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Artigo 13 Código Penal COMENTADO Direito Com Ponto Com Legislação comentada e gratuita

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28/08/2018 Artigo 13 - Código Penal COMENTADO - Direito Com Ponto Com Legislação comentada e gratuita.
https://www.direitocom.com/codigo-penal-comentado/artigo-13-21 1/15
ARTIGO 13
 
TÍTULO II 
DO CRIME
Relação de causalidade 
 
Art. 13 – O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe
deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.
(3.1)
Superveniência de causa independente  
§ 1º  – A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando,
por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os
praticou. (3.2)
Relevância da omissão 
§ 2º – A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o
resultado. O dever de agir incumbe a quem: (3.3)
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; 
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; 
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. 
 
 
Nominação legal: Relação de causalidade.
 
1 – Conceito de crime.  Nesse ponto tem início o Título II da Parte Geral do Código Penal, que trata
do crime Antes de analisarmos o art. 13, é necessário que passemos a um breve estudo do
crime, envolvendo seus requisitos e elementos.
O que é crime? Nos interessa buscar uma resposta através de um estudo analítico do crime, ou
seja, por meio da decomposição de cada um dos seus requisitos e elementos.
 
1.1 – Requisitos do crime. A maioria dos doutrinadores analisa o crime através de uma visão
tripartida. O crime é um fato típico, antijurídico (ou ilícito) e culpável (Heleno Cláudio
Fragoso, Francisco de Assis Toledo, Luiz Régis Prado, Guilherme de Souza Nucci, Paulo José da
Costa Jr., Manoel Pedro Pimentel, Aníbal Bruno, Rogério Greco, Juarez Tavares, e outros).
A corrente minoritária sustenta uma divisão bipartida do crime. O crime é um fato típico e
antijurídico (ou ilícito). Dentre os doutrinadores podemos citar Flávio Augusto Monteiro de
Barros, René Ariel Dotti, Damásio de Jesus, Fernando Capez, e mais alguns outros.
(a)
(b)
(b)
(c). 
28/08/2018 Artigo 13 - Código Penal COMENTADO - Direito Com Ponto Com Legislação comentada e gratuita.
https://www.direitocom.com/codigo-penal-comentado/artigo-13-21 2/15
Para essa corrente minotária a culpabilidade não integra o crime, sendo apenas um
pressuposto de pena. O correndo um fato típico e ilícito, pressupõe-se que o autor sofrerá
uma sanção penal (pena). A culpabilidade representa um desvalor, uma reprovação social da
conduta.
Nos �liamos à corrente minoritária. Embora não seja a intenção, neste trabalho, discorrer
sobre questões doutrinárias que nos afastem, em muito, dos artigos de lei examinados, nos
pareceu ser apropriado justi�car nossa posição.
Quando o legislador cria um tipo penal, ele o faz em razão do interesse maior da sociedade
que corresponde a um não concordar com aquela conduta. O corpo social entende que aquela
ação humana não deve ser aceita e, por tal motivo, deve merecer uma repreensão.
Primeiro passo do legislador: descreve a conduta imprópria, a conduta que causa repulsa aos
membros daquela sociedade.
Segundo passo: disciplina o valor da sanção penal (pena) a ser imposta a todos que agirem na
conformidade da conduta descrita.
Temos, então, uma regra: todo fato típico (conduta não tolerada) é ilícito, ou também
denominado de antijurídico (contraria o ordenamento jurídico – não é lícito no sentido de não
ser tolerado). Se a regra geral é a de que todo fato típico é ilícito, podemos a�rmar que,
excepcionalmente, o fato típico é lícito. Tomemos como exemplo o art. 121, caput, do Código
Penal, a conduta típica: matar alguém (a sociedade não tolera que alguém mate a alguém);
como essa conduta é tipi�cada penalmente (há a uma pena), ela contraria o direito, ela afronta
o direito que diz: matar alguém é uma infração penal. Essa é a regra geral, mas existem
situações em que matar alguém é lícito, a sociedade aceita, como ocorre, por exemplo, nas
quatro situações do art. 23 do Código Penal . Se eu mato alguém, é ilícito, mas se eu mato
alguém em legítima defesa, é lícito. A sociedade diz: não pode matar, mas se matar em
legítima defesa, nós, sociedade, aceitamos.
Temos até agora que o crime é um fato típico e ilícito. Portanto não há crime se o fato for
típico, mas não for ilícito, tiver a ilicitude excluída, é o que diz o nome jurídico do art. 23 do CP:
Exclusão da ilicitude.
Vejamos agora a descrição do art. 23, CP: “Não há crime quando o agente pratica o fato:”.
Vejam que o legislador a�rma: “Não há crime”. Insistimos na a�rmação: O crime necessita de
um fato típico e um fato ilícito, pois se o fato for lícito, não há crime.
Sigamos na explicação: Uma vez ocorrido um fato típico e ilícito, o autor �ca sujeito a uma
pena, cujos parâmetros são estipulados, entre um mínimo e um máximo, no próprio tipo
penal.
Voltemos ao art. 121 do CP: Se alguém matar alguém, de forma simples (art. 121, caput), e o
�zer de maneira que não esteja acobertado por uma excludente de ilicitude, �cará sujeito a
uma sanção penal de reclusão que irá variar entre 6 e 20 anos .
Essa pena a ser imposta representa a reprovação social da conduta (conduta é igual a fato
típico e ilícito). A sociedade reprovou aquela conduta e exige a aplicação de pena.
1.2. Exclusão da pena. É possível então a�rmar que ocorrendo um fato típico e ilícito, haverá a
imposição de uma pena? A resposta é, não. É de se pressupor que ocorrerá a punição do
(d)
(e)
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sujeito, mas é apenas uma suposição, pois se ele for inimputável, não poderá ser punido em
razão da prática do fato típico e ilícito. Inimputável é quem não pode sofrer uma pena.
É como se a sociedade pudesse dizer: Não toleramos que alguém mate alguém, exceto no caso
em que se possa excluir a ilicitude, mas se a ilicitude não puder ser afastada, deverá ser
aplicada a pena, exceto se o fato ocorrer em razão de uma impossível percepção do ilícito, ou
por uma força maior que levaria qualquer pessoa a agir daquela maneira. Nessas situações
de excepcionalidade, exclui-se a reprovação social, e por consequência, a pena.  
1.2.1. Quem são os inimputáveis? São todos aqueles que, no momento do fato típico e
ilícito praticado, se encontrarem nas situações do art. 26, caput, do art. 27, e do § 1º do art.
28, todos do Código Penal. Há ainda a hipótese de inimputabilidade nos casos do § 1º do
art. 20, art. 21 e art. 22, todos do Código Penal.
E o que disse o legislador nos tipos penais acima elencados? Que não há crime? Não, o
legislador a�rmou que �ca isento de pena, que não é punível o autor do fato típico e
ilícito.
Observem: no art. 23, CP, afastada a ilicitude, não há crime; nas hipóteses de
inimputabilidade, estando ela presente, isenta de pena. O crime se faz presente, o que �ca
afastada é a possibilidade de aplicação da pena.
É de se perguntar: o menor de 18 anos então comete crime? O louco, sem capacidade de
discernir o certo do errado, comete crime? Nos parece que sim. O legislador, quanto ao
menor, criou a �gura do ato infracional, que não deixa de ser um crime praticado por um
menor de idade. E o insano? Também pratica um crime, e tanto é assim que �ca sujeito a
uma medida de segurança nos termos do art. 97 do Código Penal.
A reprovação social da conduta está presente no ato praticado por qualquer inimputável,
apenas aceita-se que �quem isentos de pena, mas insistimos, a conduta continua sendo
reprovável. Na inimputabilidade não se exclui o crime, se exclui a aplicação da pena.
Voltemos ao estudo do crime através de seus requisitos. Foi visto que o crime, dependendo da
corrente doutrináriaque se siga, pode ser um fato típico, ilícito e culpável, ou um fato típico
e ilícito.
Do fato ilícito ou antijurídico, e da culpabilidade, exploraremos em tipos penais mais à frente.
Cabe, neste momento, voltar as atenções ao estudo do fato típico.
 
