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7 1. INTRODUÇÃO Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2011) – A obesidade é definida como o acúmulo excessivo de gordura, podendo gerar danos à saúde, causando risco de mortalidade se associada a outras doenças. A obesidade é uma doença bastante complexa, que está relacionada ao estilo de vida, ao meio ambiente e a genética, uma doença multifatorial, em que esses fatores ambientais e genéticos têm interação com as influências culturais, onde os indivíduos remetem muitas vezes a valores antigos ou geram costumes novos referentes à alimentação, fisiológicos, salientando o aumento do tecido adiposo e os fatores psicológicos, diminuindo a autoestima do individuo, principalmente no gênero feminino(ESCOTT-STUMP; MAHAN; RAYMOND, 2012). Segundo dados da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade (ABESO, 2009) a obesidade vem aumentando de forma significativa em várias partes do mundo, incluindo a população brasileira, por isso a importância e o cuidado devem ser levados em consideração, pois se trata de uma epidemia global. Pois do mesmo modo a OMS aponta a obesidade como um dos maiores problemas de saúde pública no mundo, onde a projeção do quadro de obesidade é que cerca de 2,3 bilhões de adultos estejam com sobrepeso em 2025, e mais de 700 milhões estejam obesos, dessa forma sua prevalência tem aumentado nas últimas décadas. É citado ainda sobre o número de crianças com sobrepeso e obesidade no mundo, que poderá chegar a 75 milhões, caso nada seja feito por meio de políticas públicas, através do SUS com implantações de estratégias de prevenção, para que de alguma maneira minimize o crescimento do quadro da doença. No entanto, quando se fala de obesidade nos países desenvolvidos, a prevalência maior é nos Estados Unidos, infelizmente ainda é um número que assusta a população e pesquisadores científicos da área da saúde. Em síntese, de acordo com Escott-Stump et al. (2012, p. 465), há estimativas da porcentagem de sobrepeso e obesidade em crianças mas, principalmente aponta-se em adultos, 8 onde estão atingindo cerca de 66% dos adultos norte-americanos com sobrepeso e 32% apresentando-se com obesidade. Todavia, a obesidade aqui no Brasil vem tomando força, e infelizmente crescendo cada vez mais, segundo IBGE (2015) “o índice beira os 60%, cerca de 82 milhões de pessoas apresentaram o IMC igual ou maior do que 25 (sobrepeso ou obesidade), com uma prevalência maior de excesso de peso no sexo feminino (58,2 %), que no sexo masculino (55,6%)”. Diante do aumento da obesidade no mundo, um estudo feito no Departamento de Bioquímica do Instituto de Biologia da Unicamp Campinas, SP e Departamento de Biodinâmica da Escola de Educação Física e Esporte da USP (AHLJr), São Paulo, SP, por Pereira et al. (2003) “um importante contribuidor para o desenvolvimento da obesidade, que promove aumento nos estoques de energia e peso corporal, é balanço energético positivo, que ocorre quando o valor calórico ingerido é superior ao gasto energético”. Quando se refere à obesidade, não se pode deixar de abordar sobre os diversos fatores externos que envolvem, ou podem desencadear a doença, como por exemplo, a aparência do indivíduo, onde Bernardi et al. (2005) contextualiza que “ devido à sua etiologia multifatorial é difícil mensurar a força de cada uma das variáveis envolvidas no processo do ganho excessivo de peso.” Entre elas, destaca-se a influência dos fatores socioculturais que impõem a sociedade um padrão de beleza em que as mulheres, na sua maioria vivem de acordo com o que na atualidade lhe é imposto. Porém não é uma questão generalizada, há quem não siga o padrão, não tendo a estado nutricional adequado. O controle de ingestão alimentar, através de dietas super restritivas e “da moda”, tornando crônico esse comportamento devido à pressão sociocultural, que impõe os tais padrões corporais, onde estes se tornam cada vez mais magros, esses fatores externos da sociedade são atitudes possivelmente desencadeadoras de transtornos alimentares. 9 Ocorre a participação de determinados hormônios, onde estão envolvidos no desenvolvimento de obesidade como, por exemplo, a ação da obestatina e da grelina, onde respectivamente, agem estimulando a saciedade e estimulando a fome, o apetite. Em indivíduos saudáveis os níveis de grelina diminuem no período pós-prandial, já em indivíduos obesos esses níveis estão desregulados, contribuindo dessa forma para o aumento de peso, já que o estimulo da fome está em ênfase (NAVES, 2010). Já a obestatina, estimula a saciedade no período pósprandial, onde o ideal seria ter os níveis elevados deste hormônio, o que de fato não ocorre no organismo de um indivíduo obeso. Por isso os transtornos alimentares tem relação com o hipotálamo, já que esse é o responsável pela fome e saciedade, com a ação dos neurotransmissores nos núcleos hipotalâmicos, controlando dessa forma as sensações de fome e saciedade, os mecanismos hipotalâmicos contribuem há muito tempo no controle homeostático do balanço energético corporal, controle este que é exercido por neurônios específicos situados, em sua maior parte, no hipotálamo (VELLOSO, 2006). Um balanço energético positivo, ou seja, a ingestão alimentar maior do que o gasto energético, pode desencadear na obesidade. Dessa forma ocorrem alterações na composição corporal, tendo um aumento de gordura corporal (PEREIRA; FRANCISCHI; LANCHA JR, 2003). O acúmulo de gordura, principalmente região abdominal, pode desencadear a inflamação no tecido adiposo, ou seja, aumento de citocinas inflamatórias no tecido adiposo Tumor Necrosis Factor (Fatores de necrose tumoral -TNF-α) e Interleucina (IL-6) como consequência esse quadro pode resultar na resistência à insulina e a leptina provocando alterações no controle da fome e da saciedade, um quadro de hiperinsulinemia e hiperglicemia, pois esta instalação da inflamação no tecido adiposo também pode comprometer a produção e ação do hormônio adiponectina, cuja função é aumentar a sensibilidade de insulina e captação de glicose, e quanto menos desse hormônio maior é o armazenamento de gordura no tecido, pois a saciedade fica comprometida. Em jejum, ocorre a diminuição dos níveis destes 10 hormônios (leptina e insulina) de forma que o hipotálamo lateral será estimulado, e consequentemente liberará os neurotransmissores orexígenos, onde estes são responsáveis pelo estímulo da fome, e diminuição da termogênese. Devido à resistência à insulina o indivíduo obeso pode apresentar um comprometimento no estimulo da saciedade, resultando no aumento da ingestão energética (VAN DE SANDE-LEE; VELLOSO, 2012). Por conta dessas alterações hormonais, ocorrem alterações metabólicas, como por exemplo, ativação de outras vias metabólicas. No tecido muscular ocorre menor captação de glicose, um quadro de hiperglicemia (aumento de glicose no sangue), hiperinsulinemia (pâncreas acaba produzindo uma maior quantidade de insulina, pois não está entrando glicose nas células) e hiperleptinemia (resistência a leptina), ocorrendo um excesso de glicose na corrente sanguínea, pois está instalada uma resistência à insulina, logo não está entrando glicose para dentro das células (VAN DE SANDE-LEE; VELLOSO, 2012). Com a atividade lipolídica aumentada, o organismo detecta que necessita de glicose, ativando dessa forma a via metabólica, no tecido hepático onde tem o armazenamento de glicose na forma de glicogênio, a glicogenólise (hidrólise do glicogênio em glicose), ou usando outra forma de captação de glicose, através de aminoácidos, lactato ou glicerol, pela gliconeogênese. Como consequênciada resistência à insulina, ocorre o acúmulo de triglicerídeos no fígado devido a essas alterações metabólicas, sendo que há outras alterações metabólicas, como níveis da pressão arterial elevados, níveis elevados de colesterol e triglicerídeos, e a obesidade abdominal (a síndrome metabólica) estão diretamente associados ao acúmulo de gordura nas células hepáticas, cujo nome da alteração metabólica denominada é, esteatose hepática não alcóolica (BROWNING; HORTON, 2004). Associada a obesidade podem surgir também outras comorbidades como, por exemplo, Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), onde as mesmas estão 11 associadas ao nível de risco de comorbidades, podendo levar a mortalidade se não forem tratadas devidamente. A OMS (2000) classifica o estado nutricional do indivíduo através de duas variáveis, peso (kg) e estatura (m²), pelo índice de massa corpórea – IMC, valores estes desenvolvidos para pessoas adultas descendentes de europeus (tabela 1). Porém o IMC não é necessariamente um indicador para gordura corpórea, há outros indicadores que apontam a distribuição de massa gorda e massa magra. Tabela 1 – Classificação do estado nutricional pelo IMC e a relação com riscos de comorbidades: Classificação IMC (kg/m²) Risco de Comorbidades Baixo Peso <18,5 Baixo Peso Normal 18,5 – 24,9 Médio Pré-Obesidade/Sobrepeso 25,0 – 29,9 Aumentado Obesidade I 30,0 – 34,9 Moderado Obesidade II 35,0 – 39,9 Grave Obesidade III ≥ 40,0 Muito Grave Fonte: Adaptado de ABESO, 2009. Entretanto para se iniciar um tratamento contra a obesidade, sendo este baseado com alimentação e mudanças de comportamento, farmacológico ou cirúrgico, se faz necessária a obtenção de um diagnóstico nutricional. Segundo ABESO (2009) para que haja maior precisão na hora de diagnosticar um indivíduo com estado nutricional na faixa de obesidade, são feitas algumas avaliações para que tenha um resultado mais preciso da massa gordurosa e da distribuição da gordura, como por exemplo: • Medição da espessura das dobras cutâneas (DCT, DCB, DCSE e DCSI; estes são os locais onde melhor é refletida a adiposidade); • Bioimpedância; • Ultrassonografia; • Tomografia computadorizada; 12 • Ressonância magnética; • Relação circunferência cintura/quadril (RCQ); • Medida da circunferência abdominal;(ABESO, 2009; ROSSI et al., 2009). Um destaque para o valor da medida da circunferência abdominal, onde a WHO (2000) reforça sobre a importância do ponto de corte para esse tipo de avaliação, visto que a mesma está associada a risco para doenças cardiovasculares e complicações metabólicas, onde os valores estão descritos e relacionados da seguinte maneira (quadro 1): Quadro 1 – Risco para doença cardiovascular e possíveis complicações metabólicas pelo aumento da circunferência da cintura Risco de obesidade associada a complicações metabólicas Homens (cm) Mulheres (cm) Sem risco < 94 < 80 Risco alto ≥ 94 ≥ 80 Risco muito alto ≥ 102 ≥ 88 Fonte: Adaptado de WHO Obesidade, 2000. Peladificuldadeque se tem, em lidar com a doença desenvolveram-seao longo dos anos muitas hipóteses para explicar o porquê alguns indivíduos tornam- se obesos e outros permanecem magros, ou encontrar respostas mais específicas sobre o desequilíbrio de peso que de fato tem uma grande influência na sociedade, visto que as pessoas estão cada vez mais em busca de uma melhor qualidade de vida, e questionam também a dificuldade dos obesos que perderam peso de alguma forma, seja qual for o tipode tratamento vinculado, ter de fato uma mudança de estilo de vidae mantê-la (ESCOTT-STUMP; MAHAN; RAYMOND, 2012). 13 O tratamento da obesidade depende da perda de peso e da redução dos diversos fatores de risco presentes no processo, onde o mesmo tem como objetivo realizar intervenções para mudança do estilo de vida, na orientação dietoterápica, no aumento da atividade física e em mudanças comportamentais. Por não obterem o resultado esperado, de imediato, com mudanças de comportamento alimentares, por exemplo, os indivíduos buscam por tratamentos alternativos, com o uso de medicamentos farmacológicos para emagrecimento muitas vezes sem uma alimentação adequada. Segundo dados da ABESO/SBEM (2010), numa atualização oficial das Diretrizes para o tratamento farmacológico da obesidade e do sobrepeso no Posicionamento Oficial da Abeso associado à SBEM – Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia –, quando o paciente apresenta complicações no tratamento ou tem alto risco de mortalidade e não apresenta perda de peso com medidas não farmacológicas, por exemplo, tratamento dietético e mudanças de comportamento, o uso de fármacos deve ser considerado. No Brasil, apenas cinco medicamentos estão registrados para o uso no tratamento farmacológico da obesidade: Anfepramona (dietilpropiona), femproporex, mazindol, sibutramina e orlistate. Porém apenas dois deles são permitidos de fato: Sibutramina e Orlistate, devido à ausência de estudos de longa duração, não há evidência de eficácia e segurança do uso dos mesmos citados anfepramona, femproporex, mazindol (ABESO-SBEM, 2010). Quanto à recomendação para fármacos é indicada quando houver falha do tratamento não farmacológico em pacientes: • Com IMC igual ou superior a 30 kg/m²; • Com IMC igual ou superior a 25 kg/m² associado a outros fatores de risco, como a hipertensão arterial, DM tipo 2, hiperlipidemia, apneia do sono, osteoartrose, gota, entre outras; • Com circunferência abdominal maior ou igual a 102cm (homens) e 88 cm (mulheres). 14 Por ora, quando o indivíduo não consegue a perda de peso através de mudanças de comportamento alimentar, com tratamentos farmacológicos, e apresenta problemas associados à obesidade tendo o risco de mortalidade, e qualidade de vida comprometida devido à manutenção da obesidade mórbida, sendo indicado tratamento cirúrgico, como última alternativa (SILVA; KAWAHARA, 2005). E através da cirurgia bariátrica, onde existem alguns tipos que serão comentados no decorrer do trabalho, com métodos distintos, mas ambas cirurgias com o mesmo propósito no tratamento da obesidade mórbida, a diminuição de ingestão alimentar e a perda de peso, com um controle em longo prazo (PORIES, 2003 apud OLIVEIRA; LINARDI; AZEVEDO, 2004). Os critérios para indicações da realização da cirurgia bariátrica segundo o Ministério da Saúde estão apresentados no quadro 2: Quadro 2 – Critérios de Indicação para cirurgia bariátrica Adultos com IMC ≥ 40 kg/m² sem comorbidades Adultos com IMC ≥ 35 kg/m² com uma ou mais comorbidades associadas Resistência aos tratamentos conservadores realizados regularmente há pelo menos dois anos (dietoterapia, psicoterapia, tratamento farmacológico, e atividade física) Motivação, aceitação e conhecimento sobre os riscos da cirurgia Ausência de contraindicações Fonte: Adaptado de ABESO, 2009. Além dessas situações apontadas acima, existem outros critérios para a indicação da cirurgia bariátrica, que consideram os aspectos psicológicos e de conhecimento do paciente, apontado como os cinco C’s das indicações do processo cirúrgico. Convicção de que a perda de peso não se faz necessária especificamente por vaidade e da autoestima, mas sim por questões de melhora na qualidade física e mental da vida daquele paciente. Consciência da mudança 15 que ocorrerá após a realização da cirurgia e dos novos hábitos que serão implantados. Confiança é um dos aspectos básicos para tal procedimento, estabelecer a mesma entre a equipe multidisciplinare o paciente é essencial. Comprometimento do paciente para este tratamento, e para qualquer outro tipo é fundamental para o sucesso do mesmo. E por fim, é necessário o controle no período pós-operatório, com acompanhamento dos profissionais, para que haja sucesso no tratamento (SILVA; KAWAHARA, 2005). Entretanto, existem alguns fatores, situações clínicas bem pontuadas que se constituem contra indicações aos pacientes que pretendem se submeter à cirurgia bariátrica, são estes: Doença Bronco Pulmonar Obstrutiva Crônica (DBPOC) severa (asmáticos e enfisematosos severos), tromboembolismo venoso de forma repetitiva, miocardiopatia avançada, insuficiência hepática severa (cirrótico grave), insuficiência renal, distúrbios psiquiátricos, alcoolismo e dependência química (SILVA; KAWAHARA, 2005). De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (2014)– SBCBM – Pag.19, o número de indivíduos que passaram por esses tipos de processos cirúrgicos, aumentou cerca de 90% há cinco anos, e 300% em uma década, visto que em 2013 foram realizadas 80 mil cirurgias, onde 10% ativa na rede pública. Sendo o Brasil o 2º país com maior número de cirurgias realizadas, com os Estados Unidos na primeira posição, cerca de 140 mil processos cirúrgicos no tratamento para a obesidade, já realizados a cada ano. Existem três tipos de procedimentos cirúrgicos, as técnicas restritivas que limitam a capacidade gástrica, promovendo dessa forma uma saciedade mais rápida com menor quantidade de alimentos. As técnicas disabsortivas, tem objetivo de diminuir a absorção dos nutrientes, não interferindo muito na capacidade gástrica logo não exige uma redução significativa do volume alimentar, possibilitando desta forma um volume maior nas refeições se comparada a técnica restritiva, porém com risco de gerar perdas nutricionais por interferir no processo de absorção. E as técnicas mistas é uma combinação de ambas as técnicas 16 citadas anteriormente, com uma predominância na atuação restritiva (PORIES, 2003 apud OLIVEIRA; LINARDI; AZEVEDO, 2004). Atualmente, desses três tipos de técnicas citadas, as que são mais utilizadas são as restritivas (balão intragástrico, gastroplastia vertical bandada e banda gástrica ajustável) e as mistas, tanto com maior componente restritivo quanto disabsortivo. As técnicas que tem elevada incidência de causas deficiências nutricional aos indivíduos são evitadas como forma de tratamento, devido a complicações metabólicas, no caso as disabsortivas (RESOLUÇÃO CFM, 2005 apud MONTEIRO; ANGELIS, 2012). Em relação a estas técnicas, o Conselho Federal de Medicina (CFM), na resolução nº 1.942/10 explica que o balão intragástrico é colocado por via endoscópica, tendo como objetivo a diminuição da capacidade gástrica do paciente, dessa forma provocando a saciedade e diminuindo o volume residual que tem disponível no estômago para os alimentos, geralmente é uma técnica utilizada como coadjuvante, no período pré-operatório para contribuir para a perda de peso. Já a banda gástrica ajustável, técnica