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Base de cálculo do iss sobre construção civil e a controvertida questão da dedução dos materiais empregados

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BASE DE CÁLCULO DO ISS SOBRE CONSTRUÇÃO CIVIL E A CONTROVERTIDA QUESTÃO DA DEDUÇÃO DOS MATERIAIS EMPREGADOS 
Beatriz Coutinho de Souza*
RESUMO
A Lei Complementar 116/03 dispõe sobre o imposto sobre serviços de qualquer natureza (ISS ou ISSQN), que é de competência municipal, mas vem gerando polêmicas quanto aos tipos de materiais que podem ser deduzidos da base de cálculo do ISS, ou seja, aqueles produzidos pelo prestador fora dos locais da prestação dos serviços. Neste trabalho, apresentamos uma série de julgados que compõem jurisprudência acerca de matéria tão polêmica, dentre os quais destacamos a decisão do Recurso Extraordinário nº 603497, quando a Ministra Ellen Gracie apresentou parecer favorável à dedução da base de cálculo do ISS dos valores dos materiais utilizados em construção civil. Dessa forma, temos como objetivo geral dessa pesquisa analisar a legalidade das deduções dos materiais empregados nos serviços de construção civil, tendo em vista controvérsia suscitada pela jurisprudência, no sentido de se poder deduzir do preço dos serviços os valores gastos com materiais de forma indiscriminada, e não nos termos autorizado pela lei complementar 116/03 em seu artigo 7º, §2º, I, qual seja, de se abater apenas o valor dos materiais fornecidos pelo prestador dos serviços, não incluído portanto, os materiais fornecidos por terceiros. Nesse trabalho tratamos por um lado da polêmica carga tributária brasileira e de outro, sobre a dedução da alíquota do ISS sobre materiais utilizados na construção civil. A legislação brasileira é constantemente mudada para atender questões circunstanciais vinculadas a governos e legisladores com interesses distintos. Os recursos da Receita Pública são a forma mais genuína do Estado sustentar-se e prestar os serviços, realizar obras, pagar o funcionalismo, enfim sobreviver. 
Palavras-chave: Base de cálculo; dedução dos materiais; Jurisprudência.
ABSTRACT
Complementary Law 116/03 provides for the tax of any kind (ISS or ISS), which is a municipal responsibility, but has generated controversy as to the types of materials that can be deducted from the ISS calculation basis, ie, those produced by the provider outside places of service provision. We present a series of judgments that make up case law about matters as controversial, among which the decision of the Extraordinary Appeal No. 603,497, when Ellen Gracie presented assent to deduct the ISS calculation basis of the values of the materials used in civil construction. Thus, we have the general objective of this research was to analyze the legality of the deductions materials employed in construction services in order controversy raised by the case, in order to be able to deduct the price of services, the cost of indiscriminately materials, and not authorized under the supplementary law 116/03 in its Article 7, paragraph 2, I, that is, to just shoot down the value of the materials provided by the service provider, is not included so the materials provided by third parties. In this article we treat one part of the controversial Brazilian tax burden and on the other, on the deduction of the ISS rate of materials used in construction. Brazilian law is constantly changed to meet circumstantial issues linked to governments and legislators with different interests. The resources of Public Revenues are the most genuine form state support themselves and provide the services, carry out works, pay functionalism, finally survive.
Keywords: Calculation basis; rate materials; jurisprudence
INTRODUÇÃO
	 A lei complementar 116/03, instituída com a finalidade de regulamentar e resolver algumas questões referentes ao imposto sobre serviços de qualquer natureza (ISS), de competência dos municípios e do distrito federal. Objetivou a uniformização das normas sobre o ISS aplicadas pelos municípios em todo o Brasil, pondo fim a aberrações jurídicas que não raro eram postas à apreciação do judiciário e que o Dec- lei 406/68 e suas diversas alterações não esclareciam a contento. 
