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1 RELATÓRIO UNIDADE 1 – PROBLEMA 1 “NADA SERÁ COMO ANTES” Tutor: Dr. Manoel Carlos Oliveira e Rezende Relatora: Lia Lara Martins Vieira de Carvalho Acadêmicos: Amanda Gabrielly Magalhães Miranda Ana Carolina Rizzato Catherine C de Freitas Soares Fabiana Ferreira Rodrigues Isadora Godoy Brambilla Bezzan Júlia Vilela Rezende Lia Lara Martins Vieira de Carvalho Moniz Francisco de Paiva Neto Revaldo Afonso Silva Júnior Sabrina Enzo Alves e Lacerda Wanduil Lucas Takagi Frazão Mineiros – GO 2018/2 2 1 INTRODUÇÃO No presente relatório foi explanado o ciclo celular com seus pontos de regulação relacionados as neoplasias, e também o desenvolvimento do câncer de colo de útero no organismo, como seu diagnóstico, tratamento, acompanhamento e epidemiologia. 2 OBJETIVO GERAL Descrever o ciclo celular, seus pontos de regulação e relação com desenvolvimento de neoplasias. 3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 3.1 DESCREVER O CICLO CELULAR E SEUS PONTOS DE REGULAÇÃO. O ciclo celular é dividido em quatro fases principais: fase M (mitose), fase G1 (período entre a mitose e a iniciação da replicação de DNA), fase S (síntese de DNA) e fase G2 (período entre a conclusão da síntese de DNA e a mitose). As células pós-mitóticas podem “sair” do ciclo celular e entrar na assim chamada fase G0, permanecendo nela por dias, semanas ou mesmo pelo restante de sua vida, sem proliferar mais. A duração do ciclo celular pode ser altamente variável, embora a maioria das células humanas o complete dentro de 24h. Durante o ciclo típico, a mitose dura cerca de 30 a 60 min; a fase G1, de 7 a 10h; a fase S, 10h, e a fase G2, 5h. em relação ao ciclo celular há três subpopulações de células. 1. Células terminalmente diferenciadas não podem reentrar no ciclo celular 2. Células quiescentes (G0) podem entrar no ciclo celular desde que estimuladas de maneira apropriada 3. Células em divisão estão, neste momento, no ciclo celular. As hemácias, células musculares estriadas, células musculares lisas uterinas e células nervosas são terminalmente diferenciadas. Outras células, como os fibroblastos, saem da fase G1 para a G0 e são consideradas como estando fora do ciclo celular. Tais células entram no ciclo celular em seguida à exposição a estímulos específicos, como fatores de crescimento e hormônios esteroides. Células em divisão são encontradas no sistema gastrintestinal, na pele e na cérvice uterina. 3 Figura 1: retirada do Robbins. Fase G1 Em resposta a estímulos externos específicos, as células entram no ciclo celular ao passarem da fase G0 para a G1. Os processos durante a fase G1 levam à síntese de enzimas e proteínas regulatórias necessárias à síntese de DNA durante a fase S, e são regulados, em especial, pelos complexos ciclina-quinase dependentes de ciclina da fase G1 (G1CdkC). Complexos G1CdkC induzem à degradação de inibidores da fase S na fase G1 tardia. A liberação do complexo CdkC da fase S subsequentemente estimula a entrada na fase S. Variações na duração da fase G1 do ciclo celular, de menos de 8h a mais de 100h, são responsáveis pelos tempos de geração exibidos pelos diferentes tipos de células. Fase S O conteúdo de DNA nuclear da célula está duplicado durante a fase S do ciclo celular. O complexo CdkC da fase S ativa proteínas dos complexos de pré-replicação do DNA, os quais são montados nas origens de replicação de DNA, durante a fase G1. O complexo de pré- replicação ativa a iniciação da replicação do DNA e inibe a montagem de novos complexos de pré-replicação. Tal inibição assegura que cada cromossomo seja replicado apenas uma vez durante a fase S. Fase G2 4 As sínteses de RNA e proteína ocorrem durante a fase G2 do ciclo celular. O rápido surgimento de atividade biossintética fornece os substratos e as enzimas que atendem às necessidades metabólicas de duas células-filhas. Outro evento importante durante a fase G2 do ciclo celular é o reparo de erros da replicação do DNA que podem ter sido ocasionados durante a fase S. Fase M A divisão nuclear e cromossômica é ocasionada durante a mitose ou fase M, quando o DNA celular é distribuído de igual modo a cada uma das células-filhas. A mitose fornece complemento diploide de DNA (2n) a cada célula-filha somática. Em seguida à mitose, células somáticas humanas contêm DNA diploide, refletindo um cariótipo que inclui 44 cromossomos autossômicos e um complemento de cromossomos sexuais XX ou XY. Exceções ao conteúdo celular diploide incluem os hepatócitos (4n) e o sincício funcional da placenta. A mitose é dividida em prófase, metáfase, anáfase e telófase. Os complexos CdkC mitóticos induzem a condensação cromossômica durante a prófase, a montagem do aparato do fuso mitótico e o alinhamento dos cromossomos durante a metáfase. A ativação do complexo promotor da anáfase (CPA) leva à inativação de complexos de proteína que conectam cromátides-irmãs durante a metáfase, possibilitando o início da anáfase. Durante a anáfase, cromátides-irmãs se segregam para polos opostos do fuso. O envelope nuclear se parte em múltiplas vesículas pequenas no início da mitose e é reconstruído ao redor dos cromossomos segregados enquanto eles se descondensam durante a telófase. A citocinese é o processo de divisão do citoplasma que segrega o reticulo endoplasmático e o aparelho de Golgi durante a mitose. Após o término da mitose, as células