do Estado de Goiás (ESMEG) e da Escola Judicial do Poder Judiciário do 
Estado de Goiás (EJUG). 
 
 Ministra módulos de pós-graduação lato sensu na Universidade 
Federal de Goiás (Recursos Cíveis), na Universo (Processo de Cognição, Recursos Cíveis 
e Processo de Execução), na UEG (Juizados Especiais Cíveis) e na Uni-Evangélica 
(Anápolis). 
 
 É coordenador pedagógico da Escola Superior da Magistratura do 
Estado de Goiás. 
 
 Na área pública, após concurso público, exerceu o cargo de 
Promotor de Justiça no Estado de Goiás de 1997 a 1999, quando logrou aprovação em 
certame para ingresso na magistratura do mesmo Estado. 
 
 Exerceu a função de Promotor Eleitoral (1997-1999). 
 
 Exerceu a função de Juiz Eleitoral (1999-2006 e 2010-2012). 
 
 Foi membro da Turma Recursal Mista da 3ª Região (Anápolis) por 
8 anos (2005-2013). 
 
 Atualmente, é Juiz de Direito titular do 2o Juizado Especial Cível 
da Comarca de Goiânia e Coordenador Estadual dos Juizados Especiais Cíveis. 
 
 É componente do grupo de multiplicadores e palestrante do 
Movimento Nacional da Conciliação e Mediação. 
 
d) Obras Jurídicas Publicadas: 
 
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 É autor das obras jurídicas (a) “Manual de Processo Civil” (AB 
Editora, 2ª Edição), (b) “Direito Processual Penal” (IEPC Editora, 2ª Edição) e (c) 
“Reflexos do Novo CPC nos Juizados Especiais Cíveis” (2ª Edição, Escola Judicial do 
Estado de Goiás, em coautoria com Susana Araújo). 
 
 
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Sumário breve: 
 
 
 
Nota do autor.....................................................................................................................05 
 
 
 
Livro I – Das Normas Fundamentais e da Aplicação das Normas Processuais................09 
 
 
 
Livro II – Da Função Jurisdicional....................................................................................27 
 
 
 
Livro III – Dos Sujeitos do Processo.................................................................................56 
 
 
 
Livro IV – Dos Atos Processuais.....................................................................................129 
 
 
 
Livro V – Da Tutela Provisória.......................................................................................169 
 
 
 
Livro VI – Da Formação, da Suspensão e da Extinção do Processo...............................190 
 
 
 
LIVRO COMPLEMENTAR – Disposições Finais e Transitórias..................................196 
 
 
 
Referências Bibliográficas..............................................................................................202 
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Nota do autor 
 
 
 A edição e a entrada em vigor do Novo Código de Processo Civil 
(Lei 13.105/2015) me obrigou a tomar uma difícil decisão, a decretação da 
“aposentadoria” de meu “Manual de Processo Civil” (lançado pela querida AB Editora e 
que já estava indo para a 3ª edição). 
 
 Foi difícil porque se trata de uma obra confeccionada com muito 
carinho e editada a partir de minhas anotações feitas durante a faculdade, o preparatório, 
a pós-graduação e, principalmente, durante meus vários anos de magistério na preparação 
de bacharéis do direito para carreiras jurídicas. 
 
 Uma parte de minha vida estava retratada nele. 
 
 Ocorre que comentei nele um sistema da década de 70 e que passou 
por três alterações legislativas nas décadas de 90 e nos anos 2000; agora, um sistema 
completamente diferente entra em vigor. 
 
 O prestígio agora é à conciliação, à cooperação (entre juiz e partes, 
e vice-versa), aos precedentes judiciais e a maior qualidade nas decisões judiciais. 
 
 O Novo CPC retrata um sistema mais consentâneo com nossa 
Constituição Federal. 
 
 Diante disso, me senti obrigado a reescrever tudo, começando da 
primeira letra e este é meu primeiro trabalho, a gênese de um CPC/2015 comentado, 
artigo a artigo. 
 
 Subordino, pois, esse primeiro texto ao crivo de meus alunos do 
preparatório, da pós-graduação, aos advogados e aos meus colegas magistrados para que 
seja objeto de leitura e, é óbvio, crítica. 
 
 A profundidade está longe da desejada, mas terei muito tempo para 
me alongar, debater e opinar de modo mais seguro sobre os novos temas. 
 
 Rogo compreensão do leitor por algum erro de digitação ou mesmo 
de interpretação desse novo sistema. 
 
 Enfim, registro aqui o meu agradecimento aos que me ajudaram 
mais diretamente a desenvolver esse trabalho: 
 
 Primeiro, a Fábia (minha esposa), que ouviu com atenção a leitura 
de diversos trechos dessa “obra”, deu opiniões para que o texto ficasse mais didático, 
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sempre teve paciência com minha obstinação pela carreira de magistrado e de professor 
de Direito Processual Civil, bem como por ser a pessoa que é. 
 
 Segundo, aos meus filhos (Victor e Guilherme), que são meus 
melhores amigos, que me compreendem como ninguém e me ensinam (sem sequer 
perceber) a ser uma pessoa mais simples e um magistrado mais humano. 
 
 Terceiro, a minha equipe junto ao 2º Juizado Especial Cível da 
Comarca de Goiânia (Marcelo, Lucas, Daniel, Zenivalda, Giselle, Susana, Aline, 
Mariana, Paula e Rodrigo) e também a Adriana e Andréa (do 2º Juizado Especial Cível 
da Comarca de Anápolis), pelo senso de responsabilidade, pela honestidade, empenho, 
velocidade, eficiência no serviço judiciário e pela oportunidade que me deram de aplicar 
um processo civil muito próximo daquele que aprendi nos livros de doutrina durante a 
faculdade de direito. 
 
 Um imenso abraço do autor e um brinde ao Novo CPC. 
 
 Goiânia-GO, 22.03.2016. 
 
 
Aldo Guilherme Saad Sabino de Freitas 
 
 
 
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Nota à 4ª Edição 
 
 
 Agora, já nesta 4ª revisão do texto (março de 2018) e depois de 
aplicar o Novo CPC por quase dois anos no exercício da judicatura, me sinto seguro para 
dizer que ele realmente gerou maior qualidade no procedimento e nas decisões judiciais. 
 
 Estou certo disso. 
 
 Aliás, o Novo CPC contém três dispositivos (arts. 6º, 9º e 10) que já 
valeriam por si só a sua vida legislativa. São textos legais que consagram a cooperação, a 
boa-fé e a vedação da decisão surpresa, institutos que se aplicados com precisão pelo 
julgador geram um ótimo resultado na praxe forense, seja na democratização do processo 
judicial, seja na qualidadedas decisões judiciais. 
 
 E me sinto muito feliz com isso. 
 
 *** 
 
 Enfim, gostaria agora de registrar e agradecer a dádiva de ter mais 
um filho (Rafael Gomes Saad Sabino de Freitas), nascido exatamente nos dias em que 
concluí essa 4ª edição (12.03.2018). 
 
 Rogo, meu filho, que essas horas subtraídas do convívio entre pai e 
filho tenham produzido algo relevante e sério para meus alunos, advogados, servidores da 
justiça, colegas juízes e de acadêmicos de direito que utilizem esse trabalho feito entre 
um intervalo e outro de minhas obrigações diárias. 
 
 Goiânia, 25.03.2018. 
 
 
Aldo Guilherme Saad Sabino de Freitas 
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SIGLAS 
 
 
 
AI – Agravo de instrumento 
AINT – Agravo interno 
APC – Apelação Cível 
CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas 
CJF – Conselho da Justiça Federal 
CPC/1973 – Código de Processo Civil de 1973 (revogado) 
CPC/2015 – Código de Processo Civil de 2015 (Lei 13.105/2015) 
EDcl – Embargos de declaração 
ENFAM – Seminário sobre o Novo CPC realizado na ENFAM 
FPPC – Fórum permanente de processualistas civis 
IAC – Incidente de assunção de competência 
IRDR – Incidente de resolução de demandas repetitivas 
JEC – Juizado Especial Cível 
NCPC – Novo CPC ou Código de Processo Civil de 2015 
RE – Recurso extraordinário 
REsp – Recurso especial 
RI – Recurso inominado dos Juizados Especiais Cíveis 
ROrd – Recurso ordinário 
STF – Supremo Tribunal Federal 
STJ – Superior Tribunal de Justiça 
TC – Texto da Câmara 
TF – Texto final 
TJ – Tribunal de justiça de estado 
TRF – Tribunal regional federal 
TRT – Tribunal regional do trabalho 
TS – Texto do Senado Federal 
 
 
 
 
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LIVRO I 
DAS NORMAS PROCESSUAIS CIVIS 
 
TÍTULO ÚNICO 
DAS NORMAS FUNDAMENTAIS E DA APLICAÇÃO DAS NORMAS PROCESSUAIS 
 
CAPÍTULO I 
DAS NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL 
 
 
 “Art. 1º. O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado 
conforme os valores e princípios fundamentais estabelecidos na Constituição da 
República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste código”. 
 
1. Vigas Mestras do Novo CPC 
 
 A Lei 13.105/2015 (que traz à tona o Novo CPC e entrou em vigor no dia 
18.03.2016) tem como vigas mestras (a) o prestígio a conciliação e a mediação como formas de 
resolução de conflito mais rápidas, eficazes e econômicas (Novo CPC 3º § 3º, 165-166 e 334), 
(b) o incentivo à maior qualidade das decisões judiciais (Novo CPC 10, 12, 489, § 1º, entre 
vários outros), (c) incluindo aí as várias modalidades de cooperação (Novo CPC 317, 321, 357 § 
3º e outros) e (d) o prestígio aos precedentes judiciais (Novo CPC 926-928). 
 
 Essas são, pois, as premissas básicas para sua adequada compreensão e 
interpretação. 
 
