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Apostila de Com e Expressão - Prof Sandra

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COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO 
LET 1090 
 
 
 
 
 
 
 
 
Professora 
 
Sandra Bernardo 
 
 
 
 
 
 
 
 
PUC-RIO 
2014 
 
 
 2 
Situação comunicativa, identidade e sentido 
 
1. 
O procedimento é, na verdade, bastante simples. Em primeiro lugar, você arruma as coisas em 
grupos diferentes. É claro que uma pilha pode ser suficiente, dependendo da quantidade do que há para 
fazer. O passo seguinte é se deslocar para o local onde se encontra o equipamento necessário para a 
tarefa. É importante não processar coisas demais ao mesmo tempo. Isto é, o melhor é fazer poucas 
coisas de cada vez. Um erro pode sair caro. De início, o procedimento poderá parecer complicado. Mas 
rapidamente se compreende que é apenas uma outra faceta da vida. (...) Depois que o processo estiver 
terminado, arruma-se o material em diferentes grupos novamente. Depois disso, as coisas poderão ser 
colocadas em seus lugares. No futuro, elas serão usadas mais uma vez e todo o ciclo terá de ser repetido. 
Isto é parte da vida. (In Brandford & Johnson, 1973. Tradução/resumo) 
 
 
2. 
 
 
 
3. 
 
 
 
4. 
Tancredo já anda e supera a crise 
 
Por volta das 20h30 de ontem, o presidente eleito Tancredo Neves deu sinais de que 
conseguiu superar a pior crise desde que se submeteu à cirurgia de urgência na madrugada de 
sexta-feira. Ele caminhou em companhia dos médicos, na sala de recuperação do Hospital de Base 
de Brasília, fez exercícios fisioterápicos para eliminar gases e disse que se sentia "bem melhor" que 
antes. Foi o fim de um longo período de tensão em todo o país. Os primeiros avisos de tranquilidade 
haviam sido dados às 17 horas, com a leitura de um boletim oficial assinado por uma junta de nove 
médicos especialistas, levados de São Paulo, Rio e Belo Horizonte para examinar o presidente eleito. 
Eles confirmaram a existência de "alterações nos movimentos intestinais" de Tancredo, ou seja, 
problemas com a acumulação de gases, mas garantiram que o estado geral dele era bom e 
recomendaram a manutenção do tratamento clínico seguido até o momento. Com isso, afastaram os 
boatos de nova cirurgia e de remoção do presidente eleito para o Hospital das Clínicas de São Paulo. 
 (O Estado de SP, 20/3/85, p. 1) 
 
 O pós-operatório de Tancredo complica-se 
 
 
 
3 
O presidente eleito Tancredo Neves, 75, passou na madrugada de ontem o período mais difícil 
no seu processo de recuperação desde que foi operado na quinta-feira. Segundo apurou a Folha em 
Brasília, Tancredo vomitou seguidamente e teve uma paralisia em parte do intestino delgado, o que 
provocou o acúmulo de gases. As dificuldades levaram a família e os médicos que assistem o 
presidente eleito no Hospital de Base a chamar uma junta médica formada por profissionais de São 
Paulo, Rio e Minas para fazer uma avaliação. 
A junta afirmou, em boletim divulgado às 17h, que o estado geral do presidente eleito é bom, 
mas "existem alterações nos movimentos intestinais, não raramente observados após operações de 
urgência". Assinaram o boletim os médicos João Batista de Rezende Alves, Lopes Pontes, Jayme 
Landman, Geraldo Siffert, Agostinho Betarello, Wilson Luiz Abrantes, Newton Procópio, Henrique 
Walter Pinotti e Célio E. D. Nogueira. 
O ministro das Comunicações, Antônio Carlos Magalhães, 57, confirmou que Tancredo passou 
uma péssima noite. Quando ouviu pela TV o porta-voz da Presidência, Antônio Britto, dizer que os 
boletins médicos indicavam a recuperação normal do Presidente, comentou: “Não é verdade”. 
 (Folha de SP, 20/3/85, p.1) 
 
 
 
Situação comunicativa e variação linguística 
 
“Toda língua comporta variações, seja em função da situação de comunicação, seja em função do 
emissor ou do receptor. À situação de comunicação relacionam-se as variantes de registro ― graus 
de formalismo ―, e as variantes de modalidade – língua falada e língua escrita. Ao emissor e 
receptor relacionam-se as variantes dialetais ― dialetos geográficos, sociais, etários, de sexo/gênero, 
de gerações. Todas essas variações se superpõem e se entrecortam de diversas maneiras, o que 
resulta um campo de estudo de grande complexidade” (In: BASTOS, Clarissa. O discurso na 
empresa. Rio de Janeiro: Apostila, 2003). 
 
 
1. 
 
 
 
 
2. Crime passional ou chifrudo vingativo? Depende do jornal que você lê. 
 O POVO 
 Jornalismo verdade. Ou seja: aqui não tem caô. 
 
 (Outdoor exposto na cidade do Rio de Janeiro. Agosto/2001) 
 
 
 
Alguns conceitos sobre variação linguística 
 
 Variedade – termo usado para definir os grupos de falares diferentes dentro de uma mesma 
comunidade linguística. 
 
 Há dois tipos de variedade: dialeto e registro. 
 
 
4 
o Dialeto – variação determinada pelas características dos usuários da língua, com base nas suas 
realizações sintáticas, fonológicas, lexicais etc. 
região de origem 
nível sócio-econômico 
idade 
etnia 
gênero 
 
o Registro – variedade linguística determinada pelo uso, pelas situações comunicativas diferentes 
campo do discurso (assunto) – expressões técnicas de certa área: economia, jornalismo, literatura 
modo do discurso – forma como a mensagem é veiculada: oral vs. escrito 
estilo do discurso – resultado do tipo de relação estabelecida entre os interlocutores: formal, íntimo. 
 
 
 Classificação da variação sociolinguística: 
 
o Variação diatópica  lugares diferentes; 
o Variação diastrática  classes sociais; 
o Variação diamésica  modalidades da língua; 
o Variação diafásica  grau de monitoramento; 
o Variação diacrônica  tempo, etapas da história. 
 
 Idioleto – variedade individual resultante da combinação de todos os fatores de diferenciação 
dialetal e de registro pertinentes a cada falante. 
 
 
Alguns casos de uso informal da língua portuguesa, considerados erros de norma padrão: 
 
Peguei ele (Peguei-o) 
Me dá um beijo (Dá-me um beijo) 
Se você ver Ana, me avisa (Se você vir Ana, avise-me) 
A pessoa que gosto é você (A pessoa de quem gosto é você) 
Tu tá dormindo? (Você está dormindo?) 
Não faz isso, menino! (Não faça isso, menino!) 
Hoje estou meia cansada (Hoje estou meio cansada) 
Gostaria de trezentas gramas de queijo (Gostaria de trezentos gramas de queijo) 
Ele delegou um trabalho para mim fazer. (Ele delegou um trabalho para eu fazer) 
Entre eu e você não há segredos (Entre mim e você não há segredos) 
Haviam três pessoas na fila (Havia três pessoas na fila) 
 
 
 Adequação do vocabulário ao contexto sócio-cultural 
 
O uso de determinadas palavras pode dizer muito sobre a conduta social do falante; por isso, em 
situações formais de comunicação, é interessante que se utilizem palavras adequadas. 
 
 
 
Registro Formal e Informal 
Elaboração: Prof
a
. Adriana Gray 
 
Em função de um contexto específico, podemos variar a linguagem escrita ou falada em 
graus de formalismo. Podemos, então, ser mais formais, menos formais, menos informais ou mais 
informais. Esta escolha depende (a) do nosso papel na comunicação; (b) do papel do nosso 
interlocutor na comunicação; (c) do objetivo da comunicação; (d) do local em que ocorre a 
comunicação; (e) do assunto da comunicação. 
 
 
 
 
 
5 
Formal Informal 
Uso maior de subordinação 
Embora não estivesse com fome, almocei. 
Uso maior de coordenação 
Eu não estava com fome e almocei 
Mais apuro na seleção vocabular 
Esta situação édesagradável 
Emprego de vocabulário mais comum 
Esta coisa é muito chata 
Uso adequado de pronomes 
Você falou com o seu professor? 
Variação no uso de pronomes 
Você falou com o teu professor? 
Uso maior da ênclise 
Encontrou-me no sábado 
Uso maior da próclise 
Ele me encontrou no sábado 
Uso maior de voz passiva 
O rapaz foi encontrado pela polícia. 
Uso maior de voz ativa 
A polícia encontrou o rapaz. 
Frequência no uso de futuro do presente, do 
pretérito, mais que perfeito simples e 
composto 
Encontrarei uma forma de pedir desculpas 
Pediria desculpas sem constrangimento 
Não soube que ele pedira desculpas 
Não soube que ele tinha pedido desculpas 
Frequência no uso de locuções verbais 
 
Vou encontrar uma forma de pedir desculpas 
Ia pedir desculpas sem constrangimento 
 
 
........................................................................................................................................ 
 
LUCCHESI, Dante. Fora de órbita. In: Discutindo a língua portuguesa. n. 4, ano I. São Paulo: Escala 
Educacional. p. 42-45. 
 