 Infelizmente a LC 116/03 não obteve êxito em seu propósito, sendo uma das questões, a das deduções dos materiais fornecidos pelo prestador na base de cálculo do imposto sobre serviços. Se já havia discórdia entre prefeituras e empresas construtoras a respeito do assunto na vigência do decreto-lei 406/68, a nova lei jogou mais lenha na fogueira, pois disciplinando a matéria em seu artigo 7°, § 2°, inciso I, permite a dedução dos materiais fornecidos pelo prestador, e nos itens 7.02 e 7.05 da lista de serviços acrescentou parênteses incluindo as mercadorias produzidas pelo prestador fora dos locais da prestação dos serviços. 
 Tal imprecisão deu ensejo a que alguns municípios restringissem a dedução dos materiais fornecidos, sob a alegação de que este dispositivo legal combinado com a parte final do item 7. 02 e 7.05 autoriza a dedução do valor dos materiais da base de cálculo do ISSQN apenas quando da incidência do ICMS, ou seja, apenas quando o prestador é também fornecedor de mercadorias, resolvendo possível conflito de competência. Entendimento que tinha respaldo da jurisprudência até então, tais como, REsp 926.339/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, DJU de 11.05.07e AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 1.002.693 - RS (2007/0258832-0).
 O Superior Tribunal de Justiça comungou da tese dos municípios em diversos julgados, no sentido da impossibilidade de exclusão da base de cálculo do ISS do material utilizado na construção civil, sob o argumento de que essas empresas não são contribuintes do ICMS, sendo os materiais insumos da obra, devendo ter seus valores incluídos na base de cálculo do ISS. Porém, em recurso sobre a constitucionalidade da dedução, julgado pelo STF, Recurso Extraordinário nº 603.497, a então Ministra Ellen Gracie, adotou entendimento contrário ao STJ, favorável à dedução da base de cálculo do ISS dos valores dos materiais utilizados em construção civil, colocando ainda a questão sob repercussão geral. Do exposto é levantado o seguinte problema: A dedução dos materiais da base de cálculo do ISS pode ser considerada inconstitucional, na medida em que fere a competência municipal para legislar sobre esse imposto?
 A resolução da questão envolve o exame de normas legais sobre a competência para a instituição do ISS, bem como o conceito de base de cálculo, aprofundando o estudo sobre natureza da prestação do serviço e seu preço, a diferença entre materiais e mercadorias dentro do sistema tributário e constitucional. 
 O método a ser utilizado neste trabalho será o hipotético-dedutivo pesquisando as suposições levantadas pelas partes que defendem a legalidade das deduções dos materiais empregados na prestação de serviços de construção civil e os que são contra. Através da exposição dessas teorias publicadas pela doutrina e jurisprudência, bem como o exame das normas e princípios constitucionais e tributários que fundamentam o tema. 
Conforme nos ensina Vergara (2007), a pesquisa científica é uma atividade básica da ciência que proporciona o acesso ao conhecimento de forma consistente, coerente, lógica e podem ser classificadas quantos aos fins e aos meios.
 A pesquisa utilizada será a descritiva por apresentar as características e fundamentos referentes ao tema estudado. A pesquisa será bibliográfica, através do exame de livros; artigos; jurisprudências e sites especializados sobre a matéria estudada.
 Dentro do universo de princípios e normas que configuram o sistema tributário nacional, serão estudadas a competência e limitações à tributação dada aos municípios, relacionado ao imposto sobre serviços, especificamente a base de cálculo dos serviços de construção e a dedução dos materiais empregados e suas implicações jurídicas e tributárias.
 Como referência teórica do trabalho a ser elaborado, será pesquisada a doutrina sobre a natureza do ISS, e conceito e definiçãode base de cálculo e serviço, referentes a dedução dos materiais disposto no Art 7º,§2º e item 7.02 da LC 116/03. A competência dada aos municípios pela Constituição federal (Art 156, III da CF), código tributário nacional, lei 5.172/66 dentre outras legislações infraconstitucionais, bem como jurisprudências.
