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desenvolvimento do pensamento critico em Vygotsky

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS
 ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA E FISIOTERAPIA
DE GOIÁS - ESEFFEGO
PÓS-GRADUAÇÃO EM DOCÊNCIA UNIVERSITÁRIA
O DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO CRÍTICO:
UMA PERSPECTIVA VIGOTSKIANA PARA A PRÁTICA
DOCENTE UNIVERSITÁRIA
Luzilene Maria Mazzarelo de Freitas
Rejane Coelho dos Santos
Vivianne Fernandes da Cruz
Goiânia, agosto de 2005
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS
 ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA E FISIOTERAPIA
DE GOIÁS - ESEFFEGO
PÓS-GRADUAÇÃO EM DOCÊNCIA UNIVERSITÁRIA
O DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO CRÍTICO:
UMA PERSPECTIVA VIGOTSKIANA PARA A PRÁTICA
DOCENTE UNIVERSITÁRIA
Luzilene Maria Mazzarelo de Freitas
Rejane Coelho dos Santos
Vivianne Fernandes da Cruz
ORIENTADORA
Profª. Drª Magda Ivonete Montagnini
Artigo apresentado ao Curso de
Especialização em Docência Universitária
da ESEFFEGO, Universidade Estadual de
Goiás, como requisito para obtenção do
título de Especialista em Docência
Universitária.
Goiânia, agosto de 2005
Luzilene Maria Mazzarelo de Freitas
Rejane Coelho dos Santos
Vivianne Fernandes da Cruz
O DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO CRÍTICO:
UMA PERSPECTIVA VIGOTSKIANA PARA A PRÁTICA
DOCENTE UNIVERSITÁRIA
Artigo de Conclusão de Curso, defendido e aprovado em _____do _____de
______ pela Banca Examinadora constituída pelos professores:
__________________________________________________
Profª Drª Magda Ivonete Montagnini
__________________________________________________
Prof. Ms. João Henrique Suanno
__________________________________________________
Espª Norma Sueli dos Santos Morais
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus porque todas as coisas que são dEle, por Ele e para Ele,
pois a Sua soberania, glória e poder criou tudo o que há e o que venha a existir.
Louvado seja eternamente.
Aos nossos familiares, pelo amor que nos é dispensado diariamente, pelo
carinho e atenção próprios daqueles que amam.
À Profª Drª Magda Ivonete Montagnini, orientadora deste artigo, nossos
sinceros agradecimentos pelas sugestões, paciência e empenho na concretização deste.
Muito obrigada.
Aos professores do Curso de Especialização em Docência Universitária, por
nos auxiliar na aquisição de novos conhecimentos. A todos, obrigada.
À Coordenação do Curso de Especialização em Docência Universitária e,
particularmente, ao Prof. Ms. João Henrique Suanno, pela sua presença constante em
todo o processo do Curso em questão.
Aos colegas, pelo convívio durante o curso, experiências vividas e comentários
preciosos.
À Instituição de Ensino Superior, ESEFFEGO – Escola Superior de Educação
Física e Fisioterapia do Estado de Goiás – UEG, pela hospitalidade.
O DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO
CRÍTICO: UMA PERSPECTIVA VIGOTSKIANA PARA A
PRÁTICA DOCENTE UNIVERSITÁRIA1
 Luzilene Mª Mazzarelo de
Freitas*
 Rejane Coelho dos
Santos**
 Vivianne Fernandes da
Cruz***
Resumo: O presente artigo tem por propósito analisar os processos de construção de conhecimentos pelos alunos
no ensino universitário, a partir da perspectiva sócio-interacionista. Para tanto, desenvolvemos uma pesquisa
bibliográfica analisando as principais contribuições da teoria de Vigotski para a compreensão do assunto em
questão, explorando as publicações deste teórico e de autores brasileiros representativos da perspectiva histórico-
cultural. Propusemos fundamentar na teoria vigotskiana porque a mesma sugere apontamentos que explicam os
caminhos que o indivíduo percorre para desenvolver os processos mentais que compreendem a construção do
pensamento crítico na aquisição de conhecimentos variados. Focou-se a atenção nas explicações de teóricos sobre a
construção do pensamento crítico pelos discentes, mediados pela prática do docente universitário que desenvolve um
ensino contextualizado.
