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MÉTODOS E TÉCNICAS DE PESQUISA Eber da Cunha Mendes EBER DA CUNHA MENDES MÉTODOS E TÉCNICAS DE PESQUISA FABRA 2017 CENTRO DE ENSINO SUPERIOR FABRA MANTENEDOR DO CENTRO DE ENSINO SUPERIOR FABRA CRED. PELA PORT. Nº 2787 DE 12/12/2001 D.O.U. 17/12/2001 - CNPJ 03.580.192/0001-40 Aditada pela Portaria MEC n 467 de 13/09/2013 – publicada no D.O.U em 16/09/2013 Rua Pouso Alegre, 49 – Barcelona – Serra/ES Tel.: 27 3241-9093 – www.soufabra.com.br Copyright@FABRA 2017 Elaboração: Eber da Cunha Mendes Revisão: Irislane Figueiredo Produção e Capa: Centro de Ensino Superior Fabra Projeto Gráfico e Editoração: Central Edições Ltda. 27 99986-6804 Adão Rocha • Luciano Vidal Catalogação na publicação elaborada pela Biblioteca Central da FABRA. Mendes, Eber da Cunha. M5381m Métodos e técnicas de pesquisa / Eber da Cunha Mendes. – Serra, ES: Centro de Ensino Superior Fabra, 2016. 168 p. : il.. ISBN 978-85-92808-00-6. 1. Pesquisa. 2. Pesquisa - Metodologia. 3. Metodologia científica. 4. Redação técnica. I. Título. CDU 001.8 CDD 001.4 http://www.soufabra.com.br/ A Apresentação pesquisa científica é um caminho que todos os que amam e anelam pelo conhecimento precisam trilhar. Toda pesquisa tem dimensões pessoais, sociais e políticas, abrangendo a realidade e as necessida- des de compreender o mundo e de melhorá-lo a cada dia. Ao adentrar em um curso de graduação, o novo aluno é desafiado a elaborar novas formas de construção do conhecimento e a pensar e a produzir cienti- ficamente. Agora, é-lhe exigido também trabalhar metodologicamente. Para isso, esse aluno precisa organizar suas estratégias de trabalho, de leitura e de pesquisas. A metodologia e as técnicas de pesquisa seguirão esse aluno- pesquisador em toda a sua trajetória, quer seja na graduação, quer seja na pós-graduação. E foi para atender essa necessidade que surgiu este livro-texto. Nossos obje- tivos são contribuir com o processo de construção do conhecimento científi- co. Para tanto, apontaremos os caminhos que, no entender da FABRA, são mínimos e básicos na formação do aluno-pesquisador. Acreditamos na grande e urgente necessidade de formamos pensadores e pesquisadores que, em suas empreitadas, serão capazes de suprir deman- das da sociedade atual, em que cada um, na sua área de competência, poderá contribuir de forma sólida e real com o mundo e a sociedade. A pesquisa nasce da inquietude humana, do seu desejo de avançar, da sua curiosidade inata, da sua ambição por melhorias na realidade, das necessi- dades de conquistar mais espaço. A pesquisa também nasce e se desenvol- ve por causa da habilidade humana em discutir o discutido, em redescobrir o descoberto, em ressignificar conceitos, em explicar e confrontar verdades e teorias. A pesquisa nos ajuda a elucidar o passado, a explicar o presente e a construir o futuro. 6 • Métodos e téc Nic As de pesquis A Optamos por uma linguagem mais simples, que, mesmo assim, pretende não perder sua profundidade teórica e metodológica. Na unidade I abordare- mos os desafios da vida e da produção acadêmica. Avançaremos nas ques- tões da organização e das competências que o aluno-pesquisador precisará desenvolver para aproveitar seus estudos e suas leituras. Na unidade II analisaremos os fundamentos teóricos sobre a construção do conhecimento e da pesquisa. Nessa unidade apresentaremos os diversos tipos e as dife- rentes modalidades de trabalhos acadêmicos. Com isso, esperamos ajudar o aluno-pesquisador a conhecer, a diferenciar e a praticar diversas formas de construção da pesquisa. Na unidade III avançaremos nas questões me- todológicas. Estudaremos o processo de construção de uma pesquisa, des- de sua gênese, passando pela construção de um projeto de pesquisa, até a pesquisa propriamente dita. Nessa unidade também apresentaremos as normas técnicas da ABNT e o padrão que utilizaremos para as pesquisas e os trabalhos científicos realizados no contexto da FABRA. Assim, damos boas vindas à sua jornada como pesquisador e desejamos sucesso em seus estudos e objetivos! Prof. Eber da Cunha Mendes O segredo de seu sucesso nos estudos Não deixe de acessar nosso Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). Nesse ambien- te você ampliará seus conhecimentos e assuntos abordados neste livro. Este é mais um segredo para um melhor aproveitamento dos estudos, maior aprendizado e para a boa formação! Programa de Ensino EMENTA A vida acadêmica. O ato de estudar. Fundamentos da pesquisa científica. Os tipos de conhecimento. Tipos e Técnicas de pesquisa. Métodos de aná- lise e métodos de abordagem de conteúdo. Os diversos tipos de trabalhos acadêmicos: TCC, fichamento de leitura, resenha, resumo, seminário, artigo científico, paper. Normas técnicas na formatação de trabalhos acadêmicos. Elaboração do Projeto de Pesquisa. OBJETIVOS • Ambientar os novos alunos da graduação ao ambiente acadêmico, meto- dológico e científico; • estudar e compreender os pressupostos teóricos, éticos e práticos da pesquisa científica; • caracterizar as diversas formas de organização do conhecimento acadê- mico e científico; BIBLIOGRAFIA BÁSICA BRANdÃo, carlos Rodrigues (org.). Pesquisa participante. 7. ed. São Pau- lo: Brasiliense. MARCONI, Marina de Andrade, LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de me- todologia científica. 6. ed. São Paulo: Atlas. seVeRiNo, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. São Pau- lo: Cortez. 8 • Métodos e téc Nic As de pesquis A BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR ceRVo, Amado Luiz; BeRViAN, pedro Alcino. Metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Makron Books. GALLIANO, A. Guilherme. Método científico: teoria e prática. São Paulo: Harbra. RUIZ, João Álvaro. Metodologia científica: guia para eficiência nos estu- dos. 5. ed. São Paulo: Atlas. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina Andrade. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Atlas. AGENDA DA DISCIPLINA ENCONTROS ATIVIDADES EM SALA AVALIAÇÕES ENCONTRO 1 Apresentação da Explicação do trabalho a ser entregue pelo aluno no Encontro 2 DIA disciplina Apresentação da / / Unidade I ENCONTRO 2 DIA Discussão e correção da Unidade I Apresentação da Entrega do trabalho 0 a 10 - Peso / / Unidade II ENCONTRO 3 DIA Discussão e correção da Unidade II Apresentação da Avaliação AV 1 0 a 10 - Peso / / Unidade III ENCONTRO 4 DIA Discussão e correção da Unidade III Avaliação AV2 0 a 10 - Peso / / Revisão Geral Sumário UNIDADE I CAPíTULO 1 - BEM VINDO à VIDA ACADêMICA! ..................................................... 15 1.1 VidA AcAdêMicA: Aspectos cieNtíficos, pRofissioNAis e poLíticos .......... 16 1.2 o tRipé dA uNiVeRsidAde e o pRocesso do coNHeciMeNto ................... 18 1.3 o desAfio dA pesquisA NA eRA dA pÓs-ModeRNidAde ........................... 21 RESUMO DO CAPíTULO 1 ............................................................................... 27 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................... 28 CAPíTULO 2 - O ATO DE ESTUDAR .................................................................. 29 2.1 ORGANIZAÇÃO ..................................................................................... 30 2.2 DISCIPLINA ......................................................................................... 32 2.3 ApRoVeitAMeNto dAs AuLAs .................................................................. 37 2.4 ApRoVeitAMeNto dAs LeituRAs ............................................................. 39 RESUMO DO CAPíTULO 2 ...............................................................................44 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................... 45 SíNTESE DA UNIDADE 1.................................................................................. 46 AMPLIE O CONHECIMENTO NO AVA - “Ambiente Virtual de Aprendizado” ................ 47 UNIDADE 2 CAPíTULO 1 - FUNDAMENTOS DA PESQUISA CIENTíFICA ................................ 51 1.1 O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO ............................. 51 1.2 OS TIPOS DE CONHECIMENTO ............................................................... 55 1.2.1 Conhecimento popular ou senso comum ......................................... 41 1.2.2 Conhecimento filosófico ............................................................... 42 1.2.3 Conhecimento religioso ................................................................. 43 1.2.4 Conhecimento científico ................................................................ 44 1.3 o que é pesquisA?............................................................................. 61 1.3.1 Conceito e características .............................................................. 62 1.3.2 Tipos e Técnicas de Pesquisa ........................................................ 62 1.3.3 Métodos de Análise e de abordagem do Conteúdo............................ 65 RESUMO DO CAPíTULO 1 ............................................................................... 75 AUTOATIVIDADE............................................................................................. 77 CAPíTULO 2 - OS DIVERSOS TIPOS DE TRABALHOS ACADêMICOS................... 79 2.1 MoNoGRAfiA, disseRtAÇÃo e tese?................................................... 79 2.2 FICHAMENTO DE LEITURA ................................................................... 83 2.3 RESENHA ........................................................................................... 87 2.4 RESUMO.............................................................................................. 