2 – Do fato típico. Temos aqui o primeiro requisito do crime. O fato típico corresponde ao
encaixe da conduta na norma penal. Para que esse encaixe se torne perfeito é necessário o
exame dos elementos que compõem o fato típico. O fato típico é composto de conduta,
resultado, nexo causal, tipicidade formal e tipicidade material. Na falta de qualquer um desses
elementos, o fato será atípico e, por consequência, não será crime. Passemos à análise de cada um
desses elementos.
 
2.1 – Conduta. O Direito se presta a regular a conduta humana. O homem é livre na sua
conduta, mas encontra parâmetros quanto à legalidade dessa conduta. A conduta, seja ela
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positiva, no sentido de fazer, ou negativa, no sentido de omitir-se a fazer , não tolerada pela
sociedade é transcrita em um tipo penal, sujeitando seu autor a uma pena. É a aplicação do
princípio nullum crimen sine conducta (não há crime sem conduta). Se a conduta é uma ação
humana, como punir a pessoa jurídica que é um ente desprovido de capacidade de conduta?
A pessoa jurídica não age por vontade ou instinto. Sua ação depende de um ser humano que
promove o ato realizado pelo ente jurídico.
Lamentavelmente o legislador constituinte acatou a teoria da realidade ou organicista, em
contraposição à teoria da �cção, que não admite a responsabilidade penal da pessoa jurídica,
justamente por faltar-lhe a capacidade de conduta. É o que está representado no art. 173, § 5º
da Constituição Federal (responsabilidade do ente jurídico no que diz respeito à ordem
econômica e �nanceira), e no art. 225, § 3º, também da Carta Maior (responsabilidade da
pessoa jurídica nas lesões ao meio ambiente) .
 