Palavras-chave: Aprendizagem. Sócio-interacionismo. Mediação. Pensamento Crítico.
Introdução
O ambiente universitário é o lócus de desenvolvimento cultural, intelectual e
científico, enfim, de preservação e geração do conhecimento. O docente possui um
papel de suma importância ao instigar o desenvolvimento de inteligências no seu
discente, como o desenvolvimento do pensamento crítico. Buscou-se investigar acerca
da teoria sócio-interacionista de Vigotski de modo a visualizar possibilidades de uma
*Graduada em Psicologia – UNICEUB, DF e Psicopedagoga pela UCG. E-mail: lieci@zipmail.com.br.
**Graduada em Psicologia – UCG, Goiânia/Go. Psicóloga Social Comunitária da ONG Sociedade
Cidadão 2000/Go. E-mail: rejcoelho@bol.com.br.
***Graduada em Filosofia – UFG, Goiânia/Go. Técnica Industrial em Saneamento na SANEAGO –
Saneamento de Goiás S.A e estudante do curso de Redes de Comunicação – CEFET. E-mail:
viviannefcruz@yahoo.com.br.
atuação docente capaz de promover nos discentes a percepção da função social do
pensamento crítico como anteparo para atuações mais comprometidas na sociedade.
Buscamos analisar a relevância da mediação do docente e da universidade na
construção de novos conhecimentos, intencionando a aplicação de uma postura sócio-
interacionista, verificando o que os estudiosos apresentam sobre os frutos desta relação
docente e discente. Acima de tudo, verificando se desta relação é possível construir um
sujeito crítico e social.
Para tanto, destacamos os processos sócio-interacionistas para o
desenvolvimento dos processos mentais, privilegiando a discussão do pensamento
crítico e seus desdobramentos sociais, enquanto formação intelectual e ação do sujeito
praticante na relação deste com o mundo.
De modo a fundamentar esta discussão, desenvolvemos uma pesquisa
bibliográfica sobre a teoria sócio-interacionista focando as idéias da teoria de Vigotski,
bem como, a representatividade de autores brasileiros estudiosos da mesma. Buscou-se
discutir a possibilidade de mediação entre docente/ensino e discente/aprendizado a
partir da interação destes elementos para a construção da autonomia do pensamento a
partir do desenvovimento do pensamento crítico, de novos conhecimentos e novos
modos de ação.
Uma vez que a teoria de Vigotski chegou tardiamente no Brasil, os autores
brasileiros contribuem com a conceituação e caracterização de métodos variados de
ensino fundamentados em perspectivas mais atualizadas destes conceitos, possibilitando
desta maneira uma visão mais atual e possível da prática docente no cotidiano
acadêmico universitário.
Breve Panorama do Pensamento Vigostkiano
 “O pensamento pode ser comparado a uma nuvem descarregando uma chuva
de palavras” (Vigotski, 1934) Tirar 1934 e
digitar 1984 ou 1987?????? Nas Referências no final do trabalho não tem 1934.
De que maneira o homem cria cultura? Essa foi a indagação motriz que
motivou o psicólogo russo L. S. Vigotski (1896-1934) a desenvolver a teoria sócio-
interacionista. O termo sócio-interacionismo é utilizado para explicar o
desenvolvimento psicológico a partir da interação do sujeito com o ambiente sócio-
histórico-cultural. A intenção deste teórico era buscar respostas quanto aos caminhos
percorridos para o desenvolvimento dos processos mentais, a partir do entendimento da
relação entre cultura e conhecimento. Neste sentido, Vigotski elaborou uma explicação
sócio-histórico-cultural para a compreensão do desenvolvimento das funções mentais.
A obra de Vigotski chegou ao Brasil ao final da década de 70 e somente na
década de 80 passou a ser estudada. Esta teoria não foi elaborada para responder
questões referentes àpedagogia, mas apresenta sugestões claras para a educação
trazendo apontamentos, por exemplo, quanto ao desenvolvimento da inteligência,
enquanto produto da natureza social do homem e acerca da construção de novos
conhecimentos desenvolvidos através das relações sociais. Ela aponta direcionamentos
para a compreensão da não dicotomia dos aspectos sociais e individuais, já que a ação
do indivíduo somente pode ser considerada a partir da ação entre pessoas e estas
somente tornam-se sujeitos se co-existirem na interação social. Desta maneira, os
aspectos psicológicos só podem ser compreendidos nas suas dimensões social, cultural e
individual.