entram na fase G1, podendo reentrar no ciclo celular ou permanecer em G0. CONTROLE GENÉTICO DO CICLO CELULAR A proliferação celular deve ocorrer para equilibrar a perda de células normais e manter a integridade de tecidos e órgãos. Esse processo requer a expressão coordenada de muitos genes em períodos determinados durante o ciclo celular. Na ausência de fatores de crescimento, essas células quiescentes ultrapassam o chamado ponto de restrição, de 14 a 16h mais tarde, e entram na fase S em 6 a 8h a partir daí. 5 O ponto de restrição ou limite G1/S identifica o momento a partir do qual a célula se compromete a proliferar. O segundo ponto de controle é o limite G2/M, que identifica o momento no qual o reparo de qualquer dano ao DNA deve ser completado. Para que se conclua com sucesso o ciclo celular, vários genes do ciclo de divisão celular (CDC) são ativados. GENES DO CICLO DE DIVISÃO CELULAR Dentre os fatores que regulam os pontos de controle do ciclo celular, proteínas codificadas por genes da família CDC2 e proteínas ciclinas parecem desempenhar papeis importantes. Células mamíferas estimuladas por fatores de crescimento expressam resposta precoce e resposta tardia, dependendo da sequência cronológica do aparecimento de RNA específicos. Genes de resposta precoce e tardia agem como fatores de transcrição nuclear e estimulam a expressão de uma cascata de outros genes. Genes de resposta rápida, como o C- Jun e o C-Fos, intensificam a transcrição de genes de resposta tardia, como os E2F. Os fatores de transcrição de E2F, além de necessários à expressão de vários genes de ciclo celular, são regulados, do ponto de vista funcional, pela proteína de retinoblastoma (Rb). A ligação de Rb a E2F de um ativador transcricional em repressor da transcrição. A fosforilação de Rb inibe sua função repressora e possibilita a ativação mediada por E2F de genes necessários à fase S. Complexos Cdk4-ciclina D, Cdk6-ciclina D e Cdk2-ciclina E causam fosforilação de Rb, que permanece fosforilado ao longo das fases S, G2, e M do ciclo celular. Após o termino da mitose, o declínio do nível de Cdk-ciclinas leva à desfosforilação de Rb por fosfatases e, consequentemente,à inibição de E2F no início da fase G1. Enquanto as células aproximam-se da transição de fase G1-S a síntese de ciclina A é indicada. O complexo Cdk2-ciclina A pode levar à iniciação da síntese de DNA, auxiliando o complexo pré-replicação. A proteína p34 cdc2 e ciclinas especificas formam um heterodímero complexo referido como fator de promoção da mitose (FPM), que catalisa a fosforilação proteica e força a célula à mitose. Cdk1 une-se à ciclina A e à ciclina B na fase G2, promovendo a atividade do FPM. A mitose é iniciada pela ativação do gene cdc no ponto de controle G2-M. 6 Uma vez que o ponto de controle G2-M tenha saído superado, a célula sofre mitose. Na presença de cromossomos replicados de maneira anormal, não ocorre a progressão para além do ponto de controle G2-M. O gene supressor de tumor p53 participa no controle do ciclo celular. As células expostas à terapia por radiação exibem estagnação na fase S, que é acompanhada por elevação na expressão de p53. Esse atraso possibilita o reparo de dano ao DNA induzido por radiação. Na presença de mutações no p53, não há estagnação na fase S, que, na maioria dos casos, segue à terapia por radiação. O tipo selvagem do gene p53 pode ser inativado pela proteína E6 do papiloma vírus humano (HPV), impedindo estagnação na fase S em resposta ao dano ao DNA. 3.2 DESCREVER O MECANISMO DE INFECÇÃO CELULAR DO HPV. O vírus infecta as células da camada basal do epitélio escamoso do colo do útero. Neste momento, os genes E1, E2, E6, E7 estão em baixo nível de expressão, apenas para manutenção viral. Assim, alguns autores dividem a infecção pelo HPV em cinco partes: 1. Infecção, 2. Manutenção do genoma, 3. Fase proliferativa, 4. Amplificação genômica, 5. Síntese e liberação de novos vírus. Assim, a amplificação do genoma é regulada pelos genes E1, E2, E4 e E5, sendo que as montagens dessas partículas ocorrem na região media e superior do epitélio escamoso. Mais tarde, os genes L1 e L2 codificam proteínas para o capsídeo viral. Já a montagem do vírus e o encapsulamento do DNA ocorrem na camada superficial do epitélio. Por fim, os vírus são liberados na superfície sem lise celular. As células cancerígenas surgem pela perda da regulação do ciclo celular, fazendo a integração do genoma viral ao da célula hospedeira. Nesse processo, o vírus perde os genes E4 e E2 os quais exercem função na transcrição. Em consequência há expressão dos genes E6 e E7, incapacitando que o ciclo viral do HPV continue. Isso causa perda da estrutura do tecido, com perda de polaridade e incapacidade de completar o ciclo viral, diferenciando o grau de lesão de baixo grau NIC 1 (neoplasia intraepitelial cervical 1) e alto grau NIC 2 e 3. 