89 2.5 SEMINÁRIO ......................................................................................... 90 2.6 ARtiGo cieNtífico ............................................................................. 91 2.7 PAPER ................................................................................................. 95 2.8 pAssos pARA A eLABoRAÇÃo de uM ARtiGo cieNtífico ou de uM pApeR 96 RESUMO DO CAPíTULO 2 ............................................................................... 97 AUTOATIVIDADE............................................................................................. 98 SíNTESE DA UNIDADE 2 ................................................................................. 100 AMPLIE O CONHECIMENTO NO AVA - “Ambiente Virtual de Aprendizado”........... 101 UNIDADE 3 CAPíTULO 1 - NORMAS TÉCNICAS PARA A FORMATAÇãO DE TRABALHOS ACADêMICOS ............................................................... 105 1.1 estRutuRA BÁsicA do tRABALHo AcAdêMico.......................................105 1.1.1 Formatação gráfica 105 1.1.2 Estrutura do Trabalho Acadêmico .................................................. 113 1.1.3 Modelos de capa, folha de rosto e sumário ...................................... 114 1.2 coMo fAZeR As RefeRêNciAs BiBLioGRÁficAs .....................................117 1.3 COMO UTILIZAR AS CITAÇÕES ................................................................... 134 1.3.1 Citação indireta 134 1.3.2 Citação direta ou textual .............................................................. 134 1.3.3 Citação de citação 135 1.4 coMo utiLiZAR As NotAs de RodApé ....................................................136 1.5 COMO UTILIZAR EXPRESSÕES E TERMOS LATINOS ................................ 137 1.6 COMO UTILIZAR TABELAS E ILUSTRAÇÕES ............................................ 140 RESUMO DO CAPíTULO 1 ............................................................................. 142 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................. 144 CAPíTULO 2 - COMO ELABORAR UMA PESQUISA CIENTíFICA? ......................... 145 2.1 coMece LeNdo ARtiGos cieNtíficos puBLicAdos ................................... 145 2.2 fAÇA seu pRoJeto de pesquisA ................................................................... 145 2.3 eLeMeNtos de uM pRoJeto de pesquisA..............................................146 RESUMO DO CAPíTULO 2 ............................................................................. 158 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................. 160 SíNTESE DA UNIDADE 3................................................................................ 163 AMPLIE O CONHECIMENTO NO AVA - “Ambiente Virtual de Aprendizado” ............. 164 BIBLIOGRAFIA COMENTADA ................................................................................ 165 REFERêNCIAS .............................................................................................. 166 MÉTODOS E TÉCNICAS DE P ESQUISA Unidade 1 Capítulo 1 Bem vindo à vida acadêmica! Ao entrar no mundo da academia, você deu mais um passo rumo a um futuro melhor e promissor. Esse caminho não é curto e nem sempre fácil, mas é o melhor. Construir algo sólido demora tempo, dedicação e esforço. Você precisará também construir um caminho alicerçado em bons funda- mentos, bons aprendizados e boas referências. Nessa sua jornada, a disciplina Métodos e Técnicas de Pesquisa será sua grande e inseparável aliada. Você precisará dela para aproveitar o que terá de melhor em suas leituras, aulas e pesquisas. Ela servirá também para ajudá-lo a produzir conhecimento e circulá-lo, pois todo conhecimento precisa circular, ou seja, sair das esferas da individualidade e alcançar a coletividade. A qualidade de sua formação dependerá de uma parceria entre a insti- tuição de ensino, o professor e, o mais importante, você mesmo. Estudar e produzir conhecimento sempre serão exercícios que lhe exigirão um método, uma boa disciplina pessoal, uma organização de atividades e a articulação de estratégias básicas, que se forem seguidas, garantirão grandes resultados em sua formação. O ser humano é sempre um ser aberto ao saber e ao mundo, pois ele sempre está pesquisando a si mesmo, aos outros e ao mundo que o cerca. Neste contexto, entram a pesquisa, os estudos e as técnicas. Mas tudo isso só terá sentido a partir de você, de seu esforço e de sua dedicação. Costumo dizer sempre aos meus alunos: “o tanto que você quer, será o tanto que você se esforçará”. quem quer muito, precisa se esforçar muito, quem quer mé- dio, pode se esforçar médio, e quem quer pouco, pode se esforçar pouco. Neste capítulo, desejamos desafiá-lo nos primeiros passos de sua jorna- 16 • Métodos e téc Nic As de pesquis A da científica. Falaremos dos aspectos científicos, políticos e profissionais da educação superior, do processo de construção do conhecimento e, por fim, do papel da instituição de ensino. 1.1 VIDA ACADêMICA: ASPECTOS CIENTíFICOS, PROFISSIONAIS E POLíTICOS O alvo final da formação universitária não é outro senão a construção de uma vida humana melhor e mais sustentável. Nesse sentido, tudo que se faz é útil à sociedade e ao mundo que nos cerca. A criação e a circulação do conhecimento são compromissos da educação, dos mecanismos de ensino, das faculdades e se produz no ambiente acadêmico e científico, através de métodos, e destina-se a universidades e a todos os setores que lidam com o ensino e a formação. Podemos dizer que o fim último do labor acadêmico é a dignidade da pessoa humana. Essa é uma qualidade intrínseca,inseparável de todo e qualquer ser humano. é nossa essência, sendo exatamente o que nos define como humanos. O ser humano, independentemente de qualquer condição ou particularidade, é titular de direitos, e esses devem ser respeitados e buscados pelo Estado, pelos indivíduos e por tudo aquilo que se faz em sociedade. O pensador Leonardo Boff, ao analisar a questão da dignidade humana, lembra-nos o seguinte: Nada mais violento que impedir o ser humano de se relacionar com a natureza, com seus semelhantes, com os mais próximos e queridos, consigo mesmo e com Deus. Significa reduzi-lo a um objeto inanimado e morto. Pela participação, ele se torna res- ponsável pelo outro e con-cria continuamente o mundo, como um jogo de relações, como permanente dialogação (ano, pág?). Dessa forma, o ensino superior deve contribuir com a formação de uma sociedade mais consciente e mais cidadã, sendo a Instituição de Ensino superior (ies) responsável por uma parcela dessa formação. formar profis- sionais, apenas, não expressa a missão de uma IES. Essa formação deve contemplar o bem comum, os fundamentos éticos e políticos, a solidarieda- de e a alteridade entre homens e povos. uNid Ade 1 • 17 Nos dizeres de Antônio Joaquim severino, o ensino superior, tal qual se consolidou historicamente, na tra- dição ocidental, visa atingir três objetivos, que são obviamente articulados entre si. O primeiro objetivo é o da formação de profissionais das diferentes áreas aplicadas, mediante ensino/ aprendizagem de habilidades e competências técnicas; o segun- do objetivo éo da formação do cientista mediante a disponibili- zação dos métodos e conteúdos de conhecimento das diversas especialidades do conhecimento; e o terceiro objetivo é aquele referente a formação do cidadão, pelo estímulo de uma tomada de consciência, por parte do estudante, do sentido de sua exis- tência histórica, pessoal e social (2008, p.22). Essa afirmação nos coloca diante de 3 grandes desafios: • formação de profissionais de qualidade; • iniciação da prática científica através de métodos e técnicas; • conscientização político-social dos estudantes. Sendo assim, a formação universitária deve trabalhar por uma formação de qualidade e integral, na qual figuram, juntos, o conhecimento técnico, o conhecimento científico e o conhecimento político e social. Nessa direção, toda educação com qualidade profissional, científica e social de referência torna-se possível e real quando trabalhada no horizonte em que a formação integral contribui com a consolidação da cidadania. Nesse contexto, estabelecem-se o direito social, o direito de cidadania e o direito do ser humano. A formação universitária deve ter essa visão huma- nística e ancorada nos pilares da justiça social, da igualdade, da cidadania, da ética, da emancipação e da sustentabilidade. Castro também sinaliza que a Instituição deve envolver a sociedade e permitir, ao mesmo tempo, que essa sociedade envolva-se com seus sujei- tos (cAstRo, 2009, p. 41). esse processo de envolvimento deve obedecer aos princípios da autonomia, da perspectiva interdisciplinar, tanto entre a educação profissional e a educação básica quanto entre as diversas áreas profissionais e do entrelaçamento entre o ensino com a pesquisa e a exten- são. Essa formação deve também ser integral, considerando a produção, a socialização e a difusão do conhecimento científico, técnico-tecnológico, artístico-cultural e desportivo. Isso tudo, sem perder o foco da inclusão so- cial e da diversidade. 