também restritiva, objetivando da mesma forma que a citada anteriormente, porém é implantada uma prótese de silicone, na região do estômago proximal, sendo este um método reversível e pouco agressivo, permitindo desta forma ajustes na prótese se necessário. Já na técnica cirúrgica denominada gastroplastia vertical ou gastrectomia vertical, ocorre o grampeamento ou a retirada de 80% do estômago, para que dessa forma a capacidade gástrica do paciente diminua, e por conta desta ressecção do fundo gástrico, possa ocorrer como consequência a diminuição do hormônio grelina, que estimula a sensação de fome e dessa forma a redução do apetite do mesmo (RESOLUÇÃO CFM, 2005 apud MONTEIRO; ANGELIS, 2012). Devido à redução do estômago e consequentemente a promoção de uma menor ingestão alimentar, ocorre também a redução de células parietais, onde as mesmas tem função de secretar o ácido gástrico e o fator intrínseco, fatores estes que são importante para a absorção de ferro, visto que o ferro é melhor absorvido 17 na acidez do estômago, e a absorção da vitamina B12, logo há o comprometimento na absorção dos mesmos (PAPINI-BERTO et al., 2001; RESOLUÇÃO CFM, 2005 apud MONTEIRO; ANGELIS, 2012). Para tal procedimento, a abordagem nutricional envolve diversos aspectos, onde existem dentro dela algumas limitações nutricionais e modificações dietoterápicas no período pós-cirúrgico como, por exemplo, alterações na consistência, onde existem fases das dietas que o indivíduo deve seguir, segundo recomendações e orientações de um profissional nutricionista, o fracionamento e porcionamento em cada refeição também é modificado (MOREIRA et al., 2011). No pós-operatório imediato, após liberação do jejum, inicia-se dieta líquida em uma fase de adaptação, com baixa ingestão calórica. Quando o paciente já está em nível domiciliar, a introdução dos alimentos é feita gradativamente, aumento de forma progressiva o aporte calórico. O mesmo deve ser orientado a ingerir pequenas porções por vez, e no momento da alta hospitalar, o paciente deve estar recebendo dieta líquida, oferecendo aproximadamente 100 kcal/dia, e deverá mantê-la durante aproximadamente 30 dias, lembrando que a evolução de cada fase da dieta conforme apresentada no quadro 3, deverá sempre respeitar o bem estar do paciente (SILVA; KAWAHARA, 2005; ISOSAKI; CARDOSO, 2004). Quadro 3 – Evolução da consistência das dietas no pós-cirúrgico Consistência da dieta Duração aproximada Características Dieta líquida de prova 01 semana – (2º a 3º dia PO) Bebidas permitidas são: água, água de coco, bebidas isotônicas e chás (com exceção do chá preto). Não pode ingerir de bebidas adoçadas com açúcar. Ingestão com volumes menores (20ml) ao longo do dia. Dieta líquida de transição 01 semana – (3º dia PO) Introdução da gelatina dietética e sucos de frutas coados e sem açúcar. Somente o caldo da sopa 18 coado, bem transparente. S/ temperos industrializados. Dieta líquida completa 02 semanas – (10ºa 14º dia PO) Introdução de leite e derivados líquidos desnatados. Sopas ou canjas liquidificadas. Não é permitido ainda alimentação que necessite de mastigação. O tempo de adaptação da dieta líquida geralmente é de: 1 mês Dieta pastosa 02 semanas – (3ª a 5ª semana PO) Introdução de alimentos macios, amassados e em purê, e alimentos que necessite de mastigação já podem ser introduzidos, como carnes moídas e queijos magros. Dieta branda 04 semanas – (6ª semana PO) Introdução de alimentos abrandados em fibras, porém não ingerir hortaliças cruas, frutas com cascas e alimentos integrais. Dieta normal 12ª semana PO (independência alimentar) Introdução de fibras, como por exemplo, frutas com cascas, alimentos integrais e hortaliças cruas. Estimular uma alimentação saudável, em proporção adequada dos grupos de alimentos. Fonte: Adaptado de CUPARRI, 2009. Portanto, para esse tipo de dieta hipocalórica tem-se a dificuldade que é a ingestão dos alimentos com todas essas limitações, com dietas muito restritivas, ou com consistências não muito agradáveis ao paladar e aos olhos. É de suma importância, a atuação da ciência gastronômica quanto a sua execução nesse processo do pós-operatório. Onde a gastronomia pode envolver arte culinária com nutrição, possibilitando dessa forma técnicas culinárias para um aspecto e características sensoriais colocando de melhor forma na dieta (RIBEIRO, 2009). 19 SegundoRibeiro (2009), ocorre que em dietas restritivas a qualidade do alimento, determinada por sua composição química, não produz no indivíduo um estímulo de alimentar-se. E para ativar esse estímulo, através dos próprios alimentos, melhorar com o gosto, cor, forma, aroma e textura, que os mesmos apresentam, desta forma gerar uma fonte de prazer, podendo abranger significados culturais, comportamentais e afetivos, atrelados aos aspectos nutricionais que o paciente necessita. Esses fundamentos são indispensáveis para a união da arte culinária e gastronomia, tendo o objetivo de melhora sensorial da dieta. Moreira et al. (2011, p. 204) afirma que “a evolução médica-nutricional, incluindo a seleção de pacientes e cuidados pré e pós-cirúrgicos, é fundamental para o sucesso terapêutico” por isso o cuidado ao escolher esse tipo de tratamento contra a obesidade deve ser minucioso, e o indivíduo deve estar ciente de todos os processos que envolvem esse tratamento. A Portaria Nº 425, de 19 de Março de 2013 da SAS – Secretaria de Atenção à Saúde – estabeleceu um regulamento técnico, com normas e critérios para a Assistência de Alta Complexidade ao Indivíduo com Obesidade. Onde foi considerada a Portaria nº 424/GM/MS, que atualiza as diretrizes para organização da prevenção e do tratamento do sobrepeso e obesidade como linha de cuidado prioritária na Rede de Atenção às Pessoas com Doenças Crônicas e dá outras providências. A mesma ainda considerou a necessidade de ficar definido que a Assistência de Alta Complexidade ao Indivíduo com Obesidade, determinando os seus papéis na atenção à saúde e as qualidades técnicas necessárias, resolve que pelo Art. 1º onde fica definido: Que os estabelecimentos com Assistência de Alta Complexidade ao Indivíduo com Obesidade são os hospitais que oferecem apoio diagnóstico e terapêutico especializado, condições técnicas, instalações físicas, equipamentos e recursos humanos adequados ao atendimento aos indivíduos com obesidade. Além dos cuidadosrecomendados no pós-cirúrgico já estabelecido, se faz necessário e evidente que o paciente faça alguma atividade física para contribuir 20 com aspectos da sua saúde física e mental, podendo colaborar com o metabolismo energético. Monteiro et al. (2004) fala sobre a atividade física para pacientes que passaram pelo processo cirúrgico referente a intensidade da atividade, por exemplo, devendo atentar-se ás dificuldades em manter a redução de peso, bem como a necessidade do tratamento clínico ser conduzido sob a visão de uma boa equipe multidisciplinar especializada, voltada para a identificação de fatores que dificultem ou impendem essa perda de peso e a manutenção do peso perdido associado a um seguimento continuo dos pacientes para que se possa alcançar bons resultados a longo prazo. Mediante os tipos de tratamentos possíveis para a perda de peso, de forma isolada dificulta-se muito mais o processo, por isso a combinação de ambos, exercícios físicos e alimentação equilibrada e balanceada, são mais eficazes para a promoção da saúde (OMS, 2004). Entretanto, é necessário ponderar quanto à intensidade dos exercícios propostos para estes indivíduos, visto que pacientes com sobrepeso e obesos tendem a ter falta de fôlego e problemas musculoesqueléticos, o que possivelmente irá impedi-los de praticá-los. Devido a estes fatores, graus de atividades intensas devem ser avaliados, porém exercício físico se praticado com orientação devida, contribuem de forma positiva para uma composição corpórea (OMS, 2004). Mesmo com dificuldades em trabalhar com pacientes obesos e sobrepesos, por conta dos limites em que eles acabam se estabelecendo, muitas vezes com outras patologias associadas, não contribuindo desta forma para os tratamentos adotados, não se deve deixar de motivá-lo, o profissional nutricionista principalmente deve sempre buscar compreender o outro e dessa forma criar métodos para alcançar junto a ele os objetivos ou parte deles, que foram estabelecidos. A motivação contribui de forma positiva para quea melhora do quadro ocorra partir do momento em que os objetivos antes impostos, agora se concretizem por meios de materiais educativos, por exemplo. E dessa forma 21 servindo como uma ferramenta para o profissional nutricionista conseguir orientá- los da melhor forma possível na terapia nutricional, para que o mesmo compreenda os desafios que são colocados, mas queda mesma maneiraé possível através dessas ferramentas, atingir aquilo que lhe é necessário (GOSTTSCHALL, 2009). Os materiais educativos, sem dúvida, devem abordar orientações necessárias para que o paciente consiga seguir com uma evolução positiva ao tratamento, para que seus objetivos sejam