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Aula 02 - O Significado do Trabalho Monógrafico

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Pesquisa e Prática em Educação V
Aula 2 – O Significado do Trabalho Monográfico
Objetivos da aula: 1. Reconhecer a relevância do Trabalho Monográfico para a formação intelectual do professor; 2. Identificar as habilidades cognitivas envolvidas na formação de uma atitude científico-investigativa
Todo ser humano realiza alguma atividade intelectual. De uma forma ou de outra, pensa sobre a sua experiência, ou seja, todo ser humano é, em alguma medida, um intelectual. No entanto, só algumas pessoas tomam a produção intelectual como principal atividade profissional. Os professores são profissionais cuja principal atividade envolve a produção e disseminação de conhecimento. Sua atividade laboral é eminentemente uma atividade intelectual. No entanto, ao longo dos últimos tempos, em diferentes contextos, as condições de trabalho dos professores têm precarizado a sua condição intelectual. Alguns autores denunciam uma proletarização do magistério (FRIGOTTO) e reclamam a necessidade de os professores retomarem o seu papel de intelectuais (Giroux, Freire, entre outros).
Na aula passada, discutimos a importância de pensar os professores como intelectuais, como práticos reflexivos, como pesquisadores e como nessas atividades os professores ultrapassam o ensino na sua prática. Também vimos que Paulo Freire diz que a tarefa docente não é apenas ensinar conteúdos, mas também ensinar a “pensar certo”. Quando diz isso, ele não quer dizer que existe uma única maneira de pensar, mas que os professores, como intelectuais, precisam ultrapassar uma consciência ingênua da realidade e desenvolver uma consciência crítica. Mas, o que vem a ser essa atividade intelectual do professor? O que estamos chamando de “consciência crítica”? 
A ideia de que é preciso ter uma visão crítica da realidade é uma ideia muito prevalente na educação. Para Paulo Freire, pensar criticamente, pensar certo, é antes de tudo “não estarmos demasiado certos de nossas certezas” (1996, 28). O primeiro movimento para isso é reconhecer que assim como os homens, o conhecimento do mundo tem historicidade, ou seja, ele é produzido em determinadas condições históricas que lhe impõem certos limites e possibilidades. A contextualização dos processos de produção e disseminação de conhecimento nos faz reconhecer que não há verdades absolutas sobre as coisas, porque nos damos conta que os sujeitos e os contextos de produção do conhecimento são determinantes das verdades que produzem. Giroux acrescenta mais um ingrediente a essa discussão. Para ele, considerados os diferentes contextos, toda atividade intelectual acaba por assumir certa perspectiva e posicionamento diante da realidade. Ou seja, como intelectuais, nossa atitude pode ser mais conservadora ou crítico-transformadora da realidade.  Nesse sentido, ele defende que os professores devem assumir-se como intelectuais crítico-transformadores. Mas a crítica não é mera contestação aos fatos. Ela envolve um conjunto de processos intelectuais. Como vimos, muitos autores hoje no campo educacional consideram importante a iniciação científica dos alunos. Eles defendem que é importante para os educadores em formação compreenderem os processos de produção de conhecimento científico para tomá-los como instrumento de reflexão crítica e de ação na sua prática pedagógica. Por isso, o trabalho monográfico tem sido ressignificado. Ele passa a ter mais importância, posto que deixa de ser visto como mero trabalho de conclusão de curso para ser considerado oportunidade de pesquisa e síntese dos conhecimentos e aprendizagens desenvolvidos ao longo do curso.
 No curso de Pedagogia da UNESA, ele deve permitir: 
1. A sistematização dos conhecimentos teóricos adquiridos; 
2. Uma reflexão profunda sobre as questões práticas com as quais o aluno/a se deparou; 
3. A possibilidade de, articulando-os, poder ressignificar tanto a teoria como a prática a partir de um projeto de investigação e estudo;
 4. O desenvolvimento de habilidades cognitivas de investigação, análise e formação de conceitos que permitam o desenvolvimento de certa autonomia intelectual. 
Mas quais as contribuições efetivas que o projeto monográfico traz para a formação do professor-estudante? Todo estudante de graduação ao longo do curso está tomando contato com o conhecimento produzido em seu campo de formação. Isso significa que estará conhecendo as teorias que tem sido referência nos estudos e na atividade profissional no campo. Essa é uma dimensão básica da formação. No entanto, dada a forma de organização dos currículos, muitas vezes esses conhecimentos parecem desarticulados e o estudante tem certa dificuldade em reconhecer suas relações. Mas pensar criticamente “... é um processo de descobrir relações (tudo é resultado de múltiplas relações) e de criar ou imaginar novas relações" (apud OLIVEIRA e CASTRO, 2003). O exercício da monografia exige do estudante, diante de um objeto específico, buscar os conhecimentos teóricos necessários para a delimitação mais precisa do que vai estudar. Isso implica uma “varredura” de tudo que foi aprendido para saber o que vai ser útil e o que não vai ser útil ao seu estudo. Também os alunos na graduação tomam contato, muitas vezes pela primeira vez, com as práticas profissionais em seu campo de atuação. Normalmente, essa é uma rica experiência que suscita muitas dúvidas, inquietações. Mas nem sempre é possível dentro das atividades acadêmicas regulares (práticas, estágios, etc.) aprofundar estudo, análise sobre problemática específica que instigou o estudante. O projeto monográfico é esse momento em que a prática pode ser problematizada e analisada mais cuidadosamente a luz da teoria. Desse modo, a elaboração da monografia permite uma experiência ímpar de reflexão, pois promove uma articulação profícua entre a teoria e a prática, estabelecendo relações entre os conceitos e teorias estudados entre si e entre essas e as questões práticas com que se defrontou. Às vezes, ela é um momento único no curso para tal experiência e, por isso, muitas vezes um grande desafio. Afinal, ela envolve o desenvolvimento de habilidades cognitivas e técnicas específicas. Habilidades que, se adequadamente desenvolvidas, vão permitir ao estudante prosseguir em seus estudos para além da sua formação inicial com maior autonomia, seja em cursos de pós-graduação seja como intelectual reflexivo em sua caminhada profissional. Às vezes, inclusive, a experiência é tão significativa que o aluno fica motivado a seguir mesmo a carreira de pesquisador. 