 Por mais que se exija e almeje “velocidade” do Poder Judiciário, a 
verdade é que o Novo CPC não erigiu este valor a viga ou princípio, prestigiando, isto sim, a 
“razoável duração do processo” (Novo CPC 4º e 6º), locução que não se confunde 
necessariamente com “celeridade”. 
 
 Há, portanto, diversos institutos novos que geram maior qualidade nas 
decisões judiciais, mas muito poucos que imprimem maior velocidade que o CPC/1973, e é com 
essa mentalidade que devemos interpretar o novo regime de 2015, esperando dele não maior 
rapidez e sim decisões judiciais mais qualificadas, trabalhadas e, de conseguinte, mais justas. 
 
 Em síntese, o Novo CPC prima pela qualidade da decisão judicial, ainda 
que ela gere alguma morosidade no caminho até a sua prolação. Um ótimo exemplo disso temos 
no art. 10 do Novo CPC, que inegavelmente trará mais qualidade na decisão judicial, mas 
obviamente exigirá o investimento de maior tempo até que seja proferida. 
 
2. Estrutura do Novo CPC 
 
 A estrutura do Novo CPC contempla (a) uma Parte Geral e (b) uma Parte 
Especial. 
 
 A Parte Geral (arts. 1º-317) tem 6 livros, cuidando eles (a.1) das Normas 
Processuais Civis, (a.2) da Função Jurisdicional, (a.3) dos Sujeitos do Processo, (a.4) dos Atos 
Processuais, (a.5) da Tutela de Urgência e (a.6) da Formação, Suspensão e Extinção do Processo. 
 
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 A Parte Especial (arts. 318-1.044) tem 3 livros, (b.1) o do Processo de 
Conhecimento e do Cumprimento de Sentença (abarcando o procedimento comum, a fase de 
liquidação da sentença, a fase de cumprimento da sentença e os procedimentos especiais), (b.2) o 
do Processo de Execução, e (b.3) o dos Processos nos Tribunais e dos Meios de Impugnação das 
Decisões Judiciais. 
 
 Há ainda um Livro Complementar com relevantes disposições de direito 
transitório, que serão examinadas no decorrer deste curso. 
 
3. Novo CPC Garantista 
 
 O art. 1º do Novo CPC prestigiou claramente a moderna tendência que 
impõe a interpretação de qualquer código partindo sempre da Constituição Federal, vendo-se o 
Código como responsável pelo simples detalhamento prático daquilo que já está disciplinado na 
Carta Magna. 
 
 A Carta Magna, em nosso caso, prevê os pilares do Modelo 
Constitucional do Processo Civil, já o Código, como lei ordinária que é, se encarrega de 
especificar as “regras do jogo”, que serão observadas nos mais complicados aos mais simples 
atos processuais praticados pelos operadores do direito. 
 
 Já pelos primeiros artigos se vê que se trata de um Código garantista, que 
prestigia, sempre, o contraditório e que prima pelo julgamento do mérito (Novo CPC 4º, 317 e 
487). 
 
 Saliente-se que a sentença terminativa, que não resolve o mérito da causa 
(Novo CPC 485), passa a ser, de fato, a exceção (NCPC 4º, 6º, 317 e 321). 
 
4. Avanços e retrocessos 
 
 Em rápidas linhas, poderíamos resumir os avanços do Novo CPC aos 
seguintes aspectos: (a) maior segurança jurídica (com a criação de um sistema organizado de 
precedentes), (b) decisões com maior qualidade (Novo CPC 489), (c) fim do julgamento com 
surpresa para as partes (Novo CPC 10); (d) contraditório mais abrangente (Novo CPC 932, 
parágrafo único), (e) aproveitamento máximo do processo enquanto fim, e não meio, dando-se 
primazia para o julgamento de mérito (Novo CPC 4º) e (f) fomento a cultura da conciliação 
(Novo CPC 3º e 334). 
 
 Já as maiores críticas, salvo melhor juízo, poderiam ser sintetizadas 
assim: (a) a mitigação da persuasão racional, com a imposição dos precedentes sem amparo 
constitucional (Novo CPC 926-928), (b) o aumento da burocratização do processo (Novo CPC 
10, 133-137 e 933), (c) a redução de poderes do juiz (Novo CPC 190), tornando-o um mero 
gestor dos autos, e (d) a maior duração do processo (Novo CPC 10, 334 e 489 § 1º), bem como 
(e) a infeliz manutenção de institutos medievais, como a técnica de julgamento do art. 942. 
 
 “Art. 2º O processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por 
impulso oficial, salvo as exceções previstas em lei”. 
 
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 O texto do art. 2º do Novo CPC combina as regras antes existentes nos 
arts. 2º e 262 do CPC/1973, sendo ele responsável, agora, pela consagração e reiteração de dois 
princípios processuais, quais sejam: 
 
 (a) O Princípio Dispositivo (ou princípio da inércia), segundo o qual o 
juiz não age de ofício, devendo a ação judicial ser provocada pela parte autora e, 
 
 (b) O Princípio do Impulso Oficial, pelo qual, depois de instaurado o 
processo, o juiz passa a atuar de ofício, impulsionando o feito até a sentença, 
independentemente de novos requerimentos da parte interessada. 
 
 A regra, portanto, era e continua sendo a de que o juiz não atua de ofício; 
o processo judicial deve ser instauradomediante pedido formal da parte interessada (geralmente 
uma petição inicial ou, se estivermos nos Juizados Especiais Cíveis, uma reclamação), 
ressalvadas hipóteses excepcionais indicadas de modo claro na lei. 
 
 E como o diz Cássio Scarpinella Bueno, essas “exceções previstas em 
lei” (Novo CPC 2º) relacionam-se com “os casos em que o ordenamento impõe a predominância 
do ‘princípio inquisitório’, isto é, em que a atuação oficiosa do magistrado é admitida (em rigor, 
é imposta).”1 
 
 E conclui: 
 
 “Tal atuação, contudo, não significa – e não pode querer significar – 
dispensa ou eliminação de prévio contraditório, exigência esta que, na perspectiva do 
novo CPC, é enfatizada pelos arts. 9º e 10, reiterando, no particular, o que, 
superiormente, decorre diretamente do art. 5º, LIV, da CF”. 
 
 Percebe-se então que o preceito continua ressalvando as permissões 
excepcionais de iniciativa de ofício nos casos determinados expressamente pela lei, como nos 
procedimentos especiais de jurisdição voluntária de abertura de testamento (Novo CPC 735), de 
arrecadação de herança jacente (Novo CPC 738), de arrecadação de coisas vagas (Novo CPC 
746) entre outros. 
 
 Nesses casos, portanto, o procedimento judicial poderá ser instaurado de 
ofício,2 mediante “portaria judicial”, observadas na sequência, é óbvio, todas as demais garantias 
constitucionais, como o devido processo legal, a ampla defesa e o contraditório. 
 
 Enfim, registre-se que há também diversos incidentes procedimentais que 
podem ser instaurados de ofício pelo juiz, como o conflito de competência (Novo CPC 66, 
parágrafo único) e o incidente de resolução demandas repetitivas (Novo CPC 977 I). 
 
 “Art. 3º Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a 
direito. 
§ 1º É permitida a arbitragem, na forma da lei. 
 
1 Bueno, Novo código de processo civil anotado, p. 43. 
2 Nesse sentido: Neves, Novo CPC comentado, p. 1139. 
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 § 2º O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos 
conflitos. 
 § 3º A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de 
conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros 
do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial”. 
 
 O art. 3º do CPC/2015 reitera no seu caput o que já está disposto na CF 
5º XXXV, que consagra o Princípio da Inafastabilidade da Jurisdição (Princípio do Acesso, 
Princípio do Controle Jurisdicional, Princípio da Busca entre outras denominações), segundo o 
qual nenhuma lesão ou ameaça de lesão poderá, a priori, ser afastada da avaliação do Poder 
Judiciário. 
 
 No mesmo passo, o texto legal (§ 1º) positiva a interpretação do próprio 
Supremo Tribunal Federal (SEC 5.206) no sentido de que a opção pela arbitragem é lícita (e 
constitucional, como o disse o Excelso Pretório no julgamento referido) e pode, sim, excepcionar 
o princípio do acesso ao Poder Judiciário, desde que não se trate de cláusula “impositiva” 
existente em contrato de adesão em relação de consumo (Lei 8.078/1990, art. 51, inciso VII). 
 
 Relembra-se ainda no texto legal o dever do juiz de promover a qualquer 
tempo a tentativa de conciliação (Novo CPC, arts. 3º, §§ 2º e 3º, e 139, inciso V). 
 
 O § 3º do preceito legal inova ao criar o dever dos advogados, defensores 
públicos e membros do Ministério Público de também incentivar a solução consensual dos 
conflitos, dentro e fora do processo judicial. 
 
 Vê-se nesse último dispositivo a clara intenção de prestigiar a resolução 
de conflitos pela via consensual, o que constitui uma das vigas mestras do Novo CPC. 
 
 Agora, é óbvio que só a praxe forense saberá especificar os limites deste 
dever dos advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público de estímulo à 
conciliação (eles podem não ter, concretamente, inclinação ou interesse em colaborar para a 
autocomposição), será preciso muita cautela e ponderação para fixação desse novo regime 
jurídico. 
 
 Será, portanto, essencial o debate sério sobre um ponto de equilíbrio 
entre o dever de defesa do interesse da parte (dever ético do advogado de defender seu cliente) e 
o dever de colaborar para a conciliação. Não será fácil fixar com precisão até onde o art. 3º, § 3º 
do Novo CPC se impõe sobre os sujeitos parciais da relação processual. 
 
 “Art. 4º As partes têm direito de obter em prazo razoável a solução 
integral do mérito, incluída a atividade satisfativa”. 
 
 O art. 4º do Novo CPC consagra dois princípios, (a) o da primazia da 
decisão de mérito e (b) o da razoável duração do processo. 
 
