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Prof. Arnaldo França 
Quaresma Junior 
OAB 
2ª Fase 
 
 
1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Arnaldo França 
Quaresma Junior 
OAB 
2ª Fase 
 
 
2 
 ÍNDICE 
 
DIREITO PENAL 
 
01 CONFLITO APARENTE DE NORMAS ............................................................................................... 03 
02 DO FATO TÍPICO E CONDUTA ...................................................................................................... 13 
03 DA RELAÇÃO DE CAUSALIDADE .................................................................................................... 22 
04 DO CRIME DOLOSO E CULPOSO ................................................................................................... 30 
05 CONCURSO DE CRIMES ............................................................................................................... 33 
06 CONCURSO DE PESSOAS ............................................................................................................. 41 
 
 PROCESSO PENAL 
07 DAS NULIDADES ......................................................................................................................... 57 
08 DA TEORIA GERAL PROVAS .......................................................................................................... 69 
09 DAS PROVAS EM ESPÉCIE ............................................................................................................ 83 
 
 
PADRÃO DE RESPOSTAS ............................................................................................................ 116 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Arnaldo França 
Quaresma Junior 
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2ª Fase 
 
 
3 
 CONFLITO APARENTE DE NORMAS 
 
 
I) CONCEITO 
 
Algumas vezes os tipos penais se coordenam, relacionam e interpenetram, 
de sorte que um mesmo episódio encontra a possibilidade de ser captado, alcançado e subsumido 
por mais de um tipo legal delitivo, sem que, no entanto, todos se apliquem. 
 
Em outras palavras, às vezes, duas ou mais normas parecem regular o 
mesmo fato. 
 
Neste caso, surge o que se denomina conflito aparente de normas penais, 
também chamado concurso aparente de normas, concurso aparente de normas coexistentes, 
concurso ideal impróprio e concurso impróprio de normas. 
 
Diz-se aparente porque só seria real se a ordem jurídica não resolvesse a 
questão. 
 
Portanto, conflito aparente de normas é a situação que ocorre quando, ao 
mesmo fato, parecem ser aplicáveis duas ou mais normas, formando um conflito apenas aparente. 
 
É o conflito que se estabelece entre duas ou mais normas aparentemente 
aplicáveis ao mesmo fato. Há conflito porque mais de uma norma pretende regular o fato, mas é 
aparente, porque, com efeito, apenas uma delas acaba sendo aplicada à hipótese. 
 
II) PRINCÍPIOS PARA A SOLUÇÃO DOS CONFLITOS APARENTES DE NORMAS 
 
Como dito, o conflito que se estabelece entre as normas é apenas aparente, 
porque, na realidade, somente uma delas acaba regulamentando o fato, ficando afastadas as 
demais. 
 
01
 
 
 
 
 
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OAB 
2ª Fase 
 
 
4 
A solução dá-se pela aplicação de alguns princípios, os quais, ao mesmo 
tempo em que afastam as normas não incidentes, apontam aquela que realmente regulamenta o 
caso concreto. 
 
Os mais importantes são três: princípio da especialidade, princípio da 
subsidiariedade e o princípio da consunção. 
 
- Alguns autores incluem, ainda, um quarto princípio: o da alternatividade. 
 
A) PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE 
 
A.1) Conceito de norma especial 
 
Diz-se que uma norma penal incriminadora é especial em relação a outra, 
geral, quando possui em sua definição legal todos os elementos típicos desta, e mais 
alguns, de natureza objetiva ou subjetiva, denominados especializantes, apresentando, por isso, 
um minus ou um plus de severidade. 
 
A norma especial, ou seja, a que acresce elemento próprio à descrição legal 
do crime previsto na geral, prefere a esta, conforme dispõe o artigo 12 do CP. 
 
Ex1: A norma do art. 123 do CP, que trata do infanticídio, prevalece sobre 
a do art. 121, que cuida do homicídio, porque possui, além dos elementos genéricos deste último, 
os seguintes especializantes: “próprio filho”, “durante o parto ou logo após” e “sob a influência do 
estado puerperal”. 
 
O infanticídio não é mais completo nem mais grave, ao contrário, é bem mais 
brando do que o homicídio. É, no entanto, especial em relação àquele. 
 
Ex2: Sob outro aspecto, na conduta de importar cocaína, aparentemente 
duas normas se aplicam: a do art. 334 do CP, definindo o delito de contrabando (importar mercadoria 
proibida) e a do art. 33 da Lei de Tóxicos (importação de substância entorpecente ou que determina 
dependência física ou psíquica). 
 
 
 
 
 
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2ª Fase 
 
 
5 
O tipo incriminador previsto na Lei de Tóxicos, embora mais grave, é especial 
em relação ao contrabando. Assim, a importação de qualquer mercadoria proibida configura o delito 
de contrabando, mas, se ela for de substância psicotrópica, esse elemento especializante afastará a 
incidência do art. 334 do CP. 
 
B) PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE 
 
B.1) Conceito de norma subsidiária 
 
Há relação de subsidiariedade entre normas quando descrevem graus de 
violação do mesmo bem jurídico, de forma que a infração definida pela subsidiária, de menor 
gravidade que a da principal, é absorvida por esta. 
 
Subsidiária é aquela que descreve um grau menor de violação de um mesmo 
bem jurídico, isto é, um fato menos amplo e menos grave, o qual, embora definido como delito 
autônomo, encontra-se também compreendido em outro tipo como fase normal de execução de 
crime mais grave. 
 
Dessa forma, se for cometido o fato mais amplo, duas normas 
aparentemente incidirão: aquela que define esse fato e a outra que descreve apenas uma parte ou 
fase dele. 
 
A norma que descreve o “todo”, isto é, o fato mais abrangente, é conhecida 
como primária e, por força do princípio da subsidiariedade, absorverá a menos ampla, que é a norma 
subsidiária, justamente porque esta última cabe dentro dela. A norma primária não é especial, é 
mais ampla. 
 
O crime de ameaça (art. 147) cabe no de constrangimento ilegal mediante 
ameaça (art. 146), o qual, por sua vez, cabe dentro da extorsão (art. 158). O sequestro (art. 148) 
no de extorsão mediante sequestro (art. 159). O disparo de arma de fogo (Lei 10.826/2003, art. 15) 
cabe no de homicídio cometido mediante disparos de arma de fogo (art. 121). Há um único fato, o 
qual pode ser maior do que a norma subsidiária, só se pode encaixar na primária. 
 
 
 
 
 
 
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2ª Fase 
 
 
6 
B.2) Comparação 
 
Não pode ser feita como no caso da especialidade. 
 
Em primeiro lugar, porque, para a aplicação do princípio da subsidiariedade, 
é imprescindível a análise do caso concreto, sendo insuficiente a mera comparação abstrata dos 
tipos penais. 
 
Com efeito, da mera leitura de tipos não se saberá qual deles deve ser 
aplicado ao caso concreto. Antes de mais nada, é necessário verificar qual crime foi praticado e qual 
foi a intenção do agente, para só então saber qual norma incidirá. 
 
Em segundo lugar, na subsidiariedade não existem elementos 
especializantes, mas descrição típica de fato mais abrangente e mais grave. 
 
A comparação se faz de parte a todo, deconteúdo a continente, de menos 
para mais amplo, de menos para mais grave, de minus a plus. Um fato (subsidiário) está dentro do 
outro (primário). É como se tivéssemos duas caixas de tamanhos diferentes, uma (a subsidiária) 
cabendo na outra (primária). 
 
Ex: o agente efetua disparos de arma de fogo sem, no entanto, atingir a 
vítima. Aparentemente três normas são aplicáveis: o art. 132 do CP (periclitação da vida ou saúde 
de outrem); o art. 15 da Lei 10.826/2003 (disparo de arma de fogo); e o art. 121 c/c o art. 14, II, 
do CP. 
 
O tipo definidor da tentativa de homicídio descreve um fato mais amplo e 
mais grave, dentro do qual cabem os dois primeiros. Assim, se ficar comprovada a intenção de 
matar, aplica-se a norma primária, qual seja, a da tentativa branca de homicídio; não demonstrada 
a vontade de matar, o agente responderá pelo crime de disparo de arma de fogo, o qual é 
considerado mais grave do que a periclitação. 
 
 
 
 
 
 
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B.3) Espécies 
 
a) Subsidiariedade Expressa ou explícita 
 
A própria norma reconhece expressamente seu caráter subsidiário, 
admitindo incidir somente se não ficar caracterizado fato de maior gravidade. 
 
Ex. Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente: 
 
Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime 
mais grave. 
 
Ex2: art. 129, § 3º, do CP, ao definir a lesão corporal seguida de morte, 
afirma incidir se “...as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o 
risco de produzi-lo”. 
 
b) SUBSIDIARIEDADE TÁCITA OU IMPLÍCITA 
 
Ocorre quando uma figura típica funciona como elementar ou 
circunstância legal específica de outra, de maior gravidade punitiva, de forma que esta exclui 
a simultânea punição da primeira. 
 
A norma nada diz, mas, diante do caso concreto, verifica-se a sua 
subsidiariedade. 
 
Ex1. Estupro contendo o constrangimento ilegal. 
 
Ex2: O crime de dano é subsidiário do furto qualificado pelo arrombamento. 
Os elementos típicos do dano funcionam como circunstância qualificadora do furto. 
 
Ex3: O constrangimento ilegal (art. 146) é subsidiário de todos os crimes que 
têm como meios executórios a vis absoluta e a vis compulsiva (violência física e grave ameaça), 
como o aborto de coacta (art. 126, par. Único), a extorsão (art. 158). 
 
 
 
 
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2ª Fase 
 
 
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c) PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO 
 
C.1) Conceito 
 
Ocorre quando um ato definido por uma norma incriminadora é meio 
necessário ou normal fase de preparação ou execução de outro crime, bem como quando 
constitui conduta anterior ou posterior do agente, cometida com a mesma finalidade 
prática atinente àquele crime. 
 
Trata-se da hipótese de crime meio e do crime fim. 
Ex1. é o que se dá na violação de domicílio com a finalidade de praticar furto 
em residência. A violação é mera fase de execução do delito de furto. 
Ex2: O crime de homicídio absorve o delito de porte ilegal de arma, pois 
esta infração penal constitui-se simples meio para a eliminação da vida. 
 
Ex3: O estelionato absorve o falso, quando este é fase de execução daquele. 
Súmula 17 STJ “Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade 
lesiva, é por este absorvido”. 
 
No conflito, os crimes se denominam: 
 
1º) crime consuntivo: o que absorve o de menor gravidade; 
2º) crime conjunto: o absorvido. 
 
C.2) Fato anterior (“ante factum”) não punível 
 
Caracteriza-se quando um fato antecedente menos grave é considerado 
meio necessário para a prática de outro fato, mais grave, ficando, por conseguinte, o primeiro 
absorvido. 
 
Verifica-se o antefactum não punível quando uma conduta menos grave 
precede a uma mais grave como meio necessário ou normal de realização. 
 
 
 
 
 
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9 
A primeira é consumida pela segunda. Em consequência da absorção, o 
antefato torna-se um indiferente penal. 
 
É o que ocorre no caso de o sujeito ter em seu poder “instrumentos 
empregados usualmente na prática do crime de furto” (art. 25 LCP) e, em seguida, praticar uma 
subtração punível. O detentor de chaves falsas ou gazuas, que se serve desses meios para praticar 
um furto, responde somente pela subtração, em que fica consumida a contravenção. 
 
C.3) Fato posterior (“post factum”) não punível 
 
A prática ulterior (posterior) à consumação do delito, consistente em nova 
agressão ao mesmo bem jurídico é considerada mero exaurimento (exemplo: um sujeito furta um 
objeto e o vende. O fato de o agente ter vendido o bem furtado é irrelevante, tendo em vista que o 
furto não deixará de ser punido). 
 
Ocorre quando, após realizada a conduta, o agente pratica novo ataque 
contra o mesmo bem jurídico, visando apenas tirar proveito da prática anterior. O fato posterior é 
tomado como mero exaurimento. 
Ex: após o furto, o agente vende ou destrói a coisa. 
 
Existe o posfactum impunível quando um fato posterior menos grave é 
praticado contra o mesmo bem jurídico e do mesmo sujeito, para a utilização de um fato antecedente 
e mais grave, e disso para deste tirar proveito, mas sem causar outra ofensa. 
 
Assim, se após o furto o ladrão destrói a coisa subtraída, só responde pelo 
furto, e não também pelo dano (art. 163). Neste caso, a lesão ao interesse jurídico causada pela 
conduta precedente torna indiferente o crime de dano. 
 
C.4) Crime Progressivo e Progressão Criminosa 
 
I – CRIME PROGRESSIVO – O AGENTE DESDE O INÍCIO DE SUA CONDUTA 
POSSUI A INTENÇÃO DE ALCANÇAR O RESULTADO MAIS GRAVE, DE MODO QUE SEUS ATOS 
VIOLAM O BEM JURÍDICO DE FORMA CRESCENTE. AS VIOLAÇÕES ANTERIORES FICAM 
ABSORVIDAS. 
 
 
 
 
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2ª Fase 
 
 
10 
 
CRIME DE PASSAGEM OBRIGATÓRIA – DELITO DE MENOR GRAVIDADE, 
ESTANDO NA MESMA LINHA DE DESDOBRAMENTO DA OFENSA DO BEM JURÍDICO PRINCIPAL. Ex. 
Para consumar o homicídio haverá o crime de lesão corporal (crime de passagem). 
 
II – PROGRESSÃO CRIMINOSA – O AGENTE PRODUZ O RESULTADO 
PRETENDIDO, MAS, EM SEGUIDA, RESOLVE (SUBSTITUIÇÃO DO DOLO) PROGREDIR NA VIOLAÇÃO 
DO BEM JURÍDICO E PRODUZ UM RESULTADO MAIS GRAVE QUE O ANTERIOR. O FATO INICIAL 
FICA ABSORVIDO. 
 
Ex. SUJEITO PRATICA LC. EM SEGUIDA NÃO SATISFEITO RESOLVE MATÁ-LA. 
 
OBS: SUBSTITUIÇÃO DO DOLO – NÃO CONFUNDIR COM CRIME 
PROGRESSIVO, POIS NESTE O AGENTE DESDE O INÍCIO POSSUI A INTENÇÃO DE 
PRATICAR O CRIME DE MAIOR GRAVIDADE. 
 
D) PRINCÍPIO DA ALTERNATIVIDADE 
 
Aplica-se aos tipos mistos alternativos, isto é, aqueles que descrevem crimes 
de ação múltipla. 
 
Assim, mesmo havendo várias formas de conduta (mais de um verbo) no 
mesmo tipo, somente haverá a consumação de um único delito, independente da quantidade de 
condutas realizadas no mesmo contexto. 
 
 
Ex. Artigo 122 do código penal e artigo 33 da lei de drogas. 
 
OBS: Na verdade não há conflito de normas, mas conflito dentro da 
própria figura típica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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2ª Fase 
 
 
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FIQUE LIGADO! 
 
 
EDIÇÃO N. 51: CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO – II 
 
9) O crime de porte de arma é absorvido pelo de roubo quando restar evidenciado o nexo 
de dependência ou de subordinação entre as duascondutas e que os delitos foram praticados 
em um mesmo contexto fático o que caracteriza o princípio da consunção. 
 
EDIÇÃO N. 87: CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO - IV 
 
15) É inaplicável o princípio da consunção entre os crimes de receptação e porte ilegal de 
arma de fogo por serem delitos autônomos e de natureza jurídica distinta, devendo o agente 
responder por ambos os delitos em concurso material. 
 
 
 
 
 
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2ª Fase 
 
 
12 
XXV EXAME – REAPLICAÇÃO EM PORTO ALEGRE – TESE PRINCIPAL DA PEÇA 
 
Breno, nascido em 07 de junho de 1945, na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, falsifica uma 
assinatura em uma folha de cheque e a apresenta em loja de eletrodomésticos localizada no bairro 
de sua residência, com a intenção de realizar compras no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais). 
Após a apresentação do cheque, apesar de a falsificação não ser grosseira e ser apta a enganar, o 
gerente do estabelecimento comercial percebe que aquele cheque não fora assinado pelo verdadeiro 
correntista do banco, já que o nome que constava do título de crédito era de um grande amigo seu. 
Descoberta a fraude, o referido gerente aciona a polícia, e Breno é preso em flagrante antes de 
obter a vantagem pretendida. Com o recebimento dos autos, o Ministério Público opina pela 
liberdade de Breno e oferece denúncia pela prática dos crimes do Art. 171, caput, e Art. 297, § 2º, 
na forma do Art. 69, todos do Código Penal. Após concessão da liberdade provisória e recebimento 
da denúncia, houve juntada do laudo pericial do cheque, constatando a falsidade e a capacidade 
para iludir terceiros, bem como da Folha de Antecedentes Criminais, no qual consta uma condenação 
definitiva pela prática, no ano anterior, do crime de homicídio culposo na direção de veículo 
automotor, além de uma ação em curso pela suposta prática de crime de furto. Durante a instrução, 
todos os fatos acima descritos são confirmados pelas testemunhas, não tendo sido o réu interrogado, 
já que, apesar de intimado, apresentou problemas de saúde no dia e não pôde comparecer à 
audiência. Ainda durante a audiência de instrução e julgamento, após a instrução, as partes 
apresentaram suas alegações, sendo consignado pela defesa o inconformismo com a ausência do 
réu, já que foi apresentado atestado médico, e, em seguida, o juiz proferiu sentença condenatória 
nos termos da denúncia, condenando o agente pela prática dos dois delitos em suas modalidades 
consumadas. No momento de fixar a pena-base, aumentou o magistrado a pena do estelionato em 
02 meses, destacando que o comportamento de Breno não deixa qualquer dúvida de que agiu com 
dolo. Já a pena do uso de documento falso foi aplicada em seu patamar mínimo. Na segunda fase, 
não foram reconhecidas atenuantes, mas foi reconhecida a agravante da reincidência, aumentando 
a pena de cada um dos delitos em mais 02 meses de reclusão. No terceiro momento, não foram 
reconhecidas causas de aumento ou de diminuição. Assim, foi fixada a pena de 01 ano e 04 meses 
de reclusão e 14 dias-multa, no que tange ao crime de estelionato, e 02 anos e 02 meses de reclusão 
e 12 dias-multa para o crime de falsificação de documento equiparado ao público, restando a pena 
final em 03 anos e 06 meses de reclusão e 26 dias-multa. O regime inicial de cumprimento de pena 
aplicado pelo magistrado foi o semiaberto e não houve substituição da pena privativa de liberdade 
por restritiva de direito, tudo fundamentado na reincidência do agente. Intimado da decisão, o 
Ministério Público apenas tomou ciência de seu teor, não apresentando qualquer medida. Já a defesa 
técnica de Breno foi intimada de seu teor em 06 de dezembro de 2017, quarta-feira, sendo 
quintafeira dia útil em todo o país. Considerando apenas as informações narradas, na condição de 
advogado(a) de Breno, redija a peça jurídica cabível, diferente de habeas corpus e embargos de 
declaração, apresentando todas as teses jurídicas pertinentes. A peça deverá ser datada no último 
dia do prazo para interposição. (Valor: 5,00) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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2ª Fase 
 
 
13 
 DO FATO TÍPICO E CONDUTA 
 
Fato típico é o que se amolda ao modelo legal da conduta proibida. É o fato que se 
enquadra no conjunto de elementos descritivos do delito contidos na lei penal. 
 
Ausente um dos elementos do fato típico a conduta passa a constituir um indiferente 
penal. É um fato atípico. 
2.1) CONDUTA 
A) CONCEITO 
CONDUTA é a ação ou omissão humana consciente e dirigida a determinada 
finalidade. 
B) AUSÊNCIA DE CONDUTA 
Para a caracterização da conduta, sob qualquer aspecto, é indispensável a existência 
do binômio vontade e consciência. 
VONTADE é o querer ativo, apto a levar o ser humano a praticar um ato livremente. 
O ato voluntário deve ser espontâneo, isto é, mediante um proceder por vontade própria; caso contrário, será 
ato coagido e forçado, levando à exclusão do crime. 
CONSCIÊNCIA é a possibilidade de o ser humano ter noção clara da diferença 
existente entre realidade e ficção. 
02
13
ELEMENTOS 
DO FATO 
TÍPICO
CONDUTA
RESULTADO
NEXO DE 
CAUSALIDADE
TIPICIDADE
 
 
 
 
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14 
Ausente vontade ou consciência, não haverá conduta punível. Não havendo conduta 
punível, o fato será atípico. 
Pode-se dizer que há ausência de conduta nos seguintes casos, por exemplo: 
 
a) Coação física irresistível (“vis absoluta”) 
Ocorre quando o sujeito pratica o movimento em consequência de força corporal 
exercida sobre ele. Quem atua obrigado por uma força irresistível não age voluntariamente. Neste caso, o 
agente é mero instrumento realizador da vontade do coator. 
Imaginemos alguém sendo fisicamente forçado a falsificar um documento. Nesse 
caso, não haverá conduta punível, por ausência de vontade, sendo o fato atípico em relação ao agente 
fisicamente coagido. Somente o coator responderia pelo delito. 
Assim, não havendo vontade, não há conduta. Não havendo conduta, não há fato 
típico. Não havendo fato típico, não há crime. Logo, o fato praticado pelo fisicamente coagido é atípico. Não 
responde por nenhum crime. 
Diversa é a situação, contudo, quando se tratar de coação moral. 
Na coação moral, não há aplicação da força física, mas de ameaça ou intimidação, 
feita através da promessa de um mal, para que se determine o coato à realização do fato criminoso. O coagido 
poderá optar. 
No caso da coação moral, o fato é revestido de tipicidade, mas não é culpável, em 
face da inexigibilidade de conduta diversa. 
Portanto, existe o fato típico, pois a ação é juridicamente relevante, mas não há que 
se falar em culpabilidade, aplicando-se a regra do art. 22, 1ª parte, do Código Penal (causa de exclusão da 
culpabilidade). A coação moral irresistível será estudada no tema culpabilidade. 
Em síntese: 
Coação física irresistível: causa de exclusão da tipicidade 
Coação moral irresistível: causa de exclusão da culpabilidade 
Coação moral resistível: atenuante (art. 65, III, “c”, CP) 
 
 
 
 
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15 
 
 
b) Movimentos reflexos 
Os atos reflexos não dependem da vontade, uma vez que são reações motoras, 
secretórias ou fisiológicas, produzidas pela excitação de órgãos do corpo humano. 
 
Ex. tosse, espirro, etc. 
 
c) Estados de inconsciência 
Consciência “é o resultado da atividade das funções mentais. Não se trata de uma 
faculdade do psiquismo humano, mas do resultado do funcionamento de todas elas”. 
Quando essas funções mentais não funcionam adequadamente se diz que há estado 
de inconsciência,que é incompatível com a vontade, e sem vontade não há ação. 
 Ex: praticar determinada conduta em estado de sonambulismo. 
 
 
 
 
 
 
 
COAÇÃO FÍSICA 
IRRESISTÍVEL
Sujeito é forçado 
fisicamente a 
praticar o fato típico
CAUSA DE 
EXCLUSÃO DA 
TIPICIDADE
COAÇÃO MORAL 
IRRESISTÍVEL
Sujeito é ameaçado 
ou intimidado a 
praticar o fato típico
CAUSA DE 
EXCLUSÃO DA 
CULPABILIDADE
COAÇÃO MORAL 
RESISTÍVEL
Sujeito é ameaçado 
ou intimidado a 
praticar o fato típico, 
mas poderia resistir
ATENUANTE (ART. 
65, III, "C", CP)
 
 
 
 
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2.2) DOS CRIMES OMISSIVOS 
A conduta delitiva não se limita a uma atividade positiva, ou seja, a uma ação, 
podendo, ainda, o agente praticar delito por meio de uma conduta omissiva, por um não fazer, por uma 
abstenção de um movimento corpóreo. 
Os crimes omissivos podem ser próprios ou impróprios (ou comissivos por omissão). 
I) CRIMES OMISSIVOS PRÓPRIOS 
São os que se perfazem com a simples conduta negativa do sujeito, 
independentemente da produção de qualquer consequência posterior. 
Há um tipo penal específico descrevendo a conduta omissiva. O verbo nuclear do 
tipo descreve uma conduta omissiva. Nesse caso, o crime consiste em o sujeito amoldar a sua conduta ao tipo 
legal que descreve uma conduta omissiva. Em síntese, o agente será responsabilizado por não cumprir 
o dever de agir contido implicitamente na norma incriminadora. 
Nos crimes omissivos próprios basta a abstenção, é suficiente a desobediência ao 
dever de agir para que o delito se consume. A OBRIGAÇÃO DO AGENTE É DE AGIR E NÃO DE EVITAR O 
RESULTADO. O resultado que eventualmente surgir dessa omissão será irrelevante para a consumação do 
crime, podendo apenas configurar uma majorante ou uma qualificadora. 
Ex: Omissão de socorro 
 
Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, 
à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente 
perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública: 
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. 
Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão 
corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte. 
 
 
C
R
IM
E
S
 O
M
IS
S
IV
O
S
 
P
R
Ó
P
R
IO
S
DEVER DE AGIR
NÃO TEM O DEVER DE 
IMPEDIR O RESULTADO
NÃO RESPONDE PELO 
RESULTADO
PODE CONFIGURAR 
MAJORANTE ou
QUALIFICADORA
EX: ART. 135, 
PARÁGRAFO ÚNICO, CP
NORMA PENAL 
ESPECÍFICA
DESCREVE CONDUTA 
OMISSIVA
EX: ART. 135 CP 
ART. 244 CP
MANDAMENTAL
CRIME DE MERA 
CONDUTA
NÃO ADMITE 
TENTATIVA
 
 
 
 
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17 
II) CRIMES OMISSIVOS IMPRÓPRIOS OU COMISSIVOS POR OMISSÃO – Art. 13, § 2º 
 
Nos crimes omissivos impróprios ou comissivos por omissão são aqueles em que o 
tipo penal descreve uma conduta ativa, ou seja, o verbo nuclear do tipo descreve uma ação. Nesse caso, o 
agente será responsabilizado por ter deixado de agir quando estava juridicamente obrigado a desenvolver 
uma conduta para evitar o resultado. 
Nos crimes omissivos impróprios, o agente não tem simplesmente a obrigação de 
agir, mas a OBRIGAÇÃO DE AGIR PARA EVITAR UM RESULTADO, isto é, deve agir com a finalidade de impedir 
a ocorrência de determinado evento. Nos crimes comissivos por omissão há, na verdade, um crime material, 
isto é, um crime de resultado. 
Ou seja, se o agente que tinha o dever de agir para evitar o resultado mantém-se 
inerte, omisso, responderá pelo resultado gerado. 
Ressalta-se, no entanto, que somente será atribuído ao agente a responsabilidade 
por sua conduta omissiva se, nas circunstâncias, era possível agir para evitar o resultado. 
Ex: se um médico plantonista deixa de atender um paciente que falece, porque 
estava atendendo a outro enfermo em situação de emergência, à evidência, não poderá ser responsabilizado 
pela morte do paciente que aguardava atendimento. 
 
O Código Penal regulou expressamente as hipóteses em que o agente assume a 
condição de garantidor. 
De fato, para que alguém responda por crime comissivo por omissão é 
preciso que tenha o dever jurídico de impedir o resultado, previsto no artigo 13, § 2º: 
 
a) Ter por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância 
Nesse caso, por expressa imposição da lei, o agente estará obrigado a agir para 
evitar o resultado. Assim, se o agente se omitir, ou seja, deixar de agir, quando lhe era possível, responderá 
pelo resultado gerado. 
Isso porque, se o sujeito, em virtude de sua abstenção, descumprindo o dever de 
agir, não busca evitar o resultado é considerado, pelo Direito Penal, como se o tivesse causado. 
CONDUTA 
OMISSIVA
ART. 13, §2º CP RESULTADO
 
 
 
 
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É o caso, por exemplo, dos pais em relação aos filhos (art. 1634 e 1566, IV, ambos 
do Código Civil), ao dever de mútua assistência entre os cônjuges (art. 1566 do Código Civil). 
Ex: Mãe que deixa de alimentar o filho, que, por conta da sua negligência, acaba 
morrendo por inanição. Essa mãe deverá responder pelo resultado gerado, qual seja, homicídio culposo. Se, 
de outro lado, a mãe desejou a morte do filho ou assumiu o risco de produzi-la, responderá por homicídio 
doloso. 
 
b) De outra forma, assumir a responsabilidade de impedir o resultado 
 
A doutrina não fala mais em dever contratual, uma vez que a posição de garantidor 
pode advir de situações em que não existe relação jurídica entre as partes. O importante é que o sujeito 
se coloque em posição de garante no sentido de que o resultado não ocorrerá. 
Aqui a obrigação de agir para evitar o resultado não decorre de lei, mas do fato de 
o agente ter assumido a responsabilidade de impedi-lo. 
Ex: babá que, por negligência, deixa de cumprir corretamente sua obrigação de 
cuidar da criança, que acaba caindo na piscina e, por isso, morre afogada. Nesse caso, responderá pelo 
resultado gerado, qual seja, homicídio culposo. Se, de outro lado, desejou a morte da criança ou assumiu o 
risco de produzi-la, responderá por homicídio doloso. 
 
Ex: Salva-vidas Carlos que presta em clube social, que, com várias crianças 
brincando na piscina, fica observando a beleza física da mãe de uma das crianças e, ao mesmo tempo, falando 
no celular com um amigo, ficando de costas para a piscina. Se, nesse momento, uma criança vem a falecer 
por afogamento, o salva-vidas responderá por homicídio culposo, diante da sua omissão culposa, já que violou 
o seu dever de garantidor. 
 
c) Com o comportamento anterior, criar o risco da ocorrência do resultado 
Nesta hipótese, o sujeito, com o comportamento anterior, cria situação de perigo 
para bens jurídicos alheios penalmente tutelados, de sorte que, tendo criado o risco, fica obrigado a 
evitar que ele se degenere ou desenvolva para o dano ou lesão. 
Não importa que o tenha feito voluntariamente ou involuntariamente, dolosa ou 
culposamente; importa é que com sua ação ou omissão originou uma situação de risco ou agravou uma 
situação já existente. 
 
 
 
 
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Aluno veterano, por ocasião de um trote acadêmico, sabendo que a vítima não sabe 
nadar, joga o incauto calouro na piscina. Nesse caso, contrai o dever jurídico de agir para evitar o resultado, 
sob pena de responder por homicídio. 
 
 
 
 
 
 
CRIMES 
OMISSIVOS 
IMPRÓPRIOS
(Art. 13, §2º, CP)
NÃO HÁ NORMA 
ESPECÍFICA 
DESCREVENDOA 
OMISSÃO
DEVER DE AGIR 
+ 
IMPEDIR O 
RESULTADO
O DEVER DE AGIR 
INCUMBE A QUEM
(Art. 13, §2º CP)
a) tenha por lei 
obrigação de 
cuidado, proteção 
ou vigilância
Ex: pais perante 
os filhos (art. 
1.634 CC);
mútua assistência 
entre os cônjuges 
(art. 1.566 CC)
b) de outra forma, 
assumiu a 
responsabilidade 
de impedir o 
resultado
Ex: médico 
plantonista; 
babá; 
diretora de escola 
c) com seu 
comportamento 
anterior, criou o 
risco da 
ocorrência do 
resultado.
Ex: trote 
acadêmico
RESPONDE PELO 
RESULTADO 
GERADO
 
 
 
 
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CONDUTA
AÇÃO
OMISSÃO
CRIME 
OMISSIVO 
PRÓPRIO
Dever de 
agir
Norma penal 
específica
Descreve 
conduta 
omissiva
Mandamental
Crime de 
mera 
conduta
Não admite 
tentativa
Não responde 
pelo resultado
Qualificadora
Majorante
CRIME 
OMISSIVO 
IMPRÓPRIO
Não há norma 
específica 
descrevendo a 
omissão
Dever de agir 
+ 
impedir o 
resultado
Art. 13, 
§2º CP
a) Lei
b) 
Garantidor
c) Criação 
do Risco
Responde pelo 
resultado
 
 
 
 
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QUESTÃO 2 - V EXAME OAB 
Joaquina, ao chegar à casa de sua filha, Esmeralda, deparou-se com seu genro, Adaílton, mantendo relações 
sexuais com sua neta, a menor F.M., de 12 anos de idade, fato ocorrido no dia 2 de janeiro de 2011. 
Transtornada com a situação, Joaquina foi à delegacia de polícia, onde registrou ocorrência do fato criminoso. 
Ao término do Inquérito Policial instaurado para apurar os fatos narrados, descobriu-se que Adaílton vinha 
mantendo relações sexuais com a referida menor desde novembro de 2010. Apurou-se, ainda, que Esmeralda, 
mãe de F.M., sabia de toda a situação e, apesar de ficar enojada, não comunicava o fato à polícia com receio 
de perder o marido que muito amava. 
Na condição de advogado(a) consultado(a) por Joaquina, avó da menor, responda aos itens a seguir, 
empregando os argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente ao caso. 
a) Adaílton praticou crime? Em caso afirmativo, qual? (Valor: 0,3) 
b) Esmeralda praticou crime? Em caso afirmativo, qual? (Valor: 0,5) 
c) Considerando que o Inquérito Policial já foi finalizado, deve a avó da menor oferecer queixa-crime? (Valor: 
0,45) 
 
QUESTÃO 04 – X EXAME OAB 
Erika e Ana Paula, jovens universitárias, resolvem passar o dia em uma praia paradisíaca e, de difícil acesso 
(feito através de uma trilha), bastante deserta e isolada, tão isolada que não há qualquer estabelecimento 
comercial no local e nem mesmo sinal de telefonia celular. As jovens chegam bastante cedo e, ao chegarem, 
percebem que além delas há somente um salva-vidas na praia. Ana Paula decide dar um mergulho no mar, 
que estava bastante calmo naquele dia. Erika, por sua vez, sem saber nadar, decide puxar assunto com o 
salva-vidas, Wilson, pois o achou muito bonito. Durante a conversa, Erika e Wilson percebem que têm vários 
interesses em comum e ficam encantados um pelo outro. Ocorre que, nesse intervalo de tempo, Wilson 
percebe que Ana Paula está se afogando. Instigado por Erika, Wilson decide não efetuar o salvamento, que 
era perfeitamente possível. Ana Paula, então, acaba morrendo afogada. 
Nesse sentido, atento(a) apenas ao caso narrado, indique a responsabilidade jurídico-penal de Erika e Wilson. 
(Valor: 1,25) 
O examinando deve fundamentar corretamente sua resposta. A simples menção ou transcrição do dispositivo 
legal não pontua. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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 DA RELAÇÃO DE CAUSALIDADE – Art. 13 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
03
13
CONDUTA RESULTADO 
CONCAUSA INDEPENDENTE 
ABSOLUTAMENTE 
DEPENDENTE 
Por si só 
produziu o 
resultado 
Teve origem 
na conduta 
ABSOLUTAMENTE 
INDEPENDENTE 
Não teve 
origem na 
conduta 
PREEXISTENTE 
CONCOMITANTE 
SUPERVENIENTE 
RELATIVAMENTE 
INDEPENDENTE 
Teve origem 
na conduta 
PREEXISTENTE 
CONCOMITANTE 
SUPERVENIENTE 
RELATIVAMENTE 
Não teve 
origem na 
conduta 
 
 
 
 
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Pela própria denominação (nexo causal) é possível perceber que consiste no vínculo 
ou liame de causa e efeito entre a ação e o resultado do crime. 
Via de regra, a conduta do agente produz o resultado criminoso de forma direta. 
Trata-se de relação de causa (conduta) e efeito (resultado): Nexo de causalidade. 
Todavia, pode ocorrer que, aliada à conduta do agente, outra causa contribua para 
o resultado. É a chamada concausa. 
Esta “concausa” pode ser absolutamente independente ou relativamente 
independente, dependendo se teve ou não origem na conduta do agente. 
3.1) CAUSAS ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTES 
I) CONCEITO 
São aquelas que não tem origem na conduta do agente. A expressão 
“absolutamente” serve para designar que a outra causa independente por si só produziu o resultado. São 
causas que não se inserem na linha do desdobramento natural da conduta do agente, ou seja, causas 
inusitadas, desvinculadas da ação do agente, surgindo de fonte distinta. 
Em síntese, por serem independentes, tais causas atuam como se tivessem por si 
sós produzido o resultado, situando-se fora da linha de desdobramento causal da conduta. 
Há, na verdade, uma quebra do nexo causal. 
II) ESPÉCIES DE CAUSAS ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTES 
a) Preexistentes 
Trata-se de causa que existia antes da conduta do agente e produzem o resultado 
independentemente da sua atuação. Ou seja, com ou sem a ação do agente o resultado ocorreria do mesmo 
modo. 
 