Mas de que Habilidades Estamos Falando? 
O fazer científico é um tipo de conhecimento que exige processos mais rigorosos no levantamento e análise de dados. Se bem que uma parte desses processos tem caráter operacional (aplicar questionários e entrevistas, digitalizar dados, etc) outra parte refere-se a procedimentos cognitivos. Implica o desenvolvimento das competências de questionar, analisar, relacionar, inferir. São necessárias, portanto, certas habilidades cognitivas para o desenvolvimento dessas competências, tendo em vista a formação de um pensamento e uma atitude mais investigativa, analítica e crítica da realidade. 
O ato de investigação é uma busca de compreensão e solução de um problema. Isso envolve buscar compreender como se configura e ocorre o problema investigado, quais suas origens e desdobramentos. Veja a seguir o que é preciso: 
Saber olhar bem - Nosso olhar é marcado pela nossa inserção cultural. De acordo com o contexto onde vivemos e fomos formados, construímos ideias acerca das coisas que muitas vezes se colocam como preconceitos sobre as coisas. Saber observar bem exige ultrapassar a primeira impressão. É usar todos os sentidos com paciência e cuidado para “ouvir” o que a experiência suscita, ampliando a percepção do objeto. Exige deslocar-se (olhar de outro modo, a partir de outra posição, como se fosse outra pessoa) libertando-nos o mais possível de nossos valores e preconceitos para poder dar-se conta, perceber os elementos que estão ali presentese também os que estão ausentes. É buscar ver que lugar esses elementos ocupam na relação que estabelecem entre si e que são instituintes do objeto. 
Saber reformular perguntas, questões substantivas - Mais que constatar ou descrever as características do objeto de estudo, é preciso avançar na sua problematização. Ultrapassar a curiosidade ingênua que não se pergunta sobre o que não sabe e inquietar-se, formular perguntas, questões substantivas. Desenvolver certa curiosidade epistemológica de quem quer saber mais, quer saber das origens e das múltiplas dimensões constituintes do objeto, de seus desdobramentos e implicações. Isso exige ser capaz de formular questões substantivas, perguntas que tenham conteúdo investigativo que se refiram a articulações entre diferentes aspectos observados, que se coloquem atuais diante do avanço da pesquisa e estudo no campo, que proponham abordagem aprofundada e consistente do objeto. 
Saber formular hipóteses – Não apenas perguntar, mas formular hipóteses, elaborar respostas possíveis ás questões formuladas. Respostas plausíveis, que possam realmente solucionar o problema proposto porque tem a ver com o contexto, com as características do fenômeno, partem dos dados de que já dispomos de certa apropriação do conhecimento teórico desenvolvido no campo. 
Saber verificar a validade ou não das hipóteses - Assim, ir à campo levantar as informações necessárias, compará-las, analisá-las para verificar a validade ou não das hipóteses formuladas. Não aceitar como verdadeiras as proposições/hipóteses feitas, mas confrontá-las com as informações, observações coletadas é que permite ultrapassar a mera afirmação de preconceitos. 
Saber analisar os dados - Análise dos dados é um exercício progressivo de ressignifcação das informações a partir de juízos que fazemos diante de alguns referentes. Vamos construindo uma compreensão progressiva do objeto que se materializa num discurso sobre o problema investigado, ou seja, o processo de análise e compreensão do objeto se dá pela identificação, organização e síntese progressiva dos resultados, a articulação de ideias mais ou menos elaboradas e pela produção de afirmações sustentadas por boas razões. Ele gera algumas conclusões que, embora obviamente provisórias, nos permitem responder de modo satisfatório ao problema da investigação. 
	Todas essas habilidades estão envolvidas no desenvolvimento da pesquisa monográfica. Se por um lado elas são desafios, são também oportunidade de desenvolvimento intelectual e, portanto, importante etapa do processo de formação de qualquer acadêmico, e ainda mais dos professores, considerados como intelectuais. Mas, para garantir a rigorosidade necessária a qualquer atividade científico-acadêmica, a pesquisa monográfica deve ser precedida de um projeto. O projeto permite o estudante fazer alguns estudos e formulações preliminares sobre sua monografia, organizar o estudo e disciplinar a sua atividade. Por isso, em PPEV nosso principal objetivo é que você possa compreender a importância e desenvolver seu projeto de monografia. E é sobre o seu projeto de pesquisa monográfica que vamos começar a trabalhar na próxima aula. Até lá!
Síntese da aula: 
- Compreendeu o papel e a relevância da monografia na iniciação científica e a produção acadêmica dos professores em formação; 
- Conheceu algumas habilidades cognitivas envolvidas na formação de uma atitude científico-investigativa.

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