18 • Métodos e téc Nic As de pesquis A 1.2 O TRIPÉ DA UNIVERSIDADE E O PROCESSO DO CONHECIMENTO Conhecido por muitos de “tripé” da Universidade, os compromissos da Universidade giram em torno do Ensino, da Pesquisa e da Extensão. Por lei, a Universidade deve oferecer essas 3 modalidades de atividades, no entan- to, tem sido uma prática comum que os Centros Universitários e Faculdades também os ofereçam. Vejamos detalhadamente a natureza e a função de cada uma dessas modalidades: Ensino: Diz respeito ao processo de transmissão, articulação e exposi- ção dos conteúdos e dos conhecimentos acumulados e adquiridos pela humanidade. Pesquisa: Diz respeito ao processo de constru- ção e produção do conhecimento. Extensão: Diz respeito ao processo de cir- culação e articulação do conhecimento pro- duzido e estudado na academia dentro da sociedade. Severino conceitua “Educação” como o processo pelo qual o conhecimento é produzido, reproduzido, conservado, siste- matizado, organizado, transmitido e universalizado na sociedade (2008, p.23). Assim, o processo de Educação não acontece apenas em uma sala de aula ou em uma estrutura específica, mas em toda trama social. Todo processo de educar está diretamente vinculado ao processo da construção do conhecimento que, por sua vez, envolve os 3 processos articulados entre si. qual dos três processos educativos se apresenta como o mais importan- te? de forma rápida, não podemos concluir que um processo seja melhor ou mais importante que o outro. Todos têm seu lugar e sua importância. No entanto, como Severino afirma, a pesquisa é o eixo central, básico e susten- tador de todo o processo na educação superior (2008, p.23). A pesquisa torna-se um elemento imprescindível em todo o processo de ensino-apren- dizagem, pois sua prática fomenta o ensino de forma eficaz, e à medida que isso acontece, a comunidade será beneficiada com esse conhecimento dis- posto e estendido a ela mesma. A pesquisa torna-se, assim, um elemento mediador da educação superior de qualidade. uNid Ade 1 • 19 Isso nos aponta para 3 dimensões da pesquisa: • A dimensão epistemológica - pois aponta para a construção e os ca- minhos do conhecimento; • A dimensão pedagógica - pois decorre de sua relação com a aprendi- zagem; • A dimensão social - pois trata de sua extensão e de sua contribuição com a sociedade. A pesquisa sempre exercerá um papel decisivo no processo de conheci- mentoo qual, ao ser bem descoberto, sistematizado, ensinado e estendido, permitirá aos homens um agir humano diferente das suas outras espécies. O conhecimento é a estratégia dos homens e estará sempre presente e ativo na história da humanidade. Aliás, o conhecimento constrói nossa identida- de humana, nosso destino e nossa humanidade. A construção do conhecimento sempre apontará para uma dimensão política, já que se propõe a formar um ser integral, profissional, acadêmico e, ao mesmo tempo, despertando-o para o entendimento de seu papel so- cial. Assim, espera-se que todo centro de ensino superior forme não apenas tecnicamente seu alunos, para adentrarem ao mercado de trabalho e com excelentes conhecimentos técnicos e científicos, mas que esse aluno tenha uma consciência social e se veja parte de um mundo maior que o seu, transformando-o. Severino alerta para a articulação intrínseca e mútua que o ensino, a pesquisa e a extensão devem promover. Cada processo será legitimado dire- tamente aos outros, sendo os três igualmente relevantes. Com efeito, a pesquisa é fundamental, uma vez que é através dela que podemos gerar o conhecimento, a ser necessariamente entendido como construção dos objetos de que se precisa apro- priar humanamente. Construir o objeto que se necessita conhe- cer é processo condicionante para que se possa exercer a função de ensino, eis que os processos de ensino/aprendizagem pressu- põem que tanto o ensinante como o aprendiz compartilhem do processo de produção do objeto. Do mesmo modo, a pesquisa é fundamental no processo de extensão dos produtos do conheci- mento à sociedade, pois a prestação de qualquer tipo de serviço à comunidade social, que não decorresse do conhecimento da objetividade dessa comunidade, seria mero assistencialismo, saindo assim da esfera da competência da Universidade.20 • Métodos e téc Nic As de pesquis A Por outro lado, o conhecimento produzido, para se tornar ferra- menta apropriada de intencionalização das práticas mediadoras da existência humana, precisa ser disseminado e repassado, colocado em condições de universalização. Ele não pode ficar arquivado. Precisa então transformar-se em conteúdo de ensino, de modo a assegurar a universalização de seus produtos e a reposição de seus produtores. Tal é a função do ensino. Mas os produtos do conhecimento, instrumentos mediadores do existir humano, são bens simbólicos que precisam ser usufruí- dos por todos os integrantes da comunidade, à qual se vinculam as instituições produtoras e disseminadoras do conhecimento. é a dimensão da extensão, devolução direta à mesma dos bens que se tornaram possíveis pela pesquisa. Mas, ao assim proce- der, devolvendo à comunidade esses bens, a Universidade o faz inserindo o processo extensionista num processo pedagógico, mediante o qual está investindo, simultaneamente, na formação do aprendiz e do pesquisador. A função extencionista, articulada à prática do ensino, não se legitimaria, então, se não decorresse do conhecimento sistemático e rigososo dos vários problemas enfrentados pelas pessoas que integram determinada sociedade ou parte dela (2008, p.34,35). A estratégia de integração entre o ensino, a pesquisa e a extensão é im- portante para materializar a qualidade da formação acadêmica. Para isso, a extensão e a pesquisa devem ser sempre ser compreendidas como prin- cípios educativos próprios da formação acadêmica, e inerentes ao processo de ensino. Todo curso de graduação deve pensar na implementação de ações de pesquisa e de extensão como partes da formação dos estudantes em geral, e isso implica no envolvimento efetivo de todos os docen- tes com o ensino. Para tanto, faz-se necessário o diálogo in- terdisciplinar de educadores envolvidos com as questões da investigação e das necessidades da sociedade. Também é necessário que o graduan- do seja orientado para desenvolver ou apri- morar atitude investigativa diante da realidade. Assim, este poderá ser mais consciente do seu papel de uNid Ade 1 • 21 agente social, compondo as condições imprescindíveis ao seu desenvolvi- mento técnico-cientifíco e cultural e à sua formação cidadã e política. Como parte de um ensino universitário de qualidade é fundamental, ao lado das boas condições de infra-estrutura e de salário condizente com as suas responsabilidades e efetiva dedicação ao ensino, um bom conheci- mento sobre a sua área de formação, que ele também tenha domínio dos conteúdos da sua disciplina e saiba fazer as interfaces com as disciplinas correlatas, dentre outras competências. Assim, a integração ensino, pesquisa e extensão apresenta-se, em qual- quer sentido, como um princípio acadêmico da instituição e deve fundamen- tar-se em vários princípios norteadores: • No contexto da graduação, o ensino pode e deve ser gerador de pro- jetos de pesquisa e de extensão e, da mesma forma, a pesquisa e a extensão podem e devem retroalimentar o ensino; • os docentes devem aliar o incentivo à qualificação para o ensino, para que os alunos de graduação se envolvam com projetos de pes- quisa propostos pela IES ou pelos docentes, o que criará uma prática de atitude reflexiva e de comportamento investigativo em sala. • o reconhecimento da interação entre as ações acadêmicas e o de- senvolvimento social farão a conexão da graduação com o mundo do trabalho e com a inserção profissional dos discentes. 1.3 O DESAFIO DA PESQUISA NA ERA DA PÓS-MODERNIDADE Neste livro, não discutiremos a questão teórica ou histórica que cerca o tempo atual, chamado por muitos historiadores e sociólogos de pós-moder- nidade. Mas o que destacamos é que a sociedade atual vive um momento de desencantamento generalizado, e por causa disso, temos perdido muito de nossa reflexão crítica e, rapidamente, estamos nos esvaziando de alguns fundamentos. O pós-guerra inseriu a humanidade numa espécie de “cansaço” ideoló- gico e racional. O que nos restou foi a superficialidade, a individualidade e a desconstrução de teorias e abordagens clássicas e modernas. Mesmo assim, o mundo continua exigindo muito de cada um. Em todos os setores da so- ciedade houve muitas mudanças, novas tecnologias e novos paradigmas. Z 22 • Métodos e téc Nic As de pesquis A ygmunt Bauman é um dos sociólogos mais aclamados da atualidade. Suas críticas e seus livros rendem milhares de reflexões acerca da condição humana na pós-modernidade. qual é o ponto essen- cial disso tudo? Há um ponto essencial? A importância de Bauman vai além de suas aparições na mídia nos últimos anos. Zygmunt Bauman é autor de diver- sos livros que tentam interpretar o mo- mento cultural e a estrutura social que vivemos atualmente. Declaradamente um crítico da pós-modernidade, os livros de Bauman ultrapassam as esperanças com o presente e fazem dele um campo de lutas mais invisíveis. Lutas e coerções que acabam parecendo liberdade, que parecem livre-escolha. A importância de Bauman está na inter- pretação da fluidez dos tempos pós-mo- dernos. Bauman é duro nesse aspecto, declara-se um sociólogo crítico e recusa o rótulo de “pós-modernista”. Para ele, “pós-modernista” é aquele que reproduz a ideologia do pós-modernismo, que se recusa a qualquer tipo de debate, que re- lativiza a vida ao máximo e que, dentro dessa superrelativização, não consegue estabelecer críticas e nem formar regras para guiar a sociedade. Pós-modernista é aquele que foi construído dentro de uma condição pós-moderna, ele a reproduz e é constituído por ela. Fonte: http://obviousmag.org/ archives/2014/01/a_critica_de_ zygmunt_bauman_a_pos-modernidade. html#ixzz3kz5j0pqm (texto adaptado) Diante disso, a pesquisa deverá exercer um papel diferencial, pois este mundo está em permanente mudança, ainda que se exija