Lopes (1996) afirma que para Vigotski, a criança nasce dotada apenas com as
funções psicológicas elementares e que durante a sua aprendizagem social, essas
funções elementares transformam-se em funções mentais superiores, como a
consciência, o planejamento e a capacidade de deliberação. Estas transformações
ocorrem a partir das elaborações recebidas pelo meio, mas nunca diretamente dele, e
sim, intermediada pelo meio.
O termo mediação é amplamente discutido por Vigotski e por estudiosos que
trataram de seus estudos, conforme sugere Oliveira (1997), que entende por mediação o
“processo de intervenção de um elemento intermediário numa relação; a relação deixa,
então, de ser direta e passa a ser mediada por esse elemento” (p.26). Desta forma,
qualquer aprendizagem ou elaboração desenvolvida pelo homem é mediada por um
outro elemento ou organismo externo a ele próprio.
Cada nova aprendizagem e cada nova função psicológica superior têm
característica própria por estar carregada de significados culturais, sociais e históricos
particulares.
Para os teóricos sócio-interacionistas, o meio social é o principal fator do
desenvolvimento psicológico. E a capacidade de abstrair diferentemente cada nova
aprendizagem é que caracteriza a complexidade dinâmica do indivíduo, enquanto ser
histórico-social.
Desta feita, o conceito de aprendizagem é de extrema importância para a teoria
sócio-interacionista sendo assim definida: “... processo pelo qual o indivíduo adquire
informações, habilidades, atitudes, valores, etc. a partir de seu contato com a realidade,
o meio ambiente, as outras pessoas”, implicando mediação e internalização do
conhecimento mediado (OLIVEIRA,1997, p.57). Em seus tratados, Vigotski sugere que
a idéia de aprendizagem perpassa pela mediação do indivíduo com o meio físico e social
em que vive. Retomando Oliveira, esta afirma que o processo de aprendizagem está
relacionado com o desenvolvimento humano porque o impulsiona, sendo “... um
aspecto necessário e universal do processo de desenvolvimento das funções individuais
culturalmente organizadas e especificamente humanas” (1997, p.56).
O sócio-interacionismo tem como primordial destaque o estudo da interação
social como variável significativa para o funcionamento de processos psicológicos
necessários na aquisição de novos conhecimentos através da aprendizagem. Segundo
Souza (2001), compreender a forma que Vigotski descreve a aquisição de novos
conceitos seria uma boa maneira de perceber a importância do meio social e os
processos de aprendizagem para o desenvolvimento do conhecimento. Esta autora,
afirma, também que a aquisição de um novo conhecimento ocorre por meio da
reconceitualização do conhecimento existente. Então, é correto deduzir que a construção
da cultura se dá através da aquisição de novos conhecimentos por meio das relações
sociais que o indivíduo realiza durante o seu desenvolvimento histórico e social.
O desenvolvimento do conhecimento crítico fundamenta-se no convívio com
outras pessoas que são significativas e que auxiliam o processo de aprendizagem,
possibilitando a continuidade do conhecimento humano.
É importante pontuar outro conceito bastante verificado na teoria vigotskiana:
o desenvolvimento. Vigotski, sempre tratou deste tema enquanto processo de interação
com a aprendizagem, afirmando que são processos que comumente, ocorrem
simultaneamente, mas independem um do outro, afirmando que os dois processos estão
“... inter-relacionados desde o primeiro dia de vida da criança” (1984, p. 109).
Para o desenvolvimento, o aprendizado tem um papel central porque não há
desenvolvimento sem o aprendizado construído no ambiente sócio-histórico-cultural,
haja visto, o indivíduo possuir processos de desenvolvimento movidos por mecanismos
de aprendizagem acionados externamente e para que este processo ocorra de maneira
satisfatória deve haver um intercâmbio entre informação genética e experiência real do
meio socialmente constituído.