3.3 COMPREENDER AS CLASSIFICAÇÕES DAS NEOPLASIAS. Neoplasia literalmente significa “novo crescimento”. Diz-se que células neoplásicas são transformadas porque continuam a se replicar, aparentemente “desatentas” às influências regulatórias que controlam o crescimento celular normal. As neoplasias, portanto, desfrutam de certo grau de autonomia e tendem a aumentar de tamanho independentemente de seu ambiente 7 local. Sua autonomia, porém, não é absolutamente completa. Algumas neoplasias requerem suporte endócrino, e tais dependências algumas vezes podem ser exploradas terapeuticamente. Todas as neoplasias dependem do hospedeiro para sua nutrição e suprimento sanguíneo. No uso médico comum, geralmente uma neoplasia é referida como tumor, e o estudo dos tumores é chamado de oncologia (de oncos, “tumor”, e logos, “estudo de”). Entre os tumores, a divisão de neoplasias em categorias benigna e maligna baseia-se no julgamento do comportamento clínico potencial de um tumor. Diz-se que um tumor é benigno quando suas características micro e macroscópicas são consideradas relativamente inocentes, indicando que permanecerá localizado, e é tratável com a remoção cirúrgica; geralmente o paciente sobrevive. Note-se, porém, que os tumores benignos podem produzir mais do que massas localizadas e, algumas vezes, são responsáveis por doença grave. Os tumores malignos são coletivamente referidos como cânceres, termo derivado da palavra em latim “caranguejo” — ou seja, eles aderem a qualquer parte onde se agarram e de maneira obstinada, semelhante ao comportamento do caranguejo. O termo maligno aplica-se a uma neoplasia indicando que a lesão pode invadir e destruir estruturas adjacentes e disseminar- se para locais distantes (metástases) para causar morte. Nem todos os cânceres prosseguem em um curso tão mortal. Os mais agressivos também são alguns dos mais curáveis, mas a designação maligno constitui uma bandeira vermelha. Tumores Benignos Em geral, a designação dos tumores benignos é feita acrescentando-se o sufixo -oma ao tipo celular do qual eles surgem. Um tumor benigno que surge em tecido fibroso é um fibroma; um tumor benigno cartilaginoso é um condroma. A nomenclatura dos tumores epiteliais benignos é mais complexa. Eles são classificados, algumas vezes, com base em seu padrão microscópico e, em outras ocasiões, com base em seu padrão macroscópico. Outros são classificados por suas células de origem. Por exemplo, o termo adenoma é aplicado geralmente a neoplasias benignas epiteliais, que produzem padrões glandulares, e a neoplasias derivadas de glândulas, mas que não mostram necessariamente padrões glandulares. Uma neoplasia epitelial benigna que surge das células tubulares renais e cresce em padrões do tipo glandular é denominada adenoma, como também 8 é uma massa de células epiteliais benignas que não produz padrões glandulares, mas tem sua origem no córtex suprarrenal. Os papilomas são neoplasias epiteliais benignas, que crescem em qualquer superfície, produzem frondes micro ou macroscópicas semelhantes a dedos. Um pólipo é uma massa que se projeta acima de uma superfície mucosa, como no intestino, para formar uma estrutura macroscopicamente visível. Embora seja um termo usado com frequência para tumores benignos, alguns tumores malignos também podem crescer como pólipos, enquanto outros pólipos (como os pólipos nasais) não são neoplásicos, mas têm origem inflamatória. Cistadenomas são massas císticas ocas que surgem tipicamente no ovário. Tumores Malignos A nomenclatura dos tumores malignos segue essencialmente a dos tumores benignos, com certos acréscimos e exceções. Neoplasias malignas que surgem em tecidos mesenquimais “sólidos” ou seus derivados são chamadas de sarcomas, enquanto aquelas surgidas de células mesenquimais sanguíneas são chamadas de leucemias ou linfomas. Os sarcomas são designados pelo tipo celular de que são compostos, que é presumivelmente sua célula de origem. Assim, um câncer com origem no tecido fibroso é um fibrossarcoma, enquanto uma neoplasia maligna composta por condrócitos é um condrossarcoma. Embora os epitélios do corpo derivem das três camadas germinativas, as neoplasias malignas das células epiteliais são chamadas de carcinomas, independentemente do tecido de origem. Assim, uma neoplasia maligna que surge no epitélio tubular renal (mesoderma) é um carcinoma, como o são os cânceres que surgem na pele (ectoderma) e no epitélio do revestimento intestinal (endoderma). Além disso, o mesoderma pode dar origem a carcinomas (epiteliais), sarcomas (mesenquimais) e tumores hematolinfoides (leucemias e linfomas). Os carcinomas são ainda mais subdivididos. Os carcinomas que crescem em padrão glandular são chamados de adenocarcinoma. Teratoma é um tipo especial de tumor misto que contém células maduras ou imaturas reconhecíveis ou tecidos representativos de mais de uma camada de células germinativas e, algumas vezes, de três. Os teratomasoriginam-se de células germinativas totipotentes, como aquelas anormalmente presentes em restos embrionários sequestrados da linha média. As células germinativas têm capacidade de se diferenciar em quaisquer tipos celulares no corpo 9 adulto; portanto, não surpreende que possam dar origem a neoplasias que simulam, de maneira confusa, porções de osso, epitélio, músculo, gordura, nervo e outros tecidos. Por seguinte, o estadiamento descreve aspectos do câncer, como localização, se disseminou, e se está afetando as funções de outros órgãos do corpo. Conhecer o estágio do tumor ajuda na definição do tipo de tratamento e a prever o prognóstico do paciente. Um sistema de estadiamento é a maneira simplificada para que todos os membros de uma equipe multidisciplinar entendam de imediato a extensão da doença. Os dois sistemas utilizados para o estadiamento da maioria dos tipos de câncer do colo de útero, o sistema FIGO (InternationalFederationofGynecologyandObstetrics) e o sistema