aprimorá-lo, e com alta velocidade. Para compor ainda mais esse quadro, há um bombar- deio de informações em todos os cantos. Seja por internet, seja por outros meios midiáticos, as informações que surgem a cada segundo padecem, em grande maioria, de credibilidade, de recriação e de ressignificação. Na pós-modernidade, vivemos uma série de contradições e desafios. Ao mesmo tempo em que crescemos em tecnologia, em conquistas espaciais, em grandes reformulações da comunidade científica, padecemos na ques- tão ambiental, nas questões sociais, nas inadimplências com um mundo sustentável, nas questões climáticas, na distribuição de renda, na injustiça social, dentre outros déficits. A pesquisa séria, promovida pelas universidades e faculdades, pode ser http://obviousmag.org/ uNid Ade 1 • 23 uma grande estratégia de mudança, de abertura de novos horizontes e de novas possibilidades. O já conhecido pode ser reelaborado, o descoberto pode ser melhorado, o já alcançado ainda não encerrou suas buscas, a reali- dade pode ser repensada e melhorada. Nesse aspecto, o olhar crítico poderá ser um grande aliado. Em tal cenário, os centros de ensino superior poderão impulsionar e mo- tivar jovens e adultos estudantes no processo de recuperação, de libertação e de transformação. O mundo globalizado exige novas posturas, novas men- talidades e novos conceitos. E somente os países que exigirem e investirem no conhecimento e nas pesquisas poderão avançar. Em um mundo marcado pela exclusão social e pela alienação cultural, a pesquisa científica promovida nos cursos superiores pode promover emanci- pação cultural e científica. Nesta época, exige-se dos alunos que façam uma boa formação acadêmica, e isso não se limita ao dia-a-dia de uma sala de aula. é mais do que o ato de assistir a aulas, fazer os trabalhos acadêmicos e realizar as avaliações propostas. Ao alunode graduação, assim como aos dos cursos de pós-graduação, é exigido que se preocupe continuamente com o enriquecimento da formação. Uma boa forma de começar é participar de eventos científicos, realizar estágios, ler obras de interesse e artigos de boas revistas científicas, participar de grupos de pesquisa, publicar artigos em revistas especializadas, por exemplo. Acreditamos que na medida em que as instituições de ensino superior se propuserem a formar cientistas e pesquisadores, desde os primeiros anos da graduação, ela contribuirá com a consolidação de uma educação supe- rior de qualidade, pautada e marcada pela autonomia do indivíduo/cidadão e, com toda certeza, estará conectada com as exigências futuras da pós- modernidade. D e acordo com Hebling, nos dias de hoje a humanidade leva apenas dezoito minutos para dobrar o conhecimento acumulado. “Na primeira vez que isso ocorreu, foram necessários seiscentos anos de pesquisa. Assim, muito em breve, uma descoberta realizada no café da manhã já será obsoleta na hora do almoço” (HeBLiNG, 2006, p.4). 24 • Métodos e téc Nic As de pesquis A LEITURA COMPLEMENTAR A importância da metodologia para a construção do conhecimento científico Antes de tudo, vale destacar que o termo Metodologia significa “[...] es- tudo dos caminhos, dos instrumentos usados para se fazer ciência” (deMo, 1995, p. 11). Ainda, segundo demo (1995), a metodologia é uma disci- plina que instrumentaliza quanto aos procedimentos a serem tomados na pesquisa, possibilitando acesso aos “caminhos do processo científico”, além disso, ela visa, também, promover questionamentos acerca dos limites da ciência sob os aspectos da capacidade de conhecer e de interferir na reali- dade. para severino (2007, p. 17-18) o trabalho científico [...] refere-se ao processo de produção do próprio conhecimento cien- tífico, atividade epistemológica de apreensão do real; ao mesmo tempo, refere-se igualmente ao conjunto de processos de estudo, de pesquisa e de reflexão que caracterizam a vida intelectual do estudante [...]. O conhecimento é importantíssimo para todos os segmentos da humani- dade, e tornou-se valioso, pois quem o domina pode ter acesso a inúmeras oportunidades. (teiXeiRA, 2010). Vieira et al. (2003) apontam que o conhecimento tomou proporções que vão além dos limites das instituições de ensino ou do que o professor pode dispor, podendo ser construído em várias formas e em diversos lugares. Frente a essa afirmativa há a necessidade de sistematizar o conheci- mento científico, pois a partir disso a metodologia começa a ser instituída e atrela a pesquisa ao seu pleno desenvolvimento. Nesse sentido, Severino diz que a pesquisa assume três dimensões na Universidade: De um lado, tem uma dimensão epistemológica: a perspectiva do co- nhecimento. Só se conhece construindo o saber, ou seja, praticando a signi- ficação dos objetos; [...] assume ainda uma dimensão pedagógica: a pers- uNid Ade 1 • 25 pectiva decorrente de sua relação com a aprendizagem. Ela é mediação necessária e eficaz para o processo de ensino/aprendizagem. Só se aprende e só se ensina pela efetiva prática da pesquisa. Mas ela tem ainda uma di- mensão social: a perspectiva da extensão [...] (seVeRiNo, 2007, p. 26). Nesse contexto, a pesquisa assume papel importante, pois tanto o do- cente, quanto o estudante farão uso da pesquisa para aprimorar, pôr em prática e construir conhecimento de maneira significativa. severino (2007, p. 25-26) diz que o “professor precisa da prática da pesquisa para ensinar eficazmente; o aluno precisa dela para aprender eficaz e significativamente [...]”. segundo teixeira (2010), para que se alcance uma educação de quali- dade, ela deve estar atrelada ao conhecimento. Dessa maneira, será possível a construção do conhecimento voltado para uma educação comprometida e, realmente, construtiva. Portanto, compete aos professores e estudantes, através da prática de pesquisa, proporcionar a sociedade novos conhecimentos com a finalidade de torná-la padrão na praxe do ensino superior e nas demais modalidades de ensino (principalmente no ensino médio), o que certamente facilitaria, significativamente, a vida do ingressante de ensino superior. A missão do estudante num contexto universitário Ao ingressar na universidade o estudante depara-se com situações pou- co comuns a sua realidade, até então. A partir disso, é necessária uma ade- quação, por parte do estudante, ao novo ambiente. para severino (2007, p. 37), no ensino superior os bons resultados do ensino e da aprendizagem dependerão em muito do empenho pessoal do aluno no cumprimento das atividades acadêmicas, aproveitando bem os subsídios trazidos seja pela intervenção dos professores, seja pela disponibilidade de recursos pedagó- gicos fornecidos pela instituição de ensino. teixeira (2010), ao mencionar sobre as competências transversais do ofício do aluno, diz que o estudante precisa desenvolver três hábitos aca- G 26 • Métodos e téc Nic As de pesquis A dêmicos: o de estudar, o de ler e o de escrever textos para torna-se atuante na sociedade. Isso servirá como requisito para que o estudante torne-se um pesquisador. O ato ou o hábito de estudar está diretamente ligado ao de aprender através de boas práticas de leitura e atenção às aulas, dando ao aluno a possibilidade de participar, interpretar e envolver-se no desenvolvimento de tais práticas. Sendo assim, deve-se aproveitar ao máximo as aulas em sala, pois “esse material didático científico deve ser considerado e tratado pelo estudante como base para seu estudo pessoal, que complementará os dados adquiridos através das atividades de classe” (seVeRiNo, 2007, p. 43), além das leituras de bons livros que possibilitem atuação e/ou reflexão do estudante. Diante todo o exposto, quanto as suas atribuições, será necessário, para que obtenha sucesso na universidade, que o estudante se empenhe, pois dele serão exigidas responsabilidades condizentes do ensino superior e que superam as de suas experiências anteriores. Fonte: SANTOS, Alex Robson dos Anjos. A Importância da metodologia científica para estudantes no contexto universitário. Disponível em http://meuartigo.brasilescola.com/ educacao/importancia-metodologia-cientifica-para-estudantes-contexto-universitarios.htm. Acesso em 19/03/2015. DICA DE FILME ostaria de indicar-lhe um filme que poderá ajudar na reflexão sobre a importância da pesquisa na construção de um mundo melhor. O Óleo de Lorenzo - Dirigido por George Mil- ler. EUA: Universal Picture/Columbia Pictures, 1992. 129 min. Nick Nolte e Susan Sarandon protagonizam este drama baseado em história real. Em uma das cenas, temos uma grande frase que merece nossa atenção: “Talvez não tenhamos conseguido fazer o melhor, mas lu- tamos para que o melhor fosse feito... Não somos o que deveríamos ser, não somos o que iremos ser. Mas graças a Deus, não somos o que éramos.... http://meuartigo.brasilescola.com/ uNid Ade 1 • 27 RESUMO DO CAPíTULO 1 Principais ideias vistas neste capítulo • os 3 grandes desafios da educação superior são: formar profissionais de qualidade, iniciar os alunos na prática científica através de métodos e técnicas; fomentar a conscientização político-social dos estudantes . • o conhecido “tripé” da universidade é: Ensino, que diz respeito ao pro- cesso de transmissão, articulação e exposição dos conteúdos e dos co- nhecimentos acumulados e adquiridos pela humanidade; Pesquisa, que diz respeito ao processo de construção e produção do conhecimento; e Extensão, que diz respeito ao processo de circulação e articulação do conhecimento produzido e estudado na academia dentro da sociedade. • A pesquisa, o ensino e a extensão se apresentam em 3 dimensões, res- pectivamente: a dimensão epistemológica- pois aponta para a cons- trução e os caminhos do conhecimento; a dimensão pedagógica - pois decorre de sua relação com a aprendizagem; e a dimensão social - pois trata de sua extensão e de sua contribuição com a sociedade. • Nos desafios da era pós-moderna, a pesquisa poderá ser uma grande estratégia de mudança, de abertura de novos horizontes e de novas pos- sibilidades. 