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R e v i s t a Conselho Federal de Medicina Veterinária CFMVissN 1517-6959 Ano 16/2010 – n°50 – R$ 7,00 Maio/JuNho/Julho/agosto Cirurgia Cardíaca: ênfase ao ensino e ao treinamento profissional Revista CFMv - Brasília/DF - ano Xvi - nº 50 - 2010 1 Revista CFMv. – v.1, n.50 (2010) Brasília: Conselho Federal de Medicina veterinária, 2010 Quadrimestral issN 1517 – 6959 1. Medicina veterinária – Brasil – Periódicos. i. Conselho Federal de Medicina veterinária. agRis l70 CDu619(81)(05) a Revista CFMV é editada quadrimestralmente pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária e destina-se à divulgação de trabalhos técnico- científicos (revisões, artigos de educação continuada, artigos originais) e matérias de interesse da Medicina veterinária e da Zootecnia. a distribuição é gratuita aos inscritos no sistema CFMv/CRMvs e órgãos públicos. Correspondência e solicitações de números avulsos devem ser enviadas ao Conselho Federal de Medicina Veterinária no seguinte endereço: sia – trecho 6 – lote 130 e 140 Brasília – DF – Cep: 71205-060 Fone: (61) 2106-0400 – Fax: (61) 2106-0444 site: www.cfmv.org.br - e-mail: cmfv@cfmv.org.br a Revista CMFV é indexada na base de dados agRoBase CFMV 4 Editorial 5 Entrevista | Prof. Dr. Adroaldo José Zanella; Sumário CF M V12 Cirurgia cardíaca 19 Agrosuinocultura. Solução sustentavel brasileira 23 Suplemento Científico 51 Contenção bovina 59 Carrapaticidas 62 Cetas 65 Ensino de Medicina Veterinária 74 Publicações 76 Agenda 78 Opinião | Dr. Flavio Massone - Reminiscências: Passado, presente e futuro expressando nosso comprometimento com a melhoria constante da Revista CFMv, reafirmando a seriedade da publicação e o seu propósito de informar e participar da formação de profissionais e estudantes da Medicina veterinária e Zootecnia, é com satisfação que apresentamos o numero 50. É possível constatar que o conteúdo continua de grande importância, mas estamos destacando o novo layout e o novo projeto gráfico, que se encontra dentro dos padrões gráficos atuais e das mais modernas revistas cientificas do mundo. a proposta atualizada permitirá maior liber- dade para a criação gráfica, maior espaço para fotos e sintetização do texto para que a informação relevante seja divulgada de forma atrativa aos leitores. Como resultado esperamos que a publicação se torne mais agradável para leitura e com menos blocos de texto, o que implicará em maior satisfação de nossos leitores. outro destaque desta edição é a entrevista com o Dr. Zanella, especialista em bem-estar animal, que estará participando do ii Congresso Brasileiro de Bioética e Bem-estar animal, promovido pela respectiva Comissão do CFMv, em agosto, em Belo horizonte, Mg. Dentro da formação continuada destacamos nosso assunto de capa no qual o Dr. andré lacerda tenta desmistificar a cirurgia cardíaca. também pas- samos pela agrosuinocultura sustentável, os resídu- os de medicamentos e a contenção animal. uma boa leitura! ConSELHo FEDERAL DE MEDICInA VETERInÁRIA SIA – Trecho 6 – Lote 130 e 140 Brasília-DF – CEP: 71205-060 Fone: (61) 2106-0400 Fax: (61) 2106-0444 www.cfmv.org.br cfmv@cfmv.org.br tiragem: 85.000 exemplares DIREToRIA EXECUTIVA PRESIDEnTE Benedito Fortes de arruda CRMV-GO nº 0272 VICE-PRESIDEnTE eduardo luiz silva Costa CRMV-SE nº 0037 SECRETáRIO - GERAL Joaquim lair CRMV-GO nº 0242 TESOuREIRO amilson Pereira said CRMV-ES nº 0093 ConSELHEIRoS EFETIVoS adeilton Ricardo da silva CRMV-RO nº 0002/Z oriana Bezerra lima CRMV-PI nº 0431 Célio Macedo da Fonseca CRMV-RR nº 0004 José saraiva Neves CRMV-PB nº 0237 geovane Pacífico vieira CRMV-AL nº 0250 antônio Felipe Paulino Figueiredo Wouk CRMV-PR nº 0850 ConSELHEIRoS SUPLEnTES Josiane veloso da silva CRMV-MA nº 0030/Z luiz Carlos Januário da silva CRMV-AC nº 0001/Z Nivaldo de azevêdo Costa CRMV-PE nº 1051 Raimundo Nonato C. Camargo Júnior CRMV-PA nº 1504 Ricardo de Magalhães luz CRMV-DF nº 0166/Z ConSELHo EDIToRIAL PRESIDEnTE eduardo luiz silva Costa CRMV-SE nº 0037 Joaquim lair CRMV-GO nº 0242 amilson Pereira said CRMV-ES nº 0093 EDIToR Ricardo Junqueira Del Carlo CRMV-MG nº 1759 JoRnALISTA RESPonSÁVEL Flávia tonin MTB nº 039263/SP PRoJETo E DIAgRAMAção Duo Design Comunicação IMPRESSão Gráfica Editora Pallotti e D i t o R i a l eXPeD ieNte Comprometimento com a qualidade os aRtigos assiNaDos sÃo De iNteiRa ResPoNsaBiliDaDe Dos autoRes, NÃo RePReseNtaNDo, NeCessaRiaMeNte, a oPiNiÃo Do CFMv. Natural de Paim Filho, na região norte do Estado do Rio Grande do Sul, o Médico Veterinário Za- nella, formado pela PUCRS de Uruguaiana, fez doutorado na Grã-Bretanha, pós-doutorado na Alemanha e, depois, atuou como professor nos Estados Unidos. Atualmente, trabalha na Escola Norueguesa de Ciências Veterinárias, motivado pela tradição do país na área em que atua: o bem-estar dos animais e, orienta pesquisas com bovinos, ovinos, caprinos e suínos. O Dr Zanella será um dos palestrantes do II Congresso Brasileiro de Bioética e Bem-Estar Animal. 1. Com base na sua longa experiência técnico- científica adquirida tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, que estratégias podem ser ado- tadas para se avaliar o bem-estar animal? as estratégias para avaliação do bem-estar animal podem ser resumidas sucintamente em três escolas de pensamento: a) escola que propõe o estu- do da função biológica para determinação do bem- estar animal. a mais tradicional escola de pensamen- to propõe a utilização de indicadores de biologia animal para a avaliação do bem-estar. indicadores biológicos podem ser representados pela ocorrência de doenças, níveis de hormônios de estresse, ganho de peso, produção de leite, conversão alimentar, produção de fibra, presença de formas anormais de comportamento entre outros; b) escola que propõe a medida de estado mental (emoções) em animais. esta escola defende a hipótese de que o fator mais importante para a avaliação do bem-estar animal é identificar como eles se sentem: evitar sofrimento e propiciar formas positivas de vida. indicadores para monitorar preferência ou aversão a certos ambien- tes tem recebido muita atenção dos pesquisadores. técnicas utilizadas na área de economia para men- surar o “preço” que os animais estão preparados para “pagar” para obter certos recursos (ex. Fêmeas suínas trabalham para obter material para cons- truir o ninho antes do parto) ou para evitar certas situações (isolamento social, por exemplo) tem sido utilizadas. Medidas de ativação de áreas do cérebro associadas com emoções negativas como o medo e emoções positivas, como alimentação, também tem sido investigadas. o meu grupo de trabalho tem gerado informações importantes relacionadas com consequências de interações positivas e nega- tivas na organização das emoções e nos processos cognitivos de suínos, ovinos e aves e; c ) a terceira escola de pensamento advoga que o critério de mo- nitoramento de bem-estar animal deve ser obtido em relação a proximidade e ou distanciamento das condições de vida do animal e sua biologia de evo- lução. Por exemplo, suínos devem ter acesso a ma- eNtRev i s ta Professor Adroaldo Zanella Revista CFMv - Brasília/DF - ano Xvi - nº 50 - 2010 5 terial para fuçar e aves de postura devem ter acesso a ninhos para depositar os ovos. 2. Considerando que existe uma demanda crescente dos mercados consumidores, em nível mundial, como se pode compatibilizar questões de bem-estar animal e econômicas, de forma a atender as exigências éticas da sociedade? Qual o papel a ser exercido pelo consumidor neste contexto? as pesquisas de atitude tem oferecido informa- ções precisas e categóricassobre o comprometimen- to dos consumidores em relação ao bem-estar ani- mal. Na união européia os parlamentares recebem mais cartas sobre questões relacionadas ao bem- estar animal do que qualquer outro assunto. uma pesquisa recente (eurobarometer) indicou um nível muito elevado de preocupação dos consumidores europeus com questões sobre o bem-estar animal. os consumidores indicaram que os critérios utiliza- dos para importar produtos de origem animal não podem ser diferenciados dos critérios que fazem par- te da legislação nacional de cada país. o Brasil tem respondido de forma efetiva as criticas em relação as condições de bem-estar animal. o comitê perma- nente estabelecido no dia 17 de março de 2008 tem oferecido um palco para os debates necessários. a pesquisa na área de bem-estar animal também está muito avançada no Brasil. eu acredito que o futuro do Brasil para responder questões sobre bem-estar ani- mal é promissor. o consumidor Brasileiro, hoje, tem acesso a produtos diferenciados. 