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Vinicius L. Porto Pós-Graduação Constitucional /Administrativo/Tributário Prof. Guilherme Sandoval Góes 1 AULA 4 – Predominância do Código Civil 1. As Fases da Evolução da Constitucionalização do Direito A primeira fase corresponde à separação rígida entre: Direito Público // Direito Privado. A fase inicial de hegemonia plena do Código Civil (Estado Liberal); A fase intermediária de formação de microssistemas jurídicos autônomos mediante legislação de emergência (transição do Estado Liberal para o Estado Social); A fase intermediária de formação de microssistemas jurídicos autônomos mediante legislação de emergência (transição do Estado Liberal para o Estado Social); 2. A Fase de Mundos Apartados Sob a égide do constitucionalismo liberal, inspirado no pensamento individualista burguês, as relações entre o direito civil (privado) e o direito constitucional (público) eram independentes, não se comunicavam entre si. Isso significa dizer por outras palavras que o mundo jurídico-constitucional do Estado liberal de Direito vislumbrava as relações do direito público com o direito privado de modo bem definido e separado. Caberia ao Código Civil napoleônico de 1804 regular a aplicação dos direitos fundamentais dos indivíduos, enquanto à Constituição caberia a missão de regular a tutela de interesses gerais e limitadores voltados para esses direitos individuais. 2.1 As funções divididas entre o direito civil e o direito constitucional: é certo afirmar que relações entre o direito constitucional e o direito civil nessa primeira fase se caracterizavam pelo isolamento; duas esferas jurídicas que não se comunicavam, mas que, entretanto, tinham origem comum, qual seja a limitação do poder do Estado como reação ao sistema político absolutista e sua concentração de poder nas mãos do rei. 2.2 O código civil napoleônico e seus reflexos no mundo: E assim é que Código Civil napoleônico seguia cumprindo seu papel central de Constituição do direito privado, cuja tarefa era atribuir segurança jurídica às relações jurídicas privadas, então livres da intervenção estatal e atreladas aos atores dominantes do cenário jurídico liberal, quais sejam o proprietário e o contratante. 3. Primeira Fase da Constitucionalização Tendo como referência a classificação de Klaus Stern, é correto afirmar que essa primeira fase de constitucionalização retrata com precisão a passagem da doutrina de afirmação dos direitos naturais do homem para a constitucionalização dos direitos fundamentais, Direito Civil regular a vida privada com normas próprias. Direito Constitucional regular as limitações de formulação dessas regras voltadas para garantir os direitos individuais. Vinicius L. Porto Pós-Graduação Constitucional /Administrativo/Tributário Prof. Guilherme Sandoval Góes 2 iniciada com as sucessivas declarações dos movimentos liberais do século XVIII (Revolução Francesa de 1789 e Declaração de Virgínia de 1776). A lição de Klaus Stern estabelece as três fases de evolução dos direitos humanos, a saber: i) uma pré-história dos direitos fundamentais, que se estende até o século XVI; ii) uma fase intermediária, que corresponde ao período de elaboração da doutrina jusnaturalista e da afirmação dos direitos naturais do homem; iii) a fase de constitucionalização, iniciada em 1776, com as sucessivas declarações de direito dos novos estados americanos (cf. SARLET, 2003, p. 40). Nessa linha, pode-se dizer que a primeira fase de constitucionalização é operada a partir da vontade política da burguesia em ascensão na França, cuja pretensão era afastar o poder absoluto do monarca, para poder atuar livremente como proprietário, contratante e decisor político fundamental do novo modelo de Estado. 3.1 A concepção da nova esfera pública para libertar a esfera privada: Ora é bem de ver que a ideia-força de Constituição-Garantia, vislumbrada como documento constitucional superior que deve conter apenas comandos de regulação da separação de poderes do Estado e da proteção dos direitos das liberdades individuais, é plenamente consoante com as aspirações políticas da burguesia em ascensão. Com isso, a constitucionalização dos direitos naturais do homem ligados às liberdades individuais garantia não apenas a passagem do Estado Absoluto para o Estado liberal de Direito, mas principalmente criava dois mundos apartados, SEM conexão ético normativa entre eles. 3.2 O liberalismo político aplicado: o liberalismo político conhece seu momento áureo na história moderna do constitucionalismo democrático nessa primeira fase de hegemonia do Código Civil. 3.3 A constituição na 1ª fase da constitucionalização: Com efeito, o conceito de mundos apartados traz no seu âmago a concepção restritiva do papel da Constituição, dita Constituição-Garantia, e pela qual se reconhece apenas o poder de estabelecer as regras de funcionamento do processo decisional do quadro político do Estado e de garantir o catálogo de direitos negativos de defesa contra esse mesmo Estado. “A Constituição, mera Carta Política, pauta de valores axiológicos sem nenhuma normatividade, sem nenhuma eficácia social, sempre dependente da intervenção superveniente do legislador ordinário, no epicentro do longínquo e separado mundo constitucional do Estado liberal de Direito o binômio regras do jogo político-proteção das liberdades individuais.” O importante é compreender que a fase de hegemonia do Código Civil marca a inauguração do constitucionalismo democrático ocidental e, na sua esteira, do conceito de Estado de Direito, superando-se desse modo a mera proteção filosófica dos direitos naturais do homem. a pretensão de criar mundos apartados vai gestar uma realidade histórica bem diferente daquela pretendida pelo pensamento jusfilosófico lockiano, vale dizer não apenas de exclusão social como também de exploração do homem pelo homem no seio do capitalismo industrial Vinicius L. Porto Pós-Graduação Constitucional /Administrativo/Tributário Prof. Guilherme Sandoval Góes 3 3.4 O código civil na 1ª fase da constitucionalização: No centro do sistema jurídico não se encontra a Constituição escrita, mas sim o Código Civil independente no campo das relações jurídicas privadas. No epicentro do mundo infraconstitucional do Estado Liberal de Direito está o Código Civil detentor do monopólio hermenêutico das relações jurídicas privadas. 