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A congrueˆncia xn ≡ amod m Comec¸arei com uma observac¸a˜o importante. Suponha que a e m sa˜o coprimos e que om(a) = e; afirmo que para 1 ≤ k, l ≤ e− 1 vale que se ak ≡ al mod m enta˜o k e l sa˜o iguais. De fato, suponha (sem perda de generalidade) que 1 ≤ l ≤ k ≤ e− 1. Enta˜o ak ≡ al mod m ⇐⇒ akae−l ≡ alae−l mod m multiplicando por ae−l ⇐⇒ ae+k−l ≡ ae mod m ⇐⇒ aeak−l ≡ 1 mod m pois om(a) = e ⇐⇒ aeak−l ≡ 1 mod m ⇐⇒ ak−l ≡ 1 mod m pois om(a) = e Como e e´ a ordem multiplicativa de a mo´dulo m, segue da u´ltima congrueˆncia que e e´ um divisor de k − l. Por outro lado, ja´ que 1 ≤ l ≤ k ≤ e − 1 segue que 0 ≤ k − l ≤ e − l − 1 < e, e portanto conclui-se que k − l = 0, ou seja, que k = l. Agora suponha que g e´ uma raiz primitiva de m, ou seja, que sua ordem mo´dulo m e´ φ(m). Pelo que acabamos de ver, as poteˆncias g, g2, g3, . . . , gφ(m) sa˜o todos distintas mo´dulo m (isto e´, se k 6= l enta˜o gk /≡ glmod m). Isso e´ importante nos ca´lculos que seguem. O resultado a seguir fornece um crite´rio que permite determinar imediatamente se a congrueˆncia xn ≡ a mod m possui alguma soluc¸a˜o, e no caso positivo diz o nu´mero de soluc¸o˜es. Sua demonstrac¸a˜o fornece um me´todo para resolver esta equac¸a˜o. Este me´todo e´ descrito logo apo´s o resultado principal. Teorema 1 Seja m um inteiro positivo tal que exista uma raiz primitiva mo´dulo m. Sejam a um inteiro tal que mdc(a,m) = 1, n um inteiro positivo, d = mdc(n, φ(m)) e t = φ(m)/d. 1. A congrueˆncia xn ≡ a mod m (1) possui soluc¸a˜o se e somente at ≡ 1 mod m. 2. Caso tenha soluc¸a˜o, a equac¸a˜o (1) tem exatamente d soluc¸o˜es incongruentes mo´dulo m. Demonstrac¸a˜o. Escolha uma raiz primitiva g de m; lembre que isso significa que g tem φ(m) como ordem multiplicativa mo´dulo m. Se r1, r2, . . . , rφ(m) sa˜o os restos da divisa˜o por m que sa˜o coprimos com m, enta˜o para cada ri existe um u´nico si com 1 ≤ si ≤ φ(m) tal que gsi ≡ rimod m. Como mdc(a,m) = 1 temos que a ≡ rimod m para algum i, e por isso a ≡ gsi mod m. Daqui em diante s = si. Se existe uma soluc¸a˜o de xn ≡ a mod m enta˜o esta soluc¸a˜o x e´ coprima com m (verifique). Por isso podemos escrever x ≡ gymod m e procurar uma soluc¸a˜o y para a congrueˆncia gny ≡ gs mod m. (2) Por sua vez, se ny ≥ s enta˜o gny ≡ gs mod m ⇐⇒ gφ(m)−sgny ≡ gφ(m)−sgs mod m ⇐⇒ gφ(m)−s+ny ≡ gφ(m) mod m ⇐⇒ gφ(m)gny−s ≡ gφ(m) mod m ⇐⇒ gny−s ≡ 1 mod m pois gφ(m) ≡ 1mod m pelo Teorema de Euler (ou pelo fato de que g e´ raiz primitiva). Observe que pedimos ny ≥ s apenas para ter um expoente ny− s na˜o negativo; se s ≥ ny pode-se fazer uma conta ana´loga. Agora, da u´ltima congrueˆncia gny−s ≡ 1 mod m segue que φ(m) divide ny − s por conta da seguinte propriedade: • Se ak ≡ 1mod m enta˜o om(a) divide k. Mas dizer que φ(m) divide ny − s e´ o mesmo que dizer que ny ≡ s mod φ(m). (3) Reciprocamente, se a equac¸a˜o (3) e´ va´lida enta˜o a equac¸a˜o (2) tambe´m vale; ou seja, As equac¸o˜es (2) e (3) e teˆm as mesmas soluc¸o˜es. Portanto podemos aplicar a teoria das congrueˆncias lineares para