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Apostila de Literatura Brasileira

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UNIGRANRIO – Universidade do Grande Rio – Prof. José de Souza Herdy
Literatura Brasileira II – Romantismo – Sousândrade – Profª.: Vera Kauss
Sousândrade (1832-1902) era a forma com a qual assinava o maranhense Joaquim de Sousa Andrade. A presença atual de Sousândrade no panorama do Romantismo é resultado de um revisionismo crítico marcante. O poeta pertence, cronologicamente, à segunda geração do Romantismo brasileiro. Seu livro, Harpas selvagens (1857), antecede de dois anos a publicação de Primaveras, de Casimiro de Abreu. A poesia de Sousândrade não teve, porém, ressonância junto à sensibilidade de seus contemporâneos. Sismo de vibração acima da curva acústica da época, sua obra ficou à margem. O poeta, aliás, soubera prever lucidamente esse destino, escrevendo: “Ouvi dizer por duas vezes que O Guesa Errante será lido cinquenta anos depois; entristeci – decepção de quem escreve cinquenta anos antes.” (1877) De fato, só recentemente parte da obra de Sousândrade foi reposta em circulação. Até bem pouco tempo atrás, prevalecia a visãod e Silvio Romero que encarara o escritor como um poeta irregular, capaz de audácias que o projetam para fora da “toada comum do tempo”, mas de escassa inteligibilidade; isso quando não ocorria a omissão de seu nome pura e simplesmente. 
Hoje, já podemos perceber que as “falhas” então vistas na obra do autor maranhense eram antes limitações e defasagens de perspectiva da crítica colocada em face de inovações premonitórias, que só a evolução posterior da poesia e do aparato teórico para o estudo da obra literária irá sancionar. O prórpio Silvio Romero já havia advertido, embora sem extrair da observação as consequencias críticas exatas, que as ideias e a linguagem de Saousândrade tinham outra estrutura que não a da poetização do seu meio. 
Trata-se, realmente, de uma linguagem que desborda do Romantismo, opondo-se mesmo aos clichês da sensibilidade e aos afrouxamentos da dicção romântica tal qual se fixou entre nós. Lancou-se, mais de uma vez, contra Sousândrade a crítica de ser obscuro. No entanto, sua propalada obscuridade no longo poema O Guesa reside, principalmente, no acervo de referências históricas e mitológicas manipuladas pelo poeta, podendo ser emovida com o levantamento das fontes respectivas. Outro tipo de restrição, ainda ligada à ideia de obscuridade, está praticamente invalidado pelo estágio atual das técnicas de composição poemática. Vincula-se a um preconceito de matriz retórico-discursivo contra a poesia de expressão elíptica e sintética. Fala-se também dos “desníveis” de Sousândrade: a este respeito podemos dizer que desconhecemos um romântico brasileiro que mantenha sempre o mesmo nível em poemas longos, para não se ter em mira uma obra das proporções do Guesa. Muito ao contrário, Sousândrade, com os naturais desníveis que possa ter (e realmente os tem), consegue elevar a tensão estrutural e semântica de sua poesia a níveis raramente atingidos entre nós. Para a sensibilidade moderna, na verdade, a obra do maranhense apresenta-se com um alto teor de legibilidade do ponto de vista da realização estética, sem paralelo entre seus contemporâneos brasileiros. Sousândrade foi contemporâneo – numa perspectiva internacional – de Baudelaire. Sua obra, além disso, aporta uma contribuição original, que não se confunde com a do pai do Simbolismo francês, cujas Fleurs du Mal (1857) estão na ponta da meada da poesia moderna. Realmente, os dois círculos infernais do Guesa (o primeiro no Canto II, datado de 1858) fazem-no credor de uma posição precursora de importantes linhas de pesquisa da poesia atual, e, em particular, temática e estilisticamente, dos Cantares, de Ezra Pound. De outro lado, a contribuição de Sousândrade no domínio do léxico (sobretudo na criação de compostos e sínteses metafóricas) é pioneira em seu século. Surpeendentemente, o poeta alia seu arrojo estético a uma atilada perspectiva social. Poeta participante, pregou a República e, desde seu primeiro livro, insurgiu-se contra a escravidão, tomando, assim, posição perante os grandes temas políticos do Brasil da época. Mas não ficou circunscrito aos problemas internos, lançando-se a uma problemática internacional: a luta anticolonialista, buscando uma conscientização da americanidade em termos continentais e denunciando premonitoriamente, no traçado dantesco de um inferno financeiro (Guesa, Canto X, seção “O inferno de Wall Street”), as contradições do capitalismo florescente.