TNM da AJCC (American Joint CommitteeonCancer) são muito semelhantes. O sistema FIGO é baseado principalmente nos resultados do exame clínico e em alguns exames, como cistoscopia e proctoscopia, não sendo baseado em resultados cirúrgicos. O sistema TNM da AJCC classifica o câncer de colo do útero com base em 3 fatores: • T: Indica o tamanho do tumor primário e se disseminou para outras áreas. • N: Descreve se existe disseminação da doença para os linfonodos regionais ou se há evidência de metástases em trânsito. • M: Indica se existe presença de metástase em outras partes do corpo. Tumor: Pelo sistema TNM, o T acompanhado de um número (0 a 4) é usado para descrever o tumor primário, particularmente o seu tamanho. Pode também ser atribuída uma letra minúscula "a" ou "b" com base na ulceração e taxa mitótica. Tumor Primário (T) • Tis: Carcinoma in situ. • Tx: tumor não pode ser identificado. • T1: As células cancerosas cresceram a partir da camada mais superficial do colo do útero em direção a tecidos profundos do próprio órgão. 10 • T2: Neste estágio, o tumor cresceu além do colo do útero, mas não se disseminou para as paredes da pelve ou parte inferior da vagina. O câncer pode ter crescido para a parte superior da vagina. • T3: O câncer se disseminou para a parte inferior da vagina ou paredes da pelve; e, pode estar bloqueando os ureteres. • T4: O câncer se disseminou para a bexiga ou reto ou está se desenvolvendo para fora da pelve Linfonodo: O N no sistema TNM representa os linfonodos regionais, e também é atribuído a ele um número, que indica se a doença disseminou para os gânglios linfáticos. Linfonodos Regionais (N) • NX: Os linfonodos próximos não podem ser avaliados. • N0: Não disseminou para os linfonodos próximos. • N1: O câncer disseminou para os linfonodos vizinhos. Metástase: O M no sistema TNM indica se a doença se espalhou para outras partes do corpo. Metástase à Distância (M) • M0: O câncer não disseminou para os linfonodos, órgãos ou tecidos distantes. • M1: O câncer se disseminou para órgãos distantes (como os pulmões ou fígado), gânglios linfáticos do tórax e para o peritônio. O quadro a seguir expõe as nomenclaturas citopatológica e histopatológica utilizadas desde o início da realização do exame citopatológico para o diagnóstico das lesões cervicais escamosas e suas equivalências (Quadro 1). A nomenclatura dos exames citopatológicos utilizada no Brasil (INCA, 2006) foi baseada no Sistema Bethesda (2001) e, para os exames histopatológicos, é utilizada a nomenclatura de Richart (1965; 1967). As nomenclaturas de Papanicolaou, que utilizam classes numéricas, e da Organização Mundial da Saúde (OMS), que usam o termo displasia, não devem ser mais usadas, pois diferenciam indevidamente graus de 11 doença pré-invasiva. Para uma descrição completa das categorias diagnósticas atualmente utilizadas no Brasil, recomenda-se a consulta à Nomenclatura Brasileira para Laudos Cervicais e Condutas Preconizadas (INCA, 2006). Quadro 1 – Nomenclaturas citopatológica e histopatológica utilizadas desde o início da realização do exame citopatológico para o diagnóstico das lesões cervicais escamosas e suas equivalências. 3.4 COMPREENDER A FISIOPATOLOGIA, DIAGNÓSTICO, TRATAMENTO E ACOMPANHAMENTO DO CÂNCER DE COLO DE ÚTERO. FISIOPATOLOGIA Os HPVs infectam as células basais imaturas do epitélio escamoso em áreas de ruptura epitelial ou células escamosas metaplásicas imaturas presentes na junção escamocolunares. Os HPVs não infectam células superficiais escamosas maduras que recobrem a ectocérvice, a vagina e a vulva. O estabelecimento da infecção por HPV nesses locais requer lesão do epitélio superficial, permitindo o acesso do vírus às células imaturas da camada basal do epitélio. O colo uterino, com suas áreas relativamente grandes de epitélio escamoso metaplásico imaturo, é particularmente vulnerável a infecção por HPV, quando comparado, por exemplo com a pele e a mucosa da vulva, que são recobertos por células escamosas maduras. A capacidade de o HPV agir como carcinógeno depende das proteínas virais E6 e E7, que interferem na atividade das proteínas supressoras de tumores, que regulam o crescimento e 12 a sobrevivência das células. Embora o HPV infecte as células escamosas imaturas, a replicação viral ocorre a maturação das células mais maduras são obtidas na fase G1 do ciclo celular, mas elas continuam a progredir ativamente através do ciclo celular ao serem infectadas com o HPV, que usa a maquinaria de síntese de DNA da célula hospedeira para replicar com seu próprio genoma. Desse modo, a proteína viral E7 se liga à forma hipofosforilada do RB e promove sua degradação através da via do proteossomo, e também se liga e inibe o p21 e p27, dois inibidores de cinase dependentes de ciclina. A remoção desses controles não somente aumenta a progressão do ciclo celular, mas também atrapalha a capacidade das células de reparar o dano ao DNA. Esse defeito na reparação do DNA é exacerbado pelas proteínas E6 dos subtipos de alto risco ao HPV, que se ligam à proteínas supressora de tumores p53 e promovem sua degradação pelo proteossomo. Além disso, a E6 aumenta a expressão da tolomerase, que leva à imortalização celular. O efeito prático é o aumento da proliferação celular com propensão de adquirir mutações que podem resultar no desenvolvimento de câncer. Em contraste com os HPVs de alto risco, as proteínas E7 