 O primeiro (a) nos ensina que o juiz deve buscar, na medida do possível, 
resolver a questão de fundo posta sob sua apreciação. O órgão jurisdicional deve se esforçar para 
prestar a tutela de mérito (Novo CPC 487), evitando ao máximo acessar o art. 485 do Novo CPC, 
alusivo às sentença terminativas, que encerram a fase procedimental sem resolver o mérito. 
 
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 Prestigiou-se aqui o que se costuma chamar de “instrumentalidade 
positiva” (defendida por Cândido Rangel Dinamarco), expressão que designa algo como um 
conjunto de comportamentos do magistrado que visam resolver não apenas o processo (“tirando-
o de sua mesa a qualquer preço”), mas o conflito pendente entre as partes. 
 
 Neste ponto, o dispositivo deve ser interpretado em conjugação com 
vários outros do Novo CPC, como os arts. 317 e 321, ambos relacionados com chamado “dever 
de prevenção”. 
 
 O segundo, (b) reafirma o que já está encartado no art. 5º, inciso 
LXXVIII da CF (princípio da “razoável duração do processo”) e acrescenta que essa “duração 
razoável” deve ser buscada não somente na fase de conhecimento (obtenção de uma sentença de 
mérito mais rápida), mas até a entrega do bem da vida ao vencedor, na fase de cumprimento do 
título judicial (expressão “incluída a atividade satisfativa”), ou ao titular do crédito nas ações 
autônomas de execução de títulos extrajudiciais. 
 
 Aliás, convenhamos que nada adianta a prolação de uma sentença de 
mérito justa e tempestiva, se a fase de cumprimento for morosa e não conectar o vencedor ao 
bem da vida (dinheiro, coisa, fabricar um armário planejado, deixar de obstruir a passagem etc.) 
que foi objeto do pronunciamento do Poder Judiciário. Seria como “ganhar e não levar”. 
 
 Ao contrário do que se poderia pensar, o art. 4º do Novo CPC não 
prestigia a “celeridade” (como valor incondicional), mas sim a “duração razoável”, conceito que 
é variável à luz do caso concreto. 
 
 É o que nos ensina Marinoni: 
 
 “O direito à duração razoável do processo não constitui e não implica 
direito a processo rápido ou célere. As expressões não são sinônimas. A própria idéia 
de processo já repele a instantaneidade e remete ao tempo como algo inerente à 
fisiologia processual.” 
 (...) 
 “O que a Constituição e o novo Código determinam é a eliminação do 
tempo patológico – a desproporcionalidade entre duração do processo e a 
complexidade do debate da causa que nele tem lugar”.3 
 
 O mesmo nos diz Daniel Assumpção Amorim Neves: 
 
 “Deve ser lembrado que a celeridade nem sempre é possível, como 
também nem sempre é saudável para a qualidade da prestação jurisdicional. Não se deve 
confundir duração razoável do processo com celeridade do procedimento. O legislador 
não pode sacrificar direitos fundamentais das partes visando somente a obtenção de 
celeridade processual, sob pena de criar situações ilegais e extremamente injustas”.4 
 
 Não se deve, portanto, confundir “celeridade” (rito veloz, por si só) com 
“duração razoável” (procedimento com velocidade adequada à complexidade do mérito, à3 Novo, p. 97. 
4 Neves, Novo CPC Comentado, p. 09. 
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produção de provas e à discussão ampla das teses das partes), esta sim incentivada pelo Novo 
CPC. 
 
 O mesmo valor (solução judicial em “tempo razoável”) é também 
previsto no art. 6º do Novo CPC, como veremos. 
 
 Enfim, registre-se que no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis é 
diferente. O critério da “celeridade” está insculpido expressamente como uma de suas vigas 
mestras, como um de seus princípios norteadores (Lei 9.099/1995, art. 2º), daí porque lá se deve 
buscar, sim, sempre, a celeridade de tramitação (procedimento rápido), até porque estamos 
diante de um rito econômico e bem mais informal, regado em grande medida pela 
“simplicidade”. 
 
 Em síntese, portanto, um rito moroso é sempre incompatível com o 
sistema da Lei 9.099/1995 (cobrança de R$200,00 com demora de 2 ou 3 anos para julgamento, 
por exemplo); mas pode não ser para os feitos tradicionais do Novo CPC, se a duração for 
razoável à sua complexidade (ação de inventário, de divisão ou de demarcação com 2 ou 3 anos 
de tramitação, por exemplo). 
 
 “Art. 5º Aquele que de qualquer forma participa do processo deve 
comportar-se de acordo com a boa-fé”. 
 
 No art. 5º do Novo CPC, o legislador preocupou-se em positivar o dever 
e o princípio da boa-fé, que antes se encontrava no art. 14, inciso II, in fine, do CPC/1973. 
 
 Trata-se de uma cláusula geral imposta a todos que de qualquer modo 
participam do processo (autor, réu, intervenientes, servidores, correios, SPC, SERASA, Cartórios 
de Registro etc.). 
 
 É certo, porém, que a disciplina detalhada da chamada “probidade 
processual” e as sanções por sua violação encontram-se nos arts. 77-81 do mesmo diploma, sede 
em que se manteve, salvo mudanças discretas, o mesmo regime do CPC/1973 (arts. 14-18), 
como veremos no momento oportuno. 
 
 Há também diversos dispositivos espalhados pelo código prevendo 
sanções pela litigância temerária, como os arts. 1.021, § 4º e 1.026, §§ 2º e 3º, alusivos ao agravo 
interno e aos embargos declaratórios procrastinatórios. 
 
 “Art. 6º Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que 
se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa a efetiva”. 
 
 Reforça-se aqui o dever de cooperação das partes para com o juiz, 
colaborando-se para a identificação das questões de fato e de direito, exibindo coisas e 
documentos, bem como se abstendo de provocar incidentes desnecessários e procrastinatórios. 
 
 É uma regra ética bastante útil. 
 
 Trata-se de um dos dispositivos que consagra no Novo CPC o Princípio 
da Cooperação e aqui na vertente do “dever de auxílio” ou “de esclarecimento” (do juiz para 
com as partes e das partes para com o juiz). 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL – Volume 1 
Novo CPC – Parte Geral – Professor Aldo Sabino 
 
15 
 
 
 Não há, pois, dúvida acerca da coerência da exigência de o juiz colaborar 
com as partes (esclarecendo, por exemplo, os pontos que entende controvertidos na causa e sobre 
os meios de prova mais eficientes) e das partes em relação ao juiz (informando dados do mérito, 
esclarecendo detalhes de suas pretensões etc.). 
 
 A imposição de cooperação entre as partes (de uma com a outra), 
contudo, é objeto de divergência. 
 
 Já há duas correntes de entendimento sobre essa questão, (a) existindo os 
que sustentam que as partes somente cooperam com o juiz (e este com elas), mas não entre si, o 
que não faria nenhum sentido (Marinoni, Mitidiero e Daniel Assumpção Amorim Neves),5 (b) e 
quem pense que as partes devem cooperar com o juiz e também entre si (dentre outros, Cássio 
Scarpinella Bueno).6 
 
 Defendo um ponto de vista similar ao de Cassio Scarpinella Bueno, 
porém, dou-lhe um pouco mais de contretude. 
 
 Entendo, de fato, que o dever de cooperação existe, sim, entre as partes, 
mas não em todos os casos, nem de modo absoluto e muito menos em prejuízo da ampla defesa. 
 
 Não se trata de sugerir que alguém deixe de defender um ponto de vista 
para ajudar a parte contrária, ou que aduza um fundamento fático ou jurídico que auxilia o 
adversário. Não é isso. 
 
 A cooperação a que me refiro abarca o dever de cortesia entre as partes, 
de respeito a fala do outro, de colaboração na fixação de pontos controvertidos e na escolha das 
provas a produzir (por exemplo), bem como de abstenção de criação de incidentes protelatórios e 
de apontamento de críticas processuais desnecessárias. 
 
 Essa cooperação parte da premissa de que o processo não deve ser uma 
competição, mas um ambiente de diálogo e de debate democrático, em que ganha aquele que tem 
a melhor prova ou o melhor argumento jurídico, e não o que fala mais, o que fala “mais alto” ou 
de modo mais enfático, o que peticiona mais ou o que é mais incisivo. Esse modelo de 
cooperação entre as partes e seus advogados, essa cortesia, é algo elegante e bonito de se ver na 
praxe forense (já o vi ocorrer várias vezes, tenho orgulho de dizer). 
 
 Para concluir. Embora o dispositivo relacione a cooperação e a imposição 
da razoável duração à “decisão de mérito” (o que pertine à tutela de cognição), é óbvio que a 
vontade da norma é abarcar também a atividade satisfativa (“decisão de mérito justa e efetiva”), 
ou seja, a fase de cumprimento do título judicial e a ação autônoma de execução de títulos 
extrajudiciais, até porque elas só se instauram por se mostrarem essenciais à consecução do “bem 
da vida” pretendido pelo autor. 
 
 “Art. 7º É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao 
exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres 
 
5 Nesse sentido: Marinoni e Mitidiero, O projeto, p. 73 e Neves, Novo, p. 16. 
6 Nesse sentido: Bueno, Novo, p. 45. 
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Novo CPC – Parte Geral – Professor Aldo Sabino 
 
16 
 
e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz velar pelo efetivo 
contraditório”. 
 
 O dispositivo em tela trata do princípio da paridade de tratamento das 
partes no âmbito do processo, inclusive no que tange aos ônus, deveres e meios de defesa. 
 
 O art. 7º do Novo CPC corresponde, em parte, ao que já estava dito no 
art. 125, inciso I, do CPC/1973, pelo qual ao juiz competia “assegurar às partes igualdade de 
tratamento”. 
 
 Cuida-se em última análise de reiteração e detalhamento processual do 
princípio constitucional da isonomia. 
 
 Agora, é certo que as distinções concretas entre as partes devem gerar 
tratamentos diferenciados sem que se possa falar em violação da isonomia material. 
 