O Guesa é um poema em XIII Cantos, dos quais os de números VI, VII, XII e XIII ficaram inacabados. Nessa obra, da qual o prórpio poeta afirmou nada ter do dramático, do lírico ou do épico, mas simplesmente da narrativa, é lícito reconhecer, não obstante, uma interpenetração de todos esses gêneros, num sentido muito próximo da moderna concepção de poema longo. Trata-se de uma narrativa que não tem um desenvolvimento lógico-linear, mas que evolui no plano da memória, tendo como esquema geral a lenda indígena do “Guesa Errante”. Esta personagem era uma criança roubada aos pais e destinada a cumprir o destino místico de Bochica, deus do Sol. Educavam-na no templo da divindade até os dez anos, quando deveria repetir as peregrinações do deus, culminando com o percurso da “estrada do Suna” e o sacrifício ritual aos 15 anos: numa praça circular, o “Guesa” adolescente era atado a uma coluna e morto a flechadas pelos sacerdotes (“xeques”). Seu coração era arrancado em oferenda so sol e o sangue recolhido em vasos sagrados. Completada a cerimonia, abria-se nova “indicção” ciclo astrológico de 15 anos), com o rapto de outra criança que deveria suceder à vítima imolada. Sousândrade identifica o seu destino pessoal de poeta com o fadário de um noivo “Guesa”; no plano histórico-social, assimila a esse destino o do indígena americano sacrificado pelo conquistador branco. De um lado, Sousândrade condenava as formas de opressão e a corrupção dos poderosos, profligando o colonialismo e satirizando as classes dominantes (a nobreza e o clero); de outro, preconizava o modelo republicano greco-incaico, colhido na República social utópica de Platão e no sistema comunitário dos incas, ou ainda numa livre interpretação das raízes do cristianismo. Outro fator de modernidade está no ter sido ele escrito durante várias viagens em tempos diversos (dentro do Brasil, na Europa, na África, por países da América Latina e pelos Estados Unidos)que nele interpenetram-se, mesclando-se referências histórico-geográficas às reminiscências e reflexões do poeta, num livre desenho mental, intertemporal.
Dotado de uma compreensão mais ampla e crítica acerca da pátria e do indianismo, então vigentes na poesia de seus contemporâneos românticos, Sousândrade defendia uma nova civilização americana, independente política e culturalmente. Em seu americanismo, que finde as três Américas, encontram-se alusões aos aspectos tanto paradisíacos quanto infernais da América. É um americanismo crítico: ao mesmo tempo que recupera as tradições indígenas amazonenzes e colombianas, aponta o câncer do mundo mioderno, na república do Norte, o inferno financeiro de Wall Street.
Como exemplo observe esses fragmentos do poema Novo Éden, escrito entre 1888 e 1889, no exato momento em que se davam os desdobramentos políticos que levariam à abolição e à república. Alegoricamente, o poeta faz um paralelo entre o fim da Monarquia e a queda de Adão e Eva do paraiso.
Banidos do paraiso: olhando para trás,
D´espelho que se parte o relapagueamento
D`estampido seguido e que cegueira faz
Que d´alma a dor profunda apaga no momento,
Viram… um lago! ao longe… um monte!... nada mais.
………………………………………………………………………
Já era o pôr-do-sol: cansados do caminho,
Eva chorando, o abrolho, o cardo, a urtiga, o espinho,
Rastos dos pés sangrando: unidos se deitaram
Sem mais o encanto edêneo… Amar? os céus olharam:
Os astros em fulgor, suas frontes em suor;
Travesseiro? Uma pedra. E os astros sempre rindo!...
Foi quando Prometeus não pode mais; e trouxe
Dos céus centelha: e ao fogo o homem queaquentou-se;
Toda tristeza ante ele, os olhos reluzindo
Meiga, mortal, calada: ao colo da mulher,
No éden do amor, o lar cosmopolita, achou-se
Imagem de Deus uno, à carne rosicler;
Forma flor, forma céus, para-olhos e para-almas,
Da criação o amor em gêmeos, dois amores,
Corpos vibrantes dois, duas psíquicas palmas
Os corações em luz, carnariums sangues, dores
E o ideal Prometeus, a ideal imagem-Deus.
…………………………………………………………..
Egressos
Do Éden, foi, travesseiro a pedra e o leito
Entre abrolhos e espinhos, que os esposos
Casaram consolando-se: que apenas
Adolescência, puberdade, sonhos,
Ainda nas mãos de Deus se perfazendo
Nevosos copos do alvo seio d´Eva,
Risos, auroras, nos jardins houveram
De delícias, que tem da divindade,
Que Deus não deu ao irracional d´instintos,
Ao qual mandou procriar sem rir nem ciência.
Perceba que metaforicamente o poeta faz um paralelo entre República nascente e o “novo Éden”. A insegurança, as dúvidas e as dificuldades de Adão e Eva tiveram de enfrentar, segundo o mito, são análogas às dos brasileiros que ousaram cometer o pecado de sonhar com a liberdade política. Observe, também a originalidade do poeta em suas construções barroquizantes, cheias de inversões e de termos raros; em seu imagismo com os substantivos duplos; em sua musicalidade diferente; e em seu hibridismo linguístico, misturando palavras de várias línguas diferentes. As sugestões eróticas do texto também chamam a atenção e aproximam o poeta de Castro Alves.
Guesa errante (fragmento inicial do poema)
Eia, imaginação divina!
O Andes
Vulcânicos elevam cumes calvos,
Circundados de gelos, mudos, alvos,
Nuvens flutuando – que espetáculos grandes!
Lá, onde o ponto do condor negreja,
Cintilando no espaço como brilhos
D´olhos, e cai a prumo sobre os filhos
Do llama descuidado; onde lampeja
Da tempestade o raio; onde deserto,
O azul sertão, formoso e deslumbrante,
Arde do sol o incêncio, delirante
Coração vivo em céu profundo aberto!
Nos áureos tempos, nos jardins da América
Infante adoração dobrando a crença
Ante o belo sinal, nuvem ibérica
Em sua noite a envolveu ruidosa e densa.
Neste fragmento inicial do poema Guesa errante, Sousândrade identifica a origem da personagem Guesa: qual é ela?
No trecho apresentado, há um símbolo da terceira gerasção romântica: qual é ele?
O poeta apresenta a América como sendo ensolarada. Há um fato que marca uma mudança nesse fato: qual é ele? Em qual verso pode ser exemplificado?

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