2.1.1 – O dolo e a culpa na conduta. O Código Penal de 1940 adotou, inicialmente, a
chamada teoria causalista ou clássica, onde se perquire sobre dolo e culpa no exame da
culpabilidade.
A partir de 1930, através de Hanz Welzel, desenvolvia-se uma nova corrente sobre o
estudo da vontade como elemento necessário à realização da conduta. Era necessária uma
vontade humana para a realização de um ato contrário ao direito. Surge a teoria �nalista
da ação. A ação é uma atividade �nal humana. Diz Damásio de Jesus: “A �nalidade, ou
atividade �nalista da ação, baseia-se em que o homem, consciente dos efeitos causais do
acontecimento, pode prever as consequências de sua conduta, propondo, dessa forma,
objetivos de distinta índole. Conhecendo a teoria da causa e efeito, tem condições de
dirigir sua atividade no sentido de produzir determinados efeitos” (Direito Penal, Parte
Geral, 1º vol. 32ª ed., Saraiva, p. 274).
O nosso legislador, a partir da reforma da Parte Geral do Código Penal, em 1984, adotou a
teoria �nalista da ação.
De praticidade podemos a�rmar que a doutrina clássica ou causalista examinava o dolo e
a culpa, após a apreciação do fato típico e ilícito. Com a adoção da teoria �nalista da ação,
dolo e culpa têm o exame no momento da apreciação da conduta, o que equivale dizer
que, não existindo dolo ou culpa na conduta humana, o fato é atípico. Não se faz mais
necessário o exame de toda a estrutura do crime para, ao �nal, excluir a culpabilidade pela
inexistência de dolo ou culpa.
2.1.2 a – Conduta. Conduta representa uma ação ou uma omissão humana, de forma
consciente, e consistente em um movimento ou abstenção de movimento corporal. Sem
consciência ou voluntariedade, não há conduta. Existindo a conduta temos o primeiro
elemento do fato típico.
2.1.2 b – Não conduta. A falta de vontade humana afasta o elemento conduta exigível no
fato típico.
Exemplo: O ato praticado durante o período de sonambulismo, ou uma conduta
provocada por re�exo, poderia ser considerada conduta para efeitos penais?
(f)
(g)
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O re�exo é uma reação automática provocada por um nervo sensitivo. O sujeito, que de
forma não voluntária, sofre um corte na mão e, em razão do corte, joga o braço para trás
e esbarra em um objeto de arte e o derruba ao solo dani�cando-o, não poderá responder
pelo crime de dano (art. 163, CP), por ser esse um fato atípico. Não existiu um movimento
corporal por in�uxo anímico.
Não se confunde ato re�exo com ato instintivo. O ato instintivo decorre de uma
reação voluntária, como por exemplo o sujeito que é empurrado por alguém e,
instintivamente, desfere um soco no rosto do sujeito que o empurrou. Não havia uma
intenção anterior, mas o ato foi praticado mediante voluntariedade.
A coação irresistível, física, também não constitui uma conduta humana relevante
para o fato típico. Como exemplo podemos citar o caso do sujeito que é dominado, e o
dominador, através de uma coação física, coloca o dedo do dominado no gatilho da arma e
provoca o tiro que vem a matar terceira pessoa. Estaremos diante de um fato atípico. É
importante ressaltar que a coação deve ser física, pois a coação moral pode, apenas,
afastar a culpabilidade, como nos casos do art. 22 do Código Penal.
Há, ainda, outras situações que afastam a voluntariedade da conduta, e, por suposto
afastam a tipicidade, como por exemplo nas situações de sonambulismo e hipnose, em
que o sujeito se coloca, ou é colocado, em estado de inconsciência.
 
2.2 – Resultado. Segundo elemento do fato típico. Todo crime possui um resultado, seja ele
jurídico ou naturalístico. Compreende-se por resultado naturalístico a mudança no mundo
exterior. Tomemos o crime de homicídio por arma de fogo como exemplo: Temos o
comportamento do sujeito ativo (conduta de disparar a arma contra a vítima) e a modi�cação
do mundo exterior provocada pela morte do sujeito passivo (resultado). O que era um ser com
vida, deixa de sê-lo, acarretando consequências jurídicas em razão da morte.
Como resultado jurídico é possível a�rmar que sua ocorrência se dá com a lesão ou o perigo
de lesão a um bem penalmente tutelado, o que encampa os crimes omissivos próprios e os
crimes de mera conduta, que são incapazes de promover uma mudança no mundo exterior.
Vejamos o caso do art. 150 do Código Penal (violação de domicílio – crime de mera conduta).
Típico crime de mera conduta cuja ação consiste em, simplesmente, invadir o domicílio de
terceiro sem seu consentimento. Essa simples conduta não provoca qualquer resultado
naturalístico. Costumamos dar o exemplo de você tendo um cunhado, este resolve
permanecer em sua casa não querendo mais dela se retirar. Não há um resultado naturalístico,
mas há a ofensa a um interesse jurídico que é a sua tranquilidade doméstica (resultado
jurídico).
 
2.3 – Nexo causal ou relação de causalidade. Corresponde ao terceiro elemento do fato
típico e consiste na apuração de se veri�car se o resultado, jurídico ou naturalístico, tem uma
ligação com a conduta, um liame subjetivo. Este elemento será mais aprofundadamente
analisado mais abaixo, no exame efetivo do art. 13 (relação de causalidade).
 
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2.4 – Tipicidade formal e tipicidade material: dois últimos elementos para a veri�cação da
existência, ou não, de fato típico na conduta.
 