Ex: O agente desfere um disparo de arma de fogo contra a vítima, que, no entanto, 
vem a falecer pouco depois, não em consequência dos ferimentos recebidos, mas porque antes ingerira veneno 
com a intenção de suicidar. 
 
Nesse caso, há a conduta do agente (efetuar o disparo), mas o que gerou o resultado 
morte foi outra causa (o veneno). Essa outra causa é independente da conduta do agente (porque por si só 
produziu o resultado). É absolutamente independente (porque não teve origem na conduta do agente, pois 
tendo ou não efetuado o disparo o resultado ainda assim se produziria). É preexistente porque essa outra 
causa (veneno) já existia antes da ação do agente. 
 
 
 
 
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b) Concomitantes 
São as causas que não têm nenhuma relação com a conduta e produzem o resultado 
independentemente desta, no entanto, por coincidência, atuam exatamente no instante em que a ação é 
realizada. 
Ex: “A” desfere golpe de faca contra “B” no exato momento em que este vem a 
falecer exclusivamente por força de um desabamento. ataque cardíaco. 
 
Nesse caso, há a conduta do agente (desferir o golpe de faca), mas o que gerou o 
resultado morte foi outra causa (o ataque cardíaco). O ataque cardíaco se trata de causa independente da 
conduta do agente (porque por si só produziu o resultado). É absolutamente independente (porque não 
teve origem na conduta do agente, pois tendo ou não efetuado desferido o golpe o resultado ainda assim se 
produziria). É concomitante porque essa outra causa (ataque cardíaco) ocorreu exatamente no momento 
da ação do agente. 
c) Supervenientes 
São causas que atuam após a conduta. Ou seja, que surgem depois da conduta 
desenvolvidapelo agente. 
Ex: “A” ministra veneno na alimentação de “B”. Antes do veneno produzir efeitos, 
há um desabamento ou incêndio na casa da vítima, que morre exclusivamente por conta dos escombros que 
caíram sobre sua cabeça ou queimada pelo fogo. 
 
Nesse caso, há a conduta do agente (ministrar veneno), mas o que gerou o resultado 
morte foi outra causa (desabamento ou incêndio). O desabamento ou incêndio tratam-se de causas 
independente da conduta do agente (porque por si só produziram o resultado). É absolutamente 
independente (porque não teve origem na conduta do agente, pois tendo ou não ministrado o veneno o 
resultado ainda assim se produziria). É superveniente porque essa outra causa (desabamento ou incêndio) 
ocorreu depois da conduta do agente. 
III) CONSEQUÊNCIAS DAS CAUSAS ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTES 
Quando a causa é absolutamente independente da conduta do sujeito, o problema 
é resolvido pelo caput do art. 13: Há exclusão da causalidade decorrente da conduta. Ou seja, o agente 
responde somente por aquilo que deu causa. 
Nos exemplos, a causa da morte não tem ligação alguma com o comportamento do 
agente. Em face disso, ele não responde pelo resultado morte, mas sim pelos atos praticados antes de sua 
 
 
 
 
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produção. Isso porque ocorreu quebra do nexo causal. Assim, se o dolo era de matar, o agente responderia 
por tentativa de homicídio. 
CUIDADO: Se o enunciado apontar dolo de lesão corporal, por exemplo, o agente 
responderá por aquilo que deu causa: lesão corporal (leve, grave ou gravíssima). 
 
QUESTÃO 03 – OAB – 2010-02 
Pedro, almejando a morte de José, contra ele efetua disparo de arma de fogo, acertando-o na região toráxica. 
José vem a falecer, entretanto, não em razão do disparo recebido, mas porque, com intenção suicida, havia 
ingerido dose letal de veneno momentos antes de sofrer a agressão, o que foi comprovado durante instrução 
processual. Ainda assim, Pedro foi pronunciado nos termos do previsto no artigo 121, “caput”, do Código 
Penal. 
Na condição de Advogado de Pedro: 
I. Indique o recurso cabível; 
II. O prazo de interposição; 
III. A argumentação visando à melhoria da situação jurídica do defendido. 
Indique, ainda, para todas as respostas, os respectivos dispositivos legais. 
 
3.2) CAUSAS RELATIVAMENTE INDEPENDENTES 
I) CONCEITO 
Causas relativamente independentes são aquelas que tiveram origem na conduta do 
agente. Ou seja, essas causas somente surgiram porque o agente desenvolveu uma conduta. 
Como são causas independentes, produzem por si sós o resultado, não se situando 
dentro da linha de desdobramento causal da conduta. Por serem, no entanto, apenas relativamente 
independentes, encontram sua origem na própria conduta praticada pelo agente. 
Aqui não há, de regra, uma quebra do nexo causal, mas uma soma entre as causas, 
que, ao final, conduzem ao resultado lesivo. 
II) ESPÉCIES DE CAUSAS RELATIVAMENTE INDEPENDENTES 
a) Preexistentes 
A causa que efetivamente gerou o resultado já existia ao tempo da conduta do 
agente, que concorreu para a sua produção. 
Ex: “A”, com a intenção de matar, desfere um golpe de faca na vítima, que é 
hemofílica e vem a morrer em face da conduta, somada à contribuição de seu peculiar estado fisiológico. No 
caso, o golpe isoladamente seria insuficiente para produzir o resultado fatal, de modo que a hemofilia atuou 
de forma independente, produzindo por si só o resultado. 
 
 
 
 
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Nesse caso, há a conduta do agente (golpe de faca), mas o que desencadeou 
efetivamente o resultado morte foi outra causa (hemofilia). Essa outra causa é independente da conduta do 
agente (porque por si só produziu o resultado). É relativamente independente (porque teve origem na 
conduta do agente, pois, se não tivesse desferido a facada, essa outra causa não seria desencadeada e o 
resultado não ocorreria). É preexistente porque essa outra causa (hemofilia) já existia ao tempo da ação do 
agente. 
Nesse caso, como há uma soma de causas e não quebra do nexo causal, o agente 
responde pelo resultado pretendido. No caso, homicídio consumado, a menos que não tenha concorrido para 
ele com dolo ou culpa. 
Isso, porque, segundo doutrina majoritária, a imputação do resultado ao agente 
exige que ele tenha conhecimento do estado de saúde do agente (que denota dolo) ou que, pelo menos, que 
lhe fosse previsível (indicativo de culpa). 
Assim, se, por exemplo, o agente não sabia do estado de saúde da vítima ou não 
lhe era previsível, não poderia lhe ser atribuído o resultado morte, responderia, pois, pelo delito de tentativa 
de homicídio (se agiu com a intenção de matar). 
Se, no entanto, pretendia ferir a vítima, agredindo-a com um soco e, esta em razão 
da hemofilia, desconhecida pelo agente, vem a falecer em razão da eclosão de uma hemorragia, o agente 
somente será responsabilizado pelo delito de lesão corporal. 
b) Concomitantes 
A causa que efetivamente produziu o resultado surge no exato momento da conduta 
do agente. 
Ex: considera-se o ataque à vítima, por meio de faca, que, no exato momento da 
agressão, sofre ataque cardíaco, vindo a falecer, apurando-se que a soma desses fatores (causas) produziu a 
morte, já que a agressão e o ataque cardíaco, considerados isoladamente, não teriam o condão do produzir o 
resultado morte. 
 
Nesse caso, há a conduta do agente (golpe de faca), mas o que desencadeou 
efetivamente o resultado morte foi outra causa (ataque cardíaco). Essa outra causa é independente da 
conduta do agente (porque por si só produziu o resultado). É relativamente independente (porque teve 
origem na conduta do agente, pois, se não tivesse desferido a facada, essa outra causa não seria 
desencadeada e o resultado não ocorreria). É concomitante porque essa outra causa (ataque cardíaco) já 
existia ao tempo da ação do agente. 
 
 
 
 
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Nesse caso, como há uma soma de causas e não quebra do nexo causal, o agente 
responde pelo resultado pretendido. No caso, homicídio consumado, a menos que não tenha concorrido para 
ele com dolo ou culpa. 
c) Supervenientes 
A causa que efetivamente produziu o resultado ocorre depois da conduta praticada 
pelo agente. 
 
Ex. O agente desfere um golpe de faca contra a vítima, com a intenção de matá-la. 
Ferida, a vítima é levada ao hospital e sofre acidente no trajeto, vindo, por esse motivo, a falecer. A causa é 
independente, porque a morte foi provocada pelo acidente e não pela facada, mas essa independência é 
relativa, já que, se não fosse o ataque, a vítima não estaria na ambulância acidentada e não morreria. Tendo 
atuado posteriormente à conduta, denomina-se causa superveniente. 
 
Nesse caso, há a conduta do agente (golpe de faca), mas o que desencadeou 
efetivamente o resultado morte foi outra causa (traumatismo decorrente do acidente). Essa outra causa é 
independente da conduta do agente (porque por si só produziu o resultado). É relativamente independente 
(porque teve origem na conduta do agente, pois, se não tivesse desferido a facada, a vítima não estaria na 
ambulância e, portanto, não teria falecido por conta do acidente). É superveniente porque essa outra causa 
(traumatismo pelo acidente) surgiu depois da conduta do agente. 
Na hipótese das causas supervenientes, embora exista nexo físico-naturalístico, 
a lei, por expressa disposição do art. 13, § 1º, CP, que excepcionou a regra geral, exclui a imputação do 
resultado ao agente, devendo, no entanto, responder pelos atos anteriormente efetivamente praticados.Assim, o agente não responde pelo resultado ocorrido, mas somente pelos atos 
anteriores, que, no caso, foi tentativa de homicídio. 
CUIDADO: Se o enunciado apontar dolo de lesão corporal, por exemplo, o agente 
responderá pelos atos anteriores praticados, no caso, lesão corporal (leve, grave ou gravíssima). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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QUESTÃO 1 – XXI EXAME 
Paulo e Júlio, colegas de faculdade, comemoravam juntos, na cidade de São Gonçalo, o título obtido pelo 
clube de futebol para o qual o primeiro torce. Não obstante o clima de confraternização, em determinado 
momento, surgiu um entrevero entre eles, tendo Júlio desferido um tapa no rosto de Paulo. Apesar da pouca 
intensidade do golpe, Paulo vem a falecer no hospital da cidade, tendo a perícia constatado que a morte 
decorreu de uma fatalidade, porquanto, sem que fosse do conhecimento de qualquer pessoa, Paulo tinha uma 
lesão pretérita em uma artéria, que foi violada com aquele tapa desferido por Júlio e causou sua morte. O 
órgão do Ministério Público, em atuação exclusivamente perante o Tribunal do Júri da Comarca de São 
Gonçalo, denunciou Júlio pelo crime de lesão corporal seguida de morte (Art. 129, § 3º, do CP). Considerando 
a situação narrada e não havendo dúvidas em relação à questão fática, responda, na condição de advogado(a) 
de Júlio: 
A) É competente o juízo perante o qual Júlio foi denunciado? Justifique. (Valor: 0,65) 
B) Qual tese de direito material poderia ser alegada em favor de Júlio? Justifique. (Valor: 0.60) 
Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar as respostas. A mera citação do dispositivo legal não confere 
pontuação. 
 
Durante uma grave discussão, ocorrida no serviço, Licurgo Moicano agrediu Coitinho Lelo com uma paulada 
na cabeça, com a intenção de matá-lo. Atendido com rapidez, Coitinho Lelo foi colocado dentro de uma 
ambulância que rumou para o Pronto Socorro Municipal. No trajeto, a ambulância capotou, vindo Coitinho Lelo 
a falecer em razão do acidente. Diante do fato e à luz do ordenamento jurídico penal, responda se Licurgo 
Moicano deve ser responsabilizado penalmente? Em caso afirmativo, indique qual o crime, empregando os 
argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente ao caso. 
 
QUESTÃO 4 – XXV EXAME – REAPLICAÇÃO PORTO ALEGRE 
Vitor efetuou disparos de arma de fogo contra José, com a intenção de causar sua morte. Ocorre que, por 
erro durante a execução, os disparos atingiram a perna de seu inimigo e não o peito, como pretendido. 
Esgotada a munição disponível, Vitor empreendeu fuga, enquanto José solicitou a ajuda de populares e 
compareceu, de imediato, ao hospital para atendimento médico. Após o atendimento médico, já no quarto 
com curativos, enquanto dormia, José vem a ser picado por um escorpião, vindo a falecer no dia seguinte em 
razão do veneno do animal, exclusivamente. Descobertos os fatos, considerando que José somente estava no 
hospital em razão do comportamento de Vitor, o Ministério Público oferece denúncia em face do autor dos 
disparos pela prática do crime de homicídio consumado, previsto no Art. 121, caput, do Código Penal. Após 
regular prosseguimento do feito, na audiência de instrução e julgamento da primeira fase do procedimento 
do Tribunal do Júri, quando da oitiva das testemunhas, o magistrado em atuação optou por iniciar a oitiva das 
testemunhas formulando diretamente suas perguntas, sem permitir às partes complementação. Após 
alegações finais orais das partes, o magistrado proferiu decisão de pronúncia. Apesar da impugnação da defesa 
quanto à formulação das perguntas pelo juiz, o magistrado esclareceu que não importaria quem fez a 
pergunta, pois as respostas seriam as mesmas. Com base apenas nas informações narradas, na condição de 
advogado(a) de Vitor, responda aos itens a seguir. A) Qual o recurso cabível da decisão proferida pelo 
 
 
 
 
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magistrado e qual argumento de direito processual pode ser apresentado em busca da desconstituição de tal 
decisão? Justifique. (Valor: 0,65) B) Existe argumento de direito material a ser apresentado, em momento 
oportuno, para questionar a capitulação jurídica apresentada pelo Ministério Público? Justifique. (Valor: 0,60) 
Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar as respostas. A mera citação do dispositivo legal não confere 
pontuação. 
 
 
 
 
 
 
 
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 DO CRIME DOLOSO E CULPOSO 
 
 
4.1) DO CRIME DOLOSO – Art. 18, I, CP 
I) DOLO DIRETO 
No dolo direto o agente quer o resultado e desenvolve uma conduta voltada a 
produção desse resultado. Aplica-se aqui a teoria da vontade. 
Ex: o agente desfere golpes de faca na vítima com intenção de matá-la. O dolo se 
projeta de forma direta no resultado morte. 
 
II) DOLO EVENTUAL 
Ocorre o dolo eventual quando o sujeito assume o risco de produzir o resultado, isto 
é, admite e aceita o risco de produzi-lo. 
Há a previsão do resultado, mas, ao invés de não seguir adiante no seu intento, o 
agente desenvolve uma conduta assumindo o risco de produzi-lo. Percebe que é possível causar o resultado 
e, não obstante, realiza o comportamento. Entre desistir da conduta e causar o resultado, prefere que este se 
produza. 
Sobre o dolo eventual, o Código Penal adota a teoria positiva do consentimento, 
segundo a qual o sujeito não leva em conta a possibilidade do evento previsto, agindo e assumindo o risco de 
sua produção. 
4.2) DO CRIME CULPOSO – Art. 18, II, CP 
I) CONCEITO 
Extrai-se do artigo 18, inciso II, do Código Penal, que, no crime culposo, o agente 
desenvolve uma conduta voluntária, produzindo, no entanto, um resultado involuntário (não querido ou aceito 
pelo agente), mas que lhe era previsível (culpa inconsciente) ou excepcionalmente previsto (culpa consciente) 
e poderia ser evitado se empregasse a cautela necessária. 
Via de regra, os tipos penais culposos não descrevem a conduta, limitando-se a 
apontar que determinado delito é culposo. Trata-se de um tipo penal aberto, sendo, por isso, necessário 
empregar um juízo de valor acerca da conduta do agente. Ex: homicídio culposo, previsto no artigo 121, § 3º, 
CP. 
Nesse sentido, se determinado delito não prevê a modalidade culposa, o fato 
praticado será atípico. Ex: O crime de dano (art. 163 do Código Penal) não prevê a modalidade culposa. Logo, 
causar, por negligência ou imprudência, dano a patrimônio alheio constitui fato atípico. 
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Nos crimes culposos incide a denominada previsibilidade objetiva, ou seja, a 
possibilidade de uma pessoa dotada de prudência e cautela exigida a todos prever que poderá gerar um 
resultado. Em outras palavras, exige-se a diligência necessária objetiva quando o resultado produzido era 
previsível para um homem comum, nas circunstâncias em que o sujeito realizou a conduta. O 
cuidado necessário deve ser objetivamente previsível. É típica a conduta que deixou de observar 
o cuidado necessário objetivamente previsível. 
De outro lado, se o resultado não era previsível sob a ótica de uma pessoa com 
discernimento, que não teria condições de antever que da sua conduta poderia resultar um delito, o fato será 
atípico. 
QUESTÃO 1 – XIX EXAME 
João estava dirigindo seu automóvel a uma velocidade de 100 km/h em uma rodovia em que o limite máximo 
de velocidade é de 80 km/h. Nesse momento, foi surpreendido por uma bicicleta que atravessou a rodovia de 
maneira inesperada, vindo a atropelar Juan,condutor dessa bicicleta, que faleceu no local em virtude do 
acidente. Diante disso, João foi denunciado pela prática do crime previsto no Art. 302 da Lei nº 9.503/97. As 
perícias realizadas no cadáver da vítima, no automóvel de João, bem como no local do fato, indicaram que 
João estava acima da velocidade permitida, mas que, ainda que a velocidade do veículo do acusado fosse de 
80 km/h, não seria possível evitar o acidente e Juan teria falecido. Diante da prova pericial constatando a 
violação do dever objetivo de cuidado pela velocidade acima da permitida, João foi condenado à pena de 
detenção no patamar mínimo previsto no dispositivo legal. Considerando apenas os fatos narrados no 
enunciado, responda aos itens a seguir. 
A) Qual o recurso cabível da decisão do magistrado, indicando seu prazo e fundamento legal? (Valor: 0,60) 
B) Qual a principal tese jurídica de direito material a ser alegada nas razões recursais? (Valor: 0,65) 
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não confere 
pontuação. 
 
II) MODALIDADES DE CULPA 
a) Imprudência 
É a prática de um fato perigoso. 
Ex. dirigir em alta velocidade em via movimentada. 
b) Negligência 
É a ausência de precaução ou indiferença em relação ao ato realizado. 
Ex. deixar arma de fogo ao alcance de uma criança. 
 
c) Imperícia 
É a falta de aptidão para o exercício de arte ou profissão. Consiste na incapacidade 
ou falta de conhecimento necessário para o exercício de determinado mister. 
 
 
 
 
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Ex. médico que deixa de tomar as cautelas devidas de assepsia em uma sala de 
cirurgia, demonstrando sua nítida inaptidão para o exercício profissional, situação que provoca a morte do 
paciente. 
 
III) CULPA CONSCIENTE 
Na culpa consciente o resultado é previsto pelo sujeito, que espera levianamente 
que não ocorra ou que possa evitá-lo, confiando na sua atuação para impedir o resultado. É a chamada culpa 
com previsão. 
QUESTÃO 4 - 2010-03 
Caio, professor do curso de segurança no trânsito, motorista extremamente qualificado, guiava seu automóvel 
tendo Madalena, sua namorada, no banco do carona. Durante o trajeto, o casal começa a discutir 
asperamente, o que faz com que Caio empreenda altíssima velocidade ao automóvel. Muito assustada, 
Madalena pede insistentemente para Caio reduzir a marcha do veículo, pois àquela velocidade não seria 
possível controlar o automóvel. Caio, entretanto, respondeu aos pedidos dizendo ser perito em direção e 
refutando qualquer possibilidade de perder o controle do carro. Todavia, o automóvel atinge um buraco e, em 
razão da velocidade empreendida, acaba se desgovernando, vindo a atropelar três pessoas que estavam na 
calçada, vitimando-as fatalmente. Realizada perícia de local, que constatou o excesso de velocidade, e ouvidos 
Caio e Madalena, que relataram à autoridade policial o diálogo travado entre o casal, Caio foi denunciado pelo 
Ministério Público pela prática do crime de homicídio na modalidade de dolo eventual, três vezes em concurso 
formal. Recebida a denúncia pelo magistrado da vara criminal vinculada ao Tribunal do Júri da localidade e 
colhida a prova, o Ministério Público pugnou pela pronúncia de Caio, nos exatos termos da inicial. Na qualidade 
de advogado de Caio, chamado aos debates orais, responda aos itens a seguir, empregando os argumentos 
jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente ao caso. 
a) Qual(is) argumento(s) poderia(m) ser deduzidos em favor de seu constituinte? (Valor: 0,4) 
b) Qual pedido deveria ser realizado? (Valor: 0,3) 
c) Caso Caio fosse pronunciado, qual recurso poderia ser interposto e a quem a peça de interposição deveria 
ser dirigida? (Valor: 0,3) 
 
 
 
 
 
 
 
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 CONCURSO DE CRIMES 
 
 
 
 
 
 
5.1) CONCURSO MATERIAL – Art. 69 
Ocorre o concurso material quando o agente, mediante mais de uma ação 
ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não (art. 69, caput). 
 
 
 
0 
 
 
Ex: o agente ingressa na residência da vítima, furta e comete estupro. 
 
A) APLICAÇÃO DA PENA 
Nos termos do art. 69, caput, quando o agente realiza o concurso real de 
crimes, “aplicam-se cumulativamente as penas em que haja incorrido”. Portanto, no concurso 
material as penas são cumuladas, somadas. 
Ex: se comete furto e estupro, as penas privativas de liberdade devem ser 
somadas. 
 
5.2) CONCURSO FORMAL – Art. 70 
A) CONCEITO 
Ocorre o concurso formal (ou ideal) quando o agente, mediante uma só 
ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes (art. 70, caput). Difere do concurso material 
pela unidade de conduta. Ex. o agente, com um só tiro ou um golpe só, ofende mais de uma pessoa; 
 
 
 
Concurso Material 
Concurso Formal 
Concurso Continuado 
 
1 ação ou omissão 02 (ou mais) crimes 
UNIDADE de conduta 
PLURALIDADE de CRIMES 
 de 1 ação ou omissão 02 (ou mais) crimes 
PLURALIDADES de condutas e crimes 
SOMA AS PENAS 
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B) CONCURSO FORMAL PERFEITO – Art. 70, primeira parte 
Está previsto na primeira parte do artigo 70. Ocorre quando o agente pratica 
duas ou mais infrações penais através de uma única conduta. Resulta de um único desígnio. O 
agente, por meio de um só impulso volitivo, dá causa a dois ou mais resultados. 
Ex: o agente dirige um carro em alta velocidade e acaba por atropelar e matar 
três pessoas. 
 
C) CONCURSO FORMAL IMPERFEITO – Art. 70, segunda parte 
 
 
 
 
 
 
 
É o resultado de desígnios autônomos. Aparentemente, há uma só 
ação, mas o agente intimamente deseja os outros resultados ou aceita o risco de produzi-los. Como 
se nota, essa espécie de concurso formal só é possível nos crimes dolosos. 
Ex: o agente incendeia uma residência com a intenção de matar todos os 
moradores. O agente tem desígnios autônomos (intenção de matar) em relação a cada um dos 
moradores da residência. 
 
Observe-se a expressão “desígnios autônomos”: abrange tanto o dolo direto 
quanto o dolo eventual. Assim, haverá concurso formal imperfeito, por exemplo, entre o delito de 
homicídio doloso com dolo direto e outro com dolo eventual. 
Neste caso o concurso continua sendo formal, mas, na aplicação da pena, 
manda o CP que seja realizada com base na regra do concurso material: as penas devem 
ser somadas. 
D) APLICAÇÃO DA PENA 
* No concurso formal perfeito 
Se for homogêneo, aplica-se a pena de qualquer dos crimes, acrescida de 
1/6 até a metade. 
1 ação ou omissão 02 (ou mais) crimes 
Com a intenção de 
produzir cada um dos 
resultados 
 
SOMA DAS PENAS 
 
 
 
 
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Se for heterogêneo, aplica-se a pena do mais grave, aumentada de 1/6 até 
a metade. O aumento varia de acordo com o número de resultados produzidos. 
* No concurso formal imperfeito 
As penas devem ser somadas, de acordo com a regra do concurso material. 
5.3) CRIME CONTINUADO - Art. 71 
 
 
 
 
 
 
 
A) CONCEITO 
Ocorre o crime continuado quando o agente, mediante mais de uma ação ou 
omissão, pratica dois ou mais crimes da MESMA ESPÉCIE, devendo os subsequentes, pelas condições 
de TEMPO, LUGAR, MANEIRA DE EXECUÇÃO E OUTRAS SEMELHANTES, ser havidos como 
continuação do primeiro (art. 71, caput). 
 
B) REQUISITOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
a) PLURALIDADE DE CONDUTAS 
O mesmo agente devepraticar duas ou mais condutas. Se houver uma 
conduta, ainda que desdobrada em vários atos ou vários resultados, o concurso poderá ser formal. 
 de 1 ação ou omissão 02 (ou mais) crimes 
CRITÉRIO EXASPERAÇÃO DA PENA 
 
Da mesma 
 
ESPÉCIE, 
 
CONDIÇÕES DE 
TEMPO, 
 
 LUGAR 
e 
MODO DE 
EXECUÇÃO 
Pluralidade de Condutas 
Crimes da mesma Espécie 
Condições de Tempo 
 
Condições de Lugar 
Maneira de Execução 
Homogeneidade das Circunstâncias 
 
 
 
 
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b) CRIMES DA MESMA ESPÉCIE 
São os que estiverem previstos no mesmo tipo penal. Nesse prisma, tanto 
faz sejam figuras simples ou qualificadas, dolosas ou culposas, tentadas ou consumadas. 
Assim, furto e roubo, embora delitos do “mesmo gênero” (contra o 
patrimônio), não são da mesma espécie. Entre eles, por isso, não pode haver continuação. 
Esta é a posição dominante. 
c) CONDIÇÕES DE TEMPO 
Deve haver uma conexão temporal entre as condutas praticadas para que se 
configure a continuidade delitiva. Deve existir, em outros termos, uma certa periodicidade que 
permita observar-se um certo ritmo, uma certa uniformidade, entre as ações sucessivas, embora 
não se possam fixar, a respeito, indicações precisas. 
A jurisprudência considera crime continuado quando praticados no intervalo 
de tempo entre um e outro inferior a 30 dias. 
d) CONDIÇÕES DE LUGAR (ESPAÇO) 
Deve existir entre os crimes da mesma espécie uma conexão espacial para 
caracterizar o crime continuado. 
A jurisprudência mesma circunstância de espaço quando os crimes são 
praticados na mesma cidade ou em regiões metropolitanas. 
e) MANEIRA DE EXECUÇÃO 
A lei exige semelhança e não identidade. A semelhança na “maneira de 
execução” se traduz no modus operandi de realizar a conduta delitiva. Maneira de execução é o 
modo, a forma, o estilo de praticar o crime, que, na verdade, é apenas mais um dos requisitos 
objetivos da continuação criminosa. 
Ex: o furto fraudulento, por exemplo, não guarda nexo de continuidade com 
o furto mediante arrombamento ou escalada. 
 
f) HOMOGENEIDADE DAS CIRCUNSTÂNCIAS 
Para a configuração do crime continuado, não é suficiente a satisfação das 
circunstâncias objetivas homogêneas, sendo de exigir-se, além disso, que “os delitos tenham sido 
praticados pelo sujeito aproveitando-se das mesmas relações e oportunidades ou com a utilização 
de ocasiões nascidas da primitiva orientação. 
 
 
 
 
 
 
 
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C) CRIME CONTINUADO ESPECÍFICO – Art. 71, parágrafo único 
O crime continuado específico prevê a necessidade de três requisitos, que 
devem ocorrer simultaneamente: 
 
a) Contra vítimas diferentes: 
Admite-se nexo de causalidade entre crimes que lesam interesses jurídicos 
pessoais, ainda que praticados contra vítimas diversas 
Assim, admite a reforma penal nexo de continuidade entre homicídios, lesões 
corporais ou roubos contra vítimas diversas, podendo o juiz, de acordo com as circunstâncias 
judiciais do art. 59, caput, aumentar a pena de um dos delitos até o triplo, desde que a pena não 
seja superior à que seria imposta se o caso fosse de concurso material. 
 
b) com violência ou grave ameaça à pessoa 
Mesmo que o crime seja contra vítimas diferentes, se não houver violência – 
real ou ficta – contra a pessoa, não haverá a continuidade específica, mesmo que haja violência 
contra a coisa. 
 
c) somente em crimes dolosos 
Se a ação criminosa for praticada contra vítimas diferentes, com violência à 
pessoa, mas não for produto de uma conduta dolosa, não estará caracterizada a exceção. 
 
D) APLICAÇÃO DA PENA 
* Crime continuado comum: aplica-se a pena do crime mais grave, aumentada de 1/6 até 2/3. 
* crime continuado específico: Aplica-se a pena do crime mais grave aumentada até o triplo. 
- Se, da aplicação da regra do crime continuado, a pena resultar superior à que restaria se somadas 
as penas, aplica-se a regra do concurso material. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Unidade 
De 
Conduta 
 
Unidade 
De 
Conduta 
 
Formal 
Perfeito 
 
Formal 
Imperfeito 
 
Crimes 
Mesma 
Espécie 
ssssss 
Condições 
 
Modo 
Execução 
 
Exasperação 
De pena 
 
Cúmulo 
Material 
 
Exasperação 
De pena 
 
Tempo 
 
Lugar 
 
CONCURSO 
DE CRIMES 
Concurso Material 
 art. 69, CP 
Concurso Formal 
 
Crime Continuado 
 
art. 70, CP 
art. 71, CP 
Pluralidade 
De 
Condutas 
 
Cúmulo 
Material 
 
 
 
 
 
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Questão 04 – XXII EXAME 
Diego e Júlio caminham pela rua, por volta das 21h, retornando para suas casas após mais um dia 
de aula na faculdade, quando são abordados por Marcos, que, mediante grave ameaça de morte e 
utilizando simulacro de arma de fogo, exige que ambos entreguem as mochilas e os celulares que 
carregavam. Após os fatos, Diego e Júlio comparecem em sede policial, narram o ocorrido e 
descrevem as características físicas do autor do crime. Por volta das 5h da manhã do dia seguinte, 
policiais militares em patrulhamento se deparam com Marcos nas proximidades do local do fato e 
verificam que ele possuía as mesmas características físicas do roubador. Todavia, não são 
encontrados com Marcos quaisquer dos bens subtraídos, nem o simulacro de arma de fogo. Ele é 
encaminhado para a Delegacia e, tendo-se verificado que era triplamente reincidente na prática de 
crimes patrimoniais, a autoridade policial liga para as residências de Diego e Júlio, que comparecem 
em sede policial e, em observância de todas as formalidades legais, realizam o reconhecimento de 
Marcos como responsável pelo assalto. O Delegado, então, lavra auto de prisão em flagrante em 
desfavor de Marcos, permanecendo este preso, e o indicia pela prática do crime previsto no Art. 
157, caput, do Código Penal, por duas vezes, na forma do Art. 69 do Código Penal. Diante disso, 
Marcos liga para seu advogado para informar sua prisão. Este comparece, imediatamente, em sede 
policial, para acesso aos autos do procedimento originado do Auto de Prisão em Flagrante. 
Considerando apenas as informações narradas, na condição de advogado de Marcos, responda, de 
acordo com a jurisprudência dos Tribunais Superiores, aos itens a seguir. 
A) Qual requerimento deverá ser formulado, de imediato, em busca da liberdade de Marcos e sob 
qual fundamento? Justifique. (Valor: 0,65) 
B) Oferecida denúncia na forma do indiciamento, qual argumento de direito material poderá ser 
apresentado pela defesa para questionar a capitulação delitiva constante da nota de culpa, em busca 
de uma punição mais branda? Justifique. (Valor: 0,60) 
Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não 
confere pontuação. 
 
 
 
 
 
 
 
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FIQUE LIGADO! 
 
Edição 23 STJ – CONCURSO DE CRIMES 
 
 
4) Não há crime único, podendo haver concurso formal, quando, no mesmo contexto 
fático, o agente incide nas condutas dos arts. 14 (porte ilegal de arma de fogode uso 
permitido) e 16 (posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito) da Lei n. 
10.826/2003. 
 
5) Não há crime único, podendo haver concurso material, quando, no mesmo contexto 
fático, o agente incide nas condutas dos arts. 14 (porte ilegal de arma de fogo de uso 
permitido) e 16 (posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito) da Lei n. 
10.826/2003. 
 
7) A apreensão de mais de uma arma de fogo, acessório ou munição, em um mesmo 
contexto fático, não caracteriza concurso formal ou material de crimes, mas delito 
único. 
 