 
FORA DE ÓRBITA Dante Lucchesi 
A visão tradicional sobre a variação das línguas equivale, em termos científicos, à ideia de que o Sol 
é que gira em torno da Terra 
 
 Hoje, qualquer pessoa bem informada sabe que a Terra é um planeta que gira em torno do 
Sol. Mas nem sempre foi assim. Durante séculos a humanidade pensou que habitava o centro do 
universo. Uma visão antiga concebida por Ptolomeu em Alexandria, no Egito, no 2º. século da nossa 
era, propunha que a Terra se encontraria no centro do universo e girariam, em torno dela, os demais 
astros. Somente em 1543 o astrônomo polonês Copérnico propôs um novo sistema cosmológico, com 
o nosso planeta girando ao redor do Sol. 
 Em um paralelo entre ciências, é curioso perceber que a grande maioria das pessoas ainda 
hoje concebe a língua segundo uma visão que é anterior ao ultrapassado sistema astronômico. Pode-
se mesmo dizer que, em termos do conhecimento linguístico hegemônico na sociedade, a Terra ainda 
é o centro do universo. 
 Os fundamentos das atuais gramáticas normativas começaram a ser formulados também em 
Alexandria – sem sombra de dúvidas, um dos grandes centros do conhecimento na Antiguidade –, 
mais de 300 anos antes de Ptolomeu. A gramática seria, então, o paradigma do saber mais resistente 
da história do mundo ocidental, pois atualmente, as mais reconhecidas autoridades da língua – os 
gramáticos normativos – reproduzem uma visão de língua que foi criada há mais de 2 mil anos. Para 
os filólogos de Alexandria, a língua grega havia atingido a sua perfeição na forma em que foram 
escritos os poemas homéricos. Daí em diante ela teria se corrompido na boca dos povos que falavam 
os diversos dialetos gregos. 
 Ainda hoje as nossas gramáticas divulgam a ideia de que só existe uma forma correta de 
língua, aquela em que os grandes autores escreveram as suas obras. Não é à toa que, para atestar 
as suas prescrições, recorrem a exemplos extraídos dos escritores clássicos. E, como esses 
gramáticos gozam de um imenso prestígio social, a grande maioria das pessoas segue pensando que 
 
 
6 
não sabe escrever em Português e – o que é pior – que nem sabe falar a língua; como se todos 
tivessem a obrigação de falar hoje como se escrevia no século 17. 
 
Todos os povos 
 
 Desde o surgimento da Linguística moderna, com o Curso de Linguística Geral, de Ferdinand 
de Saussure (1857-1913), essas ideias fossilizadas de língua vêm sendo, muito lentamente, 
refutadas. 
 Os seguidores de Saussure fundaram o estruturalismo linguístico, a concepção de que a 
língua é uma estrutura organizada para desempenhar as diversas funções comunicativas na vida 
social. Eles desenvolveram o conceito de funcionalidade e formularam a ideia de que todos os 
idiomas são plenamente funcionais e estruturalmente equivalentes. Desde as profundezas das selvas 
africanas até os confins dos arquipélagos espalhados pela imensidão do oceano Pacífico, não se 
conhece qualquer agrupamento humano que não disponha de uma língua para expressar e 
comunicar todos os conteúdos da sua cultura satisfatoriamente. 
 Além disso, já é consensual entre os cientistas que não existe língua mais ou menos 
complexa que outra. A língua ianomâmi, em sua estrutura gramatical, é tão complexa quanto à língua 
alemã. A diferença reside apenas na quantidade de palavras. O Alemão, assim como o Português, o 
Espanhol, o Francês, etc., pela sua milenar tradição escrita acumulou um vocabulário de cerca de 
400 mil palavras (a maior parte pertencente aos inúmeros termos técnicos). A língua ianomâmi, assim 
como todas as línguas ágrafas (isto é, sem escrita), por ficar restrita aos limites da memória oral, tem 
um vocabulário que não chega a seis mil palavras. Mas a diferença se encerra aí, em nada afetando 
o sistema gramatical da língua, aquele que utilizamos para reunir as palavras em frases. 
 
Mudanças naturais 
 
 Mesmo a ciência linguística, contudo, não ficou imune à influência das antigas ideias da 
Escola de Alexandria. Uma particularmente exigiu grande esforço teórico para ser superada: a ideia, 
praticamente universal, de que a mudança prejudica o funcionamento da língua. 
 Antes dos filólogos de Alexandria, os sábios hindus que estudavam o Sânscrito no século 6 
a.C. também viam como corrupções as mudanças ocorridas em sua língua. Da mesma forma, os 
gramáticos medievais viam as línguas românicas, como o Francês, o Italiano e o Português, como o 
resultado da degeneração da língua latina. Por sua vez, os puristas de hoje veem o estado atual da 
Língua Portuguesa como a decadência de seu período clássico. 
 Porém, toda ideia evidente costuma ser enganosa. Assim como quem vê o sol “nascer” no 
leste e “se pôr” no oeste tem a falsa impressão de que ele gira em torno da Terra, é errado pensar 
que uma língua seja corrompida pelas mudanças que invariavelmente advêm com o passar dos 
séculos. 
 Isso é comprovado pelo conceito de “plenitude funcional” – incontestável nos dias de hoje. 
 Nunca se teve notícia, em toda a história humana, de uma comunidade que tenha enfrentado 
dificuldades comunicativas porque a sua língua passasse a funcionar mal (excetuando-se, 
obviamente, a lenda da Torre de Babel). As pessoas podem não se entender por razões políticas ou 
religiosas, mas isso é outro departamento. Não é culpa da língua. Ao contrário, as diferenças 
linguísticas são o reflexo das diferenças socioeconômicas e culturais. Portanto, não existe evidência 
empírica, ou seja, provas de que uma mudança em uma língua possa comprometer seu 
funcionamento. 
 Mas esse fato criou um paradoxo para os estruturalistas. Toda língua é um sistema 
homogêneo e unitário que funciona plenamente. A rigor, então, ela não deveria mudar, era o que 
diziam os seguidores mais ortodoxos de Saussure. 
 
Sociolinguística 
 
 Só com advento da sociolinguística, na década de 60, rompeu-se com a identificação entre o 
funcionamento da língua e sua fictícia homogeneidade estrutural. Liderados pelo estadunidense 
Willian Labov, os sociolinguistas superaram a visão saussuriana de língua, propondo um sistema 
heterogêneo e variável. 
 Para essa corrente, a Língua Portuguesa funciona tanto nos campos de várzea quanto nas 
sessões da Academia de Letras; tanto nas feiras livres quanto no grande tribunal do júri. Não porque 
seja homogênea, mas porque é heterogênea e variável. Se fosse um código rígido e unitário, como 
os gramáticos nos levam a crer, aí sim teríamos problemas comunicativos. 
 Labov sistematizou o conceito de “variação linguística”: a possibilidade estrutural existente em 
todas as línguas de dizer a mesma coisa de formas diferentes. Se eu falo “as meninas já chegaram” 
 
 
7ou se eu falo “as menina já chegou”, o meu interlocutor vai entender a mesma coisa. Essas frases 
são, portanto, variantes e, como têm o mesmo significado, são equivalentes em termos linguísticos. 
 Porém, o seu valor social é diferente. Enquanto a primeira variante é prestigiada – avaliação 
embasada por noções específicas de elegância e cultura –, quem usa a segunda forma é 
discriminado, considerado inculto e ignorante. Mas esse valor social não tem o menor fundamento 
linguístico, e nada mais é do que o reflexo da divisão da sociedade em classes, da distribuição 
desigual da renda, e sobretudo da ideologia hegemônica. Tanto é assim que esse julgamento social 
que distingue o “certo” do “errado” é historicamente determinado, e, no mais das vezes, a forma 
errada de hoje será a forma certa de amanhã. 
 
Tudo já foi variação 
 
 Ao pensar a língua como um sistema heterogêneo, Labov conseguiu equacionar o problema 
da mudança linguística que tanto atormentou os estruturalistas. As variações que se encontram em 
cada momento de um idioma nada mais são do que os reflexos dos processos de mudança que se 
estão operando na estrutura linguística e que, em alguns casos, levam séculos para se completar. 
 No século 14, em Portugal, se falava “leon”, “pan” e “man”. Já no século 16, os portugueses 
que iniciaram a colonização do Brasil já falavam indistintamente “leão”, “pão” e “mão”. É óbvio que os 
portugueses não comeram, certa noite, sopa com pan e, no dia seguinte, acordaram para tomar seu 
café com “pão”. Durante muitos anos, as duas formas conviveram e eram usadas para se referirem à 
mesma coisa, mas com valores sociais diferentes. É possível que um zeloso capitão da esquadra de 
Pedro Álvares Cabral ainda tivesse repreendido algum grumete dizendo alguma coisa como “Não é 
pão” que você está comendo, sua besta, é pan!” 
 E, apesar de todo o zelo dos puristas da época, as terminações “-on”, “-an” e “-ão” acabaram 
se fundindo em favor de “-ão”, o que explica por que o plural de “pão” é “pães”, o plural de “leão” é 
“leões”, enquanto o plural de “mão” é simplesmente “mãos”. 
 
Centralização e dominação 
 
 A variação linguística é parte integrante da história de qualquer língua, mas ainda é muito 
incompreendida e mal avaliada. As pessoas continuam acreditando que há uma rígida fronteira entre 
o certo e o errado na língua, enquanto alguns gramáticos, habilmente, “varrem para debaixo do 
tapete” amplas zonas de variação. Mas se já avançamos tanto, tornando, por exemplo, atos de 
preconceito racial crime inafiançável, por que ainda permitimos que as pessoas sejam ridicularizadas 
pela sua forma de falar? 
 Tudo isso mostra um desconhecimento geral em relação ao idioma falante. Com efeito, ainda 
predomina na sociedade uma visão pré-científica de língua, e certas recomendações gramaticais se 
comparam a técnicas superadas em outras áreas, à prescrição da sangria como terapia medicinal. 
Mas tudo tem uma razão de ser. Assim como o sistema astronômico de Ptolomeu resistiu por mais de 
mil anos porque interessava à Igreja de Roma, a visão centralizadora de língua tem servido, ao longo 
dos séculos, a diversos projetos de dominação política. 
 Assim, na Constituição do Estado absolutista francês, que vai culminar no reinado de Luís 
XIV – o Rei Sol –, a língua da Ilha de França vai se impor em todo o território francês, aniquilando a 
grande variedade dialetal e a rica tradição provençal ao sul, em que tinha sido composta a vistosa 
poesia trovadoresca. 
 Da mesma forma, a expansão colonial de Portugal e da Espanha se fez acompanhar da 
imposição de suas línguas, na consagrada fórmula do gramático castelhano Nebrija: “língua 
companheira do Império”. E o Marquês de Pombal proibiu por decreto o uso da língua geral de base 
indígena no Brasil, porque via aí um caminho para “a ruína da Coroa Portuguesa no Novo Mundo”. 
 Um dos objetivos da Linguística contemporânea é exatamente acabar com tantos 
preconceitos e tanta desinformação sobre a língua que falamos. E contribuir para que, em relação à 
língua, as pessoas não continuem pensando que o Sol gira em torno da Terra. 
_____________________________________________ 
Dante Lucchesi é professor de Língua Portuguesa da Universidade Federal da Bahia, pesquisador do CNPq, 
autor de Sistema, Mudança e Linguagem (Parábola, 2004) e coordenador do projeto Vertentes do Português 
Rural do Estado da Bahia. 
 