com baixo risco de HPV se ligam ao RB com baixa afinidade, enquanto as proteínas E6 de HPV de baixo risco não conseguem se ligar completamente à p53 e parecem desregular o crescimento e sobrevida ao interferir com a sinalização Notch. Outro fator que contribui para a transformação maligna pelo HPV é o estado físico do vírus. O DNA viral está integrado no genoma da célula hospedeira na maioria dos cânceres. Essa configuração aumenta a expressão dos genes E6 e E7, e também pode desregular os oncogenes próximos aos locais de inserção viral, com o MYC. Em contraste o DNA viral é extracromossômico nas lesões precursoras associadas com os HPVs de alto risco nos condilomas associados com HPVs de baixo risco. Ainda que o HPV tenha sido estabelecido firmemente como uma causa de câncer cervical, não é suficiente para causar câncer. Dessa forma, outros fatores como a exposição a cocarcinógenos e o estado imune do hospedeiro influenciam se uma infecção por HPV regride ou persiste, e, enfim, evolui para um câncer. DIAGNÓSTICO • Biopsia Colposcópica As biopsias são realizadas sob orientação colposcópica, após localização das áreas de maior anormalidade. Recomenda-se que várias biopsiassejam realizadas nas diversas áreas 13 anormais. Geralmente a hemostase aparece de modo espontâneo. Por vezes uma hemorragia maior pode exigir compressão, aplicação de solução de Monsel, ou ainda utilização de coagulação diatérmica (nestes casos após anestesia local). Quando é difícil obter uma biopsia adequada com pinça, a técnica preferida é uma excisão limitada com ansa diatérmica. • Teste do Ácido Acético É a parte fundamental do exame colposcópico. Consiste na aplicação de ácido acético a 3 ou 5% no cérvix. O ácido acético a 5% tem um efeito mais rápido, mas algumas vezes causa sensação de ardência. Esta aplicação não afeta o epitélio escamoso normal, que continua de aspecto liso e coloração rosada. No entanto, no epitélio glandular faz aparecer com nitidez as suas vilosidades, com aparência em cacho e com discreto esbranquiçado. Entre o epitélio escamoso e o cilíndrico aparece uma área de junção, que apresenta um transitório bordo esbranquiçado. Uma reação acetobranca também ocorre quando o epitélio escamoso é anormal. O ácido acético provoca edema dos tecidos e coagulação superficial das proteínas intracelulares, reduzindo a transparência do epitélio. O branqueamento geralmente ocorre passado cerca de um minuto e desaparece entre um e dois minutos. Pode ser reproduzido pela aplicação de ácido acético. A sua duração e intensidade aumentam com o grau de atipia celular, devido a uma alta concentração nuclear e de filamentos queratínicos. A sua tonalidade aumenta com a gravidade das anormalida- des epiteliais, indo desde o branco brilhante ao branco opaco acinzentado (muitas vezes descrito como branco-ostra). O exame colposcópico completo requer a observação do epitélio escamoso original, toda a ZT, a junção escamocolunar, e parte do epitélio glandular. A localização da junção escamocolunar é o passo diagnóstico mais importante na interpretação colposcópica. Sempre que esta seja inteiramente visível e consequentemente toda a ZT, a colposcopia é satisfatória. Quando a junção escamocolunar não é visível, ou é visível apenas uma parte (p. ex. caso o limite interno ou endocervical dum epitélio escamoso normal ou atípico não seja observável), a colposcopia é insatisfatória. • Teste de Schiller Consiste na aplicação de Lugol (solução iodada a 1%, formada por 2 g de iodo e 4 g de iodeto de potássio, diluídos em 200 ml de água destilada). Provoca uma coloração acastanhada 14 escura do epitélio escamoso normal. A intensidade da coloração é proporcional à concentração em glicogênio das camadas superficiais da mucosa. A solução de Lugol cora o epitélio escamoso maduro, mas não cora as células com pouco ou nenhum glicogênio (p. ex. epitélio escamoso atrófico, imaturo, displásico, epitélio glandular, áreas ulceradas sem cobertura por epitélio escamoso). A coloração é transitória e desaparece ao fim de 10 minutos. O teste de Schiller não é um teste específico. São comuns os falsos positivos e falsos negativos. Apesar de tudo, é um bom método para demarcar áreas anormais, particularmente quando o colo vai ser submetido a um ato terapêutico. TRATAMENTO Entre os tratamentos mais comuns para o câncer do colo do útero estão a cirurgia e a radioterapia. O tipo de tratamento dependerá do estadiamento da doença, tamanho do tumor e fatores pessoais, como idade e desejo de ter filhos. Há vantagens no uso da cirurgia em lugar da radioterapia, sobretudo em mulheres jovens, nas quais é importante preservar os ovários. Até 8% das pacientes submetidas à radioterapia têm problemas vesicais e intestinais crônicos que exigem intervenção clínica ou cirúrgica. Em geral, a histerectomia radical é reservada para mulheres em boas condições físicas. A idade cronológica avançada não deve ser um impedimento. Com os avanços da anestesia, as pacientes idosas resistem à cirurgia radical quase tão bem quanto pacientes jovens correspondentes. Não convém operar lesões com diâmetro acima de 4 em, porque será necessária a realização de radioterapia pós-operatória. selecionadas dessa maneira, a taxa de fístulas urinárias é menor que 2%, e a taxa de mortalidade operatória é menor que 1%. Caso haja necessidade de radioterapia, a transposição dos ovários para fora do campo planejado de radioterapia pode preservar a função ovariana. Embora a transposição ofereça proteção, estudos sugerem que a função ovariana normal é preservada em menos de 50% das pacientes. ACOMPANHAMENTO São solicitados conforme indicações individualizadas. 