2.4.1 – Tipicidade formal: Ocorrendo uma conduta típica, estando presente o dolo ou a
culpa, e o resultado estando vinculado àquela conduta, basta veri�carem que tipo penal
se amolda, com todos os elementos e circunstâncias, aquele fato. É o perfeito encaixe do
fato na norma legal. A essa forma de ajuste dá-se o nome de Tipicidade Direta .
Assim, por exemplo, se ‘A’ se apropria de um bem móvel, um automóvel, querendo se
apossar do mesmo – que não lhe pertence, mas que tem a posse por deliberação
espontânea de ‘B’, seu proprietário. Aqui temos a �gura típica do crime de apropriação
indébita (art. 168, CP). É possível observar que há um fato típico (conduta com dolo – art,
168, caput, CP); há um fato ilícito (não há permissão legal para que alguém se aproprie de
um bem alheio); todos os elementos descritos na �gura típica se apresentam no caso,
‘coisa alheia’, coisa móvel. A conduta está formalmente em consonância com o crime de
apropriação indébita (art. 168, CP).
Imaginemos uma segunda situação: ‘A’, funcionário público, escrivão de polícia, se
apropria de um bem móvel, querendo se apossar de algo que não lhe pertence, mas que
tem a posse por ato espontâneo de ‘B’ (por exemplo, pagamento de �ança para responder
o processo em liberdade, cuja guarda, até depósito bancário em favor do Estado, é de
responsabilidade do escrivão). Observemos que esse segundo exemplo é parecido com o
primeiro, porém, carrega um elemento diferenciador que, no caso, é a qualidade de
funcionário público do sujeito que se apropria do bem. Ao procurarmos pelo Código Penal
a �gura que se encaixa na conduta, vamos passar pelo art. 168, e perceber que há um
encaixe, mas ao chegar ao tipo penal do art. 312 encontraremos, aí sim, o perfeito encaixe
do fato na norma penal. Além da apropriação indébita do art. 168 do CP, há um outro
elemento para a adequação típica perfeita, a qualidade de funcionário público.
Ficamos assim: no primeiro exemplo, o sujeito ‘A’ comete o crime de apropriação indébita
(art. 168, caput, CP); no segundo exemplo, o sujeito ‘A’ comete o crime de peculato (art.
312, caput, CP).
2.4.2 – Tipicidade material: o fato sendo típico através de uma conduta dolosa ou
culposa, ocorrendo uma ligação subjetiva entre o resultado e a conduta, encontrado o tipo
penal que se amolda perfeitamente àquela conduta, resta saber se o fato é penalmente
relevante.
O Direito Penal deve ser visto como a última ratio (último recurso) para solucionar con�itos
de interesse. Devem ser esgotados todos os meios de solução antes de se lançar mão
do Direito Repressivo.
A nossa doutrina e jurisprudência são unânimes em, dependendo de cada caso concreto,
afastar a aplicação da lei penal àquilo que se denomina de delitos de bagatela, ou
princípio da insigni�cância.
 
(h)
28/08/2018 Artigo 13 - Código Penal COMENTADO - Direito Com Ponto Com Legislação comentada e gratuita.
https://www.direitocom.com/codigo-penal-comentado/artigo-13-21 7/15
2.4.2. a Princípio da insigni�cância. O Supremo Tribunal Federal (STF) tem
jurisprudência �rmada no sentido de que, presente o princípio da insigni�cância, não
há tipicidade material, tornando, por consequência, o fato atípico. A falta de um dos
elementos do fato típico (conduta com dolo ou culpa, resultado, nexo causal,
tipicidade formal e tipicidade material) torna-o atípico, e afasta o crime naquele caso
concreto.
Os parâmetros utilizados pela Excelsa Corte de Justiça são os seguintes:
a) mínima ofensividade da conduta do agente: �cam afastados os crimes
praticados mediante violência ou grave ameaça ;
b) nenhuma periculosidade social da ação: o cometimento do crime sem
provocar um intenso alarme social;
c) grau reduzido de reprovabilidade do comportamento: a sociedade não
tolera o crime, mas é possível entender que a conduta delituosa, embora mereça
uma repreensão, não impõe como necessidade o autor ser mandado detrás das
grades ;
d) inexpressividade da lesão jurídica provocada: neste requisito tem-se em
conta a suportabilidade da vítima em sofrer aquela lesão a um bem seu,
juridicamente tutelado. É o caso de se perguntar: um furto simples de uma moeda
de R$ 1,00 (um real) admite a aplicação do princípio da bagatela? A resposta é a
resposta clássica no Direito: Depende. Se a vítima for razoavelmente abastada
�nanceiramente, é possível a aplicação do princípio, o que não se dará no caso de
um trabalhador que ganha um salário mínimo, mora de aluguel e é obrigado a
utilizar quatro conduções para a ida e volta ao trabalho.
Esses quatro requisitos devem estar cumulativamente presentes para que se
possa reconhecer o delito de bagatela, ou princípio da insigni�cância, e
declarar a conduta como atípica por falta da tipicidade material .
 
3 – Da análise do art. 13, caput e parágrafos.
A relação de causalidade representa o nexo, o vínculo – que une a causa que produziu o resultado
– ao resultado produzido.
 
3.1 – Caput. O texto da cabeça do artigo apresenta duas sentenças ou frases:
1ª – “O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu
causa.”: Vimos acima que todo o crime possui um resultado (jurídico ou naturalístico). A�rma
aqui o legislador que a prática do crime somente pode ser imputada a quem tenha dado causa
ao resultado. O que pode ser considerado como causa para efeitos de obtenção do
resultado? A resposta vem na segunda sentença ou frase.
2ª – “Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido”: Toda
ação ou omissão, que abstraída da linha que liga o autor ao resultado, impeça o resultado, é
considerada causa.
 (i)
(j)
(k)
28/08/2018 Artigo 13 - Código Penal COMENTADO - Direito Com Ponto Com Legislação comentada e gratuita.
https://www.direitocom.com/codigo-penal-comentado/artigo-13-21 8/15
Exempli�quemos: ‘A’ atira em ‘B’ querendo matá-lo, e o mata. Antes de ‘A’ sair de casa
armado, resolve ir à padaria tomar um café. Temos uma ação de ‘A’ (tiro) e um resultado
naturalístico (morte); temos, também, uma ação de ‘A’ ir à padaria tomar café. Se abstrairmos a
conduta de ir à padaria, o resultado morte teria ocorrido? A resposta que se impõe é, sim.
Conclusão: a ação de ‘A’ ir à padaria não é causa, pois o resultado morte teria ocorrido fosse
ele à padaria, ou não fosse. É o juízo de eliminação hipotética desenvolvido pelo jurista e
�lósofo sueco Johan C. W. Thyrén.
No mesmo exemplo: ‘A’ atira em ‘B’ querendo matá-lo, e o mata. O pai e a mãe de ‘A’ são
causas? Se abstrairmos o pai e a mãe de ‘A’ da linha que liga sua conduta ao resultado, esse
resultado teria ocorrido? Claro que não, pois sem o pai e mãe de ‘A’, ‘A’ não teria nascido e o
resultado morte de ‘B’ não teria ocorrido. Conclusão: o pai e a mãe de ‘A’ são causas do
resultado morte, e dessa forma o resultado morte também pode ser imputado aos pais de ‘A’.
O mesmo ocorre com o dono da loja de armas que vendeu o revólver a ‘A’. O dono da loja
também é causa do resultado, pois se não houvesse feito a venda, ‘A’ não teria utilizado aquela
arma para obter o resultado de matar ‘B’. Ao dono da loja também pode ser imputado o
resultado morte de ‘B’.
A isso a doutrina denomina de regresso ao in�nito, pois todos os ancestrais de ‘A’ seriam
responsabilizados, assim como todos que participaram da produção da arma utilizada, até sua
venda.
 