Desenvolver-se significa construir conhecimentos cada vez mais complexos,
amplos, móveis ou plásticos. Seria passar de estágios de um desenvolvimento mental
para outro, interagindo aspectos maturativos biológicos e culturais, produzindo
processos mentais superiores.
Na relevância do contato social para o desenvolvimento dos indivíduos,
Vigotski (1984) elabora três conceitos fundamentais: nível de desenvolvimento real
(NDR), nível de desenvolvimento potencial (NDP) e zona de desenvolvimento proximal
(ZDP). O nível de desenvolvimento real significa a capacidade de o indivíduo realizar
tarefas independentes do outro, baseado no nível de conhecimento de que já dispõe.
Nível de desenvolvimento potencial é a capacidade do indivíduo de conquistar novos
conhecimentos, sob a influência de estímulos mediadores. Zona de desenvolvimento
proximal é a capacidade de acesso ao conhecimento através do auxílio de mediadores. É
ainda, o eixo da relação entre aprendizagem e desenvolvimento.
O aspecto social do desenvolvimento é central para a compreensão do sistema
de atividades das funções mentais, sendo a fonte que estrutura todas essas atividades
superiores, e esta é construída pela via do pensamento. É justamente por causa desta
elaboração do pensamento que o relacionamento com o outro é fundamental para a
aprendizagem.
A construção do pensamento sugere a interação de inúmeras habilidades
cognitivas, que vão adquirindo maior complexidade à medida que ocorre o aprendizado
da linguagem.
Para Vigotski (1987), a criança possui um pensamento complexo muito antes
de adquirir a linguagem 'social' e por isso, a linguagem possui dois aspectos: o verbal
(expresso no exterior) e o semiótico (significados atribuídos aos objetos, pessoas e
situações).
Quanto à relação entre pensamento e linguagem, o estudo do pensamento
sugere o estudo da linguagem e suas inter-relações, a análise das palavras e do
pensamento e os seus significados, pois de acordo com Vigotski (1987) “o pensamento
tem que passar primeiro pelos significados e depois pelas palavras” (p.186).
A construção do pensamento humano realiza-se através da inter-relação
sujeito-objeto, num processo dialético, porque o sujeito é influenciado pelo que lhe é
externo e vice-versa.
A relação entre o pensamento e a palavra não é uma coisa fechada em si, mas
sim, um processo. E esta relação processual é dinâmica, pois o sócio-interacionismo
acredita que o funcionamento e desenvolvimento do pensamento estão relacionados
com a capacidade de atribuir novos significados às “coisas” com as quais os indivíduos
se relacionam.
A função social da fala é a comunicação, pois esta estabelece o intercâmbio
entre as pessoas, então, pode-se aferir que a fala cumpre seu papel mediador, enquanto
instrumento de socialização. Podemos nos indagar quais são os processos mentais
ocorridos anteriormente à fala e à comunicação? Vigotski (1987), afirma que tal
indagação é pertinente, uma vez que “as formas mais elevadas da comunicação humana
somente são possíveis porque o pensamento do homem reflete uma realidade
conceitualizada” (p.08). Assim, o pensamentoé o reflexo da fala interior de cada
indivíduo, inserido em seu momento histórico e social, estabelecendo concepções entre
origem e causa para cada palavra pronunciada.
Para uma melhor compreensão da relação do pensamento e linguagem, a teoria
sócio-interacionista, didaticamente denominou a ocorrência de dois processos mentais:
o primeiro é chamado fala interior, que resumidamente, pode-se considerar como a fala
para si mesmo e o segundo é a fala exterior que compreende a fala para os outros. E
qual a relação dessas duas modalidades de fala para o desenvolvimento do pensamento?
Segundo Vigotski (1987), devemos considerar a fala interior em um processo invertido,
ou seja, a fala interioriza-se em pensamento. Clarificando: no processo da fala interior
as palavras morrem à medida que geram o pensamento. Então, supõe-se que o
pensamento está num plano ainda mais interiorizado que a modalidade da fala interior.