 Por exemplo, têm prioridade de tramitação as ações de pessoas maiores 
de 60 anos (idosos), de portador de doença grave arrolada no art. 6º, XIV da Lei 7.713/1988 e as 
previstas na Lei 8.069/90 (Novo CPC 1.048). 
 
 E dentre os processos dos idosos (maiores de 60 anos), dar-se-á 
“prioridade especial” aos maiores de 80 anos (Lei 10.741/2003, art. 71, § 5º, com redação 
outorgada pela recente Lei 13.466, de 12 de julho de 2017). 
 
 Há também tratamento diferenciado outorgado ao Ministério Público, aos 
advogados públicos e aos defensores públicos, que têm prazos contados em dobro para se 
manifestar nos autos do processo judicial (Novo CPC 180, 183 e 186, respectivamente). 
 
 E nem por isso se poderia sustentar que há ilegalidade ou 
inconstitucionalidade da regra, pois há nesses casos particularidades que justificam esse 
tratamento diferenciado. Trata-se de aplicação do que se costuma denominar de “isonomia 
material”, que é a permissão constitucional tratamento diferenciado quando existe algum motivo 
legítimo para essa distinção. 
 
 “Art. 8º Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins 
sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendoa dignidade da 
pessoa humana observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a 
publicidade e a eficiência”. 
 
 O art. 8º do Novo CPC se encarrega de esclarecer os critérios e princípios 
que o juiz deve atender ao aplicar o sistema jurídico, estando intimamente ligado aos 
conhecidíssimos arts. 4º e 5º da LINDB. 
 
 São dois os critérios previstos, quais sejam, atender aos fins sociais da 
norma e as exigências do bem comum. 
 
 São seis os princípios relembrados pelo legislador, (a) o da dignidade da 
pessoa humana, (b) o da proporcionalidade, (c) o da razoabilidade, (d) o da legalidade, (e) o da 
publicidade e (f) o da eficiência. 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL – Volume 1 
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17 
 
 Embora esses princípios já se encontrem em geral positivados no Sistema 
Jurídico (CF, arts. 1º, III e 37, caput), não deixa de ser importante que na inauguração de um 
novo Código sejam eles relembrados para efeito de aprimoramento de nossos operadores do 
direito e dos acadêmicos que têm o seu primeiro contato com esse regramento. 
 
 “Art. 9º Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que esta seja 
previamente ouvida. 
 Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica: 
 I – à tutela provisória de urgência; 
 II – às hipóteses de tutela da evidência previstas no art. 311, incisos II e 
III”; 
 III – à decisão prevista no art. 701”. 
 
 O art. 9º do NCPC reafirma e determina a obediência estrita ao Princípio 
Constitucional do Contraditório (CF 5º LV), vedando que se profira decisão contra qualquer das 
partes sem a sua oitiva. 
 
 Trata-se da consagração de algo que tem sido chamado de Princípio da 
“não-surpresa”, o que também é prestigiado no art. 10, conforme veremos. 
 
 As exceções tratadas no texto legal se referem (a) a tutela provisória de 
urgência (antecipada ou cautelar), (b) a tutela provisória da evidência nos casos específicos dos 
incisos II e III do art. 311 e (c) a ação monitória, que podem naturalmente gerar decisões iniciais 
com carga prejudicial sem oitiva da parte adversa, mas subordinadas, relembremos, ao 
“contraditório diferido”, exercido por meio da contestação, de embargos, do pedido de 
reconsideração e do manejo do recurso cabível. 
 
 Um detalhe relevante é que o art. 9º do Novo CPC preserva a dispensa do 
“contraditório inútil”, pois somente exige a oitiva da parte contrária quando a decisão for 
desfavorável a ela (locução “contra uma das partes”); a contrário senso, se a decisão for 
favorável a ela (Novo CPC 332, por exemplo), não é mister a sua oitiva, tratar-se-ia aí de um 
“contraditório inútil”. 
 
 “Art. 10. Em qualquer grau de jurisdição, o órgão jurisdicional não pode 
decidir com base em fundamento a respeito do qual não se tenha oportunizado 
manifestação das partes, ainda que se trate de matéria apreciável de ofício”. 
 
 O art. 10 do Novo CPC positiva uma das três conhecidas vertentes do 
Princípio da Cooperação. 
 
 Trata-se do “dever de consulta”, que impõe ao juiz que sempre ouça as 
partes antes de decidir sobre fundamento que não foi suscitado por qualquer delas, ainda que se 
trate de uma objeção (exs.: incompetência absoluta, prescrição, complexidade da causa no caso 
de feito que corra por Juizados Especiais Cíveis etc.). 
 
 O preceito consagra também o que se tem convencionado de chamar de 
Princípio da “não-surpresa”. 
 
 O preceito coloca fim a praxe judicial de proferir a decisão com base em 
fundamento ou objeção “descobertos” pelo magistrado (exs.: incompetência absoluta, prescrição, 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL – Volume 1 
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18 
 
decadência etc.), mas que não foram objeto de manifestação pelas partes. O intento legislativo 
neste particular foi o de dar maior qualidade ao julgamento, evitando erros que o juiz pode 
cometer ao aplicar açodadamente seu convencimento pessoal sobre ponto não debatido com as 
partes (afinal de contas essa sua “descoberta” pode ter partido de uma análise equivocada da 
questão). 
 
 A ideia do art. 10 se aplica também aos processos que tramitam nos 
tribunais, como vemos no art. 933 do Novo CPC. 
 
 O que não devemos é confundir a “cooperação” tratada no dispositivo 
legal com a “parcialidade” ou com o “prejulgamento”, que não estão autorizados pelo legislador, 
nem poderiam estar. Aqui, o juiz, identificando a possibilidade de matéria vir a ter peso no seu 
julgamento, deverá, sem prejulgamento, abrir oportunidade oral (se em audiência) ou escrita (nos 
demais casos) para que as partes possam influenciar em seu convencimento. 
 
 Essa “conversão do julgamento em diligência” (assim chamamos esse 
comportamento na praxe forense) deverá se operar, pois, sem qualquer tipo de preconceito ou 
antecipação de julgamento pelo órgão jurisdicional. 
 
 Será preciso compreensão, reflexão e estudo dos operadores do direito 
para que não se confunda essa atuação democrática e louvável do magistrado com a “ajuda” 
(ilícita) a qualquer das partes. 
 
 Além disso, será imprescindível o esforço dos magistrados no sentido de 
não gerar, com essas “oitivas necessárias” (ou mais tecnicamente, “conversões em diligência”), 
morosidade ainda maior nos processos judiciais. Esse é um risco que o legislador terminou 
correndo ao positivar os arts. 9º e 10 do Novo CPC. 
 
 Só mesmo o tempo nos levará a convicção precisa sobre os limites do 
citado art. 10 do NCPC na praxe forense. 
 
 É certo, contudo, que já há divergências no campo doutrinário, como 
observamos nas conclusões do Fórum Permanente de Processualistas Civis e do Seminário Sobre 
o Novo CPC da ENFAM. Vejamos as correntes de entendimento sobre a interpretação do art. 10 
do CPC/2015: 
 
 1º Entendimento (corrente extensiva): a interpretação do art. 10 do Novo 
CPC deve ser ampliativa, abarcando o fundamento jurídico novo e qualquer tipo de objeção não 
debatida pelas partes (como a incompetência absoluta, por exemplo). 
 
- FPPC, ENUNCIADO 282: “Para julgar com base em enquadramento normativo 
diverso daquele invocado pelas partes, ao juiz cabe observar o dever de consulta, 
previsto no art. 10”. 
 
 2º Entendimento (corrente restritiva): o NCPC 10 deve ser interpretado 
restritivamente. 
 
- ENFAM, ENUNCIADO 01: “Entende-se por ‘fundamento’ referido no art. 10 do 
CPC/2015 o substrato fático que orienta o pedido e não o enquadramento jurídico 
atribuído pelas partes”. 
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19 
 
 
- ENFAM, ENUNCIADO 06: “Não constitui julgamento surpresa o lastreado em 
fundamentos jurídicos, ainda que diversos dos apresentados pelas partes, desde que 
embasados em provas submetidas ao contraditório”. 
 
- ENFAM, ENUNCIADO 04: “Na declaração de incompetência absoluta não se aplica 
o disposto no art. 10, parte final, do CPC/2015”. 
 
 “Art. 11. Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão 
públicos e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade. 
 Parágrafo único. Nos casos de segredo de justiça, pode ser autorizada 
somente a presença das partes, de seus advogados, de defensores públicos ou do 
Ministério Público”. 
 
 No art. 11, o Novo CPC nada mais fez que repetir o comando já 
estampado no art. 93, inciso IX da CF, que consagra os Princípios Constitucionais “da 
Publicidade” e “da Motivação” (ou da fundamentação). 
 
 No parágrafo único cuida-se do regime jurídico do segredo de justiça, 
prevendo os sujeitos que continuarão tendo direito a participar dos atos processuais. 
 
 Não há novidades neste ponto. 
 