3.1.1 – Limite ao alcance do regresso ao in�nito.
Dentre as várias teorias sobre a relação de causalidade, o nosso Código adotou a teoria
da equivalência dos antecedentes ou da conditio sine qua non, como está expresso na
segunda parte do caput do art. 13 do Código Penal (“Considera-se causa a ação ou omissão
sem a qual o resultado não teria ocorrido”). É justamente essa teoria que permite o
sistema de regresso ao in�nito e, por razões claras, não atende à justa aplicação da lei
penal.
Para que se possa imputar a alguém uma conduta considerada como delito, é necessário
que esse alguém apresente um vínculo subjetivo com o resultado.
Para o Direito Penal, a causalidade relevante é aquela em que o sujeitoage tendo uma
previsibilidade do resultado, que não se confunde com previsão do resultado (l).
Com a adoção da teoria �nalista da ação, como já vimos acima, o exame do dolo e da
culpa no primeiro elemento do fato típico representa um freio à teoria da equivalência dos
antecedentes.
Sem dolo ou culpa na conduta, não há como imputar a alguém a realização de um
fato típico, o que, em consequência, exclui a imputação penal. Nos nossos exemplos
de regresso ao in�nito, o pai e a mãe de ‘A’ estarão excluídos da responsabilidade penal,
assim como o vendedor da arma que, se o fez sem dolo ou culpa em relação ao resultado
morte de ‘B’, não poderá ser responsabilizado criminalmente, muito embora sua conduta
tenha sido causa do resultado morte.
 
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3.2 – § 1º: Superveniência de causa independente.
Embora um sujeito possa realizar uma conduta tendente a um resultado, esse liame, essa
ligação entre conduta e resultado pode não ocorrer por força da conduta realizada, mas sim
por outra causa que se interponha no desdobramento da conduta.
Superveniência signi�ca aquilo que vem depois. O sujeito realiza uma conduta; enquanto
essa conduta não atinge o resultado, uma outra causa se antecipa àquela conduta e provoca,
então, o resultado.
Exempli�quemos: ‘A’ atira em ‘B’ querendo matá-lo (‘A’ dá início à conduta que pretende chegar
ao resultado morte); ‘B’ é socorrido ao hospital (o resultado morte ainda não ocorreu); ‘B’ é
submetido a intervenção cirúrgica e acaba afetado por uma infecção hospitalar que causa sua
morte. Vejam que uma causa posterior à conduta de ‘A’ provocou a morte de ‘B’ (infecção
hospitalar). ‘B’ não faleceu (resultado morte) em razão direta do tiro desfechado por ‘A’. Poderá
ser ‘A’ responsabilizado penalmente pela morte de ‘B’?
 
3.2.1 – Causas absolutamente independentes e causas relativamente independentes.
Podem, ou não, as causas estarem ligadas ao resultado produzido pela conduta do autor.
Existem situações em que a causa do resultado não tem qualquer ligação com a conduta
do autor, ou seja, o resultado iria se produzir, tivesse o autor agido, ou não.
A causa da morte de alguém pode ter sido provocada por uma conduta direta ou indireta
do autor, ou pode não ter ligação alguma com a conduta.
Se, por exemplo, ‘A’ atira em ‘B’ querendo mata-lo, e ‘B’ morre, eu não posso a�rmar,
somente com esse fragmento de informação, que a causa da morte de ‘B’ foi o tiro
promovido por ‘A’.
 