de fato atingidos, mesmo que em longo prazo, nesse processo todo, em relação a orientação nutricional na alta hospitalar, o autor sugere-se que o profissional defina um plano de ação adequado às condições socioeconômicas do paciente, com objetivos específicos, visando o bem estar do paciente, conforme suas necessidades. Após a definição do objetivo em conjunto com o paciente, orientações nutricionais são indicadas envolvendo a família e/ou acompanhante para que o mesmo consiga compreender a profundidade do tratamento e faça a adesão do mesmo. Um dos fatores mais importantes de todo este processo é a motivação, para que dessa maneira alcance os objetivos, onde os mesmos poderão ser explorados por meio de informações que esclareçam os benefícios (GOSTTSCHALL, 2009). Em vista dos argumentos apresentados, onde há um número alarmante que de indivíduos e populações, em países desenvolvidos e em desenvolvimento, com o diagnóstico da obesidade, e juntamente com número crescente de pessoas buscando como forma de tratamento da doença, a cirurgia bariátrica, contando com as mudanças e riscos que esses indivíduos se acometem ao decidir pela escolha da realização da cirurgia. Faz-se relevante o estudo dos mesmos, visando atingir um melhor conhecimento na atuação do nutricionista, buscando um atendimento mais positivo e concreto para com esta população, e para que isso ocorra de forma efetiva é imprescindível o acompanhamento da equipe multidisciplinar, com orientações, incentivos, estratégias e intervenções que o auxiliem nessa nova fase, no pós-operatório do paciente. 22 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo Geral: Identificar a atuação do nutricionista no tratamento pós-cirúrgico da obesidade, entender sua complexidade e dessa forma desenvolver soluções culinárias na fase de dieta pastosa para esse público. 2.2 Objetivos Específicos: Descrever o mecanismo que leva ao aparecimento da obesidade, identificando as causas, os métodos de diagnóstico e as respostas do organismo à doença. Verificar quais são os índices e indicadores nutricionais utilizados na obtenção do diagnóstico nutricional da população estudada e confrontar com a literatura a adequação dos mesmos. Identificar os principais medicamentos utilizados no tratamento das doenças e suas interações “droga-nutrientes”. Identificar a possibilidade de prática esportiva bem como as particularidades da dieta no pré, durante e pós treino com relação à doença estudada. Elaborar o cardápio de uma refeição principal completa (entrada, guarnição, prato principal, acompanhamento e sobremesa) adequado à necessidade da população estudada, visando manter e/ou aumentar ingestão alimentar do paciente no ambiente de internação hospitalar e contribuir para manutenção e/ou recuperação de seu estado nutricional. Desenvolver receitas aplicando técnicas gastronômicas, alémde outros conhecimentos nutricionais. Redigir a ficha técnica de preparo de cada receita, incluindo o cálculo de nutrientes. Caracterizar a instituição estudada/visitada no contexto do SUS (sistema Único de Saúde). 23 Elaborar um material educativo ilustrado que auxilie no tratamento das doenças especificadas, com metodologia e linguagem adequada à população estudada, incluindo neste material as receitas das preparações desenvolvidas. 24 3 METODOLOGIA O projeto foi desenvolvido de forma coletiva, foi realizada uma visita técnica em uma instituição privada, com intuito de conhecer e vivenciar a atuação do nutricionista no tratamento pós-cirúrgico da obesidade, através da cirurgia bariátrica, a fim de desenvolver soluções culinárias na fase de dieta pastosa ao paciente que foi proposto no caso clínico hipotético (Anexo A), para o desenvolvimento por completo deste projeto. Para a coleta de dados da pesquisa de campo, foi elaborado um questionário (Apêndice A) em sala de aula, contendo apenas questões abertas. A visita realizada no dia 09/03/2016, conduzida pelo nutricionista da área clínica/hospitalar da instituição, foi um fator determinante no andamento do projeto, mediante Carta de Apresentação do Centro Universitário Senac (Anexo B), onde foi autorizada e realizada uma pesquisa de campo, com estudos descritivos. Em seu consultório, o nutricionista e a residente, também presente na data, mostrou-nos conceitos relevantes de fisiologia, anatomia, tratamentos dietoterápicos e de bioquímica, através de exposição por slides, com aulas e artigos científicos referente ás técnicas de cirurgia bariátrica. Em seguida nos explicou um pouco sobre o processo cirúrgico e todos os métodos utilizados sem diversos âmbitos, e também os que são mais utilizados pelo hospital, para lidar com pacientes que passaram ou passarão por esse processo. Além de informar sobre os diferentes métodos de cirurgia, indicando dessa forma os pós e contras de cada método. Posteriormente, foi direcionado e aplicado ao nutricionista o questionário desenvolvido pelo grupo, realizando dessa forma a coleta de dados, para futura tabulação dos mesmos, de maneira a confrontar com os referenciais teóricos, e mediante isto verificar a prática efetiva do nutricionista para este tipo de tratamento. Em conjunto com a pesquisa de campo, foram feitas pesquisas através de referenciais teóricos indicados por cada disciplina do curso, bem como pesquisa 25 bibliográfica via internet em sites de cunho científico, como por exemplo, consenso bariátrico brasileiro da obesidade, diretrizes para o tratamento farmacológico da obesidade e do sobrepeso, diretrizes brasileiras de obesidade (ABESO) e artigos científicos, onde primeiramente foram acessados os DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) a fim de facilitar o processamento da pesquisa bibliográfica e o acesso aos artigos científicos via biblioteca online em bases de dados LILACS, Bireme e Scielo, os termos utilizados através das técnicas boleanas “and” para busca foram “obesidade” e “cirurgia bariátrica”, onde foi feita a pesquisa no período de 2001 a 2016. Todos os dados coletados em seguida foram analisados, interpretados e com base nesses procedimentos, foi feita a discussão dos resultados da pesquisa para um melhor desenvolvimento do projeto. Deste modo, baseado em todo o contexto pesquisado, estudado e analisado em conjunto com o caso clínico que será parâmetro para o desenvolvimento do projeto, foi definido a conduta dietoterápica, como consistência da dieta, as necessidades energéticas, e sua distribuição/dia para o indivíduo, dos macronutrientes e micronutrientes, o porcionamento das refeições, levando em consideração para o desenvolvimento de soluções culinárias a porcentagem da refeição ofertada no almoço, segundo recomendações da DRI. Em seguida, já com a conduta dietoterápica definida, e os referenciais teóricos analisados, foi elaborado um cardápio do almoço segundo as necessidades do indivíduo e sua atual situação, pensando nos principais nutrientes a serem atingidos através da refeição proposta. No Centro Universitário Senac, em sala de aula, foi entregue a lista de ingredientes no dia 07/03/2016, para posteriores testes que foram realizados na própria instituição de ensino, onde o primeiro teste ocorreu no dia 04/04/2016 para as adaptações da refeição a fim de minimizar os erros possíveis encontrados, assim como melhorar alguns pontos da receita na fase da dieta pastosa. Essas alterações foram estudadas com intuito de melhorar a funcionalidade e a 26 disponibilidade dos nutrientes no organismo dos indivíduos que apresentam a patologia já mencionada. Posteriormente a este teste, no dia 14/04/16 foi realizada uma apresentação parcial do projeto, mediante o conteúdo que já havia sido abordado durante o desenvolvimento do trabalho, a pré-banca. Onde foi possível ter um retorno da banca examinadora do projeto. Para finalizar os testes, foi desenvolvida uma preparação balanceada e equilibrada nutricionalmente, e gastronomicamente apresentar uma refeição atrativa, foi feito um segundo teste na instituição, no Centro de Gastronomia, na data de 16/05/2016, onde as registros de imagens foram tiradas como forma de registro para ser apresentado no presente projeto. 