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Castro Alves

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UNIGRANRIO – Universidade do Grande Rio – Prof. José de Souza Herdy
Literatura Brasileira II – Castro Alves – Profª.: Vera Kauss
Castro Alves, o poeta da liberdade
Antonio Frederico de Castro Alves nasceu a 14 de março de 1847, no município de Curralinho, Bahia. Após os primeiros estudos na Bahia, segue, com o irmão José Antônio, para o Recife, onde vive experiências que marcariam sua vida: os primeiros sintomas da doença pulmonar; o início de seu romance com a atriz portuguesa Eugênia Câmara; o desequilíbrio mental do irmão. Inicia um curso jurídico em 1864, mesmo ano em que ocorre o suicídio de José Antônio. Em 1867, abandona definitivamente o Recife. Na Bahia, a apresentação do drama Gonzaga ou A Revolução de Minas traz a consagração popular do poeta e de Eugênia.
Em 1868, chega a São Paulo, acompanhado de Eugênia Câmara e do colega Rui Barbosa; requer matrícula no terceiro ano da Faculdade de Direito do Largo São Francisco. No dia 7 de setembro, na sessão magna comemorativa da Independência, declama pela primeira vez o poema Navio Negreiro. No final do ano, fere acidentalmente o pé com uma arma de fogo que carregava a tiracolo durante uma caçada. Em 1869, amputa o pé em conseqüência do ferimento e se retira para a Bahia; lá, sobrevém o agravamento da doença pulmonar. No dia 6 de julho de 1871, às 15:30 horas, falece junto a uma janela banhada de sol, como era seu último desejo.
Enquanto os poetas das primeiras gerações românticas se ocupavam com conflitos íntimos, frutos de uma visão egocêntrica e de um universo limitado ao “eu”, Castro Alves, poeta da última geração, educado pela literatura de Victor Hugo, tem horizontes mais amplos, interessando-se não apenas pelos sentimentos e emoções pessoais (como bom romântico, Castro Alves cultivou o egocentrismo), mas também pela realidade que o rodeava. Cantou o amor, a mulher, a morte, o sonho, cantou a República, a abolição dos escravos, a igualdade, as lutas de classe, os oprimidos. Teve muitos amores, amou e foi amado por várias mulheres, mas, como bem lembra Jorge Amado no seu ABC de Castro Alves, a maior de todas as suas noivas foi a Liberdade.
Castro Alves já apresentava em sua temática tendências do Realismo, a escola literária que negaria o Romantismo; no entanto, foi perfeitamente romântico na forma, entregando-se a alguns exageros nas metáforas, comparações grandiosas, antíteses e hipérboles, típicos do condoreirismo.
A poesia lírico-amorosa de Castro Alves evolui de um campo de idealização para uma concretização das virgens sonhadas pelos românticos: agora temos uma mulher de carne e osso, sensual, individualizada em Eugênia Câmara. Esta paixão, às vezes, o torna irreverente: “amar-te é melhor que ser Deus”; ou desesperadamente eufórico, arrebatado pela realidade material: “Mulher! Mulher! Aqui tudo é volúpia.” Entretanto, convivendo com esse sensualismo adulto, encontramos o adolescente meigo e terno de metáforas líricas: “Tua boca era um pássaro escarlate.” Às vezes, é afável prisioneiro de imagens eróticas:
Boa-noite, Maria! Eu vou-me embora.
A lua nas janelas bate em cheio.
Boa-noite, Maria! É tarde... é tarde...
2
Não me apertes assim contra teu seio.
Boa-noite!... E tu dizes – Boa-noite.
Mas não digas assim por entre beijos...
Mas não mo digas descobrindo o peito,
__ Mar de amor onde vagam meus desejos.
Mulher do meu amor! Quando aos meus beijos
Treme tua alma, como a lira ao vento,
Das teclas de teu seio que harmonias,
Que escalas de suspiros, bebo atento!
	O tempo de Castro Alves foi ponteado de grandes transformações sociais: no plano internacional, a Questão Coimbrã em Portugal, o positivismo de Augusto Comte, o socialismo científico de Marx e Engels, o evolucionismo de Darwin e as primeiras lutas operárias; no plano interno, a decadência da Monarquia, a luta abolicionista, a Guerra do Paraguai e o pensamento republicano.
Este é o momento histórico vivido pelos jovens acadêmicos de Direito do Recife e de São Paulo, e que se reflete em suas manifestações:
A praça! A praça é do povo
Como o céu é do condor.
É o antro onde a liberdade
Cria águias em seu calor.
A luta abolicionista de Castro Alves faz parte de um contexto mais amplo. Na realidade, o poeta buscava um grande ideal democrático, a solução de todos os problemas vividos pelo país: a República. Portanto, importante era a derrubada da Monarquia e de suas instituições, como, por exemplo, o trabalho escravo. Mas foi justamente com os versos acerca dos escravos que o poeta alcançou maior sucesso, pois aí se encontram admiravelmente fundidas a efusão lírica e a eloqüência condoreira, como bem atestam as poesias Vozes d´África, canção do africano, Saudação a Palmares, Tragédia no lar (de grande carga dramática e emotiva) e Navio Negreiro.
Navio Negreiro (6ª parte do poema)
E existe um povo que a bandeira empresta
P´ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
3
Em manto impuro de bacante fria!
Meu Deus! meu Deus! Mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?!...
Silêncio!... Musa! Chora, chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto...
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra,
E as promessas divinas da esperança...
Tu, que da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança,
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...
Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu na vaga,
Como um íris no pélago profundo!...
... Mas é infâmia de mais... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo...
Andrada! Arranca este pendão aos ares!
Colombo! Fecha a porta de teus mares!
Por fazer a exaltação do povo africano e narrar um episódio de sua história, Navio Negreiro é considerado um poemeto épico, forma de composição muito em moda no Romantismo. Mais particularmente, um poemeto épico condoreiro, segundo o modelo de Victor Hugo. Eloquente, verborrágico, marcado por imagens grandiosas, o poema foi escrito em 18 de abril de 1868, mas tornado público apenas (e não por acaso) no dia 7 de setembro daquele ano, quando foi declamado durante a sessão magna comemorativa da Independência, no auditório da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo.
4
Se o tema do tráfico negreiro já estava superado (afinal, o último desembarque de escravos negros datava de 1855), o mesmo não se pode afirmar da campanha abolicionista e do clima nacionalista: em 1868 o Brasil vivia o auge da Guerra do Paraguai.
O poema divide-se em:
1ª parte: O poeta faz uma descrição do cenário, exaltando o belo natural;
2ª parte: O poeta faz um elogio aos marinheiros, identificados pela nacionalidade; é a exaltação do belo humano;
3ª parte: Em franca oposição às estrofes anteriores, temos a visão do navio negreiro; ao belo do cenário e das figuras humanas, opõe-se um quadro de horror;
4ª parte: Aqui o poeta faz a descrição dos negros aprisionados, e do sofrimento dos escravos;
5ª parte: Em oposição à desgraça dos negros aprisionados, temos a imagem desse povo livre em sua terra;
6ª parte: Aqui o poeta trabalha mais uma vez com a antítese: em oposição à África livre, temos a imagem de um país que se beneficia com a escravidão.

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