a) Causas absolutamente independentes: Eclodem sem que tenham sido
provocadas pelo agente. Podem ser pré-existentes, concomitantes, ou supervenientes
à conduta do agente. Veja:
a.1) Causas absolutamente independentes pré-existentes. Sujeito ‘A’ toma
uma porção de veneno querendo o suicídio; antes que o efeito letal pudesse
acontecer, sujeito ‘B’ desfere um tiro contra ‘A’ com intenção de matá-lo; ‘A’ morre.
A pergunta que deve ser feita: qual o motivo do resultado morte? Se o laudo
necroscópico apontar que a morte se deu em razão da ação do veneno ingerido,
essa será uma causa absolutamente independente em relação à conduta de ‘B’,
que produziu o resultado, e produziria independente de ‘B’ ter efetuado o disparo
da arma de fogo. ‘B’ não pode ser responsabilizado criminalmente pela morte de
‘A’. Responderá ‘B’ por tentativa de homicídio. A causa da morte já existia anterior
à conduta de ‘B’.
a.2) Causas absolutamente independentes concomitantes. ‘A’ atira em ‘B’
querendo produzir sua morte; no mesmo instante que o tiro é desfechado, ‘B’ está
tendo um ataque cardíaco fulminante que o laudo necroscópico prova ser a causa
da morte, sem qualquer agravamento pelo tiro desfechado por ‘A’. ‘A’, da mesma
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forma que o exemplo anterior, responderá por tentativa de homicídio. A causa da
morte é concomitante, no mesmo momento, à conduta de ‘A’.
a.3) Causas absolutamente independentes supervenientes. Nessa situação há,
primeiro, a conduta do autor, e, na sequência, surge uma causa, desvinculada da
conduta do autor, que provoca o resultado. Como exemplo: ‘A’ coloca veneno na
comida de ‘B’ para que este, após a ingestão, morresse. ‘B’ come o que lhe foi
servido, com o que iria certamente morrer, porém, há um tremor de terra que faz
com que o teto da casa em que ‘B’ estava, desmorone, provando-se que sua morte
ocorreu pelo esmagamento do crânio provocado pelo teto que desabou. O
resultado morte (homicídio) não foi provocado pela conduta de ‘A’, embora fosse
consegui-lo, mas por uma causa que surgiu posteriormente à conduta, uma
causa superveniente. Da mesma forma que os outros exemplos, ‘A’ responderá
por tentativa de homicídio.
Conclusão: sempre que uma causa absolutamente independente provocar o
resultado, em hipótese alguma, esse resultado pode ser imputado ao agente,
que responderá somente pelo crime tentado em razão de seu dolo.  
 
b) Causas relativamente independentes. A ação do agente não é a causa direta do
resultado, porém sua conduta está ligada à causa provocadora do resultado, ou seja, o
resultado somente ocorreu porque o sujeito ativo realizou a conduta. Podem ser pré-
existentes, concomitantes, ou supervenientes à conduta do agente.
 
b.1) Causas relativamente independentes pré-existentes. É a causa que já
existia antes da conduta do agente. Exemplo clássico: ‘A’, hemofílico, é agredido a
facadas por ‘B’. Os golpes de faca não seriam su�cientes para provocar a morte de
‘B’, eis que atingiram regiões não letais, porém, em razão de seu estado �siológico
– portador de hemo�lia -, não se consegue estancar a hemorragia e ‘B’ acaba
morrendo. Podemos perceber que embora o estado de hemo�lia pudesse levar ‘B’
à morte a qualquer instante, foi a conduta de ‘A’ que antecipou o resultado. Há um
nexo causal entre conduta e resultado, não de forma direta, mas através de
uma causa relativamente independente. A hemo�lia não é causa absolutamente
independente. Ela tem uma ligação com a conduta de ‘A’. ‘B’ só morreu porque ‘A’
desferiu as facadas. ‘A’ responderá por homicídio consumado se sua intenção
era matar ‘B’. Ou responderá por lesão corporal seguida de morte se sua
intenção fosse apenas lesionar ‘B’ (art. 129, § 3º, CP).
Devemos ressaltar que o Direito Penal não tolera a responsabilidade penal
objetiva, que é aquela que decorre da falta de conhecimento do agente de certas
circunstâncias ou condições da vítima. No exemplo que propusemos ao tratar das
causas relativamente independentes pré-existentes, o agente somente
responderia pelo resultado morte se soubesse da condição de hemofílico da
vítima, pois estaria assumindo o risco de produzir o resultado. Se “A” queria
agredir “B”, sem intenção de matá-lo, e “B” morre em razão de seu estado
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�siológico, “A”, não sabendo dessa condição, não poderá ser penalmente
responsabilizado pela quali�cadora do § 3º do art. 129 do Código Penal (lesão
corporal seguida de morte). Sua conduta será tipi�cada como lesão corporal
simples (art. 129, caput).
b.2) Causas relativamente independentes concomitantes: Há uma
simultaneidade entre a conduta do agente e outra causa que produz o resultado.
Exemplo: “A” atira contra “B” no mesmo instante em que “B” está sofrendo um
ataque cardíaco. Prova-se, através de perícia, que a lesão provocada pelo tiro de
“A” contribuiu para que o ataque cardíaco fosse letal. Não foi o tiro que matou a
vítima, mas foi fundamental para o resultado. Se não houvesse o disparo da arma
de fogo,talvez a vítima sobrevivesse ao infarto.
b.3) Causas relativamente independentes supervenientes: a causa
superveniente é aquela que se apresenta após a conduta do autor. Ela se interpõe
entre a conduta e o resultado, e provoca o surgimento deste.
Da análise do caso em concreto podemos chegar à conclusão se é possível, ou
não, a aplicação do § 1º do art. 13 do Código Penal, afastando a responsabilidade
do agente pelo resultado provocado.
Tomemos como exemplo duas situações:
I – Sujeito é ferido a golpes de faca por alguém que queria sua morte. Socorrido é
levado a um hospital onde se submete a cirurgia, que o coloca, naquele instante,
fora de perigo de perder a vida. Devido à falta de uma melhor higienização do
hospital, há uma propagação de infecção hospitalar, sendo que um vírus se aloja
no local em que foi efetuado o corte da cirurgia, provocando uma septicemia e
levando a vítima à morte.
II – Sujeito é ferido a golpes de faca por alguém que queria sua morte. A vítima é
prontamente socorrida e transportada de ambulância ao hospital. No caminho, a
ambulância envolve-se em um acidente que provoca a abertura da porta traseira.
A vítima, que estava em uma maca, é arremessada para fora do veículo, vindo a
bater com a cabeça no asfalto e morrendo, exclusivamente, de traumatismo
crânio encefálico.
Temos, nos dois exemplos, uma causa superveniente causadora da morte.
*Questão: A pergunta que devemos responder: A causa superveniente, por si só,
provocou o resultado?
Resposta não: o agente que queria a morte, vai responder por crime de
homicídio.
Resposta sim: o agente não responde pelo resultado morte, responsabilizando-
se, apenas, pelos atos anteriormente praticados. É a aplicação do § 1º do art. 13
do Código Penal, “a superveniência de causa relativamente independente exclui a
imputação quando, por si só, produziu o resultado.
Se agiu querendo a morte, o crime será de tentativa de homicídio; se agiu
querendo apenas lesionar, o crime será de lesões corporais.
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No primeiro exemplo o resultado morte se deu em decorrência direta da conduta
do agente. Foram os ferimentos dos golpes de faca que receptaram o vírus
causador da septicemia.
No segundo exemplo a morte, embora a vítima estivesse na ambulância pelo
motivo de ter sido esfaqueada, foi ocasionada por uma causa que sozinha
provocou o resultado. Não há ligação entre a causa da morte e os golpes de faca.
O acidente da ambulância cortou o nexo causal entre a conduta do agente e o
resultado morte. O traumatismo crânio encefálico se intrometeu entre as facadas
e o resultado morte que poderia, ou não ocorrer, e por si só provocou a morte.
 