3. Os sistemas intensivos de produção têm sofrido pressões no sentido de adotar boas prá- ticas de bem-estar animal. Do ponto de vista dos custos de produção, como compará-los com os sistemas ditos convencionais? um dos mitos que precisam ser atacados e resol- vidos de forma definitiva é o de que a melhoria do bem-estar animal está associada com aumento nos custos de produção. a questão não é simples assim. a grande proporção das melhorias no Brasil, poderão ser conduzidas com custo insignificante ou mesmo com ganhos de produção. a melhoria do transporte de animais para o abate é um dos exemplos. Boas práticas de manejo não são onerosas. Regras de aba- te humanitário também não apresentam custos exa- gerados. a mão-de-obra no Brasil é um dos tesouros que temos. a nossa tradição cultural ligada a produ- ção animal ainda é viva, pulsante e entusiasmada. Precisamos reciclar esta ligação com a produção animal para apresentá-la em um contexto que vai va- lorizar o bem-estar dos animais. eu aprendi uma lição belíssima em 1996 quando treinamos funcionários de um abatedouro em Campo grande. um funcio- nário extremamente habilidoso, surdo e mudo, se recusou a nos devolver a pistola de atordoamento que aprendeu a usar. Naquele período o abatedouro utilizava marreta e o funcionário imediatamente se deu conta do benefício em utilizar um método que hoje faz parte da rotina. o fantasma dos custos tem muito mais significado nos países de clima frio que precisam adequar as instalações à biologia animal para garantir a manutenção de bons índices de bem- estar animal. o controle e manejo da dor é um dos aspectos que precisa ser abordado em animais de produção que poderá onerar os custos. 4. Levando em conta os inúmeros estudos conduzidos em parceria com grupos de pesqui- sa de vários países, quais as práticas de manejo aplicadas aos animais de produção que considera problemáticas sob a ótica do bem-estar? eu acredito que alguns problemas são globais e exigem atenção imediata. alojamento de porcas no período de gestação é um problema sério, cuja solução existe. É inaceitável manter um animal com a complexidade comportamental como do suíno sem possibilidades de exercitar-se. o mesmo é verdadei- ro para questões relacionadas com o alojamento de aves de postura, com a diferença de que soluções ainda não são ótimas. Problemas de manqueira (claudicação) em várias espécies são muito sérios e comprometem o bem-estar. gado leiteiro em espe- cial apresenta um índice crescente de lesões podais em todo mundo. Problemas do aparelho locomotor também afetam ovinos, frangos de corte, equinos. intervenções cirúrgicas sem controle da dor são ina- ceitáveis. Poderemos citar castração e caudectomia eNtRev i s ta “Na União Européia os parlamentares recebem mais cartas sobre questões relacionadas ao bem-estar animal do que qualquer outro assunto” Revista CFMv - Brasília/DF - ano Xvi - nº 50 - 20106 como exemplos em animais de produção. a legis- lação da Noruega proíbe a prática da caudectomia. Castração e descorna só podem ser conduzidos com controle da dor. as práticas de transporte de animais para o abate e o manejo pré-abate também ofere- cem muitas oportunidades para melhoria em todo o mundo. o Brasil tem mostrado liderança na área do bem-estar no abate de aves, por exemplo. Períodos de estresse como desmame, transporte, vacinação e outras formas de manejo precisam de estudos que indiquem formas de minimizar as consequências negativas para os animais. seleção genética dirigida a otimizar os processos de adaptação também deve ser levadas em consideração. 5. Os países-membros da União Européia têm elaborado legislações específicas acerca do bem- estar animal. Neste sentido, qual a relevância da certificação como garantia do bem-estar animal? Quais os reflexos destas normativas nos países exportadores, dentre os quais se destaca o Brasil? esta é uma pergunta difícil de responder. esta questão fez parte das reuniões da Wto (World tra- de organization) que não conseguiu deliberar em favor da restrição de comercialização entre países com normas nas questões de bem-estar animal. eu acredito que o processo natural, com o papel de liderança da oie (organização internacional de saúde animal), vai fazer com que o assunto pro- vavelmente volte a mesa de discussões. a deter- minação dos consumidores europeus é refletida nas pesquisas de opinião pública e eventualmente soluções precisam ser encontradas. existem pro- blemas sérios de bem-estar animal em todos os países que eu conheço. Não é um problema só do Brasil. o Brasil tem recebido muita atenção porque é um país de possibilidades inimagináveis. o Brasil é o maior competidor mundial na área de bovi- nos e um dos maiores nas áreas de suínos e aves. sem dúvida nenhuma o Brasil vai receber muita atenção dos países que competem no mercado de produtos de origem animal. as consequências de atos isolados não podem ser ignoradas. toda a industria pode ser “punida” por situações não diretamente relacionadas, eu cito como exemplo a questão de transporte marítimo de animais vivos por períodos prolongados. 6. Alguns segmentos da sociedade evidenciam a importância da regulamentação pública como um instrumento valioso em prol do bem-estar ani- mal. Qual a sua opinião acerca deste assunto? eu advogo que a legislação é um instrumento importante para garantir os níveis aceitáveis de bem- estar animal (nada menos do que o estabelecido). legislação nunca vai substituir a qualidade de mão- de-obra e atenção aos animais. No entanto o meu en- tendimento é que a legislação deve ser desenvolvida com base em critérios científicos que contribuam para a melhoria do bem-estar animal e também, para a sustentação dos sistemas de produção. 7. Qual a tendência mundial acerca das discus- sões sobre o bem-estar animal? eu tenho observado muito investimento em pes- quisa em várias partes do mundo. a minha cátedra de bem-estar animal na escola de veterinária em oslo é uma nova posição, criada pelo ministério da educação da Noruega. o Brasil tem programas emer- gentes na área de bem-estar animal e com certeza vai tomar um papel de liderança brevemente. Preci- samos agir com rapidez, investindo principalmente na formação profissional. 8. Finalizando, gostaríamos de saber como o bem-estar animal deve ser inserido na formação acadêmica do Médico Veterinário e do Zootecnista? o entendimento do comportamento animal e da avaliação do bem-estar animal deve ser parte fundamental da formação de profissionais ligados a Zootecnia e veterinária. Nas disciplinas tradicionais existentes a ênfase deverá ser implementada em questões de bem-estar animal, não só em animais de produção, mas em animais de laboratório, animais selvagens eanimais de companhia. É fundamental que profissionais ligados a medicina veterinária e zootecnia tomem liderança na área de pesquisa e ensino em bem-estar animal. obrigado pela oportu- nidade em dividir as minhas ideias com profissionais ligados a Medicina veterinária e Zootecnia. ”...o Brasil vai receber muita atenção dos países que competem no mercado de produtos de origem animal.” Revista CFMv - Brasília/DF - ano Xvi - nº 50 - 2010 7 DestaQues COMISSãO nACIOnAL DE SAúDE AMBIEnTAL é DESIGnADA PELO CFMV Para assessoria sobre temas relacio- nados ao meio ambiente, o Conselho Federal de Medicina veterinária (CFMv) designou os membros para a Comissão Nacional de saúde ambiental (CNsa), por meio da Portaria nº. 35, de 31 de maio de 2010. a Comissão é composta pela Presi- dente Claudia scholten e pelos mem- bros Maria izabel Merino de Medeiros, luciano Menezes Ferreira, Maria do Ro- sário lira Castro e por Maria auxiliadora gorga luna. De acordo com a Presidente, Cláudia scholten, “é notório o impacto das ati- vidades humanas sobre o ambiente, a degradação progressiva dos ecossistemas e da fauna, a conta- minação crescente da atmosfera, solo e água, bem como o aquecimento global. Nesse contexto, os Médicos veterinários e Zootecnistas podem e de- vem possuir consciência sobre esta nova dinâmica que integra a saúde animal, vegetal e humana e ampliar sua atuação”. OFICInA DE SAúDE PúBLICA APRESEnTA PROPOSTAS AO SISTEMA CFMV/CRMV Com a representação de quinze Conselhos Regionais de Medicina veterinária da Federação, a ii oficina de trabalho “integrando as Comissões de saúde Pública do sistema CFMv/CRMvs elaborou uma proposta para ações unificadas de saúde pú- blica veterinária dentro do sistema CFMv/CRMv. o evento foi realizado nos dias 25 e 26 de março, na sede do CFMv, em Brasília, DF. a oficina definiu três eixos importantes de atu- ação. Primeiramente, os participantes apoiaram a sugestão da Comissão Nacional de saúde Pública veterinária (CNsPv) para que existam comissões permanentes de saúde pública veterinária nos Con- selhos Regionais de Medicina veterinária. o segun- do eixo sugeriu ações para incentivar a formação acadêmica na área de saúde pública. Por fim, os par- ticipantes entenderam que devem ser incentivadas ações estratégicas junto aos gestores públicos para inserção do Médico veterinário em cargos relaciona- dos à saúde pública. Durante a oficina os participantes apresentaram as realidades regionais e experiências para os temas: controle de zoonoses; ações para esclarecimentos de gestores públicos sobre a atuação do Médico veterinário na saúde pública; mobilização para inclusão em concursos públicos; conscientização da classe; inspeção sanitária e o combate ao abate clandestino. o presidente da CNsPv do Conselho Federal, Paulo César augusto de souza, avalia que, a partir da primeira oficina realizada em 2008, é notável a evolução das discussões sobre o tema nos Conselhos Regionais. Maria Auxiliadora, Maria Izabel (em cima); Cláudia, Ferreira e Maria do Rosário integram a Comissão. Evento recebeu representantes de cinco regiões brasileiras entre as atividades previstas para discussão nesta Comissão está o incentivo à formação acadêmica aprofundada sobre