 
 
 
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 CONCURSO DE PESSOAS 
 
 
6.1) CONCEITO DE CONCURSO DE PESSOAS 
Trata-se de contribuição entre dois ou mais agentes para o cometimento de 
uma infração penal. Ocorre quando duas ou mais pessoas, em conjugação de esforços, reúnem-se 
para a prática de um ou mais delitos. 
A doutrina utiliza também as expressões concurso de agentes e 
codelinquência. 
6.2) AUTORIA 
I) CONCEITO 
Para se compreender o instituto do concurso de pessoas, mostra-se 
imprescindível estabelecer o conceito de autoria criminal, já que repercutirá na identificação da 
conduta de cada agente na prática delituosa. 
Várias teorias buscam definir o conceito de autor, merecendo destaque duas 
posições apontadas pela doutrina: 
a) Teoria do domínio do fato 
De acordo com a teoria do domínio do fato, autor é quem tem o controle 
final do fato. É quem domina o decurso do crime e decide sobre sua prática, interrupção e 
circunstâncias. O partícipe não tem o domínio do fato, pois apenas coopera, induz e incita a prática 
do delito. 
Assim, autor é quem realiza a figura típica, mas também quem tem o controle 
da ação típica dos demais, dividindo-se entre “autor executor”, “autor intelectual” e “autor mediato”. 
O partícipe é aquele que contribui para o delito alheio, sem realizar a figura típica, nem tampouco 
comandar a ação. Assim, exemplificando, por essa teoria, o chefe de um grupo de justiceiros, que 
ordenou a execução, bem como o agente que diretamente matou a vítima são coautores. (NUCCI, 
2012, p. 384). 
b) Teoria restritiva 
Segundo essa teoria, autor é aquele que pratica a ação descrita no verbo 
nuclear do tipo penal, isto é, o que pratica o verbo nuclear do tipo: mata, subtrai, constrange, etc. 
Em síntese, autor é aquele que realiza a conduta descrita no tipo penal, ou 
seja, executa a ação consubstanciada no verbo núcleo do tipo. O partícipe, por sua vez, apenas 
coopera com o delito, induzindo, instigando ou auxiliando materialmente seu autor (ESTEFAM, 2010, 
p. 281). 
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Nesse sentido, quem aponta o revólver, exercendo a grave ameaça, e quem 
subtrai os bens da vítima são coautores do roubo, enquanto o motorista do carro que aguarda para 
dar fuga aos agentes é o partícipe (os dois primeiros praticaram o tipo do art. 157; o último apenas 
auxiliou) (NUCCI, 2013, p. 384). 
 
B) TEORIA ADOTADA 
Um setor respeitável da doutrina, sustenta que a teoria do domínio do fato 
deve ser aceita como solução aos casos envolvendo autoria mediata1. Ao tecer comentários sobre a 
autoria mediata, Bitencourt (2009, p. 453) assevera que: 
A teoria do domínio do fato molda com perfeição a possibilidade da figura 
do autor mediato. Todo o processo de realização da figura típica, segundo essa teoria, deve 
apresentar-se como obra da vontade reitora do “homem de trás”, o qual deve ter absoluto controle 
sobre o executor do fato. O autor mediato realiza a ação típica através de outrem, que atua sem 
culpabilidade. 
Todavia, para a maioria da doutrina2, a teoria restritiva é a aplicada pelo 
Código Penal. Na visão de NUCCI (2013, p. 385), a melhor teoria é a restritiva, ou seja, coautor é 
aquele que pratica, de algum modo, a figura típica, enquanto ao partícipe fica reservada a posição 
de auxílio material ou suporte moral (onde se inclui o induzimento, a instigação ou o comando) para 
a concretização do crime. Consegue-se, com isso, uma clara visão entre dois agentes distintos na 
realização do tipo penal – o que ingressa no modelo legal de conduta proibida e o que apoia, de 
fora, a sua materialização -, proporcionando uma melhor análise da culpabilidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 Autoria mediata, em síntese, ocorre quando o agente se vale de outra pessoa, que age sem dolo ou culpa, 
para a prática do delito. 
2 Guilherme de Souza Nucci; André Estefam; Fernando Capez, Aníbal Bruno, Mirabete, René Ariel Dotti, 
dentre outros. 
Assim, AUTOR é quem realiza a figura típica, isto é, quem executa o 
crime, enquanto o PARTÍCIPE é todo aquele que contribui de qualquer forma 
para a prática delituosa, induzindo, instigando ou auxiliando, sem executar, 
portanto, a ação descrita no verbo nuclear do tipo. 
 
 
 
 
 
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6.3) PARTICIPAÇÃO 
I) CONCEITO E FORMAS DE PARTICIPAÇÃO – Art. 31 
Conforme a teoria restritiva de autoria, partícipe é quem contribui para que 
o autor ou coautores realizem a conduta principal, ou seja, aquele que, sem praticar o verbo nuclear 
do tipo, concorre de algum modo para a produção do resultado. 
De acordo com a teoria do domínio do fato, participação é a contribuição 
dolosa – sem o domínio do fato – em um fato punível de outrem (PRADO, 2010, p. 463). 
Como regra, o partícipe responde pelo mesmo crime dos autores e coautores 
do delito e a pena em abstrato para todos é a mesma. É claro que, no momento da fixação da pena, 
o juiz deve levar em conta o grau de envolvimento de cada um no ilícito (culpabilidade). É até 
possível em certos casos que o partícipe receba pena mais alta do que o próprio autor do delito, 
como eventualmente no caso do mentor intelectual. (ESTEFAM; GONÇALVES, 2013, p. 443). 
 
A participação pode ser: 
A) Moral 
A determinação (ou induzimento) e a instigação são as formas de 
participação moral. 
 
A.1) Induzimento ou determinação 
Ocorre a determinação ou induzimento quando uma pessoa faz surgir na 
mente de outra a intenção delituosa. 
Ex: Rafa incute na mente de Iuri a ideia homicida contra Jonas. A 
característica da determinação é a inexistência da resolução criminosa na pessoa do autor principal. 
Se Iuri matar Jonas, Rafa responde por homicídio na condição de partícipe. 
 
A.2) Instigação 
Instigar é reforçar uma ideia já existente. O agente já a tem em mente, 
sendo apenas reforçada pelo partícipe. 
No caso do exemplo acima, Iuri já tinha em mente matar Jonas. Rafa apenas 
reforçou a ideia homicida. Rafa é partícipe do crime de homicídio, enquanto Iuri responde pelo crime 
na condição de autor. 
 
 
 
 
 
 
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B) Material 
Ocorre na forma de auxílio. Considera-se, assim, partícipe aquele que presta 
ajuda efetiva na preparação ou execução do delito. 
Auxilia na preparação quem fornece a arma ou informações úteis à realização 
do crime. Auxilia na execução quem permanece de atalaia, no sentido de avisar o autor da 
aproximação de terceiro, leva o ladrão em seu veículo ao local do furto, carrega a arma do homicida. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
II) NATUREZA JURÍDICA DA PARTICIPAÇÃO 
A participação é acessória a um fato principal. Significa que não se pode falar 
em participação sem que haja uma ação principal, ou seja, sem que alguém realize atos de execução 
de um crime consumado ou tentado.Como a conduta do partícipe não descrita no tipo penal, faz-se necessária 
uma norma de extensão que viabilize a adequação típica da conduta do partícipe à norma 
incriminadora. Trata-se de uma norma de ligação entre a conduta do partícipe e o tipo penal. E essa 
norma se encontra no artigo 29 do Código Penal, segundo o qual quem concorrer, de qualquer 
forma, para um crime por ele responderá. 
NÃO EXECUTA AÇÃO 
DESCRITA NO VERBO 
NUCLEAR DO TIPO 
FORMAS 
MORAL MATERIAL 
PARTÍCIPE 
AUXILIAR 
INDUZIR; 
INSTIGAR 
AUTOR executa a 
ação descrita no 
verbo nuclear do 
tipo: 
TEORIA 
RESTRITIVA 
 
 
 
 
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45 
Nesse sentido, o artigo 29 do Código Penal viabiliza que o agente que 
contribuiu para um resultado sem praticar a ação descrita no tipo penal seja enquadrado no crime 
praticado por conta de uma conduta principal (do autor). Assim, quem ajudou a matar não praticou 
a conduta descrita no art. 121 do Código Penal, mas, como concorreu para o seu cometimento, será 
alcançado pelo tipo do homicídio, graças à regra do art. 29. 
 
Uma vez atestada que a conduta do partícipe é acessória em relação à do 
autor, o ponto nevrálgico é atestar o grau de acessoriedade em relação à conduta principal, ou seja, 
definir a extensão da conduta principal para que haja participação punível. Existem diversas teorias 
acerca do assunto, destacando-se três. 
 
*Acessoriedade limitada: 
De acordo com essa teoria, a participação será punível se a conduta principal 
se revestir de tipicidade e antijuridicidade. Ou seja, o fato principal deve ser típico e ilícito. Não é 
necessário que o autor seja culpável. 
 
Assim, a participação exige, além da tipicidade do fato principal, a sua 
ilicitude. Em outras palavras, se a conduta for típica, mas praticada acobertada por uma excludente 
de ilicitude, não haverá participação punível. 
 
Ex: Leocádio instiga Bento a defender-se de uma agressão injusta que está 
sendo cometida por Tavinho. Leocádio e Bento não respondem pelo resultado lesivo produzido em 
Tavinho, pois agiram em situação de legítima defesa, fato considerado lícito pela legislação penal. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FATO 
PRINCIPAL 
FATO 
TÍPICO 
FATO 
ILÍCITO 
PRINCÍPIO DA 
ACESSORIEDADE 
LIMITADA 
DESNECESSÁRIO QUE AUTOR 
SEJA CULPÁVEL 
 
 
 
 
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46 
QUESTÃO 2 - VI EXAME OAB 
Hugo é inimigo de longa data de José e há muitos anos deseja matá-lo. Para conseguir seu intento, 
Hugo induz o próprio José a matar Luiz, afirmando falsamente que Luiz estava se insinuando para 
a esposa de José. Ocorre que Hugo sabia que Luiz é pessoa de pouca paciência e que sempre anda 
armado. Cego de ódio, José espera Luiz sair do trabalho e, ao vê-lo, corre em direção dele com um 
facão em punho, mirando na altura da cabeça. Luiz, assustado e sem saber o motivo daquela injusta 
agressão, rapidamente saca sua arma e atira justamente no coração de José, que morre 
instantaneamente. Instaurado inquérito policial para apurar as circunstâncias da morte de José, ao 
final das investigações, o Ministério Público formou sua opinio no seguinte sentido: Luiz deve 
responder pelo excesso doloso em sua conduta, ou seja, deve responder por homicídio doloso; Hugo 
por sua vez, deve responder como partícipe de tal homicídio. A denúncia foi oferecida e recebida. 
Considerando que você é o advogado de Hugo e Luiz, responda: 
a) Qual peça deverá ser oferecida, em que prazo e endereçada a quem? (Valor: 0,3) 
b) Qual a tese defensiva aplicável a Luiz? (Valor: 0,5) 
c) Qual a tese defensiva aplicável a Hugo? (Valor: 0,45) 
 
 
 
 
 
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47 
III) PARTICIPAÇÃO IMPUNÍVEL – Art. 31 
Para a participação ser punível, afigura-se imprescindível que o ato 
executório do crime tenha sido iniciado. 
 
Ex: Fabrício contrata Félix para matar Mafalda. Félix sai em busca de Mafalda 
e, ao avistá-la, apiedado, não dá início ao intento executório. Nesse caso, tanto Fabrício quanto Félix 
não respondem pelo delito de homicídio, pois sequer foi dado início ao ato executório. 
 
IV) PARTICIPAÇÃO POSTERIOR AO CRIME 
A participação em concurso de pessoas exige que a conduta acessória tenha 
sido praticada antes ou durante a execução do delito. 
 
A contribuição posterior à consumação do crime, conforme o caso, pode 
configurar o crime de favorecimento pessoal (art. 348 do CP) ou real (art. 349 do CP), além de 
outros... 
É claro que, se uma pessoa diz ao ladrão, antes de um furto, que se dispõe 
a comprar carro de determinada marca e modelo e realmente o faz após a subtração, ela é partícipe 
do furto porque, antes do delito, incentivou o furtador – embora tenha recebido o bem 
posteriormente. Ao contrário, aquele que recebe o veículo furtado sem ter de qualquer modo 
incentivado anteriormente o crime incorre em delito de receptação. (ESTEFAM; GONÇALVES, 2013, 
p. 445). 
 
QUESTÃO 01 – IX EXAME OAB 
Raimundo, já de posse de veículo automotor furtado de concessionária, percebe que não tem onde 
guardá-lo antes de vendê-lo para a pessoa que o encomendara. Assim, resolve ligar para um grande 
amigo seu, Henrique, e após contar toda sua empreitada, pede-lhe que ceda a garagem de sua casa 
para que possa guardar o veículo, ao menos por aquela noite. Como Henrique aceita ajudá-lo, 
Raimundo estaciona o carro na casa do amigo. Ao raiar do dia, Raimundo parte com o veículo, que 
seria levado para o comprador. 
Considerando as informações contidas no texto responda, justificadamente, aos itens a seguir. 
A) Raimundo e Henrique agiram em concurso de agentes? (Valor: 0,75) 
B) Qual o delito praticado por Henrique? (Valor: 0,50) 
 
 
 
 
 
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48 
 
6.4) TEORIA UNITÁRIA (OU MONISTA) 
 
Todos os que contribuem para a prática do delito cometem o mesmo crime, 
não havendo distinção quanto ao enquadramento típico entre autor e partícipe. 
Comentando sobre a teoria unitária, NUCCI (2013, p. 389) leciona que 
“havendo pluralidade de agentes, com diversidade de condutas, mas provocando-se apenas um 
resultado, há somente um delito. Nesse caso, portanto, todos os que tomam parte na infração penal 
cometem idêntico crime. É a teoria adotada, como regra, pelo Código Penal (Exposição de Motivos, 
item 25)”. 
Daí decorre o nome da teoria: todos respondem por um único crime (Teoria 
unitária). 
6.5) REQUISITOS DO CONCURSO DE PESSOAS 
 
A) PLURALIDADE DE CONDUTAS 
Trata-se de requisito elementar do concurso de pessoas: a concorrência de 
mais de uma pessoa na execução de uma infração penal. 
Assim, para que haja concurso de pessoas, exige-se que cada um dos 
agentes tenha realizado ao menos uma conduta relevante. Pode ser em coautoria, onde há duas 
condutas principais; ou autoria e participação, onde há uma conduta principal e outra acessória, 
praticadas, respectivamente, por autor e partícipe. 
 
P
A
R
T
IC
IP
A
Ç
Ã
O
PUNÍVEL QUANDO O AUTOR DEU 
INÍCIO À EXECUÇÃO DO CRIME
ART. 31 - O AJUSTE, A DETERMINAÇÃO OU 
INSTIGAÇÃO E O AUXÍLIO, SALVO 
DISPOSIÇÃO EXPRESSA EM CONTRÁRIO, 
NÃO SÃO PUNÍVEIS, SE O CRIME NÃO 
CHEGA, PELO MENOS, A SER TENTADO.
CONDUTA ACESSÓRIA TEM QUE 
SER PRATICADA ANTES OU 
DURANTE À AÇÃO DELITUOSA
CONTRIBUIÇÃO POSTERIOR AO CRIME PODE 
CONFIGURAR FAVORECIMENTO PESSOAL 
(ART. 348 CP) OU FAVORECIMENTO REAL 
(ART. 349 CP)
PUNÍVEL QUANDO A CONDUTA 
PRINCIPAL FOR TÍPICA E ILÍCITA
NÃO É NECESSÁRIO QUE A CONDUTA SEJACULPÁVEL
 
 
 
 
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49 
B) RELEVÂNCIA CAUSAL DAS CONDUTAS 
Para justificar a punição de duas ou mais pessoas em concurso, afigura-se 
necessário que a conduta do agente tenha efetivamente contribuído, ainda que minimamente, para 
a produção do resultado. 
Em outras palavras, se a conduta não tem relevância causal, isto é, se não 
contribuiu em nada para a produção do resultado, não pode ser considerada como integrante do 
concurso de pessoas. 
A simples manifestação de adesão a uma prática delituosa não configura 
participação. 
Assim, se Tereza Cristina simplesmente diz que vai concorrer no homicídio a 
ser cometido por Ferdinand não há participação. Agora, se Tereza Cristina instiga Ferdinand a matar, 
ocorrendo pelo menos tentativa de homicídio, existe participação. 
De outro lado, no exemplo daquele que, querendo participar de um 
homicídio, empresta uma arma de fogo ao executor, que não a utiliza e tampouco se sente 
estimulado ou encorajado com tal empréstimo a executar o delito. Aquele não pode ser tido como 
partícipe pela simples e singela razão de que o seu comportamento foi irrelevante, isto é, sem 
qualquer eficácia causal. (BITENCOURT, 2011, p. 485). 
 
C) DO LIAME SUBJETIVO E NORMATIVO (Vínculo subjetivo e normativo entre os 
participantes) 
Exige-se homogeneidade de elemento subjetivo-normativo. Significa que 
autor e partícipe devem agir com o mesmo elemento subjetivo (dolo+dolo) ou normativo 
(culpa+culpa). 
As várias condutas não são suficientes para a existência da participação ou 
coautoria. Imprescindível é o elemento subjetivo, pelo qual cada concorrente tem consciência de 
contribuir para a realização do resultado. 
Os agentes devem atuar conscientes de que participam de crime comum, 
ainda que não tenha havido acordo prévio de vontades. A ausência desse elemento psicológico 
inviabiliza o concurso de pessoas, ensejando condutas isoladas e autônomas. 
O simples conhecimento da realização de uma infração penal ou mesmo a 
concordância psicológica caracterizam, no máximo, conivência, que não é punível, a título de 
participação, se não constituir, pelo menos, alguma forma de contribuição causal, ou, então, 
constituir, por si mesma, uma infração típica. Tampouco será responsabilizado com partícipe quem, 
 
 
 
 
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tendo ciência da realização de um delito, não o denuncia às autoridades, salvo se tiver o dever 
jurídico de fazê-lo. (BITENCOURT, 2011, p. 485). 
Assim, não há participação dolosa em crime culposo. 
Ex. Anastácio, desejando matar Grizelda, sua paciente, alcança a Januária, 
enfermeira contratada para cuidar da velha senhora, uma substância dizendo ser medicamento, 
quando, na verdade, tratava-se de veneno. Mesmo percebendo a dosagem inadequada e a coloração 
diferente, a enfermeira, sem maiores cautelas, de forma negligente, ministra a substância à 
paciente, causando-lhe a morte. Não há, no caso, concurso de pessoas, por ausência de vínculo 
subjetivo, já que Anastácio agiu com dolo e Januária a título de culpa. Há, portanto, dois delitos: 
homicídio doloso em relação a Anastácio; homicídio culposo em relação a Janária. 
 
Da mesma forma, não há participação culposa em crime doloso. 
Ex. médico, negligentemente, entrega a uma enfermeira um veneno, 
supondo-o substância medicinal. Ela, percebendo o engano, mas com intenção de matar o doente, 
ministra-lhe a substância fatal. Há dois crimes: homicídio culposo por parte do médico; doloso em 
relação à enfermeira. (JESUS, 2010, p. 464). 
 
Importante lembrar que a lei não requer acordo prévio entre agentes, sendo 
suficiente a consciência por parte das pessoas que de algum modo contribuem com o fato. 
(ESTEFAM, 2010, p. 280). 
Ex. uma empregada doméstica, percebendo a presença de um ladrão, para 
vingar-se do patrão, deliberadamente deixa a porta aberta, facilitando a prática do furto. Há 
participação e, não obstante, o ladrão desconhecia a colaboração da empregada. Por consequência, 
a empregada também responderá pelo crime de furto. 
 
Vínculo normativo guarda relação com os crimes culposos. 
 
D) IDENTIDADE DE INFRAÇÃO PARA TODOS OS PARTICIPANTES 
Nos termos do artigo 29, todos que concorrem para o crime respondem pelo 
mesmo delito. 
Ex: Alguém planeja a realização da conduta típica, ao executá-la, enquanto 
um desvia a atenção da vítima, outro lhe subtrai os pertences e ainda um terceiro encarrega-se de 
evadir-se do local com o produto do furto. 
 
 
 
 
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É uma exemplar divisão de trabalho constituída de várias atividades, 
convergentes, contudo, a um mesmo objetivo típico: subtração de coisa alheia móvel. Respondem 
todos por um único tipo penal, qual seja, furto. 
 
 
 
6.6) CONCURSO EM CRIMES OMISSIVOS 
a) Participação por omissão 
A participação por omissão ocorre quando o agente tem o dever jurídico de 
evitar o resultado, ao tomar ciência de que terceira pessoa pretende praticar um crime, omite-se, 
mesmo podendo evitar a execução do delito, admitindo que o resultado criminoso se produza. 
Ex: Um policial visualizado uma pessoa desconhecida estuprando uma 
mulher. Mesmo sendo possível evitar a execução do delito e ciente do seu dever de agir, o policial 
conscientemente se omite, admitindo à conduta do estuprador. O desconhecido será autor do delito 
de estupro e o policial partícipe por omissão, pois tinha o dever jurídico de impedir o resultado (art. 
13, § 2º, “a”). 
 
Conforme leciona Nucci (2013, p. 391), “pode ocorrer a participação por 
omissão em um crime, desde que a pessoa que se omitiu tivesse o dever de evitar o resultado. 
Portanto, o bombeiro que, tendo o dever jurídico de agir para combater o fogo, omite-se 
deliberadamente, pode responder como partícipe do crime de incêndio”. 
REQUISITOS DO 
CONCURSO DE 
PESSOAS 
(cumulativos)
PLURALIDADE DE 
CONDUTAS
RELEVÂNCIA 
CAUSAL
LIAME SUBJETIVO 
E NORMATIVO
MESMA 
FINALIDADE
DOLO + DOLO
DESNECESSÁRIO 
AJUSTE PRÉVIO
IDENTIDADE DE 
INFRAÇÃO PARA 
TODOS OS 
PARTICIPANTES
 
 
 
 
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b) Coautoria e participação em crimes omissivos 
A coautoria e a participação em crime omissivo não se confunde com a 
participação por omissão. Na participação por omissão, o agente, tendo o dever jurídico de agir para 
evitar o resultado (art. 13, §2º), omite-se intencionalmente, admitindo a execução e consumação 
do delito; na coautoria ou participação em crime omissivo, o agente, tendo o dever jurídico de agir 
e evitar o resultado, adota postura ativa na produção do resultado, colaborando na prática delituosa 
induzindo, auxiliando ou instigando outrem a descumprir a conduta exigida no tipo legal. 
Em outras palavras, na participação por omissão, o agente que detém o 
dever jurídico de impedir o resultado atua de forma omissiva no crime praticado por terceira pessoa. 
Com relação aos crimes omissivos impróprios, afigura-se perfeitamente 
possível tanto a coautoria quanto a participação. Nesse sentido, destaca-se o exemplo sugerido por 
ESTEFAM e GONÇALVES (2013, p. 447): 
Quando pai e mãe combinam não alimentar o filho de pouca idade para que 
ele morra de fome, há coautoria, pois ambos têm o dever jurídico de evitar o resultado e este só 
ocorre em decorrência da omissão recíproca. De nada adiantaria, para alcançar o fim almejado, que 
um deles deixasse de alimentar o filho, mas o outro o fizesse. Haverá participação, por sua vez, por 
parte daquele que não tem o deverjurídico de evitar o resultado, mas que incentiva o detentor 
deste dever a se omitir. 
 
QUESTÃO 4 – X EXAME 
Erika e Ana Paula, jovens universitárias, resolvem passar o dia em uma praia paradisíaca e, de difícil 
acesso (feito através de uma trilha), bastante deserta e isolada, tão isolada que não há qualquer 
estabelecimento comercial no local e nem mesmo sinal de telefonia celular. As jovens chegam 
bastante cedo e, ao chegarem, percebem que além delas há somente um salva-vidas na praia. Ana 
Paula decide dar um mergulho no mar, que estava bastante calmo naquele dia. Erika, por sua vez, 
sem saber nadar, decide puxar assunto com o salva-vidas, Wilson, pois o achou muito bonito. 
Durante a conversa, Erika e Wilson percebem que têm vários interesses em comum e ficam 
encantados um pelo outro. Ocorre que, nesse intervalo de tempo, Wilson percebe que Ana Paula 
está se afogando. Instigado por Erika, Wilson decide não efetuar o salvamento, que era 
perfeitamente possível. Ana Paula, então, acaba morrendo afogada. 
Nesse sentido, atento(a) apenas ao caso narrado, indique a responsabilidade jurídico-penal de Erika 
e Wilson. (Valor: 1,25) 
 
 
 
 
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O examinando deve fundamentar corretamente sua resposta. A simples menção ou transcrição do 
dispositivo legal não pontua. 
 
 
6.7) PUNIBILIDADE DO CONCURSO DE PESSOAS E COMUNICABILIDADE DAS 
ELEMENTARES E CIRCUNSTÂNCIAS DO CRIME 
A ressalva “na medida da sua culpabilidade” feita aos limites da culpabilidade 
no art. 29 diz respeito somente à graduação da pena para os agentes que praticaram o mesmo 
crime. 
Portanto, todos respondem pelo mesmo crime (teoria monista ou unitária). 
Todavia, a unidade criminosa não importa necessariamente na aplicação de pena idêntica a todos 
os que contribuíram para a prática do crime, pois cada um deverá responder na medida da sua 
culpabilidade. 
 
I) PUNIBILIDADE DO CONCURSO DE PESSOAS 
A) PARTICIPAÇÃO DE MENOR IMPORTÂNCIA – ART. 29, §1º 
A participação aqui referida diz respeito exclusivamente ao partícipe. Isso 
porque, ainda que tenha sido pequena, a contribuição do coautor não pode ser considerada de 
menor importância, uma vez que atuou diretamente na execução do crime. A sua culpabilidade, 
naturalmente superior à de um simples partícipe, será avaliada nos termos do art. 29, caput, do CP, 
e a pena a ser fixada obedecerá aos limites abstratos previstos pelo tipo penal infringido. 
O partícipe que houver tido “participação de menor importância” poderá ter 
sua pena reduzida de um sexto a um terço, nos termos do art. 29, § 1º. 
Trata-se, pois, de uma causa de diminuição da pena. 
B) DA COOPERAÇÃO DOLOSAMENTE DISTINTA OU DESVIOS SUBJETIVO ENTRE OS 
PARTICIPANTES – ART. 29, § 2º 
O agente que desejava praticar um delito, sem a condição de prever a 
concretização de crime mais grave, deve responder pelo que pretendeu fazer, não se podendo a ele 
imputar outra conduta indesejada, sob pena de se estar tratando de responsabilidade objetiva. 
Esse dispositivo cuida da hipótese de o autor principal cometer delito mais 
grave que o pretendido pelo partícipe ou coautor. 
Ex. “A” determina “B” a espancar “C”. “B” mata “C”. Segundo o art. 29, § 
2º, “A” responde por crime de lesão corporal, cuja pena deve ser aumentada até metade se a morte 
da vítima lhe era previsível. 
 
 
 
 
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De fato, a solução dada pelo CP leva à punição de “A” pelo delito de lesões 
corporais, que foi o crime desejado, cuja pena será elevada até a metade se o homicídio for 
previsível. 
II) COMUNICABILIDADE DAS ELEMENTARES E CIRCUNSTÂNCIAS DO CRIME 
Via de regra, as circunstâncias e condições pessoais relacionadas a um dos 
agentes não se comunica aos outros que contribuíram para a prática delituosa. 
Todavia, há determinadas circunstâncias ou condições pessoais que 
compõem, integram o tipo penal, figurando, no caso, como verdadeira elementar no tipo penal. 
Nesse caso, quando também constituem o tipo penal, ou seja, figuram como elementares do tipo 
penal, as circunstâncias ou condições pessoais relacionadas a um dos sujeitos se comunicam aos 
demais coautores ou partícipes. 
Ex: “A”, funcionário público, comete um crime de peculato (art. 312), com a 
participação de “B”, não funcionário público. A condição pessoal (funcionário público) é elementar 
do crime de peculato, comunicando-se, portanto, ao agente que não é funcionário público. Logo, os 
dois respondem por crime de peculato. 
 
De outro lado, as circunstâncias objetivas alcançam o partícipe ou coautor 
se, sem haver praticado o fato que as constitui, houveram integrado o dolo ou culpa. 
Ex: “A” instiga “B” a praticar homicídio contra “C”. “B”, para a execução do 
crime, emprega asfixia. O partícipe não responde por homicídio qualificado (art. 121, § 2º, III, 4ª 
PARTICIPAÇÃO DE 
MENOR IMPORTÂNCIA
Exclusivamente ao 
partícipe
Causa de diminuição de 
pena de 1/6 a 1/3
COOPERAÇÃO 
DOLOSAMENTE DISTINTA
Autor comete delito 
mais grave que o 
pretendido pelo 
partícipe ou coautor
Aumenta-se até a 
metade, na hipótese de 
ter sido previsível o 
resultado mais grave.
 
 
 
 
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55 
figura), a não ser que o meio de execução empregado pelo autor principal tenha ingressado na 
esfera de seu conhecimento. 
 
Conforme ESTEFAM (2010, p. 285), da regra contida no artigo 30 do Código 
Penal podem-se extrair duas conclusões: 
a) Todas as elementares do crime, objetivas, normativas ou subjetivas, 
comunicam-se a todos os agentes (se por eles conhecidas). Assim, por exemplo, a condição de 
funcionário público, elementar do crime de peculato (CP, art. 312), estende-se ao coautor ou 
partícipe que não ostente tal qualidade, fazendo com que ele, embora particular, responda pelo 
delito. 
b) As circunstâncias da infração penal comunicam-se apenas quando 
objetivas (e forem conhecidas pelos demais concorrentes). Por esse motivo, o emprego de arma por 
um dos agentes no crime de roubo provoca, com relação a todos, a incidência da causa de aumento 
de pena daí decorrente (CP, art. 157, § 2º, I). Se subjetivas, serão incomunicáveis. Exemplo: o 
motivo egoístico, que qualifica o crime de dano (CP, art. 163, parágrafo único, IV, primeira figura), 
não se comunica aos demais concorrentes que tenham colaborado com o fato por outros motivos. 
 
QUESTÃO 3 – XIX EXAME 
Sabendo que Vanessa, uma vizinha com quem nunca tinha conversado, praticava diversos furtos no 
bairro em que morava, João resolve convidá-la para juntos subtraírem R$ 1.000,00 de um cartório 
do Tribunal de Justiça, não contando para ela, contudo, que era funcionário público e nem que 
exercia suas funções nesse cartório. Praticam, então, o delito, e Vanessa fica surpresa com a 
facilidade que tiveram para chegar ao cofre do cartório. Descoberto o fato pelas câmeras de 
segurança, são os dois agentes denunciados, em 10 de março de 2015, pela prática do crime de 
peculato. João foi notificado e citado pessoalmente, enquanto Vanessa foi notificada e citada por 
edital, pois não foi localizada em sua residência. A família de Vanessa constituiu advogado e o 
processo prosseguiu, mas dele a ré não tomou conhecimento. Foi decretada a revelia de Vanessa, 
que não compareceu aos atos processuais. Ao final, os acusados foram condenados pela prática do 
crime previsto no Art. 312 do Código Penal à pena de 02 anos de reclusão. Ocorre que, na verdade, 
Vanessa estava presa naquela mesma Comarca, desde 05 de março de 2015, em razão de prisão 
preventiva decretada em outrosdois processos. Ao ser intimada da sentença, ela procura você na 
condição de advogado(a). Considerando a hipótese narrada, responda aos itens a seguir. 
A) Qual argumento de direito processual poderia ser apresentado em favor de Vanessa em sede de 
apelação? Justifique. (Valor: 0,65) 
 
 
 
 
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B) No mérito, foi Vanessa corretamente condenada pela prática do crime de peculato? Justifique. 
(Valor: 0,60) 
 
Obs.: o mero “sim” ou “não”, desprovido de justificativa ou mesmo com a indicação de justificativa 
inaplicável ao caso, não será pontuado. 
 
 
 
 
 
 
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57 
PROCESSO PENAL 
 
 
 DAS NULIDADES 
 
 
7.1 - TEORIA GERAL DAS NULIDADES: 
 
a) INTRODUÇÃO 
 
Podemos afirmar que no processo penal há uma grande tensão existente em 
compatibilizar o direito do Estado-acusação perseguir a responsabilização penal do indivíduo que, 
supostamente, violou a lei penal e o dever do Estado, imposto pela Constituição da República, de 
garantir aos acusados, de uma maneira geral, a observância do devido processo legal, do 
contraditório, da ampla defesa, dentre outras garantias fundamentais. 
 
Tal tensionamento é bastante perceptível no tema de nulidades, uma vez 
que há uma tendência natural da acusação e da jurisprudência em relativizar algumas violações a 
dispositivos inerentes à lei processual, havendo um verdadeiro descompasso entre o que preceitua 
a doutrina, à luz do que prega a Constituição da República, e a jurisprudência dominante. 
 
Em razão disso, o estudo da teoria das nulidades é bastante tormentoso, 
uma vez que a ausência de uma interpretação uniforme aliada ao casuísmo jurisprudencial e a falta 
de uma atualização legislativa em consonância com o sistema processual adotado pela Constituição 
dificultam sobremaneira a análise das invalidades processuais. 
 
B) SISTEMA DA TIPICIDADE DOS ATOS PROCESSUAIS 
 
 Em relação ao sistema processual adotado pelo legislador no que 
concerne aos atos processuais, bem como as consequências jurídicas advindas de eventual não-
observância do modelo padrão estipulado pela lei processual, mister elencar o preciso ensinamento 
de Heráclito Antônio Mossin (2005, p. 46-47), abordando o sistema adotado pelo legislador 
processual brasileiro: 
 
07
 
 
 
 
 
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58 
 O processo, sob o quadrante formal, é um conjunto de atos 
processuais, cuja coordenação ou sucessão encadeada é feita por intermédio do chamado 
procedimento. 
Para que esses atos que compõem o procedimento produzam seus efeitos 
jurídicos dentro e fora do processo e para que a ordem jurídica não pereça, necessário se torna que 
sejam realizados segundo as formas preconizadas pela lei processual penal. Em circunstâncias desse 
matiz, cumpre ao legislador estabelecer a constituição intrínseca e extrínseca do ato processual, 
enfim o modelo segundo o qual deve ser praticado: Forma dat est rei. A isso se chama de tipicidade 
dos atos processuais 
 
 No tocante ao chamado sistema da tipicidade dos atos processuais ou 
legalidade dos atos processuais, podemos afirmar que o legislador construiu um modelo pelo qual o 
juiz, os assistentes e as partes devem se ajustar ao modelo legal, ou seja, todos aqueles que 
participam da relação processual devem pautar o seu agir em conformidade com aquilo que a lei 
processual determina. 
 
 Desta feita, quando há uma inadequação ao modelo proposto pela lei 
no tipo processual em comento, haverá a atipicidade de tal ato processual, sendo que a 
consequência jurídica variará de acordo com o grau de violação respectivo, podendo ensejar uma 
mera irregularidade sem qualquer espécie de sanção processual ou até mesmo acarretar a 
inexistência do ato, por não conter os requisitos mínimos de formação. 
 
C) GRAUS DE ATIPICIDADE 
 
De uma maneira geral, a doutrina aponta os seguintes graus de violação: 
 
 
I - ATIPICIDADE IRRELEVANTE – Neste caso a consequência jurídica será a mera irregularidade, 
não ensejando sanção processual específica, como por exemplo, no caso de a defesa ou a acusação 
oferecer as razões da Apelação fora do prazo estabelecido pelo artigo 600 do CPP, uma vez que já 
interpôs o aludido recurso, podendo o Tribunal respectivo conhecer e julgá-lo, inclusive sem as 
respectivas razões. 
 