3.3 – § 2º – Relevância da omissão.
Inicialmente devemos separar os crimes omissivos próprios, dos crimes omissivos impróprios,
também denominados de crimes comissivos por omissão.
 
a) Crimes omissivos próprios ou puros: são aqueles que correspondem a uma
abstenção de um comportamento determinado por uma norma penal
incriminadora. É necessário que exista um tipo legal de crime descrevendo uma
conduta omissiva, como, por exemplo, o 269 do Código Penal: “Deixar o médico de
denunciar à autoridade pública doença cuja noti�cação é compulsória” (Ney Moura
Teles, Direito Penal, Parte Geral, Atlas, 2004, p. 176).
b) Crimes omissivos impróprios ou comissivos por omissão: correspondem a uma
abstenção de movimento corpóreo quando o agente deveria e podia agir para impedir
um resultado naturalístico capaz de lesionar um bem jurídico. Não há um tipo penal
próprio, mas uma norma impondo uma obrigação de realizar uma conduta para
evitar que um bem jurídico seja atingido (Ney Moura Teles, Direito Penal, Parte
Geral, Atlas, 2004, p. 177). Em síntese: é a omissão provocando um resultado. Não
basta a simples omissão, mas que essa omissão seja capaz de produzir um resultado.
 
Voltemos à análise do § 2º do art. 13 do CP:
O nexo causal se estabelece entre conduta e resultado através de um movimento
corpóreo. Há uma ação do agente. Nos crimes omissivos não há uma conduta, ao
contrário, há uma falta de conduta, uma omissão de conduta representada pelo dever
de agir.
A importância, a relevância, dessa abstenção consiste em analisar se a ação socialmente
esperada deixou de ser efetuada e, em razão dessa abstenção produziu-se o resultado. Em
outras palavras: a ação esperada e não realizada, teria evitado o resultado?
Essa relação, esse nexo causal, entre omissão e resultado naturalístico não pode ser
aplicada a qualquer pessoa, pois o próprio § 2º limita a responsabilidade ao agente que
devia e podia agir para impedir o resultado. O agente se coloca na posição de
garantidor, de �ador, de se ver obrigado a fazer aquilo que é determinado por lei, e
não o faz.
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O legislador citou três hipóteses de sujeito que tem o dever de garantidor. Elas estão
elencadas nas alíneas do artigo em comento:
 
a) Quem “tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância”: incluem-se
nessa situação os pais, os tutores, curadores, carcereiros. Se um preso adoece
gravemente, e o carcereiro não providencia um atendimento médico, vindo esse
detento a morrer, esse mesmo carcereiro poderá responder pelo crime de homicídio
doloso ou culposo. A omissão do carcereiro, que tinha o dever jurídico de agir, causou
o resultado morte. A omissão, gerando um resultado.
b) Quem “de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado”:
corresponde em responsabilizar alguém que se omite, por ter promovido uma espécie
de contrato de garantia, como o enfermeiro, o guia de turismo, a babá, etc. É o caso do
exemplo citado por Nucci: “O vigia contratado para tomar conta de casas de um
determinado condomínio não pode �car inerte ao acompanhar a ocorrência de um
furto. Se agir dolosamente, responderá pelo crime contra o patrimônio como os
agentes da subtração.” (Guilherme de Souza Nucci, Código Penal Comentado, Revista
dos Tribunais, 2012, p. 166). Há ainda um exemplo clássico na doutrina, que é
aquele em que um nadador de renome convida um amigo para nadarem uma longa
distância juntos, prometendo que dará assistência caso o amigo corra algum risco de
afogamento. No meio da travessia o amigo começa a dar sinais de esgotamento, mas
o nadador de renome, não se importando, abandona o amigo em situação de risco.
c) Quem “com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do
resultado”. Nas palavras de Paulo José da Costa Jr.: “Quem cria o perigo tem o dever
de impedir que este venha a converter-se em dano”. Segue o mestre exempli�cando:
“Quem estiver fumando num paiol, ao deixar cair centelhas no chão, não poderá
permanecer inerte, permitindo que as chamas se propaguem” (Paulo José da Costa Jr.,
Direito Penal Curso Completo, Saraiva, 2000, p. 69).
 