temas relaciona- dos à saúde ambiental; busca de amparo legal para que os Médicos veterinários e Zootecnistas possam atuar nesta área; ampliação do mercado de trabalho; conscientização de atividades de pesquisa, entre outros. Revista CFMv - Brasília/DF - ano Xvi - nº 50 - 20108 SECRETáRIOS MunICIPAIS DE SAúDE SãO ESCLARECIDOS SOBRE ATIVIDADES DA MEDICInA VETERInáRIA esclarecer o papel do Médico veterinário em benefício da saúde da população e enfatizar a impor- tância da participação deste profissional nos Núcleos de apoio a saúde da Família (NasF) foram os princi- pais temas defendidos pelos membros da Comissão Nacional de saúde Pública veterinária (CNsPv), do CFMv, durante o XXvi Congresso Nacional de secre- tarias Municipais de saúde (CoNaseMs). o evento foi realizado em gramado, Rs, de 25 a 28 de maio. o CFMv esteve presente com um estande ins- tuticional que recebeu, entre outras autoridades, o Ministro da saúde, José gomes temporão e sua comitiva. No total, o evento reuniu cerca de 2.800 participantes entre secretários municipais de saú- de, gestores de saúde e demais interessados nas políticas de saúde dos municípios. Reunião com Secretário – em data anterior, dia 24 de março, a CNsPv foi recebida secretário Nacional de atenção a saúde, alberto Beltrame, do Ministério da saúde. Na reunião, os representantes da Comissão explicaram diretamente ao secretá- rio a importância de que o Médico veterinário participe das discussões sobre as políticas rela- cionadas à saúde da família, especificamente o Núcleo de apoio à saúde da Família (NasF). os integrantes aproveitaram para reencaminhar documentos sobre o tema. PARTICIPAçãO DA MEDICInA VETERInáRIA EM RESIDênCIA MuLTIPROFISSIOnAL nA SAúDE é DISCuTIDA COM GOVERnO Com objetivo de procurar esclarecimentos sobre a Residência Multiprofissional na saúde, especificamente sobre a participação da Medicina veterinária, representantes da Comissão Nacional de Residência em Medicina veterinária (CNRMv), do CFMv, se reuniram com o Coordenador geral do Departamento de gestão da educação na saúde, sigisfredo luis Brenelli, do Ministério da saúde. a reunião ocorreu no dia 4 de maio, em Brasília, DF. o Presidente da CNRMv, eduardo harry Birgel, explicou que atualmente, a Medicina veterinária não está inserida nos Programas de Residência Multiprofissional, pois nenhum dos Programas de Residência em Medicina veterinária existentes, avaliados e reconhecidos pela CNRMv apresenta vinculação ao sistema Único de saúde (sus) do Mi- nistério da saúde. as discussões sobre a Residência Multiprofis- sional e outros temas relativos aos Programas de Residência em Medicina veterinária serão apresen- tados no ii seminário Brasileiro de Residência em Medicina veterinária (foto) que será realizado dias 16 e 17 de agosto, em são Paulo, sP. Mais informações no site do CFMv (www.cfmv.org.br). Ministro da saúde visita estande do CFMV Revista CFMv - Brasília/DF - ano Xvi - nº 50 - 2010 9 DestaQues CNEZ dirigiu os trabalhos da Reunião Premiação reconhece trabalho de José Paulo de Oliveira De 24 a 26 de maio, os coordenadores de cursos de Zootecnia, representantes de Co- missões de ensino da Zootecnia de Conselhos Regionais de Medicina veterinária e outros in- teressados estiveram presentes no Xvi Reunião Nacional de ensino da Zootecnia. o evento foi realizado pela Comissão Nacional de ensino da Zootecnia (CNeZ) do CFMv na universidade Federal de tocantins, em Palmas, to, durante o Zootec 2010. Destacaram-se as palestras e discussões que trataram da bioética e bem-estar animal no ensino da Zootecnia, a apresentação sobre pa- tentes e inovação tecnológica, com novidades para incentivo ao empreendedorismo e as abor- dagens de incentivo aos programas de iniciação científica. a reunião contou com cerca de 100 zootec- nistas, que representaram mais de 20 estados da federação. o Zootecnista e professor, José Paulo de oliveira foi homenageado com o “Prêmio Professor octávio Domingues”, principal honraria concedida pelo CFMv a um Zootecnista. a premiação foi realizada durante a abertura do Zootec 2010, que neste ano aconteceu em Palmas, to, de 24 a 28 de maio. oliveira se graduou na universidade Federal Ru- ral do Rio de Janeiro (uFRRJ) em 1973, na primeira turma de Zootecnia desta universidade. especia- lizou-se em Metodologia de ensino superior pela uFRRJ (1980) e fez mestrado em Zootecnia na área de Nutrição animal (1983), pela escola superior de agriculturade lavras. tornou-se Doutor em Zoo- tecnia na Área de Nutrição animal em 2001, pela universidade Federal de lavras. iniciou suas atividades profissionais no ano de 1974 como professor em Zootecnia, como tam- bém atuou como extensionista rural. Foi diretor do instituto de Zootecnia; membro de Colegiados de Cursos de graduação e pós graduação e mem- bro pioneiro da Zootecnia Brasileira na Comissão de especialistas de ensino em Ciências agrárias. Publicou trabalhos técnico-científicos na área da Zootecnia em diversas revistas, anais de Congressos, simpósios e periódicos do País. atualmente, entre outras atividades, faz parte da Comissão Nacional de ensino de Zootecnia do CFMv. ZOOTECnISTA JOSé PAuLO DE OLIVEIRA RECEBE PRêMIO COnCEDIDO PELO CFMV EVEnTO DISCuTIu EnSInO DA ZOOTECnIA E O FuTuRO DA PROFISSãO Revista CFMv - Brasília/DF - ano Xvi - nº 50 - 201010 Informações detalhadas sobre estas e outras notícias no Portal CFMV (www.cfmv.org.br). em sua Xviii edição, o seminário Nacional de ensino da Medicina veterinária discutiu a impor- tância de se investir em novas ferramentas para a modernização das metodologias de ensino como também as diferentes formas de avaliação de cur- so. o evento foi realizado nos dias 31 de maio e 1 de junho, em Brasília, DF. a organização foi da Comissão Nacional de ensino da Medicina veterinária (CNeMv) do CFMv, com transmissão, em tempo real, pela internet. em seu discurso de abertura, o Presidente do CFMv, Benedito Fortes de arruda enfatizou que “pre- cisamos estar atentos às modernizações para nos adaptarmos às novas demandas da sociedade para a Medicina veterinária”, lembrando que o mundo pas- sa por uma era de informação e de transformações. em seguida, os palestrantes discutiram a impor- tância de uma visão humanística e a necessidade da um conhecimento generalista. ao apresentar a metodologia de ensino em discussão nos esta- dos unidos para a Medicina veterinária, o diretor da associação americana de universidades de veterinária (aavMC), Mike Chaddock, comentou a necessidade do incentivo de ensino para temas re- lacionados a liderança e empreendedorismo com a mesma preocupação que se tem para a educação de assuntos técnicos. as discussões também convergiram para as di- ferentes ferramentas de avaliação do ensino. Dentre elas, foram abordados o enade 2010, avaliações in loco dos cursos de Medicina veterinária e histórico sobre o exame Nacional de Certificação Profissional. O EnSInO DA MEDICInA VETERInáRIA E A IMPORTânCIA DA MODERnIZAçãO PARA A EVOLuçãO DO ESTuDO Na abertura, Mike Chaddock (AAVMC), Rafael Mondadori (CNEMV), Benedito Arruda (CFMV) e Paulo Wollinger (MEC) Revista CFMv - Brasília/DF - ano Xvi - nº 50 - 2010 11 CIRURGIA CARDÍACA EM PEQUENOS ANIMAIS InTRODuçãO apesar de ser realizada há aproximadamente quatro décadas, a cirurgia cardíaca veterinária encontra-se em fase inicial, com a aplicação, a con- solidação e o desenvolvimento de novas técnicas, realizados em alguns centros de cirurgias cardíacas, mas de forma incipiente. o interesse e o desenvolvi- mento desta área da cirurgia têm sido expressivos nos últimos anos. No Brasil, alguns serviços despon- tam, iniciando um ciclo que promete ser próspero. atualmente os procedimentos podem ser sepa- rados em dois grupos, o da cirurgia intra-cardíaca e o da extra-cardíaca, sendo que no primeiro necessita- se do suporte da circulação extracorpórea, tornan- do-o ainda mais restrito. a cirurgia intra-cardíaca tem representado um desafio, seja por falta de conhecimento técnico específico, pelos equipamentos dispendiosos ou mesmo pela ausência de equipe apropriadamente treinada. Diante de sua longa duração e do alto risco, falhas não são admitidas, havendo a neces- sidade de concentração e planejamento por parte do cirurgião e de sua equipe (oliveira et al., 2006a; oliveira et al., 2006b). são diversas as indicações para as cirurgias cardiovasculares, entre elas tetralogia de Falot, anomalias de anéis vasculares, comunicação inter- atrial, comunicação inter-ventricular, dirofilariose, persistência do ducto arterioso, doenças valvula- res, neoplasias, traumas, cardiomiopatia dilatada, estenose aórtica e estenose pulmonar (De Boer et al., 1992; orton e McCracken, 1995). o animal deve ser avaliado minuciosamente através de exames clínicos, laboratoriais (hemo- grama, uréia, creatinina, ast, alt, fosfatase alcalina, glicose, cálcio, sódio, potássio e cloretos), radioló- gicos, eletrocardiograma, holter e ecocardiografia. Quanto aos materiais cirúrgicos utilizados em Figura 1 - Esternotomia mediana realizada em um cão. C i R u R g i a C a R D í a C a a RQ u iv o P es so a l Revista CFMv - Brasília/DF - ano Xvi - nº 50 - 201012 prodecimentos desta natureza, além daqueles considerados gerais, são necessárias ferramentas especiais, como pinças vasculares, serras para