 Expor a divergência causada pela LC 116/03, referente a permissão na dedução da base de cálculo do ISS dos materiais fornecidos pelo prestador, se os produzidos fora do local da prestação dos serviços ou os adquiridos de terceiros. E as consequências da mudança no entendimento judicial, que antes se orientava favorável ao fisco municipal, e atualmente adota a tese de ser possível a dedução da base de cálculo do ISS dos valores dos materiais utilizados em construção civil, conforme Recurso Extraordinário nº 603497, julgado pela Ministra Ellen Gracie do Supremo Tribunal Federal. A situação dos municípios com relação a restituição do indébito.
 
1 – O IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS E A COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA DOS MUNICÍPIOS
 Dentre os conceitos do direito tributário o que aborda a competência tributária está entre os mais importantes, pois delimita a instituição da obrigação tributária entre os entes da federação.
 A União, Estados e Municípios, bem como o Distrito Federal extraem suas competências e seus poderes diretamente da Constituição Federal. A competência tributária é, no dizer José Cassiano Borges e Maria Lúcia Américo dos Reis: “o poder conferido pela constituição ao ente público para instituição da obrigação tributária, ou seja, para a criação de tributos”[1: BORGES, José Cassiano, REIS, Maria Lucia Américo dos . Curso de Atualização Fiscal. 2 ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris. 2008, p. 6. ]
 Nosso sistema tributário nacional, previsto na constituição federal em seu Título VI, capítulo I, tem por escopo conferir funcionalidade à designação e cobrança de tributos aos entes federados dando-lhes autonomia financeira através da partilha de receitas. Englobando leis complementares, resoluções do Senado Federal e, nos limites das respectivas competências, leis federais, nas Constituições e leis estaduais e municipais (Art 2º lei 5172/66). Para Kiyoshi Harada: “Sistema Tributário Nacional é o conjunto de normas constitucionais de natureza tributária, inserido no sistema jurídico global, formado por um conjunto unitário e ordenado de normas subordinadas aos princípios fundamentais reciprocamente harmônicos, que organiza os elementos constitutivos do Estado, que outra coisa não é senão a própria Constituição”[2: HARADA, Kiyoshi. Direito Financeiro e Tributário,26 ed.São Paulo: Atlas.2017 p. 235.]
 A competência tributária municipal está prevista na Constituição Federal de 1988, no inciso III do artigo 156, dispondo que:
 
Artigo 156. Compete aos Municípios da União instituir impostos sobre: 
[...] 
III - serviços de qualquer natureza não compreendidos no artigo 155, inciso II definidos em lei complementar.[3: Brasil, Constituição Federal de 1988. Artigo 156, inciso III. ]
 A lei complementar visa regular as condições de exercício das competências consignados na constituição. Isso ocorre quando dispositivo constitucional depende de norma regulamentadora, o definindo e estabelecendo suas condições de aplicação. Nesse caso, a lei complementar 116 instituída em 31 de julho 2003 estabelece a lista de serviços que serão abrangidos pela incidência de ISSQN. 
 Por causa da imprecisão gerada pela lei complementar 116/03, muitos municípios regularam a dedução apenas das mercadorias fornecidas pelo prestador fora dos locais da prestação dos serviços e não dos materiais adquiridos de terceiros. O que gerou muitas ações judiciais por parte das construtoras contra o fisco em diversos municípios do Brasil, esse entendimento encontrava respaldo na jurisprudência, havendo inúmeros julgados favoráveis ao fisco. Dado a necessidade de segurança jurídica nas relações entre as empresas prestadoras de serviço de construção civil e os municípios e, considerando que a instabilidade gerada pelas diversas interpretações acerca da matéria pelo poder executivo e no judiciário afetará uma das partes negativamente.
	O que ficar decidido pelo STF no exame dessa matéria de cunho constitucional causará efeitos de ordem tributária. Para as prefeituras, suscitará a perda de arrecadação, e para as empresas um ganho quanto ao planejamento fiscal, pois os valores ligados aos materiais, segundo dados divulgados pelo IBGE pelo sistema nacional de pesquisa de custos e índices de construção civil (SINAPI), o custo nacional do metro quadrado na construção em janeiro de 2018 foi de R$ 863,46, sendo R$ 456,58 relativos aos materiais e R$ 406,88 à mão de obra, ou seja, ultrapassa os 50% do custo total de uma obra, renda considerável para se dispor.