 
 
 
 
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II – ATIPICIDADE MUITO INTENSA – Neste caso a consequência jurídica será a própria 
inexistência do ato processual, uma vez que a atipicidade em questão atingiu os requisitos mínimos 
de formação do ato processual em si, não se situando no plano da validade e sim no plano da 
existência, como, por exemplo, no caso de uma sentença exarada por pessoa não investida de 
jurisdição ou alegações finais escritas assinadas somente pelo estagiário do escritório de advocacia. 
 
III- ATIPICIDADE ATINGINDO NORMA DE INTERESSE PÚBLICO – Neste caso, haverá a 
nulidade absoluta, restando o prejuízo presumido em razão da natureza da norma violada. 
 
IV – ATIPICIDADE ATINGINDO NORMA QUE ATENDA INTERESSE DAS PARTES – Neste 
caso haverá a nulidade relativa, devendo a parte comprovar o prejuízo, sob pena de convalidação 
ou sanatória do ato. 
 
7.2) CONCEITO DE NULIDADE 
Nulidade é o vício que contamina determinado ato processual, praticado sem 
a observância da forma prevista em lei, podendo invalidar o ato ou o processo, no todo ou em parte. 
 
7.3) NULIDADE ABSOLUTA E RELATIVA 
a) nulidades absolutas: 
São aquelas que devem ser proclamadas pelo magistrado, de ofício ou a 
requerimento de qualquer das partes, porque produtoras de nítidas infrações ao interesse público 
na produção do devido processo legal. 
Ex.: não conceder o juiz ao réu ampla defesa, cerceando a atividade do seu 
advogado 
São nulidades insanáveis, que jamais precluem. O prejuízo da parte é 
presumido. 
A única exceção é a Súmula 160 do STF: “É nula a decisão do tribunal que 
acolhe, contra o réu, nulidade não arguida no recurso da acusação, ressalvados os casos de recurso 
de ofício.” 
c) nulidades relativas: 
São aquelas que somente serão reconhecidas caso arguidas pela parte 
interessada, demonstrando o prejuízo sofrido pela inobservância da formalidade legal prevista para 
ato realizado. 
 
 
 
 
 
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7.4) VÍCIOS PROCESSUAIS – art. 564 
 
I) JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA – ART. 564, I 
a) Incompetência 
A competência absoluta (em razão da matéria e de foro privilegiado) não 
admite prorrogação; logo, se infringida, é de ser reconhecido o vício como nulidade absoluta, 
b) Suspeição 
Se houver suspeição do juiz, caberá às partes, se o próprio Magistrado não 
se abstiver de funcionar no feito, argui-la, nos termos do art. 98 do CPP. Reconhecida a suspeição, 
ficarão nulos todos os atos (probatórios e decisórios), como estabelece o art. 101 do CPP. Os motivos 
legais de suspeição estão elencados no art. 254 do CPP. 
 
II) ILEGITIMIDADE DA PARTE (ART. 564, II) 
No inciso II, erige-se à categoria de nulidade a ilegitimidade de parte. Em se 
tratando de ilegitimidade do representante da parte, a sanabilidade poderá ocorrer antes da 
sentença, com a simples ratificação dos atos processuais. 
 
III) FALTA DE ATOS ESSENCIAIS (FALTA DE FÓRMULAS OU TERMOS) – Art. 564, III 
Há, no processo, atos considerados essenciais, imprescindíveis para a 
validade da relação processual. São assimconsiderados porque a omissão (do ato) de qualquer 
deles é nulidade absoluta. 
São atos estruturais, ou essenciais, os alinhados no inciso III do art. 564. 
Faz-se exceção àqueles elencados nas letras “d” e “e”, segunda parte, e, finalmente, “g” e “h” desse 
mesmo inciso. O próprio legislador admitiu a sanabilidade desses atos, nos termos do art. 572. 
O inciso IV do art. 564 cuida da omissão da formalidade que constitua 
elemento essencial do ato. 
 
a) Denúncia ou queixa e a representação (art. 564, III, “a”) 
A falta de denúncia ou de queixa impossibilita o início da ação penal, razão 
pela qual este inciso, na realidade, refere-se à ausência das formulas legais previstas para essas 
peças processuais. Uma denúncia ou queixa formulada sem os requisitos indispensáveis (art. 41, 
CPP), certamente é nula. 
* Representação: 
 
 
 
 
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A falta de representação pode gerar nulidade, pois termina provocando 
ilegitimidade para o órgão acusatório agir. Entretanto, é possível convalidá-la, se dentro do prazo 
decadencial. 
 
b) Exame de corpo de delito – art. 564, III, “b” 
Quando o crime deixa vestígios, é indispensável a realização do exame de 
corpo de delito, direto ou indireto, conforme preceitua o art. 158 deste Código. 
Assim, havendo um caso de homicídio, por exemplo, sem laudo 
necroscópico, nem outra forma válida de produzir a prova de existência da infração penal, deve ser 
decretada a nulidade do processo. Trata-se de nulidade absoluta. 
 
c) Defesa do réu – art. 564, III, “c” 
Preceitua a Constituição Federal que “aos litigantes, em processo judicial ou 
administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os 
meios e recursos a ela inerentes” (art. 5º, LV). 
Nessa esteira, o Código de Processo Penal prevê que “nenhum acusado, 
ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado sem defensor” (art. 261). Assim, a falta 
de defesa é motivo de nulidade absoluta. 
c.1) Não nomeação de defensor dativo: 
É caso de nulidade absoluta. 
c.2) Ausência de defesa ou deficiência de defesa: 
Súmula 523 do STF: “ No processo penal, a falta de defesa constitui nulidade 
absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu”. 
d) Falta de Intervenção do Ministério Público – art. 564, III, “d” 
É causa de nulidade se o representante do Ministério Público não interferir 
nos feitos por ele intentados (ação pública), bem como naqueles que foram propostos pela vítima, 
em atividade substitutiva do Estado-acusação (ação privada subsidiária da pública) e nas ações 
privadas. 
e) Falta ou nulidade da citação do réu para se ver processar (Ampla defesa e 
contraditório e interrogatório) – art. 564, III, “e” 
e.1) Citação 
Se o réu não for citado ou se a citação for feita em desacordo com as normas 
processuais, prejudicando ou cerceando o réu, é motivo para anulação do feito a partir da ocorrência 
do vício. Trata-se de nulidade absoluta. 
 
 
 
 
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A falta ou a nulidade da citação estará sanada desde que o interessado 
compareça antes de o ato consumar-se (art. 570). 
Porém, haverá nulidade insanável se a falta de citação prejudicar a defesa 
do acusado, não sendo possível a convalidação do vício apenas pelo comparecimento do réu ao ato. 
e.2) Interrogatório – art. 564, III, “e” 
O interrogatório, sendo ato fundamental – mesmo que não imprescindível -, 
deve sempre ser realizado quando o acusado estiver presente, em qualquer momento do 
procedimento, a fim de que ele, no exercício de sua defesa pessoal, possa apresentar diretamente 
a sua versão a respeito do fato, influindo sobre o convencimento do juiz. 
Por isso, o CPP, estatui, no artigo 564, III, “e”, que há nulidade na falta de 
interrogatório do réu presente. Cuida-se de nulidade insanável. 
e.3) Concessão de prazos à acusação e à defesa: 
Ao longo da instrução, vários prazos para manifestações e produção de 
provas são concedidos às partes. Deixar de fazê-lo pode implicar um cerceamento de acusação ou 
de defesa, resultando em nulidade relativa, ou seja, se houver prejuízo demonstrado. 
f) Sentença de pronúncia – art. 564, III, “f” 
- Com a abolição do libelo, a alínea “f” fica restrita à pronúncia. 
g) Intimação do réu para a sessão de julgamento pelo Tribunal do Júri – art. 564, III, 
“g” 
Tornou-se possível a realização do julgamento em plenário do Tribunal do 
Júri, mesmo estando o réu ausente (art. 457). Entretanto, é direito do acusado ter ciência de que 
se realizará a sessão, podendo exercer o seu direito de comparecimento. Logo, a falta de intimação 
pode gerar nulidade, porém relativa. 
Por outro lado, se o acusado, ainda que não intimado, comparecer para a 
sessão, supera-se a falta de intimação, pois a finalidade da norma processual foi atingida, que é 
permitir sua presença diante do júri. 
h) Intimação de testemunhas - art. 564, III, “h” 
Com a abolição do libelo, as partes poderão arrolar suas testemunhas, 
máximo 5 para cada uma das partes, conforme dispõem os arts. 422 e 423 do CPP. 
Se não forem intimadas e, sem embargo, comparecerem, a nulidade será 
considerada sanada, nos termos do art. 572. Não comparecendo, por não terem sido intimadas, a 
nulidade é absoluta. 
i) Instalação da sessão do júri – art. 564, III, “i” 
 
 
 
 
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Trata-se de norma cogente, implicando nulidade absoluta a instalação dos 
trabalhos, no Tribunal do Júri, com menos de quinze jurados. 
 
j) Incomunicabilidade dos jurados – art. 564, III, “j” 
É causa de nulidade absoluta a comunicação dos jurados, entre si, sobre os 
fatos relacionados ao processo, ou com o mundo exterior – pessoas estranhas ao julgamento -, 
sobre qualquer assunto. 
k) Inexistência dos quesitos e suas respostas – art. 564, III, “k” 
Súmula 156 do STF: “ É absoluta a nulidade do julgamento pelo júri, por 
falta de quesito obrigatório”. 
l) Acusação e defesa no julgamento pelo Tribunal do Júri – art. 564, III, “l” 
m) Ausência da sentença – art. 564, III, “m” 
n) Recurso de oficio – art. 564, III, “n” 
Na verdade, cuida-se do duplo grau de jurisdição necessário. Em 
determinadas hipóteses, impôs a lei que a questão, julgada em primeiro grau, seja obrigatoriamente 
revista por órgão de segundo grau. A importância do tema faz com que haja dupla decisão a respeito. 
Ex: a sentença concessiva de habeas corpus (art. 574, I). o desrespeito a 
esse dispositivo faz com que a sentença não transite em julgado, implicando a nulidade absoluta 
dos atos que vierem a ser praticados após a decisão ter sido proferida. Caso a parte interessada 
apresente recurso voluntário, supre-se a falta do recurso de ofício. 
o) Intimação para recurso – art. 564, III, “o” 
As partes têm direito a recorrer de sentenças e despachos, quando a lei 
prevê a possibilidade, motivo pelo qual devem ter ciência do que foi decidido. Omitindo-se a 
intimação, o que ocorrer, a partir daí, é nulo, por evidente cerceamento de acusação ou de defesa, 
conforme o caso. 
 
 
IV) REGULARIZAÇÃO DA FALTA OU NULIDADE DA CITAÇÃO, INTIMAÇÃO OU 
NOTIFICAÇÃO – ART. 570 
Estabelece o art. 570 do CPP que o comparecimento do interessado, ainda 
que somente com o fim de arguir a irregularidade, sana a falta ou nulidade da citação, intimação ou 
notificação. 
Exemplo de como já foi cobrado pela FGV: 
 
 
 
 
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Enunciado da Peça XXII EXAME 
O magistrado concedeu prazo paraas partes se manifestarem em alegações finais por memoriais. O Ministério 
Público requereu a condenação nos termos da denúncia. O advogado de Leonardo, contudo, renunciou aos 
poderes, razão pela qual, de imediato, o magistrado abriu vista para a Defensoria Pública apresentar alegações 
finais. 
Gabarito Comentado: 
No conteúdo das Razões Recursais, preliminarmente, deveria o advogado alegar a nulidade da sentença, devendo 
os atos desde a apresentação das alegações finais pela defesa serem anulados. Isso porque Leonardo tinha 
advogado constituído nos autos que veio a renunciar. Diante disso, deveria o magistrado intimar o réu, que estava 
preso, para informar se tinha interesse em constituir novo advogado ou ser assistido pela Defensoria Pública. A 
decisão do juiz de, de imediato, encaminhar os autos para Defensoria Pública viola o princípio da ampla defesa 
na vertente da defesa técnica. Certamente houve prejuízo, pois as Alegações Finais foram apresentadas sem 
qualquer contato do Defensor com o acusado e este foi condenado. 
Distribuição dos Pontos 
Preliminarmente: 
Nulidade da sentença ou de todos os atos processuais desde as alegações finais apresentadas pela Defensoria 
Pública (0,25), tendo em vista que não houve intimação do réu para manifestar interesse em indicar novo 
advogado OU tendo em vista que houve prejuízo para ampla defesa (0,15). 
 
QUESTÃO 2 – XXII EXAME OAB 
Em inquérito policial, Antônio é indiciado pela prática de crime de estupro de vulnerável, figurando 
como vítima Joana, filha da grande amiga da Promotora de Justiça Carla, que, inclusive, aconselhou 
a família sobre como agir diante do ocorrido. Segundo consta do inquérito, Antônio encontrou Joana 
durante uma festa de música eletrônica e, após conversa em que Joana afirmara que cursava a 
Faculdade de Direito, foram para um motel onde mantiveram relações sexuais, vindo Antônio, 
posteriormente, a tomar conhecimento de que Joana tinha apenas 13 anos de idade. Recebido o 
inquérito concluído, Carla oferece denúncia em face de Antônio, imputando-lhe a prática do crime 
previsto no Art. 217-A do Código Penal, ressaltando a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal 
no sentido de que, para a configuração do delito, não se deve analisar o passado da vítima, bastando 
que a mesma seja menor de 14 anos. 
Considerando a situação narrada, na condição de advogado(a) de Antônio, responda aos itens a 
seguir. 
 
 
 
 
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A) Existe alguma medida a ser apresentada pela defesa técnica para impedir Carla de participar do 
processo? Justifique. (Valor: 0,60) 
B) Qual a principal alegação defensiva de direito material a ser apresentada em busca da absolvição 
do denunciado? Justifique.(Valor: 0,65) 
 
 
 
 
 
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FIQUE LIGADO! 
Edição 69 STJ – NULIDADES NO PROCESSO PENAL 
 
1) A decretação da nulidade de ato processual requer prova inequívoca do prejuízo 
suportado pela parte, em face do princípio pas de nullité sans grief, previsto no art. 563 
do Código de Processo Penal. 
 
 2) As nulidades surgidas no curso da investigação preliminar não atingem a ação penal 
dela decorrente. 
 
3) As irregularidades relativas ao reconhecimento pessoal do acusado não ensejam 
nulidade, uma vez que as formalidades previstas no art. 226 do CPP são meras 
recomendações legais. 
 
4) A ausência de intimação pessoal da Defensoria Pública ou do defensor dativo sobre 
os atos do processo gera, via de regra, a sua nulidade. 
 
5) A nulidade decorrente da ausência de intimação - seja a pessoal ou por diário oficial 
- da data de julgamento do recurso não pode ser arguida a qualquer tempo, sujeitando-
se à preclusão temporal. 
 
6) O defensor dativo que declinar expressamente da prerrogativa referente à intimação 
pessoal dos atos processuais não pode arguir nulidade quando a comunicação ocorrer 
por meio da imprensa oficial. 
 
7) A ausência de intimação da defesa sobre a expedição de precatória para oitiva de 
testemunha é causa de nulidade relativa. 
 
8) A falta de intimação do defensor acerca da data da audiência de oitiva de testemunha 
no juízo deprecado não enseja nulidade processual, desde que a defesa tenha sido 
cientificada da expedição da carta precatória. 
 
 
 
 
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9) A inversão da ordem prevista no art. 400 do CPP, que trata do interrogatório e da 
oitiva de testemunhas de acusação e de defesa, não configura nulidade quando o ato 
for realizado por carta precatória, cuja expedição não suspende o processo criminal. 
 
10) O falecimento do único advogado, ainda que não comunicado o fato ao tribunal, 
poderá dar ensejo à nulidade das intimações realizadas em seu nome. 
 
11) Na intimação pessoal do réu acerca de sentença de pronúncia ou condenatória, a 
ausência de apresentação do termo de recurso ou a não indagação sobre sua intenção 
de recorrer não gera nulidade do ato. 
 
12) A inquirição das testemunhas pelo Juiz antes que seja oportunizada às partes a 
formulação das perguntas, com a inversão da ordem prevista no art. 212 do Código de 
Processo Penal, constitui nulidade relativa. 
 
13) A falta de comunicação ao acusado sobre o direito de permanecer em silêncio é 
causa de nulidade relativa, cujo reconhecimento depende da comprovação do prejuízo. 
 
14) A ausência do oferecimento das alegações finais em processos de competência do 
Tribunal do Júri não acarreta nulidade, uma vez que a decisão de pronúncia encerra 
juízo provisório acerca da culpa. 
 
15) As nulidades existentes na decisão de pronúncia devem ser arguidas no momento 
oportuno e por meio do recurso próprio, sob pena de preclusão. 
 
16) A instauração de inquérito policial em momento anterior à constituição definitiva 
do crédito tributário não é causa de nulidade da ação penal, se evidenciado que o tributo 
foi constituído antes de sua propositura. 
 
17) É relativa a nulidade decorrente da inobservância da competência penal por 
prevenção (Súmula 706 do STF). 
 
 
 
 
 
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18) A utilização da técnica de motivação per relationem não enseja a nulidade do ato 
decisório, desde que o julgador se reporte a outra decisão ou manifestação dos autos e as 
adote como razão de decidir. 
 
19) São nulas as provas obtidas por meio da extração de dados e de conversas privadas 
registradas em correio eletrônico e redes sociais (v.g. whatsapp e facebook) sem a prévia 
autorização judicial. 
 
20) O compartilhamento de dados obtidos pela Receita Federal com fundamento no art. 
6º da Lei Complementar n. 105/2001, mediante requisição direta às instituições bancárias 
no âmbito de processo administrativo fiscal, é considerado nulo, para fins penais, se não 
decorrer de expressa determinação judicial. 
 
 
 
 
 
 
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 DA TEORIA GERAL DAS PROVAS 
 
Trata-se de todo e qualquer meio de percepção empregado pelo homem com 
a finalidadede comprovar a verdade de uma alegação. 
 
8.1) INTRODUÇÃO E CONCEITO 
TRATA-SE DE TODO E QUALQUER MEIO DE PERCEPÇÃO 
EMPREGADO PELO HOMEM COM A FINALIDADE DE COMPROVAR A VERDADE DE SUA 
ALEGAÇÃO. 
É o conjunto de elementos produzidos pelas partes ou determinado pelo juiz 
visando à formação do convencimento quanto a atos, fatos e circunstancias. 
O termo prova, segundo Guilherme de Souza Nucci, vem do latim “probatio”, 
que significa ensaio, verificação, inspeção, exame, argumento, razão, aprovação ou confirmação. 
 
OBSERVAÇÕES IMPORTANTES: 
A) NORMALMENTE NO PROCESSO PENAL HÁ UMA CONTROVÉRSIA FÁTICA: IMPUTAÇÃO 
DOS FATOS PENALMENTE RELEVANTES PELA ACUSAÇÃO X NEGATIVA DE TAIS FATOS 
PELA DEFESA. NESTE SENTIDO AS PROVAS NO PROCESSO PENAL DESEMPENHAM UMA 
FUNÇÃO IMPORTANTÍSSIMA. 
B) NA ATIVIDADE PROBATÓRIA HÁ UMA RECONSTRUÇÃO HISTÓRICA DOS FATOS, 
RAZÃO PELA QUAL A ATIVIDADE DO MAGISTRADO POSSUI SEMELHANÇAS COM A 
ATIVIDADE DO HISTORIADOR, UMA VEZ QUE AMBOS ANALISAM FATOS JÁ OCORRIDOS, 
ENTRETANTO, COM ALGUMAS DIFERENÇAS, NA MEDIDA EM QUE A ATIVIDADE DO 
MAGISTRADO POSSUI LIMITES, COMO POR EXEMPLO, EM RELAÇÃO À 
INADMISSIBILIDADE DE PROVAS ILÍCITAS E, NECESSARIAMENTE, PRECISA CHEGAR A 
UMA CONCLUSÃO, AINDA QUE NÃO CONVENCIDO DA CULPABILIDADE DO ACUSADO. 
C) TENDO EM VISTA QUE O CÓDIGO DE PROCESSO PENAL É DE 1941, APESAR DA 
OCORRÊNCIA DE ALGUMAS REFORMAS RECENTES, AINDA HÁ UMA NECESSIDADE DE 
COMPATIBILIZAR O CPP COM A CR/88, PRINCIPALMENTE EM RELAÇÃO ÀS CLÁUSULAS 
DE RESERVA DE JURISDIÇÃO. (EX. ART. 241 CPP – BUSCA E APREENSÃO DOMICILIAR 
SEM MANDADO) 
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D) O CPP NÃO REGULAMENTOU TEMAS ESSENCIAIS COMO A INTERCEPTAÇÃO 
AMBIENTAL, (LEI 12850/13) OU TELEFÔNICA (LEI 9296/96), SENDO NECESSÁRIA A 
OBSERVÂNCIA DA LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE. 
E) A LEI 11690/08 ALTEROU O CÓDIGO DE PROCESSO PENAL DE MANEIRA 
SUBSTANCIAL EM RELAÇÃO ÀS PROVAS: 
E.1) Alterou os artigos referentes às disposições gerais (155/157). 
E.2) Alterou o artigo 159 do CPP, passando a exigir apenas um perito de natureza oficial. 
E.3) Alterou o art. 212 do CPP, admitindo que as partes fizessem perguntas de forma 
direta às testemunhas. 
E.4) Alterou o art. 386, VI do CPP dispondo que a dúvida fundada sobre a existência de 
circunstância que exclua o crime ou isente réu de pena é caso de absolvição. 
 
8.2) OBJETO DA PROVA E OBJETIVO 
A regulamentação dos meios de prova no CPP não é taxativa. 
Objetivo: Formar a convicção do juiz sobre os elementos 
necessários para a decisão da causa. 
Objeto: fatos principais ou secundários, que reclamem apreciação 
judicial e exijam uma comprovação. 
Dispensam a necessidade de comprovação: 
a) fatos axiomáticos: são aqueles considerados evidentes, que decorrem da 
própria intuição, gerando grau de certeza irrefutável. 
Ex: A prova da putrefação do cadáver dispensa a prova da morte, pois a 
primeira circunstância decorre da segunda. 
b) fatos notórios: são aqueles que fazem parte do patrimônio cultural 
indivíduo. Se aplica o princípio notorium non eget probatione (o que é notório dispensa a prova). 
Ex. crime contra honra do prefeito dispensa a juntada de diploma do mandato. 
c) presunções legais: são juízos de certeza decorrentes da lei. 
Podem ser: jure et jure (absoluta) ou juris tantum (relativas). 
As presunções absolutas não admitem prova em contrário, sendo exemplo a 
condição de inimputável do indivíduo menor de 18 anos. 
As presunções relativas, por sua vez, admitem prova em contrário. 
Neste sentido, oportuno mencionar que havia discordância entre doutrina e 
jurisprudência acerca da presunção da vulnerabilidade do menor de 14 anos em relação ao crime 
de estupro de vulnerável, existindo discussão se se configuraria presunção relativa ou absoluta. 
 
 
 
 
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Todavia, recentemente restou pacificado entendimento de que se trata de 
presunção com caráter absoluto, ao ser editada a Súmula 593 do STJ, que dispõe que “o crime de 
estupro de vulnerável se configura com a conjunção carnal ou prática de ato libidinoso com menor 
de 14 anos, sendo irrelevante eventual consentimento da vítima para a prática do ato, sua 
experiência sexual anterior ou existência de relacionamento amoroso com o agente”. 
 
Obs: Os fatos incontroversos (admitidos pelas partes) não 
dispensam a prova = vide art. 156, II, e art. 197 do CPP (não dá para aplicar a regra do 
processo civil neste caso). 
 
8.3) PRINCÍPIOS 
 
Princípios regentes da produção probatória: 
 
a) contraditório: significa que toda prova realizada por uma das partes 
admite a produção de uma contraprova pela outra. Significa garantir a participação das partes no 
processo, bem como o poder de influência na decisão judicial 
 
b) comunhão (aquisição): De acordo com esse princípio as provas pertencem 
ao processo e não àquela parte que as trouxe. Desta feita, a doutrina apontava que se uma das 
partes desistir da oitiva de uma testemunha arrolada, o juiz, antes de concordar com a desistência, 
deveria intimar a parte contrária. Entretanto, a, a lei 11719 trouxe importante inovação, ao introduzir 
o parágrafo 2º no artigo 401: 
 ...§ 2o A parte poderá desistir da inquirição de qualquer das 
testemunhas arroladas, ressalvado o disposto no art. 209 deste 
Código. 
Desta feita, pelo texto legal, se a acusação ou a defesa desistirem de uma 
testemunha arrolada, o juiz não precisa da concordância da parte contrária. Em razão disso, há 
quem entenda que o princípio da comunhão se aplica após o momento em que determinada prova 
é juntada ao processo e não antes. 
 
c) oralidade: predomínio da prova falada. Prestigia-se a concentração, 
publicidade e a imediação. 
 
 
 
 
 
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Possui como subprincípios: 
c.1) concentração. 
Ex. Lei 9099/95 e audiência una de instrução e julgamento no procedimento 
comum (arts. 394 e seguintes do CPP. 
c.2) imediação: É necessário assegurar ao juiz o contato físico com as provas 
no ato de sua obtenção. 
d) autorresponsabilidade: partes assumem o ônus da inércia, erro ou 
negligência. 
e) não autoincriminação (nemo tenetur se detegere).: princípio da 
inexigibilidade de produção da prova contra si mesmo, fazendo que o acusado não seja obrigado a 
realizar alguma conduta positiva que pode lhe incriminar. 
Ex. Não é obrigado a realizar o exame de etilômetro. 
 
 
8.4) SISTEMAS DE APRECIAÇÃO DAS PROVAS 
 
a) SISTEMA DO LIVRE CONVENCIMENTO MOTIVADO 
 
O CPP adotou, como regra, o do livre convencimento do juiz, fundamentado 
na prova produzida sob o contraditório judicial (art. 155, caput, CPP), embora remanesçam exceções 
com resquícios dos sist. da íntima convicção e da prova tarifada. 
 
 
Consequências da adoção do Sistema do Livre Convencimento do 
Juiz: 
 
a.1) ausência de limitação quanto aos meios de prova: o CPP não exaure as 
possibilidades probatórias; 
Ex: captações ambientais (gravação de conversa de duas ou mais pessoas 
em local público), serve como prova, embora careça de regulamentação específica. 
a.2) ausência de hierarquia: inexistência de valor prefixado na legislação. O 
juiz confere valoração às provas. 
Ex: pode desprezar a perícia e a confissão do réu. 
 
 
 
 
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Restrições à liberdade valorativa do julgador: 
 
i) obrigação de motivar o decisum: art. 93, IX, CF e art. 381, III, CPP. 
ii) as provas deverão constar dos autos do processojudicial (quod nos est in 
actis nos est in mundo). 
iii) produção sob crivo contraditório: o art. 155 CPP não proibiu o uso de 
eventuais provas da fase extrajudicial como elementos de convicção secundário, restrição apenas 
como fundamento exclusivo de seu convencimento. 
Obs: as provas realizadas em caráter cautelar, antecipadamente e não 
sujeitas à repetição dispensam a necessidade de contraditório judicial. Ex: interceptação telefônica 
(art. 3°, I, Lei n° 9.296/96), busca domiciliar e perícia (exame de conjunção carnal e lesões). 
 
b) SISTEMA DA ÍNTIMA CONVICÇÃO: 
É adotado nos julgamentos afetos ao Tribunal do Júri: Os jurados não estão 
vinculados às provas existentes no processo e não precisam fundamentar a decisão, podem decidir 
com base em critérios subjetivos. (art. 593, III, e §3°, CPP). 
 
c) SISTEMA DA PROVA TARIFADA, DA VERDADE LEGAL OU DA CERTEZA MORAL DO 
LEGISLADOR 
A lei estabelece o valor de cada prova, impede poder discricionário do juiz 
para decidir contra a previsão legal. 
Ex: art. 62 CPP - extinção da punibilidade pela morte do réu exige certidão 
óbito. 
 
Ex.2: Art. 155, parágrafo único, CPP prova estado de pessoas deve ser 
comprovada via certidão. Súmula 74 do STJ. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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8.5) ELEMENTOS DE INFORMAÇÃO X ELEMENTOS DE PROVA (análise do art. 155 do 
Código de Processo Penal) 
 
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório 
judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos 
na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. 
 
A) ELEMENTOS DE INFORMAÇÃO X ELEMENTOS DE PROVA: 
 
ELEMENTO DE INFORMAÇÃO: PRODUZIDOS NA FASE INVESTIGATÓRIA, 
SEM OBSERVÂNCIA DO CONTRADITÓRIA E AMPLA DEFESA (SISTEMA INQUISITORIAL) / 
FINALIDADE: DECRETAÇÃO DAS MEDIDAS CAUTELARES E FORMAÇÃO DA OPINIO DELICTI DO 
TITULAR DA AÇÃO PENAL 
ELEMENTOS DE PROVA: PRODUZIDOS NA FASE JUDICIAL, COM 
OBSERVÂNCIA DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA (SISTEMA ACUSATÓRIO) / FINALIDADE: 
CONVENCIMENTO DO MAGISTRADO) 
REGRA GERAL: O MAGISTRADO NÃO PODERÁ FUNDAMENTAR SUA 
DECISÃO EXCLUSIVAMENTE NOS ELEMENTOS INFORMATIVOS COLHIDOS NA INVESTIGAÇÃO. 
EXCEÇÃO: PROVAS CAUTELARES, IRREPETÍVEIS OU ANTECIPADAS. 
 
B) PROVAS CAUTELARES, IRREPETÍVEIS OU ANTECIPADAS: 
 
b.I) PROVA IRREPETÍVEL: NÃO É PRODUZIDA E NEM SUBMETIDA AO 
CRIVO DO CONTRADITÓRIO (CONTRADITÓRIO IMPOSSÍVEL) – A DOUTRINA EXIGE A 
CARACTERÍSTICA DA IMPREVISIBILIDADE: 
Ex. MORTE DE TESTEMUNHA (SE JÁ ERA PREVISÍVEL – ART. 225 CPP) 
 
b.II) PROVA CAUTELAR: É PRODUZIDA SEM OBSERVÂNCIA DO 
CONTRADITÓRIO (NORMALMENTE NA FASE INVESTIGATÓRIA), SENDO SUBMETIDA AO 
CONTRADITÓRIO POSTERIORMENTE EM JUÍZO. 
Ex. PROVA PERICIAL 
 
b.III) PROVA ANTECIPADA: PRODUZIDAS EM JUÍZO DE FORMA 
ANTECIPADA, AINDA QUE NA FASE DE INVESTIGAÇÃO. 
 
 
 
 
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Ex: art. 225 Código de Processo Penal - ver art. 156, inciso I CPP) 
 
 
8.6) ÔNUS DA PROVA 
 
A) INTRODUÇÃO 
 
ÔNUS SIGNIFICA UMA FACULDADE CUJO EXERCÍCIO É NECESSÁRIO PARA 
A CONSECUÇÃO DE UM INTERESSE. 
 
I - PODE SER ABSOLUTO OU PERFEITO: QUANDO A NÃO REALIZAÇÃO 
NECESSARIAMENTE ACARRETARÁ UM PREJUÍZO 
Ex. NÃO RECORRER DE UMA SENTENÇA CONDENATÓRIA. 
II - PODE SER IMPERFEITO OU RELATIVO (NÃO NECESSARIAMENTE 
OCORRERÁ UM PREJUÍZO). 
Ex. ÔNUS DA PROVA 
 
NÃO CONFUNDIR ÔNUS COM OBRIGAÇÃO, UMA VEZ QUE NA OBRIGAÇÃO 
EXISTE SANÇÃO PARA O CASO DE DESCUMPRIMENTO (testemunha que regularmente intimada não 
comparece ao ato pode ser conduzida coercitivamente). 
 
B) ÔNUS DA PROVA 
 
É A FACULDADE DE OS SUJEITOS PARCIAIS PRODUZIREM AS PROVAS 
SOBRE AS AFIRMAÇÕES DE FATOS RELEVANTES PARA O PROCESSO, CUJO EXERCÍCIO PODERÁ 
LEVÁ-LOS A OBTER UMA POSIÇÃO DE VANTAGEM OU IMPEDIR QUE SOFRAM UM PREJUÍZO. 
NÃO POSSUI CARÁTER ABSOLUTO EM RAZÃO DOS PODERES 
INSTRUTÓRIOS CONFERIDOS AO MAGISTRADO E AO PRINCÍPIO DA COMUNHÃO DAS PROVAS. 
SE DIVIDE EM: 
SUBJETIVO: “QUEM DEVERÁ PROVAR CADA FATO” 
OBJETIVO: DISCIPLINA COMO O JUIZ DEVERÁ JULGAR. 
 
 
 
 
 
 
 
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C) DISTRIBUIÇÃO 
 
UMA PRIMEIRA CORRENTE DEFENDE QUE NO PROCESSO PENAL, EM 
RAZÃO DO PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA, O ÔNUS DE PROVA RECAI INTEIRAMENTE 
SOBRE A ACUSAÇÃO, NÃO HAVENDO QUE SE FALAR EM DISTRIBUIÇÃO DO ÔNUS DA PROVA. 
O ART. 156 DISPÕE QUE A PROVA DA ALEGAÇÃO INCUMBIRÁ A QUEM 
FIZER. 
 JÁ UMA SEGUNDA CORRENTE (MAJORITÁRIA) DISPÕE QUE: 
A) à acusação compete provar a existência do fato imputado e sua autoria, 
elementos subjetivos de dolo ou culpa, a existência de circunstâncias agravantes e qualificadoras. 
B) à defesa incumbe provar excludentes de ilicitude, culpabilidade ou 
tipicidade, atenuantes, minorantes e privilegiadoras. 
Obs: Importante saber que a lei 11690/08 alterou o art. 386, VI do CPP 
dispondo que a dúvida fundada sobre a existência de circunstâncias que excluam o crime ou isentem 
o réu de pena devem ensejar a absolvição do acusado, o que mitigou o ônus da defesa neste ponto. 
Obs.2: Ônus da prova direito local: analogia à regra do art. 337 CPC. O juiz 
pode exigir da parte que o alega a respectiva comprovação. 
 
8.7) PODERES INSTRUTÓRIOS DO MAGISTRADO (ARTIGO 156 CPP) 
 
Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício: 
(Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008) 
I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas 
urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida; 
(Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008) 
II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências 
para dirimir dúvida sobre ponto relevante. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008) 
 
Em razão do princípio da busca da verdade e tendo em vista o fato de ser o 
destinatário das provas, o magistrado possui certa iniciativa probatória, não dependendo única e 
exclusivamente das partes para formar o seu convencimento. Entretanto, tal atividade é 
complementar a das partes. 
A faculdade do juiz na produção antecipada de prova: 
 
 
 
 
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O juiz pode ordenar ex officio a produção antecipada de provas urgentes e 
relevantes, mesmo antes de iniciada a ação penal, respeitada a necessidade, a adequação e a 
proporcionalidade. 
Essa faculdade do art. 156, I, CPP exige interpretação restritiva, sob pena 
de violação ao sistema acusatório. 
 