27 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Visita técnica Uma vez apresentadas as bases teóricas referenciadas, para sustentar o desenvolvimento do projeto, e a metodologia utilizada para a realização do mesmo, apresentam-se agora os resultados e discussão com base na visita técnica com profissionais especializados na área de Nutrição Clínica, e em conjunto com o caso hipotético que foi proposto, sendo este, motivação para responder os objetivos do projeto em questão. A visita efetuada no Hospital Sírio Libanês pode ser considerada de observação participativa, pois o grupo foi atendido pelo setor de Nutrição, que estavam cientes da pesquisa para o projeto integrador, onde foram estabelecidos contatos diretos com o Nutricionista Clínico e a residente do setor para a coleta de dados referente a pacientes que tenham efetuado algum tipo de cirurgia bariátrica, com foco na Gastroplastia Vertical, conforme dito anteriormente. Durante a realização da visita, foi possível verificar na prática, através de experiências relatadas por intermédio dos profissionais especializados da área deste hospital, o cuidado que é preciso ter com os pacientes que de fato através do diagnóstico clínico e nutricional devem passar pelo processo cirúrgico. E enfatizaram conteúdos sobre as limitações sensoriais e nutricionais que esses pacientes, quadro de um pós-cirúrgico apresenta. O Sírio-Libanês é uma instituição de saúde certificada como filantrópica pelo governo federal. Segue as leis que estabelecem isenções fiscais para ações de apoio ao desenvolvimento institucional do Sistema Único de Saúde (SUS). Sendo esta uma referência diante do centro cirúrgico presente no local, devido a milhares de cirurgias realizados por ano. E para o cumprimento da nova legislação de filantropia, específica para hospitais considerados de excelência e voltados à pesquisa e à capacitação de profissionais, meio este que a instituição utiliza para a realização de cirurgias bariátricas, através da filantropia, não apenas como um 28 órgão privado, por isso o Ministério da Saúdecriou o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS (PROADI-SUS), onde a instituição está inserida nesse programa de apoio, com a aprovação e monitoramento do Ministério da Saúde. Quanto ao atendimento à população atendida na instituição, a mesma tem a existência de um núcleo de obesidade e transtornos alimentares, onde está inserida dentro deste, uma equipe multidisciplinar, aptos a atender com repleto profissionalismo os pacientes. Buscando conhecer e avaliar cada paciente conforme suas necessidades e comportamentos socioculturais, de forma individualizada, para que o tratamento necessário seja feito conforme segue no protocolo. O hospital prioriza o estimulo a mudança de comportamento para estes pacientes obesos, porém caso isso não ocorra, somente serão encaminhados para o cirurgião, apenas indivíduos que de fato tenham indicação para realizar a cirurgia bariátrica. Pela experiência dos profissionais presentes na visita técnica, o hospital não encontra muitas dificuldades em trabalhar no ambiente hospitalar junto com pacientes que possuem as características colocadas anteriormente, e exercer de fato suas atividades pertinentes aquele tipo de público, o único questionamento que foi levantado foi sobre questões de distorção de informações ao paciente, em profissionais distintos, como por exemplo, orientações de um médico e de um nutricionista, ou um paciente muitas vezes querer forçar o diagnóstico para estar apto a realizar a cirurgia, por questões não necessariamente com âmbito de qualidade de vida e saúde, mas puramente por estética. Alguns relatos da residente de nutrição do hospital nos fez estar mais perceptíveis em relação a posição que esses pacientes se encontram, onde a mesma dissertou sobre uma paciente que se incomodou certa vez com o andar da residente, pois estava utilizando um sapato de salto alto. Onde o simples fato da obesidade mórbida impedi-la de conseguir andar com o sapato de salto alto que 29 um dia ela tanto usou, e hoje devido a atual situação da doença que se encontra, não é possível mais utiliza-lo. Foi relatado casos também de pacientes que não fazem o acompanhamento nutricional adequado, e devido a essa falta de envolvimento ou força de vontade, após anos da realização da cirurgia, ou até menos de um ano, voltam a ter ganho de peso, o famoso efeito “sanfona”. Alguns pacientes por não se acostumarem ao novo estilo de vida, buscavam constantemente alimentos com alto valor calórico, e devido ao quadro não é possível realizar a oferta dos mesmos, logo eles batiam esses alimentos num liquidificador com água e se alimentavam dessa forma, somente pela vontade daqueles tipos de alimentos, que numa dieta para este tipo de paciente deve ser evitada. 4.2 Caso Clínico Hipotético 4.2.1 Conduta Nutricional Tendo como referência um caso clínico hipotético (anexo A), foi proposta uma conduta nutricional para a paciente, com base no diagnostico clinico estabelecido, dessa forma levando em consideração as doenças existentes, as associadas e risco para tais, com foco no tratamento cirúrgico apresentado. Os dados antropométricos no período pré-cirúrgico da paciente foi relatado da seguinte maneira: Peso de 103,5kg e altura de 1,66m. Desse modo pode-se calcular e estabelecer o valor do IMC de 37,64Kg/m², que de acordo com a OMS (2000) estava classificada como obesidade grau II, e apta a realizar o processo cirúrgico de gastrectomia vertical, visto que a mesma apresentava os seguintes critérios para tal: IMC ≥ 35 kg/m² com 02 (duas) comorbidades associadas, a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) e Esteatose Hepática grau 1, não obteve sucesso com a perda de peso por outros meios, bem como dietas com nutricionistas e mudanças de comportamento, e também dietas através de tratamento farmacológico prescrito por um médico. 30 Outro critério para determinar a realização da cirurgia foi, a medida da circunferência da cintura (CC) da paciente, onde a mesma apresentava um valor de 99,5cm, e conforme determinado pela WHO Obesity (2000), circunferência da cintura ≥ 88 representa um risco muito elevado para desenvolver doenças cardiovasculares. No pós-operatório ela apresenta valores com a circunferência de braço no valor de 40,5 cm, em que através da classificação percentilar >P85, segundo Frisancho (1990) é classificado como obesidade. Ben-Noun e Laor (2006) estabeleceu que valores acima de 34 cm para a medida da circunferência de pescoço estão relacionados também, com risco de desenvolver doenças cardiovasculares e doenças associadas à obesidade. Sabendo-se disso a paciente, que apresenta 38,0 cm da medida, está na faixa de risco para tais doenças. Paciente apresenta-se com o peso atual de 91,5 kg após realização da cirurgia bariátrica e IMC de 33,30 kg/m², sendo assim a mesma continua com estado nutricional na faixa de obesidade, porém agora grau I, segundo a OMS (2000), em que ocorreu uma perda de peso de 12kg após a cirurgia. Posteriormente foi prescrita a conduta dietoterápica para paciente, mediante os dados já mencionados do caso hipotético (anexo A) considerando a obesidade grau I, a esteatose hepática (grau I) que a mesma foi diagnosticada recentemente e a presença de hipertensão arterial (HAS), que apresenta há 10 anos. Dessa forma, foi desenvolvido um cardápio para uma das refeições principais, sendo essa o almoço. Para se estabelecer as necessidades energéticas do almoço foi baseado na NET (Necessidade Energética Total) do dia e no fracionamento que o indivíduo iria receber diariamente, onde foram escolhidas 08 refeições, mediante a recomendação de Silva et al. (2007) onde a mesma diz que são indicadas de 6 a 8 refeições por dia com intervalos de 2 a 3 horas e em volumes menores. E posteriormente o NET em 700 kcal devido a diminuição do volume gástrico imposto pela cirurgia, pois o paciente por volta da terceira semana 31 pós realização da gastrectomia vertical passa a ingerir dietas hipocalóricas, desta forma seguiu-se a recomendação de Silva et al. (2007), visto que não há na literatura fórmula específica para necessidade energética neste tipo de paciente. Depois de definir o NET foi definida a porcentagem que o almoço representaria, e a porcentagem estabelecida foi de 15%, representando assim 105 kcal. Para melhor explicação segue a representação no quadro 4 dessa distribuição informada acima: Quadro 4 - Distribuição da % do VET de 700kcal, considerando todas as refeições: Refeições Horários % VET Valor calórico Desjejum 6h30 15% 105 Kcal Lanche Da Manhã 1 9h30 10% 70 Kcal Lancha Da Manhã 2 11h30 10% 70 Kcal Almoço 13h30 15% 105 Kcal Lanche Da Tarde 1 15h30 10% 70 Kcal Lanche Da Tarde 2 17h30 15% 105 Kcal Jantar 19h30 10% 70 Kcal Ceia 21h30 15% 105 Kcal Total - 100% 700 Kcal Fonte: As autoras, 2016. Em seguida, no quadro 5 foi realizada a distribuição dos macronutrientes do dia e posteriormente do almoço. Para essa divisão acontecer foi estabelecida primeiramente a quantidade proteica que o indivíduo deveria ingerir, esse valor foi definido através da recomendação da ABESO (2009), visto que para dietas de baixas calorias, entre 400 a 800 kcal/dia, é estipulada uma faixa de adequação de 0,8 a 1,0g PTN/kg/peso ideal/dia em que deve ser de boa qualidade, no caso do paciente o peso ideal de 68 kg, sendo este baseado para o cálculo, utilizando o valor do IMC máximo na faixa de eutrofia, no qual foi definido a melhor opção para trabalhar com o cardápio deste paciente a quantidade de proteína 0,9g PTN/kg/pesoideal/dia. Assim foram definidos os valores dos outros macronutrientes, sendo 20% do VET de lipídeos, 45% de carboidratos e 35% de proteína, atendendo a recomendação de macronutrientes da Dietary Reference 32 Intakes (DRI, 2002), 10 a 35% do VET de proteína, 20 a 35% de lipídeos e 45 a 65% de carboidratos. Quadro 5 - Recomendação dos macronutrientes ao dia e na refeição almoço, considerando VET de 700kcal, proteína 245g/dia, 20% do VET de lipídios e 15% do VET na refeição almoço. Nutrientes Recomendação Diária Recomendação Almoço Proteína 0,9 x 68 = 61,2g 9,19g 245kcal 36,75kcal 35% do VET 5,25% do VET Lipídio 20% do VET 3,0% do VET 140kcal 21,0kcal 15,56g 2,33g Carboidrato 45% do VET 6,75% do VET 315kcal 47,5kcal 78,75g 11,81g Total 700kcal 105kcal 100% do VET 15% do VET Fonte: As autoras, 2016. O quadro 6 mostra os valores das gorduras, sendo que as referências para elaboração da mesma foi baseado na OMS (2003), assim como na SBC – Sociedade Brasileira de Cardiologia – (2005). Pela OMS (2003) também foi definido as recomendações de fibra e colesterol. Sendo estes respectivamente <300mg e de 20 a 30g por dia. Em seguida mostram-se os valores da distribuição das gorduras totais, visto que a ingestão de valores elevados de gorduras saturadas podem ser prejudiciais à saúde do indivíduo, onde as mesmas estão associadas com risco de desenvolver doença arterial coronariana ou doenças cardiovasculares. 