es- ternotomia, afastador de Finochietto, entre outras. a máquina de circulação extracorpórea também pode ser indicada, assim como equipamentos de monitorização especiais (Paschoal, 1996). Não menos importante é o apoio da terapia in- tensiva, essencial para promover a recuperação ade- quada aos animais submetidos a estas operações. ACESSOS CIRúRGICOS existem dois principais acessos: esternotomia: é o procedimento de escolha para a maioria das cirurgias intra-cardíacas e afecções do mediastino. são feitas incisões de pele e de tecido subcutâneo na linha média. em seguida realiza-se uma incisão na origem dos músculos peitorais em toda a extensão do externo e a esternotomia é reali- zada com o auxilio de uma serra oscilatória ou de um costótomo (Figura 1) (Paschoal, 1996). temos utiliza- do atualmente um costótomo adaptado no intuito de minimizar os custos referentes à serra. toracotomia unilateral: a escolha do espaço intercostal é dependente da região que se deseja o acesso. a técnica operatória deve ser iniciada com incisões de pele e de tecido subcutâneo. No primeiro plano muscular procede-se a incisão dos músculos grande dorsal e peitoral. em seguida, no segundo plano muscular, os músculos serrátil ventral e escaleno são seccionados. identifica- se os músculos intercostais externos e internos com sua incisão na sequência. Pode ser realizada também a toracotomia unilateral conservadora, onde o acesso é realizado pelo deslocamento caudal da costela, após sua desarticulação cos- tocondral. a costela deslocada é fixada caudal- mente à próxima costela, permitindo o acesso ao tórax através da incisão da pleura parietal. a van- tagem desta técnica sobre a anterior refere-se ao amplo acesso proporcionado e à menor dor no pós-operatório. apresenta como desvantagem a maior dificuldade técnica e o tempo cirúrgico prolongado. CIRuRGIA CARDÍACA serão descritas algumas técnicas de cirurgia cardíaca, relatando a nossa experiência em sua execução. PERICARDIECTOMIA o pericárdio é um saco fibrótico, avascular, que reveste o coração. É composto de duas lâminas: a visceral, aderida ao epicárdio e a parietal, composta de colágeno e elastina. uma desliza sobre a outra, pois entre elas existe uma pequena quantidade de líquido seroso. Por ser inelástico, o pericárdio limita dilatações cardíacas agudas, porém pode se adap- tar em longo prazo (godoy et al., 2007). a pericardiectomia pode ser citada como um dos procedimentos mais simples da cirurgia cardía- ca, mas mesmo assim necessita cuidados referentes a execução da técnica e acompanhamento pós- operatório adequado. ela está indicada em efusão pericárdica e constrição pericárdica. a efusão pericárdica pode Revista CFMv - Brasília/DF - ano Xvi - nº 50 - 2010 13 C i R u R g i a C a R D í a C a ser ocasionada por falência cardí- aca direita, neoplasias,infecção, encarceramento de lobo hepático em hérnia peritoneo-pericárdica, peritonite infecciosa felina e to- xoplasmose em gatos. efusões idiopáticas também têm sido rela- tadas, bem como em casos agudos de ruptura atrial esquerda secun- dária à insuficiência mitral crônica e devido a coagulopatias. a pericardiectomia subfrênica tem sido utlizada com frequência para a correção de diversas afec- ções. após acesso unilateral, o peri- cárdio é removido com uma incisão ventral ao nervo frênico em direção ao ápice do coração. esta incisão é prolongada no sentido transversal do coração, abaixo do frênico até a face contralateral. CORREÇÃO DE PERSISTÊNCIA DE DUCTO ARTERIOSO a persistência do ducto arterioso (PDa) é a doença cardíaca congênita encontrada com maior frequência em cães. a forma mais comum é carac- terizada pelo desvio sanguíneo da esquerda para a direita, embora, mais raramente, presencie-se a PDa reversa, ou seja, com inversão do fluxo através do ducto (stopiglia et al.,2004). esta condição leva à dilatação e hipertrofia do ventrículo esquerdo, ocasionando uma distensão do ânulo da válvula mitral e, consequentemente, regurgitação. um PDa não tratado pode levar a um fluxo de sangue da direita para a esquerda – PDa reverso – podendo desenvolver sintomatolo- gia mais severa e progressiva falência do coração esquerdo. esta condição habitualmente não é tratada cirurgicamente. o acesso cirúrgico que utilizamos é o unilateral esquerdo no quarto espaço intercostal. Devemos identificar e dissecar o nervo vago que se localiza acima do ducto arterioso, sendo este delicada- mente afastado com duas fitas cardíacas. o ducto também é dissecado, sendo isolado nas suas extre- midades proximais e distais com pinças vasculares em ângulos ou com fitas cardíacas, sendo realiza- da ligadura dupla do ducto. o procedimento cirúrgico para correção do PDa é simples, mas deve ser realizado de forma cuidadosa. Não se deve, por exemplo, tracionar o ducto com muito vigor, já que isto poderia ocasio- nar a ruptura de uma das artérias. CORREÇÃO DE ANOMALIAS DE ANÉIS VASCULARES as anomalias dos anéis vasculares são altera- ções congênitas provocadas por defeitos na em- briogênese dos arcos aórticos (sturion et al.,2008). a persistência do quarto arco aórtico direito, a persistência do arco aortico direito com artéria subclávia esquerda exuberante, o duplo arco aór- tico, a persistência do ligamento arterioso direito com arco aórtico esquerdo normal e a subclávia direita exuberante com arco aórtico normal são as anomalias dos anéis vasculares mais observadas em cães. Dentre as anomalias de anéis vasculares, a mais comum em nossa rotina é a persistência do quarto arco aórtico direito (PaD). Diante do diagnóstico da PaD, a sua correção não deve ser protelada sob pena de resultados desfavoráveis. No exame radiográfico contrastado observa-se a dilatação do esôfago cranial à base do coração. Regurgitação, desnutrição e pneumo- nia por aspiração são achados comuns. a anomalia de anel vascular deve ser corrigida através de um acesso torácico unilateral esquerdo no quarto espaço intercostal. a ligadura e a secção do anel vascular devem ser realizadas cuidadosa- mente. Não raro, a identificação da anomalia só é possível durante a operação, com isto exige-se do cirurgião um bom conhecimento anatômico. Figura 2 - Técnica de Blalock-Taussig para correção de Estenose pulmonar em cão. a RQ u iv o P es so a l Revista CFMv - Brasília/DF - ano Xvi - nº 50 - 201014 uma dilatação severa do esôfago cranial à base do coração pode ser um indicativo de prognóstico reservado. observamos ainda que a presença de dilatação de todo o esôfago torácico não deve descartar o diagnóstico de anomalias de anéis vasculares, sendo na verdade um indicativo de lesão no nervo vago e de hipomotilidade quan- do confirmada a anomalia de anel vascular, com prognóstico reservado. Podemos desta maneira afirmar que um diag- nóstico precoce e sua correção são fatores impor- tantes para um melhor prognóstico. TÉCNICA DE BLALOCK-TAUSSIG em 29 de novembro de 1944, alfred Blalock e helen taussig desenvolveram uma técnica cirúrgica que iniciou uma nova era, a do tratamento cirúrgico para as doenças cianóticas. os resultados iniciais foram recebidos com grande simpatia pela comu- nidade cientifica da época. as complicações não tardaram a acontecer, como a trombose, levando ao desenvolvimento de instrumentos e da técnica que atualmente apresenta algumas variações. Na medicina veterinária, esta técnica tem sido indicada na estenose pulmonar e na tetra- logia de Fallot e tem por objetivo a construção de um shunt aórtico-pulmonar, melhorando a oxigenação sanguínea. algumas vantagens são descritas com relação a esta cirurgia: proporciona uma incidência baixa de insuficiência cardíaca congestiva e de doença vascular pulmonar; o seu fechamento é simples e não há anormalidades tardias após a cirurgia reparadora. o acesso cirúrgico se faz pela toracotomia unilateral esquerda no quinto espaço intercostal. após a dissecção da subclávia esquerda e ligadu- ra dos seus ramos, realiza-se a ligadura e a secção da subclávia esquerda antes da sua ramificação. uma pequena incisão longitudinal é realizada no segmento que será anastomosado para alargar a subclávia. em seguida, uma anastomose térmi- no-lateral da subclávia esquerda com a artéria pulmonar é feita com padrão de sutura continuo e fio de polipropileno ou polidioxonone 5-0 ou 6-0 (Figura 2). a sutura deve ser meticulosa obe- decendo as normas básicas de uma anastomose vascular, e a anastomose feita do lado oposto do arco aórtico para evitar o acotovelamento na ori- gem da artéria subclávia. PLICATURA VENTRICULAR a cardiomiopatia dilatada é um desafio para os médicos veterinários e humanos. Na medicina hu- mana culmina com o transplante cardíaco, que ainda não é realizado na rotina da medicina veterinária. o remodelamento cardíaco foi descrito na medicina humana, mas a técnica de ventriculectomia vem caindo em desuso devido aos resultados insatisfató- rios. Na medicina veterinária o Prof. James andrade descreveu uma nova técnica bastante promissora em 2001, a plicatura da parede livre do ventrículo esquerdo (andrade et al. 2004). esta técnica ainda carece de maiores estudos clínicos, mas poderá ser no futuro uma alternativa interessante para animais com insuficiência cardíaca ocasionada pela cardio- miopatia dilatada. o acesso cirúrgico é realizado por uma toracoto- mia unilateral