Requisitos: 
I - Existência do periculum in mora: relevância e urgência. 
II - Presença do fumus boni iuris: indício autoria e/ou materialidade. 
III - Existência de investigação em andamento. 
IV - Necessidade de procedimento sob análise judicial 
V - Excepcionalidade da atuação judicial - (Princ. Proporcionalidade). 
Faculdade do juiz na produção de provas ex officio: 
a) antes de iniciar a instrução: art. 149, §2°, art. 225, art. 366 CPP. 
b) após iniciar a instrução: art. 196, art. 209, art. 234, art. 242 CPP. 
 
8.8) PROVAS ILEGAIS, VEDADAS OU PROIBIDAS: 
 
A Constituição em seu artigo 5°, inciso LVI, consagrou a regra da 
inadmissibilidade das provas ilícitas. Neste sentido, a doutrina majoritária sempre traçou uma 
diferenciação da prova ilícita (obtida com violação a uma regra de direito material) e a prova ilícita 
(obtida com violação ao umaregra de direito processual. 
Além disso, como consequência da sua produção, a prova ilícita deveria ser 
desentranhada do processo e a prova ilegítima acarretaria a utilização da Teoria das Nulidades. 
Ocorre que a lei 11690/08, ao alterar o art. 157 do Código de Processo Penal, 
não fez menção a prova considerada ilegítima, razão pela qual parcela da doutrina, em especial o 
professor Guilherme de Souza Nucci, passou a sustentar que, após a referida reforma, não haveria 
diferenciação entre prova ilícita e ilegítima, ensejando o desentranhamento qualquer que seja a 
modalidade. 
 Entretanto, a doutrina majoritária entende que, por se tratar de regra 
advinda da Constituição da República, em que pese ter havido reforma no CPP, ainda persistiria a 
diferenciação clássica, a seguir exposta: 
 
 
 
 
 
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a) PROVAS ILÍCITAS (art. 157 CPP): violação de regras direito material, produzindo 
reflexos diretos ou indiretos em direitos e garantias constitucionais. 
 
Ex: interceptação telefônica e busca e apreensão sem ordem judicial, 
violação carta lacrada, grampo, coação em interrogatório policial (afrontamento direito ao art. 5°, 
X, XI, XII, e LXIII, CF). 
Outros casos de afrontamento indireto à CF: interrogatório judicial de réu 
sem a presença de advogado ou sem prévia entrevista reservada com defensor (art. 185 CPP e art. 
5°, LV, CF) e mediante coação (art. 186 CPP). 
Consequências do uso de provas ilícitas (art. 157 CPP): 
desentranhamento e, uma vez preclusa a decisão de desentranhamento da prova 
declarada inadmissível, esta será inutilizada, podendo as partes acompanhar o 
incidente. 
Obs: na ausência de previsão legal expressa, caberá recurso em 
sentido estrito em relação ao reconhecimento da ilicitude e no tocante ao 
desentranhamento e inutilização - (art. 581, XIII, CPP). 
 
b) PROVAS ILEGÍTIMAS: 
 
São aquelas produzidas a partir da violação de normas de natureza 
eminentemente processual. 
 
Ex: perícia por apenas um perito não-oficial - art. 159, §1°; reconhecimento 
judicial do réu sem observância das formalidades do art. 226 do CPP; extinção da punibilidade sem 
juntada de certidão óbito - art. 62 CPP. 
 
c) PROVAS ILÍCITAS POR DERIVAÇÃO: (art. 157, §1°, CPP) 
 
Embora lícitas na essência, decorrem exclusivamente de prova considerada 
ilícita ou de ilegalidade manifesta ocorrida anteriormente à sua produção (contaminadas). 
Antes da reforma de 2008 a qual expressamente previu tal regra, a 
jurisprudência se valia do art. 573, parágrafo 1°, que dispõe: a nulidade de um ato, uma vez 
declarada, causará a dos atos que dele diretamente dependam ou sejam consequência. 
 
 
 
 
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Com a reforma de 2008, o artigo 157 incorporou de maneira expressa em 
nosso ordenamento jurídico a Teoria da Árvore dos Frutos Envenenados (fruits of the poisonous 
tree), a qual exige relação de exclusividade entre a prova posterior e a anterior que lhe deu origem. 
Exemplos: Sujeito que confessou a autoria de delito, entretanto, momento 
antes foi torturado por policiais civis. O professor André Nicoliti em seu blog relatou um caso que 
julgou como magistrado, no qual, policiais militares abordaram um sujeito na rua, que não se 
encontrava com drogas em sua posse, entretanto teria admitido (confissão não revestida das 
formalidades legais) aos policiais que tinha drogas em casa, razão pela qual, em ato contínuo, tais 
policiais se dirigiram até a residência em questão, encontrando substâncias entorpecentes. 
 
OBS: EXCEÇÕES OU LIMITAÇÕES À ADMISSIBILIDADE DA PROVA ILÍCITA POR 
DERIVAÇÃO: 
 
I - Fonte independente: Prevista de forma expressa no artigo 157, parágrafo 1°, parte final e no 
parágrafo segundo do aludido artigo, a Teoria da Fonte independente dispõe que se, além da prova 
ilícita, um outro elemento de convicção licitamente produzido conduzir ao objeto da prova em análise 
não haverá ilicitude. Neste caso, não haverá nexo de causalidade entre a prova que se quer utilizar 
e a situação de ilicitude ou ilegalidade antes ocorrida. 
Exemplo: A testemunha João, essencial para a elucidação de um fato, foi 
descoberta em razão de uma interceptação telefônica não revestida das formalidades legais. Ocorre 
que uma outra testemunha, sem qualquer relação com aquela interceptação telefônica ilegal, teria 
referido que João presenciou o referido fato. Neste sentido, o depoimento de João não será 
considerado ilegal pois decorreu de uma fonte independente. 
 
II - Limitação da contaminação expurgada (purged taint limitation) ou limitação da 
conexão atenuada: Não possui previsão expressa, decorrendo do direito americano. Ocorre 
quando um acontecimento posterior elide a ilicitude da prova viciada. Diferentemente da fonte 
independente, na limitação da contaminação expurgada há nexo de causalidade entre a situação de 
ilegalidade e a prova que se quer utilizar, entretanto este nexo é abrandado ou atenuado pela 
interferência de um acontecimento posterior. 
Exemplo: Sujeito que confessa sob tortura na fase policial. Entretanto, 
posteriormente, na fase judicial, devidamente acompanhado de advogado, vem a confessar a prática 
delitiva visando atenuar a pena em caso de provável condenação. 
 
 
 
 
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III - Descoberta inevitável (inevitable discovery): Também não possui previsão expressa, 
decorrendo do direito americano. Na descoberta inevitável, ainda que não fosse a ilicitude anterior, 
a prova teria surgido de qualquer modo pelos meios legais. 
Exemplo: Uma equipe de policiais da Delegacia de Polícia local, sem 
mandado, violou o domicílio de João, encontrando drogas na referida residência. Ocorre que, 
naquele momento, uma outra equipe de policiais da Delegacia Especializada no Combate às Drogas, 
devidamente munida do mandado, se dirigia para a residência em questão com a finalidade de 
investigar provável crime de tráfico de drogas. 
 
 
OBS: UTILIZAÇÃO DE PROVA ILÍCITA EM FAVOR DO RÉU E EM FAVOR DA SOCIEDADE: 
 
 A doutrina e jurisprudência entendem ser possível o uso de provas ilícitas em favor do réu quando 
se tratar da única forma de absolvê-lo ou comprovar um fato importante à sua defesa. 
Uso da prova ilícita pro societate: 
Entendimento majoritário: o princípio da proporcionalidade não serve para justificar o uso da prova 
ilícita em favor da sociedade, mesmo que seja o único elemento para uma condenação. 
Entendimento minoritário: Norberto Avena defende o uso quando o interesse 
público exigir, em prevalência da segurança da sociedade, evitando-se a impunidade de criminosos. 
Ex: organizações criminosas, tráfico drogas e etc. (mal coletivo) 
 
QUESTÃO 01 – IV EXAME 2011.1 
Maria, jovem extremamente possessiva, comparece ao local em que Jorge, seu namorado, exerce o 
cargo de auxiliar administrativo e abre uma carta lacrada que havia sobre a mesa do rapaz. Ao ler 
o conteúdo, descobre que Jorge se apropriara de R$ 4.000,00 (quatro mil reais), que recebera da 
empresa em que trabalhava para efetuar um pagamento, mas utilizara tal quantia para comprar 
uma joia para uma moça chamada Júlia. Absolutamente transtornada, Maria entrega a 
correspondência aos patrões de Jorge. 
Com base no relatado acima, responda aos itens a seguir, empregando os argumentos jurídicos 
apropriados e a fundamentação legal pertinente ao caso. 
 
a) Jorge praticou crime? Em caso positivo, qual(is)? (Valor: 0,35) 
 
 
 
 
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b) Se o MinistérioPúblico oferecesse denúncia com base exclusivamente na correspondência aberta 
por Maria, o que você, na qualidade de advogado de Jorge, alegaria? (Valor: 0,9) 
 
QUESTÃO 02 – EXAME XXI 
No dia 03 de março de 2016, Vinícius, reincidente específico, foi preso em flagrante em razão da 
apreensão de uma arma de fogo, calibre .38, de uso permitido, número de série identificado, 
devidamente municiada, que estava em uma gaveta dentro de seu local de trabalho, qual seja, o 
estabelecimento comercial “Vinícius House”, do qual era sócio-gerente e proprietário. Denunciado 
pela prática do crime do Artigo 14 da Lei nº 10.826/03, confessou os fatos, afirmando que mantinha 
a arma em seu estabelecimento para se proteger de possíveis assaltos. Diante da prova testemunhal 
e da confissão do acusado, o Ministério Público pleiteou a condenação nos termos da denúncia em 
alegações finais, enquanto a defesa afirmou que o delito do Art. 14 do Estatuto do Desarmamento 
não foi praticado, também destacando a falta de prova da materialidade. Após manifestação das 
partes, houve juntada do laudo de exame da arma de fogo e das munições apreendidas, 
constatando-se o potencial lesivo do material, tendo o magistrado, de imediato, proferido sentença 
condenatória pela imputação contida na denúncia, aplicando a pena mínima de 02 anos de reclusão 
e 10 dias-multa. O advogado de Vinícius é intimado da sentença e apresentou recurso de apelação. 
 
Considerando apenas as informações narradas, responda na condição de advogado(a) de Vinicius: 
A) Qual requerimento deveria ser formulado em sede de apelação e qual tese de direito processual 
poderia ser alegada para afastar a sentença condenatória proferida em primeira instância? Justifique. 
(Valor: 0,65) 
 
B) Confirmados os fatos, qual tese de direito material poderia ser alegada para buscar uma 
condenação penal mais branda em relação ao quantum de pena para Vinicius? Justifique. (Valor: 
0,60) 
Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar as respostas. A mera citação do dispositivo legal não 
confere pontuação. 
 
 
QUESTÃO 03 – EXAME XXI 
Mário foi surpreendido por uma pessoa que, mediante ameaça verbal de morte, subtraiu seu celular. 
No dia seguinte, quando passava pelo mesmo local, avistou Paulo e o reconheceu como sendo a 
 
 
 
 
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pessoa que o roubara no dia anterior. Levado para a delegacia, Paulo admitiu ter subtraído o celular 
de Mário mediante grave ameaça, mas alegou que estava em estado de necessidade. O celular não 
foi recuperado e Paulo foi liberado em razão da ausência da situação de flagrante. Oferecida a 
denúncia pela prática do delito de roubo, Paulo foi pessoalmente citado e manifestou interesse em 
ser assistido pela Defensoria Pública. No curso da instrução, a vítima, única testemunha arrolada 
pelo Ministério Público, não foi localizada, assim como Paulo nunca compareceu em juízo, sendo 
decretada sua revelia. A pretensão punitiva foi acolhida nos termos do pedido inicial, tendo o juiz 
fundamentado seu convencimento no que foi dito pelo lesado e pelo acusado na fase extrajudicial, 
aumentando a pena-base pelo fato de o agente ter ameaçado de morte o ofendido e deixando de 
reconhecer a atenuante da confissão espontânea porque qualificada. 
 
QUESTÃO 01 – EXAME XXII 
Chegou ao Ministério Público denúncia de pessoa identificada apontando Cássio como traficante de 
drogas. Com base nessa informação, entendendo haver indícios de autoria e não havendo outra 
forma de obter prova do crime, a autoridade policial representou pela interceptação da linha 
telefônica que seria utilizada por Cássio e que fora mencionada na denúncia recebida, tendo o juiz 
da comarca deferido a medida pelo prazo inicial de 30 dias. Nas conversas ouvidas, ficou certo que 
Cássio havia adquirido certa quantidade de cocaína, pela primeira vez, para ser consumida por ele, 
juntamente com seus amigos Pedro e Paulo, na comemoração de seu aniversário, no dia seguinte. 
Diante dessa prova, policiais militares obtiveram ordem judicial e chegaram à casa de Cássio quando 
este consumia e oferecia a seus amigos os seis papelotes de cocaína para juntos consumirem. 
Cássio, portador de maus antecedentes, foi preso em flagrante e autuado pela prática do crime de 
tráfico, sendo, depois, denunciado como incurso nas penas do Art. 33, caput, da Lei nº 11.343/06. 
Considerando os fatos narrados, responda, na qualidade de advogado(a) de Cássio, aos itens a 
seguir. 
A) Qual a tese de direito processual a ser suscitada para afastar a validade da prova obtida? (Valor: 
0,65) 
B) Reconhecidos como verdadeiros os fatos narrados, qual a tese de direito material a ser alegada 
para tornar menos gravosa a tipificação da conduta de Cássio? (Valor: 0,60) 
Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não 
confere pontuação. 
 
 
 
 
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DAS PROVAS EM ESPÉCIE 
 
Trata-se de todo e qualquer meio de percepção empregado pelo homem com 
a finalidade de comprovar a verdade de uma alegação. 
 
9.1) PROVA PROIBIDA – ART. 157 
A CF/88, no artigo 5º, LVI, dispõe serem “inadmissíveis, no processo, as 
provas obtidas por meios ilícitos”, isto é, conseguidas mediante a violação de normas de Direito 
Constitucional ou Material. 
Prova vedada ou proibida é, portanto, a produzida por meios ilícitos, em 
contrariedade a uma norma legal específica. 
A prova vedada comporta duas espécies: 
A) Prova ilegítima: 
Quando a norma afrontada tiver natureza processual, a prova vedada será 
chamada de ilegítima. 
Ex: o documento exibido em plenário do Júri, com desobediência ao 
disposto no art. 479, “caput”, CPP. 
 
B) Prova ilícita 
Quando a prova for vedada, em virtude de ter sido produzida com afronta a 
normas de direito material, será chamada de ilícita. 
Ex: confissão obtida com emprego de tortura (Lei 9455/97), uma apreensão 
de documento realizada mediante violação de domicílio (art. 150 CP), a captação de uma conversa 
por meio de crime de interceptação telefônica (Lei 9296/96, art. 10). 
 
9.2) PROVAS ILÍCITAS POR DERIVAÇÃO E A TEORIA DOS “FRUTOS DA ÁRVORE 
ENVENENADA” (ART. 1571, §§1º E 2º) 
As denominadas provas ilícitas por derivação dizem respeito àquelas provas 
em si mesmas lícitas, mas a que se chegou por intermédio da informação obtida por prova 
ilicitamente colhida. 
É o caso da confissão extorquida mediante tortura, que venha a fornecer 
informações corretas a respeito do lugar onde se encontra o produto do crime, propiciando a sua 
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regular apreensão. Esta última prova, a despeito de ser regular, estaria contaminada pelo vício na 
origem. 
Outro exemplo seria o da interceptação telefônica clandestina – crime punido 
com pena de reclusão de dois a quatro anos, além de multa (art. 10 da Lei 9296/96) – por intermédio 
da qual o órgão policial descobre uma testemunha do fato que, em depoimento regularmente 
prestado, incrimina o acusado. Haveria, igualmente, ilicitude por derivação. 
Consequência da admissão da prova ilícita: O novo artigo 157 do CPP 
expressamente determina o desentranhamento dos autos das provas ilícitas. 
 
Questão 1 - EXAME 2010-02 
José da Silva foi preso em flagrante pela polícia militar quando transportava em seu carro grande 
quantidade de drogas. Levado pelos policiais à delegacia de polícia mais próxima, José telefonou 
para seu advogado, o qual requereu ao delegado que aguardasse sua chegada para lavrar o 
flagrante.Enquanto esperavam o advogado, o delegado de polícia conversou informalmente com 
José, o qual confessou que pertencia a um grupo que se dedicava ao tráfico de drogas e declinou o 
nome de outras cinco pessoas que participavam desse grupo. Essa conversa foi gravada pelo 
delegado de polícia. 
Após a chegada do advogado à delegacia, a autoridade policial permiti u que José da Silva se 
entrevistasse particularmente com seu advogado e, só então, procedeu à lavratura do auto de prisão 
em flagrante, ocasião em que José foi informado de seu direito de permanecer calado e foi 
formalmente interrogado pela autoridade policial. Durante o interrogatório formal, assisti do pelo 
advogado, José da Silva optou por permanecer calado, afirmando que só se manifestaria em juízo. 
Com base na gravação contendo a confissão e delação de José, o Delegado de Polícia, em um único 
ato, determina que um de seus policiais atue como agente infiltrado e requer, ainda, outras medidas 
cautelares investigativas para obter provas em face dos demais membros do grupo criminoso: 1. 
quebra de sigilo de dados telefônicos, autorizada pelo juiz competente; 2. busca e apreensão, 
deferida pelo juiz competente, a qual logrou apreender grande quantidade de drogas e armas; 3. 
prisão preventiva dos cinco comparsas de José da Silva, que estavam de posse das drogas e armas. 
Todas as provas coligidas na investi ação corroboraram as informações fornecidas por José em seu 
depoimento. 
Relatado o inquérito policial, o promotor de justiça denunciou todos os envolvidos por associação 
para o tráfico de drogas (art. 35, Lei 11.343/2006), tráfico ilícito de entorpecentes (art. 33, Lei 
11.343/2006) e quadrilha armada (art. 288, parágrafo único). Considerando tal narrativa, excluindo 
eventual pedido de aplicação do instituto da delação premiada, indique quais as teses defensivas, 
 
 
 
 
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no plano do direito material e processual, que podem ser arguidas a partir do enunciado acima, pela 
defesa de José. Indique os dispositivos legais aplicáveis aos argumentos apresentados. 
9.3) PROVAS ILÍCITAS E A INVIOLABILIDADE DO SIGILO DAS COMUNICAÇÕES. 
COMUNICAÇÕES TELEFÔNICAS 
A interceptação em sentido estrito e a escuta telefônica, quando 
feitas fora das hipóteses legais ou sem autorização judicial, não devem ser admitidas, por afronta 
ao direito à privacidade. 
 
A) BASE JURÍDICA 
 
Art. 5º, inciso XII – CRFB/88 - É inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações 
telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, nas hipóteses e na 
forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal 
 
O referido dispositivo constitucional aborda a questão do sigilo das 
comunicações, o qual pode ser dividido em quatro grupos, quais sejam: 
 
1) o sigilo das correspondências; 
2) o sigilo das comunicações telegráficas; 
3) o sigilo das comunicações de dados; 
4) o sigilo das comunicações telefônicas. 
 
 
A doutrina diverge quanto à extensão da ressalva feita pelo legislador 
constitucional (“salvo neste último caso), surgindo as seguintes posições: 
 
i) a ressalva feita pelo legislador constituinte somente inclui o sigilo das 
comunicações, razão pela qual os grupos (1, 2 e 3), gozam de inviolabilidade absoluta (GRINOVER 
E SCARANCE FERNANDES) 
ii) a ressalva feita pelo legislador constituinte incluiu o sigilo das 
comunicações telefônicas e o sigilo das comunicações de dados (interpretação hermenêutica e a 
forma como o inciso XII foi redigido – NORBERTO AVENA, PAULO RANGEL E STF NA PET. 577-DF). 
 
 
 
 
 
 
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B) ABRANGÊNCIA DA LEI 9.296/96 
Art. 1º A interceptação de comunicações telefônicas, de qualquer natureza, para prova em 
investigação criminal e em instrução processual penal, observará o disposto nesta Lei e dependerá 
de ordem do juiz competente da ação principal, sob segredo de justiça. 
Parágrafo único. O disposto nesta Lei aplica-se à interceptação do fluxo de comunicações em 
sistemas de informática e telemática. 
 
Aplica-se a lei, a teor de seu art. 1º, “à interceptação de comunicações 
telefônicas, de qualquer natureza”. 
Por mais amplitude que se pretenda atribuir ao conceito, permanece ele 
limitado à escuta e eventual gravação de conversa telefônica, quando praticada por terceira pessoa, 
diversa dos interlocutores (com ou sem conhecimento de um deles). 
Ficam excluídas do regime legislativo as gravações clandestinas de 
telefonemas próprios, assim como as gravações entre presentes. 
 
C) CLASSIFICAÇÃO (INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA LATO SENSU - GÊNERO) 
 
C.1) interceptação telefônica stricto sensu: terceiro viola a conversa telefônica de 2 ou mais 
pessoas, registrando ou não os diálogos, sem que nenhum dos interlocutores tenha conhecimento. 
C.2) escuta telefônica: terceiro viola a conversa telefônica mantida entre 2 ou mais pessoas, com 
ciência de um ou alguns dos interlocutores de que os diálogos estão sendo captados. 
C.3) gravação telefônica: um dos interlocutores simplesmente registra (grava) a conversa que 
mantém com o outro, não há a figura de terceiro. 
Obs: Art. 5°, XII, CF: a proteção constitucional alcança somente as duas primeiras 
formas de interceptação acima. Logo, não tutela a gravação, devendo este meio de prova 
ser considerado lícito, mesmo sem autorização judicial, salvo se obtido com traição de 
confiança ou segredo profissional (STF e STJ). 
 
 
D) REQUISITOS LEGAIS PARA A CONCESSÃO DA QUEBRA DO SIGILO TELEFÔNICO: 
a) Ordem do juiz competente para o julgamento da ação principal: 
 
 
 
 
 
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Art. 1º A interceptação de comunicações telefônicas, de qualquer natureza, para prova em 
investigação criminal e em instrução processual penal, observará o disposto nesta Lei e dependerá 
de ordem do juiz competente da ação principal, sob segredo de justiça. 
Parágrafo único. O disposto nesta Lei aplica-se à interceptação do fluxo de comunicações em 
sistemas de informática e telemática. 
 
Somente o juiz competente para o julgamento da ação principal poderá 
determinar a quebra do sigilo telefônico, jamais o Promotor de Justiça ou o Delegado de Polícia 
poderão fazê-lo. 
Obviamente que se trata de juiz que exerça jurisdição penal, seja esta 
eleitoral, militar, ou comum, já que a interceptação será realizada para prova em investigação 
criminal e em instrução processual penal. 
Assim, o juiz que determinar a quebra do sigilo será o competente para a 
ação principal. 
 
b) Indícios razoáveis de autoria ou participação em infração penal 
 
Art. 2° Não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas quando ocorrer qualquer das 
seguintes hipóteses: 
I - não houver indícios razoáveis da autoria ou participação em infração penal; 
II - a prova puder ser feita por outros meios disponíveis; 
III - o fato investigado constituir infração penal punida, no máximo, com pena de detenção. 
Parágrafo único. Em qualquer hipótese deve ser descrita com clareza a situação objeto da 
investigação, inclusive com a indicação e qualificação dos investigados, salvo impossibilidade 
manifesta, devidamente justificada. 
 
Consta do art. 2º, I, da Lei. 
Não se exige prova plena, sendo suficiente o juízo de probabilidade (fumus 
boni iuris), sob o influxo do princípio in dubio pro societate. 
Havendo indicação provável de prática de crime, o juiz poderá autorizar. Não 
se exige a instauração formal de inquérito policial.Prof. Arnaldo França 
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c) Que a infração penal seja crime punido com reclusão 
Art. 2° Não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas quando ocorrer qualquer das 
seguintes hipóteses: 
I - não houver indícios razoáveis da autoria ou participação em infração penal; 
II - a prova puder ser feita por outros meios disponíveis; 
III - o fato investigado constituir infração penal punida, no máximo, com pena de 
detenção. 
Parágrafo único. Em qualquer hipótese deve ser descrita com clareza a situação objeto da 
investigação, inclusive com a indicação e qualificação dos investigados, salvo impossibilidade 
manifesta, devidamente justificada. 
 
De acordo com o art. 2º, III, não será admitida a interceptação quando o 
fato investigado constituir infração penal punida, no máximo, com pena de detenção. 
Isto significa dizer que somente será admissível a quebra do sigilo telefônico 
nas hipóteses de crimes apenados com reclusão. 
Contudo, conforme a doutrina, tal critério trouxe duas impropriedades: 
a) deixou de lado crimes apenados com detenção, como a ameaça, 
comumente praticado via telefone, ou mesmo contravenções, como o jogo do bicho; 
b) ao elencar genericamente todas as infrações penais apenadas com 
reclusão como objeto da interceptação, alargou sobremaneira o rol dos delitos passíveis de serem 
investigados por quebra do sigilo telefônico, crimes estes, muitas vezes, destituídos de maior 
gravidade, o que torna discutível, no caso concreto, o sacrifício de um direito fundamental como o 
sigilo das comunicações telefônicas. 
Deve incidir, na hipótese, o princípio da proporcionalidade dos bens jurídicos 
envolvidos, não se podendo sacrificar o sigilo das comunicações em prol de um bem de menor valor. 
 
d) Que não exista outro meio de se produzir a prova 
Art. 2° Não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas quando ocorrer qualquer das 
seguintes hipóteses: 
I - não houver indícios razoáveis da autoria ou participação em infração penal; 
II - a prova puder ser feita por outros meios disponíveis; 
III - o fato investigado constituir infração penal punida, no máximo, com pena de detenção. 
 
 
 
 
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Parágrafo único. Em qualquer hipótese deve ser descrita com clareza a situação objeto da 
investigação, inclusive com a indicação e qualificação dos investigados, salvo impossibilidade 
manifesta, devidamente justificada. 
Para a concessão da medida cautelar é necessário demonstrar o periculum, 
isto é, o perigo de se perder a prova sem a interceptação. 
A quebra do sigilo telefônico, por constituir medida excepcional, somente 
deverá ser utilizada quando a prova não puder ser obtida por outros meios. 
Por se tratar de medida que restringe um direito fundamental do cidadão, 
qual seja, o seu direito à intimidade e liberdade de comunicação, caberá ao juiz, no caso concreto, 
avaliar se há outras alternativas menos invasivas, menos lesivas ao indivíduo. 
Se houver outros meios processuais de obtenção da prova, estes deverão 
ser utilizados. Deve-se, portanto, demonstrar fundamentadamente a necessidade da medida. 
Convém notar que se existir outro meio, mas este for de extrema dificuldade de produção, na prática, 
a autorização poderá ser concedida. 
 
e) Que tenha por finalidade instruir investigação policial ou processo criminal 
Art. 1º A interceptação de comunicações telefônicas, de qualquer natureza, para prova em 
investigação criminal e em instrução processual penal, observará o disposto nesta Lei e 
dependerá de ordem do juiz competente da ação principal, sob segredo de justiça. 
Parágrafo único. O disposto nesta Lei aplica-se à interceptação do fluxo de comunicações em 
sistemas de informática e telemática. 
 
Trata-se de requisito constante da Carta Magna e que foi reproduzido pela 
Lei nº 9.296/96 em seu art. 1º. 
Assim, não se admite a quebra do sigilo para instruir processo cível, por 
exemplo, ação de separação por adultério, em que é comum a ação de detetives particulares 
“grampeando” o telefone do cônjuge suspeito, já que a autorização só é possível em questão 
criminal. 
Da mesma forma, incabível a interceptação em sede de inquérito civil ou 
ação civil pública. 
 
Observação importante: No caso de descoberta fortuita ou ocasional de crime distinto 
daquele para o qual foi expedida a ordem, o entendimento majoritário é da licitude das 
 
 
 
 
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provas para responsabilização penal, exigindo-se relação de conexidade (relação com o 
fato investigado), pouco importando se é punido com reclusão. 
 
 
d) LEGITIMADOS (ART. 3°) 
Os legitimados para requerer a decretação da interceptação telefônica 
constam no artigo 3° da Lei 9296/96: 
 
Art. 3° A interceptação das comunicações telefônicas poderá ser determinada pelo juiz, de ofício ou 
a requerimento: 
I - da autoridade policial, na investigação criminal; 
II - do representante do Ministério Público, na investigação criminal e na instrução processual penal. 
Há a possibilidade de requerimento pelo ofendido enquanto titular ação 
penal privada (indícios de autoria, crime reclusão e excepcionalidade), bem como também há a 
possibilidade de requerimento pelo assistente acusação regularmente habilitado (artigos 31, 268 e 
271 CPP) 
No que tange à possibilidade de decretação do sigilo de ofício pelo 
magistrado, recomendamos a utilização do mesmo raciocínio aplicado no item 1.12 (poderes 
instrutórios do magistrado – Art. 156 do Código de Processo Penal. 
 
F) PRAZO 
O prazo de duração da interceptação telefônica está descrito no art.5°, sendo 
de 15 dias, renovável por igual tempo uma vez comprovada a indispensabilidade do meio de prova. 
 
Art. 5° A decisão será fundamentada, sob pena de nulidade, indicando também a forma de execução 
da diligência, que não poderá exceder o prazo de quinze dias, renovável por igual tempo uma vez 
comprovada a indispensabilidade do meio de prova. 
Em relação ao cômputo do prazo, aplica-se o artigo 10 do Código Penal e 
não o art. 798, §1°, CPP. 
Observação importante: a interceptação telefônica não pode exceder 15 dias, porém 
pode ser renovada por igual período, não havendo restrição legal ao número de vezes 
da renovação, desde que comprovada a necessidade. Entretanto, em que pese a lei não 
limite o número de vezes, há que se respeitar o princípio da proporcionalidade, não 
 
 
 
 
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podendo a restrição durar “ad eternum” por se tratar de uma garantia constitucional do 
indivíduo. 
 
G) PROCEDIMENTO 
O procedimento está regulado nos artigos 5° ao artigo 10 da Lei 9296/96. 
Em caso de indeferimento da medida, poderá a parte impugnar a decisão 
judicial através de mandado de segurança criminal, sendo tal ato mais recomendável pois dispensa 
contrarrazões. 
Já no caso de deferimento da medida à revelia da lei, a medida mais 
adequada é a impetração de habeas corpus, uma vez que atinge de forma indireta a liberdade do 
indivíduo. 
 
9.4) INTERCEPTAÇÃO DE DADOS: (e-mails, MSN, chat, sites e etc.) 
 
Como mencionado no item 2.1, em relação à interceptação de dados, há 
uma primeira corrente doutrinária que sustenta a sua inconstitucionalidade com base no art.5°,XII, 
da Constituição da República Federativa do Brasil, uma vez que a ressalva constitucional de violação 
do sigilo seria aplicável somente às comunicações telefônicas. 
Já uma segunda corrente sustenta a constitucionalidade de tal medida com 
base em uma interpretaçãohermenêutica de tal instituto, sendo a interceptação da comunicação de 
dados mencionada no artigo 1°, parágrafo único da Lei 9296/96. 
Neste sentido, partindo da premissa de que a segunda corrente seria mais 
adequada fazemos as mesmas observações anteriormente expostas no item 2.1 (em relação aos 
legitimados, procedimento, classificação e requisitos). 
 
Obs: Devemos considerar que o artigo 5°, inciso XII do texto constitucional, em relação à 
interceptação de dados, tutela a comunicação por intermédio de dados e não as informações 
referentes a dados que constam nos aparelhos celulares ou computadores, tais como agendas 
telefônicas, registros de chamadas, arquivos digitalizados. Entretanto, o STJ tem entendimento 
consolidado ( Edição 69 – NULIDADES NO PROCESSO PENAL - RHC 068419/RN,Rel. Ministro FELIX 
FISCHER, QUINTA TURMA,Julgado em 28/06/2016,DJE 01/08/2016; RHC 051531/RO,Rel. Ministro 
NEFI CORDEIRO, Julgado em 19/04/2016,DJE 09/05/2016) que são nulas as provas obtidas por 
meio da extração de dados e de conversas privadas registradas em correio eletrônico e redes sociais 
(v.g. whatsapp e facebook) sem a prévia autorização judicial. 
 
 
 
 
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9.5) INTERCEPTAÇÕES AMBIENTAIS: 
 
Trata-se de captação de sons, imagens ou sinais eletromagnéticos sem uso 
de linha telefônica, realizadas por meio de filmagens, gravadores e etc. Não há previsão no Código 
de Processo Penal, entretanto, há previsão no art. 3° da lei 12850/13 como meio de obtenção de 
prova. 
Em regra, não implica, per si, violação ao direito de intimidade a ponto de 
tornar ilícita a prova obtida, salvo se realizada em ambiente de expectativa de privacidade e quando 
praticada com violação de confiança. 
Gravação de conversa informal entre investigado e a polícia: 
• momento do relato de sua colaboração no crime investigado: tal prova 
(gravação clandestina) será ilícita por afronta ao direito ao silêncio ou não autoincriminação - art. 
5°, LXIII, CF e art. 186 CPP. 
• momento do relato de detalhes do envolvimento de terceiros: nesse 
enfoque, a prova será lícita, pois o narrador comporta-se como uma testemunha - sem direito ao 
silêncio - sujeitando-se a crime de falso testemunho se, ciente dos fatos, não os relata à autoridade. 
 
9.6) SIGILO DE CORRESPONDÊNCIA: (art. 5°, XII, primeira parte, CF) 
 
O sigilo de correspondência está intrinsecamente ligado ao direito à 
intimidade, impedindo que terceiros tenha acesso ao texto incorporado à carta. 
Entretanto, para o STJ prevalece o entendimento de que não se estende a 
tutela à encomenda via postal, podendo esta ser violada sempre que houver suspeita de que se 
trata de objeto ilícito/proibido. 
 
OBS1: Apreensão de cartas abertas: (art. 240, §1°, “f”, CPP): 
a) impossibilidade: tutela-se o teor escrito e não o envelope, não podendo ser usado como prova 
válida - art. 233 CPP. 
b) possibilidade: se a carta está aberta, não há violação - STJ. 
Obs.2: Violação da correspondência do preso: (art. 41, XV, Lei n° 7.210/84) 
É crime = art. 151 CP e art. 3°, “c”, Lei n° 4.898/65. 
Não obstante, o STF decidiu que, excepcionalmente, é possível a interceptação da correspondência, 
por razões de segurança pública, não podendo a inviolabilidade do sigilo epistolar albergar ilicitudes. 
 
 
 
 
 
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Obs.3: Violação e-mails (controvérsias): 
1) não pode: substituto carta escrita (art. 5°, XII, CF). 
2) pode: equiparação a dados (art. 1°, par. único, da Lei n° 9.296/96). 
3) eclético: possível a violação apenas de e-mails em fluxo, ainda não à disposição do destinatário 
em seu endereço eletrônico = dados. 
 