28 • Métodos e téc Nic As de pesquis A AUTOATIVIDADE Com base nos textos lidos, responda 1 Como a pesquisa poderá ajudar no processo de ensino-aprendizagem promovido pelas instituições de ensino superior? 2 qual o papel do aluno em seu processo de ensino-aprendizagem? 3 Como a pesquisa poderá contribuir com a formação de profissionais de qualidade e, ao mesmo tempo, com indivíduos que sejam conscientes de sua cidadania? Capítulo 2 O ato de estudar A sabedoria, o sucesso e o conhecimento são produtos da perseverança e do aprendizado. Enfim, é preciso estudar, e estudar com qualidade. Toda ação humana requer disciplina, esforço e principalmente métodos adequa- dos, caso contrário será tortuoso e pouco produtivo. Aprender os métodos de estudo é condição imperativa para a eficiência da aprendizagem e para o afinamento da prática da pesquisa. Boa parte dos alunos que saem do ensino fundamental e do ensino médio não aprendeu e nem desenvolveu um método adequado de estudo. A maioria não foi bem orientada e não tem no- ções básicas sobre procedimentos de estudo, de pesquisa, de leitura e de re- alização de trabalhos acadêmicos. O propósito deste capítulo é ajudar com alguns princípios simples, mas práticos, sobre o ato de estudar e tudo que isso envolve na prática. Antes de tudo, que fique claro que saber como “estudar” também é um aprendizado. Com o tempo e com o exercício de bons hábitos, o progresso nos procedi- mentos de estudo e leitura vão se aperfeiçoando rumo à maturidade e à autonomia intelectual. Dessa forma, a metodologia científica deixa de ser apenas um monte de regras e normas a serem decoradas pelos alunos com o propósito único e final de realizarem uma prova, e passa a ser vista também como a oferta de instrumentos fundamentais para que os alunos atinjam seus objetivos. 30 • Métodos e téc Nic As de pesquis A Eis, portanto, alguns princípios importantes para a maturidade e a auto- nomia intelectual, de acordo com severino (2008): Ao iniciar essa nova etapa de sua formação escolar, a etapa do ensino superior, o estudante dar-se-á conta de que se encontra diante de exigências específicas para a continuidade de sua vida de estudos. Novas posturas diante de novas tarefas ser-lhe-ão logo solicitadas. Daí a necessidade de assumir prontamente essa nova situação e de tomar medidas apropriadas para enfrentá- la. é claro que o processo pedagógico-didático continua, assim como a aprendizagem que dele decorre. No conjunto, porém, as posturas de estudo devem mudar radicalmente, embora explo- rando tudo o que de correto aprendeu em seus estudos anterio- res. Em primeiro lugar, é preciso que o estudante se conscientize de que [...] o resultado do processo depende fundamentalmente dele mesmo. Seja pelo seu próprio desenvolvimento psíquico e intelectual, seja pela própria natureza do processo educacional desse nível, as condições de aprendizagem [...]. A aprendiza- gem, em nível universitário, só se realiza mediante o esforço individualizado e autônomo do aluno. [...] é com o auxílio des- ses instrumentos que o estudante se organiza na sua vida de estudo e disciplina sua vida científica. [...] Dado o novo estilo de trabalho a ser inaugurado pela vida universitária, a assimilação de conteúdos já não pode mais ser feita de maneira passiva e mecânica como costuma ocorrer, muitas vezes, nos ciclos ante- riores. Já não basta a presença física às aulas e o cumprimento forçado de tarefas mecânicas: é preciso dispor de um material de trabalho específico de sua área e explorá-lo adequadamente (p.38,39). 2.1 ORGANIZAÇãO Muitos alunos chegam ao ensino supe- rior sem nunca terem aprendido a organizar um plano de estudo. A desorganização tem um preço muito alto aos que dela sofrem. O mercado, a sociedade, as demandas des- te tempo corrido, demandam de todos um mínimo de organização em tudo que se pro- põe a fazer. Pessoas organizadas produzem mais e produzem com mais qualidade. A orga- uNid Ade 1 • 31 nização é a chave do sucesso, tanto na vida acadêmica quanto na vida profissional. Por isso, o aluno deve fazer uma boa preparação criando um programa de estudo. Comece separando suas atividades e seu tempo. Se não programarmos o estudo, acabamos não estudando. E isso é certo, pois acontece mesmo com uma grande maioria. Na correria da vida, sempre surgirá algo mais importante na hora. Sempre algo do quadrante “urgente” aparecerá para lhe tirar do foco e do propósito. Para que isso não aconteça e você possa priorizar o mais importante, crie uma agenda semanal com as atividades principais que não possam ser mexidas, como o horário da faculdade, o horário do trabalho, o horário da academia, etc. Ao organizar sua agenda fixa, você verá que sobrará muito espaço vazio, e é aí que serão encaixados os estudos. Organize seu tempo. A partir dessa organização você observará que tudo fluirá muito melhor. A desorganização traz uma sensação de que tudo está atrasado, revirado e confuso. Essa de- sorganização é, antes de tudo, mental e emocional. Somente depois é que se torna algo real. DICAS PARA A ORGANIZAÇãO DOS ESTUDOS • organize um local para seus estudos. escolha um local limpo e bem ilu- minado; • organize a ordem de disciplinas a serem estudadas em cada dia. o ideal é estudar uma matéria diferente a cada dia; • organize-se para estudar o conteúdo das aulas antes e após as aulas. Isso lhe colocará em exposição mais frequente ao conteúdo, o que lhe ajudará melhor na memorização, na reflexão e no aprendizado. • organize um mapa de conteúdos a serem estudados. solicite ao professor que lhe forneça o Plano de Ensino da Disciplina que contém o conteúdo programado para a disciplina; • organize a prioridade de estudos conforme seu grau de dificuldade. Gaste mais tempo nas matérias de maior importância pra você e que lhe apre- sentam uma dificuldade mais acentuada; 32 • Métodos e téc Nic As de pesquis A • organize seu tempo. A escolha de um horário fixo ajudará muito no pro- cesso de adaptação e na criação e manutenção do hábito. Horários alea- tórios ou muito diferentes podem facilitar o aborto dos estudos. Criar um hábito demora certo tempo, mas depois dos primeiros dias, ficará mais fácil; • estabeleça prazos e metas. crie prazos que lhe ajudem a alcançar suas metas dentro de seu plano de estudo; • seja fiel aos planos e à sua agenda. distrações com coisas pequenas e não importantes, ao que chamamos de “urgência do apagar fogo”, tenta- rão tirá-lo de seu foco. 2.2 DISCIPLINA Você é disciplinado? caso positivo, parabéns! continue assim, pois des- sa formavocê só tem a ganhar. Se você não é disciplinado, não desanime, ainda há tempo para desenvolver essa virtude. A virtude da disciplina é a marca daqueles que venceram ou estão na rota do sucesso acadêmico e profissional. Muitos alunos alegam não terem tempo para estudar. Na verda- de, todos têm, o que falta é disciplina de tempo. Se começarem a registrar o tempo que gastam com afazeres triviais, sem importância ou não prioritários, ficarão assustados com o “desperdício”. A disciplina é o grande combustível de todo processo. Disciplina de tempo, discipli- na nos estudos, disciplina na sala de aula, disciplina emocional, o que muitos chamam de “foco”. Normalmente encontramos pes- soas muito ocupadas e, ao mesmo tempo,muito produtivas. O segredo da maioria de- las é a disciplina pessoal. A vida acadêmica exige disciplina, caso contrário, você perderá muito tempo e inves- timento naquilo que se propõe a fazer. Al- guém disse que há um tempo mínimo para uNid Ade 1 • 33 a consolidação de um novo hábito, que é de 40 dias. Acreditamos que a disciplina pode ser aprendida e exercitada ao longo da graduação. quanto mais disciplinado, mais longe você pode chegar. Não é a velocidade do iní- cio que conta, mas a disciplina em perseverar sempre, em perseverar com qualidade e em perseverar até o fim. Pode parecer um fardo para alguns a ideia de ficar em casa estudando enquanto há tantas outras coisas mais divertidas para se fazer. Entenda que os benefícios a longo prazo compensam qualquer pensamento, inclusive o de que seja um sacrifício. A verdade é que a disciplina e a organização po- dem fazer com que você aproveite melhor o seu tempo e não deixe de fazer absolutamente nada daquilo que gosta de fazer. O psicólogo Miguel Lucas nos dá a seguinte direção em seu artigo Exer- cícios para melhorar a sua força de vontade e autodisciplina: Ter força de vontade significa sermos capazes de fazer o que devemos de forma intencional, vencendo as dificuldades e/ou os estados de ânimo. A força de vontade estabelece uma relação muito forte com a motivação. Motivação, é ter um motivo para a ação, esta ação terá tanto mais ímpeto quanto mais disciplina você tiver. Juntando os conceitos: a força de vontade utiliza a motivação que temos para a ação, a ação é tanto mais orientada quanto mais disciplina for colocada na persecução do objetivo a alcançar. Não é preciso grande força de vontade para fazer coisas praze- rosas como divertir-se ou ficar deitado sem fazer nada. Pois à nascença todo o ser humano traz já no seu repertório uma ten- dência natural para a adaptação hedónica (adaptação natural a acontecimentos considerados positivos e prazerosos). por isso a força de vontade pode ser considerada