Considerando o exposto anteriormente, pode-se sugerir que o pensamento
cumpre seu papel dentro do processo mental, pois é ele, que atribui significado às
palavras ditas. Então, esta característica do pensamento proposto por Vigotski promove
discussões como o sugerido por este artigo: avaliar o papel da mediação da prática
docente e o ensino universitário para o desenvolvimento crítico do aluno.
Papel da mediação da prática docente e o ensino universitário para o
desenvolvimento crítico do aluno
Ao promover o desenvolvimento crítico do aluno, o docente e a universidade
voltam-se para uma missão de ensino reflexivo, inclusivo, permitindo que o aluno possa
compreender as relações que vive entre as experiências que surgem, podendo então,
mediá-las, criando novos significados, condicionando novas interações e ações sobre o
seu pensar e o seu agir (THEOBALDO, 2005).
Ao interagirmos com o mundo, adquire-se a partir dele, experiência concreta e
simbólica através da nossa prática social viva e dinâmica. Deste modo, se interage com
o mundo com tudo o que concretamente ele nos propicia: seus conceitos, cultura,
tendências, tecnologias e outros. Vivemos a era da sociedade do conhecimento e a
sociedade atual impôs um modelo de exigência tecnológica que teve reflexo dentro da
sala de aula através das Novas Tecnologias da Comunicação e Informação (NTCI). É
neste contexto que as novas tecnologias adquirem utilidade pedagógica, pois, segundo
Masetto (2003), a tecnologia tem papel importante no processo educativo, desde que se
apresente como facilitadora no processo de aprendizagem. As NTCI são
ferramentas/instrumentos eficientes quando buscados com objetividade pedagógica
corroborando positivamente no processo de ensino. Seja ele, universitário, ou não.
O papel do professor, como mediador pedagógico, procura fundamentar-se
numa nova perspectiva em que os instrumentos de informações destacam-se cada vez
mais, de modo que sua figura não se torne ultrapassada. O docente precisa adequar-se às
novas tecnologias, não para ser manipulado por elas, mas para enriquecer o processo da
aprendizagem. Nesta perspectiva, a educação pode se fazer fundamental oferecendo ao
indivíduo oportunidades significativas de construção de conhecimentos e valores. E
para tal tarefa, pode utilizar-se das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação
como ferramenta com o objetivo de promover interação, cooperação, comunicação e
motivação a fim de diversificar e potencializar as relações inter e intra-pessoais
mediante situações mediatizadas, que venham a ressignificar o processo educativo e o
sistema educacional” (SUANNO, 2003).
O professor assume uma nova identidade com o advento das tecnologias no
processo educacional, assim como o aluno, pois ambos trabalharão como equipe em
busca dos mesmos fins – o ensino e a aprendizagem. Portanto, na aquisição do
conhecimento, é preciso haver coerência entre as técnicas e os novos papéis do
professor e aluno, além de estratégias que enfatizem o sujeito da aprendizagem (aluno) e
o mediador (professor) para tornar favorável a participação dos alunos, a interação, a
pesquisa, o debate, enfim, o trabalho coletivo que possibilita a construção do
conhecimento humano.
O 'papel' do professor, como mediador, vai além de acrescentar novas
tecnologias na ministração das aulas apenas como 'incremento', mas deve objetivar a
dinâmica do processo de aprendizagem, impedindo a estagnação do conhecimento. As
NTIC não substituem a presença do professor, mas é a figura deste mediador que se
torna possível o conhecer em suas diversas nuances.
O professor possui a responsabilidade de se adequar, 'abarcando' novos
conhecimentos e possibilitar que o seu aluno aprenda essas novas descobertas, portanto,
o trabalho do professor não é ensinar, é fazer o aluno aprender. Aprender a pensar o
mundo atual como ele se apresenta e oferecer ao aluno a oportunidade de manipular e
discutir as novas criações humanas, argumentando, refletindo, raciocinando
logicamente, atribuindo significados e adquirindo novos conceitos. Ainda mais,
interagir com o mundo, pensando criticamente, enfim, criando cultura.
Estes são papéis do docente, haja visto que a relação professor-aluno implica
numa interação em que o professor possui a difícil 'missão' de mediar o conhecimento
através de um caminho onde é o próprio aluno que alcança a atividade intelectual.