 “Art. 12. Os juízes e os tribunais atenderão, preferencialmente, à 
ordem cronológica de conclusão para proferir sentença ou acórdão. 
 § 1º A lista de processos aptos a julgamento deverá estar 
permanentemente à disposição para consulta pública em cartórioe na rede mundial de 
computadores. 
 § 2º Estão excluídos da regra do caput: 
 I – as sentenças proferidas em audiência, homologatórias de acordo ou de 
improcedência liminar do pedido; 
 II – o julgamento de processos em bloco para aplicação de tese jurídica 
firmada em julgamento de casos repetitivos; 
 III – o julgamento de recursos repetitivos ou de incidente de resolução de 
demandas repetitivas; 
 IV – as decisões proferidas com base nos arts. 485 e 932; 
 V – o julgamento de embargos de declaração; 
 VI – o julgamento do agravo interno; 
 VII – as preferências legais e as metas estabelecidas pelo Conselho 
Nacional de Justiça; 
 VIII – os processos criminais, nos órgãos jurisdicionais que tenham 
competência penal; 
 IX – a causa que exija urgência no julgamento, assim reconhecida por 
decisão fundamentada. 
 § 3º Após a elaboração de lista própria, respeitar-se-á a ordem 
cronológica das conclusões entre as preferências legais. 
 § 4º Após a inclusão do processo na lista de que trata o § 1º, o 
requerimento formulado pela parte não altera a ordem cronológica para a decisão, exceto 
quando implicar a reabertura da instrução ou a conversão do julgamento em diligência. 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL – Volume 1 
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 § 5º Decidido o requerimento previsto no § 4º, o processo retornará à 
mesma posição em que anteriormente se encontrava na lista. 
 § 6º Ocupará o primeiro lugar na lista prevista no § 1º ou, conforme o 
caso, no § 3º, o processo: 
 I – que tiver sua sentença ou acórdão anulado, salvo quando houver 
necessidade de realização de diligência ou de complementação da instrução; 
 II – quando ocorrer a hipótese do art. 1040, inciso II”. 
 
1. Ordem cronológica rígida ou flexível? A Lei 13.256/2016 
 
 Essa por certo é uma das maiores inovações trazidas pelo Novo CPC. 
Cuida-se de uma regra, a princípio, rígida (ao menos na redação original do CPC/2015) de 
observância da ordem cronológica de feitos que se encontram conclusos e aptos a receber 
sentença ou acórdão. 
 
 Trata-se de uma norma moralizadora e que objetiva combater o 
atendimento dos pedidos infundados de prioridade, que são tão comuns na praxe forense, e até 
mesmo o conformismo de alguns magistrados de omitir-se no julgamento dos casos mais 
trabalhosos, deixando-os por último. 
 
 O problema é que, na sua redação original, engessaria a administração e a 
aplicação da racionalidade nos gabinetes judiciais, especialmente quando estamos a tratar da 1ª 
instância, em que há muita variação entre feitos simples (e até padronizados), médios e 
complexos. 
 
 Nestes casos, a chegada de um feito mais complexo poderá “trancar” a 
lista por semanas ou até meses, prejudicando as partes que tenham demandas extremamente 
simples e que poderiam ser julgadas rapidamente, sem a ordem rígida estabelecida no art. 12. 
 
 O ideal, portanto, sempre foi que se desse uma interpretação de que a 
ordem cronológica do art. 12 constitui uma regra flexível, que admite, em casos devidamente 
motivados, a sua inobservância a bem do serviço público (NCPC 8º). 
 
 Marinoni, Arenhart e Mitidiero (Novo código de processo civil 
comentado) inclusive defendem interessante ponto de vista sobre o assunto, sustentando ser 
possível, sim, a relativização da ordem cronológica do art. 12, desde que (a) conveniente a 
eficiência do serviço judiciário, (b) inexista quebra da impessoalidade e (c) isto seja devidamente 
justificado pelo órgão jurisdicional. 
 
 Vale a transcrição integral dessa brilhante lição: 
 
 “Pode bem ocorrer de em determinado momento o órgão jurisdicional 
deparar-se com vários processos que tratam de questões concernentes à mesma 
matéria (sem serem repetitivos), mostrando-se conveniente o enfrentamento conjunto. 
 
 É comum ainda que as assessorias judiciais nos juízos de primeiro grau e 
nos tribunais sejam organizadas por especialização de matéria, de modo que os 
diferentes ritmos de trabalho podem impor natural descompasso entre processos 
julgados e processos arrolados em lista para julgamento. 
 
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21 
 
 Nesses casos, eventual quebra da ordem cronológica não visa a 
privilegiar determinado advogado ou litigante – não significa, portanto, quebra de 
impessoalidade e de igualdade: significa simples arranjo de trabalho visando à maior 
eficiência jurisdicional, que pode inclusive resultar em uma tutela jurisdicional – 
considerado o acervo de processos para julgamento em seu conjunto – mais 
tempestiva. 
 
 Daí que, desde que devidamente justificado, com expressa demonstração 
da ausência de prejuízo à impessoalidade, à igualdade e como meio de promoção da 
eficiência, é possível julgamento fora da ordem cronológica de julgamento” (p. 112). 
 
 A relevância do dispositivo é tão grande que o assunto foi objeto também 
de três Enunciados do Seminário sobre o Novo CPC da ENFAM. Vejamos: 
 
 “O rol do art. 12, § 2º, do CPC/2015 é exemplificativo, de modo que o 
juiz poderá, fundamentadamente, proferir sentença ou acórdão fora da ordem cronológica 
de conclusão, desde que preservadas a moralidade, a publicidade, a impessoalidade e a 
eficiência na gestão da unidade judiciária” (Enunciado 32). 
 
 “A urgência referida no art. 12, § 2º, IX, do CPC/2015 é diversa da 
necessária para a concessão de tutelas provisórias de urgência, estando autorizada, 
portanto, a prolação de sentenças e acórdãos fora da ordem cronológica de conclusão, em 
virtude de particularidades gerenciais da unidade judicial, em decisão devidamente 
fundamentada” (Enunciado 33). 
 
 “A violação das regras dos arts. 12 e 153 do CPC/2015 não é causa de 
nulidade dos atos praticados no processo decidido/cumprido fora da ordem cronológica, 
tampouco caracteriza, por si só, parcialidade do julgador ou do serventuário” (Enunciado 
34). 
 
 A perplexidade da comunidade jurídica foi tão grande com o preceito que 
a Lei 13.256/2016 terminou outorgando nova redação ao caput, ditando que a ordem cronológica 
deverá ser atendida, não de modo absoluto, mas “preferencialmente”, cabendo ao juiz ou ao 
relator gerenciar seu gabinete de modo a balancear a observância da ordem cronológica (regra 
geral) com a prolação de decisões de feitos conclusos posteriormente, mas que por razões de 
celeridade e eficiência podem ser julgados em bloco ou sem grande perda de tempo (exceção). 
 
 A nova redação do caput do art. 12 do CPC/2015 passou a ser a seguinte: 
 
 “Os juízes e os tribunais atenderão, preferencialmente, à ordem 
cronológica de conclusão para proferir sentença ou acórdão” (destaquei). 
 
 Ao mesmo tempo, por questão de congruência, se alterou a redação do 
caput do art. 153 do mesmo Código: 
 
 “O escrivão ou o chefe de secretaria atenderá, preferencialmente, à 
ordem cronológica de recebimento para a publicação e efetivação dos pronunciamentos 
judiciais” (destaquei). 
 
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 A modificação entrou em vigor juntamente como o Novo CPC e merece 
mesmo elogios por evitar o mencionado engessamento administrativo de varas, juizados e 
gabinetes de tribunais. 
 
2. Publicidade da ordem cronológica 
 
 Cabe lembrar que a relação de feitos conclusos para receber sentença ou 
acórdão “deverá estar permanentemente à disposição para consulta pública em cartório e na rede 
mundial de computadores” (CPC/2015 12 § 1º). 
 
 Da mesma forma, cabe ao escrivão ou chefe secretaria disponibilizar a 
lista de processos recebidos “de forma permanente, para consulta pública” (CPC/2015 153 § 1º). 
Trata-se de regra que visa cumprir o princípio processual da publicidade (Novo CPC, art. 11). 
 
 Feita a lista, serão respeitadas dentro dela as preferências legais (Novo 
CPC, art. 12, §3º). Essa regra gera a convicção prática de que são na verdade duas listas, a 
normal e a preferencial (parte idosa, com doença grave ou outro motivo similar). 
 
 E ocuparão o primeiro lugar na referida lista (a) os feitos que tiverem sua 
sentença ou acórdão anulados (salvo necessidade de instrução ou conversão em diligência) e (b) 
os que forem objeto de aplicação de tese fixada no julgamento de RE e REsp repetitivos (NCPC 
12 § 6º). 
 
 Eles, por assim, dizer, “furarão a fila” estabelecida na lista publicada. 
 
 Enfim, registre-se que a “primeira lista de processos para julgamento em 
ordem cronológica observará a antiguidade da distribuição entre os já conclusos na data da 
entrada em vigor deste Código” (CPC/2015 1.046 § 5º). 
 
3. Feitos excluídos da ordem cronológica pelo § 2º 
 
 Há exceções à ordem cronológica e elas estão elencadas no § 2º do art. 
12 do Novo CPC. 
 
 Estão, pois, fora da regra da ordem cronológica, (a) sentenças proferidas 
em audiência, (b) as homologatórias de acordo, (c) as de improcedência liminar (Novo CPC 
332), (d) as que apliquem tese repetitiva, (e) o julgamento de recursos repetitivos (e também o 
IRDR), (f) as sentenças terminativas (Novo CPC 485) e decisões monocráticas do relator (Novo 
CPC 932), (f) o julgamento dos embargos de declaração, (g) a apreciação do agravo interno, (h) 
os casos de preferências legais, (i) os julgamentos criminais (no órgão que tenha competência 
mista), (j) as sentenças proferidas nos casos indicados nas metas do CNJ e (k) os que tenham 
urgência reconhecida em decisão fundamentada. 
 
4. Violação da ordem cronológica 
 
 E se houver eventual violação, pelo juiz, da ordem cronológica? Haveria 
algum efeito ou defeito processual? 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL – Volume 1 
Novo CPC – Parte Geral – Professor Aldo Sabino 
 
23 
 
 Primeiramente, cabe relembrar que nos casos previstos no art. 12, § 2º do 
Novo CPC, será perfeitamente possível a inobservância da ordem cronológica já publicada em 
lista. Essa é a vontade da lei, como vimos. 
 
 Em segundo lugar, deve-se perceber que se o juiz apresentar um motivo 
plausível para essa inobservância da “fila” (julgamento de vários feitos simples em bloco, por 
exemplo), nenhum problema haverá, já que está autorizado a assim agir por força da expressão 
“preferencialmente”, inserida no art. 12, caput, pela Lei 13.256/2016. 
 