 No caso, a tendência é de que os municípios suportem essa perda. É de suma importância a discussão deste tema, para que se estabeleça a legalidade e justiça para a parte de direito. Devendo ser investigado os princípios legais e conceitos instituidores inerentes à norma tributária.
2 – O IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS DE QUALQUER NATUREZA E SUA BASE DE CÁLCULO
 O ISS é um imposto municipal pertencente a classe dos tributos, tendo como característica a compulsoriedade, conforme definição do Art 3º do código tributário nacional: 
Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada.[4: Brasil, Lei Complementar n° 5.172/66. Artigo 3º]
Ingressou no sistema tributário com a reforma tributária através da emenda constitucional nº18, vindo a ser regulamentado pela lei 5.172/66, posteriormente complementada pelo decreto-lei 406/68; decreto-lei 834/69 e lei complementar 56/87. Imposto predominantemente fiscal, uma vez que tem como finalidade a arrecadação para custear suas atividades junto às necessidades da sociedade. É real e residual, pois sua cobrança é realizada por causa do fato gerador e incide quando não há incidência de ICMS, IPI e IOF.
Outra característica importante é que ele é não vinculado, o Município não precisa fazer nenhuma atividade ou serviço em troca. Geralmente é pago pelo tomador do serviço, sendo dessa forma, indireto. Além de ser fixo ou proporcional conforme a atividade seja por autonomia ou por alíquotas variáveis.
 
Tem como fato gerador a prestação de serviços por pessoa jurídica ou profissional autônomo cujas atividades estejam elencadas na lista anexa à Lei Complementar 116/2003 que possui caráter taxativo. Logo, o ISS é um imposto que tem uma grande importância na arrecadação de recursos para manutenção e exercício das atividades dos Municípios.
A base de cálculo do ISS pode variar conforme o tipo de contribuinte, sendo o preço do serviço , quando exercido por empresa, considerada a receita bruta sem deduções, exceto as previstas na legislação pertinente. Ou um valor fixo, quando se tratar de prestação por trabalho pessoal. 
3- DEDUÇÃO DOS MATERIAIS EMPREGADOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL DA BASE DE CÁLCULO E JURISPRUDÊNCIA
Desde 1965, a União tem competência para tributar produtos industrializados e aos Estados foi implementada a competência para instituir o ICM (Imposto sobre Circulação de Mercadorias) e aos municípios foi dada a competência de instituir impostos sobre os serviços de qualquer natureza(ISSQN). Essa divisão ainda encontra-se em vigência, sendo que a Carta Magna de 1988 os Estados puderam acrescentar ao imposto sobre circulação de mercadorias, os serviços de transporte interestadual e intermunicipal e os serviços de comunicação, gerando o ICMS.
O código tributário nacional trazia em seu art 72 uma redução de 50% sobre o cálculo do valor total da operação, nas atividades sujeitas à tributação do ICM, ou seja, materiais adquiridos de terceirosempregados na obra. Tal dispositivo sofreu alterações pelo Dec-lei 406/68, que em seu Art 9º,§2º autorizava a dedução dos materiais adquiridos de terceiros, desde que fornecidos pelo prestador. Tendo a redação alterada posteriormente pelo Dec-lei 834/69 para ‘o valor dos materiais fornecidos pelo prestador dos serviços’, e inclusão na lista de serviços da exceção quanto ao fornecimento de mercadorias produzidas pelo prestador dos serviços, fora do local da prestação dos serviços, que ficam sujeitas ao ICM . Portanto constata-se que esse imbróglio vem de longa data.
Roberto Tauil apud Bernardo Ribeiro de Moraes em sua obra “Doutrina e prática do ISS de 1978, explica essas alterações da seguinte forma: 
“No regime inicial (CTN), o valor dos materiais (tijolos, telhas, ladrilhos, cerâmica, etc.) que o construtor adquiriu de terceiros e forneceu à obra, isto é, ao dono desta, era parcela dedutível. Mais tarde, no regime do Decreto-lei n. 834, de 1969, art. 3º, n. IV, modificou-se a norma de dedução, incluindo para o ISS os materiais produzidos pelo construtor (ou prestador do serviço) dentro da obra e nela empregados. O ICM onera os materiais produzidos pelo construtor fora do local da prestação de serviços, embora aí os aplicasse. (...) O que se deduz é o valor do material fornecido pelo prestador dos serviços” (página 533).[5: Tauil, Roberto. A dedução dos materiais no iss de serviços de construção civil.Disponível em < http://www.consultormunicipal.adv.br/novo/trimun/iss/0062.pdf>. Acesso em 06 de Fevereiro de 2018.]