esquerda no sexto espaço intercostal. Realiza-se a pericardiectomia em t. o coração é mo- bilizado colocando-se uma compressa umedecida no seu lado direito, luxando o coração lateralmente com intuito de facilitar a confecção da plicatura. a plicatura é realizada com três pontos em u com fios de polipropileno 2-0 transfixantes, apoiados em pró- teses de pericárdio bovino em tiras na parede livre do ventrículo esquerdo, do ápice ao seu terço dorsal, por baixo do ramo marginal ventricular esquerdo. antes do aperto final dos nós, utilizamos o tornique- te de Rummel para um aperto provisório, com intuito de verificar as alterações causadas pela plicatura ven- tricular (figuras 3). Para minimizar a morbidade pós-operatória, o pós-operatório deve ser realizado em uma unidade de terapia intensiva. Figura 3 -Plicatura ventricular esquerda para cães com cardio- miopatia dilatada. a RQ u iv o P es so a l Revista CFMv - Brasília/DF - ano Xvi - nº 50 - 2010 15 C i R u R g i a C a R D í a C a VALVULOPLASTIA PULMONAR COM ENXERTO Com o intuito de ampliar o óstio valvar, a cor- reção definitiva da estenose pulmonar pode ser realizada através da valvuloplastiacom uso do enxerto de pericárdio bovino ou com politetraflu- oroetileno (PtFe). É um procedimento laborioso e que exige a utilização da circulação extracorpórea (CeC) para que possa ser realizado de maneira adequada. além da ampliação do óstio valvar podemos realizar a reconstrução da válvula com o pericárdio. algumas próteses de pericárdio já vem com a válvula disponível. entretanto, a recons- trução valvar não é indispensável, pois o coração funciona de forma adequada de maneira trivalvar, ou seja, sem a válvula pulmonar. animais com hipertrofia infundibular, esteno- se severa, displasia valvar ou quando não respon- de à dilatação valvar transventricular (acreditamos que esta técnica não oferece resultados satisfató- rios) são bons candidatos à realização da técnica do enxerto. após a colocação do animal em CeC faz-se uma incisão longitudinal com inicio no átrio direito em direção à artéria pulmonar, passando pela válvula pulmonar. a região valvar é inspecionada e a vál- vula pulmonar doente é removida. Modela-se o enxerto em formato elipsóide, de forma que este se adapte à região operada. Faz-se uma sutura contínua, transfixante e com fio de polipropileno 2-0. Deve-se seguir os princípios da sutura vascu- lar. uma reposição valvar, caso seja necessária, é feita a partir de um flap do enxerto, que é suturado perpendicularmen- te ao primeiro enxerto, na re- gião correspondente da valva pulmonar e com tamanho adequado ao óstio pulmonar operado. Neste caso a válvula pulmonar fica reconstruída de maneira univalvar (Figura 4). TÉCNICA DE DE VEGA PARA CORREÇÃO DE DIS- PLASIA DE TRICÚSPIDE a displasia de tricúspide é uma má formação congênita. a regurgitação da tricúspide é a manifestação mais comum, entretanto pode ocorrer tam- bém a estenose. Com isto ocorre a falência do coração direito. a técnica cirúrgica adotada por alguns au- tores é a da anuloplastia por anel ou a substituição valvar por uma prótese. Neste último caso, no en- tanto, além do alto custo, há a necessidade do uso de anticoagulantes no pós operatório. Preconiza- mos a técnica de De vega pela sua simplicidade e menor custo em relação às demais. É necessário que o animal esteja em circula- ção extracorpórea. um fio de polipropileno 2-0 é passado por um pedaço de pericárdio bovino ou teflon, e a linha de sutura é iniciada perto da co- missura entre os folhetos anterior e septal. a sutu- ra progride lateralmente, paralela ao folheto ante- rior. Perto da comissura, entre os folhetos septal e posterior, ela é passada em outra área do enxerto e levada de volta à sua origem. a sutura é finalizada por cima do pedaço medial do enxerto e, à medida que é apertada, o ânulo da válvula é diminuído (Fi- gura 5). a competência da válvula é verificada com uma injeção de solução salina fisiológica gelada dentro do ventrículo direito. COMISSUROTOMIA PARA CORREÇÃO DE DISPLASIA DE TRICÚSPIDE a estenose da válvula tricúspide é menos comum, entretanto ela pode acontecer em pequenos animais, e a sua correção se faz pela comissurotomia da válvula tricúspide. a técnica é realizada através de incisões nas comissuras, com bisturi, até 3 mm do ânulo. Nor- malmente não é necessário qualquer tipo de reparo Figura 4 - Técnica do Flap para correção de Estenose Pulmonar em cão. a RQ u iv o P es so a l Revista CFMv - Brasília/DF - ano Xvi - nº 50 - 201016 nas cordoalhas. o uso de um anel protético pode ser necessário para evitar o estreitamento do orifício. CORREÇÃO DE COMUNICAÇÃO INTERATRIAL (CIA) E INTERVENTRICULAR (CIV) a Cia não é um defeito comum em pequenos animais. a Civ é um defeito importante por suas repercussões clínicas de grande gravidade. Na cor- reção destes defeitos é importante que a CeC seja realizada com a canulação bicaval, pois o acesso é feito pelo átrio direito. o reparo do defeito pode ser realizado com a sutura de um enxerto autóge- no de pericárdio ou com a utilização de pericárdio bovino. a Cia foi a primeira cirurgia intracardíaca reali- zada com sucesso em seres humanos. atualmente o índice de sucesso em humanos é próximo a 100%. existem três tipos de defeitos possíveis, o seio venoso (forame oval patente), o ostium pri- mum e o ostium secundum. a maioria dos defeitos são assintomáticos, mas podem causar problema respiratórios crônicos, intolerância ao exercício e falência cardíaca direita, sendo indicada a cirurgia. o Civ pode ocasionar insuficiência cardíaca congestiva, infecções pulmonares recorrentes e hipertensão pulmonar. o defeito perimembra- noso é o mais comum em pequenos animais, mas também pode ocorrer o supracristal e o defeito do septo muscular. No defeito perimembranoso uti- lizamos a técnica cirúrgica com acesso pelo átrio, que é aberto por baixo da auriculeta direita até Figura 5 - Visão da válvula tricuspide através de acesso no atrio direito para correção de displasia de tricuspide pela técnica de De Vega em cão. perto da junção da cava caudal. uma sutura pode ser colocada no folheto anterior da válvula tri- cúspide para melhor exposição da lesão. a sutura com fio de polipropileno é iniciada do lado direito da borda inferior e é continuada no sentido anti- horário. a outro lado é levado no sentido horário. a porção superior do retalho é então suturada à base do folheto septal. CIRuRGIA DE MEDIASTInO E HéRnIAS CIRURGIA DO MEDIASTINO o timoma é o tumor de mediastino mais comum em pequenos animais, é encapsulado e, em geral, não invasivo. a metástase é rara. Para sua remoção indicamos o acesso por ester- notomia. apesar de ser mais laborioso, a remoção do tumor se torna fácil e com bons resultados. uma complicação importante é a mediastinite. o tratamento precoce pode minimizar os casos de morbidade e mortalidade. a sepse é uma evolução comum destes casos. o tratamento cirúrgico inclui a drenagem e a irri- gação do mediastino, assim como o debridamento do esterno. Nestes casos pode acontecer a lise do esterno dificultando o fechamento do tórax. Quando isto acontece podemos utilizar a técnica de Robicsek para a síntese da parede. Nesta técnica é preconiza- do o uso de um trançado com fio de aço paraesternal, envolvendo bilateralmente as costelas e que são aproximados através de pontos simples posicionados transversalmente ao esterno. a estabilização do tórax é importante para a recuperação do animal. tumores esofagianos decorrentes de Spirocerca sp são frequentes em algumas re- giões do Brasil. a remoção cirúrgica destes tumores deve ser realizada, sendo necessá- ria uma anastomose do esôfago. operações no esôfago podem resultar, com frequên- cia, em deiscência da sutura. HÉRNIA DIAFRAGMÁTICA TRAUMÁTICA a hérnia diafragmática traumática é uma afecção comum em pequenos animais, sendo mais frequente em felinos. o fígado é o órgão mais comumente envolvido e pode acontecer tanto do lado direito quanto do esquerdo. sua correção é feita por acesso to- rácico ou abdominal. usualmente utilizamos o acesso abdominal e comumente a recons- a RQ u iv o P es so a l Revista CFMv - Brasília/DF - ano Xvi - nº 50 - 2010 17 C i R u R g i a C a R D í a C a aNDRaDe, J.N.B.; CaMaCho, a.a.; saNtos, P.s.P. et al. estudo da função ventricular na técnica de plicatura da parede livre do ventrículo esquerdo em cães. Re- vista Brasileira Cirurgia Cardiovascular, vol.19, n.2, p. 136-143, 2004. De BoeR, l.W.; RaBJhoNs, R.R.; Nutt, ,.P. effects of oxy- genated cardioplegic solutions on myocardial aerobic metabolism. Scandinavian Journal of Thoracic and Cardiovascular Surgery. n.104, p. 632-636, 1992. goDoY, M. F.; FRaNCisChi, F. B.; PaveRiNo, P. R.; et al. Forma inusitada de Pericardite Crônica Constritiva idiopática. Revista Brasileira CirurgiaCardiovascu- lar, v. 22, n\1, p. 30-37, 2007. oRtoN, e.C., McCRaCKeN, t.o. Small Animal Thoracic Surgery. Fort Collins: Willians & Wilkins, 1995. 256p. oliveiRa, a.l.a.; PasChoal, a.t., saNtos, C.l.; et al. Coleta do bloco cárdio-pulmonar pela técnica de auto-perfusão em cães. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, n.58 (suppl 1). p.17-19, 2006. oliveiRa, a.l.a.; PasChoal, a.t., saNtos, C.l.; et al. transplante cardíaco em cães. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia. n.58 (suppl 1). p.81-82, 2006 PasChoal, a.t. Proteção miocárdica no transplante cardíaco: revisão de literatura. Rio de Janeiro. 1996. 160f. tese de mestrado. Faculdade de Medicina-uFRJ. stoPiglia, a.J.; FReitas, R.R.; iRiNo, e.t.; et al. Persistência de ducto arterioso em cães: revisão. Revista de Educa- ção Continuada do CRMV-SP. v. 7, n.1-3, p. 23-33, 2004 stuRioN, D. 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HÉRNIA PERITONEOPERICÁRDICA É uma malformação congênita do pericárdio. afeta cães e gatos e é comum na raça Weimeraner e em gatos persas. a laparotomia mediana pré-umbilical é o aces- so indicado para a correção cirúrgica. o fígado é o órgão mais comumente envolvido, e a sua correção é similar ao da hérnia traumática. em alguns casos, faz-se necessária uma esternotomia da porção cau- dal do esterno devido a aderências e dificuldades de redução do conteúdo herniário. PÓS-OPERATÓRIO Para a estabilização e a recuperação do paciente no período pós-operatório, é imprescindível que seja estabelecido um suporte de terapia intensiva, com cuidados relativos à reposição de volume, ao equilíbrio eletrolítico e ácido-básico, drenagens torácicas, identificação de sangramentos, mecânica respiratória e controle da dor e dos parâmetros he- modinâmicos. Podemos afirmar que procedimentos de cirurgia intracardíaca somente são possíveis se estes cuidados foram tomados nas etapas seguintes. COnSIDERAçÕES FInAIS Com o surgimento da especialidade da terapia intensiva em nosso meio, um suporte adequado para a recuperação dos pacientes em cirurgia torácicas, em especial a cardíaca, tornou-se possível. Como conse- quência, melhores resultados serão alcançados. Para o desenvolvimento desta especialidade ci- rúrgica, é necessário dar ênfase ao ensino e ao treina- mento de profissionais. Duas âncoras são fundamen- tais neste processo: as escolas veterinárias, no papel de criar condições específicas para este crescimento, e os eventos científicos, ao popularizarem o acesso às novas informações, fomentando o seu crescimento e a difusão do conhecimento. Na universidade estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (ueNF) fomentamos este desenvolvi- mento através do treinamento dos alunos da gradu- ação das técnicas cirúrgicas básicas concernentes à cirurgia torácica e, na pós-graduação, efetuando um treinamento de procedimentos avançados. os resul- tados têm sidos encorajadores. Revista CFMv - Brasília/DF - ano Xvi - nº 50 - 201018 a criação intensiva de porcos para a produção de carne suína é uma das principais atividades agrícolas na região sul. No Centro oeste, em particular no es- tado do Mato grosso do sul, a recente atividade de suinocultura vem se desenvolvendo pelo trabalho de imigrantes do sul do país. a chegada dessas po- pulações vem transformando parcela significativa do bioma Cerrado em áreas de agricultura com elevado uso de insumos e de energia não renováveis. No mu- nicípio de são gabriel do oeste, a 130 km ao norte de Campo grande, a modificação da paisagem em áreas agrícolas pode ser constatada ao se trafegar pela BR- 163. a população vivente em são gabriel do oeste é hoje estimada em cerca de 20 mil habitantes e pouco mais de 40 % da economia local é impulsionada por uma cooperativa voltada a produção de ração ani- mal a base de milho e de carne suína. o aumento da demanda nacional e internacional por carne suína estimula o incremento da produção. AGROSUINOCULTURA: SOLUÇÃO SUSTENTÁVEL BRASILEIRA ag R o s u i N o C u lt u R a em um futuro não distante, atendendo a essa deman- da, municípios com vocação similar ao de são gabriel do oeste devem amplificar a produção de carne suína. o aumento da produção certamente gera receita e ga- nhos do ponto de vista social, especialmente quando os produtores cooperados fazem parte de assenta- mentos rurais de reforma agrária. Contudo, uma maior produção traz consigo a responsabilidade de gestão apropriada dos resíduos gerados na cadeia produ- tiva (ver revisão apurada sobre o tema em oliveira e Nunes, 2002). Na prática, o cooperado produtor de porcos deve evitar que os dejetos sejam despejados de forma inadequada na natureza. isso pode ser visto como um desafio árduo e oneroso pela perspectiva da mitigação das externalidades ambientais, tais quais a contaminação do solo, dos recursos hídricos e as emissões de gases de efeito estufa na atmosfera, es- pecialmente Ch4 (metano) e N2o (óxido nitroso), cujos potenciais de aquecimento global de uma tonelada shutteRstoCK Revista CFMv - Brasília/DF - ano Xvi - nº 50 - 2010 19 Figura 1. Modelo de uma cadeia não sustentável de produção de carne suína, com baixa eficiência no uso dos recursos naturais e de baixa diversidade de produtos. Nesse sistema as entradas e as perdas de energia e de materiais são muito elevadas em comparação ao único produto gerado (carne suína). são respectivamente 25 e 298 toneladas de Co2 equi- valentes para um horizonte de 100 anos (Forster et al., 2007). No entanto, há espaço para desenvolver solu- ções interessantes para lidar com os resíduos dos sis- temas intensivos de criação de porcos, transformando as externalidades ambientais em elemento chave para uma agricultura brasileira eficiente, diversificada e efetivamente sustentável, aqui convencionada de agrosuinocultura, que pode alcançar balanços sociais, econômicos e ambientais favoráveis, muito além da produção de carne suína. os incrementos de produtividade das últimas dé- cadas, alicerçadas em pesquisas realizadas por uni- versidades, institutos de pesquisa e pela embrapa, vem permitindo avanços importantes para a conso- lidação gradual de uma agricultura de base susten- tável no país. existe, entretanto, um limite planetário para a operação segura da agricultura, de modo que serviços dos ecossistemas sejam adequadamente mantidos no longo prazo e não criem mudanças am- bientais irreversíveis e altamente danosas à huma- nidade (Rockström et al., 2009). Quando se fala em agricultura sustentável subentende-se i) a inclusão social, ii) o uso de energias renováveis na cadeia pro- dutiva e iii) a manutenção da integridade dos ecos- sistemas, os quais fornecem fluxos e estoques de bio- diversidade, água doce e de carbono e nitrogênio em níveis seguros (serviços ambientais). em suma, a sustentabilidade envolve a dimensão humana na- turalmente integradaà estrutura e ao funcionamen- to do ecossistema predominante na escala de bacia de drenagem. Por este prisma, o surgimento de uma “nova fase da agricultura brasileira”, deve estar neces- sariamente ligado ao uso eficiente de recursos hu- manos e de recursos da natureza (agroecossistema), com menor dependência de insumos e combustíveis (fósseis) não renováveis como fertilizantes químicos, gás natural, carvão e diesel. a Figura 1 descreve esquematicamente um agro- ecossistema para uma cadeia produtiva tradicional de carne suína, sem estratégias ou ações de gestão de resíduos e fortemente dependente de insumos e energia não renováveis. a produção de carne suína é pequena considerando-se o aporte de materiais e energia não renováveis. uma fração significativa dos materiais e de energia é perdida na forma de gases de efeito estufa ou na forma de efluentes líquidos que po- dem eventualmente contaminar os solos e os recursos hídricos superficiais e subterrâneos. além disso, utili- za-se basicamente água valiosa do aquífero na cadeia produtiva, inclusive para a limpeza das granjas. Por outro lado, a gestão dos resíduos a partir da inovação e do uso de novas tecnologias pode tornar a ca- deia produtiva mais eficiente, ou seja, menos poluidora e muito mais lucrativa. a busca pela otimização do uso dos recursos naturais é essencial nesse contexto. a Figura 2 apresenta a mesma coopera- tiva operando de forma mais equilibrada em relação ao meio ambiente. e a biodiges- tão anaeróbica desempenha um papel fundamental nesse processo. É por meio da biodigestão em fluxo contínuo dos deje- tos das granjas que se inicia a sustentabilidade integrada e diversificada da agrosuinocul- tura. a biodigestão controlada soluciona, em grande medida, a questão do carbono. Na au- sência de oxigênio, quase todo carbono orgânico lábil é con- vertido a biogás por bactérias a g R o s u i N o C u lt u R a sh u tt eR st o C K Revista CFMv - Brasília/DF - ano Xvi - nº 50 - 201020 Figura 2. Modelo de uma cadeia sustentável, integrada e diversificada de agrosuinocultura, baseada em energia renovável (biogás e eletricidade), aproveitando ao máximo os recursos naturais (água e petróleo) para a produção de diversas commodities agrícolas e de eletrici- dade, minimizando as perdas para a natureza na forma de externalidades ambientais. Note, ainda, o maior uso de água de chuva que água do aquífero para a limpeza das granjas e para a irrigação de culturas. metanogênicas. os biodiges- tores permitem que o biogás rico em metano seja recupera- do para a geração de energia mecânica (motobombas) ou elétrica (motogeradores). Para uma granja de mil suínos pode-se produzir em média 25 m3 de biogás por hora, o equivalente em energia de 70 a 150 kWh por hora, depen- dendo da eficiência do motor. Parte dessa energia pode ser usada na propriedade e o excedente pode ser eventu- almente comercializado com concessionárias distribuido- ras de