 Agora, e se não estivermos diante de uma exceção legal prevista no art. 
12, § 2º do Novo CPC e nem houver qualquer motivo que justifique a violação da lista 
publicada? 
 
 Não haverá nulidade ou reconhecimento de parcialidade. Tratar-se-á de 
uma simples irregularidade processual. Essa foi a conclusão estampada no Enunciado 34 da 
ENFAM: 
 
 “A violação das regras dos arts. 12 e 153 do CPC/2015 não é causa de 
nulidade dos atos praticados no processo decidido/cumprido fora da ordem cronológica, 
tampouco caracteriza, por si só, parcialidade do julgador ou do serventuário”. 
 
 Todavia, é certo que esse ato, se violar os princípios da impessoalidade 
ou da moralidade, deverá ser objeto de apuração na via administrativa. 
 
5. Requerimento posterior à conclusão dos autos 
 
 A juntada de petição nos autos em momento posterior a conclusão não 
altera, a princípio, a colocação na ordem cronológica, salvo se implicar “a reabertura da 
instrução ou a conversão do julgamento em diligência” (Novo CPC 12, § 4º). 
 
 Desta sorte, não sendo o caso de reabertura de instrução ou de conversão 
em diligência, o requerimento superveniente à conclusão será eventualmente decidido pelo órgão 
jurisdicional e “o processo retornará à mesma posição em que anteriormente se encontrava na 
lista” (Novo CPC 12 § 5º). 
 
 Como vemos, essa nova disciplina atende a um reclame antigo dos 
profissionais da advocacia e é justo que assim seja, já que uma petição de juntada de 
substabelecimento ou com requerimento de expedição de uma simples certidão narrativa (ou 
algum outro requerimento sem relevância para o julgamento, como esses), não pode fazer com 
que o feito “perca” sua colocação na ordem cronológica, voltando “para o fim da fila”. 
 
 E por outro lado, evita-se com a regra a formulação de requerimentos 
protelatórios com o simples intuito de retirar o feito da ordem cronológica.7 A parte de má-fé não 
conseguirá mais atrasar o processo caso o juiz obedeça de modo estrito ao que está dito no art. 
12, § 4º do Novo CPC. 
 
 
7 Neves, Novo CPC comentado, p. 32. 
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24 
 
 Só mesmo nos casos de relevo (em que houver necessidade, repita-se, de 
reabertura de instrução ou de conversão em diligência) é que se justificará, por razões óbvias, a 
“perda” da posição do feito na ordem cronológica. 
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25 
 
CAPÍTULO II 
DA APLICAÇÃO DAS NORMAS PROCESSUAIS 
 
 “Art. 13. A jurisdição civil será regida pelas normas processuais 
brasileiras, ressalvadas as disposições específicas previstas em tratados, convenções ou 
acordos internacionais de que o Brasil seja parte.” 
 
 O art. 13 do CPC/2015 corresponde, em parte, ao que estava estabelecido 
no art. 1.211 do CPC/1973, só que é bem mais amplo, já que este fala apenas que o CPC rege o 
processo civil. 
 
 E sabemos bem que o Sistema Processual Civil é disciplinado por 
diversas normas e até por tratados, convenções e acordos internacionais assinados pelo Brasil 
(Novo CPC 13). 
 
 Mais correto então fixar, como está dito no Novo CPC, que a jurisdição 
civil é regulamentada pelas “normas processuais brasileiras”, bem como, se for o caso, por 
tratados convenções e acordos internacionais “de que o Brasil seja parte”. 
 
 Não é demais lembrar, então, que o “Sistema Processual Civil” é maior 
que o Novo CPC, ele abarca todos os princípios e regras processuais que compõe o ordenamento 
jurídico (Constituição Federal, leis especiais, convenções, tratados e outros). 
 
 “Art. 14. A norma processual não retroagirá e será aplicável 
imediatamente aos processos em curso, respeitados os atos processuais praticados e as 
situações jurídicas consolidadas sob a vigência da norma revogada.” 
 
 O art. 14 do CPC/2015 positiva “o princípio tempus regit actum que deve 
ser entendido como a incidência imediata das novas leis no processo em curso com a preservação 
dos atos processuais já praticados”.8 
 
 Trata-se do conhecido princípio da “aplicabilidade imediata da norma 
processual” ou do “isolamento dos atos processuais”. 
 
 Desta sorte, é bom registrar que as disposições do Novo CPC não 
retroagirão para abarcar atos já praticados e situações jurídicas consolidadas, aplicando-se 
somente aos atos e termos dos processos pendentes a partir de sua entrada em vigor (Novo CPC 
1.046, caput); da mesma forma, o CPC/1973 não deverá, fora destes casos, ter ultratividade (não 
pode ter vida após a sua revogação). 
 
 Mas o próprio CPC/2015 estabelece regras excepcionais que merecem 
atenção do intérprete. São elas: 
 
 (a) Caso aforada ação de procedimento comum sumário (CPC/1973 275-
281) antes da vigência do Novo CPC, este rito revogado continuará regendo o feito até a 
prolação da sentença (Novo CPC 1.046 § 1º); 
 
 
8 Cassio Scarpinella Bueno, Novo, p. 46. 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL – Volume 1 
Novo CPC – Parte Geral – Professor Aldo Sabino 
 
26 
 
 (b) Em sendo ajuizada ação de rito especial antes da vigência do Novo 
CPC e que tenha sido revogado por ele (ação de nunciação de obra nova e ação de 
depósito, por exemplo), da mesma forma, as regras revogadas continuarão regendo o feito 
até a sentença (Novo CPC 1.046 § 1º); 
 
 (c) Caso a prova tenha sido requerida ou determinada de ofício antes da 
vigênciado CPC/2015, será ela regida pelo CPC/1973, mesmo após o dia 18.03.2016 
(Novo CPC 1.047); 
 
 (d) E se a legislação especial venha a remeter ao rito comum sumário 
(revogado) ou ao rito sem especificação dele, deverá ser aplicado o novo procedimento 
comum (Novo CPC 1.049). 
 
 “Art. 15. Na ausência de normas que regulem processos eleitorais, 
trabalhistas ou administrativos, as disposições deste Código lhes serão aplicadas supletiva 
e subsidiariamente.” 
 
 O art. 15 do Novo CPC não tem correspondência no CPC/1973. 
 
 Ele estabelece o caráter supletivo (e também subsidiário) do Novo CPC 
aos processos eleitorais, trabalhistas (o art. 769 da CLT inclusive já dizia isso) e 
administrativos. 
 
 Diz-se supletivo porque aplicável em conjunto com os referidos ramos 
específicos do processo (eleitoral, trabalhista e administrativo); e diz-se subsidiário por, na 
omissão esses mesmos ramos, deve o Novo CPC ser utilizado como subsídio. 
 
 Nada se disse sobre a incidência do Novo CPC no âmbito do processo 
penal, mas isso será irrelevante tecnicamente, posto que o art. 3º do Código de Processo Penal já 
determina essa aplicação subsidiária. 
 
 Nesse sentido, inclusive, encontra-se redigido o Enunciado 3 do CJF: 
 
 “As disposições do CPC aplicam-se supletivamente e subsidiariamente 
ao Código de Processo Penal, no que não forem incompatíveis com esta Lei”. 
 
 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL – Volume 1 
Novo CPC – Parte Geral – Professor Aldo Sabino 
 
27 
 
LIVRO II 
DA FUNÇÃO JURISDICIONAL 
TÍTULO I 
DA JURISDIÇÃO E DA AÇÃO 
 
 “Art. 16. A jurisdição civil é exercida pelos juízes e pelos tribunais em 
todo o território nacional, conforme as disposições deste Código.” 
 
 “Art. 17. Para postular em juízo é necessário ter interesse e 
legitimidade.” 
 
1. Conceito de “ação”. Natureza jurídica. Teorias 
 
 De conformidade com a teoria dominante acerca da natureza jurídica da 
ação, ela pode ser conceituada como o direito público, subjetivo, autônomo, instrumental (está 
instrumentalmente conexo a uma pretensão), abstrato de invocar a prestação jurisdicional do 
Estado-Juiz, face a uma pretensão regularmente apresentada. 
 
 O direito de ação, enquanto poder incondicionado de postular junto ao 
Judiciário, se encontra garantido na Constituição Federal em vários dispositivos, mas é amparado 
diretamente pelo “princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional” (CF, art. 5º, inciso 
XXXV). 
 
 No âmbito processual o direito de ação é também previsto, mas é 
condicionado ao preenchimento de certos requisitos, conforme se pode aferir pelo art. 17 do 
Novo CPC. 
 
 Há diversas teorias sobre a natureza jurídica do direito de ação (a teoria 
civilista, a teoria da ação como direito concreto, teoria da ação como direito abstrato e a teoria 
eclética). 
 
 Até o presente momento, predomina a adoção da teoria eclética (de 
Liebman), segundo a qual o direito de ação, embora abstrato e desvinculado da vitória, ou não, 
do autor, só pode ser exercido por quem preenche os requisitos elencados no art. 17 do Novo 
CPC. Desta sorte, a teoria eclética defende que a existência do direito de ação não está vinculada 
à existência do direito material, mas ao preenchimento de requisitos chamados por alguns de 
“condições da ação” (Daniel Assumpção Neves) ou, por outros, simplesmente de “legitimidade e 
interesse” (Didier Jr, Marinoni e outros). 
 