33 Estudos epidemiológicos, bem como este que foi feito por Carlos et al. (2004), onde o mesmo analisou a relação entre a nutrição as doenças cardiovasculares (DCV), mostra que a modificação nas proporções de ácidos graxos monoinsaturados podem ter relações, por exemplo, com a diminuição do valor da pressão arterial, fator este que é um possível desencadeador das DCV, visto que a gordura polinsaturada e monoinsaturada estão relacionadas a menores riscos de enfermidades cardíacas, porém a remoção da gordura saturada da dieta é duas vezes mais eficaz que o acréscimo da mesma quantidade de lipídios insaturados, portanto esse efeito positivo pode ser desfeito quando os valores de gorduras totais forem consumidos de forma elevada. Quadro 6 – Recomendação das gorduras, colesterol e fibra. Nutrientes Recomendação diária % Escolhida Recomendação no almoço Gordura saturada < 10% do VET 5 5,25kcal 0,6g Gordura Poliinsaturada: ≤ 10% do VET 7 7,35 kcal 0,82g Gordura Monoinsaturada ≤ 20% do VET 8 8,4kcal 0,93g Colesterol < 300mg < 300mg < 40mg Fibras 20g a 30g 20g 3g Fonte: As autoras, 2016. A escolha do valor da gordura saturada ser até 5% para oferta no cardápio, foi devida paciente permanecer obeso mesmo após a cirurgia, ter um histórico de escolhas alimentares de alto valor calórico, e, além disso, apresentar em seu diagnóstico esteatose hepática grau I, visto que a ingestão indevida de gorduras saturadas no organismo pode desencadear diversas complicações, porém não ultrapassou o limite estabelecido de até 10%, segundo Carlos et al. (2004) que associa essas alterações não adequadas e disserta sobre a ingestão elevada de gorduras saturadas em países que tem um alto índice de doenças coronarianas, 34 relacionando isso ao risco de morbidade possível para uma população com esse desbalanceamento. A escolha dos micronutrientes, sódio, ácido fólico, ferro, potássio e vitamina A, que foram propostos pela orientadora do projeto, visando uma melhor objetivação para o desenvolvimento do mesmo considerando as necessidades mais específicas do caso hipotético analisado onde estes são alguns dos que os pacientes mais apresentam deficiência no pós-operatório (MACHADO et al., 2015). Visto que os valores também foram baseados nos parâmetros das DRIs (1999,2000, 2001, 2002, 2004). Onde o quadro 7 apresenta as recomendações, dessa forma se torna possível apontar na mesma os valores e as análises do almoço ofertado. Quadro 7 – Recomendação diária dos micronutrientes. Micronutrientes Recomendação diária Recomendação refeição almoço RDA UL AI RDA UL AI Sódio (g/dia) - 2,3 1,5 - 0,345 0,225 Acido fólico (µg/dia) 400 1.000 - 60 150 - Ferro (mg/dia) 18 45 - 18,9 6,75 - Potássio (mg/dia) 4700 - - 0,705 Vitamina A (µg/dia) 700 3.000 - 105 450 - Fonte: As autoras, 2016. 4.2.2 Análise da Refeição Almoço Para elaboração da refeição proposta (almoço) foram realizadas pesquisas de cunho cientifico e bibliográfica, bem como uma visita de campo ao hospital Sírio Libanês. Com a análise desses instrumentos foram definidas as preparações culinárias. As preparações escolhidas procuram atender as necessidades diárias e as restrições do paciente do caso hipotético (anexo A). 35 A refeição proposta ofereceu alimentos que facilitassem mastigação, mas principalmente a digestão, visto que o paciente está na fase de dieta pastosa (terceira semana do pós-operatório), para evitar dessa forma uma possível distensão gástrica. Por esse motivo foi incorporado ao cardápio alimentos com partículas de fácil dissolução na boca e alimentos bem cozidos, de modo que o paciente coma o mesmo se "desmanche" na boca, pois nessa fase podem ocorrer complicações na aceitação dos alimentos, bem como náuseas, vômitos, síndrome de Dumping, diarréia, constipação, obstrução gástrica, até mesmo a ruptura da linha de grampeamento e principalmente a deficiência de alguns micronutrientes específicos, tais como: ácido fólico, ferro e vitamina B12, a qual justifica, a necessidade de intervenção nutricional adequada (LEAL; FRANCA; NAVARRO, 2010). É possível verificar no quadro 8 o cardápio do almoço, onde mostra as preparações e seus respectivos ingredientes, onde a mesma segue o cardápio sugerido para o almoço. Neste mesmo quadro pode-se verificar a indicação da imagem referida, sendo esta apresentada no decorrer do projeto. Os ingredientes escolhidos para as receitas foram baseados nas necessidades do paciente e nas recomendações do Guia Alimentar para a População Brasileira (BRASIL, 2014), o qual recomenda a ingestão de alimentos in natura e minimamente processados resultando em uma base ideal para uma alimentação balanceada, saborosa e culturalmente apropriada, com variedades de tipos de alimentos como tubérculos, legumes, verduras, frutas, leite, ovos e carnes e variedades dentro de cada tipo de alimento. Incluindo também texturas e cores dos pratos. Desse modo desenvolvendo preparações que facilitasse a digestão, que tivesse valores de proteína elevados (se comparados aos outros macronutrientes presente na refeição), baixo valor calórico e com uma porção reduzida, além de oferecer um cardápio harmônico e colorido. Para a realização das preparações culinárias foi levado em consideração o fato de serem receitas comuns (que provavelmente o paciente já teve contato anterior) evitando a rejeição da preparação. 36 Com base nas recomendações de micro e macronutrientes descritas anteriormente no trabalho foram escolhidos alimentos que procuram atender as necessidades nutricionais do paciente, tendo como o maior desafio atingir essas recomendações com uma dieta pastosa em uma grande refeição com apenas 15% do VET. Desse modo optou-se por alimentos como a carne magra, isto é, que possui um baixo teor de lípides; a oferta da couve-manteiga sem o processo de cocção, visandouma menor perda nutricional; a cenoura que complementa o cardápio como uma guarnição, com intuito de contribuir quanto as recomendações diárias de fruta, legumes e verduras (FLV), presente no Guia Alimentar para a população brasileira (BRASIL, 2014). Assim como o corte escolhido, que se pretende facilitar a ingestão e a apresentação do prato; e a clara de ovo, que acompanha o purê presente no escondidinho de carne moída a fim de aumentar o aporte proteico da refeição. Vale destacar que a gema do ovo foi descartada da receita, pois segundo um estudo feito por Rique et al. (2002) onde é citado pela American Heart Association (AHA) ela contém grande quantidade de lípides, sendo fonte de gorduras saturadas e colesterol. Sendo essas características o motivo da exclusão da mesma, pois deve-se ter atenção com a quantidade de lípides ofertados a um paciente pós CB, atuando na prevenção de DCV. Já a clara do ovo é descrita pela AHA sendo um alimento que contém quantidade significativa de folato, riboflavina, selênio, colina e vitaminas e alguns sais minerais, como o ferro, o potássio e o sódio. Estando associado com a prevenção da degeneração macular. O creme verde foi desenvolvido de modo eficiente, onde o mesmo já foi preparado com a água proveniente do cozimento da carne, aproveitando os nutrientes da mesma, onde se apresenta como fonte de proteína. O morango também foi escolhido com uma função especifica na preparação, sendo esta uma fonte de vitamina C, procurando contribuir com as recomendações diárias de frutas, visto que segundo Liu et al. (2002, apud RIQUE et al., 2002) a ingestão adequada de frutas fonte deste nutriente contribui para prevenção de DCV. Além disso, ele foi selecionado devido a sua coloração vibrante, favorecendo a harmonia 37 e o conjunto de cores da refeição. Para complementar a sobremesa, foi utilizado iogurte a fim de atingir os valores proteicos, pois devido o paciente estar num quadro pós-cirúrgico, há restrição gástrica que não permite a ingestão da cota diária necessária para a manutenção de massa protéica visceral e muscular, sendo necessária a suplementação, para evitar possíveis complicações (CHAVES et al., 2007). Quadro 8 – Cardápio. Cardápio Grupo Preparações Entrada Creme verde Prato principal – Prato base Escondidinho de carne moída Guarnição Cenoura cozida em tiras finas Sobremesa Moranguets (iogurte com morango) Fonte: As autoras, 2016. Figura 1 – Refeição Almoço Fonte: As autoras, 2016. Com o uso de tabelas de composição de alimentos e tabelas de medidas caseiras foram realizados os cálculos nutricionais da refeição proposta, sua análise quantitativa (Apêndice G) e as avaliações da adequação de micronutrientes e macronutrientes, bem como o valor calórico. 