9.7) EXAME DE CORPO DE DELITO: (ARTS. 158 a 184 CPP) 
 
Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto 
ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado. 
 
O exame de corpo de delito tem por finalidade comprovar a materialidade 
de infrações que deixam vestígios (delitos não transeuntes). Pode ser: 
•Direto: realizado pelo perito diante do vestígio deixado pela infração. 
•Indireto: desaparecimento dos vestígios em face do tempo, podendo o 
expert se valer de laudo particular realizado após a ocorrência ou de prova testemunhal, nos termos 
do artigo 167 do CPP. 
 
a) Mitigação ao rigor do art. 158 CPP (indispensabilidade do exame): 
 
art. 77, §1°, Lei n° 9.099/95 = basta boletim médico ou equivalente. 
art. 167 CPP = prova testemunhal supre a ausência do exame. Também 
pode ser documental (fotografia). 
 
Obs: não se aceita a confissão como meio hábil para suprir a perícia porque 
tem valor relativo, depende de confirmação por outros meios. 
 
b) Formalidades do exame de corpo de delito: 
 
Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial, portador 
de diploma de curso superior. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008) 
1o Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas, portadoras de 
diploma de curso superior preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habilitação 
técnica relacionada com a natureza do exame. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008) 
 
 
 
 
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§ 2o Os peritos não oficiais prestarão o compromisso de bem e fielmente desempenhar o encargo. 
(Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008) 
 
O exame de corpo de delito deve ser realizado por perito oficial portador de 
curso superior, sendo que na falta, poderá ser realizado por dois peritos não-oficiais (leigos), com 
curso superior, preferencialmente na área objeto da perícia, nomeadas pelo delegado ou juiz, 
devendo prestar compromisso. 
Ausência de termo de compromisso: 
a) causa de nulidade. 
b) mera irregularidade se o auto é chancelado pela autoridade (STJ). 
Ausência de graduação superior: 
a) nulo o exame: entendimento esposado pelo STJ. 
b) mera irregularidade: pois os diplomas recentes (Lei n° 11.343/06 - art. 
50, §1°, e art. 530-D do CPP) não exigem a escolaridade como condição para nomeação. 
 
 
c) Contraditório diferido 
Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial, portador 
de diploma de curso superior. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008) 
§ 3o Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao ofendido, ao querelante 
e ao acusado a formulação de quesitos e indicação de assistente técnico. (Incluído pela Lei nº 
11.690, de 2008) 
§ 4o O assistente técnico atuará a partir de sua admissão pelo juiz e após a conclusão dos exames 
e elaboração do laudo pelos peritos oficiais, sendo as partes intimadas desta decisão. (Incluído pela 
Lei nº 11.690, de 2008) 
§ 5o Durante o curso do processo judicial, é permitido às partes, quanto à perícia: (Incluído pela Lei 
nº 11.690, de 2008) 
I – requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou para responderem a quesitos, desde 
que o mandado de intimação e os quesitos ou questões a serem esclarecidas sejam encaminhados 
com antecedência mínima de 10 (dez) dias, podendo apresentar as respostas em laudo 
complementar; (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008) 
II – indicar assistentes técnicos que poderão apresentar pareceres em prazo a ser fixado pelo juiz 
ou ser inquiridos em audiência. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008) 
 
 
 
 
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§ 6o Havendo requerimento das partes, o material probatório que serviu de base à perícia serádisponibilizado no ambiente do órgão oficial, que manterá sempre sua guarda, e na presença de 
perito oficial, para exame pelos assistentes, salvo se for impossível a sua conservação. 
(Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008) 
§ 7o Tratando-se de perícia complexa que abranja mais de uma área de conhecimento especializado, 
poder-se-á designar a atuação de mais de um perito oficial, e a parte indicar mais de um assistente 
técnico. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008) 
A lei 11690/09 ampliou o exercício do contraditório diferido em relação ao 
exame pericial, tendo em vista que o Art. 159 do CPP facultou ao MP, assistente de acusação, 
ofendido, querelante e acusado o direito a formular quesitos e indicar assistente técnico, que atuará 
a partir da admissão do juiz, e após a conclusão dos exames e elaboração do laudo pelos peritos 
oficiais. 
d) Aspectos Importantes: 
Indeferimento injustificado da admissão de assistente técnico: recurso: 
habeas corpus, mandado de segurança e correição parcial. 
Oitiva dos peritos em audiência (art. 159, §5°, I, CPP). Necessidade de 
intimação dos peritos com antecedência mínima de 10 dias da solenidade, encaminhando-lhes, no 
mesmo prazo, as questões a serem respondidas. 
Divergência de conclusões entre os peritos (art. 180 do CPP). 
Laudos complementares: 
a) esclarecer omissões, obscuridades ou contradições (art. 181 CPP) 
b) necessidade de aguardar-se decurso lapso temporal para viabilizar a 
resposta a quesitos (art. 168, caput e §§ 1°2°, CPP). 
O juiz não está vinculado às conclusões do laudo pericial. O CPP adotou o 
sistema liberatório da apreciação da prova pericial, o que guarda sintonia com o princípio do livre 
convencimento motivado. 
e) Outras Perícias 
•Necropsia: exame interno do cadáver, morte violenta (art. 162 CPP). 
•Exumação: requer justa causa e autorização judicial. Sanar dúvidas acerca 
da causa mortis ou complementar dados (art. 163 CPP). 
•Incêndio: acidental ou criminoso (art. 173 CPP). 
•Reconhecimento de escritos: coletar material gráfico para confronto. 
Segundo o art. 174, IV, CPP, vale destacar que a autoridade policial não poderá mandar, apenas 
solicitar, ante o privilégio da não autoincriminação. 
 
 
 
 
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Instrumentos do crime: sujeitos a exame (art. 175 CPP). 
Crimes contra a propriedade imaterial: o exame de corpo de delito, direto ou 
indireto, visando a atestar a existência do crime é condição de procedibilidade para ação penal 
quando a infração deixar vestígios (arts. 524 a 530-I CPP). 
 
 
Questão 1 – XXIV EXAME 
No dia 11/01/2016, Arnaldo, nascido em 01/02/1943, primário e de bons antecedentes, enquanto 
estava em um bar, desferiu pauladas na perna e socos na face de Severino, nascido em 30/03/1980, 
por acreditar que este demonstrara interesse amoroso em sua neta de apenas 16 anos. As agressões 
praticadas por Arnaldo geraram deformidade permanente em Severino, que, revoltado com o 
ocorrido, foi morar em outro estado. Denunciado pela prática do crime do Art. 129, § 2º, inciso IV, 
do Código Penal, Arnaldo confessou em juízo, durante o interrogatório, as agressões; contudo, não 
foram acostados aos autos boletim de atendimento médico e exame de corpo de delito da vítima, 
que também não foi localizada para ser ouvida. As testemunhas confirmaram ter visto Arnaldo 
desferir um soco em Severino, mas não viram se da agressão resultou lesão. Em sentença, diante 
da confissão, Arnaldo foi condenado a pena de 03 anos de reclusão, deixando o magistrado de 
substituir a pena privativa de liberdade por restritiva de direitos em virtude da violência. 
Considerando a situação narrada, na condição de advogado(a) de Arnaldo, responda aos itens a 
seguir. 
A) Em sede de recurso de apelação, qual argumento poderá ser apresentado em busca da absolvição 
de Arnaldo? Justifique. (Valor: 0,65) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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9.8) INTERROGATÓRIO: (ARTS. 185 A 196 CPP) – SÚMULA VINCULANTE 11 STF 
a) Características: 
a.1) obrigatório: pena de nulidade processual (art. 564, III, “e”, CPP) 
a.2) personalíssimo: no caso de incapacidade do agente após a prática da infração (art. 152 CPP) e 
se preexistia (art. 151 do CPP). 
Crime ambiental praticado por pessoa jurídica (art. 225, §3°, CF): 
O CPP é omisso. Analogia art. 12, VI, CPC = pessoa indicada no estatuto. No interrogatório deverá 
ter instrumento de preposição. 
a.3) oralidade: perguntas e respostas orais. Exceção: surdo, mudo e estrangeiro (arts. 192 e 193 do 
CPP). 
a.4) publicidade: ato público, mas o juiz pode determinar que o ato seja realizado às portas fechadas, 
limitando o n° presentes, para evitar pressão, escândalos ou perturbação ordem pública. 
a.5) individualidade: não se permite interrogatório conjunto. 
b.6) Sistema de Inquirição: 
Trata-se do sistema Presidencialista, no qual as partes formulam as perguntas 
por intermédio do juiz, o qual poderá indeferir as perguntas impertinentes e irrelevantes (art. 188 
do CPP) 
Entretanto, no procedimento do júri as perguntas poderão ser realizadas 
diretamente pelas partes (art. 474, §1°), enquanto os jurados deverão fazê-las por intermédio do 
juiz (art. 474, §2°) 
b) Natureza jurídica do interrogatório: 
 
Trata-se de meio de prova e meio de defesa. Em que pese tenha sido 
elencado no Código de Processo Penal como meio de prova, é a oportunidade no qual se materializa 
a defesa pessoal do réu. 
Neste sentido, a reforma de 2008, ao situar o interrogatório como último ato 
da instrução no procedimento comum ordinário reforça o argumento de se tratar de verdadeiro meio 
de defesa. 
Ademais, nos termos do artigo 185 do CPP é obrigatória a presença de 
defensor, pena de nulidade absoluta. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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c) Aspectos Importantes 
Em que pese o artigo 185 e seguintes do CPP se refiram de um modo geral 
ao interrogatório na fase judicial, o artigo 6°, inciso V do CPP, determinada que tal normatização 
deve ser aplicada, no que for aplicável, ao interrogatório realizado em sede policial. 
O acusado possui o direito de entrevista pessoal e reservada com seu 
Defensor, nos termos do art. 185, §5°, 1ª parte, havendo uma oscilação jurisprudencial se o 
descumprimento acarreta nulidade absoluta ou relativa. 
Em caso de réu algemado no momento de seu interrogatório, em caso de 
não haver justificativa idônea, tal ato será nulo de pleno direito, acarretando também a 
responsabilização civil, administrativa e penal do agente ou da autoridade, nos termos da Súmula 
Vinculante n.° 11 do STF: 
“Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à 
integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade 
por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de 
nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do 
Estado.” 
 
d) Direito ao silêncio (nemo tenetur se detegere) 
O entendimento majoritário é que tem direito ao silêncio quanto às 
perguntas relativas ao fato e sobre sua pessoa (ex: oportunidades sociais). 
No entanto, deve fornecer dados relativos à própria qualificação, pena de 
incidir no art. 68 da Lei de Contravenções Penais e/ou em crime de falsa identidade prevista no art. 
307 do CP. 
obs.1: O STJ possui entendimento consolidado (Ed. 69 Nulidades no processo penal) que a falta 
de comunicaçãoao acusado sobre o direito de permanecer em silêncio é causa de nulidade 
relativa, cujo reconhecimento depende da comprovação do prejuízo. 
 
e) Interrogatórios Especiais 
 
I - Interrogatório réu preso: sala própria, no estabelecimento em que estiver 
recolhido (art. 185, §1°, CPP). 
II - Interrogatório por videoconferência réu preso: caráter excepcional, 
decisão fundamentada, intimação das partes com no mínimo 10 dias de antecedência, condicionada 
 
 
 
 
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à impossibilidade de o juiz interrogar o réu no estabelecimento prisional, em face das seguintes 
hipóteses: 
a) prevenir risco à segurança pública e fundada suspeita de que o preso 
integre organização criminosa (art. 185, §2°, I, CPP). 
b) prevenir risco à segurança pública quando possa o acusado fugir durante 
o deslocamento (periculosidade). 
c) haja relevante dificuldade para seu comparecimento em juízo, por 
enfermidade ou outra circunstância pessoal (ameaça de morte). 
d) impedir influência do réu no ânimo de testemunha ou da vítima. 
e) responder à gravíssima questão de ordem pública (clamor social). 
 
OBS: RESOLUÇÃO N.º 105 DO CNJ: 
Resolução Nº 105 de 06/04/2010 
Ementa: Dispõe sobre a documentação dos depoimentos por meio do sistema audiovisual e 
realização de interrogatório e inquirição de testemunhas por videoconferência. 
Origem: Presidência 
O PRESIDENTE DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, no uso de suas atribuições conferidas pela 
Constituição da República, especialmente o disposto no inciso I, §4º, art. 103-B; 
CONSIDERANDO que, nos termos do art. 405, § 1º, do Código de Processo Penal, sempre que 
possível, com a finalidade de obter maior fidelidade das informações, dentre as formas possíveis de 
documentação dos depoimentos, deve-se dar preferência ao sistema audiovisual; 
CONSIDERANDO que, embora o art. 405, § 2º, do Código de Processo Penal, quando documentados 
os depoimentos pelo sistema audiovisual, dispense a transcrição, há registro de casos em que se 
determina a devolução dos autos aos juízes para fins de degravação; 
CONSIDERANDO que para cada minuto de gravação leva-se, no mínimo, 10 (dez) minutos para a 
sua degravação, o que inviabiliza a adoção dessa moderna técnica de documentação dos 
depoimentos como instrumento de agilização dos processos; 
CONSIDERANDO que caracteriza ofensa à independência funcional do juiz de primeiro grau a 
determinação, por magistrado integrante de tribunal, da transcrição de depoimentos tomados pelo 
sistema audiovisual; 
RESOLVE: 
Art. 1º O Conselho Nacional de Justiça desenvolverá e disponibilizará a todos os tribunais sistemas 
eletrônicos de gravação dos depoimentos, dos interrogatórios e de inquirição de testemunhas por 
videoconferência. (Redação dada pela Resolução nº 222, de 13.05.16) 
 
 
 
 
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Parágrafo Único. Os tribunais deverão desenvolver sistema eletrônico para o armazenamento dos 
depoimentos documentados pelo sistema eletrônico audiovisual. 
§ 1º Os tribunais e o CNJ poderão desenvolver repositórios de mídias para armazenamento de 
documentos de som e imagem, inclusive os decorrentes da instrução do processo. (Incluído pela 
Resolução nº 222, de 13.05.16) 
§ 2º Os documentos digitais inseridos no Repositório Nacional de Mídias para o Sistema PJe serão 
considerados, para todos os efeitos, peças integrantes dos autos eletrônicos do processo judicial 
correspondente e observarão: (Incluído pela Resolução nº 222, de 13.05.16) 
 
I) o número único do processo judicial, nos termos da Resolução CNJ 65/2008; (Incluído pela 
Resolução nº 222, de 13.05.16) 
II) o localizador padrão permanente de acesso ao conteúdo da informação (URL), na rede mundial 
de computadores; (Incluído pela Resolução nº 222, de 13.05.16) 
III) os requisitos dispostos no art. 195 do Código de Processo Civil, de autenticidade, integridade, 
temporalidade, não repúdio, conservação e, nos casos dos que tramitem em segredo de justiça, 
confidencialidade, observada a infraestrutura de chaves públicas unificada nacionalmente, nos 
termos da lei. (Incluído pela Resolução nº 222, de 13.05.16) 
§ 3º As audiências, oitivas de testemunhas e outros atos de instrução a que se refere a Portaria nº 
58, de 23/9/2014, da Corregedoria Nacional de acordo com os critérios previstos nesta Resolução. 
(Incluído pela Resolução nº 222, de 13.05.16) 
Art. 2º Os depoimentos documentados por meio audiovisual não precisam de transcrição. 
Parágrafo único. O magistrado, quando for de sua preferência pessoal, poderá determinar que os 
servidores que estão afetos a seu gabinete ou secretaria procedam à degravação, observando, nesse 
caso, as recomendações médicas quanto à prestação desse serviço. 
Art. 3º Quando a testemunha arrolada não residir na sede do juízo em que tramita o processo, deve-
se dar preferência, em decorrência do princípio da identidade física do juiz, à expedição da carta 
precatória para a inquirição pelo sistema de videoconferência. 
§ 1º O testemunho por videoconferência deve ser prestado na audiência una realizada no juízo 
deprecante, observada a ordem estabelecida no art. 400, caput, do Código de Processo Penal. 
§ 2º A direção da inquirição de testemunha realizada por sistema de videoconferência será do juiz 
deprecante. 
§ 3º A carta precatória deverá conter: 
I - A data, hora e local de realização da audiência una no juízo deprecante; 
 
 
 
 
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II - A solicitação para que a testemunha seja ouvida durante a audiência una realizada no juízo 
deprecante; 
III - A ressalva de que, não sendo possível o cumprimento da carta precatória pelo sistema de 
videoconferência, que o juiz deprecado proceda à inquirição da testemunha em data anterior à 
designada para a realização, no juízo deprecante, da audiência uma. 
Art. 4º No fórum deverá ser organizada sala equipada com equipamento de informática conectado 
com a rede mundial de computadores (internet), destinada para o cumprimento de carta precatória 
pelo sistema de videoconferência, assim como para ouvir a testemunha presente à audiência una, 
na hipótese do art. 217 do Código de Processo Penal. 
Art. 5º De regra, o interrogatório, ainda que de réu preso, deverá ser feito pela forma 
presencial, salvo decisão devidamente fundamentada, nas hipóteses do art. 185, § 2º, 
incisos I, II, III e IV, do Código de Processo Penal. 
Art. 6º Na hipótese em que o acusado, estando solto, quiser prestar o interrogatório, 
mas haja relevante dificuldade para seu comparecimento em juízo, por enfermidade ou 
outra circunstância pessoal, o ato deverá, se possível, para fins de preservação da 
identidade física do juiz, ser realizado pelo sistema de videoconferência, mediante a 
expedição de carta precatória. 
Parágrafo único. Não deve ser expedida carta precatória para o interrogatório do 
acusado pelo juízo deprecado, salvo no caso do caput. 
Art. 7º O interrogatório por videoconferência deverá ser prestado na audiência una 
realizada no juízo deprecante, adotado, no que couber, o disposto nesta Resolução para 
a inquirição de testemunha, asseguradas ao acusado as seguintes garantias: 
I - direito de assistir, pelo sistema de videoconferência, a audiência una realizada no 
juízo deprecante; 
II - direito de presença de seu advogado ou de defensor na sala onde for prestado o seu 
interrogatório; 
III - direito de presença de seu advogado ou de defensor na sala onde for realizada a 
audiência una de instrução e julgamento; 
IV - direito de entrevista prévia e reservada com o seu defensor, o que compreendeo 
acesso a canais telefônicos reservados para comunicação entre o defensor ou advogado 
que esteja no presídio ou no local do interrogatório e o defensor ou advogado presente 
na sala de audiência do fórum, e entre este e o preso. 
Art. 8º Esta Resolução entrará em vigor na data de sua publicação. 
 
 
 
 
 
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9.9. CONFISSÃO: (ARTS. 197 A 200 DO CPP) 
 
Ocorre quando o imputado, normalmente no interrogatório realizado na sede 
policial ou em juízo, assume a sua responsabilidade diante da autoridade. 
 
a) Aspectos Importantes 
Requisitos intrínsecos e formais para validade da confissão: verossimilhança, 
clareza, persistência, coincidência, pessoalidade, caráter expresso, oferecimento perante juiz 
competente, saúde mental e espontaneidade. 
Valoração: confronto com as demais provas (art. 197 CPP) 
A confissão pode ser divisível: juiz considera verdadeira em parte e inverídica 
em outra parte. 
Ex: reconhece autoria e nega excludentes. 
A confissão pode ser retratável: mesmo confesso em juízo, o réu pode 
retratar-se, cabendo ao juiz sua valoração. 
A confissão policial - retratada em juízo - mas levada em consideração na 
sentença condenatória, caracteriza a atenuante de confissão espontânea (art. 65, III, “d”, CP) = 
entendimento do STJ. 
O STJ ADMITE COMPENSAÇÃO DA ATENUANTE DA CONFISSÃO COM 
A AGRAVANTE DA REINCIDÊNCIA – ERESP 1.154.752) 
Já a confissão qualificada ocorre quando oréu reconhece o crime, mas 
agrega teses defensivas, não permite, em regra, o reconhecimento da referida atenuante (STJ 
ADMITE A ATENUAÇÃO DE PENA TURMA AGRG NI RESP.1.198.354-ES REL. JORGE MUSSI 
16/10/2014 E STF 1 TURMA NÃO ADMITE – HC 119671). 
 
9.10. PERGUNTAS AO OFENDIDO (ART. 201 CPP) 
 
A vítima deve ser ouvida pelo juiz, independente de ter sido arrolada. 
Não se encaixa no contexto da prova testemunhal, não se computando no 
número máximo de testemunhas facultado pelo rito. 
Não está sujeito ao compromisso (art. 203 CPP), não podendo ser sujeito 
ativo do crime de falso testemunho (art. 342 do CP). 
Se mentir responderá por falsa comunicação de crime ou denunciação 
caluniosa. 
 
 
 
 
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103 
Não pode se recusar a depor, podendo ser conduzido à solenidade. 
 Alterações introduzidas pela Lei n° 11.690/08: 
a) Obrigatoriedade de comunicação ao ofendido quanto a determinados atos 
processuais (data de audiências, sentenças/acórdãos) e sobre a prisão ou liberdade do acusado. 
Pode ser intimação eletrônica ou carta registrada ao endereço por ele indicado (art. 201, 
§2°§3°,CPP) 
b) Reserva de lugar em separado para que o ofendido permaneça antes e 
durante a audiência (§4°). 
c) Encaminhamento do ofendido a atendimento multidisciplinar, se for o 
caso, às expensas do Estado ou, após trânsito em julgado, pelo ofensor (§5°). Ex: crimes sexuais. 
d) Adoção de medidas necessárias para resguardar a imagem, honra e vida 
privada do ofendido (§6°). Trata-se de publicidade restrita, com respaldo no art. 792, §1°, CPP. A 
ordem de sigilo do processo deve ser determinada em casos extremos e fundamentada. 
 
9.11. PROVA TESTEMUNHAL: (ARTS. 202 A 225 CPP) 
 
a) Classificação das testemunhas: 
 
a.1) referida: embora não arrolada, pode ser inquirida ex officio ou a pedido das partes por ter 
sido citada por outra testemunha. Não é computada para o número máximo de testemunhas (art. 
401,§1°). 
a.2) judicial: inquirida ex officio e fundamenta-se no poder-dever ao magistrado de buscar a 
verdade real (art. 209 e art. 156 CPP). 
a.3) própria: ouvida sobre objeto do litígio por presenciar ou ouvir dizer. 
a.4) imprópria ou instrumental: que não presta depoimento sobre o mérito da ação penal. Ex: 
presenciou a apresentação de um preso em sede policial 
a.5) numerária: testemunha regularmente compromissada (art. 203) 
a.6) informante: dispensadas compromisso por presunção jure et jure de que são suspeitas suas 
declarações (art. 206), não se computam no número máximo para cada rito (art. 401, §1°, CPP). 
a.7) direta: presenciou os fatos. 
a.8) indireta: não presenciou os fatos, mas soube ou ouviu dizer. 
 
 
 
 
 
 
 
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b) NÚMERO MÁXIMO DE TESTEMUNHAS: 
 
b.1) oito: procedimentos comum ordinário (art. 401, §1°), júri (art. 406, §2°§3°), crimes de 
responsabilidade funcionário público (art. 518), crimes contra honra (art. 519), crimes contra 
propriedade imaterial (art. 524), crimes de comp. Tribunais dos Estados, Regionais Federais e 
Superiores (art. 9° da Lei n° 8.038/90 c/c Lei n° 8.658/93), crimes eleitorais punidos com pena 
máxima igual ou superior a 4 anos. 
b.2) três: crime abuso autoridade (art. 2°, par. único, Lei n° 4.898/65). 
b.3) cinco: proc. comum sumário (art. 532), crimes falimentares (art. 185 Lei n° 11.101/05 c/c art. 
532 CPP), juizados especiais criminais (inaplicável o art. 34, pois específico ao juizado esp. cível), lei 
de drogas (arts. 54 e 55, §1°, Lei n° 11.343/06), crimes eleitorais punidos com pena máxima inferior 
a 4 anos. 
Obs: Para acusação, o n° de testemunhas é definido segundo a 
quantidade de fatos imputados, desimportando o n° de agentes. 
Para defesa, leva-se em conta não apenas o n° de fatos como 
também de réus. Ex: dois réus acusados de um roubo terão o direito de arrolar cada um 
oito, totalizando dezesseis, mesmo com defensor único. O mesmo n° será facultado para 
o caso de um só réu responder por dois crimes de roubo. Já se os dois réus responderem 
a dois crimes de roubo, o n° máximo permitido será trinta e dois = oito para cada fato 
atribuído. 
Não se computarão no número máximo permitido as testemunhas 
referidas, não compromissadas, as judiciais e as que nada souberem que importe à 
decisão da causa (art. 401,§1°, e art. 209, caput e §2°). 
 
c) TESTEMUNHAS NÃO SUJEITAS A COMPROMISSO: (art. 208 CPP) 
 
Doentes mentais, menores de 14 anos e parentes do réu enumerados no art. 
206 CPP: ascendentes, descendentes, irmão e cônjuge, ainda que separado judicialmente, e, por 
fim, os afins em linha reta (sogro). 
Ausência de regra específica na legislação processual: 
1) não há menção a amigo íntimo e inimigo capital, tampouco aos parentes 
da vítima. Logo, devem prest/r compromisso, mas na prática forense isso não ocorre. 
2) os, primos, sobrinhos e cunhado do réu prestam compromisso, pois são 
parentes colateriais - legítimos e por afinidade - não incluídos no art. 206 e art. 208 CPP. 
CONTRADITA: impugnar a narrativa de testemunhas arroladas. 
 
 
 
 
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i) testemunha que não deva prestar compromisso (art. 208 CPP). Acolhida a 
contradita, o efeito é a dispensa de compromisso. 
ii) pessoa que seja proibida depor em razão do ofício ou profissão (art. 207 
CPP). Acolhida, o efeito é a exclusão da testemunha, não pode depor (padre, psicólogo e etc.). 
 
ARGUIÇÃO DE DEFEITO: quando tiver ciência de fatos que tornem a 
testemunha indigna de fé ou suspeita de parcialidade (parentes da vítima, amigo íntimo ou inimigo). 
Consigna-se no termo de audiência. 
 
d) Características da prova testemunhal: 
 
d.1) oralidade: pode fazer breve consulta a apontamentos (art. 204) 
d.2) objetividade: em regra depõe sobre fatos, não sobre impressões pessoais, salvo quando 
inseparáveis da narrativa ou for abonatória. 
d.3) individualidade: ouvidas de forma individual (art. 210). 
d.4) incomunicabilidade: reserva de espaço separado (art. 210 CPP) 
d.5) retrospectividade: depoimento sobre fatos passados,jamais futuros. Exceção: informações 
técnicas: médico prognóstico de recuperação. 
d.6) obrigatoriedade de comparecimento: condução coercitiva, pagamento de despesas, multa 
e crime de desobediência. 
Exceções: pessoas doentes e enfermas e determinados cargos, que 
ostentam prerrogativas (art. 220, art. 221, caput, §1°, CPP). 
d.7) obrigatoriedade: em regra, não tem direito ao silêncio. Providências judicias em caso de 
falso testemunho. 
 
e) Hipóteses legais de inversão da ordem de oitiva das testemunhas: 
 
e.1) testemunhas deprecadas (arts. 400, 411, 531 e 222). 
e.2) possibilidade de perecimento da prova ou de dificuldade posterior de sua produção (art. 225). 
e.3) ausência de testemunha de acusação no proc. sumário (art. 536). 
 
Observação importante: ante a atual redação do art. 212 CPP, o sistema presidencialista 
deixou de ser adotado, havendo a possibilidade de perguntas diretamente pelas partes. 
Neste sentido adveio debate doutrinário quanto ao momento em que o juiz deve realizar 
 
 
 
 
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as suas perguntas, uma vez que segundo o aludido artigo o magistrado somente pode 
inquirir de forma complementar às partes. Para Nucci e Avena nada mudou - quem 
começa a ouvir a testemunha é sempre o juiz, como de praxe forense. Entretanto, na 
prática há desrespeito a essa regra, exigindo a jurisprudência a demonstração do 
prejuízo para fins de nulidade de tal inquirição. Neste sentido, o STJ possui 
entendimento consolidado (Ed. 69 Nulidades no Processo Penal) que A inquirição das 
testemunhas pelo Juiz antes que seja oportunizada às partes a formulação das 
perguntas, com a inversão da ordem prevista no art. 212 do Código de Processo Penal, 
constitui nulidade relativa. 
A expedição de carta precatória não suspende a instrução criminal, 
consoante art. 222, §1°, CPP. 
Necessidade de fixar prazo para cumprimento do ato deprecado - entre 30 e 
90 dias. Eventual descumprimento possibilita que seja proferida sentença independente do retorno 
da precatória (art. 222, §2°), sem implicar nulidade, consoante entendimento jurisprudencial. 
Se retornar após a sentença, deve ser remetida ao Tribunal para que seja 
acostada ao recurso, intimando-se as partes para aditarem suas respectivas razões. 
 
Obs. 2: não há necessidade de intimação das partes para audiência a ser realizada no 
juízo deprecado, sendo suficiente a intimação da expedição da carta precatória 
(Súmulas 273 STJ e 155 STF ). 
 
9.12) RECONHECIMENTO PESSOAS E COISAS: (ARTS. 226 A 228 CPP) 
 
a) Formalidades legais: 
1) a pessoa convidada a fazer o reconhecimento deverá descrever a pessoa 
que deva ser reconhecida (art. 226, inciso I) 
2) em seguida, deverá o reconhecedor apontá-la entre outras que com ela 
guardarem semelhança, “se possível” (inciso II). Com efeito, o STJ não reconheceu ilegalidade no 
posicionamento do réu sozinho. 
3) ao final, lavrar-se-á o auto, subscrito pela autoridade, reconhecedor e por 
duas testemunhas presenciais (inciso IV). 
4) havendo receio de que, por intimidação, a pessoa chamada para o 
reconhecimento não fale a verdade, a autoridade poderá providenciar para que não seja vista por 
quem deva ser reconhecido (inciso III). 
 
 
 
 
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Ao reconhecimento de coisas aplicam-se as mesmas regras, no que for 
cabível, abstraindo-se a previsão contida no inciso III do art. 226. 
 
OBS: O STJ possui entendimento consolidado (Ed. 69 – Nulidades no Processo Penal) que as 
irregularidades relativas ao reconhecimento pessoal do acusado não ensejam nulidade, uma vez que 
as formalidades previstas no art. 226 do CPP são meras recomendações legais. 
 
9.13) BUSCA E APREENSÃO: (ARTS. 240 A 250 CPP) 
 
a) Natureza jurídica: 
 
a.1) meio de prova: uso nas investigações e processo criminal. 
a.2) assecuratório de direitos: arresto para garantir êxito na reparação civil 
dos danos causados pela infração penal. 
 
b) Classificação: 
 b.1) domiciliar 
 b.2) pessoal. 
 
Amplitude de conceito normativo de casa: supera-se o conceito previsto no 
art. 70 e 72 Código Civil. Utiliza-se o art. 150, §4°, CP e art. 246 CPP. Abrange pátio de residência, 
boléia caminhão, trailers, cabine de barcos, barracas, motor-home, repartições públicas, quartos de 
hotel, pensão, motel e congêneres. 
Necessidade de ordem judicial: fundadas razões para busca e apreensão 
domiciliar = exigência de indícios convincentes, indicação do local no qual será realizada e objeto 
da providência (art. 240,§1°). 
Para busca pessoal, basta fundada suspeita = subjetivo (art. 240,§2°). 
c) Aspectos Importantes 
Fora das hipóteses de flagrante, desastre, socorro e consentimento do 
morador, a exigência do mandado é dispensada quando o próprio juiz competente para expedi-lo 
realizar a busca pessoalmente, acompanhado de policiais, nos termos do artigo 241, §2°. Entretanto, 
tal dispositivo deve ser interpretado com ressalva, sob pena de violação ao sistema acusatório e 
resgate da figura do juiz-inquisidor. 
 
 
 
 
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Cabimento da busca e apreensão domiciliar: Taxatividade do rol previsto no 
art. 240, §1°, CPP. 
Desobediência ou recalcitrância do morador: possibilidade de ingresso 
forçado na casa, arrombamento da porta (art. 245, §2°). Se houver resistência física do morador, 
poderá ser preso em flagrante por crime de desobediência, resistência ou desacato. 
Auto de apreensão: lavratura de auto circunstanciado, assinando-o com duas 
testemunhas presenciais, salvo se executado ou lugar ermo (art. 245, §4° e §7°, CPP). 
d) Regras Especiais 
Revista de mulher (art. 249 CPP). 
Busca em território de jurisdição distinta: seguimento pessoa (art. 250). 
 
e) Julgamento do RE 603616 
 
O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) concluiu, na sessão desta 
quinta-feira (5), o julgamento do Recurso Extraordinário (RE) 603616, com repercussão geral 
reconhecida, e, por maioria de votos, firmou a tese de que “a entrada forçada em domicílio sem 
mandado judicial só é lícita, mesmo em período noturno, quando amparada em fundadas razões, 
devidamente justificadas a posteriori, que indiquem que dentro da casa ocorre situação de flagrante 
delito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de 
nulidade dos atos praticados”. 
 
Questão 1 – XXIII EXAME 
José Barbosa, nascido em 11/03/1998, caminhava para casa após sair da faculdade, às 11h da 
manhã, no dia 07/03/2016, quando se deparou com Daniel, ex-namorado de sua atual companheira, 
conversando com esta. Em razão de ciúmes, retirou a faca que trazia na mochila e aplicou numerosas 
facadas no peito de Daniel, com a intenção de matá-lo. Daniel recebeu pronto atendimento médico, 
foi encaminhado para um hospital de Niterói, mas faleceu 05 dias após os golpes de faca. 
Já no dia 08/03/2016, policiais militares, informados sobre o fato ocorrido no dia anterior, 
comparecem à residência de José Barbosa, já que um dos agentes da lei era seu vizinho. Apesar de 
não ter ninguém em casa, a janela estava aberta, e os policiais puderam ver seu interior, verificando 
que havia uma faca suja de sangue escondida junto ao sofá. Diante disso, para evitar que José 
Barbosa desaparecesse com a arma utilizada, ingressaram no imóvel e apreenderam a arma branca, 
que foi devidamente apresentada pela autoridade policial. 
 
 
 
 
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Com base na prova produzida a partir da apreensão da faca, oMinistério Público oferece denúncia 
em face de José Barbosa, imputando-lhe a prática do crime de homicídio consumado. 
Considerando a situação narrada, na condição de advogado(a) de José Barbosa, responda aos itens 
a seguir. 
A) Qual argumento a ser apresentado pela defesa técnica do denunciado para combater a prova 
decorrente da apreensão da faca? Justifique. (Valor: 0,65) 
B) Existe argumento de direito material a ser apresentado em favor de José Barbosa para evitar o 
prosseguimento da ação penal? Justifique. (Valor: 0,60) 
Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação ou transcrição do 
dispositivo legal não confere pontuação. 
 