Com o advento da Lei Complementar – LC 116/03 tem causado divergências quanto à permissão na dedução da base de cálculo do ISS dos materiais fornecidos pelo prestador, se forem produzidos fora do local da prestação dos serviços ou adquiridos de terceiros. É importante ressaltar as consequências da mudança no entendimento judicial, que antes se orientava favorável ao fisco municipal. Atualmente, adota-se a tese da possível dedução da base de cálculo do ISS dos valores dos materiais utilizados em construção civil, conforme o julgado do Recurso Extraordinário nº 603.497 pela Ministra Ellen Gracie do Supremo Tribunal Federal cuja ementa é a seguinte, in litteris: 
Decisão
A hipótese dos autos versa sobre a constitucionalidade da incidência do ISS sobre materiais empregados na construção civil. O acórdão assim decidiu: TRIBUTÁRIO ISS CONSTRUÇÃO CIVIL BASE DE CÁLCULO MATERIAL EMPREGADO DEDUÇÃO IMPOSSIBILIDADE. A jurisprudência desta Corte pacificou o entendimento de que a base de cálculo do ISS é o preço total do serviço, de maneira que, na hipótese de construção civil, não pode haver a subtração do material empregado para efeito de definição da base de cálculo. Precedentes de Corte. Agravo regimental improvido. 2. Este Tribunal, no julgamento do RE 603.497, de minha relatoria, reconheceu a existência da repercussão geral da matéria para que os efeitos do art. 543-B do CPC possam ser aplicados. Esta Corte firmou o entendimento no sentido da possibilidade da dedução da base de cálculo do ISS dos materiais empregados na construção civil. Cito os seguintes julgados: RE 262.598, red. para o acórdão Min. Cármen Lúcia, 1ª Turma, DJe 27.09.2007; RE 362.666-AgR, rel. Min. Gilmar Mendes, 2ª Turma, DJe 27.03.2008; RE 239.360-AgR, rel. Min. Eros Grau, 2ª Turma, DJe 31.07.2008; RE 438.166-AgR, rel. Min. Carlos Britto, 1ª Turma, DJ 28.04.2006; AI 619.095-AgR, rel. Min. Sepúlveda Pertence, 1ª Turma, DJ 17.08.2007; RE 214.414-AgR, rel. Min. Carlos Velloso, 2ª Turma, DJ 29.11.2002; AI 675.163, rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJe 06.09.2007; RE 575.684, rel. Min. Cezar Peluso, DJe 15.09.2009; AI 720.338, rel. Min. Joaquim Barbosa, DJe 25.02.2009; RE 602.618, rel. Min. Celso de Mello, DJe 15.09.2009. O acórdão recorrido divergiu desse entendimento. 3. Ante o exposto, com fundamento no art. 557, § 1º-A, do CPC, dou provimento ao recurso extraordinário. Restabeleço os ônus fixados na sentença. Julgo prejudicado o pedido de ingresso como amicus curiae formulado pela Confederação Nacional dos Municípios CNM (Petição STF 42.520/2010 fls. 524-541), bem como o recurso interposto pela Associação Brasileira das Secretarias de Finanças das Capitais Brasileiras ABRASF (fls. 505-521), em face da presente decisão. Publique-se. Brasília, 18 de agosto de 2010. Ministra Ellen Gracie Relatora.[6: Art. 543-B. Quando houver multiplicidade de recursos com fundamento em idêntica controvérsia, a análise da repercussão geral será processada nos termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, observado o disposto neste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.418, de 2006).§ 1º Caberá ao Tribunal de origem selecionar um ou mais recursos representativos da controvérsia e encaminhá-los ao Supremo Tribunal Federal sobrestando os demais até o pronunciamento definitivo da Corte. (Incluído pela Lei nº 11.418, de 2006). § 2º Negada a existência de repercussão geral, os recursos sobrestados considerar-se-ão automaticamente não admitidos. (Incluído pela Lei nº 11.418, de 2006). (BRASIL, 1973)§ 3º Julgado o mérito do recurso extraordinário, os recursos sobrestados serão apreciados pelos Tribunais, Turmas de Uniformização ou Turmas Recursais, que poderão declará-los prejudicados ou retratar-se. (Incluído pela Lei nº 11.418, de 2006).