 
Estudo dirigido sobre o texto Fora de Órbita, publicado na Revista Discutindo Língua Portuguesa – 
Ano 1, no. 4. 
 
1. Em seu texto Fora de Órbita, Dante Lucchesi utiliza a analogia como estratégia retórica. 
Identifique os elementos análogos e explique a relação que o autor estabelece entre eles. 
 
 
8 
2. Segundo Lucchesi, os seguidores de Saussure “desenvolveram o conceito de funcionalidade 
e formularam a ideia de que todos os idiomas são plenamente funcionais e estruturalmente 
equivalentes.” Que informações são apresentadas para corroborar tal afirmação? 
 
3. “A mudança prejudica o funcionamento da língua”. Qual o posicionamento de Lucchesi sobre 
essa colocação? Que argumentos ele apresenta para sustentar o seu ponto de vista? 
 
4. De que forma a concepção saussuriana de língua se diferencia da dos sociolinguistas? 
 
5. De acordo com o texto, explique a relação existente entre língua, centralização e dominação. 
 
 
 
Língua Oral & Língua Escrita 
Elaboração: Prof
a
. Sandra Bernardo 
 
As modalidades oral e escrita da língua são produzidas em condições diversas, a saber
1
. 
 
Características da produção de fala na conversa 
espontânea: 
Características da produção de escrita no discurso 
autônomo planejado: 
1. É parte de um encontro frente a frente com o 
interlocutor. 
1. Não há encontro com o interlocutor. O leitor está 
distante. 
2. O que se diz é uma criação conjunta. 2. O texto é geralmente criado por um autor. 
3. As mensagens adaptam-se a um interlocutor 
conhecido. 
3. A audiência é anônima. O texto deve ser montado 
para ser entendido por qualquer pessoa. 
4. As mensagens são limitadas pelo tempo, pelas 
restrições do encontro e pelas limitações de 
memória. 
4. A composição e a leitura não sofrem restrições de 
tempo. O escritor pode corrigir o que escreve. O 
leitor pode reler. 
5. A comunicação utiliza canais múltiplos: gestos, 
entonação, expressões faciais etc.. 
5. A comunicação vale-se apenas de palavras. 
 
 
6. O ambiente ao redor pode ser usado para indicar 
o sentido do que é dito, bem como para 
interpretar os sinais. 
6. Tudo deve estar totalmente contido no texto, 
através da sintaxe, pois quem interpreta o sentido 
do que está escrito está distante do escritor. 
7. Os sinais da fala não servem apenas para 
informar, mas também para manipular o ouvinte. 
A fala é usada para manter uma interação 
pessoal. 
7. As mensagens são impessoais e informacionais. 
Em princípio, não transmitem a personalidade do 
escritor. Basta o escritor ser impessoal para não 
ferir as suscetibilidades do leitor. 
8. O discurso não apresenta caráter monumental. É 
dinâmico, possui vida curta. Transmite algo e 
desaparece. 
8. O texto é algo estático. Permanece como um 
monumento. 
 
Em decorrência das diferenças de produção da fala e da escrita, elencadas acima, observam-
se algumas diferenças estruturais: 
 
Fala Escrita 
1. Frases mais curtas, pausas entre orações. Mais 
coordenação do que subordinação. Maior 
frequência dos conectivos e, aí, então ou de 
conexão assindética de orações. 
1. Frases mais longas. Orações mais integradas. 
Mais subordinação. Uso variado de outros 
conectivos. 
2. Repetições, reparos (especialmente quando o 
falante inicia um período complexo e cai num 
“limbo sintático” por problemas de memória. 
2. As repetições são evitadas. Os reparos não 
existem, pois o texto pode ser corrigidoe “limpo” 
em revisões sucessivas. 
3. Preferência por verbos. 3. Preferência por nominalizações. 
4. Preferência por predicativos (Ex.: A menina é 
bonita). 
4. Preferência por orações adjetivas ou por adjetivos 
ligados diretamente ao nome (Ex.: A menina 
 
1
 Material colhido de folhetos distribuídos durante aulas ministradas por Alzira Tavares de Macedo (UFRJ), acrescido de 
alterações. 
 
 
9 
bonita...). 
5. Sujeitos preferencialmente animados ou 
principalmente humanos. 
5. Uso de impessoalizações ou passivas, ou 
ausência de sujeitos. 
6. Uso de dêiticos (demonstrativos, pronomes, 
indicadores de lugar, etc., ligando-se as orações 
pelo contexto. 
6. Explicitação do lugar, tempo e pessoa, de modo 
que o texto possa ser autônomo. 
7. Dependência maior do contexto, do cenário onde 
se dá a fala. 
7. Dependência única da sintaxe. 
8. Uso frequente do discurso direto, com entonação, 
mudança de voz etc., indicando troca de 
personagens. 
8. Uso frequente do discurso indireto, com 
alterações que precisam ser feitas nos tempos e 
modos verbais. 
9. Impessoalização com emprego de você, cara, 
nego, tu etc.. 
9. Impessoalização com passivas, uso de se, as 
pessoas etc.. 
10. Deslocamentos à esquerda, com repetição do 
item deslocado na sentença. 
10. Menor frequência de deslocamentos à esquerda. 
11. Deslocamentos à direita para acréscimo de 
informação. 
11. Menor frequência dessa construção. 
12. Emprego de rodeios e hesitações 12. Uso pouco frequente dessas marcas. 
13. Itens típicos da fala: gírias, por exemplo. 13. Itens típicos da escrita. 
14. Elipses. Supressão de verbos. 14. Menor frequência dessa construção. 
15. Preferência pela forma canônica das orações 
(sujeito-verbo-objetos-adjuntos). 
15. Maior inversão das formas canônicas. 
16. A ordem das sentenças reflete a ordem de 
ocorrência dos fatos. 
16. Uso de conjunções que alteram a ordem real de 
ocorrência. 
 
 
Fragmento 1 
 
E: eh::... e::... agora eu queria que você me contasse uma história... que tenha acontecido com 
alguém... algum amigo seu... seu pai... seu irmão... que você não estivesse presente... alguém te 
contou... e que você achou a história engraçada... [ou triste ou/] 
I: [ahn... ahn]... ah::... essa eu... eu me lembro sim... achei tão engraçada... foi um ami/ um noi/ não... 
um amigo de um amigo meu... que foi jantar na casa da noiva... aquele jantar assim... primeira vez e 
tal... oficializar o noiva::do... aí ele::... estava jantando e tal... ele... ele já não gosta muito de bife... de 
carne... aí estava lá... não conseguia partir o bife de jeito nenhum e tal... aí ele chamou a atenção do 
pessoal... pra uma outra coisa... entendeu? apontou assim pro outro lado da mesa... e ele viu que 
tinha uma janela atrás ((riso de E)) ele pegou o bife e tacou ((riso)) mas ele não reparou muito... a 
janela estava fechada... ((riso)) sério... o bife saiu... bateu na janela... e começou a escorrer... 
grudou... escorreu... quando eu (ouvi) ele contando aquilo... cara... eu dei/ muito... foi muito 
engraçado ele contando... ele contando o que aconteceu com ele... cara... foi muito engraçado... 
E: e ninguém viu... que o bife/ 
I: não... aí depois... todo mundo olhou... ele viu que o bife/ o bife ali... a família toda sem graça 
((risos)) aí (é) o fim da história... 
E: e ele casou com a menina ou naquele dia acabou? 
I: não... não casou... não chegou a casar com essa não... foi casar com uma outra ((riso)) 
 (Corpus do projeto Discurso & Gramática) 
 
Fragmento 2 
 
/.../quando ingressei nos Estados Unidos... por Miami uma das vezes eu levava a minha mãe que era 
uma senhora de setenta e dois anos de idade... e coitada... ela foi fazer companhia a minha esposa 
que tava grávida... e foi interessante que como ela sabia que ia passar oito meses... lá nos Estados 
Unidos... então levou todas as ferramentas de fazer flores de papel... aquele negócio todo só vendo o 
que ela levou ... como bagagem... e o funcionário da alfândega americana ... realmente ficou 
preocupadíssimo que significava aquilo tudo né?... aqueles ferrinhos e ferros em bola e e a impressão 
que dava é que ela levava um verdadeiro arsenal de espionagem internacional... e no meio dessa 
história toda ela levava também um pó... éh ocre né? ... é uma espécie de uma tinta ,,, de/ que se em 
geral se pintava eu não sei se pinta hoje rodapé,,, de casas... ela levava porque ela utilizava esse 
ocre... para pintura... ou modificação da das cores dos panos.. né? ou a pintura dos panos que faz/ 
 
 
10 
com os quais ela fazia as flores de papel ... e o rapaz implicou com o ocre... entende? implicou e 
puxou o ocre pra cá e puxou o ocre pra lá e terminou quebrando o o o ... o vidro de ocre... no meio da 
da das coisas espalhadas dentro do do do balcão e coitada de minha mãe... e ele foi apanhar porque 
não sabia se nos Estados Unidos ia encontrar ocre... né? 
(Entrevista do Projeto NURC do Recife) 
 
 
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Construção de sentidos: processos de figuração 
 
Processos de Figuração: “(...) processos por meio dos quais, em uma interação, os interlocutores se 
representam uns diante dos outros de determinada maneira. Em nossa vida cotidiana, por exemplo, 
nós nos representamos diante dos outros de formas bastante variadas. Uma mulher representa-se 
ora como mãe, ora como filha, ora como esposa, ora como amiga, ora como dona-de-casa, ora como 
profissional, etc., etc. Em cada uma dessas situações, agimos de modo diferente, SOBRETUDO EM 
TERMOS DE LINGUAGEM (...)” In: KOCH, Ingedore V. A inter-ação pela linguagem. São Paulo: 
Contexto, 1992, p. 107. 
 
Assista ao curta E no meio passa um trem, de Fernando Meirelles e Nando Olival, e, com base no 
fragmento acima, escreva um texto analisando os processos de figuração que nele ocorrem. Não se 
esqueça de dar um título ao texto, que deve ter em torno de 25 linhas. 
 
E no meio passa um trem – Direção: Fernando Meirelles e Nando Olival; Ano: 1998; Duração: 17 
min; Elenco: Theo Werneck e Bruno Giordano; Vencedor do Festival de Recife de 2000 – melhor 
filme. 
 