15 • Exame físico geral. • Exame ginecológico, inclusive especular, com coleta de material para exame citopatológico. • Toques retal e vaginal. • Exames laboratoriais e de imagens (RX de tórax, US abdômino-pélvica, TC abdominal e pélvica, de acordo com a indicação clínica). Tempo de seguimento: Varia de acordo com o tratamento efetuado: • Pacientes submetidas à histerectomia total abdominal dos tipos I e II - revisão de 6 em 6 meses, durante 2 anos, seguindo-se de controle anual, até completar 5 anos, quando é dada alta. • Pacientes submetidas à histerectomia total abdominal do tipo III, com ou sem RT complementar - revisão a cada 6 meses, durante 2 anos, e, depois, anual até 5 anos, quando é dada alta. • Pacientes submetidas à RT - revisão em 3 meses, seguindo-se de controle a cada 6 meses, durante 2 anos. Posteriormente, revisão anual até completar 5 anos. 3.5 DESCREVER A EPIDEMIOLOGIA DO HPV E CÂNCER DE COLO DE ÚTERO. Para o Brasil, estimam-se 16.370 casos novos de câncer do colo do útero para cada ano do biênio 2018-2019, com um risco estimado de 15,43 casos a cada 100 mil mulheres, ocupando a terceira posição5 (Tabela 1). Sem considerar os tumores de pele não melanoma, o câncer do colo do útero é o primeiro mais incidente na Região Norte (25,62/100 mil). Nas Regiões Nordeste (20,47/100 mil) e Centro-Oeste (18,32/100 mil), ocupa a segunda posição mais frequente; enquanto, nas Regiões Sul (14,07/100 mil) e Sudeste (9,97/100 mil), ocupa a quarta posição. O câncer do colo do útero ocupa o sétimo lugar no ranking mundial, sendo o quarto tipo mais comum na população feminina. Em 2012, para o mundo, estimaram-se 528 mil casos novos com uma taxa de incidência de 14/100 mil mulheres e 266 mil mortes por essa neoplasia, correspondendo a 7,5% de todas as mortes por câncer em mulheres. Em termos globais, a maioria dos casos (70%) ocorre em áreas com menores níveis de desenvolvimento humano. Quase nove de cada dez óbitos por câncer do colo do útero ocorrem em Regiões menos 16 desenvolvidas, onde o risco de morrer de câncer cervical antes dos 75 anos é três vezes maior (FERLAY et al., 2013). As taxas de incidência variam de Região para Região e de país para país, indo de 9,9/100 mil nas Regiões mais desenvolvidas para 15,7/100 mil nas áreas menos desenvolvidas. Em relação às taxas de mortalidade, a variação ocorre de 3,3/100 mil para 8,3/100 mil. Constituem Regiões de maior risco a África Oriental (42,7/100 mil), Melanésia (33,3/100 mil), Sul (31,5/100 mil) e África do Norte (30,6/100 mil). As Regiões que possuem as menores incidências são a Austrália/Nova Zelândia (5,5/100 mil) e a Ásia Ocidental (4,4/100 mil). A mortalidade apresenta uma variação maior, de 2/100 mil na Ásia Ocidental, Europa Ocidental e Austrália/Nova Zelândia, para acima de 20/100 mil na Malásia, África Central e África Oriental (FERLAY et al., 2016). Em 2015, no Brasil, ocorreram 5.727 óbitos por câncer do colo do útero (BRASIL, 2017). Apesar do aumento no número anual de casos, o câncer cervical saiu do ranking de segunda neoplasia mais incidente no mundo, em 1975, para o sétimo lugar, em 2012.Essa contradição se deve à redução da incidência nos países em processo de desenvolvimento econômico nas últimas décadas, e também pela implantação e implementação de programas de prevenção e controle efetivos, como no caso do Brasil. Por outro lado, as taxas estão aumentando em países classificados como de maior desenvolvimento humano, como a Europa Oriental, o que pode ser à custa das recentes mudanças no comportamento sexual, que elevam o risco de infecção pelo papilomavírus humano (HPV) (STEWART; WILD, 2014). Nos Estados Unidos, a diminuição na incidência do colo do útero é atribuída, principalmente, ao rastreamento por meio do exame Papanicolaou, entretanto as estatísticas apontam uma maior incidência e mortalidade em mulheres negras e maior sobrevida em mulheres brancas (AMERICAN CANCER SOCIETY, 2017a). Há diversos fatores envolvidos na etiologia do câncer do colo do útero, mas as infecções persistentes pelo HPV são o principal deles. Entre seus 13 tipos oncogênicos, o HPV16 e HPV18 são os mais comumente relacionados com o aparecimento da doença. Nesse sentido, o início de atividade sexual com pouca idade, que aumenta a exposição ao risco de infecção por HPV, além da imunossupressão, a multiparidade (ter muitos filhos), o tabagismo e o uso prolongado de contraceptivos orais (estrogênio) são fatores associados ao desenvolvimento do câncer cervical (STEWART; WILD, 2014). 3.6 DESCREVER AS FORMAS DE PREVENÇÃO DO CÂNCER DE COLO DE ÚTERO E SEU DIAGNÓSTICO PRECOCE. 