§ 4º Mantida a decisão e admitido o recurso, poderá o Supremo Tribunal Federal, nos termos do Regimento Interno, cassar ou reformar, liminarmente, o acórdão contrário à orientação firmada. (Incluído pela Lei nº 11.418, de 2006).§ 5º O Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal disporá sobre as atribuições dos Ministros, das Turmas e de outros órgãos, na análise da repercussão geral. (Incluído pela Lei nº 11.418, de 2006). ]
Juliano Ryzewski afirma que grande parte dos municípios do Brasil tem cobrado o ISS de forma equivocada, porque se baseiam na Lei Complementar 116/2003 para estipular a alíquota deste imposto sobre o valor total da nota fiscal. No entanto, a jurisprudência que instituiu a Repercussão Geral para situações similares a esta deixa manifesta que os Fiscos Municipais devem permitir que as empresas da construção civil deduzam da base de cálculo do Imposto Sobre Serviço (ISS), os valores referentes aos materiais agregados na execução da obra. [7: RYZEWSKI, Juliano. ISS sobre os materiais agregados em empreitadas. Disponível em: http://www.portaltributario.com.br/artigos/iss-sobre-materiais.htm >. Acesso em: 15 jan 2018.]
A cobrança sobre o total da nota fiscal constitui um equívoco que contraria a decisão da relatora Ministra Ellen Gracie do STF. 
Para Flávia Carrazzone Ferreira, a norma referente ao ISS tem competência legislativa tributária e abrange os municípios bem como o Distrito Federal no sentido de permitir a criação do tributo respeitando princípios e enunciados constitucionais e complementares. A autora assim concluiu acerca dessa questão:[8: FERREIRA, Flávia Carrazzone. Norma Padrão do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS): materialidade e base de cálculo. 2007. 297 f. Dissertação (Mestrado em Direito do Estado) – Pós-Graduação em Direito Tributário, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP, São Paulo, 2007.]
Concluímos, por fim, que os Municípios e o Distrito Federal poderão erigir como fato tributável pelo ISS somente prestações de serviços descritas na Lei Complementar 116/2003 e que a unidade de referência a ser prevista como base de cálculo desse tributo deverá ser o preço do serviço, assim entendido a receita bruta dele proveniente, sem quaisquer deduções, exceto no caso da prestação de serviço de construção civil, hipótese em que o preço do serviço será a receita dele decorrente, com dedução do valor dos materiais fornecidos pelo prestador, e das prestações de serviços realizadas em regime de subcontratação, caso em que a base de cálculo deverá ser o preço do serviço, com dedução do valor das subcontratações, tributáveis pelo imposto.[9: FERREIRA, Flávia Carrazzone. Norma Padrão do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza(ISS): materialidade e base de cálculo. 2007. 297 f. Dissertação (Mestrado em Direito do Estado) – Pós-Graduação em Direito Tributário, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP, São Paulo, 2007. p. 7.]
O processo referente ao AgRg no AgRg no REsp 1228175 MG 2010/0209534-2, que teve como relator o Ministro Humberto Martins com julgamento ocorrido em 23/08/2011 pela T2 – Segunda Turma do STJ de Minas Gerais e publicado no DJe 01/09/2011 teve a seguinte ementa:
TRIBUTÁRIO. ISSQN. CONSTRUÇÃO CIVIL. BASE DE CÁLCULO. DEDUÇÃO DE VALORES REFERENTES AOS MATERIAIS EMPREGADOS. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES DA SUPREMA CORTE.