uma virtude preponde- rante na nossa vida, esta virtude destaca-se porque permite-nos realizar aquilo que naturalmente não é fácil, mas que necessita de grande esforço, dedicação e trabalho da nossa parte. De uma forma geral, quem na sua vida tem um elevado grau de força de vontade, destaca-se dos outros, é apreciado e admirado pela capacidade de orientar e governar a sua vida. REFORÇAR A FORÇA DE VONTADE No reforço e prática da força de vontade valem todos os pe- quenos esforços: Por exemplo quando se trata de terminar a 34 • Métodos e téc Nic As de pesquis A obrigação apesar do cansaço, de estudar a matéria que nos cus- ta, recolher o que está fora do lugar, vestir-se apropriadamente, levantar da cama apesar da falta de vontade, tudo isto pode ser um excelente exercício de força de vontade na vida quotidiana. Encaminhamo-nos passo a passo a grandes conquistas pesso- ais, pela força do hábito de nos forçar a criar rotinas que depen- dem da nossa disciplina mental (controlo do que queremos pela ação da vontade própria). Aos poucos vamos forjando pela força de vontade um caráter que atua de forma coerente com aquilo com o qual nos propomos. NãO PARE NO FRACASSO quando fracassamos não devemos parar no fracasso. podemos ter fracassado porque não nos empenhamos bastante, ou por- que criamos uma expectativa irreal sobre um determinado curso de ação, lugar, coisa ou pessoa. E quando essas pessoas ou circunstâncias nos desapontam pensamos que fracassamos de alguma maneira. Mas os fracassos ou desencantos devem ser vistos como uma ótima oportunidade para aprendermos sem nunca nos determos neles mais que o necessário para perspec- tivarmos novas formas de obter o que desejamos. O fracasso que na grande maioria das vezes tememos enfrentar e aceitar, é o que nos impede de nos realizarmos como pessoa, de realizar o nosso projeto de vida. Persistir, recomeçar ou em- penhar-nos mais da próxima vez, essa deve ser sempre a nossa lição nos pequenos fracassos, porque nunca deixamos de olhar o objetivo maior, por ficarmos com o olhar preso no obstáculo que caiu mais atrás, nunca deixamos de nos focar intencional- mente na reta da meta. Adaptando uma perspectiva otimista, não interessa as vezes que caímos, mas sim aquelas que estamos dispostos a levantarmo- nos. Às vezes os fracassos despertam novas potencialidades, possibilidades e oportunidades, e até por vezes algumas das nossas forças escondidas. Com relativa facilidade, podemos deixar-nos levar pelo estado de ânimo do momento, deixando de fazer as coisas que deveríamos (aquelas que achamos ser boas para nós e desejamos alcançar), porque é grande o impulso para nos dedicarmos às coisas das quais obtemos prazer de forma fácil, rápida e sem necessidade de termos qualquer habilidades ou competência. uNid Ade 1 • 35 MUNDO DE POSSIBILIDADES Vivemos numa época em que a competitividade se tornou fe- roz, em que a mudança é certa, somos forçados diariamente a constantes adaptações. Por tudo isto reconheço que querer concretizar determinados objetivos, pode tornar-se num calvário repleto de obstáculos, dificuldades e desilusões. Em contrapar- tida, nunca vivemos numa época em que existisse tantas pos- sibilidades. O mundo está repleto de possibilidades para todos, a informação e a educação estão cada vez mais acessíveis no mundo global. Talvez escolher entre tantas oportunidades e pos- sibilidades se torne só por si uma tarefa de Hércules. é aqui que a força de vontade e disciplina mental se tornam fundamentais. Desenvolver e trabalhar estas áreas é um caminho para nos munirmos de “armas” para combater as dificuldades que inevi- tavelmente se nos deparam na vida. SABER AQUILO QUE GOSTAMOS E QUEREMOS é preciso estarmos atentos ao que nos rodeia, e tentar perceber onde é que as nossas paixões se podem encaixar, onde é que as nossas melhores habilidades e competências podem surtir melhores resultados. Aliado a tudo isto, e mais importante que qualquer coisa, é necessário conhecer e reconhecer aquilo que gostamos, e que queremos estabelecer como objetivo. Aquilo que nos faz sentir bem, no qual nos possamos sentir como peixe na água. Este caminho de descoberta, pode ser o nosso maior aliado tornando-se num facilitador de vida. Saber do que gos- tamos, conhecer as nossas forças e virtudes, as nossas capaci- dades e como colocá-las em ação, é meio caminho para sermos bem sucedido nos objetivos que traçamos. TRAVAR OS IMPULSOS Para melhorarmos a nossa força de vontade, devemos munirmo- nos da sua melhor aliada a auto-disciplina. A auto-disciplina é o companheiro da força de vontade, dotando-a com a resistên- cia para persistir em qualquer coisa que você faça. Ela confere a capacidade de suportar privações e dificuldades, seja física, emocional ou mental. Ela concede a possibilidade de rejeitar a satisfação imediata, a fim de obter algo melhor, mas que exi- ge esforço e tempo. Esta capacidade está descrita no mundo da psicologia como uma componente primordial na inteligência emocional, que é a capacidade para adiar a recompensa. Todos nós temos no nosso mundo interior, impulsos inconscien- tes, ou parcialmente conscientes, que pontualmente nos levam a dizer ou fazer coisas que lamentamos mais tarde. Em muitas ocasiões, nós seres humanos não pensamos devidamente an- 36 • Métodos e téc Nic As de pesquis A tes de falar ou agir. Ao desenvolver estes dois poderes, a força de vontade e auto-disciplina tornamo-nos conscientes da nossa vida interior, dos nossos impulsos subconscientes, ganhando as- sim a capacidade de os rejeitar quando não são bons para nós ou para os objetivos que queremos alcançar. Às vezes, você deseja ir dar um passeio, sabendo o quanto é bom para a sua saúde e como se sentirá muito bem com isso, no entanto,por vezes sente preguiça, e prefere ver tV. Você pode estar ciente do fato de que precisa mudar os hábitos alimentares ou parar de fumar, no entanto, não tem a força interior e persis- tência para mudar esses hábitos. SERÁ QUE ISTO LHE É FAMILIAR? quantas vezes você já disse: “eu gostaria de ter força de vontade e auto-disciplina”? quantas vezes você iniciou alguma coisa, para depois passado pouco tempo desistir? certamente todos nós já tivemos experiências como estas. Todos nós possuímos alguns vícios ou hábitos que desejaría- mos superar, como o tabagismo, ingestão excessiva de comida e álcool, a preguiça, a procrastinação ou falta de assertividade. Para superar esses seus hábitos ou vícios, é preciso ter força de vontade e auto-disciplina. Estas virtudes fazem uma grande diferença na vida de todos, promovendo a força interior, auto- domínio e determinação. Estes dois poderes ou virtudes, como quiser considerar, ajudam- nos a escolher o nosso comportamento e reações, em vez de sermos governados por elas. A implementação deles no nosso caráter não irá permitir que a vida se torne monótona ou aborre- cida. Pelo contrário, você vai sentir-se mais poderoso, responsá- vel por si mesmo, feliz e satisfeito. Quantas vezes você se sentiu muito fraco, preguiçoso ou com vergonha de fazer algo que você queria fazer? Você pode ganhar força interior, promover a iniciativa e a capa- cidade de tomar decisões e segui-las. Acredite em mim, não é difícil desenvolver estas duas potências. Se você for sincero con- sigo mesmo e estiver disposto a tornar-se mais forte, certamente vai ter sucesso. (fonte:disponível em http://www.escolapsicologia.com/10-exer- cicios-para-melhorar-a-sua-forca-de-vontade-e-auto-disciplina/) http://www.escolapsicologia.com/10-exer- uNid Ade 1 • 37 2.3 APROVEITAMENTO DAS AULAS Assistir a uma boa aula com um bom professor é muito importante no processo de aprendizagem. Porém, não é o fator mais decisivo em todo o processo de aprendizado e na formação. Muitos alunos colocam todo o peso de sua formação acadêmica na performance do professor, porém, esque- cem-se de que eles, os alunos, também são sujeitos de sua formação. O Educador brasileiro Paulo Freire, em suas obras, faz duras críticas ao tipo de educação em que o aluno é passivo em todo processo, deixando para o professor o polo ativo no processo. Foi o que ele chamou de “Educação Bancária”: […] a narração, de que o educador é o sujeito, conduz os educan- dos à memorização mecânica do conteúdo narrado. Mais ainda, a narração os transforma em “vasilhas”, em recipientes a serem “en- chidos” pelo educador. quanto mais vá “enchendo” os recipientes com seus “depósitos”, tanto melhor educador será. quanto mais se deixam docilmente “encher”, tanto melhores educandos serão. Desta maneira, a educação torna-se um ato de depositar, em que os educandos são os depositários e o educador o depositante. […] Na visão “bancária” da educação, o “saber” é uma doação dos que se julgam sábios aos que julgam nada saber […] Daí, então, que nela: o educador é o que educa; os educandos, os que são educa- dos […] o educador é o que pensa; os educandos, os pensados […] o educador é o que diz a palavra; os educandos, os que escutam docilmente […] o educador, finalmente é o sujeito do processo; os educandos, meros objetos. […] Se o educador é o que sabe, se os educandos são os que nada sabem, cabe aquele dar, entregar, le- var, transmitir o seu saber aos segundos. Saber que deixa de ser de “experiência feita” para ser de experiência narrada ou transmitida. (fReiRe, 1988, p.58,59). Ser sujeito significa participar de todo processo. O aluno não pode se permitir ser apenas recep- tor de uma boa aula narrada. Ele precisa engajar-se a partir do início da disciplina. Para que ele tire pro- veito das aulas, inclusive daquelas 38 • Métodos e téc Nic As de pesquis A aulas que