........................................................................................................................... 
 
 
Entrevistas, entrevistas 
João Ubaldo Ribeiro 
(O Globo, 30/08/98) 
 
Tenho vários amigos famosos, em cujo rol sobressai o insuperável Zé Rubem Fonseca, que 
nunca dão entrevista. Antigamente, eu achava isso rabugice, até que a vida e gente como o Zé 
Rubem me foram ensinando o contrário. O Zé Rubem não é rabugento e, pelo contrário, é uma doce, 
terna e solidária pessoa, que quem já esteve com ele confirmará de pronto. Ele simplesmente não 
tem saco para entrevistas, por motivos que hoje compreendo perfeitamente. 
 Que é uma entrevista? É um instrumento jornalístico para que se procure, junto ao 
entrevistado, alguma informação antes desconhecida. Mas, não é o que costumeiramente ocorre. 
Não esqueço de uma jovem repórter, que, pautada por uma revista nacional, foi entrevistar-me, 
quando eu ainda morava na minha gloriosa Ilha de Itaparica. Chegou, toda bonitinha, cruzou as 
perninhas e a primeira pergunta que me fez foi a seguinte: 
 –– O senhor é escritor, não é? 
 –– Não –– quis eu responder, mas não respondi. –– Sou gigolô da senhora sua mãe. 
 Que diabo, ela não tinha lido nem a pauta, que dizia, logo no começo, "entrevistar o escritor 
João Ubaldo Ribeiro sobre tais e tais assuntos". Quase ninguém faz o dever de casa, antes de 
entabular a entrevista. Aí perguntam onde eu nasci, que livros escrevi e em que datas, ondemoro 
(isto na minha casa), quantos filhos tenho e outras coisas de grande interesse público, das quais 
quem se interessa já está farto de saber e quem não se interessa não quer saber. 
 Ou então se vem com a convicção de que eu, por ser uma pessoa de modesta notoriedade, 
sou capaz de opinar sobre qualquer assunto como a qualidade dos charutos cubanos, a política 
econômica da Rússia ou o desempenho dos tenores da Ópera de Milão. Eu não sei, não finjo saber, 
mas o entrevistador se indigna quando lhe revelo minha ignorância sobre esses e mais uma vastidão 
de assuntos. 
 E tem o entrevistador que, mesmo gravando o que se disse, transcreve o dito "em suas 
próprias palavras". Não há maior contrafação que essa. Lembro que uma vez ainda em Itaparica, usei 
a palavra "turista" para designar os que por lá apareciam para passar um ou dois dias, e "veranista" 
para falar nos que lá mantêm casas e a muitos dos quais a cidade deve muitos benefícios. Com 
 
 
11 
gravador e tudo, o entrevistador entendeu as palavras como sinônimas e embananou tudo o que falei. 
Os casos desse tipo de que já fui vítima são inumeráveis. 
 Recordo uma certa entrevista em que, como todo mundo que me conhece sabe, disse que 
sou vascaíno, com muito orgulho. Mas contei ao rapaz que empunhava o gravador que já tinha saído 
em vários jornais que eu era Flamengo (aliás, torcida do Flamengo, aquele abraço!). Ele deu uma 
risada e até criticou os seus colegas desatentos. Pois bem, no dia em que saiu a entrevista, estava lá 
escrito, como frase minha. "Eu sempre fui Flamengo, mas costuma sair nos jornais que sou Vasco, 
veja que loucura." 
 Além de tudo, entrevista é trabalho que deveria ser pago. Não consigo contar as vezes em 
que me pediram entrevistas e eu disse qualquer coisa como "quarta-feira, às onze horas". Ah, nesse 
dia e nessa hora o entrevistador não pode. Então, sexta-feira, às dez horas. Também não pode. 
Sábado então, sábado ao meio dia? Impossível. Domingo, alors, Domingo, às dez. Impraticável. 
Quinta-feira, às nove? Vamos fazer um esforço e, na quinta chega o entrevistador às onze, se 
queixando do tráfego em Botafogo e desejando ocupar o tempo do entrevistado somente até uma, 
uma e meia da tarde. 
 Claro que não é sempre assim. A Glória Maria (gracinha!), já esteve aqui em casa, para glória 
minha e não dela –– que já a tem, a começar, pelo próprio nome –– na hora marcada e sabendo 
perfeitamente o que ia perguntar. A Marília Gabriela (paixão!) não me aporrinhou com nenhuma 
pergunta cretina, muito pelo contrário, ficamos num grande cara a cara. O Jô tampouco, o Pedro Bial, 
tampouco. A Daniela Name tampouco, e vários outros tampouco. Mas, no geral, o Zé Rubem tem 
toda razão, não há por que ficar dando entrevistas a três por dois. 
 Alegarão os que se sentirem atingidos (não é meu propósito, trata-se apenas de um 
desabafo), que essas entrevistas muitas vezes promovem meus livros ou minha imagem. Verdade, 
verdade. Mas, quando isso acontece, eu estou sendo pago, ainda que indiretamente. Se, por 
exemplo, eu vou ao Jô Soares Onze e Meia, trabalhar com ele, mas, ao mesmo tempo, mostrar meu 
livro mais recente, estou ganhando um comercial gigantesco e, evidentemente, não me sinto 
explorado. 
 Da primeira vez em que fui a Berlim, já faz não quantos milhões de anos, uma emissora de 
televisão me pediu uma entrevista. Me levaram para um parque, me sentaram num banquinho 
cercado por um jardim e me entrevistaram sobre coisas fáceis de responder –– se eu estava 
gostando de Berlim, se eu acreditava no incremento das relações culturais entre Brasil e Alemanha e 
assim por diante. Tudo durou não mais que cinco minutos e, no fim, um funcionário da emissora 
quase trêmulo de embaraço, veio a mim com 700 marcos na mão, pedindo profundas desculpas por 
só estar fazendo aquele pagamento simbólico, estava envergonhadíssimo por dispor somente 
daquela verba ridícula que, para mim, naqueles tempos bicudos, era uma nota preta. Aqui não. Aqui 
você vai ao estúdio, tem que deixar documento de identidade na portaria, pendurar crachá e ser 
submetido a uma série variada de indignidades. Todo mundo está ganhando, do contra-regra ao 
apresentador. Só quem não ganha é o cerne do programa, ou seja, os entrevistados. Pensei, pensei, 
sei que, com isto, devo estar encerrando a minha carreira televisiva, mas resolvi, agora só vou se me 
pagarem, pelo menos, na forma em que o Jô me paga. Adeus, senhores telespectadores. 
 
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E isso de ser jornalista? 
Zuenir Ventura 
No mínimo 23/03/2004 
 
Uma vez chamei de “Samba do diálogo doido” as entrevistas que alguns estudantes fazem 
com a gente. São conversas sem pé nem cabeça, em que não se sabe o que irrita mais, se o 
despreparo do entrevistador ou a falta de orientação por parte do professor. Chegam sabendo por 
alto quem você é ou o que faz e tendo apenas uma vaga ideia do assunto sobre o qual devem 
perguntar. Não são todos assim, evidentemente, há alunos excelentes que entrevistam melhor que 
muitos professores. 
 Nestas últimas semanas, porém, com a aproximação do 40º. aniversário do golpe militar, 
intensificou-se o assédio a mim e, pelo que sei, a vários colegas, de jovens atrás de informações 
sobre a ditadura militar. Há casos em que a confusão e o desconhecimento são de dar pena ou fazer 
rir. Entre os despreparados, há pelo menos duas categorias: a dos humildes que pedem desculpas 
pelo que não sabem e acabam despertando a nossa paciência e a dos ignorantes espertos e cheios 
de si, dos quais aí vai uma amostra. 
 Como é que era aquela época? 
 Achei que depois dessa viria outra do gênero: “Como é que é essa coisa de ser jornalista?”. 
Com o tempo aprendi a dar respostas igualmente vagas ou desconcertantes: “Ah, depende”. Ou 
 
 
12 
então: “É como essa coisa de ser estudante de jornalismo”. Quando o jovem começou assim a 
entrevista, eu estava de mau humor. Resolvi então gozá-lo, respondendo mais ou menos assim: 
 Era uma época parecida com a atual, só que muito diferente. Como todas elas, variando 
conforme o ponto de vista. 
 Não queria dizer absolutamente nada, e eu esperava que se replicasse com um “como 
assim?” ou “explica melhor”. Nada. Ele se deu por satisfeito, o que aumentou minha irritação. 
 O senhor escreveu um livro sobre o período, não é? 
 Sobre que período? 
 Sobre o período em que aconteceu tudo aquilo. 
 Tudo aquilo o quê? 
 Toda aquela confusão. 
 Escrevi um livro sobre 1968. 
 Ah, sim: “O ano que não aconteceu”. 
 Não. “O ano que não terminou”. 
 Você pensa que ele se encabulou? Nem aí. 
 É verdade. Fale um pouco sobre ele. 
 Você não leu? 
 Com esses trabalhos todos para fazer, ainda não tive tempo. 
 Mas o livro foi lançado há mais de 15 anos. 
 É verdade. 
 O que mais me irritava era que ele não dava o braço a torcer. Tinha sempre um “é verdade”, 
como se minha palavra dependesse do crivo dele. Era como se o que eu dizia só tivesse validade 
quando ele endossava: “é verdade”. 
 E você não teve tempo de ler? 
 Não, mas faz um resumo para os nossos leitores. 
 Aí tive que rir. Era tão folgado que ficava engraçado. Além do resumo, ele queria imprimir 
mais realismo à entrevista e falava como se milhares de leitores, “os nossos leitores”, fossem ler este 
emocionante diálogo. Foi quando me dei conta do seguinte: 
 Escuta aqui: se a pesquisa é sobre 64, o que 68 tem a ver com isso? 
 É que eu quero fazer um trabalho abrangente. Sou assim: quando escolho um tema vou 
fundo, quero saber tudo. 
 Vi que ele era imbatível, não tinha jeito. Um grande debochado, só podia ser. Desisti de tentar 
gozá-lo, já que eu estava perdendo todas, e propus: 
 Vamos nos concentrar em 64. 
 Como o senhor quiser. Pra mimtanto faz. Pode começar. 
 Ele não só estava mandando no jogo como agora me dava ordens e permitia que, nesse 
duelo, eu escolhesse as armas: “Como o senhor quiser”. Penso na crônica que escrevi há oito anos e 
percebo que nada mudou: parece o mesmo aluno de então, com as mesmas perguntas, a mesma 
cara de pau. Será que o outro virou coleguinha? E este de agora, será que vai conseguir o diploma? 
Respondo qualquer coisa e fico à espera da indefectível pergunta, que costuma ser ou a primeira ou 
a última. Ela vem. 
 Agora vamos falar um pouco do senhor: como é que começou? 
 Vou à forra. Já tenho a resposta pronta. 
 Estou quase indo embora e você vem me perguntar como comecei? 
 Ele diz “é verdade”, me manda um abraço e, antes de desligar, ameaça: “Quando o trabalho 
estiver pronto, envio uma cópia para o senhor. Qual é o seu endereço?” Não devia confessar, porque 
isso não se faz, mas dei o endereço errado. 
 