(Ministério Público-GO, 2010, questão 36) Das teorias sobre a natureza jurídica a 
ação é correto afirmar: (a) A teoria civilista de Savigny considera que o direito de 
ação tem autonomia em relação ao direito material; (b) A teoria do direito concreto 
(Bullow e Wach) não reconhece a autonomia do direito processual em relação ao 
direito material, de maneira que para a mesma tais direitos se identificam no 
exercitamento da pretensão; (c) Para Enrico Tulio Liebman (teoria eclética), o 
direito de ação tem dois aspectos, o direito de demanda ou de acesso ou petição 
(incondicionado) e o direito de ação propriamente dito, que exige o preenchimento 
de condições a viabilizar o julgamento efetivo da pretensão deduzida; (d) A teoria do 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL – Volume 1 
Novo CPC – Parte Geral – Professor Aldo Sabino 
 
28 
 
direito abstrato (Degenkolb e Plósz) preconiza que somente terá havido o exercício 
da ação se a tutela jurisdicional invocada for concedida”.9 
 
2. Legitimidade e interesse processual. As “condições da ação” 
 
 O art. 17 do CPC/2015 positiva, mais uma vez a tese de que a ação tem 
apenas duas condições (a legitimidade e o interesse), extirpando a possibilidade jurídica deste 
rol, passando a compor o mérito da pretensão ou eventualmente o próprio interesse processual. 
 
 Aliás, já há quem sustente de as “condições da ação” já não existem mais 
como categoria (Didier Jr defende com veemência essa tese). 
 
 De fato, o Novo CPC não usa mais o termo “condições da ação” e 
“carência de ação”, não havendo mais motivo, segundo o referido autor, para uso dessas 
categorias, passando a compor os pressupostos processuais,10 mais especificamente com 
“pressupostos de admissibilidade do julgamento de mérito”.11 
 
 Para se chegar a essa conclusão, convém comparar o art. 267, inciso VI 
do CPC/1973 com o seu correspondente no novo sistema, o art. 485, inciso VI do CPC/2015. 
 
 O primeiro determina extinção do processo sem resolução do mérito, 
“quando não concorrer qualquer das condições da ação” (CPC/1973, art. 267, inciso VI, com 
destaque meu); o segundo estabelece que a extinção sem resolução do mérito ocorrerá se o juiz 
“verificar a ausência de legitimidade ou de interesse processual” (Novo CPC, art. 485, inciso 
VI), sem fazer menção a locução “condições da ação”. 
 
 Há, contudo, corrente em sentido diverso, sustentando-se que mesmo 
sem o nome de “condições da ação”, a legitimidade das partes e o interesse processual não 
podem ser capitulados como pressupostos processuais (Daniel Assumpção Neves, Novo CPC 
Comentado, p. 43). 
 
 Para este autor, condições da ação, mesmo depois do Novo CPC, 
continuam existindo normalmente (Neves, Novo, p. 42-43), posto que a falta delas permanece 
levando à extinção sem resolução do mérito nos casos do art. 485, inciso VI (prova de que elas 
ainda são “requisitos da ação”), além do que para aferição do interesse e da legitimidade é 
preciso examinar a relação jurídica concretamente (a parte pode ter legitimidade para um tipo de 
pretensão externada, mas não ter para outra), diferentemente do que ocorre com os pressupostos 
processuais, que são analisados em tese, em abstrato, em tese (aquele que é incapaz, continua 
sendo incapaz em qualquer feito, exigindo a figura do representante ou do assistente em todas 
ações, indistintamente). 
 
 E arremato: parece mesmo difícil tecnicamente enquadrar o interesse e a 
legitimidade (analisadas em conexão concreta com a pretensão) como simples “pressupostos 
processuais” (analisados em abstrato). Há essa grande distinção técnica entre as duas categorias 
 
9 Resposta: A alternativa “c” é a correta, como se confirma no texto principal, inclusive após o advento do Novo 
CPC; agora, é preciso atenção no que tange à categoria das “condições da ação”, não existe mais para parte da 
doutrina (Didier Jr, por exemplo). 
10 Didier Jr, Curso, v. 1, p. 22. 
11 Cassio Scarpinella Bueno, Novo, p. 55. 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL – Volume 1 
Novo CPC – Parte Geral – Professor Aldo Sabino 
 
29 
 
jurídicas. Será preciso mais tempo para avaliarmos com segurança o destino e a interpretação do 
art. 17 do Novo CPC. 
 
3. Elementos da demanda 
 
 Vale o registro de que as condições da ação não se confundem com os 
elementos da ação (“elementos da demanda”, como é mais técnico dizer). 
 
 Vejamos, em primeiro lugar, as “condições da ação”. 
 
 As condiçõesda ação no Novo CPC são a legitimidade das partes e o 
interesse processual (relembre-se que a possibilidade jurídica não é considerada mais uma 
condição da ação, mas, de regra, uma questão de mérito). 
 
 As condições da ação são requisitos exigidos em todas as demandas para 
que haja o julgamento do mérito, são pressupostos do julgamento do mérito; a ausência delas, 
portanto, gera a prolação de uma sentença sem resolução do mérito, nos termos do art. 485, 
inciso VI do Novo CPC. 
 
 Agora, os “elementos da demanda”. 
 
 Os elementos da demanda (ou elementos identificadores da demanda) são 
as partes, a causa de pedir e o pedido. 
 
 As partes são o autor, o réu e os terceiros. 
 
 A causa de pedir abarca da descrição fática contida na petição inicial 
(causa de pedir remota), bem como seu enquadramento jurídico (causa de pedir próxima).12 
 
 O pedido abrange o provimento jurisdicional pretendido (pedido 
imediato) e o bem da vida que se quer ter pela decisão judicial (pedido mediato). 
 
 E esses elementos da demanda (partes, causa de pedir remota e próxima, 
e os pedidos imediato e mediato) são relevantes para a comparação de ações para fins de 
reconhecimento da litispendência, da coisa julgada, da conexão e de vários outros institutos 
processuais. 
 
 Os elementos da demanda são, por assim dizer, o “DNA” de uma 
determinada ação, servindo para identificação da mesma e para aferição, por exemplo, de sua 
repetição, ou não, no caso concreto. 
 
 “Art. 18. Ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio, salvo 
quando autorizado pelo ordenamento jurídico. 
 Parágrafo único. Havendo substituição processual, o substituído poderá 
intervir como assistente litisconsorcial.” 
 
 
12 Há quem inverta o conceito de causa de pedir remota e próxima, como Nery Jr e Daniel Assumpção Neves, mas a 
questão já foi objeto de indagação em Goiás e a vertente adotada foi exatamente a do texto principal. Vejamos: 
Magistratura-GO, 2004, questão 44, “Entende-se por causa próxima, o fato gerador do direito, e causa remota 
os fundamentos, a natureza do direito controvertido” (a assertiva está incorreta no gabarito oficial). 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL – Volume 1 
Novo CPC – Parte Geral – Professor Aldo Sabino 
 
30 
 
 O art. 18 do Novo CPC consagra a “substituição processual” ou 
“legitimação extraordinária”.13 
 
 Há, pois, legitimação extraordinária ou substituição processual quando 
alguém atua, em juízo, por autorização do ordenamento jurídico, em nome próprio, mas na 
defesa de direito alheio (por exemplo, o Ministério Público move ação de investigação de 
paternidade em nome próprio, mas na defesa do interesse do incapaz). 
 
 Como se observa, só se admite esse tipo de atuação excepcionalmente, 
quando houver expressa permissão do ordenamento jurídico; fora daí, não se permitirá o 
ajuizamento ou a defesa em nome próprio na defesa de interesse alheio, e se isso ocorrer 
concretamente, haverá extinção da relação processual sem resolução de mérito, por ilegitimidade 
ativa (Novo CPC 485 VI). 
 
 Deixou-se claro no parágrafo único do art. 18 que o substituído (um 
terceiro, tecnicamente) pode se manter fora da relação processual ou optar por intervir nos autos; 
se a opção for pela intervenção, ela se dará na condição técnica de assistente litisconsorcial, na 
forma do art. 124 do Novo CPC. 
 
 Vem sendo sugerido que o juiz, podendo identificar o substituído, deve 
determinar sua intimação para, querendo, integrar a relação processual (Enunciado 110 do 
FPPC), regra que estava no Projeto do NCPC do Senado, mas que terminou não integrando o 
texto final do Código. Inclusive, vê-se que ideia similar foi observada expressamente no art. 675, 
parágrafo único do CPC/2015,14 alusivo aos embargos de terceiro. 
 
 Não se deve confundir a substituição processual (Novo CPC 18), com a 
representação processual (autorização para alguém atuar em juízo em nome alheio, na defesa 
do interesse dele), prevista em dispositivos como os arts. 71 e 75 do Novo CPC, e com a 
sucessão processual, prevista nos arts. 108-110 do Novo CPC, situações em que se prevê a 
“troca” de parte por alienação do direito litigioso ou pela morte de alguma das partes. 
 
 Essa distinção é bem relevante, pois já foi exigida até em prova oral: 
 
(Magistratura-GO, 2013, Oral) “Quais são as situações em que ocorre a sucessão 
processual e a substituição processual?”.15 
 
 “Art. 19. O interesse do autor pode limitar-se à declaração: 
 I – da existência, da inexistência ou do modo de ser de uma relação 
jurídica; 
 II – da autenticidade ou da falsidade de documento”. 
 
 “Art. 20. É admissível a ação meramente declaratória, ainda que tenha 
ocorrido a violação do direito.” 
 
 
13 Bueno, p. 47. 
14 “Caso identifique a existência de terceiro titular de interesse em embargar o ato, o juiz mandará intimá-lo 
pessoalmente”. 
15 Resposta: A substituição processual é o instituto previsto no art. 18 do Novo CPC (MP propõe ação de 
investigação de paternidade, por exemplo); a sucessão processual, ao contrário, está prevista nos arts. 108-110 do 
Novo CPC (parte autora falece e é sucedida por seu espólio ou por seus herdeiros, por exemplo). 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL – Volume 1 
Novo CPC – Parte Geral – Professor Aldo Sabino 
 
31 
 
 O arts. 19-20 do CPC/2015 correspondem art. 4º do CPC/1973. 
 
 A pretensão declaratória, no novo sistema, pode abarcar (a) a existência, 
(b) a inexistência ou (c) o modo de ser de uma relação jurídica, bem como (d) o 
reconhecimento da autenticidade ou da falsidade de um documento (Novo CPC 19). 
 