Libâneo (2005) acredita que o professor é “um parceiro mais experiente na
conquista do conhecimento, interagindo com a experiência do aluno” (p.03), reforçando
a idéia de mediação entre os seus conhecimentos e a de seus alunos, permitindo que o
discente tenha a oportunidade de produzir a autonomia do seu pensamento.
O docente deve incentivar o aluno a desenvolver a busca consistente de
raciocínio visando uma maior produção de conhecimentos e conceitos mais elaborados
e eficientes.
Theobaldo (2005) nos aponta para o pensamento reflexivo, como sendo, a
substituição das conexões imediatas e superficiais por relações complexas, que passam a
contar com o auxílio de habilidades cognitivas na sua construção. Saber utilizá-las é
saber construir pensamentos mais consistentes.
A característica peculiar do professor que atua sobre uma perspectiva sócio-
interacionista é a profunda inter-relação entre aspectos profissionais e pessoais, fazendo
um todo indivisível e responsável por uma postura admirável como tal, ressaltando que
o importante é a postura educadora do mesmo, percebendo sempre uma possibilidade de
interagir e propiciar o crescimento do aluno.
Charlot (2002) no texto: “Formação de Professores: a pesquisa e a política
educacional” auxilia no entendimento dessas contradependências, onde o aluno depende
do professor para alcançar o conhecimento, mas é ele quem deve fazer o trabalho
intelectual. Se o aluno não realizar este trabalho, não vai aprender e vai fracassar e,
conseqüentemente, o docente também fracassa. Assim, o professor tem o 'poder' na sala
de aula, porém, na verdade, o aluno possui um enorme 'poder' sobre o docente porque
este só será bem sucedido em seu trabalho se o discente fizer o essencial em seu
trabalho intelectivo. O autor em questão, diz que a eficácia das práticas do professor
depende dos efeitos destas sobre as práticas do aluno, isso significa que no centro, fica a
prática do aluno e não a prática docente. Portanto, o importante é saber o que vai
permitir ao aluno aprender a desenvolver suas próprias práticas intelectuais, pois a
relação professor-aluno depende desta construção do conhecimento crítico por parte do
discente.
Assim, a aprendizagem é socialmente mediada, é uma experiência
compartilhada, no qual, o sucesso do ensino dependerá da interação entre professor-
aluno, mas principalmente, se o professor conseguir fomentar em seus alunos a
capacidade destes emlegitimar o conhecimento próprio, construindo novas habilidades
intelectuais, desenvolvendo a autonomia de pensamento. Libâneo (2005) oferece
apontamentos quanto à importância do aluno autônomo, quando sugere que o papel do
professor é realizar atividades de aprendizagem para que o aluno torne-se sujeito de sua
própria aprendizagem.
Esta postura de ensino é compatível com o proposto pela perspectiva
vigotskiana, pois ambas, concordam com a relevância da interação no processo do
desenvolvimento do conhecimento. Apesar das particularidades de cada teórico acima
citado, tanto um como os outros acreditam que durante o processo de ensino o professor
somente obterá sucesso em sua missão se promover em sua prática à interação social
dos conteúdos ministrados. Portanto, o processo de aprendizagem, implica em
relacionar conhecimentos, reelaborando informações, para depois aplicá-los no mundo
social.
Castanho (2001) no texto: “Sobre Professores Marcantes”, possibilita ressaltar
as qualidades do docente e como ele consegue auxiliar o aluno a alcançar o pensamento
crítico. Para esta relação sobreviver e manter-se frente às mudanças no mundo
contemporâneo, é necessário haver prazer nessa interação, de modo a permitir que haja
a mediação necessária do processo de aprendizagem. Esta autora traz uma citação de
Snyders que contribui para o conceito da mediação presente no pensamento
vigotskiano, transcrita a seguir: “ Snyders compara o professor a um intérprete, sendo
sua função tornar a obra o mais acessível possível, o mais presente possível e o aluno
têm necessidade de que um caminho tenha sido desbravado entre o que ele já sabe,
sente, aquilo de que tem necessidade para sua própria busca e as novas contribuições. O
professor pode ser esse mediador” ( p. 34).