Questão 3 – XVIII EXAME 2015-03 
Fernando foi pronunciado pela prática de um crime de homicídio doloso consumado que teve como 
vítima Henrique. Em sessão plenária do Tribunal do Júri, o réu e sua namorada, ouvida na condição 
de informante, afirmaram que Henrique iniciou agressões contra Fernando e que este agiu em 
legítima defesa. Por sua vez, a namorada da vítima e uma testemunha presencial asseguraram que 
não houve qualquer agressão pretérita por parte de Henrique. 
No momento do julgamento, os jurados reconheceram a autoria e materialidade, mas optaram por 
absolver Fernando da imputação delitiva. Inconformado, o Ministério Público apresentou recurso de 
apelação com fundamento no Art. 593, inciso III, alínea ‘d’, do CPP, alegando que a decisão foi 
manifestamente contrária à prova dos autos. A família de Fernando fica preocupada com o recurso, 
em especial porque afirma que todos tinham conhecimento que dois dos jurados que atuaram no 
julgamento eram irmãos, mas em momento algum isso foi questionado pelas partes, alegado no 
recurso ou avaliado pelo Juiz Presidente. 
Considerando a situação narrada, esclareça, na condição de advogado(a) de Fernando, os seguintes 
questionamentos da família do réu: 
A) A decisão dos jurados foi manifestamente contrária à prova dos autos? Justifique. (Valor: 0,60) 
B) Poderá o Tribunal, no recurso do Ministério Público, anular o julgamento com fundamento em 
nulidade na formação do Conselho de Sentença? Justifique. (Valor: 0,65) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Questão 1 – XVII EXAME 2015.2 
Rodrigo, primário e de bons antecedentes, quando passava em frente a um estabelecimento 
comercial que estava fechado por ser domingo, resolveu nele ingressar. Após romper o cadeado da 
porta principal, subtraiu do seu interior algumas caixas de cigarro. A ação não foi notada por 
qualquer pessoa. Todavia, quando caminhava pela rua com o material subtraído, veio a ser abordado 
por policiais militares, ocasião em que admitiu a subtração e a forma como ingressou no comércio 
lesado. O material furtado foi avaliado em R$ 1.300,00 (um mil e trezentos reais), sendo 
integralmente recuperado. A perícia não compareceu ao local para confirmar o rompimento de 
obstáculo. O autor do fato foi denunciado como incurso nas sanções penais do Art. 155, § 4º, inciso 
I, do Código Penal. As únicas testemunhas de acusação foram os policiais militares, que confirmaram 
que apenas foram responsáveis pela abordagem do réu, que confessou a subtração. Disseram não 
ter comparecido, porém, ao estabelecimento lesado. Em seu interrogatório, Rodrigo confirmou 
apenas que subtraiu os cigarros do estabelecimento, recusando-se a responder qualquer outra 
pergunta. A defesa técnica de Rodrigo é intimada para apresentar alegações finais por memoriais. 
Com base na hipótese apresentada, responda, fundamentadamente, aos itens a seguir. 
A) Diante da confissão da prática do crime de furto por Rodrigo, qual a principal tese defensiva em 
relação à tipificação da conduta a ser formulada pela defesa técnica? (Valor: 0,65) 
B) Em caso de acolhimento da tese defensiva, poderá Rodrigo ser, de imediato, condenado nos 
termos da manifestação da defesa técnica? (Valor: 0,60) 
 
PEÇA PROFISSIONAL – IX EXAME (2012.3) 
Gisele foi denunciada, com recebimento ocorrido em 31/10/2010, pela prática do delito de lesão 
corporal leve, com a presença da circunstância agravante, de ter o crime sido cometido contra 
mulher grávida. Isso porque, segundo narrou a inicial acusatória, Gisele, no dia 01/04/2009, então 
com 19 anos, objetivando provocar lesão corporal leve em Amanda, deu um chute nas costas de 
Carolina, por confundi-la com aquela, ocasião em que Carolina (que estava grávida) caiu de joelhos 
no chão, lesionando-se. 
A vítima, muito atordoada com o acontecido, ficou por um tempo sem saber o que fazer, mas foi 
convencida por Amanda (sua amiga e pessoa a quem Gisele realmente queria lesionar) a noticiar o 
fato na delegacia. Sendo assim, tão logo voltou de um intercâmbio, mais precisamente no dia 
18/10/2009, Carolina compareceu à delegacia e noticiou o fato, representando contra Gisele. Por 
orientação do delegado, Carolina foi instruída a fazer exame de corpo de delito, o que não ocorreu, 
porque os ferimentos, muito leves, já haviam sarado. O Ministério Público, na denúncia, arrolou 
Amanda como testemunha. 
 
 
 
 
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Em seu depoimento, feito em sede judicial, Amanda disse que não viu Gisele bater em Carolina e 
nem viu os ferimentos, mas disse que poderia afirmar com convicção que os fatos noticiados 
realmente ocorreram, pois estava na casa da vítima quando esta chegou chorando muito e narrando 
a história. Não foi ouvida mais nenhuma testemunha e Gisele, em seu interrogatório, exerceu o 
direito ao silêncio. Cumpre destacar que a primeira e única audiência ocorreu apenas em 
20/03/2012, mas que, anteriormente, três outras audiências foram marcadas; apenas não se 
realizaram porque, na primeira, o magistrado não pôde comparecer, na segunda o Ministério Público 
não compareceu e a terceira não se realizou porque, no dia marcado, foi dado ponto facultativo pelo 
governador do Estado, razão pela qual todas as audiências foram redesignadas. Assim, somente na 
quarta data agendada é que a audiência efetivamente aconteceu. Também merece destaque o fato 
de que na referida audiência o parquet não ofereceu proposta de suspensão condicional do processo, 
pois, conforme documentos comprobatórios juntados aos autos, em 30/03/2009, Gisele, em 
processo criminal onde se apuravam outros fatos, aceitou o benefício proposto. 
Assim, segundo o promotor de justiça, afigurava-se impossível formulação de nova proposta de 
suspensão condicional do processo, ou de qualquer outro benefício anterior não destacado, e, além 
disso, tal dado deveria figurar na condenação ora pleiteada para Gisele como outra circunstância 
agravante, qual seja, reincidência. 
Nesse sentido, considere que o magistrado encerrou a audiência e abriu prazo, intimando as partes, 
para o oferecimento da peça processual cabível. 
 
Como advogado de Gisele, levando em conta tão somente os dados contidos no enunciado, elabore 
a peça cabível. (Valor: 5,0) 
 
PEÇA PROFISSIONAL – VI EXAME (2011.3) 
 
No dia 10 de março de 2011, após ingerir um litro de vinho na sede de sua fazenda, José Alves 
pegou seu automóvel e passou a conduzi-lo ao longo da estrada que tangencia sua propriedade 
rural. Após percorrer cerca de dois quilômetros na estrada absolutamente deserta, José Alves foi 
surpreendido por uma equipe da Polícia Militar que lá estava a fim de procurar um indivíduo foragido 
do presídio da localidade. 
Abordado pelos policiais, José Alves saiu de seu veículo trôpego e exalando forte odor de álcool, 
oportunidade em que, de maneira incisiva, os policiais lhe compeliram a realizar um teste de 
alcoolemia em aparelho de ar alveolar. Realizadoo teste, foi constatado que José Alves tinha 
concentração de álcool de um miligrama por litro de ar expelido pelos pulmões, razão pela qual os 
 
 
 
 
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policiais o conduziram à Unidade de Polícia Judiciária, onde foi lavrado Auto de Prisão em Flagrante 
pela prática do crime previsto no artigo 306 da Lei 9.503/1997, c/c artigo 2º, inciso II, do Decreto 
6.488/2008, sendo-lhe negado no referido Auto de Prisão em Flagrante o direito de entrevistar-se 
com seus advogados ou com seus familiares. 
Dois dias após a lavratura do Auto de Prisão em Flagrante, em razão de José Alves ter permanecido 
encarcerado na Delegacia de Polícia, você é procurado pela família do preso, sob protestos de que 
não conseguiam vê-lo e de que o delegado não comunicara o fato ao juízo competente, tampouco 
à Defensoria Pública. 
 
Com base somente nas informações de que dispõe e nas que podem ser inferidas pelo caso concreto 
acima, na qualidade de advogado de José Alves, redija a peça cabível, exclusiva de advogado, no 
que tange à liberdade de seu cliente, questionando, em juízo, eventuais ilegalidades praticadas pela 
Autoridade Policial, alegando para tanto toda a matéria de direito pertinente ao caso. 
 
 
PEÇA PROFISSIONAL – IV EXAME (2011.1) 
 
Tício foi denunciado e processado, na 1ª Vara Criminal da Comarca do Município X, pela prática de 
roubo qualificado em decorrência do emprego de arma de fogo. Ainda durante a fase de inquérito 
policial, Tício foi reconhecido pela vítima. Tal reconhecimento se deu quando a referida vítima olhou 
através de pequeno orifício da porta de uma sala onde se encontrava apenas o réu. Já em sede de 
instrução criminal, nem vítima nem testemunhas afirmaram ter escutado qualquer disparo de arma 
de fogo, mas foram uníssonas no sentido de assegurar que o assaltante portava uma. Não houve 
perícia, pois os policiais que prenderam o réu em flagrante não lograram êxito em apreender a arma. 
Tais policiais afirmaram em juízo que, após escutarem gritos de "pega ladrão!", viram o réu correndo 
e foram em seu encalço. Afirmaram que, durante a perseguição, os passantes apontavam para o 
réu, bem como que este jogou um objeto no córrego que passava próximo ao local dos fatos, que 
acreditavam ser a arma de fogo utilizada. O réu, em seu interrogatório, exerceu o direito ao silêncio. 
Ao cabo da instrução criminal, Tício foi condenado a oito anos e seis meses de reclusão, por roubo 
com emprego de arma de fogo, tendo sido fixado o regime inicial fechado para cumprimento de 
pena. O magistrado, para fins de condenação e fixação da pena, levou em conta os depoimentos 
testemunhais colhidos em juízo e o reconhecimento feito pela vítima em sede policial, bem como o 
fato de o réu ser reincidente e portador de maus antecedentes, circunstâncias comprovadas no curso 
do processo. 
 
 
 
 
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Você, na condição de advogado(a) de Tício, é intimado(a) da decisão. Com base somente nas 
informações de que dispõe e nas que podem ser inferidas pelo caso concreto acima, redija a peça 
cabível, apresentando as razões e sustentando as teses jurídicas pertinentes. 
 
PEÇA PROFISSIONAL – EXAME (2010.3) 
 
No dia 17 de junho de 2010, uma criança recém-nascida é vista boiando em um córrego e, ao ser 
resgatada, não possuía mais vida. Helena, a mãe da criança, foi localizada e negou que houvesse 
jogado a vítima no córrego. Sua filha teria sido, segundo ela, sequestrada por um desconhecido. 
Durante a fase de inquérito, testemunhas afirmaram que a mãe apresentava quadro de profunda 
depressão no momento e logo após o parto. Além disso, foi realizado exame médico legal, o qual 
constatou que Helena, quando do fato, estava sob influência de estado puerperal. À míngua de 
provas que confirmassem a autoria, mas desconfiado de que a mãe da criança pudesse estar 
envolvida no fato, a autoridade policial representou pela decretação de interceptação telefônica da 
linha de telefone móvel usado pela mãe, medida que foi decretada pelo juiz competente. A prova 
constatou que a mãe efetivamente praticara o fato, pois, em conversa telefônica com uma 
conhecida, de nome Lia, ela afirmara ter atirado a criança ao córrego, por desespero, mas que 
estava arrependida. O delegado intimou Lia para ser ouvida, tendo ela confirmado, em sede policial, 
que Helena de fato havia atirado a criança, logo após o parto, no córrego. Em razão das aludidas 
provas, a mãe da criança foi então denunciada pela prática do crime descrito no art. 123 do Código 
Penal perante a 1ª Vara Criminal (Tribunal do Júri). Durante a ação penal, é juntado aos autos o 
laudo de necropsia realizada no corpo da criança. A prova técnica concluiu que a criança já nascera 
morta. Na audiência de instrução, realizada no dia 12 de agosto de 2010, Lia é novamente inquirida, 
ocasião em que confirmou ter a denunciada, em conversa telefônica, admitido ter jogado o corpo 
da criança no córrego. A mesma testemunha, no entanto, trouxe nova informação, que não 
mencionara quando ouvida na fase inquisitorial. Disse que, em outras conversas que tivera com a 
mãe da criança, Helena contara que tomara substância abortiva, pois não poderia, de jeito nenhum, 
criar o filho. Interrogada, a denunciada negou todos os fatos. Finda a instrução, o Ministério Público 
manifestou-se pela pronúncia, nos termos da denúncia, e a defesa, pela impronúncia, com base no 
interrogatório da acusada, que negara todos os fatos. O magistrado, na mesma audiência, prolatou 
sentença de pronúncia, não nos termos da denúncia, e sim pela prática do crime descrito no art. 
124 do Código Penal, punido menos severamente do que aquele previsto no art. 123 do mesmo 
código, intimando as partes no referido ato. 
 
 
 
 
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Com base somente nas informações de que dispõe e nas que podem ser inferidas pelo caso concreto 
acima, na condição de advogado(a) de Helena, redija a peça cabível à impugnação da mencionada 
decisão, acompanhada das razões pertinentes, as quais devem apontar os argumentos para o 
provimento do recurso, mesmo que em caráter sucessivo. 
 
 
PEÇA PROFISSIONAL – EXAME (2010.2) 
 
A Polícia Civil do Estado do Rio Grande do Sul recebe notícia crime identificada, imputando a Maria 
Campos a prática de crime, eis que mandaria crianças brasileiras para o estrangeiro com documentos 
falsos. Diante da notícia crime, a autoridade policial instaura inquérito policial e, como primeira 
providência, representa pela decretação da interceptação das comunicações telefônicas de Maria 
Campos, “dada a gravidade dos fatos noticiados e a notória dificuldade de apurar crime de tráfico 
de menores para o exterior por outros meios, pois o ‘modus operandi’ envolve sempre atos ocultos 
e exige estrutura organizacional sofisticada, o que indica a existência de uma organização criminosa 
integrada pela investigada Maria”. O Ministério Público opina favoravelmente e o juiz defere a 
medida, limitando-se a adotar, como razão de decidir, “os fundamentos explicitados na 
representação policial”. 
No curso do monitoramento, foram identificadas pessoas que contratavam os serviços de Maria 
Campos para providenciar expedição de passaporte para viabilizar viagens de crianças para o 
exterior. Foi gravada conversa telefônica de Maria com um funcionário do setor de passaportes da 
Polícia Federal, Antônio Lopes, em que Maria consultava Antônio sobre os passaportes que ela havia 
solicitado, se já estavam prontos, e se poderiam ser enviados a ela. A pedido da autoridade policial, 
o juiz deferiua interceptação das linhas telefônicas utilizadas por Antônio Lopes, mas nenhum 
diálogo relevante foi interceptado. 
O juiz, também com prévia representação da autoridade policial e manifestação favorável do 
Ministério Público, deferiu a quebra de sigilo bancário e fiscal dos investi gados, tendo sido 
identificado um depósito de dinheiro em espécie na conta de Antônio, efetuado naquele mesmo ano, 
no valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais). O monitoramento telefônico foi mantido pelo período de 
quinze dias, após o que foi deferida medida de busca e apreensão nos endereços de Maria e Antônio. 
A decisão foi proferida nos seguintes termos: “diante da gravidade dos fatos e da real possibilidade 
de serem encontrados objetos relevantes para investigação, defiro requerimento de busca e 
apreensão nos endereços de Maria (Rua dos Casais, 213) e de Antônio (Rua Castro, 170, 
 
 
 
 
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apartamento 201)”. No endereço de Maria Campos, foi encontrada apenas uma relação de nomes 
que, na visão da autoridade policial, seriam clientes que teriam requerido a expedição de passaportes 
com os nomes de crianças que teriam viajado para o exterior. No endereço indicado no mandado 
de Antônio Lopes, nada foi encontrado. Entretanto, os policiais que cumpriram a ordem judicial 
perceberam que o apartamento 202 do mesmo prédio também pertencia ao investi gado, motivo 
pelo qual nele ingressaram, encontrando e apreendendo a quantia de cinquenta mil dólares em 
espécie. Nenhuma outra diligência foi realizada. 
Relatado o inquérito policial, os autos foram remeti dos ao Ministério Público, que ofereceu a 
denúncia nos seguintes termos: “o Ministério Público vem oferecer denúncia contra Maria Campos 
e Antônio Lopes, pelos fatos a seguir descritos: Maria Campos, com o auxílio do agente da polícia 
federal Antônio Lopes, expediu diversos passaportes para crianças e adolescentes, sem observância 
das formalidades legais. Maria tinha a finalidade de viabilizar a saída dos menores do país. A partir 
da quantia de dinheiro apreendida na casa de Antônio Lopes, bem como o depósito identificado em 
sua conta bancária, evidente que ele recebia vantagem indevida para efetuar a liberação dos 
passaportes. Assim agindo, a denunciada Maria Campos está incursa nas penas do artigo 239, 
parágrafo único, da Lei n. 8069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente), e nas penas do artigo 
333, parágrafo único, c/c o artigo 69, ambos do Código Penal. Já o denunciado Antônio Lopes está 
incurso nas penas do artigo 239, parágrafo único, da Lei n. 8069/90 (Estatuto da Criança e do 
Adolescente) e nas penas do arti go 317, § 1º, c/c arti go 69, ambos do Código Penal”. 
O juiz da 15ª Vara Criminal de Porto Alegre, RS, recebeu a denúncia, nos seguintes termos: 
“compulsando os autos, verifico que há prova indiciária sufi ciente da ocorrência dos fatos descritos 
na denúncia e do envolvimento dos denunciados. Há justa causa para a ação penal, pelo que recebo 
a denúncia. Citem-se os réus, na forma da lei”. Antonio foi citado pessoalmente em 27.10.2010 
(quarta-feira) e o respectivo mandado foi acostado aos autos dia 01.11.2010 (segunda-feira). 
Antonio contratou você como Advogado, repassando-lhe nomes de pessoas (Carlos de Tal, residente 
na Rua 1, n. 10, nesta capital; João de Tal, residente na Rua 4, n. 310, nesta capital; Roberta de 
Tal, residente na Rua 4, n. 310, nesta capital) que prestariam relevantes informações para 
corroborar com sua versão. 
 
BIBLIOGRAFIA: 
 
I – PROCESSO PENAL ESQUEMATIZADO, NORBERTO AVENA, EDITORA MÉTODO (4 EDIÇÃO). 
II – PROCESSO PENAL, GUSTAVO BADARÓ, REVISTA DOS TRIBUNAIS (8 EDIÇÃO). 
III – PROCESSO PENAL – AURY LOPES JR. 
 
 
 
 
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PADRÃO DE RESPOSTA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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ÍNDICE 
 
 
DIREITO PENAL .................................................................................................................... 118 
01 CONFLITO APARENTE DE NORMAS .................................................................................................. 118 
02 DO FATO TÍPICO E CONDUTA .......................................................................................................... 120 
03 DA RELAÇÃO DE CAUSALIDADE ....................................................................................................... 122 
04 DO CRIME DOLOSO E CULPOSO ...................................................................................................... 125 
05 CONCURSO DE CRIMES ................................................................................................................... 127 
06 CONCURSO DE PESSOAS ................................................................................................................. 129 
PROCESSO PENAL ...................................................................................................................... 134 
07 DAS NULIDADES ............................................................................................................................. 134 
08 DA TEORIA GERAL DAS PROVAS ...................................................................................................... 136 
09 DAS PROVAS EM ESPÉCIE ................................................................................................................ 141 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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2ª Fase 
 
 
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CONFLITO APARENTE DE NORMAS 
 
XXV EXAME – REAPLICAÇÃO EM PORTO ALEGRE – TESE PRINCIPAL DA PEÇA 
Breno, nascido em 07 de junho de 1945, na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, falsifica uma 
assinatura em uma folha de cheque e a apresenta em loja de eletrodomésticos localizada no bairro de 
sua residência, com a intenção de realizar compras no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais). Após a 
apresentação do cheque, apesar de a falsificação não ser grosseira e ser apta a enganar, o gerente 
do estabelecimento comercial percebe que aquele cheque não fora assinado pelo verdadeiro 
correntista do banco, já que o nome que constava do título de crédito era de um grande amigo seu. 
Descoberta a fraude, o referido gerente aciona a polícia, e Breno é preso em flagrante antes de obter 
a vantagem pretendida. 
Com o recebimento dos autos, o Ministério Público opina pela liberdade de Breno e oferece denúncia 
pela prática dos crimes do Art. 171, caput, e Art. 297, § 2º, na forma do Art. 69, todos do Código 
Penal. Após concessão da liberdade provisória e recebimento da denúncia, houve juntada do laudo 
pericial do cheque, constatando a falsidade e a capacidade para iludir terceiros, bem como da Folha 
de Antecedentes Criminais, no qual consta uma condenação definitiva pela prática, no ano anterior, 
do crime de homicídio culposo na direção de veículo automotor, além de uma ação em curso pela 
suposta prática de crime de furto. 
Durante a instrução, todos os fatos acima descritos são confirmados pelas testemunhas, não tendo 
sido o réu interrogado, já que, apesar de intimado, apresentou problemas de saúde no dia e não pôde 
comparecer à audiência. Ainda durante a audiência de instrução e julgamento, após a instrução, as 
partes apresentaram suas alegações, sendo consignado pela defesa o inconformismo com a ausência 
do réu, já que foi apresentado atestado médico, e, em seguida, o juiz proferiu sentençacondenatória 
nos termos da denúncia, condenando o agente pela prática dos dois delitos em suas modalidades 
consumadas. No momento de fixar a pena-base, aumentou o magistrado a pena do estelionato em 
02 meses, destacando que o comportamento de Breno não deixa qualquer dúvida de que agiu com 
dolo. Já a pena do uso de documento falso foi aplicada em seu patamar mínimo. Na segunda fase, 
não foram reconhecidas atenuantes, mas foi reconhecida a agravante da reincidência, aumentando a 
pena de cada um dos delitos em mais 02 meses de reclusão. No terceiro momento, não foram 
reconhecidas causas de aumento ou de diminuição. Assim, foi fixada a pena de 01 ano e 04 meses de 
reclusão e 14 dias-multa, no que tange ao crime de estelionato, e 02 anos e 02 meses de reclusão e 
12 dias-multa para o crime de falsificação de documento equiparado ao público, restando a pena final 
em 03 anos e 06 meses de reclusão e 26 dias-multa. O regime inicial de cumprimento de pena aplicado 
01
 
 
 
 
 
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119 
pelo magistrado foi o semiaberto e não houve substituição da pena privativa de liberdade por restritiva 
de direito, tudo fundamentado na reincidência do agente. 
Intimado da decisão, o Ministério Público apenas tomou ciência de seu teor, não apresentando 
qualquer medida. Já a defesa técnica de Breno foi intimada de seu teor em 06 de dezembro de 2017, 
quarta-feira, sendo quinta-feira dia útil em todo o país. 
Considerando apenas as informações narradas, na condição de advogado(a) de Breno, redija a peça 
jurídica cabível, diferente de habeas corpus e embargos de declaração, apresentando todas as teses 
jurídicas pertinentes. A peça deverá ser datada no último dia do prazo para interposição. (Valor: 5,00) 
 
Gabarito comentado 
Como tese principal de mérito, deveria o examinando defender a impossibilidade de condenação do 
agente pela prática de dois crimes autônomos, tendo em vista que a falsificação do cheque foi apenas 
um meio para prática do crime de estelionato, de modo que o delito previsto no Art. 297, §2º do 
Código Penal deveria ser absorvido pelo delito do Art. 171, caput, do Código Penal. Em princípio, 
quando um delito é praticado apenas como meio para a prática de outro delito, aquele deve ficar 
absorvido por este, em respeito ao princípio da consunção. Trata-se de um dos princípios que soluciona 
o conflito aparente de normas. Uma das elementares do crime de estelionato é exatamente a fraude, 
a intenção de enganar. Quando a fraude é utilizada através da falsificação de um documento cuja 
falsidade se exaure no estelionato, o delito autônomo de falsificação ficará absorvido pelo estelionato, 
pois aquele foi apenas um crime meio para a prática do mesmo e o potencial lesivo do crime meio foi 
exaurido. Consagrando tal entendimento, o Superior Tribunal de Justiça editou o Enunciado 17 de sua 
Súmula de Jurisprudência, prevendo que “Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais 
potencialidade lesiva, é por este absorvido”. Na hipótese apresentada, não há dúvidas de que a 
intenção do agente era praticar um crime de estelionato. Ademais, o falso no caso (folha de cheque 
com assinatura falsificada) se exaure no estelionato, não mais tendo potencialidade lesiva, de modo 
que o crime do Art. 297, §2º do Código Penal deveria ser absorvido, restando apenas o crime de 
estelionato. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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2ª Fase 
 
 
120 
 
DO FATO TÍPICO E CONDUTA 
 
2.2) DOS CRIMES OMISSIVOS 
 
QUESTÃO 2 - V EXAME OAB 
Joaquina, ao chegar à casa de sua filha, Esmeralda, deparou-se com seu genro, Adaílton, mantendo relações 
sexuais com sua neta, a menor F.M., de 12 anos de idade, fato ocorrido no dia 2 de janeiro de 2011. 
Transtornada com a situação, Joaquina foi à delegacia de polícia, onde registrou ocorrência do fato criminoso. 
Ao término do Inquérito Policial instaurado para apurar os fatos narrados, descobriu-se que Adaílton vinha 
mantendo relações sexuais com a referida menor desde novembro de 2010. Apurou-se, ainda, que Esmeralda, 
mãe de F.M., sabia de toda a situação e, apesar de ficar enojada, não comunicava o fato à polícia com receio 
de perder o marido que muito amava. 
Na condição de advogado(a) consultado(a) por Joaquina, avó da menor, responda aos itens a seguir, 
empregando os argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente ao caso. 
Adaílton praticou crime? Em caso afirmativo, qual? (Valor: 0,3) 
Esmeralda praticou crime? Em caso afirmativo, qual? (Valor: 0,5) 
Considerando que o Inquérito Policial já foi finalizado, deve a avó da menor oferecer queixa-crime? (Valor: 
0,45) 
 
Gabarito Comentado 
Sim. Estupro de vulnerável, conduta descrita no art. 217-A do CP. 
Sim. Esmeralda também praticou estupro de vulnerável (artigo 217-A do CP c/c artigo 13, §2º, “a”, do CP), 
uma vez que tinha a obrigação legal de impedir o resultado, sendo garantidora da menor. 
Não, pois se trata de ação penal pública incondicionada, nos termos do art. 225, parágrafo único, do CP. 
Distribuição dos Pontos Item Pontuação 
Sim. Estupro de vulnerável (0,2) – art. 217-A do CP (0,1) 0 / 0,1 / 0,2 / 0,3 
Sim. Estupro de vulnerável (0,3) – artigo 217-A do CP c/c artigo 13, §2º, “a”, do CP OU era garantidora (0,2). 
Não pontua só artigo ou fundamento isolados 0 / 0,3 / 0,5 
Não, por se tratar de ação penal pública incondicionada (0,35). Art. 225, parágrafo único, do CP (0,1). 
0 / 0,35 / 0,45 
 
QUESTÃO 04 – X EXAME OAB 
Erika e Ana Paula, jovens universitárias, resolvem passar o dia em uma praia paradisíaca e, de difícil acesso 
(feito através de uma trilha), bastante deserta e isolada, tão isolada que não há qualquer estabelecimento 
comercial no local e nem mesmo sinal de telefonia celular. As jovens chegam bastante cedo e, ao chegarem, 
percebem que além delas há somente um salva-vidas na praia. Ana Paula decide dar um mergulho no mar, 
que estava bastante calmo naquele dia. Erika, por sua vez, sem saber nadar, decide puxar assunto com o 
salva-vidas, Wilson, pois o achou muito bonito. Durante a conversa, Erika e Wilson percebem que têm vários 
interesses em comum e ficam encantados um pelo outro. Ocorre que, nesse intervalo de tempo, Wilson 
percebe que Ana Paula está se afogando. Instigado por Erika, Wilson decide não efetuar o salvamento, que 
era perfeitamente possível. Ana Paula, então, acaba morrendo afogada. 
Nesse sentido, atento(a) apenas ao caso narrado, indique a responsabilidade jurídico-penal de Erika e Wilson. 
(Valor: 1,25) 
O examinando deve fundamentar corretamente sua resposta. A simples menção ou transcrição do dispositivo 
legal não pontua. 
 
Gabarito comentado 
Segundo os dados narrados na questão, Wilson, por ser salva-vidas, tem o dever legal de agir para evitar o 
resultado e, naquele momento, podia perfeitamente agir. Assim, trata-se de agente garantidor. Nesse caso, 
responde por delito comissivo por omissão, qual seja, homicídio doloso praticado via omissão imprópria: art. 
121 c/c art. 13, § 2º, alínea 'a', ambos do CP. Erika, por sua vez, por ter instigado Wilson a não realizar o 
salvamento de Ana Paula, responde como partícipe de tal homicídio, nos termos do art. 29 do CP. Não há que 
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se falar em omissão de socorro por parte de Erika, pois, conforme dados expressos no enunciado, ela não 
sabia nadar e nem tinha como chamar por ajuda. 
Distribuição dos Pontos 
Wilson, por ser agente garantidor (0,30) /responde pelo delito de homicídio (0,30) / praticado via omissão 
imprópria. (0,30) 0,00/0,30/0,60/0,90 
Erika responde como partícipe de talhomicídio (0,35). 0,00/0,35 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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DA RELAÇÃO DE CAUSALIDADE (IMPORTANTE) – Art. 13 
 
QUESTÃO 03 – OAB – 2010-02 
Pedro, almejando a morte de José, contra ele efetua disparo de arma de fogo, acertando-o na região toráxica. 
José vem a falecer, entretanto, não em razão do disparo recebido, mas porque, com intenção suicida, havia 
ingerido dose letal de veneno momentos antes de sofrer a agressão, o que foi comprovado durante instrução 
processual. Ainda assim, Pedro foi pronunciado nos termos do previsto no artigo 121, “caput”, do Código 
Penal. 
Na condição de Advogado de Pedro: 
Indique o recurso cabível; 
O prazo de interposição; 
A argumentação visando à melhoria da situação jurídica do defendido. Indique, ainda, para todas as respostas, 
os respectivos dispositivos legais. 
 
Gabarito Comentado: 
I – Recurso em sentido estrito, nos termos do artigo 581, IV, do Código de Processo Penal. (0,2) 
II – 5 dias, nos termos do artigo 586, do Código de Processo Penal. (0,2) 
III – deveria ser requerida a desclassificação do crime consumado para tentado, já que a ação de Pedro não 
deu origem a morte de José. Trata-se de hipótese de concausa absolutamente independente pré-existente. 
(0,4) Artigo 13 do Código Penal. (0,2) 
 
Distribuição dos pontos 
Recurso em sentido estrito (art. 581, IV, CPP) 0/0,2 
5 dias (art. 586, CPP) 0/0,2 
Consumado para tentado (art. 13 CP) 0/0,2/0,4/0,6 
 
 
QUESTÃO 1 – XXI EXAME 
Paulo e Júlio, colegas de faculdade, comemoravam juntos, na cidade de São Gonçalo, o título obtido pelo 
clube de futebol para o qual o primeiro torce. Não obstante o clima de confraternização, em determinado 
momento, surgiu um entrevero entre eles, tendo Júlio desferido um tapa no rosto de Paulo. Apesar da pouca 
intensidade do golpe, Paulo vem a falecer no hospital da cidade, tendo a perícia constatado que a morte 
decorreu de uma fatalidade, porquanto, sem que fosse do conhecimento de qualquer pessoa, Paulo tinha uma 
lesão pretérita em uma artéria, que foi violada com aquele tapa desferido por Júlio e causou sua morte. O 
órgão do Ministério Público, em atuação exclusivamente perante o Tribunal do Júri da Comarca de São 
Gonçalo, denunciou Júlio pelo crime de lesão corporal seguida de morte (Art. 129, § 3º, do CP). Considerando 
a situação narrada e não havendo dúvidas em relação à questão fática, responda, na condição de advogado(a) 
de Júlio: 
A) É competente o juízo perante o qual Júlio foi denunciado? Justifique. (Valor: 0,65) 
B) Qual tese de direito material poderia ser alegada em favor de Júlio? Justifique. (Valor: 0.60) 
Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar as respostas. A mera citação do dispositivo legal não confere 
pontuação. 
 
GABARITO COMENTADO 
A) O(A) examinando(a) deve concluir pela incompetência do Juízo, tendo em vista que o crime praticado não 
é doloso contra a vida. Nos termos do Art. 74, § 1º, do Código de Processo Penal (ou Art. 5º, inciso XXXVIII, 
alínea d, da CRFB), ao Tribunal do Júri cabe apenas o julgamento dos crimes dolosos contra a vida e os 
conexos. No caso, mesmo de acordo com a imputação contida na denúncia, o resultado de morte foi culposo; 
logo, a competência é do juízo singular. 
 
B) O(A) examinando(a) deve defender que não poderia Júlio responder pelo crime de lesão corporal seguida 
de morte, porque aquele resultado não foi causado a título de dolo nem culpa. O crime de lesão corporal 
seguida de morte é chamado de preterdoloso. A ação é dirigida à produção de lesão corporal, sendo o 
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resultado morte produzido a título de culpa. Costuma-se dizer que há dolo no antecedente e culpa no 
consequente. Um dos elementos da culpa é a previsibilidade objetiva, somente devendo alguém ser punido 
na forma culposa quando o resultado não querido pudesse ser previsto por um homem médio, sendo que a 
ausência de previsibilidade subjetiva, capacidade do agente, no caso concreto, de prever o resultado, 
repercute na culpabilidade. Na hipótese, não havia previsibilidade objetiva, o que impede a tipificação do delito 
de lesão corporal seguida de morte. Também poderia o candidato responder que havia uma concausa 
preexistente, relativamente independente, desconhecida, impedindo Júlio de responder pelo resultado 
causado. Em princípio, a concausa relativamente independente preexistente não impede a punição do agente 
pelo crime consumado. Contudo, deve ela ser conhecida do agente ou ao menos existir possibilidade de 
conhecimento, sob pena de responsabilidade penal objetiva. 
 