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Resumo & Resenha 
 
Neste curso, o estudo dos gêneros Resumo e Resenha baseia-se no projeto intitulado – Leitura e 
produção de textos na universidade: um estudo de gêneros do discurso para subsidiar a produção 
acadêmica de graduandos – desenvolvido com apoio da FAPERJ (Edital FAPERJ Nº 06/2009) e 
alocado no site do Departamento de Letras da PUC-Rio. Acesso: 
http://www.letras.puc-rio.br/unidades&nucleos/producao_textual/site/index.php 
 
Parte do material alocado no referido site é apresentado em seguida para estudo e exercício sobre 
resumo e resenha. 
 
 
 
13 
RESUMO 
 
A capacidade de resumir textos adequadamente é fundamental para o bom desempenho do aluno 
universitário. Através do resumo, pode-se registrar a leitura de textos acadêmicos e manifestar a 
compreensão de conceitos. 
 
O percurso que se faz para elaborar um resumo bem feito envolve uma série de decisões e uma 
organização cujo resultado é um todo unificado. Fazer um resumo é transformar um texto em outro, 
tomando decisões que envolvem as habilidades de selecionar, organizar e integrar as informações 
numa nova linguagem. 
 
A tarefa de resumir envolve, dentre outras operações, aquelas que se caracterizam como 
propriamente linguísticas: a organização/reorganização das informações; a delimitação e a 
construção dos tópicos com as operações de supressão e substituição tópica; o estabelecimento do 
equilíbrio entre as informações. 
 
Nesta unidade encontram-se exercícios cujos objetivos principais são os seguintes: 
 
 Aprimorar as habilidades do estudante no que concerne às atividades de identificar e 
sintetizar os elementos essenciais de um texto. 
 Trabalhar a produção de fichamentos e de resumos como integrantes de um processo de 
leitura que leva à produção textual. 
 Elaborar resumos informativos como auxílio à produção textual do aluno universitário. 
 
 
 
 
Exercício 1 
Após a leitura do texto abaixo, encontram-se alguns exercícios cujo objetivo é evidenciar algumas 
estratégias de leitura que podem facilitar a elaboração de resumos. 
 
Pau na canalha 
Joaquim Ferreira dos Santos 
(O GLOBO, 03/08/2009) 
 
Há quem inveje o estilo literário do suicida em sua carta de despedida, aquele texto prenhe de 
sinceridade e emoção. O verdadeiro ponto final. Está tudo acabado, não há mais necessidade de 
posar e se fazer de herói. Enquanto o gás toma conta do ambiente, enquanto o guaraná com 
formicida faz o efeito libertário, o sujeito senta-se à mesa, pega a caneta e põe os bofes para fora. 
Acusa, confessa, pede perdão e acerta as contas. Nem aí para as firulas gramaticais. Acima de tudo 
abre o jogo com o nada a perder dos desesperados. Um belo texto, mas dele sempre pinga uma gota 
de melancolia. 
 
Eu invejo o estilo literário da carta do leitor na página 6 do GLOBO. 
 
Ele é um suicida literário, sempre prestes a cravar o peito de exclamações virulentas para que a 
autoridade inescrupulosa, chafurdando na lama da corrupção, tenha vergonha na cara e perceba o 
despropósito a que chegamos. O jornal é a grande praça pública moderna, o local para se pôr fogo às 
vestes e gritar que foi ele, pega esse ladrão contumaz. Será que esse energúmeno engravatado, 
continua o leitor, não percebe que a cidade, essa pocilga, é um valhacouto de bandidos da pior 
espécie?! 
 
Eu invejo acima de tudo a boca cheia dessas cartas, todas prenhes do que os antigos chamavam de 
“sem papas na língua”. Num mundo dominado pelos corretores de textos, que aproveitam a deixa e 
corrigem também as emoções, o verbo quente do leitor assíduo fica naquela faixa da eloquência que 
os editores pedem aos jornalistas profissionais para que seja evitada. 
 
Eu acho que é justamente o que falta, o pau na canalha, o ovo podre da semântica, nas páginas dos 
jornais. 
 
 
 
14 
O leitor não tem medo de processo, não escreve sob o jugo dos manuais de redação e pegou para 
ele todos os pontos de exclamação que o jornalismo moderno acha brega. É a sua flecha no encalço 
dos bandidos. Ele mete bronca, usa o “é um absurdo!” como vírgula, e estamos conversados. Não 
precisa no dia seguinte se desmentir no mesmo espaço, com o mesmo número de linhas. É um 
homem livre. Já que a autoridade constituída se escondeu no gabinete, ele usa o verbo solto como se 
espetasse o dedo na cara do salafrário. Nada de pose para agentes literários, nem aí para a 
academia. 
 
O leitor não discute a necessidade de diploma para escrever no jornal. Passa ao largo dos bons 
modos da prosa contemporânea e dos regulamentos de inscrição para o Prêmio Esso. Escreve com 
todas as letras. Ninguém presta. Todos os políticos são bandidos, pulhas da pior espécie. Até 
quando, senhor prefeito?! 
 
Eu sinceramente invejo a carta do leitor pela rapidez e clareza com que vai ao ponto. Gosto da sua 
despretensão estilística, uma água límpida que deixa ver no leito do rio as pedras a serem atiradas no 
quengo dos que se locupletam nas falcatruas públicas. Bandalheira, despautério, chusma de 
calhordas. O leitor não deve favor nenhum a ninguém. Jamais almoçou no palácio, jamais recebeu 
uma informação de cocheira do prefeito. Se há governo, é contra – e era isso que estava escrito no 
início da profissão de jornalista. 
 
A carta do leitor é onde ainda se leva ao pé da letra o princípio básico do negócio de imprimir 
informação, uma sabedoria cunhada há tempos por Millôr Fernandes – “Jornalismo é oposição, o 
resto é armazém de secos e molhados” – e tão desprezada hoje. 
 
Não existe carta do leitor a favor. Todos reclamam, todos esculhambam os poderosos, e ele está 
certo. Foi exatamente para isso que se derrubaram tantas árvores e gastaram-se galões de tinta. 
 
De todos os textos que li semana passada nenhum me vibrou mais inveja do que o da carta da leitora 
Cristina Silva Borensztajn, publicado dia 28 na página 6 do GLOBO com o título de “O namorado da 
neta”. Cristina diz que “é um escárnio, um abuso e, acima de tudo, falta de respeito ao cidadão de 
bem ler nos jornais a frase esnobe do namorado da neta do Sarney”. Os professores de 
Comunicação deveriam exibir a carta de Cristina em suas aulas como exemplo de estilo a ser 
perseguido. Um primor de fluência. Ela cita a tal frase, uma bobagem do pobre coitado atracado ao 
cargo que o senador lhe nomeou secretamente, e continua apertando a sua jugular: “Um fedelho”. 
Cristina finaliza na jugular do Sarney: “Isso não é um Senado”. 
 
Eu invejo do fundo da redação, já que o coração não é mais de bom tom escancarar em público, essa 
veemência cívica, essa urgência de justiça, esse sangue que pulsa nas veias das vírgulas da carta do 
leitor. Era mais ou menos essa a trinca santa do jornalismo, e que se foi ajustando às necessidades 
de mais elegância no texto, mais cuidado na percepção dos códigos jurídicos emenos personalidade 
autoral nas matérias. Se os jornais e revistas dão a impressão de terem sido preenchidos por uma 
única pessoa, na carta dos leitores pululam as personalidades. É liberado o culto das idiossincrasias. 
É permitido desconfiar de tudo, até mesmo da integridade do jornal, e gritar o que estiver doendo do 
jeito que lhe aprouver o vernáculo. 
 
Há entre os leitores quem ache a polícia do Rio uma súcia. Outros, deletéria. Sobre a Câmara há 
unanimidade. Só ladravaz. 
 
Onde já se viu! Assim não dá! 
 
Chega de jornalismo bem comportado, com bênçãos ao ombudsman e elogios ao senhor doutor. Eu 
quero o estilo desabusado da carta do leitor, a cama de exclamações em que a indignação pública 
jamais dorme calada. 
 
 
1.1 
Qual é a intenção de Joaquim Ferreira dos Santos no texto “Pau na canalha”? 
(a) Criticar o estilo de jornalismo bem comportado, fazendo, para isso, um contraponto 
com o “estilo desabusado” das cartas dos leitores. 
(b) Criticar o estilo literário das cartas dos suicidas, demonstrando sua inveja pelos 
leitores suicidas literários. 
(c) Criticar o estilo literário das cartas dos leitores. 
 
 
15 
(d) Elogiar a “despretensão estilística das cartas dos leitores”. 
 
1.2 
O primeiro parágrafo do texto – “Há quem inveje [...] melancolia” – pode ser analisado como: 
(a) Uma introdução estilística com o objetivo de despertar o interesse do leitor. 
(b) A tese central do texto. 
(c) A síntese do que se desenvolverá posteriormente. 
(d) Explicação do que o autor considera estilo literário. 
 
Nos itens 1.3 e 1.4, observa-se a utilização do recurso da polifonia, que consiste na “incorporação 
que o locutor faz ao seu discurso de asserções atribuídas a outros enunciadores” (KOCH 1993, p. 
142). 
 
1.3 
A citação atribuída a Millôr Fernandes tem como função 
(a) legitimar o pensamento do autor em relação à pretensão de neutralidade do jornalismo 
atual. 
(b) criticar a indignação expressa nas cartas dos leitores. 
(c) exemplificar a afirmação de que “não existe carta do leitor a favor”. 
(d) corroborar a crença de que todos devem reclamar pelos jornais. 
 