eletricidade, interessa- das em geração Distribuída. as motobombas movidas a biogás podem ser usadas na fertirrigação de pastagens com o uso de carretéis de irri- gação controlada e automati- zada. Com esse sistema é possível ajustar com precisão a quantidade aspergida de dejetos biodigeridos, isto é, de biofertilizante rico em nutrientes (especialmente nitrogênio nas formas reduzidas de Nh3 (amônia) e Nh4 + (amônio)) numa dada área agrícola da propriedade. a embrapa Pantanal e a universidade Federal do Mato grosso do sul (uFMs), em parceria com a embrapa suínos e aves, a Prefeitura Municipal de são gabriel do oeste, a Cooperativa agropecuária de são gabriel do oeste, agricultores do assentamento Campanário e parceiros privados, vem realizando estudos para se determinar a dosagem ideal para o tifton, de modo que ocorra o máximo de incremen- to de produção de fitomassa na pastagem e o mínimo de perdas de nitrogênio oxidado na forma de N2o para a atmosfera e na forma de nitrato para o solo e corpos d´água superficiais e subterrâneos (Ber- gier et al., 2008). No campo, a fer t irr igação pode ser feita adotando-se o princípio de rotação de parcelas ou piquetes, de modo a man- ter níveis elevados de fitomassa para a criação contínua de gado semi-confinado. esta é uma das propostas do Pisa (Produção integrada de sistemas agropecuários), promovido pelo Ministério da agricultura, Pecuária e abas- tecimento (MaPa) e do ilPF (integração lavoura- Pecuária-Florestas) promovido pela embrapa. o gado é rotacionado entre as parcelas em sincronia com a fertirrigação mas fora de fase, com diferença de dias ou semanas, para que a qualidade da pasta- gem consumida pelo gado seja a melhor possível. esse sistema de produção integrada ainda requer estudos e pesquisas para se determinar melhor a diferença de fase e a sincronicidade de rotação de gado e de fertirrigação. Definidos esses parâmetros, a prática integrada e sincronizada em parcelas fer- Figura 3. Agrosuinocultura no município de São Gabriel do Oeste. A) motobomba que extrai biofertilizante (efluente biodigerido) das lagoas e distribui em culturas de forma controla- da através de um carretel automatizado de irrigação (B) e de um canhão (C) . th ia g o C o PP o la (e M BR a Pa P a N ta N a l) Revista CFMv - Brasília/DF - ano Xvi - nº 50 - 2010 21 tirrigadas com o gado pode viabilizar a produção contínua de carne e leite em áreas agrícolas relati- vamente pequenas, como em assentamentos rurais variando de 10 a 20 hectares. a otimização do uso dos recursos da natureza, por meio da suinocultura, da biodigestão e da inovação em máquinas e processos (ou seja, pela agrosuinocultura), pode também propiciar uma restauração indireta de biomas, tendo em vista a substituição de sistemas de produção extensiva por sistemas de produção intensiva em pequenas áreas. Portanto, biomas podem ser restaurados, visando fontes de renda adicionais com créditos de carbono oriundos do ReDD (sigla em inglês para Redução de emissões por Desmatamento e Degradação Flores- tal) que deverá em breve fazer parte de acordos in- ternacionais de mitigação de emissões de gases de efeito estufa. o mesmo pode ser vislumbrado para a produção de madeira e outros produtos florestais (papel, carvão vegetal, briquetes, etc), bem como para a produção de biofertilizante processado, em estado sólido, oriundo do lodo retido no biodiges- tor (carbono mais refratário rico em nitrogênio) e biomassa vegetal pirolisada (combustão na ausência de oxigênio para produzir biochar). esses estudos, com a biomassa de aguapé cultivado nas lagoas de efluentes biodigeridos iniciam em 2010, em colaboração com o recém aprovado Macropro- grama 2 da embrapa “aproveitamento da biomassa pirolisada na melhoria da qualidade do solo e da produtividade agrícola e na redução da emissão de gases de efeito estufa”. este fertilizante sólido, ao ser adequadamente processado pode ser (re)utilizado na produção de cereais e grãos e até mesmo na pro- dução de frutas e hortaliças. a Figura 3 ilustra a agrosuinocultura que vem ga- nhando força no município de são gabriel do oeste. o interessante é que lá a teoria já está se tornando realidade e uma referência para o país. AGRADECIMEnTOS aos parceiros de trabalho de são gabriel do oeste, especialmente Carlos shimata e luiz Rieger. ao Ministério da Ciência e tecnologia (MCt), ao Ma- croprograma 3 da embrapa e à Prefeitura Municipal de são gabriel do oeste pelo incentivo e apoio nas pesquisas de agrosuinocultura. os mais sinceros agradecimentos aos colegas de projeto e às chefias geral e de P&Di da embrapa Pantanal (CPaP), bem como Paulo armando victoria de oliveira da em- brapa suínos e aves (CNPsa), giancarlo lastoria esandra gabas da uFMs, e aos palestrantes, colabora- Bergier, i. et al. Avaliação agrícola e ambiental da suinocultura-biofertilização em São Gabriel do Oeste (MS). Projeto da embrapa Pantanal. Macropro- grama 3 / infoseg número 03.08.06.053.00.00. embra- pa. 17p. 2008. Forster, P. et al. 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Postal 109, Corumbá-Ms, Brasil, CeP 79.320-900, telefone:(67) 3234-5800, 3234- 5900 Fax: (67) 3234-5815 e-mail: ivan@cpap.embrapa.br João Antonio Rodrigues de Almeida Médico veterinário CRMv-Ms nº 1274, Co- operativa agropecuária de são gabriel do oeste, Ms e-mail: tecnico.cooasgo@terra.com.br dores e participantes do Workshop “aproveitamento múltiplo da biodigestão na agroindústria e nas cida- des”, realizado em são gabriel do oeste no dia 16 de novembro de 2009. um agradecimento especial ao Prof. enrique ortega da unicamp pelos ensinamen- tos de conceitos de energia. a g R o s u i N o C u lt u R a Revista CFMv - Brasília/DF - ano Xvi - nº 50 - 201022 ConSELHo FEDERAL DE MEDICInA VETERInÁRIA SIA – Trecho 6 – Lote 130 e 140 Brasília-DF – CEP: 71205-060 Fone: (61) 2106-0400 Fax: (61) 2106-0444 www.cfmv.org.br cfmv@cfmv.org.br DIREToRIA EXECUTIVA PRESIDEnTE Benedito Fortes de arruda VICE-PRESIDEnTE eduardo luiz silva Costa SECRETáRIO - GERAL Joaquim lair TESOuREIRO amilson Pereira said EDITOR DA REVISTA CFMV Ricardo Junqueira Del Carlo CRMV-MG nº 1759 ConSELHo EDIToRIAL DA REVISTA CFMV PRESIDEnTE eduardo luiz silva Costa CRMV-SE nº 0037 Joaquim lair CRMV-GO nº 0242 amilson Pereira said CRMV-ES nº 0093 CoMITê CIEnTíFICo DA REVISTA CFMV PRESIDEnTE Cláudio lisias Mafra de siqueira CRMV-MG nº 5170 luis augusto Nero CRMV-PR nº 4261 Flávio Marcos Junqueira Costa CRMV-MG nº 5779 antônio Messias Costa CRMV-PA nº 0722 Celso da Costa Carrer CRMV-SP nº 0494/Z luiz Fernando teixeira albino CRMV-MG nº 0018/Z Revista Do CFMv - Brasília - DF - ano Xvi – N° 50 - 2010 SuplementoCientífico Pitiose cutânea eqüina no Piaui. Primeiro relato de caso A leishmaniose tegumentar americana no estado do Amazonas, Brasil: Aspectos epidemiológicos da leishmaniose canina Dor neuropática após amputação de membros: fisiopatologia e manifestações clinicas em cães. José de Ribamar de Souza Rocha / Severino Vicente da Silva Lucilene da Silva Santos / Lucas Pinheiro Dias Edílson Páscoa Rodrigues / Dário Magalhães Batista Filho Francisco Solano Feitosa Júnior / Rosvaldo Duarte Barbosa Fernando Andrade Souza e outros / Igor Frederico Canisso Álan Maia Borges / Vicente Ribeiro do Vale Filho Anali Linhares Lima / Erotides Capistrano da Silva Sonia Rolim Reis / Antonia Maria Ramos Franco Roberta Cristina Campos Figueiredo / Karina Velloso Braga Yazbek O papel do ambiente uterino e do reconhecimento materno da gestação na perda embrionária na égua Revista CFMv - Brasília/DF - ano Xvi - nº 50 - 2010 23 s u P l e M e N t o C i e N t í F i C o PITIOSE CUTÂNEA EQÜINA. PRIMEIRO RELATO DE CASO NO PIAUÍ EquInE CuTAnEOuS PyTHIOSIS In THE PIAuÍ STATE, BRAZIL – A CASE REPORT Resumo a pitiose é uma enfermidade piogranulomatosa crônica, principalmente do tecido subcutâneo, causada pelo fungo zoospórico Pythium insidiosum. atinge várias espécies de animais domésticos e humanos e é muito se- melhante a outras afecções cutâneas fúngicas e neoplasias. em eqüinos, se caracteriza, principalmente, pelo desenvolvimento de lesões subcutâneas ulcerativas e granulomatosas de aspecto tumoral, massas em forma de coral amareladas formadas no centro das lesões. um eqüino sRD, macho, 18 meses de idade, apresentou uma lesão no membro dianteiro esquerdo com aspecto ulcerativo, granulomatoso e de aparência tumoral. o diagnóstico de pitiose foi realizado através dos sinais clínicos e do isolamento e identificação do agente etio- lógico. a pitiose está relacionada com o contato direto de animais e humanos com águas contaminadas pelo agente etiológico. os cavalos são os animais mais atingidos. Palavras-chave: pitiose, Pythium insidiosum, eqüinos Abstract Pythiosis is a chronic granulomatous disease, mainly of the subcutaneuos tissue caused by zoosporic fungi Pythium insidiosum. the disease affects several domestic animal species and humans. the pytiosis is very like another fungic cutaneous infections. the disease in equines characterizes itself mainly for the development of ulcerative and granulomatous subcutaneous injuries of tumoral appearance. a male horse indefinite race, 18 months old, had just one lesion on the left anterior member, with ulcerative, granulomatous and of tumoral aspect. the diagnosis of pythiosis was carried