Notas
(a) Todo a redação do caput artigo, incluindo sua nominação legal (Relação de casualidade), foi dada pela  Lei nº
7.209, de 11.7.1984.
(b) A partir Superveniência (…), incluindo ‘Relevância da Omissão’, parágrafos e alíneas, foram incluídos pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984.
(c) A Parte Geral do Código Penal é dividida em 08 Títulos (I a VIII), e cada título trata de um assunto especí�co. Essa
disposição encontra-se no Índice Sistemático do Código Penal, que antecede o art. 1º.
(d)  As excludentes de ilicitude não se esgotam nas situações do art. 23, incisos I a III do CP. Há, ainda, no próprio
Código Penal, o art. 128 que trata do aborto necessário e que, quando realizado, torna o crime de aborto em um não
crime. Há uma morte provocada pelo médico, mas que a sociedade entende que,naquelas situações, é uma conduta
lícita (O Código usou erroneamente a expressão “não se pune o aborto praticado por médico”. Na verdade deve ser
entendido como “Não há crime de aborto praticado por médico nas situações seguintes:”.
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Além dessas hipóteses legais de exclusão de ilicitude, há também as supralegais, que não estão na lei, mas que a
consciência social, em razão dos costumes, aceita como lícita. É o exemplo da mãe que leva a �lha, recém-nascida,
para furar a orelha e colocar um brinco. Há uma lesão corporal (fato típico descrito no art. 129 do Código Penal),
porém não é um fato ilícito, não contraria o direito, eis que é de costume a mãe promover a lesão na orelha da
criança para colocar o adorno. Não há crime na conduta do farmacêutico ou da mãe.
(e) Quando estudarmos a dosimetria da pena, a partir do art. 59 do CP, explicaremos de forma detalhada que esse
mínimo e esse máximo podem sofrer alterações.
(f)  A conduta de fazer é quali�cada como crime comissivo; a conduta de não fazer, doutrinariamente é denominada
de crime omissivo próprio. Há ainda o crime comissivo por omissão, ou omissivo impróprio, que é aquele em que a
conduta omissiva provoca um resultado, como por exemplo nas situações do art. 133 do Código Penal (abandono de
incapaz). O caput transcreve uma conduta omissiva, �cando o autor sujeito a uma pena em abstrato entre 6 meses e
3 anos; se em razão do abandono, exsurge a morte, o tipo penal desloca-se para o § 2º, e a pena �xada entre 4 e 12
anos. O resultado morte transforma o crime omissivo em crime comissivo por omissão.
(g) A responsabilidade penal, da pessoa jurídica, nos crimes contra a ordem econômica e �nanceira (Lei nº 8.137/90)
não tem previsão legal.
O mesmo não ocorre nos crimes contra o meio ambiente, pois a lei, expressamente, admitiu a responsabilidade penal
da pessoa jurídica, conforme previsão dos arts. 3º e 4º da Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998.
(h) Existem duas situações em que, embora não sendo perfeito o encaixe do fato na norma proibida, é possível
a�rmar a existência de um fato formalmente típico. Tal situação ocorre no concurso de pessoas (art. 29, CP) na
modalidade participação, e na tentativa (art. 14, II, CP). Não há nos tipos penais repressivos qualquer menção aos
partícipes do crime, ou à tentativa. São normas de extensão que, por interpretação de cada caso em concreto, se
ligam, da Parte Geral do Código Penal, à conduta descrita no tipo penal em espécie, estejam eles na Parte Especial do
Código Penal, ou em leis penais extravagantes. É a denominada, doutrinariamente, tipicidade indireta.
(i) O STF não tem posicionamento absoluto sobre a não aplicação do princípio da insigni�cância nos delitos
praticados contra a administração pública (arts. 312 a 359-H, CP), cautelarmente a�rmando que dependerá de cada
caso em concreto, já o Superior Tribunal de Justiça (STJ), editou e publicou, recentemente, 27/11/2017, pela Corte
Especial, a Súmula 599, se posicionando pela não aplicabilidade do princípio da insigni�cância nos crimes contra a
administração pública.
(j) Não há que se confundir essa tolerância social com o furto famélico, que é aquele praticado para saciar a fome, ou
para propiciar tratamento médico a quem é absolutamente carente de recursos. Nestas hipóteses não é o fato típico
que se afasta, a conduta não se torna atípica. O que se afasta é a ilicitude da ação, pois o agente atua em estado de
necessidade.
(k) Jurisprudência de aplicação do Princípio da Insigni�cância: Acesse aqui.
(l) Previsão é a antevisão do resultado e mesmo assim o sujeito age. Previsibilidade é a possibilidade de se
conscientizar de que, em razão de sua conduta, algum resultado pode ocorrer, e o sujeito age não querendo ou
assumindo o risco de produzir tal resultado. Essa diferença entre os termos previsão e previsibilidade �cará mais clara
no estudo do dolo e da culpa.
Paulo Roberto Siquetto
28/08/2018 Artigo 13 - Código Penal COMENTADO - Direito Com Ponto Com Legislação comentada e gratuita.
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Paulo Roberto Siquetto é Delegado de Polícia Civil do Estado de São Paulo em primeira classe. Exerceu a
atividade em vários distritos policiais da Capital, além de atuar no Departamento de Homicídios, Delegacia
de Pessoas Desaparecidas, Departamento de Narcóticos e Departamento de Administração da Delegacia
Geral. Ex-presidente do Sindicato dos Delegados Leia mais...
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