1.4 
A utilização de algumas frases da carta da leitora Cristina Silva Borensztaj tem como intenção 
(a) exemplificar o que a autor vinha explanando sobre o estilo das cartas dos leitores. 
(b) argumentar contra as atitudes de alguns políticos. 
(c) satirizar o estilo dos jornalistas. 
(d) ressaltar sua inveja em relação ao estilo livre dos leitores. 
 
1.5 
No texto de Joaquim Ferreira dos Santos, percebem-se, em oposição ao estilo das cartas dos 
leitores, algumas limitações a que os jornalistas estariam submetidos. Assinale a alternativa que 
melhor ilustra tais limitações: 
(a) sofrer processos, seguir manuais de redação, manifestar opiniões e emoções. 
(b) usar pontos de exclamação, discutir a necessidade do diploma, imprimir elegância ao 
texto. 
(c) reclamar contra políticos, passar informação com rapidez, respeitar o academicismo. 
(d) subverter a semântica, participar de concursos – como o Prêmio Esso -, expor sua 
melancolia. 
 
1.6 
Joaquim F. dos Santos escreve um trecho, no último parágrafo de seu texto – “Chega de jornalismo 
bem comportado, com bênçãos ao ombudsman e elogios ao senhor doutor. Eu quero o estilo 
desabusado da carta do leitor, a cama de exclamações em que a indignação pública jamais dorme 
calada.” -, semelhante a algumas passagens de “Poética” (Libertinagem; 1930), um dos poemas mais 
conhecidos de Manuel Bandeira (1886-1968): Estou farto do lirismo comedido/Do lirismo bem 
comportado/Do lirismo funcionário público/ com livro de ponto expediente/protocolo e manifestações 
de apreço ao Sr. diretor./[...]/ Quero antes o lirismo dos loucos/O lirismo dos bêbedos/O lirismo difícil 
e pungente dos bêbedos/O lirismo dos clowns de Shakespeare./- Não quero mais saber do lirismo 
que não é libertação. 
 
Comente o uso de tal recurso, denominado intertextualidade (KOCH, 2009, p. 42, 145, 154), e o 
aproveitamento, ou não, do trecho em questão em um possível resumo de “Pau na canalha”. 
 
1.7 
Baseando-se no conceito de que um resumo é a redução de um texto às suas ideias básicas, isento 
de repetições, exemplos, citações, declarações, introduções e passagens estilísticas, além de 
definições, escolha a opção que melhor resume o texto de JFS. 
(a) No texto “Pau na canalha” (O Globo, 09/08/2009), Joaquim Ferreira dos Santos critica as medidas 
reguladoras impostas à escrita dos jornalistas atuais, isto é, a falta de liberdade dos jornalistas, no 
sentido linguístico, ressaltando a liberdade dos leitores na seção de cartas dos jornais. 
(b) No texto “Pau na canalha” (O Globo, 09/08/2009), Joaquim Ferreira dos Santos faz um elogio às 
cartas de leitores dos jornais por seu estilo rápido e claro. 
 
 
16 
(c) No texto “Pau na canalha” (O Globo, 09/08/2009), Joaquim Ferreira dos Santos declara a sua 
inveja dos leitores que não estão presos aos manuais de redação. 
(d) No texto “Pau na canalha” (O Globo, 09/08/2009), Joaquim Ferreira dos Santos expressa sua 
admiração pelos manuais de redação que tornam a escrita mais elegante. 
 
 
Exercício 2 
 Leia o texto a seguir, considerando as estratégias de leitura observadas no exercício 1. 
 
Da arte brasileira de ler o que não está escrito 
Cláudio de Moura e Castro 
(Veja, 08/10/1997) 
 
Terminando os poucos anos de escola oferecidos em seu vilarejo nas montanhas do Líbano, o jovem 
Wadi Haddad foi mandado para Beirute para continuar sua educação. Ao vê-lo ausente de casa por 
um par de anos, a vizinha aproximou-se cautelosa de sua mãe, jurou sua amizade à família e 
perguntou se havia algum problema com o rapaz. Se todos os seus coleguinhas aprenderam a ler, 
por que ele continuava na escola? Anos depois, Wadi organizou a famosa Conferência de Jontiem, 
"Educação para Todos", mas isso é outro assunto. Para a vizinha libanesa, há os que sabem ler e há 
os que não sabem. Não lhe ocorre que há níveis diferentes de compreensão. Mas infelizmente temos 
todos o vício de subestimar as dificuldades na arte de ler, ou, melhor dito, na arte de entender o que 
foi lido. Saiu da escola, sabe ler. 
 
O ensaio de hoje é sobre cartas que recebi dos leitores de VEJA, algumas generosas, outras iradas. 
Não tento rebater críticas, pois minhas farpas atingem também cartas elogiosas. Falo da arte da 
leitura. É preocupante ver a liberdade com que alguns leitores interpretam os textos. Muitos se 
rebelam com o que eu não disse (jamais defendi o sistema de saúde americano). Outros comentam 
opiniões que não expressei e nem tenho (não sou contra a universidade pública ou a pesquisa). Há 
os que adivinham as entrelinhas, ignorando as linhas. Indignam-se com o que acham que eu quis 
dizer, e não com o que eu disse. Alguns decretam que o autor é um horrendo neoliberal e decidem 
que ele pensa assim ou assado sobre o assunto, mesmo que o texto diga o contrário. 
 
Não generalizo sobre as epístolas recebidas algumas de lógica modelar. Tampouco é errado ou 
condenável passar a ilações sobre o autor ou sobre as consequências do que está dizendo. Mas 
nada disso pode passar por cima do que está escrito e da sua lógica. Meus ensaios têm colimado 
assuntos candentes e controvertidos. Sem uma correta participação da opinião pública educada, 
dificilmente nos encaminharemos para uma solução. Mas a discussão só avança se a lógica não for 
afogada pela indignação. 
 
Vale a pena ilustrar esse tipo de leitura com os comentários a um ensaio sobre nosso sistema de 
saúde (abril de 1997). A essência do ensaio era a inviabilidade econômica e fiscal do sistema 
preconizado pela Constituição. Lantejoulas e meandros à parte, o ensaio afirmava que a operação de 
um sistema de saúde gratuito, integral e universal consumiria uma fração do PIB que, de tão alta (até 
40%), seria de implantação inverossímil.Ninguém é obrigado a aceitar essa afirmativa. Mas a lógica impõe quais são as possibilidades de 
discordar. Para destruir os argumentos, ou se mostra que é viável gastar 40% do PIB com saúde ou é 
necessário demonstrar que as contas que fiz com André Medici estão erradas. Números equivocados, 
erros de conta, hipóteses falsas, há muitas fontes possíveis de erro. Mas a lógica do ensaio faz com 
que só se possa rebatê-lo nos seus próprios termos, isto é, nas contas. 
 
Curiosamente, grande parte das cartas recebidas passou por cima desse imperativo lógico. Fui 
xingado de malvado e desalmado por uns. Outros fuzilaram o que inferem ser minha ideologia. Os 
que gostaram crucificaram as autoridades por negar aos necessitados acesso à saúde (igualmente 
equivocados, pois o ensaio critica as regras e não as inevitáveis consequências de sua aplicação). 
 
Meus comentaristas escrevem corretamente, não pecam contra a ortografia, as crases comparecem 
assiduamente e a sintaxe não é imolada. Contudo, alguns não sabem ler. Sua imaginação criativa 
não se detém sobre a aborrecida lógica do texto. É a vitória da semiótica sobre a semântica. 
 
 
 
 
 
17 
2.1 Realize uma leitura global do texto, identifique as informações apontadas abaixo e organize-as, 
usando apenas expressões ou tópicos. 
 
 O assunto 
 A questão central 
 A organização textual 
 O ponto de vista do autor do texto em relação ao assunto tratado. 
 As informações essenciais para caracterizar a questão central do texto de CMC. 
 
2.2 Realize mais uma leitura global do texto e selecione as seguintes informações: 
 
 Um comentário do autor 
 Uma explicação 
 Uma justificativa de uma afirmação feita 
 Um exemplo 
 Uma informação complementar 
 
 
Exercício 3 
Questão de pele 
Toni Marques 
(Revista de História da Biblioteca Nacional, 01/01/2009) 
http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=2178 
 
Nenhuma nação desconheceu a tatuagem. Encorajada aqui, proibida acolá, ela independe de 
geografia, classe ou calendário e é tão antiga quanto à própria humanidade. Nasce e renasce em 
todos os continentes de modo espontâneo, ao sabor dos grandes deslocamentos humanos, seguindo 
(e escrevendo) a História de vencedores e de vencidos, dos reis e dos súditos, dos inuits do gelado 
Ártico aos marinheiros de Santos. 
 
Não se sabe ao certo quando chegou por estas bandas, mas viajantes estrangeiros já se 
surpreendiam com as marcas pigmentadas na pele dos índios. Em 1512, Henri Estienne, um 
explorador francês, ficou impressionado com os rostos dos nativos, decorados com cicatrizes 
azuladas. Algumas iam das orelhas ao queixo. Quando cruzou o Atlântico de volta para casa, levou 
alguns índios consigo e os exibiu na corte francesa. Hoje se sabe que a prática era amplamente 
utilizada. Dos mundurucus (Amazonas, Mato Grosso e Pará) aos povos litorâneos, como os 
tabajaras, nossos índios se tatuavam para denotar sua origem ou marcar momentos de passagens, 
como a puberdade, e mudanças de status, como a de menino para guerreiro ou a de inimigo para 
escravo. Eles usavam espinhos e outros instrumentos de corte, como dentes de animais e diamantes. 
E o principal pigmento vinha do jenipapo. Nada muito sofisticado: em geral, as marcas se restringiam 
a desenhos geométricos rudes, distantes da intrincada elaboração da tatuagem das Ilhas Marquesas, 
na Polinésia Francesa, onde os homens eram totalmente “decorados” da cabeça aos pés. 
 