ficaram a desejar pelos professores, o aluno deverá, antes de tudo, preparar-se para a aula. Algumas dicas práticas para que isso acon- teça são: • tenha em mãos e acompanhe a ementa de cada disciplina. A ementa da disciplina contém os conteúdos a serem trabalhados no semestre. Nela também há informações sobre os textos, as obras e as leituras pertinen- tes àquela disciplina. • exponha-se ao conteúdo que será ministrado pelo professor antes da aula. Frequente a biblioteca, leia os livros propostos na ementa e busque outras fontes de informações sobre o assunto a ser tratado. Assim você levará suas dúvidas e sua contribuição para a sala de aula. • Durante a aula, desenvolva o hábito de fazer boas perguntas. Perguntas boas são perguntas consistentes, pertinentes e bem fundamentadas. Alu- nos que não estudam com antecedência, fazem perguntas rasas e sem fundamento. • Durante a aula, contribua com suas reflexões e seus apontamentos de estudo. Isso ajudará no desenvolvimento da aula e elevará o nível de dis- cussão e de reflexão propostos pelos professores. • Após a aula, faça revisões rápidas ainda dentro da semana. Isso ajudará no processo de fixação do conteúdo e de entendimento/redução das difi- culdades. Essa revisão poupará você de um desgaste em época de prova. Muitos alunos fazem revisão somente às vésperas de provas, o que não é muito produtivo. Se conseguir praticar essas dicas, consequentemente, estará se ex- pondo ao conteúdo em 3 tempos distintos: antes, durante e depois da aula. é muito provável que isso aumente seu rendimento e facilite seu processo de aprendizagem, colocando-o à frente de muitos outros que apenas “assistem às aulas” e, ao final do período, desgastam-se em ho- ras intensas de estudo. uNid Ade 1 • 39 2.4 APROVEITAMENTO DAS LEITURAS uma boa formação acadêmica precisa atentar-se para este preceito: “é PRECISO LER, LER MUITO e LER BEM”. o filósofo inglês francis Bacon (1561-1626) é autor de uma conheci- da frase nesse sentido: “A leitura torna o homem completo; a conversação torna-o ágil, e o escrever dá-lhe precisão”. Martins nos aponta para a seguinte consideração em O que é leitura?: Seria preciso, então, considerar a leitura como um processo de compreensão de expressões formais e simbólicas, não impor- tando por meio de que linguagem. Assim, o ato de ler se refere tanto a algo escrito quanto a outros tipos de expressão do fazer humano, caracterizando-se também como acontecimento histó- rico e estabelecendo uma relação igualmente histórica entre o leitor e o que é lido. [...] As inúmeras concepções vigentes de leitura, grosso modo, podem ser sintetizadas em duas caracte- rizações: 1 - Como uma decodificação mecânica de signos linguísticos, por meio de aprendizado estabelecido a partir do condicionamento estímulo-resposta (perspectiva behaviorista-skinneriana); 2 - Como um processo de compreensão abrangente, cuja dinâ- mica envolve componentes sensoriais, emocionais, intelectuais, fisiológicos, neurológicos, bem como culturais, econômicos e políticos (perspectiva cognitivo-sociológica) (MARtiNs, 1994, p.30,31 ). Para produzir qualquer trabalho, realizar pesquisa, escrever bons textos, escrever adequadamente e ampliar o conhecimento, a leitura com qualidade deve ser o alvo de todo aluno determinado a vencer. elizabeth teixeira (2005) indica alguns princípios para aproveitar bem as leituras que fazem parte da vida acadêmica: • A primeira leitura deve apreender a ideia principal/central do texto. Nela, o leitor deve procurar identificar a fonte do texto, o autor. O texto deve ser lido inteiramente, sem marcações ou anotações. • A segunda leitura deve procurar os significados, os conceitos principais abordados, as ideias correlatas com a ideia central. Nessa leitura, o leitor 40 • Métodos e téc Nic As de pesquis A fará destaques e sublinhará ou destacar apenas os trechossignificativos do texto. A autora sugere que nada seja anotado ainda. • A terceira leitura é como uma discussão com o autor do texto. Nesse nível, o leitor faz análises, comparações com seu pensamento e com os outros conteúdos já lidos. é o que a autora chama de interpretação autônoma, pela qual se compreende de forma crítica o autor lido ou a re- alidade observada. é neste nível que o leitor tem condições de contrapor, refutar, concordar, ampliar e caminhar com o autor. Outras dicas práticas para o aproveitamento no ato de leitura: • tenha dicionários específicos para entender os conceitos e as palavras que ainda não conhece. • identifique o estilo do autor, suas ideias, seus paradigmas principais. se possível, pesquise sobre as influências acadêmicas e autorais que esse autor recebeu. • faça perguntas e anotações no texto. • se o autor ou texto em questão é de difícil entendimento, não desista. Muitas vezes será necessário refazer a leitura várias vezes. Ler uma rese- nha já publicada pode ajudar. Mas cuidado para não ser direcionado pelo resenhista; tenha suas próprias opiniões. • destaque a tese principal, os argumentos principais, a metodologia que o autor utiliza, seus fundamentos teóricos e suas conclusões. • tente montar um diagrama de síntese (conforme os descritos em nossos cadernos - síNtese dA uNidAde). isso ajudará a ter um visão mais geral e mais ampliada de todo o conteúdo. • Arquive sua leitura fazendofichamentos, resumos e/ou resenhas. em ou- tro momento, estudaremos as formas mais adequadas para fazer esse tipo de arquivamento de leitura. uNid Ade 1 • 41 PARA REFLETIR Leitura é alienação? O PRAZER DE LER: SOBRE LEITURA E BURRICE Ler pode ser uma fonte de inteligência. Freqüentemente é uma fonte de emburrecimento. Muitas, pessoas, inteligentes por nascimento, ficaram burras por excesso de leitura. Essa afirmação contraria aquilo que os pro- fessores dizem e fazem. Eles acreditam que livros, quanto mais, melhor. E a partir desse princípio, emprestado por analogia da antiga etiqueta culinária mineira, obrigam os seus alunos a ler lista infindáveis de livros - provas da seriedade de seu saber e do rigor de seus cursos: Na antiga culinária mineira era assim: vinha a dona da casa e enchia o prato da gente - e a gente comia com prazer. Aí, quando o prato estava raspado e limpo, a gente feliz com a barriga cheia, vinha ela com outra concha cheia e, sem pedir licença, reenchia o prato vazio que a gente era obrigado a comer. Essa prática se baseava em duas pressuposições. A primeira dizia que os estômagos são muito maiores do que parecem. A Segunda dizia que as pessoas sempre querem comer mais, e não o fazem por acanhamento. “Livros, quanto mais, me- lhor” é tão verdadeiro quanto “comida, quanto mais, melhor”. Nietzsche disse que leva muito tempo para a gente ter coragem de dizer o que sabe. Faz muito tempo que sei que o excesso de leitura faz mal para a inteligência, mas nunca me atrevi a dizê-lo. Tinha medo de ser condenado à fogueira. A coragem me veio quando descobri um aliado: um livrinho muito pequeno - pode ser lido em meia hora -, Sobre livros e leitura. Autor: Arthur Schopenhauer. Como ninguém se atreverá a acusar o filósofo inimigo da leitura e do pensamento, transcrevo o que ele escreveu: “quando lemos, outra pessoa pensa por nós: só repetimos o seu processo mental. Durante a leitura nossa cabeça é apenas o campo de batalha de pensamentos alheios”. Em outras palavras: ler é um exercício de alienação. Alienação é a pala- vra que os ativistas políticos de eras passadas cobriram de excrementos. Nome feio e malcheiroso. Foi identificada com um estado no qual a pessoa não tem consciência do que está acontecendo no mundo em que vive, o oposto da tão louvada “consciência crítica”, expressão obrigatória em todo o documento sobre educação. A palavra vem do latim, alius, “outro”. O alienado é uma pessoa que está fora de si, caminha num mundo que não é o seu; é de outro. Para ler é preciso fazer “parar meu mundo”. Se o mundo 42 • Métodos e téc Nic As de pesquis A que me é próprio não for “desligado”, não poderei entrar no mundo que se encontra no livro. Abro o livro. Desligo meu mundo. Começo a leitura. Entro num mundo que não é meu; é de outro. A alienação é uma das fontes do prazer da leitura. Por meio dela sou ca- paz, ainda que por um curto espaço de tempo, de sair de minha realidade e viver a realidade do outro. Ainda ontem, relendo a parte final do livro Zorba, comecei a chorar. O feitiço da leitura faz com que eu me esqueça de meu mundo e me transporte para o lado de Zorba. Esse exercício vo- luntário de alienação é parte da boa saúde mental, e quem não consegue fazê-lo é porque está meio enlouquecido. Mas aquilo que é remédio, no varejo, vira veneno, no atacado. Schope- nhauer continua: “ Daí se segue que aquele que lê muito e quase o dia inteiro, e que nos intervalos se entretém com passatempos triviais, perde, paulatinamente, a capacidade de pensar por conta própria. Porque quanto mais lemos menos rastro deixa no espírito o que lemos: é como um quadro negro, no qual muitas coisas foram escritas, uma sobre as outras. Assim, não se chega à ruminação: é só com ela que nos apropriamos do que lemos, da mesma forma como a comida não nos nutre pelo comer mas pela digestão”. ele continua: “é por isso que, no que se refere as nossas leituras, a arte de não ler é sumamente importante”. Por vezes, ao ver as listas de livros indi- gestos e sem sabor que os professores obrigam seus alunos a ler, tenho vi- sões infernais de um buffet imenso, centenas de pratos - que os alunos são obrigados a comer (digerir e assimilar é outra coisa. Via de regra a refeição acadêmica termina em vômito ou diarréia. o engolido é esquecido). “Esse é o caso de