resolver (3), e portanto resolver (1). A equac¸a˜o (3) tem soluc¸a˜o se e somente se d = mdc(n, φ(m)) divide o termo constante s. Deste modo a equac¸a˜o original xn ≡ a mod m tem soluc¸a˜o se e somente se d divide s. Por outro lado, considere agora a congrueˆncia at ≡ 1 mod m onde t = φ(m)/d. Como a ≡ gsmod m, podemos reescreveˆ-la como gst ≡ 1 mod mod m. Como a ordem de g e´ φ(m), esta congrueˆncia vale se e somente se φ(m) divide st. Levando em conta que φ(m) = d · φ(m) d = dt, φ(m) | st ⇐⇒ dt | st ⇐⇒ d | s. Resumindo, sa˜o equivalentes: 1. xn ≡ amod m tem soluc¸a˜o 2. d | s 3. at ≡ 1mod m. Finalmente, quando ha´ soluc¸a˜o, vimos acima que ha´ uma correspondeˆncia entre as soluc¸o˜es de xn ≡ amod m e yn ≡ smod φ(m). Como esta segunda congrueˆncia tem exatamente d soluc¸o˜es incongruentes mo´dulo φ(m) 1, a congrueˆncia original tera´ d soluc¸o˜es incongruentes mo´dulo m.2 Corola´rio 1 Seja m um inteiro positivo tal que exista uma raiz primitiva mo´dulo m e seja d = mdc(n, φ(m)) A congrueˆncia xn ≡ a mod m possui d soluc¸o˜es distintas mo´dulo m. Me´todo para resolver a congrueˆncia (1). Este me´todo vem da demonstrac¸a˜o do teorema acima. 1. Verifique se at ≡ 1mod m, pois ha´ soluc¸o˜es de (1) se e somente se esta congrueˆncia e´ va´lida. 2. Supondo que ha´ soluc¸o˜es, encontre uma raiz primitiva g de m (e´ por tentativa e erro; lembre que basta testar poteˆncias gd com d divisor de φ(m)). 3. Determine o s tal que gs ≡ amod m. Novamente, e´ por tentativa e erro, mas e´ poss´ıvel que voceˆ tenha encontrado uma soluc¸a˜o no item anterior. 4. Agora resolva a congrueˆncia linear ny ≡ s mod φ(m). que veio da congrueˆncia (2). Se as d soluc¸o˜es distintas mo´dulo φ(m) desta congrueˆncia acima sa˜o c1, c2, . . . , cd enta˜o as d soluc¸o˜es soluc¸o˜es distintas mo´dulo m correspondentes de (1) sa˜o gc1 , gc2 , . . . , gcd . (... pode ser necessa´rio ainda “reduzi-las” mo´dulo m para que fiquem entre 1 e m− 1). Um exemplo (exerc´ıcio da lista 7) Considere a congrueˆncia x12 ≡ 16 mod 17. Neste caso m = 17 (primo), n = 12, a = 16, d = mdc(n, φ(m)) = mdc(12, 16) = 4 e t = φ(m)/d = 16/4 = 4. 1Isso esta´ provado no livro do Polcino, mas tente provar voceˆ mesmo: isso vale para uma congrueˆncia linear qualquer ax ≡ b mod m. 2Verifique. Verificando se existe soluc¸a˜o: observando que 16 ≡ −1mod 17 temos 164 ≡ (−1)4 ≡ 1 mod 17 e portanto temos d = 4 soluc¸o˜es. Ha´ um exerc´ıcio da lista que mostra que g = 3 e´ uma raiz primitiva de 17. Tem-se a = 16 ≡ −1 ≡ 38 mod 17. Portanto basta resolver 12y ≡ 8 mod 16. Cancelando 4, obtemos 3y ≡ 2 mod 4. Multiplicando por 3, que e´ o inverso de 3 mo´dulo 4, obtemos y ≡ 6 ≡ 2 mod 4 e portanto as soluc¸o˜es inteiras sa˜o y = 2 + 4k, k ∈ Z. Quatro soluc¸o˜es distintas mo´dulo 16 sa˜o 2, 6, 10, 14. Utilizando-as como expoentes da raiz primitiva 3 obtemos as quatro soluc¸o˜es distintas mo´dulo 17: 32 ≡ 9 mod 17, 36 ≡ 15 mod 17, 310 ≡ 8 mod 17, 314 ≡ 2 mod 17. Portanto, a menos de somar mu´ltiplos de 17, as soluc¸o˜es de x12 ≡ 16mod 17 sa˜o 2, 8, 9, 15.
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