As cicatrizes intencionais dos escravos – também chamadas de escarificação – eram outra marca 
corporal impressionante para os estrangeiros. “Fazem pôr por enfeite e sinal nas suas faces muitos 
lanhos, (...) indicativos da família, do Reino, do Presídio e do lugar onde nasceram”, descreveu, em 
1793, o português Oliveira Mendes em Memória a respeito dos escravos e tráfico de escravatura 
entre a Costa d’África e o Brasil. Outro europeu a mencionar as escarificações dos negros escravos 
foi o historiador francês Ferdinand Denis (1798-1890). Ao circular pela Rua da Alfândega, no Rio de 
Janeiro da primeira metade do século XIX, afirmou que era chocante ver os negros seminus na rua, 
com suas “tatuagens bizarras, que servem de pronto para reconhecer as suas nações”. Denis se 
referia às cicatrizes intencionais, mas já emprega, em francês, a palavra “tatuagem”. 
 
O termo passou a ser adotado depois que o inglês James Cook conheceu in loco a sofisticada 
tradição desenvolvida na Polinésia, em fins do século XVIII. Lá, os nativos usavam espinhas de peixe 
finíssimas, ou ossos de passarinho, para perfurar a pele e injetar um pigmento feito à base de carvão 
e ferrugem. O navegador registrou o costume em seu diário de bordo: “Homens e mulheres pintam o 
corpo. Na língua deles, chamam isso de tatau. Injetam pigmento preto sob a pele de tal modo que o 
traço se torna indelével”. A palavra taitiana era uma onomatopeia do som feito durante a execução da 
tatuagem. Veio daí a versão em inglês: tattoo. 
 
 
 
18 
O nome pegou e a prática se espalhou com os lobos-do-mar ingleses pelos sete mares. No século 
XIX, a tatuagem tinha virado moda entre marinheiros, operários, prostitutas e criminosos de todo tipo. 
No Brasil não foi diferente. Com a abertura dos nossos portos, a tatuagem alcançou o submundo. As 
descrições dessa prática marginal estão presentes em livros de médicos e criminalistas, e em 
crônicas jornalísticas do século XX. Em “Tatuagem e criminalidade”, tese apresentada na Faculdade 
de Medicina do Rio de Janeiro em 1912, José Ignacio de Carvalho enumerava as tatuagens de 
presos da Casa de Detenção. Nomes, iniciais e emblemas de amor predominavam nos 994 tatuados 
que encontrou em um universo de 6.542 detentos. Os tatuados eram padeiros, baleiros, pedreiros, 
marítimos, cocheiros, domésticos e alfaiates, o que levou o autor à seguinte conclusão: “O indivíduo 
tatuado pertence, em geral, a uma classe inferior, estranha aos progressos da civilização”. 
 
Essa era a visão corrente. Por conta da chamada antropologia criminal, surgida a partir da segunda 
metade do século XIX, as conotações pejorativas haviam se cristalizado na Europa católica. Da Itália 
até Portugal, tatuagem era coisa de cidadão de segunda classe. O mesmo não acontecia nos países 
protestantes, como Alemanha, Holanda e Inglaterra, onde reis, imperadores e aristocratas também 
adornavam suas peles. Era a marca do conquistador branco. O pai da moda foi o rei britânico 
Eduardo VII (1841-1910). Ainda príncipe, tatuou-se nas viagens de instrução, etapa necessária da 
educação militar do aspirante ao trono. O monarca fez tatuagens em Jerusalém e no Japão, as 
grandes mecas da prática na virada para o século XX. Depois de Eduardo VII, outros nobres 
adotaram o costume. Foi o caso de Frederico IX (1899-1972). Fotografias famosas mostram o rei da 
Dinamarca sem camisa, ostentando orgulhosamente tatuagens marinheiras e de emblemas de seu 
país. 
 
Não se sabe ao certo se a elite brasileira conheceu o costume ou se teve interesse e meios de adotá-
lo. Por aqui a tatuagem permanecia marginal no início do século passado, feita pelos próprios 
tatuados e por tatuadores amadores – a maioria deles estrangeiros de passagem pelo Brasil na 
condição de marinheiros. A situação só mudaria com a máquina de tatuar, patenteada pelo inglês 
Samuel O’ Reilly em 1891, mas que só chegaria deste lado do Atlântico no século seguinte. 
 
O grande pioneiro da tatuagem no Brasil foi um ex-marinheiro dinamarquês estabelecido em Santos. 
Knud Harld Likke Gregersen (1928-1983), o “Tattoo Lucky”, nasceu em Copenhague e tinha a 
tatuagem no sangue – seu pai, Jens, era um tatuador de renome internacional. O próprio Knud 
afirmou várias vezes que sua infância e juventude se passaram no ateliê da família. Depois de anos 
levando a vida de marinheiro, desembarcou de vez no porto de Santos em 20 de julho de 1959. O 
ArquivoNacional ainda conserva sua ficha de registro: ao se apresentar às autoridades, declarou-se 
desenhista e pintor. Seis meses depois, já estampava jornais e revistas. No dia 7 de janeiro de 1960, 
foi tema de matéria da Folha de S. Paulo. 
 
A fama nacional de Tattoo Lucky, contudo, só veio nos anos 1970 e se deve a toda uma nova 
conjuntura. A tatuagem estava em alta nos Estados Unidos, mais especificamente em São Francisco, 
Califórnia. Lá se tatuaram ícones pop como Janis Joplin, Peter Fonda e Joan Baez, o que criou as 
condições para a contaminação da juventude consumidora de modas. Foi assim que ela renasceu por 
aqui. Quem levantou o dinamarquês tatuador foram os surfistas. Jovens praticantes do esporte 
passaram a viajar para Santos à procura do famoso Tattoo Lucky. Uns queriam dragões e panteras, 
outros preferiam flores, cogumelos ou pequenos símbolos da onda hippie. 
 
Foram os surfistas os anfitriões da tatuagem no meio da classe média urbana. E a passagem da 
marginalidade para a consagração se deu em grande estilo: na voz de Caetano Veloso. Em 1979, o 
baiano cantava logo na primeira estrofe: “Menino do Rio/ Calor que provoca arrepio/ Dragão tatuado 
no braço/ Calção corpo aberto no espaço/ Coração, de eterno flerte/ Adoro ver-te...”. “Menino do Rio” 
era uma homenagem ao surfista José Artur Machado, o Petit, cliente de Tattoo Lucky e dono de um 
enorme dragão no braço esquerdo. Os versos chancelavam a sensualidade da tatuagem. Séculos de 
marginalidade – dos índios, escravos e pobres – viraram pó com aquela canção. A música foi tema de 
novela da TV Globo (“Água Viva”, 1980) e batizou um filme, dirigido por Antônio Calmon em 1981, 
que fez sucesso entre os jovens. 
 
O terreno estava preparado: na onda da contracultura e embalada pelos meios de comunicação, a 
tatuagem enfim virou moda entre nós. De uma hora para outra, os filhos da ditadura militar quiseram 
se tornar meninos e meninas do Rio. O mercado nasceu e se expandiu com uma velocidade 
impressionante. Lojas de tatuagem começaram a ser abertas no Rio, em São Paulo, em Salvador e 
em outras capitais. Seus donos? Aquela mesma juventude que se encantou com as tatuagens que 
 
 
19 
via ao vivo ou na mídia nas décadas de 1960 e 70. Agora estavam com a máquina e a tinta nas 
mãos. O resultado está aí, estampado na pele. 
 
 Toni Marques é jornalista, editor do programa Fantástico (TV GLOBO) e autor de O Brasil tatuado 
e outros mundos (Rocco, 1997). 
 
Bibliografia: 
ARAUJO, LEUSA. Tatuagem, piercing e outras mensagens do corpo. São Paulo: Cosac & Naify, 
2006. 
LOPES, Moacir. Maria de cada porto. Rio de Janeiro: Quartet Editora, 2002. 
PERRONE-MOISÉS, Leyla. Vinte luas – Viagem de Paulmier de Gonneville ao Brasil. São Paulo: 
Companhia das Letras, 1992. 
 
 
3.1 Delimite o assunto do texto de Toni Marques. Analise o texto, respondendo às seguintes 
questões: 
 
 Quando a tatuagem se torna conhecida dos ocidentais? 
 Qual a origem do termo tatuagem? 
 Quando a tatuagem chega ao Brasil? 
 Quais os obstáculos que a tatuagem encontrou para se firmar no mundo? 
 Quando a tatuagem se tornou moda – no mundo e no Brasil. 
 
3.2 Resuma o artigo de Toni Marques. O seu objetivo é demonstrar a compreensão e realizar 
apreensão das informações contidas nas respostas das perguntas apresentadas em 3.1. Você 
realizará essa tarefa por meio de um texto em prosa dissertativo. 
 
 
 
RESENHA 
 
No meio acadêmico, é necessário o desenvolvimento de um espírito crítico especializado a fim de que 
as leituras feitas possam ser aproveitadas e transformadas em conhecimento a ser partilhado pela 
comunidade. 
 
Para desenvolver tal habilidade, é importante o exercício de resenhar criticamente outros textos e 
meios de difusão de cultura. Com esse objetivo, são apresentadas aqui algumas propostas de exame 
e de produção de resenhas críticas. 
 
Os exercícios contidos, nesta seção, têm os seguintes objetivos: 
 
 levar o aluno a identificar e organizar textualmente as informações relevantes para a 
construção de uma argumentação eficiente. 
 levar o aluno a desenvolver uma visão avaliadora de resenhas críticas, por meio da análise e 
da produção desse gênero textual. 
 
 
Exercício 1 
Após o texto abaixo, são apresentados alguns exercícios cujo objetivo é evidenciar algumas 
estratégias de leitura que podem facilitar a elaboração de resenhas. 
 
 
Mercantilização do ensino superior e o Serviço Social brasileiro 
Francine Helfreich Coutinho dos Santos 
Revista Serviço Social e Sociedade, no. 102, p.187-190, abril/junho de 2010 
 
A dinâmica da mundialização do capital, que desencadeou significativas alterações no processo de 
reestruturação produtiva, impôs ao cenário político dos países periféricos uma série de modificações 
na condução da política educacional, sobretudo no que diz respeito à expansão do ensino superior. 
 
Brasil e a América Latina, peculiaridades à parte, apresentam formas diferenciadas de expansão do 
 
 
20 
ensino superior: de um lado, temos as iniciativas que ampliam o papel do mercado na 
comercialização da educação no setor de serviços; de outro temos à venda serviços que até então 
eram de prerrogativa exclusiva do Estado, mas que são desregulamentados via estabelecimento de 
contratos de serviços públicos por instituições privadas, por meio das fundações, contratos e 
convênios com o setor empresarial que mercantilizam e privatizam internamente as universidades 
públicas brasileiras. 
 