 Vê-se, assim, que houve ampliação do objeto das ações declaratórias, 
para que se possa reconhecer não só a existência ou a inexistência de uma relação jurídica, mas 
também o seu “modo de ser”, positivando aqui a sugestão jurisprudencial estampada na Súmula 
181 do Superior Tribunal de Justiça,16 cuja redação é a seguinte: 
 
 “É admissível ação declaratória, visando a obter certeza quanto à exata 
interpretação de cláusula contratual”. 
 
 Além disso, houve extinção do instituto da “ação declaratória incidental” 
(CPC/1973, arts. 5º, 325 e 470), substituindo-se o mesmo pela técnica mais econômica prevista 
no art. 503, § 1º do Novo CPC, em que a coisa julgada é estendida automaticamente à questão 
prejudicial declaratória incidente, desde que haja competência do juízo e contraditório efetivo 
sobre ela. 
 
 Mas um detalhe intertemporal precisa ser lembrado, e ele se encontra no 
texto do art. 1.054 do Novo CPC: 
 
 “O disposto no art. 503, § 1º, somente se aplica aos processos iniciados 
após a vigência deste Código, aplicando-se aos anteriores o disposto nos arts. 5º, 325 e 
470 da Lei 5.869, de 11 de janeiro de 1973”. 
 
 Essa nova disciplina, portanto, só se aplica aos processos instaurados a 
partir de 18 de março de 2016. 
 
 Enfim, apesar da indicada extinção da “ação declaratória incidental” 
(ADI), nada impedirá a propositura excepcional de uma ação declaratória autônoma (em feito 
independente) quanto à questão prejudicial, conforme alude o Enunciado 111 do Fórum 
Permanente de Processualistas Civis.17 E isso será inclusive essencial nos casos que se encaixem 
nas limitações do § 2º do art. 503 do Novo CPC, isto é, nos procedimentos que contiverem 
restrições probatórias ou limitações à cognição “que impeçam o aprofundamento da análise da 
questão prejudicial”, como ocorre, por exemplo, nos Juizados Especiais Cíveis (Lei 9.099/1995). 
 
 E esse caso específico de propositura autônoma, anote-se bem, gerará a 
posterior junção de feitos, em face da conexão por prejudicialidade (Novo CPC 55 § 3º), 
trazendo um efeito bem parecido com o regime geral (do art. 503, § 1º), com imposição do 
julgamento simultâneo da ação principal, e da conexa, proposta posteriormente(Novo CPC 58). 
 
 
16 Nesse sentido: Cassio Scarpinella Bueno, Projetos, p. 48. 
17 “Persiste o interesse no ajuizamento de ação declaratória quanto à questão prejudicial incidental”. 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL – Volume 1 
Novo CPC – Parte Geral – Professor Aldo Sabino 
 
32 
 
TÍTULO II 
DOS LIMITES DA JURISDIÇÃO NACIONAL E DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL 
CAPÍTULO I 
DOS LIMITES DA JURISDIÇÃO NACIONAL 
 
 “Art. 21. Compete à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as 
ações em que: 
 I – o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no 
Brasil; 
 II – no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação; 
 III – o fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil. 
 Parágrafo único. Para o fim do disposto no inciso I, considera-se 
domiciliada no Brasil a pessoa jurídica estrangeira que nele tiver agência, filial ou 
sucursal.” 
 
 “Art. 22. Compete, ainda, à autoridade judiciária brasileira processar e 
julgar as ações: 
 I – de alimentos, quando: 
 a) o credor tiver domicílio ou residência no Brasil; 
 b) o réu mantiver vínculos no Brasil, tais como posse ou propriedade de 
bens, recebimento de renda ou obtenção de benefícios econômicos; 
 II – decorrentes de relações de consumo, quando o consumidor tiver 
domicílio ou residência no Brasil; 
 III – em que as partes, expressa ou tacitamente, se submeterem à 
jurisdição nacional.” 
 
 “Art. 23. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de 
qualquer outra: 
 I – conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil; 
 II – em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação de 
testamento particular e ao inventário e à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o 
autor da herança seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território 
nacional; 
 III – em divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável, 
proceder à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o titular seja de nacionalidade 
estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional.” 
 
 “Art. 24. A ação proposta perante tribunal estrangeiro não induz 
litispendência e não obsta a que a autoridade judiciária brasileira conheça da mesma 
causa e das que lhe são conexas, ressalvadas as disposições em contrário de tratados 
internacionais e acordos bilaterais em vigor no Brasil. 
 Parágrafo único. A pendência de causa perante a jurisdição brasileira não 
impede a homologação de sentença judicial estrangeira quando exigida para produzir 
efeitos no Brasil.” 
 
 “Art. 25. Não compete à autoridade judiciária brasileira o processamento 
e o julgamento da ação quando houver cláusula de eleição de foro exclusivo estrangeiro 
em contrato internacional, arguida pelo réu na contestação. 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL – Volume 1 
Novo CPC – Parte Geral – Professor Aldo Sabino 
 
33 
 
 § 1º Não se aplica o disposto no caput às hipóteses de competência 
internacional exclusiva previstas neste Capítulo. 
 § 2º Aplica-se à hipótese do caput o art. 63, §§ 1º a 4º.” 
 
1. Limites da jurisdição nacional 
 
 Os arts. 21-25 do CPC/2015 cuidam do que agora passa a se chamar 
“Limites da Jurisdição Nacional” (no CPC/1973 o tema era chamado impropriamente de 
“Competência Internacional”). 
 
 O assunto abarca o estudo de três temas (a) a jurisdição nacional 
concorrente (arts. 21-22), (b) a jurisdição nacional exclusiva (art. 23) e (c) o regime jurídico da 
“litispendência internacional” (arts. 24-25). 
 
2. Jurisdição nacional concorrente 
 
 Fala-se em “jurisdição nacional concorrente” quando a demanda pode 
tanto ser proposta perante a justiça brasileira, quanto na justiça estrangeira; e nesta última 
situação, a sentença estrangeira eventualmente proferida poderá vir a ser homologada pelo 
Superior Tribunal de Justiça (CF 105 I “i”), para produzir efeitos aqui. 
 
 São, pois, de competência concorrente da autoridade judiciária brasileira 
as ações em que (art. 21): 
 
 (a) o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no 
Brasil; 
 (b) no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação; 
 (c) o fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil. 
 
 E ainda nas ações (art. 22): 
 
 (d) de alimentos, (d.1) quando o credor (autor da ação de alimentos) tiver 
domicílio ou residência no Brasil ou (d.2) quando o réu (devedor) mantiver vínculos no 
Brasil, tais como posse ou propriedade de bens, recebimento de renda ou obtenção de 
benefícios econômicos; 
 (e) decorrentes de relações de consumo, quando o consumidor tiver 
domicílio ou residência no Brasil; 
 (f) em que as partes, expressa ou tacitamente, se submeterem à jurisdição 
nacional, pactuando uma espécie de cláusula de eleição de foro internacional. 
 
 E aqui convém registrar que as hipóteses do art. 22 constituem novidade, 
enquanto lei, em nosso sistema (elas não constavam no CPC/1973). 
 
 Repita-se, então, que nessas seis situações a demanda poderá ser proposta 
tanto na Justiça Brasileira, quanto em algum país estrangeiro. Neste último caso, relembre-se, a 
sentença eventualmente proferida, para produzir efeitos no Brasil e ser objeto de cumprimento, 
deverá ser trazida para homologação pelo Superior Tribunal de Justiça (CF 105 I “i”). 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL – Volume 1 
Novo CPC – Parte Geral – Professor Aldo Sabino 
 
34 
 
(Magistratura-SP, 2017, 187º Concurso, questão 11) “Compete à autoridade judiciária 
brasileira julgar as ações em que as partes se submetam à jurisdição nacional, desde 
que o façam expressamente”.18 
 
3. Litispendência internacional e a competência nacional concorrente 
 
 Como se viu, nestes casos competência nacional concorrente (arts. 21 e 
22) admite-se a existência de ação idêntica em andamento no exterior (Novo CPC 24) e até 
mesmo a sua homologação junto ao Superior Tribunal de Justiça (Novo CPC 24, parágrafo 
único). 
 
 Inclusive, o art. 24 do Novo CPC é claro ao ditar que a “ação proposta 
perante tribunal estrangeiro não induz litispendência e não obsta a que a autoridade judiciária 
brasileira conheça da mesma causa e das que lhe são conexas”. 
 
 E caso haja conclusão do processo estrangeiro, com consequente pedido 
de homologação de sentença estrangeira proferida na pendência de processo judicial nacional 
idêntico (CF 105 I “i”) e o juiz brasileiro saiba disso, será o caso de suspensão da ação nacional 
por existência de questão prejudicial externa (Novo CPC 313 V “a”), até que se defina a questão. 
 
 Em sendo homologada a sentença estrangeira (pelo Superior Tribunal de 
Justiça), por óbvio, o processo nacional será extinto, reconhecendo-se a coisa julgada (Novo 
CPC 485 V); agora, se a sentença brasileira transitar em julgado primeiro, antes da formulação 
do pedido de homologação da sentença estrangeira ou na pendência dele, o caso será de negativa 
de homologação pelo Superior Tribunal de Justiça por ofensa à coisa julgada nacional (Novo 
CPC 963 IV). 
 
4. Jurisdição nacional exclusiva 
 
 O art. 23 do Novo CPC (correspondente ao CPC/1973 89) disciplina a 
“jurisdição nacional exclusiva”. 
 
 São, pois, de competência exclusiva da autoridade judiciária brasileira: 
 
 (a) conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil; 
 
 (b) em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação de 
testamento particular e ao inventário e à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o 
autor da herança seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território 
nacional; 
 
(MP-SP, Promotor de Justiça, 2017, prova tipo 01, questão 47) “Compete à 
autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra, proceder 
ao inventário e à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o autor da 
herança seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do 
território nacional”.19

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