17 A prevenção primária do câncer do colo do útero está relacionada à diminuição do risco de contágio pelo papilomavírus humano (HPV). A transmissão da infecção pelo HPV ocorre por via sexual, presumidamente através de abrasões microscópicas na mucosa ou na pele da região anogenital. Consequentemente, o uso de preservativos (camisinha) durante a relação sexual com penetração protege parcialmente do contágio pelo HPV, que também pode ocorrer através do contato com a pele da vulva, região perineal, perianal e bolsa escrotal. O Ministério da Saúde programou no calendário vacinal, em 2014, a vacina tetravalente contra o HPV para meninas e em 2017, para meninos. Esta vacina protege contra os subtipos 6, 11, 16 e 18 do HPV. Os dois primeiros causam verrugas genitais e os dois últimos são responsáveis por cerca de 70% dos casos de câncer do colo do útero. O grupo etário alvo da vacina é de 9 a 14 anos, pois esta vacina é mais eficaz se usada antes do início da vida sexual. Devem ser tomadas duas doses, com intervalo de seis meses. Grupos especiais, como pessoas com imunodeficiência causada pelo HIV, devem seguir orientações específicas. Além disso, a adoção das vacinas anti-HPV não substitui o rastreamento pelo exame preventivo (Papanicolaou), pois as mesmas não oferecem proteção para 30% dos casos de câncer de colo do útero causados por outros subtipos virais oncogênicos. O Ministério da Saúde acompanha os estudos em curso e avalia o custo-efetividade da inclusão da vacinação no contexto das ações de controle. O controle do tabagismo contribui para minimizar o risco de câncer do colo do útero. DETECÇÃO PRECOCE De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as estratégias para a detecção precoce são o diagnóstico precoce (abordagem de pessoas com sinais e/ou sintomas da doença) e o rastreamento (aplicação de um teste ou exame numa população assintomática, aparentemente saudável, com objetivo de identificar lesões sugestivas de câncer e encaminhá- la para investigação e tratamento). O teste utilizado em rastreamento deve ser seguro, relativamente barato e de fácil aceitação pela população, ter sensibilidade e especificidade comprovadas, além de relação custo-efetividade favorável (WHO, 2007). Tanto a incidência como a mortalidade por câncer do colo do útero podem ser reduzidas com programas organizados de rastreamento. Uma expressiva redução na morbimortalidade 18 pela doença foi alcançada nos países desenvolvidos após a implantação de programas de rastreamento de base populacional a partir de 1950 e 1960 (WHO, 2008b). O rastreamento do câncer do colo do útero se baseia na história natural da doença e no reconhecimento de que o câncer invasivo evolui a partir de lesões precursoras (lesões intraepiteliais escamosas de alto grau e adenocarcinoma in situ), que podem ser detectadas e tratadas adequadamente, impedindo a progressão para o câncer. O método principal e mais amplamente utilizado para rastreamento do câncer do colo do útero é o teste de Papanicolaou (exame citopatológico do colo do útero). Segundo a OMS, com uma cobertura da população-alvo de, no mínimo, 80% e a garantia de diagnóstico e tratamento adequados dos casos alterados, é possível reduzir, em média, de 60 a 90% a incidência do câncer cervical invasivo (WHO, 2002). A experiência de alguns países desenvolvidos mostra que a incidência do câncer do colo do útero foi reduzida em torno de 80% onde o rastreamento citológico foi implantado com qualidade, cobertura, tratamento e seguimento das mulheres (WHO, 2008b). Além dos testes de Schiller, do Ácido Acético já mencionados no item 3.4. 3.7 QUAIS SÃO AS POLÍTICAS VOLTADAS PARA O CÂNCER DE COLO DE ÚTERO. O método de rastreamento do câncer do colo do útero no Brasil é o exame citopatológico (exame de Papanicolaou), que deve ser oferecido às mulheres na faixa etária de 25 a 64 anos e que já tiveram atividade sexual. A priorização desta faixa etária como a população-alvo do Programa justifica-se por ser a de maior ocorrência das lesões de alto grau, passíveis de serem tratadas efetivamente para não evoluírem para o câncer. Segundo a OMS, a incidência deste câncer aumenta nas mulheres entre 30 e 39 anos de idade e atinge seu pico na quinta ou sexta décadas de vida. Antes dos 25 anos prevalecem as infecções por HPV e as lesões de baixo grau, que regredirão espontaneamente na maioria dos casos e, portanto, podem ser apenas acompanhadas conforme recomendações clínicas. Após os 65 anos, por outro lado, se a mulher tiver feito os exames preventivos regularmente, com resultados normais, o risco de desenvolvimento do câncer cervical é reduzido dado a sua lenta evolução. 19 A rotina recomendada para o rastreamento no Brasil é a repetição do exame Papanicolaou a cada três anos, após dois exames normais consecutivos realizados com um intervalo de um ano. A repetição em um ano após o primeiro teste tem como objetivo reduzir a possibilidade de um resultado falso-negativo na primeira rodada do rastreamento. A periodicidade de três anos tem como base a recomendação da OMS e as diretrizes da maioria dos países com programa de rastreamento organizado. Tais diretrizes justificam-se pela ausência de evidências de que o rastreamento anual seja significativamente mais efetivo do que se realizado em intervalo de três anos. O rastreamento de mulheres portadoras do vírus HIV ou imunodeprimidas constitui uma situação especial, pois, em função da defesa imunológica reduzida e, consequentemente, da maior vulnerabilidade para as lesões precursoras do câncer do colo do útero, o exame deve ser realizado logo após o início da atividade sexual, com periodicidade anual após dois exames normais consecutivos realizados com intervalo semestral. Por outro lado, não devem ser incluídas no rastreamento mulheres sem história de atividade sexual ou submetidas a histerectomia total por outras razões que não o câncer do colo do útero. O êxito das ações de rastreamento depende dos seguintes pilares: • Informar e mobilizar a população e a sociedade civil organizada; • Alcançar a meta de cobertura da população alvo; • Garantir acesso a diagnóstico e tratamento;• Garantir a qualidade das ações; • Monitorar e gerenciar continuamente as ações. É importante destacar que a priorização de uma faixa etária não significa a impossibilidade da oferta do exame para as mulheres mais jovens ou mais velhas. Na prática assistencial, a anamnese bem realizada e a escuta atenta para reconhecimento dos fatores de risco envolvidos e do histórico assistencial da mulher são fundamentais para a indicação do exame de rastreamento. 