38 Quadro 9 – Análise de adequação da refeição. Nutrientes Recomendação Almoço (15% do VET) Valor encontrado no almoço % de adequação nutricional Análise Proteína 9,19g 8,42g 91,62% Normoproteica 36,76kcal 33,70kcal Carboidrato 11,81g 10,73g 90,86% Normoglicidica 47,24kcal 42,92kcal Lipídio 2,33g 2,39g 102,58% Normolipidica 21,0kcal 21,51kcal Kcal 105kcal 98,13 kcal 93,46% Normocalórica Fonte: As autoras, 2016. Com os valores apresentados acima é possível dizer que a refeição está balanceada, visto que os valores dos macronutrientes e das calorias, mostradas no quadro 9, estão entre 90 a 110%. Atendendo na refeição as necessidades nutricionais da paciente. Sendo utilizadas as porcentagens de macronutrientes segundo as DRIS, já que pacientes que sofrem esse tipo de procedimento cirúrgico necessitam de uma quantidade elevada de proteína, para recuperação de massa magra que os mesmos perdem durante o procedimento e controle em relação aos carboidratos, principalmente os simples para evitar a síndrome de dumping (FANDIÑO et al., 2004). Quanto à análise dos micronutrientes no quadro 10 e de ácidos graxos (AG), colesterol e fibra alimentar no quadro 11, obtiveram-se os seguintes valores: 39 Quadro 10 - Analise de micronutrientes encontrados no almoço. Micronutrientes Recomendação diária Valor encontrado no almoço % de adequação em relação as DRIS RDA UL AI Sódio (g/dia) - 2,3 1,5 0,092g 6,13% Acido fólico (µg/dia) 400 1.000 - 19µg 4,75% Ferro (mg/dia) 18 45 - 0,7mg 3,89% Potássio (mg/dia) 47000 316,25mg 6,72% Vitamina A (µg/dia) 700 3.000 - 102,24µg 14,61% Fonte: As autoras, 2016. O percentual de adequação presentes no quadro 10 mostra baixos valores, isso se deve a dois motivos, o primeiro deles seria o fato da recomendação ser diária, e no então projeto foi ofertado somente o almoço. O outro ponto que pode ser discutido a respeito desses valores é o volume ofertado na tal refeição, já que a quantidade da porção foi reduzida e o fracionamento diário também, deixando o almoço com porcentagem diária do VET comumente de um lanche, somado a isto se tem a redução do volume gástrico do paciente (MACHADO et al., 2015). Devido à realização da cirurgia, é possível ocorrer quadros de deficiência nutricional e posteriores complicações no estado de saúde físico e mental do paciente, alguns problemas neurológicos, bem como demência, confusão e irritabilidade, no caso de ter deficiência de ácido fólico, por exemplo. Por isso se faz necessário o aumento da oferta dos nutrientes, para que desse modo atinja as necessidades diárias dos mesmos. Como as necessidades energéticas do paciente é inferior ao restante da população não submetida à cirurgia, é ineficiente o aporte nutricional nesse quadro, por isso recomenda-se a suplementação devida (MACHADO et al., 2015). 40 Quadro 11 – Análise das gorduras, colesterol e fibras encontradas no almoço. Nutrientes Recomendação no almoço Valor encontrado Analise Gordura Saturada 5,25kcal 6,21kcal Acima do recomendado 0,6g 0,69g Gordura Poliinsaturada 7,35 kcal 0,96kcal Abaixo do recomendado 0,82g 0,107g Gordura Monoinsaturada 8,4kcal 3,96kcal Abaixo do recomendado 0,93g 0,44g Colesterol < 40mg 9,72 Dentro do recomendado Fibras 3g 1,42g Abaixo do recomendado Fonte: As autoras, 2016. A respeito das gorduras estarem abaixo dos valores estabelecidos para essa refeição é ressaltado a dificuldade de atingir os valores das mesmas já que o fracionamento diário foi aumentado para 8 refeições, reduzindo a % equivalente do VET e consequentemente restringindo o valor calórico da refeição e dos nutrientes. Desse modo verifica-se que quanto maior a oferta de lípides, menor será a porção oferecida da refeição. Para que o paciente tenha uma ingestão adequada de gorduras é recomendado que em outras refeições durante o seu dia seja ofertado um maior valor desses, visto que quatro das suas refeições seguem a distribuição de 15% do VET e outras quatro com 10%, como mostra a tabela 2. Como opção pode-se orientar uma oferta maior de azeite em uma das preparações, já que as gorduras provenientes desses são de boa qualidade. Os percentis de gorduras escolhidos foram baseados na qualidade dessas e sua relação para com o paciente. Tendo em vista que a gordura saturada é pró- inflamatória e isso contribui para o excesso de peso, aumento de citocinas inflamatórias, aumentando o risco de DCV e placas de aterosclerose bem como 41riscos de dislipidemia. As gorduras poliinsaturadas são compostas pelos ácidos graxos essenciais, que assim como faz referência é essencial para a manutenção do individuo, sendo que o Omega 3 diminui ligeiramente HAS e favorece a redução dos triglicerídeos plasmáticos e diminui a síntese de VLDL (RIQUE et al., 2002). As fibras são destacadas também, já que proporcionam benefícios para o paciente, pois aumenta a saciedade, diminuindo o trânsito intestinal, fator importante, já que suas porções foram reduzidas, além de estimular a mastigação, sendo este um fator relevante para esse tipo de paciente, e melhoram o esvaziamento gástrico assim como o funcionamento gastrointestinal, contribuindo na glicemia do paciente e suas concentrações de colesterol (CHANDALIA et al., 2000). Tendo em vista a refeição completa, a mesma apresenta uma proposta interessante ao paciente, visto que os valores de macronutrientes foram atingidos e os de micronutrientes e separação de gordura podem ser alcançados ao longo do dia, preferencialmente via alimento, porém se for necessário fazer a suplementação com orientação de um profissional capacitado, buscando minimizar possíveis complicações, bem como neuropatia óptica, encefalopatia, neuropatias periféricas, consequentes pelas deficiências nutricionais de micronutrientes (MACHADO et al., 2015). As características sensoriais se tornam intensas e devem apreciar preparações com qualidade, e também gustativas do paciente foram um fator importante na elaboração do cardápio, e elas conseguiram atender o que foi proposto, com harmonia, cor e variedade, estimulando o consumo adequado, mesmo que em uma porção reduzida, pois são apresentadas em consistências de fácil digestão e que foge dos padrões de “purê”. Abaixo se tem o contato visual com as figuras de 2 a 5 das preparações realizadas no último teste, onde todas estão com um objeto de pequeno porte uma caixa de fósforos, para que se note a diferença no volume da oferta. Justifica-se a 42 apresentação da entrada como o creme no prato junto à refeição principal ou prato base por se tratar de volumes pequenos. Figura 2: Creme verde Fonte: As autoras, 2016. Figura 3: Cenoura Cozida Fonte: As autoras, 2016. Figura 4: Escondidinho de Carne Moída Fonte: As autoras, 2016. 43 Figura 5: Moranguet’s Fonte: As autoras, 2016. 4.2.3 Atividade Física Um dos aspectos que contribuem para o aumento de gordura visceral, além da ingestão em excesso de alimentos com alto valor calórico, é o sedentarismo aplicado ao estilo de vida. É possível dizer que um indivíduo que se submeteu a cirurgia bariátrica, provavelmente não tinha o hábito da prática de atividade física, devido também acúmulo de gordura abdominal, logo esses fatores somados ao processo degenerativo do envelhecimento, acometem distúrbios psicomotores e falta de harmonia funcional e morfológica (CARRAVETTA et al., 2005). Quanto ao controle da atividade física em indivíduos obesos que passaram pela cirurgia bariátrica, é possível afirmar que a possibilidade de realização de atividades físicas, porém o ideal seriam as de intensidade moderada, devido ao processo cirúrgico que o indivíduo passou recentemente, sendo que são de grande significância as atividades ocupacionais diárias. Visto que é preciso evitar as atividades de alta intensidade, pois essa forma pode ocorrer complicações pós cirúrgicas, os pacientes não devem realizar grandes esforços neste período (BOSCATTO et al., 2012). Mediante dados da paciente do caso hipotético, visto que a mesma realizou a cirurgia há apenas três semanas, não é recomendada a prática de atividade física na atual circunstância, visto que pode comprometer no tratamento da obesidade 44 de imediato. Porém aproximadamente, 30 a 40 dias após a cirurgia, é recomendada o início da prática de atividade física, depois de já ter o diagnóstico do médico, onde a equipe interdisciplinar dá um feedback positivo para o início do programa, visto que pode gerar uma melhora no quadro do paciente que está em meio ao tratamento, é feito uma avaliação no 20º dia após a cirurgia (CARRAVETTA et al., 2005). O planejamento e a aplicação de um programa de atividades física, de forma individualizada se faz importante devido a benefícios atingidos quanto aos aspectos qualitativos e quantitativos do movimento, alterando então o estado comportamental de condições físicas, coordenação motora, componentes cognitivos, afetivos, e com certeza aspectos psicológicos e sociais (CARRAVETTA et al., 2005). Algumas das atividades que são possíveis aplicar a paciente, no 1º mês póscirúrgico, segundo Carravetta et al. (2005) são: “alongamento muscular, caminhada, mobilidade articular, reeducação postural e diferentes configurações de movimentos nas perspectivas socioafetiva, lúdica e cognoscitiva” com o intuito de potencializar e motivar as capacidades do paciente. 