A obra de Larissa Dahmer Pereira - Educação e Serviço Social: do confessionalismo ao 
empresariamento da formação profissional - oferece uma das primeiras e mais completas análises 
sobre a relação entre a política educacional e a formação do assistente social no Brasil. 
 
Foi recorrendo às obras de Marx que os pressupostos teórico-rnetodológicos de suas análises foram 
definidos: a historicidade, a totalidade e a dialética. Tais categorias possibilitaram reiterar as 
convicções da autora sobre o modo de produção capitalista, sistema este capaz de criar uma 
exacerbante miséria de massa, em contraste com a opulência de poucos. Com uma crítica radical e 
precisa sobre as determinações do capital para a educação superior, Pereira realiza urna profunda 
análise sobre a realidade do Serviço Social brasileiro e o viés privatista que ilumina a organização dos 
cursos de Serviço Social, sobretudo a partir de 1990, sob o aval dos governos da época. O estudo 
realizado traz elementos relevantes para a compreensão da trajetória da formação profissional do 
assistente social, que tem sua gênese marcada pelo caráter confessional das primeiras Escolas de 
Serviço Social, impressa pela lógica caritativa, mas que, atualmente, pode ser enxergado como mais 
um "serviço" promissor a ser comercializado. 
 
Nesta perspectiva, a hipótese de Pereira é que entre 1930 e 2002 - período definido para sua 
pesquisa -, a abertura de Escolas de Serviço Social (ESS) acompanha o movimento mais amplo da 
política educacional brasileira, articulado com as relações entre classes sociais e o Estado e a própria 
posição do Brasil na divisão internacional do trabalho. 
 
A obra é dividida em quatro partes. Na primeira, com o título "Capitalismo, luta de classes e 
educação: de direito social a 'serviço'", tem-se um retrato dos avanços e recuos das políticas sociais 
sob a égide da crise estrutural do capital no pós-1970, em que se percebe a mutação da educação - 
enquanto política social - da esfera do direito para a órbita dos serviços, sobretudo nos países 
periféricos. 
 
Em "Educação superior no Brasil e Serviço Social", a particularidade da política educacional do país é 
recuperada, enfatizando-se o desenvolvimento do ensino superior vinculando à origem das primeiras 
Escolas de Serviço Social. O recorte temporal nesse capítulo é o período entre 1930 e 1963. 
 
O capítulo posterior,intitulado "Modernização conservadora, ensino superior e Serviço Social" trata 
do período subsequente, abordando a expansão das Instituições de Ensino Superior (IES) no 
contexto da inserção definitiva do país, de forma subalternizada e periférica no processo de 
internacionalização do capital monopolista. Observa a autora que nos anos de chumbo a profissão e 
a formação passam por um amplo processo de revisão, questionamento e autocrítica, rompendo com 
o histórico conservadorismo basilar da área. 
 
Fugindo dos moldes tradicionais de escrita, o livro de Pereira não se finda com uma conclusão. No 
seu último capítulo - "Mercantilização do ensino superior brasileiro e a 'exploração' privatista das 
Escolas de Serviço Social na década de 1990", a autora se debruça sobre o elemento mais inovador 
em sua obra: a interpretação sobre a ampliação das Escolas de Serviço Social. A pesquisa mostra 
em números o exorbitante crescimento de cursos de Serviço Social, caracterizados quanto a sua 
organização acadêmica (universidade, centros universitários etc.), quanto à categoria administrativa 
(comunitárias, confessionais, filantrópicas) e quanto à natureza jurídica de suas mantenedoras: 
públicas ou privadas. O projeto societário que repercute na privatização do ensino superior é gestado 
no final da década de 1980, se materializa no Brasil após as eleições presidenciais ocorridas em 
1989, quando diversas iniciativas na gestão de Fernando Collor de Meio foram manifestadas no 
sentido de reformulação do ensino superior sob a égide mercantil. Entretanto, foi especialmente na 
gestão de Fernando Henrique Cardoso (FHC) que este processo se acirrou. Para tanto, foram 
utilizadas inúmeras estratégias, sobretudo os pressupostos ideopolíticos da Terceira Via: a 
despolitização das classes e a repolitização da sociedade civil sobre a lógica da solidariedade entre 
classes, a responsabilidade social, a crítica ao socialismo, a recuperação do individualismo enquanto 
valor positivo e também a necessidade de um Estado que não precisa ser grande, mas forte para 
gerar na sociedade civil uma postura proativa, sendo este um espaço de colaboração e solidariedade 
 
 
21 
entre as classes. Assim, a veiculação desses pressupostos via educação é fundamental para o 
projeto do grande capital. Na última década do século anterior, presencia-se no ensino público 
superior um verdadeiro sucateamento por meios de mecanismos legais que incentivaram, 
consequentemente, a ampliação do ensino privado. Esses elementos não sincronizados 
caracterizaram a política educacional do ensino superior do período: I) a redução progressiva do 
montante de recursos para a universidade; 2) as aposentadorias forçadas de docentes, devido às 
perdas de diretos oriundas da Reforma Previdenciária de 1998; 3) a não realização de concursos 
públicos durante os dois mandatos de FHC, forçando a realização de inúmeros contratos de 
professores substitutos; 4) congelamento salarial durante oito anos do governo FHC e 
institucionalização da Gratificação de Estímulo ao Trabalho Docente (GED); 5) privatização interna das 
universidades por meio das fundações; e 6) limitação da autonomia universitária, entre outros. 
 
Este processo não excluiu o Serviço Social. A pesquisa mostra que entre 1995 e 2002 foram criados 
mais de 49 cursos de Serviço Social. Atrelados a esse fenômeno, a diversificação das instituições de 
ensino possibilitou a proliferação de cursos de pouco custo em instituições de ensino superior que 
legalmente não são obrigadas a realizar pesquisas. Segundo a autora, este processo arrebatador de 
crescimento de unidades de ensino, sobretudo privado, aparece como a raicização e 
empresariamento do ensino de Serviço Social, articulado com o movimento do Estado brasileiro de 
incentivo à expansão do ensino superior, via setor privado e não confessional. 
 
Coadunado com as necessidades do espraiamento da lógica mercantil, o capital se realiza também 
com a formação de urna intelectualidade difusora da ideologia colaboracionista e consensual que 
conforma urna sociabilidade burguesa. Tal processo se materializa nos cursos de baixa qualidade, 
nas salas de aulas superlotadas, com professores mal remunerados, comprometendo o exercício da 
docência, dada a condição de mercadoria que a educação superior assume. Pereira mostra ainda 
que entre 2003 e 2006 foram criados 129 novos cursos, 94% deles de natureza privada. E essa 
orquestração de elementos possibilita uma valiosa análise prospectiva da profissão. 
 
No âmbito do Serviço Social, infere-se que, em pouco menos de uma década, o perfil dos assistentes 
sociais brasileiros estará completamente transformado. A tendência deste perfil não é nada 
animadora, pois estará baseada em uma formação profissional a distância, aligeirada, mercantilizada 
e, portanto, com poucas chances de concretizar o perfil de um profissional crítico e competente 
teórica, técnica, ética e politicamente, delineado pela Abepss em 1996. 
 
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 
PEREIRA, Larissa Dahmer. Educação e Serviço Social: do confessionalismo ao empresariamento da 
formação profissional. São Paulo: Xamã, 2008. 
 
*Francine Helfreich Coutinho dos Santos é bacharel em Serviço Social pela Universidade Federal 
Fluminense (2000), mestre em Serviço Social pela UFRJ (2006), doutoranda em Serviço Social pela 
Uerj, membro do Centro de Estudos Otávio Ianni da Uerj, professora da Escola de Serviço Social da 
Universidade Federal Fluminense – Niterói / RJ. Brasil. E·mai!: francinesantos@yahoo.com.br. 
 
 
1.1 Releia os dois primeiros parágrafos do texto e faça o que é pedido a seguir: 
a) A resenhista iniciou o texto apresentando o livro que analisaria? 
b) Que assunto foi tratado nesses parágrafos? 
c) Que relação existe entre as informações contidas nesses parágrafos e o livro em análise? 
d) Com que finalidade essas informações foram dadas no início do texto? 
 
1.2 Transcreva do texto o trecho em que a resenhista apresenta, de maneira geral, o assunto tratado 
no livro de Larissa Dahmer Pereira. Há também, nesse trecho, avaliação da obra resenhada? 
Justifique a sua resposta. 
 
1.3 Indique o parágrafo em que... 
a) há informações sobre a organização do livro de Pereira; 
b) é feita a referência ao arcabouço teórico utilizado pela autora do livro; 
c) é revelada a hipótese com que a autora do livro trabalha. 
 
1.4 Transcreva da resenha de Francine Santos três trechos que expõem o conteúdo apresentado no 
livro de Pereira. 
 
 
 
22 
1.5 Liste as palavras e expressões que denotam a avaliação da resenhista sobre a obra analisada. 
 
1.6 A resenhista não trouxe para o seu texto informações sobre a autora do livro. Apresente 
hipóteses que poderiam justificar esse seu comportamento. 
 
1.7 Francine Santos fez uso de parênteses ao longo do seu texto. Esse recurso foi empregado com a 
mesma finalidade em todas as ocasiões? Explique. 
 
1.8 Que registro de linguagem foi utilizado no texto? Explique por que esse registro foi empregado 
nesse gênero textual. 
 
1.9 Faça um comentário sobre a forma como Francine Santos escreveu a resenha. Ela interferiu no 
texto com emoção? Tentou dialogar com os leitores ou influenciá-los? Identifique as estruturas 
linguísticas que corroboram a sua resposta. 
 
1.10 A visão encontrada no último parágrafo do texto é otimista ou pessimista? Faça uma paráfrase 
do conteúdo desse parágrafo. 
 
1.11 Observe que a resenha de Francine Santos apresenta título diferente do da obra resenhada, o 
que nem sempre ocorre em resenhas acadêmicas. Indique o parágrafo do texto cujo conteúdo 
informacional remete diretamente ao que está expresso no título. 
 
 
Exercício 2 
Utopia e barbárie: retrato de uma geração 
(28/04/2010) 
Maria Helena Malta 
Especial para Plurale em site
2
 
 
O título do novo filme do documentarista Silvio Tendler - que está estreando

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