20 As mulheres diagnosticadas com lesões intraepiteliais do colo do útero no rastreamento devem ser encaminhadas à unidade secundária para confirmação diagnóstica e tratamento, segundo as diretrizes clínicas estabelecidas. O Sistema de Informação do Câncer do Colo do Útero - SISCOLO foi desenvolvido pelo INCA em 1999, em parceria com o Departamento de Informáticado SUS (Datasus), como ferramenta de gerência das ações do programa de controle do câncer de colo do útero. Os dados gerados pelo sistema permitem avaliar a cobertura da população-alvo, a qualidade dos exames, a prevalência das lesões precursoras, a situação do seguimento das mulheres com exames alterados, dentre outras informações relevantes ao acompanhamento e melhoria das ações de rastreamento, diagnóstico e tratamento. O sistema está implantado nos laboratórios de citopatologia que realizam o exame citopatológico do colo do útero pelo Sistema Único de Saúde (módulo do prestador de serviço) e nas coordenações estaduais, regionais e municipais de detecção precoce do câncer (módulo de coordenação). O formulário de requisição do exame citopatológico está disponível nas Unidades de Atenção Primária à Saúde e também nas Unidades Secundárias que tratam as lesões precursoras. O formulário de requisição de exame histopatológico está disponível nas Unidades Secundárias. As orientações básicas para uso do sistema pelos laboratórios e pelas coordenações podem ser acessadas nos manuais operacional e gerencial disponíveis no site do Datasus. Os dados do Siscolo estão disponíveis para consulta pública no tabnet do Sistema no Datasus. Alguns indicadores selecionados estão disponíveis no painel de indicadores do Siscolo no site do INCA, com finalidade de auxiliar os profissionais de saúde e gestores no acompanhamento das ações de rastreamento do câncer do colo do útero e, em especial, dos indicadores que fazem parte do Pacto pela Vida. Atualmente este sistema está sendo substituído pelo Sistema de Informação do Câncer (SISCAN), versão online que integra o SISCOLO e o SISMAMA. 21 A Intensificação do Rastreamento na Região Norte foi uma ação iniciada em 2009, com objetivo de reforçar o rastreamento na região Norte, que se destaca pela maior incidência e mortalidade da doença no Brasil. A Gestão da Qualidade do Exame Citopatológico foi iniciada em 2009 um Projeto com o objetivo de impulsionar o monitoramento interno e externo da qualidade dos laboratórios de citopatologia (MIQ e MEQ). As ações incluíram a avaliação das diretrizes e construção de modelo de monitoramento para o plano de trabalho dos Estados; realização de diagnóstico situacional do MIQ e MEQ nos prestadores de serviços ao SUS; acompanhamento e monitoramento das atividades em estados–piloto. Em 2013 foi publicada a Portaria nº 3388 visando garantir a qualidade do exame citopatológicos do colo do útero a partir da implantação do MIQ e MEQ e acompanhamento de indicadores de qualidade dos laboratórios de citopatologia ligados ao SUS. A portaria nº 189 de 31 de janeiro de 2014 define parâmetros e incentivos financeiros de custeio e de investimento para funcionamento de serviços que, integrados à rede de atenção a saúde, realizem o diagnóstico e tratamento das lesões precursoras através de colposcopia, biópsia e exérese da lesão (EZT). Centros Qualificadores de Ginecologistas para Assistência Secundária às Mulheres com Lesão Intraepitelial do Colo do Útero é um projeto iniciado em 2008, com objetivo de apoiar a ações de capacitação profissional de médicos na atenção secundária à saúde, de forma regionalizada, possibilitando a implantação de serviços de referência para o diagnóstico e tratamento de lesões precursoras a nível ambulatorial. Aperfeiçoamento da Gestão das Ações de Detecção Precoce é o apoio técnico ao planejamento e à avaliação das ações de detecção precoce do câncer nos estados. Produção de boletins informativos para acompanhamento dos indicadores, difusão de experiências e intercâmbio institucional. 4 CONCLUSÃO O fechamento do problema 1 permitiu um maior entendimento sobre as fases do ciclo celular e a importância dos seus reguladores, os quais estão relacionados com o surgimento de neoplasias. 22 Nesse problema focamos no mecanismo de infecção, na fisiopatologia, tratamento, epidemiologia e diagnóstico do câncer de colo de útero e HPV, que acometem significativamente as mulheres, tornando eles um problema de saúde pública. 5 REFERÊNCIAS [ROBBINS & COTRAN. Bases Patológicas das Doenças. 9.ed. Elsevier, 2016.] http://www.inca.gov.br/rbc/n_46/v04/pdf/normas.pdf http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/tiposdecancer/site/home/colo_utero/tratam ento1 [BEREK & NOVAK - Tratado de Ginecologia. Ed. Guanabara Koogan, 14ª edição, 2008.]