1. O Supremo Tribunal Federal, no RE 603.497/MG interposto contra acórdão desta Corte, reconheceu a repercussão geral da questão posta a julgamento, nos temos do art. 543-B do CPC, e exarou decisão publicada em 16.9.2010, reformando o acórdão recorrido, com o seguinte teor: “Esta Corte firmou o entendimento no sentido da possibilidade da dedução da base de cálculo do ISS dos materiais empregados na construção civil. Precedentes”.
2. A base de cálculo do ISS restou analisada pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento acima, portanto, revejo o entendimento anterior, a fim de realinhar-me à orientação fixada pela Corte Suprema para reconhecer a possibilidade de dedução da base de cálculo do ISS dos materiais empregados na construção civil.
3. Como o agravante não trouxe argumento capaz de infirmar a decisão que deseja ver modificada, esta deve ser mantida por seus próprios fundamentos. Agravo regimental improvido.[10: STJ – Agravo Regimental no Agravo Regimental no Recurso Especial: AgRg no AgRg no REsp 1228175 MG 2010/0209534-2. Disponível em: <http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/21085125/agravo-regimental-no-agravo-regimental-no-recurso-especial-agrg-no-agrg-no-resp-1228175-mg-2010-0209534-2-stj>. Acesso em: 25 dez 2014.]
Na tentativa de reversão da atual posição jurisprudencial, a ABRASF (Associação Brasileira das Secretarias de Finanças das Capitais), advogando em favor dos municípios, apresentou perante o Ministro do STF, Ricardo Lewandowski, questão de ordem para que se interrompa imediatamente a apreciação da proposta de súmula vinculante – PSV 65, encaminhada pela procuradoria geral da república atendendo ao pedido da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Concretagem – ABESC feito em 2014 assim redigida: “Não se inclui na base de cálculo do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza – ISSQN o valor dos materiais adquiridos de terceiros e empregados em obras de construção civil pelo prestador dos serviços.”. A fim de solicitar aos Ministros do Tribunal que deixem de aplicar a decisão monocrática proferida no Rext nº 603.497 como precedente, eis que não transitado em julgado o recurso, além de se tratar de matéria infraconstitucional. 
4- CONCLUSÃO
Foi tratado nesse trabalho, de uma forma geral, a controvertida matéria tributária a respeito da dedução na base de cálculo do ISS da parcela referente aos materiais utilizados na construção civil. 
Há uma extensa polêmica sobre esta matéria, porque o ordenamento jurídico que a embasa, data da década de 1960 e sofreu diversas alterações que não puseram fim ao dilema. No entanto, o judiciário, na tentativa de esclarecer o entendimento da lei em questão, decidiu, por meio da relatora, Ministra Ellen Gracie, em ser favorável à dedução da base de cálculo do ISS dos materiais fornecidos pelo prestador, se forem produzidos fora do local da prestação dos serviços ou adquiridos de terceiros. 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
VERGARA, S. C. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. 9ªed.São Paulo: Atlas, 2007.
BRASIL. Decreto-Lei nº 406, de 31 de janeiro de 1968. Estabelece normas gerais de direito financeiro, aplicáveis aos impostos sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre serviços de qualquer natureza, e dá outras providências. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del0406.htm>. Acesso em:16 de fev2013.
BRASIL. Lei Complementar nº 116, de 31 de julho de 2003. Dispõe sobre o Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza, de competência dos Municípios e do Distrito Federal, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/LCP/Lcp116.htm.> Acesso em: 16 de fev 2013.
BRASIL. Lei Complementar nº 87, de 13 de setembro de 1996. Dispõe sobre o imposto dos Estados e do Distrito Federal sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, e dá outras providências. <http://www.planalto.gov.br/ccivil/Leis/LCP/Lcp87.htm> Acesso em: 16 de fev 2013.
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SINAPI - Fevereiro de 2013. Disponível em:
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* Pós-Graduanda em Gestão Fiscal e Tributária da Universidade Estácio de Sá, email:bicouty@gmail.com.br

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