O professor estimula a independência dos alunos criando condições para uma
visão crítica da sociedade e de si mesmo, estimulam a participação, valorizam o diálogo,
organizam o ensino, mas não se consideram os 'donos do saber', são autênticos e
verdadeiros.
A maneira como o docente ensina está intimamente ligada à sua
individualidade, que por sua vez, não pode desconsiderar a individualidade dos seus
alunos, pois cada um traz particularidades e vivências diferentes, refletindo no sucesso
ou não do processo de aprendizagem. O docente possui um papel fundamental na
educação, pois é o semeador do pensamento crítico dos futuros profissionais, que não
são apenas tecnicistas, mas, sobretudo humanos. Apresentar uma prática que
compartilhe seus sonhos, suas lutas, suas vitórias, seus dramas, aniquilando com
paradigmas ultrapassados, reconstruindo novos preceitos, buscado atingir os ideais,
incutindo a responsabilidade do homem sobre o outro e sobre o mundo que o acolhe,
oferecendo possibilidades para que este se transforme em homem.
O sócio-interacionismo aponta-nos novos caminhos para a compreensão do
desenvolvimento psicológico a partir da gênese social do indivíduo, tal
desenvolvimento segundo esta teoria, somente pode seguir seu curso, caso ocorra à
apropriação da cultura e de novas formas de conhecimento e das ações que o indivíduo
realiza, constituindo assim suas características internas. Pereira concorda com este
parecer quando relata que “... as funções psicológicas que surgem e se formam no plano
da inter-relação, tornam-se internalizadas, isto é, transformam-se para constituir-se em
funcionamento interno” (2005, p.01).
Desta forma, a aquisição de novos conhecimentos não se dá pela simples cópia
ou imitação, mas sim pelo resultado das interações externas internalizadas que
acometem o indivíduo no decorrer do seu desenvolvimento. Tais interações externas
podem ser construídas no ambiente universitário, caracterizando este como o lócus
fomentador destas interações e mediações.
Enquanto instituição social é a Universidade que promove a construção de
novos saberes e conhecimentos, é também, segundo Pereira (2005) o lócus para a
aquisição de “informações, habilidades, valores, etc, a partir de seu contato com a
realidade, o meio ambiente e outras pessoas” (p. 02).
O docente é o mediador desse processo interacionista e a universidade é o seu
ambiente, no qual, a interação de ambos, estimula a construção do conhecimento,
continuamente criado e recriado. Esta prática compromete-se singularmente com a
teoria sócio-interacionista.
Os processos de aquisição e de produção dos conhecimentos nas Universidades
colaboram para a socialização e o desenvolvimento do pensamento crítico, sendo a
formação a sua função primordial, pois constitui os fins, ou seja, a finalidade primeira e
última da Universidade. Entretanto, a formação não é prerrogativa exclusiva desta
instituição, pois ela não conseguiria abarcar toda a complexidade social, mas
certamente, é o ambiente fecundo criado pela sociedade para manter, criar e divulgar
conhecimentos e formar cidadãos, buscando qualificação, inovação e crítica.
Esta instituição é intencionalmente voltada para a produção de conhecimentos
e formação humana plena, comportando várias dimensões: técnica, ética, política,
social, enfim, o que implica o desenvolvimento individual e coletivo da sociedade, no
âmbito material e espiritual do homem.
A Universidade é uma instituição social que é historicamente composta por
contradições, disputas ideológicas e políticas, porque como produto da sociedade e das
suas necessidades latentes, é movida por relações contraditórias, porém busca
convergências em meio às diferenças. Instituição complexa, pelos diferentes e múltiplos
processos, pela diversidade de formação técnica e vinculação ideológica.
Habermas citado por ????????? no artigo: “Universidade e Avaliação da
Educação Superior. Encruzinhada no Eixo das Reformas” (1998), refere-se à
diferenciação e convergência das funções universitárias: “Diversas funções são
assumidas por diferentes grupos de pessoas em diferentes lugares institucionais e com
diversos pesos relativos. A consciência corporativa dilui-se assim na consciência
intersubjetivamente partilhada de que uns fazem coisas diferentes dos outros, mas que
todos juntos, fazendo de uma ou outra forma trabalho científico, preenchem, não uma
função, mas um feixe de funções convergentes” ( p. ).