muitos eruditos: leram até ficarem estúpidos. Porque a leitura continua, retomada a todo instante, paralisa o espírito ainda mais que um trabalho manual contínuo, já que neste ainda é possível estar absorto nos próprios pensamentos”. Nietzsche pensava o mesmo. Eis o que ele disse no Ecce Homo: “Os eru- ditos, que hoje nada mais fazem que de dar livros (ir virando as páginas com o dedo), acabam por perder inteiramente a capacidade de pensar por eles mesmos. Enquanto vão lendo não pensam. Os eruditos gastam todas as suas energias dizendo Sim e Não na crítica daquilo que outros pensa- ram - eles mesmos não têm mais a capacidade de pensar. Vi com meus próprios olhos: pessoas bem-dotadas e com liberdade de espírito que, aos trinta anos, já haviam lido a ponto de se arruinar...” é um equívoco imaginar que a quantidade de livros lidos desenvolve a capacidade de pensar. Comida ingerida em grande quantidade prova per- uNid Ade 1 • 43 turbações digestivas ou obesidade. Eruditos, com freqüência, são obesos de espírito. Livros lidos em grande quantidade provocam perturbações no pensamen- to. Borges, numa conferência sobre “O livro”, cita Sêneca, quem censura o dono de uma biblioteca de cem livros. “quem”, ele pergunta, “é capaz de ler cem livros?” Nietzsche, no mesmo espírito, diz que ele se contentava em ler poucos livros. e acrescenta: “uma sala de leitura (salas enormes, nas bibliotecas, onde se vai ler) me deixa doente”. Pelo que conheço das práticas escolares, esse é o resultado das leituras, nas escolas. Os alunos aprendem que as coisas importantes estão escritas em livros, e com isso eles são desencorajados de pensar seus próprios pensamentos. Pesquisar é fazer resumos dos artigos da Barsa. Num tra- balho acadêmico, tudo o que o aluno diz tem de ser confirmado por aquilo que outro disse num livro - um nome e uma data entre parênteses. Os alu- nos terminam por pensar que a educação é parar de pensar seus próprios pensamentos e pensar os pensamentos de outros - pelos quais elesnão têm o menor interesse. Valendo-me das metáforas culinárias, atrevo-me a dizer, com freqüência, as chamadas avaliações escolares (as provinhas) são ocasiões pós-refeição em que provocam vômitos intelectuais nos alu- nos, para verificar se o vomitado é idêntico ao que foi engolido. Eu me alimento de alguns livros diariamente: eles podem ser maravilho- sos. Mas é preciso que sejam comidos com prazer para fazer bem à inte- ligência. E note que “prazer” não quer dizer “facilidade”. Existe um prazer imenso em escalar uma montanha...Livros comidos com prazer são livros a serem ruminados pelo resto da vida. Livros não-ruminados são livros esquecidos. Não entraram no sangue, não viraram carne. Mas ruminação é virtude que se deve aprender com as vacas. Rumina-se num tempo de vagabundagem, de paciência e pachorra, tempo quando não se pasta. Mas essas são virtudes que os educadores não conseguiram incluir em suas pedagogias e psicologias. ALVes, Rubens. Entre a ciência e a sapiência: o dilema da educação. São Paulo: Ed. Loyola, 1999. 44 • Métodos e téc Nic As de pesquis A RESUMO DO CAPíTULO 2 Principais ideias vistas neste capítulo • o ato de estudar requer organização, disciplina, proveito das aulas, pro- veito das leituras. • pessoas organizadas produzem mais e com mais qualidade. A organiza- ção é a chave do sucesso, tanto na vida acadêmica quanto na vida pro- fissional. Por isso, o aluno deve fazer uma boa preparação, e para tanto, precisa criar um programa de estudo. • A disciplina será o grande combustível de todo o processo de aprendi- zagem. é importante disciplinar o tempo, os estudos, as emoções e a vontade. • Ler antes da aula poderá ser um grande diferencial nos objetivos de uma formação acadêmica de qualidade. • para produzir bons trabalho, realizar pesquisas sérias, escrever adequa- damente e ampliar o conhecimento, a leitura com qualidade deve ser o alvo de todo aluno determinado a vencer. uNid Ade 1 • 45 AUTOATIVIDADE Com base nos textos lidos, responda 1 o que você entendeu como “educação Bancária”? pesquise e reflita sobre a proposta de Paulo Freire, chamada por ele de “Educação Problematiza- dora”. 2 Ao ler o texto de Rubem Alves, O Prazer de Ler: Sobre Leitura e Burrice, o que lhe vem à mente sobre a questão da qualidade de leitura em rela- ção à quantidade de leituras que o estudante precisa cumprir? 3 Faça uma lista de ideias, estratégias ou maneiras que um estudante pode usar para equalizar quantidade com qualidade de leituras. 46 • Métodos e téc Nic As de pesquis A SíNTESE DA UNIDADE 1 DIMENSãO EPISTEMOLÓGICA ExTENSãO PESQUISA ENSINO O TRIPÉ DA UNIVERSIDADE CONSTRUÇãO DO CONHECIMENTO DIMENSãO POLíTICA DIMENSãO PEDAGÓGICA uNid Ade 1 • 47 AMPLIE O CONHECIMENTO NO AVA “Ambiente Virtual de Aprendizado” Links de textos complementares eNsiNo-pesquisA-eXteNsÃo: uM eXeRcício de iNdissociABiLidAde NA pÓs-GRAduAÇÃo www.scielo.br/pdf/rbedu/v14n41/v14n41a06.pdf o Ato de estudAR NA VidA AcAdêMicA www.prac.ufpb.br/anais/iXenex/ iniciacao/.../4.../4CFTDCSAMT01.pdf Vídeos PAULO FREIRE - Importância do ato de ler https://www.youtube.com/watch?v=hgdnZdteBiu LeituRA do MuNdo, LeituRA dA pALAVRA - pAuLo fReiRe https://www.youtube.com/watch?v=-oAYsrs_oLe http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v14n41/v14n41a06.pdf http://www.prac.ufpb.br/anais/iXenex/ http://www.youtube.com/watch?v=hgdnZdteBiu http://www.youtube.com/watch?v=-oAYsrs_oLe http://www.youtube.com/watch?v=-oAYsrs_oLe MÉTODOS E TÉCNICAS DE PESQUISA Unidade 2 Capítulo 1 Fundamentos da Pesquisa Científica 1.1 O PROCESSO DE CONSTRUÇãO DO CONHECIMENTO Em toda a história da humanidade, o homem é um sujeito construtor de conhecimento. Nada do que temos foi nos dado em uma única vez, e não está pronto e terminado. Essa é uma condição de nossa humanidade, ou seja, o homem, como ser racional e pensante, tem a capacidade de elabo- rar, discutir, ressignificar e construir conhecimentos. O conhecimento é de importância vital para a humanidade. A busca pelo saber deve ser constante e incansável. Neste capítulo, analisaremos esse processo, sua natureza, suas modalidades e sua dinâmica. etimologicamente, Vera Rudge Werneck define o processo de constru- ção do conhecimento assim: Considera-se como construção o ato de construir algo, e, como ato ou ação a terceira fase do processo da vontade. Ante um objeto que mobilize o sujeito vão ocorrer três etapas: a deliberação, a decisão e por fim, a execução. A ação é entendida como um processo racio- nal e livre decorrente, portanto, da inteligência e da vontade. Em- bora se possa falar em ato reflexo, ato instintivo e ato espontâneo como movimentos que partem do sujeito independentemente da sua vontade, percebe-se que nesses casos não se tem propriamen- te um ato, uma ação livre, mas apenas um movimento involuntário indeterminado. [...] Pode-se, portanto entender a construção do conhecimento como a constituição dos saberes que resulta da in- vestigação filosófico-científica (2006, p. ?).1 1 FONTE: Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.14, n.51, p. 173-196, abr./jun. 2006. Disponível em www.scielo.br/pdf/ensaio/v14n51/a03v1451.pdf http://www.scielo.br/pdf/ensaio/v14n51/a03v1451.pdf 52 • Métodos e téc Nic As de pesquis A Nessa definição, temos dois elementos fundamentais: o sujeito e o ob- jeto. O sujeito é o que conhece, daí chamado de sujeito cognoscente, e o objeto, o que será conhecido, também chamado de cognoscível. Ao sujeito, cumpre a tarefa de estudar, interpretar, analisar e estudar o objeto de seu estudo, a fim de entendê-lo e, ao mesmo tempo, ampliá-lo. Esse processo, na filosofia, é chamado de Teoria do conhecimento. O ser humano, ao ser incomodado pela dúvida, pela curiosidade ou pela necessidade, procura respostas, soluções e certezas, então o processo do conhecimento é ativado e nele prossegue. Assim, o homem transforma a natureza através de ações individuais e coletivas. Nesse processo, cada um compreende a sua cultura, tanto em relação ao presente quanto ao passado, e como membro da sociedade que historicamente o formou, ele vai transformando-a. Nesse diapasão, o filósofo Husserl diz: [O sujeito] deve, a partir disso, criar passo a passo, novos meios de compreensão. Deve, partindo do que é geralmente compre- ensível, abrir um caminho à compreensão de camadas sempre mais vastas do presente, depois mergulhar nas camadas do pas- sado que, por sua vez, facilitam o acesso ao presente (1980, p.113). O homem, ao buscar o saber, como sujeito, pode fazê-lo de várias for- mas, mesmo empiricamente, aprendendo a fazer sem compreender o nexo causal que dá origem ao fenômeno. por exemplo, dirigir um automóvel sem que tenha a compreensão do processo mecânico que sua ação desencadeia. Também pode simplesmente aceitá-lo, como ao aceitar um comportamento de fé, um ensinamento que lhe é transmitido sem nenhuma consciência de seu conteúdo, que é normalmente o caso das superstições, ou aquele que toma uma cápsula de remédio, acreditando que pode curar sua doença, sem ter o mínimo conhecimento da relação da substância contida na pílula com o seu mal-estar. Mas essas formas não podem ser classificadas como conhecimento científico. Na atualidade, há uma pluralidade de discursos científicos e teorias diversas sobre a ciência e seus processos. O que temos a partir disso é que cada saber científico tem seu próprio estatuto de cientificidade que deve ser considerado pelo aprendiz em específico. uNid Ade 2 • 53 Mesmo assim, é pertinente que façamos algumas considerações de cunho teórico sobre o conceito de ciência.
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