through by the clinical signs and the isolation and identification of the etiologic agent. epidemiologically pythiosis is related with the direct contact of the animals and human with contaminated waters for the etiologic agent. horses are the most affected animals. Keywords: pythiosis, Pythium insidiosum, equines InTRODuçãO a pitiose é uma doença piogranulomatosa crônica, principalmente do tecido subcutâneo, que atinge eqüi- nos, bovinos, caninos, felinos e humanos, ocorrendo em áreas tropicais, subtropicais e temperadas (Meireles et al., 1993, Mendoza et al., 1996). a pitiose, nos últimos anos, vem paulatinamente a merecer destaque na mi- cologia clínica tanto veterinária como humana (Bosco et al., 2005, santurio et al., 2006). atenção especial deve ser dada àquelas pessoas que residem ou trabalham em áreas de exposição permanente ao agente etioló- gico e convivem com animais suscetíveis ou doentes. a pitiose é causada por um fungo zoospórico do filo s u P l e M e N t o C i e N t í F i C o Revista CFMv - Brasília/DF - ano Xvi - nº 50 - 201024 oomycota, pertencente ao Reino straminipila, Pythium insidiosum (alexopoulos et al., 1996). a doença também é conhecida por hifomicose, zigomicose, dermatite granular, granuloma ficomitótico, “burstte”, “Florida leeches” e “swamp cancer” (Meireles et al., 1993, Chaffin et al., 1995). o gênero Pythium possui mais de 120 espécies distribuídas em todo o planeta, sendo a maioria habi- tantes do solo, mas freqüentemente encontradas em corpos d`água e regiões alagadiças, vivendo saprotro- ficamente ou como parasitas de plantas (hawksworth et al., 1996). Pythium insidiosum é a única espécie do gênero patogênica a mamíferos. o ciclo de vida desse fungo está relacionado com as mudanças ambientais nos ecossistemas. Para haver a produção de zoóspo- ros, são necessárias temperaturas entre 30 e 40 °C e o acúmulo de águas em banhados e lagoas (Miller e Campbell, 1982). epidemiologicamente, a pitiose está relacionada com o contato direto de animais e humanos com água contaminada pelo agente etiológico. a forma infecc- tante de Pythium insidiosum são os zoósporos liberados na água para completar seu ciclo de vida (Mendoza et al., 1993). a maioria dos casos de pitiose foi observada durante ou logo após a estação chuvosa. este agente atinge principalmente, as extremidadesdistais dos membros e porção ventral da parede tóraco-abdomi- nal, provavelmente devido ao maior tempo de contato com água contaminada com zooósporos (Miller e Cam- pbell, 1982, Chaffin et al., 1995). os eqüinos são os animais mais atingidos pela pitiose caracterizada pelo desenvolvimento de lesões subcutâneas ulcerativas e granulomatosas de aspecto tumoral, com formação de “kunkers”, massas em forma de coral amareladas produzidas no centro das lesões. o primeiro relato de pitiose eqüina ocorreu no Rio grande do sul (santos e londero, 1974). Desde então, os relatos de pitiose eqüina no país somam mais de 90 casos (santurio et al., 2006), sendo descritos em vários estados, incluindo o próprio Rio grande do sul (san- tos et al., 1987, Meireles et al., 1993, sallis et al., 2003), Paraná (luvizari et al., 2002, headley e arruda, 2004), Pará (túry e Corôa, 1997), Rio de Janeiro (sanavria et al., 2000) e são Paulo (Rodrigues e luvizotto; 2000). Como em Mato grosso do sul (Monteiro, 1999, leal et al., 2001), no pantanal também foram registrados ca- sos (Carvalho et al., 1984, santurio et al. 1998, leal et al. 2001). também existe registro de ocorrência da doen- ça no semi-árido, como na Paraíba foram registrados 38 casos (tabosa et al. 1999) e no Piauí, diversas espé- cies de Pythium também já haviam sido registradas no semi-árido, mas todas com potencial patogênico para plantas (Rocha et al., 2001, Rocha, 2002, 2006). este é o primeiro relato de Pythium insidiosum causando pitiose cutânea em eqüinos no Piauí, embora já hou- vesse suspeita da doença em eqüinos atendidos na Clínica de grandes animais do hospital veterinário da universidade Federal do Piauí, dos quais não se con- seguiu um diagnóstico definitivo. a enfermidade tem características muito semelhantes a diversas outras afecções cutâneas fúngicas, havendo a possibilidade de em exames superficiais ser confundida. RELATO DO CASO um eqüino macho, sem raça definida (sRD), com pelagem alazã, 18 meses de idade, pesando 140 kg, proveniente de alto longá, Piauí, foi atendido na Clínica de grandes animais do hospital veterinário do Centro de Ciências agrárias da universidade Federal do Piauí. a queixa do proprietário era referente ao surgimento de uma lesão no membro anterior esquerdo, a cerca de 60 dias. o animal era criado em regime extensivo, não era vacinado e nem vermifugado. Durante o exame clínico, observou-se: FR=16, FC=38 e tR=37,8°C. a auscultação do abdômen não revelou nenhuma alteração. o eqüino encontrava-se com os pêlos opacos e quebradiços, magro e a lesão cinza-avermelhada com secreção sero- sanguinolenta, de consistência viscosa, aspecto granu- lomatoso e diâmetro aproximado de 20 cm, atingindo a região posterior e lateral da articulação do carpo do membro anterior esquerdo (Figura 1). os estudos biológicos de Pythium insidiosum fo- ram realizados no laboratório de Fungos Zoospóricos da universidade Federal do Piauí, com o isolamento e cultura do patógeno. o diagnóstico diferencial de FIGURA 1 - Lesão característica de pitiose eqüina apresentando secreção serosanguinolenta de aspecto granulomatoso no mem- bro anterior esquerdo. a RQ u iv o P es so a l Revista CFMv - Brasília/DF - ano Xvi - nº 50 - 2010 25 s u P l e M e N t o C i e N t í F i C o afecções cutâneas fúngicas, como a conidiobolomi- cose, basidiobolomicose, o granuloma bacteriano, a habronemose cutânea, sarcóides e outras neoplasias, foi realizado por meio da biopsia, isolamento, cultura e identificação do patógeno. o material coletado da lesão, “kunkers”, foi dividio em três partes. uma delas para o preparo em lâmina pra microscopia. Pois his- tologicamente, os “kunkers”, apresentam-se como coágulos eosinófílicos de tamanho variado e forma circular com contornos irregulares. estes coágulos são compostos de hifas, colágeno, arteríolas e células in- flamatórias, especialmente eosinófilos. observam-se hifas com paredes espessas, esparsamente septadas, irregularmente ramificadas (normalmente em ângulo reto) ou unidas formando feixes. uma segunda parte dos fragmentos foi previamen- te lavada em solução contendo antibiótico (penicilina 200µg/ml), e distribuída diretamente na superfície de meio de farelo de milho e ágar (CMa) e, após incubação por 96 horas, a 32 °C, houve o desenvolvimento de co- lônia com micélio submerso de coloração hialina. Para a produção de zoosporângios e zoósporos, blocos de CMa foram retirados da margem da colônia e transferi- dos para placas-de-petri com água destilada estéril. a terceira porção também foi colocada em placas- de-petri com água destilada para a produção de Dados dos autores José de Ribamar de Sousa Rocha Biólogo, CRB-5 nº. 2.900/5-D. Doutor, professor adjunto no Departamento de Biologia, labora- tório de Fungos Zoospóricos, Centro de Ciências da Natureza, uFPi. Endereço para correspondência: uFPi, CCN, Dep. Biologia, laboratório de Fungos Zoospóricos, Campus Ministro Petrônio Portela, Bairro ininga, teresina, Piauí CeP: 64049-550. e-mail: rrocha@ufpi.br Severino Vicente da Silva Médico veterinário, CRMv-Pi nº. 0125. Doutor, professor associado do Departamento de Clí- nica e Cirurgia veterinária, Centro de Ciências agrárias, uFPi. e-mail:severinovs@yahoo.com.br Lucilene da Silva Santos Médica veterinária CRMv-Pi nº. 0785 graduanda em Ciências Biológicas, estagiária no laborató- rio de Fungos Zoospóricos, Centro de Ciências da Natureza, uFPi. e-mail: lssvetbio@gmail.com Lucas Pinheiro Dias graduando em Ciências Biológicas, estagiário no laboratório de Fungos Zoospóricos, Centro de Ciências da Natureza, uFPi. e-mail: lpinheirodias@gmail.com Edílson Páscoa Rodrigues graduando em Ciências Biológicas, estagiário no laboratório de Fungos Zoospóricos, Centro de Ciências da Natureza, uFPi. e-mail: edílson.pascoa@ig.com.br Dário Magalhães Batista Filho Médico veterinário CRMv-Pi nº. 0766 Residente Centro de Ciências agrárias, uFPi. e-mail: veterinario80@yahoo.com.br Francisco Solano Feitosa Júnior Médico veterinário CRMv-Pi nº. 0124. Doutor, Pro- fessor associado Centro de Ciências agrárias, uFPi. e-mail: solanofeitosa@bol.com.br Rosvaldo Duarte Barbosa Médico veterinário CRMv-Pi nº. 0211. Centro de Ciências agrárias, uFPi . e-mail: rosvaldovet@yahoo.com.br FIGURA 2 - Zoósporos dentro de vesícula de liberação na extre- midade de um zoosporângio filamentoso de Pythium insidio- sum, produzido por hifas formadas diretamente de “kunkers” em água destilada estéril, após incubação por 96 horas, em temperatura de 32 °C. a RQ u iv o P es so a l Revista CFMv - Brasília/DF - ano Xvi - nº 50 - 201026 aleXoPoulos, C.i., Mims, C.W., Bla- CKWell, M. (ed). Introductory Mycolo- gy. New York: John Wiley e sons, 1996, p.683-737. BosCo, s.M.g., Bagagli, e., aRaÚJo JR,J.P., CaNDeias, J.M.g., FRaNCo, M.F., MaRQues, M.e.a, MeNDoZa, l., CaMaR- go, R.P., MaRQues, s.a. human pythiosis, Brazil. Emerging Infections Diseases, v.11, n.5, 2005. 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