Portanto, a Universidade é estrutural e intencionalmente voltada para a
produção de conhecimentos e a formação humana. Deste modo, os seus significados
têm relação com os processos de socialização, com o desenvolvimento do pensamento
crítico que implica a capacidade de reflexão autônoma e fundamentada, onde o homem
se faz homem através da construção da sua identidade individual e inserida no corpo
social e, conseqüentemente, a estrutura da sociedade é enriquecida por pessoas que
conseguiram fundamentar o pensamento crítico.
Considerações Finais
Descartes afirmou: “se penso, logo existo!”. Esta é a distinção peculiar entre os
seres humanos e os animais, a atividade do pensar. A formação do pensamento e da
linguagem, assim como seus significados, proporcionam aos homens a capacidade e a
necessidade de interação, de buscar no outro as respostas para o conhecimento de si
mesmo e do mundo que o cerca.
Daí o pensamento vigotskiano comportar as necessidades do presente artigo,
pois para Vigotski (1984, 1987) a construção do pensamento humano realiza-se através
da inter-relação sujeito-objeto, num processo dialético. Neste caminho a ser percorrido
pela atividade do pensar, faz-se necessário um mediador que 'ensine' o melhor caminho,
sendo o aprendizado o aprender por si mesmo, mas auxiliado pelo outro.
O papel do docente e das universidades na formação do pensamento crítico é
muito importante porque auxiliar a atividade intelectual e fornece subsídios para a
aquisição de novos conhecimentos e suaperpetuação na sociedade, perpetuação esta que
um dia terá que passar por transformações porque o construir conhecimentos é um
processo histórico. O professor não somente pratica o ensino, ele também vivencia as
novas experiências juntamente com os seus alunos, uma vez que o mesmo permite-se
viver esse movimento dialético de participação/compreensão/transformação, agindo em
posterior sobre o mundo modificando-o.
A perspectiva sócio-interacionista garante, enquanto prática docente, que o
aluno construa a partir da capacidade intelectual do pensar crítico, condições de atribuir
significados a todas as habilidades que produzir, sendo que tais habilidades mentais
superiores podem ser organizadas de maneira lógica, racional, contextualizada,
permitindo novas interações e ações durante as suas relações sociais, além de respeitar
suas idiossincrasias.
Portanto, é importante salientar que não existe um manual, um método a ser
seguido pelos docentes que queiram atuar sob a perspectiva sócio-interacionista.
Podemos concluir que esta prática é tão somente um estilo de vida, de ação profissional,
ao qual o docente a refletirá em sua prática de ensino e em seu ambiente de trabalho,
neste caso, o ensino universitário. Enquanto prática docente, os sócios-interacionistas
refletirão, predominantemente diretrizes para o ensino. Utilizamos o termo “prática”
porque neste já está implícito ação, participação, interação, compreensão e mediação,
pois o papel do docente é apoiar, facilitar o ensino, considerando as diferenças
cognitivas, culturais e afetivas de seu discente, promovendo a construção do
pensamento crítico que permitirá ao aluno superar o conhecimento superficial, podendo
então, abarcar toda uma gama de conhecimentos mais complexos, garantindo o “agir”
crítico sobre todas as ações e relações que viver no e com o mundo.
Referências A nova orientação é que se deve digitar somente Referências, ok?
CASTANHO, M. E. Sobre Professores Marcantes. In: CASTANHO, S.; CASTANHO,
M. E (Org.). Temas e Textos em Metodologia do Ensino Superior. Campinas, São
Paulo: Papirus, 2001.
CHARLOT, B. Formação de Professores: a pesquisa e a política educacional. In:
PIMENTA, S. G.; GHEDIN, E. (Org.). Professor Reflexivo no Brasil - Gênese e
Crítica de um Conceito. São Paulo: Cortês, 2002.
LIBÂNEO, J. C. O Essencial da Didática e o Trabalho de Professor: Em Busca de
novos Caminhos. Disponível em: <http://www.ucg.br/site_
docente/edu/libaneo/pdf/didaticadoprof.pdf>. Acesso em 23 maio 2005.
LOPES, J. Vygotsky: O Teórico Social da Inteligência. Nova Escola. São Paulo, p.
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