4.2.4 Material Educativo O material educativo foi desenvolvido e elaborado com base nas necessidades e atual situação do paciente no período pós-cirúrgico, já que o mesmo necessita de cuidados específicos, por apresentar a doença em questão, a obesidade, sujeita a ocasionar um ganho de peso novamente. Por esse motivo foram abordadas orientações como fracionamento, pois serão em maior quantidade devido à diminuição do volume gástrico em quantidade significativa e a necessidade de obter os valores propostos de calorias diárias, assim como porcionamento; tipos de dieta e suas consistências específicas, após a cirurgia existem etapas de dietas a serem seguidas, no material é exemplificado cada uma delas, a fim de garantir a compreensão do paciente; importâncias sobre a 45 mastigação, sendo essa de forma continua e mais elevada, resultando numa forma eficiente de alcançar a saciedade; e, além disso, a importância de manter as conquistas da cirurgia, mesmo que em longo prazo. O vídeo aula foi escolhido, devido a sua possibilidade de diálogo através de imagens atrativas e som, promovendo dessa forma uma possível fixação do conteúdo que está disposto no mesmo, trazendo para os pacientes a compreensão de forma simples e objetiva, e através de um sistema de simples acesso, o indivíduo poderá ampliar seu conhecimento naquele momento de sua vida, que se faz de extrema importância, visto que após o processo cirúrgico o tratamento não cessa. A importância de manter o acompanhamento com os profissionais especialistas da área é fundamental, e o vídeo contribui de maneira que com as orientações inclusas (de cunho literário) já mencionadas, onde segundo Da Silva et al. (2005) aborda sobre as orientações dietéticas no período após a cirurgia, bem como, mastigar bem os alimentos e de forma lenta antes de engolir, pois se deve poupar o estômago, já que o mesmo está em fase de cicatrização, e desta forma ir evoluindo na dieta conforme o período que o paciente se encontra após a realização da cirurgia, respeitar o organismo é fundamental nessa fase de dieta pastosa. É importante deixar o paciente consciente da mudança do volume de alimentos que é possível ingerirem, onde o mesmo é diminuído. O material, que tem período curto de duração, um minuto e cinquenta e nove segundos (1’59”), será anexado a um disco rígido (DVD), no qual conterá informações como as citadas a cima. Com formato de vídeo aula, onde o mesmo tem o objetivo de ser entregue na alta hospitalar do paciente com um profissional devidamente capacitado, dando preferência para o nutricionista, já que o mesmo é responsável pelas orientações inclusas no material. O profissionalapós apresentar e assistir o conteúdo com o paciente irá explica-lo de forma sucinta e sanar possíveis dúvidas do paciente. 46 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Como foi abordado neste trabalho, inúmeras são as causas da obesidade dentro de uma sociedade, onde parte desta busca uma perda de peso, seja ela através de mudanças de comportamento, atividade física e/ou tratamento dietético, e muitas das vezes com a frustação através dessa tentativa, inicia-se o uso de fármacos que são registrados e permitidos, bem como sibutramina e o orlistate. Após tais tentativas para perda de peso ineficazes, e apresentando os outros diversos quesitos necessários pode-se realizar o tratamento cirúrgico. Foi possível verificar que a cirurgia bariátrica tem como objetivo a restrição calórica e de certa forma a diminuição da ingestão alimentar, bem como a perda de peso, sendo este um desafio para a equipe multidisciplinar, frente às dificuldades e limitações que são notórias no decorrer do processo de tratamento. E quando o paciente opta por esse tipo de tratamento ele deve estar ciente de todas as etapas e procedimentos do pós-cirúrgico e com o intuito de cumpri-los e manter-se na fase pós-cirúrgico de maneira adequada e bem orientada, garantindo a maior possibilidade de sucesso no tratamento. Para isso o caso hipotético que nos foi proposto nos serviu como parâmetro para termos efetividade no desenvolvimento do diagnóstico e a conduta dietoterápica da melhor forma possível no pós-cirúrgico, onde é aferido através da avaliação nutricional por parâmetros como IMC, Circunferências e Dobras Cutâneas principalmente, onde em seguida da liberação do jejum, começa-se a ofertar dietas em diferentes consistências, até chegar a dieta geral, sempre no tempo do organismo do paciente. Foi detectada a dificuldade da oferta de uma dieta hipocalórica com todas as limitações e restrições, como por exemplo, o volume da porção ser reduzido e o fracionamento elevado, mediante fase na dieta pastosa. Com isso foi pesquisado na literatura e confrontado na literatura alimentos que trariam benefícios ao paciente, tanto nutricionalmente como visualmente, bem como privilégios em suas características sensoriais. Ressaltando a importância de 47 alcançar os valores propostos, visto que a quantidade ofertada ao mesmo é reduzida e a dieta mais fracionada do que para indivíduos saudáveis, e pacientes neste quadro apresentam facilmente deficiências nutricionais, onde foi verificada a necessidade de suplementação ao mesmo, para evitar complicações no organismo. Para isso foi elaborada uma refeição do dia (o almoço) com a distribuição devida de nutrientes para que se obtenha uma quantidade considerável para o mesmo, onde essas foram realizadas e em seguida elaboradas uma ficha técnica para cada uma, para auxiliar na preparação do cardápio. Para auxiliar pacientes no pós-cirúrgico foi apresentado e entregue um material educativo (com intuito de ser entregue na alta do hospital), elaborado pelo o grupo, que tem como objetivo facilitar as tarefas e deveres do pós-cirúrgico. O material dispõe (em formato de vídeo-aula) de informações sobre os cuidados e a importância de realizar as fases do pós-cirúrgico. Devendo ser entregue preferencialmente por um nutricionista. O acompanhamento do profissional é importante para explicar/revisar de forma sucinta os assuntos abordados no vídeo e sanar eventuais dúvidas do paciente. O vídeo tem em torno de dois minutos, sendo simples e objetivo, evitando a monotonia. Por meio da visita e das pesquisas já citadas pode-se perceber que há uma dificuldade em relação aos tratamentos contra a obesidade, principalmente a mudança de comportamento vinculada ao tratamento dietoterápico, e desta forma o atendimento ao aporte da necessidade energética. Foi observado que essa dificuldade é encontrada por vários motivos, podendo citar os fatores psicológicos, físicos e clínicos. Até mesmo quanto a prática de atividade física, onde foi analisado e visto que a mesma deve ser feita e acompanhada por um profissional apto, com muito cuidado, porém se faz relevante a introdução da mesma no tratamento contra a obesidade. Conclui-se, dessa forma, que tão relevante quanto garantir os nutrientes de forma balanceada, é proporcionar uma alimentação harmônica, de forma atrativa, que 48 estimule a vontade de comer, pois a fase de dieta líquida até a progressão para a dieta geral, se preparada com as devidas técnicas e aprimoramentos gastronômicos, evita a monotonia e auxilia o paciente durante o tratamento no seu dia a dia, através de uma alimentação mais saborosa, desenvolvendo sentimentos e lembranças positivas e que o ajude na adaptação de uma nova rotina com mais qualidade. Portanto, a atuação do profissional nutricionista e da equipe multidisciplinar é de extrema importância para que não ocorra a falhas durante o processo e para que motivação do paciente permita com que ele continuar com o acompanhamento para um prognóstico positivo frente ao tratamento. 49 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABESO - Diretrizes brasileiras de obesidade 2009/2010 / Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica. - 3.ed. - Itapevi, SP : AC Farmacêutica, 2009. BARATIERI, Ricardo et al. Resultados iniciais da perda do excesso de peso e redução de comorbidades em obesos mórbidos submetidos à gastrectomia vertical laparoscópica. Arquivos Catarinenses de Medicina, v. 42, p. 9-14, 2013. BARIÁTRICO, CONSENSO. São Paulo, 14 de maio de 2008. http://www. sbcb. org. br/pacientes_consenso_bariatrico. php# equipe_multi. Acesso em, v. 28, 2016. BERNARDI, Fabiana; CICHELERO, Cristiane; VITOLO, Márcia Regina. 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