3.5 As constituições liberais: Em essência, as constituições liberais não se importavam com os direitos sociais, econômicos, culturais e trabalhistas (direitos fundamentais de segunda dimensão). É por isso que seu conteúdo voltava-se para a estruturação do Estado e para o indivíduo, isoladamente considerado. 3.6 A razão da separação rígida entre os mundos apartados: O perigo para os direitos de primeira dimensão vinha do Poder Executivo, ainda associado à figura do monarca absoluto, daí, pois, a crença inabalável na separação rígida entre direito público e direito privado. 3.7 A razão da hegemonia do código civil: Tal posição hegemônica do Código Civil se explicaria pela primazia do individualismo dentro de uma perspectiva de negatividade do Estado, isto é, a fixação de zonas de não interferência estatal, que, a um só tempo, serviriam para potencializar a esfera de autonomia privada e para coarctar (reduzir) o Poder Público. 3.8 Do estado burguês de direito ao welfare state: Somente com o advento do Welfare State é que a primazia retorna ao Poder Executivo em função da necessidade de programar políticas públicas voltadas para a busca da igualdade material e da dignidade da pessoa humana, suprindo a falta de investimentos privados na área social. 4. A Contextualização das Origens do Estado Legislativo de Direito 1. No âmbito da constitucionalização dos direitos naturais do homem, o Estado Legislativo de Direito simboliza o momento áureo de transformação, no qual se supera o pré-constitucionalismo jusnaturalista e atinge-se o constitucionalismo democrático como elemento limitador do Estado; 2. No âmbito da constitucionalização dos direitos naturais do homem, o Estado Legislativo de Direito simboliza o momento áureo de transformação, no qual se supera o pré-constitucionalismo jusnaturalista e atinge-se o constitucionalismo democrático como elemento limitador do Estado; 3. Sob a perspectiva do regime jurídico de proteção dos direitos fundamentais, o Estado Legislativo de Direito gesta a primeira dimensão de direitos, caracterizada pela No Estado Liberal, o direito constitucional atua mais como de valor moral sem conteúdo jurídico, isto é, uma pauta de valores vinculantes do Poder Legislativo, sendo incapaz de gerar direitos subjetivos de per si. Assim sendo, restava ao Código Civil o dever de regular completa e autonomamente as relações jurídicas na esfera privada. Vinicius L. Porto Pós-Graduação Constitucional /Administrativo/Tributário Prof. Guilherme Sandoval Góes 4 concepção de um catálogo de direitos geradores de zonas de não interferência estatal nas relações privadas; 4. Sob o prisma do conteúdo material dos direitos fundamentais a proteger, o Estado Legislativo de Direito projeta a prevalência das liberdades individuais sobre as razões de Estado, isto é, projeta o pleno gozo dos direitos civis (garantidores das liberdades individuais) e políticos (garantidores da participação efetiva nos destinos da nação) que não podem ser violados em nome dos interesses e das razões de Estado; 5. Sob a óptica do controle de constitucionalidade, o Estado Legislativo de Direito consolida os princípios da supremacia e da unidade da Constituição, forjando o chamado bloco de constitucionalidade calcado nos direitos de primeira dimensão, o que evidentemente limita também a atividade legiferante do Estado. 5. As Pautas de Valoração da Constituição Liberal De outra banda, como visto amplamente, a Constituição liberal tem como característica nuclear servir-se como pauta de valoração para o legislador ordinário. As normas constitucionais são, em essência, fórmulas jurídicas vazias que deveriam ser preenchidas pelos representantes do povo, cabendo-lhes atuar como ‘caixas de repercussão’ dessa consciência jurídica geral insculpida na Carta Ápice. 5.1 Princípio da legalidade: Já Luigi Ferrajoli, renomado constitucionalista italiano, mostra que o Estado de Direito moderno nasce sob a forma do Estado Legislativo de Direito e tendo como critério exclusivo de identificação do direito válido a afirmação do princípio da legalidade, com independência de sua valoração como justo. Graças a esse princípio, uma norma jurídica é válida não por ser justa, mas exclusivamente por haver sido ‘posta’ por uma autoridade dotada de competência normativa. 6. A Crise do Estado Legislativo de Direito Com efeito, a crise do Estado Legislativo de Direito vem com o advento dos movimentos sociais que buscam resgatar a dignidade da pessoa humana sob os influxos de uma sociedade capitalista e desigual. Reivindica-se um novo rol de direitos fundamentais atrelados às relações produtivas e trabalhistas, ligados à previdência e assistência sociais, ao transporte, à moradia, ao lazer, etc. 7. Conclusão Em conclusão, não resta dúvida de que a formação do Estado Legislativo de Direito deve ser associada ao Estado Burguês Liberal e à primeira geração de direitos fundamentais. Trata-se da primeira versão do conceito de Estado de Direito (Estado Liberal de Direito) que encontra no constitucionalismo democrático uma maneira de limitar o poder do Estado em prol das liberdades individuais. Esta nova segmentação de direitos fundamentais demandará a passagem do Estado Legislativo de Direito para o Estado Executivo de Direito (Welfare State), no qual predomina a intervenção do Estado com o objetivo de garantir esse novo conjunto de direitos constitucionais fundamentais. Observa-se, nesse sentido, que o Estado Legislativo Vinicius L. Porto Pós-Graduação Constitucional /Administrativo/Tributário Prof. Guilherme Sandoval Góes 5 de Direito entra em crise exatamente pela sua incapacidade de garantir esses direitos de natureza positiva.
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