DISTRIBUIÇÃO DOS PONTOS 
ITEM PONTUAÇÃO 
A. O Tribunal do Júri não é o juízo competente, pois o crime imputado não é doloso contra a vida (0,55), nos 
termos do Art. 74, § 1º, do CPP OU do Art. 5º, inciso XXXVIII, da CRFB/88. (0,10) 0,00 / 0,55 / 0,65 
 
B. Júlio não poderia responder pelo resultado morte (0,25), nem mesmo a título de culpa, em razão da 
ausência de previsibilidade OU porque existe causa relativamente independente preexistente desconhecida 
OU porque a atribuição do resultado violaria o princípio da vedação da responsabilidade objetiva (0,35). Obs.: 
A mera repetição do enunciado no sentido de que o resultado decorreu de uma fatalidade em razão de lesão 
em artéria desconhecida, sem qualquer fundamentação jurídica, não é suficiente para atribuição do segundo 
intervalo de pontuação. 0,00 / 0,25 / 0,35 / 0,60 
 
 
Durante uma grave discussão, ocorrida no serviço, Licurgo Moicano agrediu Coitinho Lelo com 
uma paulada na cabeça, com a intenção de matá-lo. Atendido com rapidez, Coitinho Lelo foi 
colocado dentro de uma ambulância que rumou para o Pronto Socorro Municipal. No trajeto, a 
ambulância capotou, vindo Coitinho Lelo a falecer em razão do acidente. Diante do fato e à luz 
do ordenamento jurídico penal, responda se Licurgo Moicano deve ser responsabilizado 
penalmente? Em caso afirmativo, indique qual o crime, empregando os argumentos jurídicos 
apropriados e a fundamentação legal pertinente ao caso. 
 
Gabarito Comentado 
O estudante deverá indicar que o crime praticado foi o de tentativa de homicídio, ressaltando que o caso trata 
de hipótese de causa superveniente relativamente independente, enfatizando, ainda, o artigo 13, § 1º, do 
Código Penal. 
 
 
QUESTÃO 4 – XXV EXAME – REAPLICAÇÃO PORTO ALEGRE 
Vitor efetuou disparos de arma de fogo contra José, com a intenção de causar sua morte. Ocorre que, por 
erro durante a execução, os disparos atingiram a perna de seu inimigo e não o peito, como pretendido. 
Esgotada a munição disponível, Vitor empreendeu fuga, enquanto José solicitou a ajuda de populares e 
compareceu, de imediato, ao hospital para atendimento médico. Após o atendimento médico, já no quarto 
com curativos, enquanto dormia, José vem a ser picado por um escorpião, vindo a falecer no dia seguinte em 
razão do veneno do animal, exclusivamente. Descobertos os fatos, considerando que José somente estava no 
hospital em razão do comportamento de Vitor, o Ministério Público oferece denúncia em face do autor dos 
disparos pela prática do crime de homicídio consumado, previsto no Art. 121, caput, do Código Penal. Após 
regular prosseguimento do feito, na audiência de instrução e julgamento da primeira fase do procedimento 
do Tribunal do Júri, quando da oitiva das testemunhas, o magistrado em atuação optou por iniciar a oitiva das 
testemunhas formulando diretamente suas perguntas, sem permitir às partes complementação.Após 
alegações finais orais das partes, o magistrado proferiu decisão de pronúncia. Apesar da impugnação da defesa 
quanto à formulação das perguntas pelo juiz, o magistrado esclareceu que não importaria quem fez a 
pergunta, pois as respostas seriam as mesmas. Com base apenas nas informações narradas, na condição de 
advogado(a) de Vitor, responda aos itens a seguir. A) Qual o recurso cabível da decisão proferida pelo 
magistrado e qual argumento de direito processual pode ser apresentado em busca da desconstituição de tal 
 
 
 
 
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decisão? Justifique. (Valor: 0,65) B) Existe argumento de direito material a ser apresentado, em momento 
oportuno, para questionar a capitulação jurídica apresentada pelo Ministério Público? Justifique. (Valor: 0,60) 
 
Gabarito comentado 
A) O recurso cabível da decisão de pronúncia é o Recurso em Sentido Estrito, nos termos do Art. 581, inciso 
IV, do CPP. Em relação ao argumento de direito processual, deveria o candidato alegar que houve nulidade 
durante a instrução probatória, tendo em vista que o magistrado formulou diretamente perguntas às 
testemunhas, sendo que o Código de Processo Penal prevê o sistema de cross examination para oitiva das 
testemunhas, cabendo as partes formularem as perguntas diretamente para as testemunhas, podendo ser 
complementados pelo magistrado, na forma do Art. 411 e do Art. 212, ambos do CPP. No caso, o magistrado 
formulou diretamente as perguntas, não oportunizou às partes a complementação e houve devida impugnação 
em momento adequado. A conduta do juiz configura cerceamento de defesa, de modo que devem ser anulados 
todos os atos desde a instrução. 
B) Em relação ao argumento de direito material, deveria a defesa de Vitor questionar a capitulação jurídica 
realizada pelo Ministério Público. De fato, Vitor, ao efetuar disparos de arma de fogo contra José, em direção 
ao seu peito, tinha a intenção de matá-lo, como o enunciado deixa claro. Todavia, os disparos de Vitor não 
foram suficientes para causar a morte de seu inimigo por circunstâncias alheias à sua vontade, já que os 
projéteis atingiram a perna de José. José recebeu atendimento médico e já estava no quarto com curativos. 
Posteriormente, José veio a ser mordido por escorpião, sendo que o veneno do animal causou, exclusivamente, 
sua morte. Certo é que José só estava no hospital em razão dos disparos de Vitor, mas houve causa 
superveniente, relativamente independente, que por si só causou a morte de José. Diante disso, o resultado 
fica afastado, mas responde Vitor pelos atos já praticados, conforme previsão do Art. 13, § 1º, do Código 
Penal. Assim, por mais que José tenha falecido, Vitor deveria responder pelo crime de tentativa de homicídio. 
 
Distribuição dos pontos 
A1. O recurso cabível da decisão de pronúncia é o Recurso em Sentido Estrito (0,20), na forma do Art. 581, 
inciso IV, do CPP (0,10). 
A2. O argumento de direito processual a ser apresentado é o de que houve nulidade com a formulação de 
perguntas diretas por parte do magistrado, sem oportunizar complementação das partes (0,20), o que viola o 
princípio da ampla defesa OU o que gera o cerceamento de defesa (0,15). 
B. O argumento de direito material é o de que ocorreu causa superveniente relativamente independente que 
por si só causou o resultado (0,35), devendo Vitor responder por tentativa de homicídio (0,15), nos termos do 
Art. 13, § 1º, do CP (0,10). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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DO CRIME DOLOSO E CULPOSO 
 
QUESTÃO 1 – XIX EXAME 
João estava dirigindo seu automóvel a uma velocidade de 100 km/h em uma rodovia em que o limite máximo 
de velocidade é de 80 km/h. Nesse momento, foi surpreendido por uma bicicleta que atravessou a rodovia de 
maneira inesperada, vindo a atropelar Juan, condutor dessa bicicleta, que faleceu no local em virtude do 
acidente. Diante disso, João foi denunciado pela prática do crime previsto no Art. 302 da Lei nº 9.503/97. As 
perícias realizadas no cadáver da vítima, no automóvel de João, bem como no local do fato, indicaram que 
João estava acima da velocidade permitida, mas que, ainda que a velocidade do veículo do acusado fosse de 
80 km/h, não seria possível evitar o acidente e Juan teria falecido. Diante da prova pericial constatando a 
violação do dever objetivo de cuidado pela velocidade acima da permitida, João foi condenado à pena de 
detenção no patamar mínimo previsto no dispositivo legal. Considerando apenas os fatos narrados no 
enunciado, responda aos itens a seguir. 
A) Qual o recurso cabível da decisão do magistrado, indicando seu prazo e fundamento legal? (Valor: 0,60) 
B) Qual a principal tese jurídica de direito material a ser alegada nas razões recursais? (Valor: 0,65) 
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não confere 
pontuação. 
Gabarito Comentado 
 
A) O recurso cabível da sentença do magistrado que condenou João é o recurso de apelação, cujo prazo de 
interposição é de 05 dias e o fundamento é o Art. 593, inciso I, do Código de Processo Penal. 
 
B) A principal tese jurídica a ser apresentada é o requerimento de absolvição do acusado, pois, em que pese 
ter havido violação do dever objetivo de cuidado, essa violação não representou incremento do risco no caso 
concreto, pois, ainda que observada a velocidade máxima prevista para a pista, com respeito ao dever de 
cuidado, o resultado teria ocorrido da maneira como ocorreu. Dessa forma, o examinando pode fundamentar 
o pedido de absolvição com base na ausência de incremento do risco, sendo essa ausência, de acordo com a 
Teoria da Imputação Objetiva, fundamento para absolvição. De qualquer maneira, o cerne da resposta é a 
indicação de que não foi a violação do dever de cuidado a responsável pelo resultado lesivo, de modo que não 
deveria João ser por ele responsabilizado. 
 
A Banca também considerou como correta a resposta que indicava a inexistência de culpa, apesar da violação 
do dever objetivo de cuidado, em razão da ausência do elemento previsibilidade, sob a alegação de que João 
não poderia prever que uma bicicleta atravessaria seu caminho em uma rodovia de tráfego intenso, em local 
inadequado. 
 
DISTRIBUIÇÃO DOS PONTOS 
ITEM PONTUAÇÃO 
A. O recurso cabível da sentença do magistrado é a Apelação (0,35), cujo fundamento legal é previsto no Art. 
593, inciso I, do CPP (0,10), com prazo de interposição de 05 dias (0,15). 0,00/0,15/0,25/0,35 0,45/0,50/0,60 
 
B. Não foi praticado crime OU deveria João ser absolvido (0,15), razão da aplicação da Teoria da Imputação 
Objetiva, pois ainda que não houvesse violação do dever objetivo de cuidado, o resultado teria ocorrido da 
mesma maneira que ocorreu, não havendo incremento do risco realizado no resultado OU porque não havia 
culpa em razão da ausência do elemento previsibilidade (0,50). 0,00/0,15/0,50/0,65 
 
QUESTÃO 4 - 2010-03 
Caio, professor do curso de segurança no trânsito, motorista extremamente qualificado, guiava seu automóvel 
tendo Madalena, sua namorada, no banco do carona. Durante o trajeto, o casal começa a discutir 
asperamente, o que faz com que Caio empreenda altíssima velocidade ao automóvel. Muito assustada, 
Madalena pede insistentemente para Caio reduzir a marcha do veículo, pois àquela velocidade não seria 
possível controlar o automóvel. Caio, entretanto, respondeu aos pedidos dizendo ser perito em direção e 
refutando qualquer possibilidade de perder o controle do carro. Todavia, o automóvel atinge um buraco e, em 
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126razão da velocidade empreendida, acaba se desgovernando, vindo a atropelar três pessoas que estavam na 
calçada, vitimando-as fatalmente. Realizada perícia de local, que constatou o excesso de velocidade, e ouvidos 
Caio e Madalena, que relataram à autoridade policial o diálogo travado entre o casal, Caio foi denunciado pelo 
Ministério Público pela prática do crime de homicídio na modalidade de dolo eventual, três vezes em concurso 
formal. Recebida a denúncia pelo magistrado da vara criminal vinculada ao Tribunal do Júri da localidade e 
colhida a prova, o Ministério Público pugnou pela pronúncia de Caio, nos exatos termos da inicial. 
Na qualidade de advogado de Caio, chamado aos debates orais, responda aos itens a seguir, empregando os 
argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente ao caso. 
Qual(is) argumento(s) poderia(m) ser deduzidos em favor de seu constituinte? (Valor: 0,4) 
Qual pedido deveria ser realizado? (Valor: 0,3) 
Caso Caio fosse pronunciado, qual recurso poderia ser interposto e a quem a peça de interposição deveria ser 
dirigida? (Valor: 0,3) 
 
Gabarito Comentado 
Incompetência do juízo, uma vez que Caio praticou homicídio culposo, pois agiu com culpa consciente, na 
medida em que, embora tenha previsto o resultado, acreditou que o evento não fosse ocorrer em razão de 
sua perícia. 
Desclassificação da imputação para homicídio culposo e declínio de competência, conforme previsão do artigo 
419 do CPP. 
Recurso em sentido estrito, conforme previsão do artigo 581, IV, do CPP. A peça de interposição deveria ser 
dirigida ao juiz de direito da vara criminal vinculada ao tribunal do júri, prolator da decisão atacada. 
Em relação à correção, levou-se em conta o seguinte critério de pontuação: 
Incompetência do juízo, uma vez que Caio praticou homicídio culposo (0,2), pois agiu com culpa consciente, 
na medida em que, embora tenha previsto o resultado, acreditou que o evento não fosse ocorrer em razão de 
sua perícia (0,2) 0 / 0,2 / 0,4 
Desclassificação da imputação para homicídio culposo OU declínio de competência (0,15), conforme previsão 
do artigo 419 do CPP (0,15). 0 / 0,15 / 0,3 
Recurso em sentido estrito (0,15), conforme previsão do artigo 581, IV, do CPP. A peça de interposição deveria 
ser dirigida ao juiz de direito da vara criminal vinculada ao tribunal do júri (0,15), prolator da decisão atacada. 
0 / 0,15 / 0,3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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 CONCURSO DE CRIMES 
 
Questão 04 – XXII EXAME 
Diego e Júlio caminham pela rua, por volta das 21h, retornando para suas casas após mais um dia de aula na 
faculdade, quando são abordados por Marcos, que, mediante grave ameaça de morte e utilizando simulacro 
de arma de fogo, exige que ambos entreguem as mochilas e os celulares que carregavam. Após os fatos, 
Diego e Júlio comparecem em sede policial, narram o ocorrido e descrevem as características físicas do autor 
do crime. Por volta das 5h da manhã do dia seguinte, policiais militares em patrulhamento se deparam com 
Marcos nas proximidades do local do fato e verificam que ele possuía as mesmas características físicas do 
roubador. Todavia, não são encontrados com Marcos quaisquer dos bens subtraídos, nem o simulacro de arma 
de fogo. Ele é encaminhado para a Delegacia e, tendo-se verificado que era triplamente reincidente na prática 
de crimes patrimoniais, a autoridade policial liga para as residências de Diego e Júlio, que comparecem em 
sede policial e, em observância de todas as formalidades legais, realizam o reconhecimento de Marcos como 
responsável pelo assalto. O Delegado, então, lavra auto de prisão em flagrante em desfavor de Marcos, 
permanecendo este preso, e o indicia pela prática do crime previsto no Art. 157, caput, do Código Penal, por 
duas vezes, na forma do Art. 69 do Código Penal. Diante disso, Marcos liga para seu advogado para informar 
sua prisão. Este comparece, imediatamente, em sede policial, para acesso aos autos do procedimento 
originado do Auto de Prisão em Flagrante. 
Considerando apenas as informações narradas, na condição de advogado de Marcos, responda, de acordo 
com a jurisprudência dos Tribunais Superiores, aos itens a seguir. 
A) Qual requerimento deverá ser formulado, de imediato, em busca da liberdade de Marcos e sob qual 
fundamento? Justifique. (Valor: 0,65) 
B) Oferecida denúncia na forma do indiciamento, qual argumento de direito material poderá ser apresentado 
pela defesa para questionar a capitulação delitiva constante da nota de culpa, em busca de uma punição mais 
branda? Justifique. (Valor: 0,60) 
Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não confere 
pontuação. 
 
GABARITO COMENTADO 
A) A defesa de Marcos deverá formular requerimento de relaxamento da prisão, tendo em vista que não havia 
situação de flagrante a justificar a formalização do Auto de Prisão em Flagrante. Narra o enunciado que, de 
fato, Marcos, mediante grave ameaça, inclusive com emprego de simulacro de arma de fogo, subtraiu coisas 
alheias móveis de Diego e Julio, logo praticou dois crimes de roubo. As vítimas reconheceram o acusado, de 
modo que há justa causa para o oferecimento de denúncia. Todavia, não havia situação de flagrante a justificar 
a prisão do acusado. Isso porque o reconhecimento e prisão de Marcos ocorreram mais de 07 horas após o 
fato, sendo certo que não houve perseguição e nem com o agente foram encontrados instrumentos ou 
produtos do crime. Dessa forma, nenhuma das situações previstas no Art. 302 do Código de Processo Penal 
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restou configurada. Em sendo a prisão ilegal, o requerimento a ser formulado é de relaxamento da prisão. 
Insuficiente, no caso, o examinando apresentar requerimento de liberdade provisória. Primeiro porque, em 
sendo a prisão ilegal, sequer deveriam ser analisados os pressupostos dos Artigos 312 e 313 do Código de 
Processo Penal nesse momento. Além disso, a princípio, não seria caso de reconhecimento de ausência dos 
motivos da preventiva, já que foi praticado crime com circunstâncias graves e o agente é triplamente 
reincidente. 
B) O equívoco a ser alegado em relação à capitulação delitiva refere-se ao concurso de crimes. Sem dúvidas, 
confirmados os fatos, houve crime de roubo, já que foram subtraídas coisas alheias móveis e houve emprego 
de grave ameaça, ainda que apenas através de palavras de ordem e emprego de simulacro de arma de fogo. 
Da mesma forma, dois foram os crimes patrimoniais praticados. Isso porque dois patrimônios foram atingidos 
e presente o elemento subjetivo, tendo em vista que Marcos sabia que estava subtraindo pertences de duas 
pessoas diversas. Todavia, com uma só ação, mediante uma ameaça, foram subtraídos bens de dois 
patrimônios diferentes. Assim, deverá ser reconhecido o concurso formal de delitos, aplicando-se a regra da 
exasperação da pena, e não o concurso material, com aplicação do cúmulo material de sanções. 
 
DISTRIBUIÇÃO DE PONTOS 
ITEM PONTUAÇÃO 
A. O requerimento a ser formulado é de relaxamento da prisão (0,35), tendo 
em vista que não está presente nenhuma das situações de flagrante elencadas 
no Art. 302 do CPP (0,30). 
0,00/0,30/0,35/0,65 
B. O argumento é que houve concurso formal de crimes (0,35), tendo em vista 
que, com uma só ação, foram praticados dois delitos (0,15), nos termos do 
Art. 70 do CP (0,10). 
0,00/0,15/0,25/0,35/0,45/ 
0,50/0,60 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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129CONCURSO DE PESSOAS 
 
QUESTÃO 2 - VI EXAME OAB 
Hugo é inimigo de longa data de José e há muitos anos deseja matá-lo. Para conseguir seu intento, Hugo 
induz o próprio José a matar Luiz, afirmando falsamente que Luiz estava se insinuando para a esposa de 
José. Ocorre que Hugo sabia que Luiz é pessoa de pouca paciência e que sempre anda armado. Cego de 
ódio, José espera Luiz sair do trabalho e, ao vê-lo, corre em direção dele com um facão em punho, mirando 
na altura da cabeça. Luiz, assustado e sem saber o motivo daquela injusta agressão, rapidamente saca sua 
arma e atira justamente no coração de José, que morre instantaneamente. Instaurado inquérito policial para 
apurar as circunstâncias da morte de José, ao final das investigações, o Ministério Público formou sua opinio 
no seguinte sentido: Luiz deve responder pelo excesso doloso em sua conduta, ou seja, deve responder por 
homicídio doloso; Hugo por sua vez, deve responder como partícipe de tal homicídio. A denúncia foi 
oferecida e recebida. 
Considerando que você é o advogado de Hugo e Luiz, responda: 
a) Qual peça deverá ser oferecida, em que prazo e endereçada a quem? (Valor: 0,3) 
b) Qual a tese defensiva aplicável a Luiz? (Valor: 0,5) 
c) Qual a tese defensiva aplicável a Hugo? (Valor: 0,45) 
 
Gabarito Comentado: 
a) Resposta à acusação, no prazo de 10 dias (art. 406 do CPP), endereçada ao juiz presidente do Tribunal 
do Júri. OU Habeas Corpus para extinção da ação penal; ação penal autônoma de impugnação que não possui 
prazo determinado; endereçado ao Tribunal de Justiça Estadual. 
b) A tese defensiva aplicada a Luiz é a da legítima defesa real, instituto previsto no art. 25 do CP, cuja 
natureza é de causa excludente de ilicitude. Não houve excesso, pois a conduta de José (que mirava com o 
facão na cabeça do Luiz) configurava injusta agressão e claramente atentava contra a vida de Luiz. 
c) Hugo não praticou fato típico, pois, de acordo com a Teoria da Acessoriedade Limitada, o partícipe 
somente poderá ser punido se o agente praticar conduta típica e ilícita, o que não foi o caso, já que Luiz agiu 
amparado por uma causa excludente de ilicitude, qual seja, legítima defesa (art. 25 do CP). 
OU Não havia liame subjetivo entre Hugo e Luiz, requisito essencial ao concurso de pessoas, razão pela qual 
Hugo não poderia ser considerado partícipe. 
 
Item Distribuição dos pontos 
a) Resposta à acusação (0,1), no prazo de 10 dias (art. 406 do CPP) (0,1), 
endereçada ao Juiz da Vara Criminal / do Júri (0,1). 
OU Habeas Corpus para extinção da ação penal (0,1); que não possui prazo 
determinado (0,1); endereçado ao Tribunal de Justiça (0,1). 
0 / 0,1 / 0,2 / 0,3 
b) Legítima defesa (0,3). Não houve excesso, pois a conduta de José 0 / 0,2 / 0,3 / 0,5 
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configurava injusta agressão e atentava contra a vida de Luiz (OU 
fundamentação jurídica da legítima defesa) (0,2). 
c) Não praticou crime (0,2), pois, de acordo com a Teoria da Acessoriedade 
Limitada, o partícipe somente poderá ser punido se o agente praticar 
conduta típica e ilícita, o que não foi o caso, já que Luiz agiu amparado por 
uma causa excludente de ilicitude (0,25). 
OU 
Não havia liame subjetivo entre Hugo e Luiz (0,2), razão pela qual Hugo não 
poderia ser considerado partícipe (0,25). 
0 / 0,2 / 0,25 / 0,45 
 
QUESTÃO 01 – IX EXAME OAB 
Raimundo, já de posse de veículo automotor furtado de concessionária, percebe que não tem onde guardá- 
lo antes de vendê-lo para a pessoa que o encomendara. Assim, resolve ligar para um grande amigo seu, 
Henrique, e após contar toda sua empreitada, pede-lhe que ceda a garagem de sua casa para que possa 
guardar o veículo, ao menos por aquela noite. Como Henrique aceita ajudá-lo, Raimundo estaciona o carro na 
casa do amigo. Ao raiar do dia, Raimundo parte com o veículo, que seria levado para o comprador. 
Considerando as informações contidas no texto responda, justificadamente, aos itens a seguir. 
A) Raimundo e Henrique agiram em concurso de agentes? (Valor: 0,75) 
B) Qual o delito praticado por Henrique? (Valor: 0,50) 
 
Gabarito Comentado 
A. Não há concurso de agentes, pois o auxílio foi proposto após a consumação do crime de furto. Assim, não 
estão presentes os requisitos necessários à configuração do concurso de agentes, mormente liame subjetivo 
e identidade da infração penal. 
B. Favorecimento real (Art. 349, do CP). 
Obs.: Respostas contraditórias não serão pontuadas. 
 
Distribuição dos Pontos 
Quesito Avaliado Valores 
a) Não, pois o auxílio foi proposto após a consumação do crime de furto (0,75) OU 
Não, pois inexistente liame subjetivo e identidade da infração penal entre ambos 
(0,75). 
0,00/ 0,75 
b) Favorecimento real OU praticou o delito descrito no Art. 349, do CP (0,50). 0,00/ 0,50 
 
QUESTÃO 4 – X EXAME 
Erika e Ana Paula, jovens universitárias, resolvem passar o dia em uma praia paradisíaca e, de difícil acesso 
(feito através de uma trilha), bastante deserta e isolada, tão isolada que não há qualquer estabelecimento 
 
 
 
 
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comercial no local e nem mesmo sinal de telefonia celular. As jovens chegam bastante cedo e, ao chegarem, 
percebem que além delas há somente um salva-vidas na praia. Ana Paula decide dar um mergulho no mar, 
que estava bastante calmo naquele dia. Erika, por sua vez, sem saber nadar, decide puxar assunto com o 
salva-vidas, Wilson, pois o achou muito bonito. Durante a conversa, Erika e Wilson percebem que têm vários 
interesses em comum e ficam encantados um pelo outro. Ocorre que, nesse intervalo de tempo, Wilson 
percebe que Ana Paula está se afogando. Instigado por Erika, Wilson decide não efetuar o salvamento, que 
era perfeitamente possível. Ana Paula, então, acaba morrendo afogada. 
Nesse sentido, atento(a) apenas ao caso narrado, indique a responsabilidade jurídico-penal de Erika e Wilson. 
(Valor: 1,25) 
O examinando deve fundamentar corretamente sua resposta. A simples menção ou transcrição do dispositivo 
legal não pontua. 
 
Gabarito comentado 
Segundo os dados narrados na questão, Wilson, por ser salva-vidas, tem o dever legal de agir para evitar o 
resultado e, naquele momento, podia perfeitamente agir. Assim, trata-se de agente garantidor. Nesse caso, 
responde por delito comissivo por omissão, qual seja, homicídio doloso praticado via omissão imprópria: art. 
121 c/c art. 13, § 2º, alínea 'a' , ambos do CP. Erika, por sua vez, por ter instigado Wilson a não realizar o 
salvamento de Ana Paula, responde como partícipe de tal homicídio, nos termos do art. 29 do CP. Não há 
que se falar em omissão de socorro por parte de Erika, pois, conforme dados expressos no enunciado, ela 
não sabia nadar e nem tinha como chamar por ajuda. 
 
Distribuição dos Pontos 
Quesito Avaliado Valores 
Wilson, por ser agente garantidor (0,30) /responde pelo delito de homicídio 
(0,30)/praticado via omissão imprópria. (0,30) 
0,00/0,30/0,60/0,90 
Erika responde como partícipe de tal homicídio (0,35). 0,00/0,35 
 
QUESTÃO 3 – XIX EXAME 
Sabendo que Vanessa, uma vizinha com quem nunca tinha conversado, praticava diversos furtos no bairro em 
que morava, João resolve convidá-la para juntos subtraírem R$ 1.000,00 de um cartório do Tribunal de Justiça, 
não contando para ela, contudo, que era funcionário público e nem que exercia suas funções nesse cartório. 
Praticam, então, o delito, e Vanessa fica surpresa com a facilidade que tiveram para chegar ao cofre do 
cartório. Descoberto o fato pelas câmeras de segurança, são os dois agentes denunciados, em 10 de março 
de 2015, pelaprática do crime de peculato. João foi notificado e citado pessoalmente, enquanto Vanessa foi 
notificada e citada por edital, pois não foi localizada em sua residência. 
A família de Vanessa constituiu advogado e o processo prosseguiu, mas dele a ré não tomou conhecimento. 
Foi decretada a revelia de Vanessa, que não compareceu aos atos processuais. Ao final, os acusados foram 
 
 
 
 
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condenados pela prática do crime previsto no Art. 312 do Código Penal à pena de 02 anos de reclusão. Ocorre 
que, na verdade, Vanessa estava presa naquela mesma Comarca, desde 05 de março de 2015, em razão de 
prisão preventiva decretada em outros dois processos. Ao ser intimada da sentença, ela procura você na 
condição de advogado(a). 
Considerando a hipótese narrada, responda aos itens a seguir. 
A) Qual argumento de direito processual poderia ser apresentado em favor de Vanessa em sede de apelação? 
Justifique. (Valor: 0,65) 
B) No mérito, foi Vanessa corretamente condenada pela prática do crime de peculato? Justifique. (Valor: 0,60) 
 
Obs.: o mero “sim” ou “não”, desprovido de justificativa ou mesmo com a indicação de justificativa inaplicável 
ao caso, não será pontuado. 
 
Gabarito comentado 
A) O examinando deveria alegar que, em relação à Vanessa, o processo é nulo desde a citação. Quando 
Vanessa foi citada por edital, ela estava presa em estabelecimento na mesma unidade da Federação do juízo 
processante, logo sua citação foi nula, conforme Enunciado 351 da Súmula de Jurisprudência do STF. Como 
ela não tomou conhecimento da ação e nem mesmo foi interrogada, pois teve sua revelia decretada, o prejuízo 
é claro. Assim, em sede de apelação, antes de enfrentar o mérito da apelação, deveria o advogado buscar a 
anulação de todos os atos após sua citação, inclusive da sentença. Poderia, ainda, o candidato justificar a 
nulidade na exigência trazida pelo Art. 360 do CPP, que prevê que o réu preso deve ser citado pessoalmente. 
 
B) Vanessa não foi corretamente condenada pela prática do crime de peculato. Em que pese o Art. 30 do 
Código Penal prever que as “circunstâncias” de caráter pessoal se comunicam quando elementares do crime, 
não é possível, no caso concreto, a aplicação desse dispositivo, porque o enunciado deixa claro que Vanessa 
não tinha conhecimento da condição de funcionário público de João, não sendo possível responsabilizá-la por 
peculato. A simples afirmação de que as circunstâncias pessoais não se comunicam é insuficiente para 
atribuição da pontuação, pois, quando elementares, poderá haver comunicação, desde que o agente tenha 
dessa situação. Da mesma forma, inadequada a afirmativa no sentido de que o particular não pode ser 
responsabilizado pelo crime próprio de peculato, pois insuficiente. 
 
DISTRIBUIÇÃO DOS PONTOS 
Quesito Avaliado Valores 
A. Nulidade dos atos processuais praticados após sua citação OU nulidade da 
sentença (0,25), pois a citação por edital foi inválida, já que Vanessa estava presa 
OU já que a citação de Vanessa deveria ter sido realizada pessoalmente (0,30), 
nos termos da Súmula 351 do STF OU do art. 360, CPP (0,10). 
0,00/0,10/0,25/0,30/ 
0,35/0,40/0,55/0,65 
 
 
 
 
 
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B. Vanessa não foi corretamente condenada por peculato porque não tinha 
conhecimento da condição de funcionário público de João, dependendo a 
comunicação da elementar desse elemento subjetivo OU porque não pode ser 
aplicado o Art. 30 do CP pela ausência de elemento subjetivo (0,60). 
0,00 / 0,60 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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 DAS NULIDADES 
 
QUESTÃO 2 – XXII EXAME OAB 
Em inquérito policial, Antônio é indiciado pela prática de crime de estupro de vulnerável, figurando como vítima 
Joana, filha da grande amiga da Promotora de Justiça Carla, que, inclusive, aconselhou a família sobre como 
agir diante do ocorrido. Segundo consta do inquérito, Antônio encontrou Joana durante uma festa de música 
eletrônica e, após conversa em que Joana afirmara que cursava a Faculdade de Direito, foram para um motel 
onde mantiveram relações sexuais, vindo Antônio, posteriormente, a tomar conhecimento de que Joana tinha 
apenas 13 anos de idade. Recebido o inquérito concluído, Carla oferece denúncia em face de Antônio, 
imputando-lhe a prática do crime previsto no Art. 217-A do Código Penal, ressaltando a jurisprudência do 
Supremo Tribunal Federal no sentido de que, para a configuração do delito, não se deve analisar o passado 
da vítima, bastando que a mesma seja menor de 14 anos. 
Considerando a situação narrada, na condição de advogado(a) de Antônio, responda aos itens a seguir. 
A) Existe alguma medida a ser apresentada pela defesa técnica para impedir Carla de participar do processo? 
Justifique. (Valor: 0,60) 
B) Qual a principal alegação defensiva de direito material a ser apresentada em busca da absolvição do 
denunciado? Justifique.(Valor: 0,65) 
Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não confere 
pontuação. 
 
Gabarito Comentado 
A) Sim, o advogado de Antônio, já no momento de apresentar resposta à acusação, deveria apresentar 
exceção de suspeição em face da Promotora de Justiça, tendo em vista a presença da causa de suspeição 
prevista no Art. 254, incisos I e IV, do Código de Processo Penal (CPP). Prevê o dispositivo em questão que o 
juiz dar-se-á por suspeito quando for amigo íntimo de alguma das partes ou quando tiver aconselhado uma 
das partes. Carla é muito amiga da genitora da vítima e ainda aconselhou a ofendida e sua família sobre como 
agir diante do ocorrido. Ademais, o Art. 258 do CPP estabelece que as previsões referentes às causas de 
impedimento e suspeição do magistrado são aplicáveis, no que couber, ao Ministério Público. Claro está o 
envolvimento de Carla com a causa, de modo que sua suspeição deve ser reconhecida. Considerando que a 
mesma não se declarou suspeita, oferecendo denúncia, caberia ao advogado apresentar exceção de suspeição, 
nos termos do Art. 95, inciso I, do CPP, e do Art. 104 do CPP. 
B) A principal alegação defensiva, de mérito, de direito material, é a de que houve erro de tipo por parte do 
denunciado, nos termos do Art. 20 do Código Penal, de modo que fica afastado o seu dolo. Diante da situação 
apresentada, claro está que Antônio não tinha conhecimento que Joana tinha apenas 13 anos de idade, 
merecendo destaque as partes se conheceram em uma festa de música eletrônica, ocasião em que a ofendida 
afirmara estar na faculdade, o que, por si só, já afastaria as suspeitas de que fosse menor de 14 anos. Ainda 
que se entendesse que o erro foi vencível, não poderia Antônio ser responsabilizado, tendo em vista que esse 
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afasta o dolo e não há previsão de responsabilização culposa pelo crime de estupro de vulnerável. No caso, é 
irrelevante a posição dos Tribunais Superiores no sentido de que o passado sexual da vítima não deve ser 
analisado, bastando que a mesma tenha, objetivamente, menos de 14 anos de idade. Ocorre que o problema 
apresentado em nada com esse tema se confunde, já que sequer sabia o réu a idade da vítima, que é uma 
das elementares do tipo. 
 
DISTRIBUIÇÃO DE PONTOS 
ITEM PONTUAÇÃO 
A) Sim, com apresentação de exceção de suspeição (0,50), nos termos do Art. 
95, incisoI, do CPP OU do Art. 104 do CPP (0,10) 
0,00/0,50/0,60 
B) A principal tese defensiva é a ocorrência de erro de tipo (0,55), nos termos 
do Art. 20 do CP (0,10). 
0,00/0,55/0,65 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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 DA TEORIA GERAL DAS PROVAS 
 
 
QUESTÃO 01 – IV EXAME 2011.1 
Maria, jovem extremamente possessiva, comparece ao local em que Jorge, seu namorado, exerce o cargo 
de auxiliar administrativo e abre uma carta lacrada que havia sobre a mesa do rapaz. Ao ler o conteúdo, 
descobre que Jorge se apropriara de R$ 4.000,00 (quatro mil reais), que recebera da empresa em que 
trabalhava para efetuar um pagamento, mas utilizara tal quantia para comprar uma joia para uma moça 
chamada Júlia. Absolutamente transtornada, Maria entrega a correspondência aos patrões de Jorge. 
Com base no relatado acima, responda aos itens a seguir, empregando os argumentos jurídicos apropriados 
e a fundamentação legal pertinente ao caso. 
a) Jorge praticou crime? Em caso positivo, qual(is)? (Valor: 0,35) 
b) Se o Ministério Público oferecesse denúncia com base exclusivamente na correspondência aberta por 
Maria, o que você, na qualidade de advogado de Jorge, alegaria? (Valor: 0,9) 
 
Gabarito Comentado 
a) Sim. Apropriação indébita qualificada (ou majorada) em razão do ofício, prevista no art. 168, parágrafo 
1º, III do CP. 
b) Falta de justa causa para a instauração de ação penal, já que a denúncia se encontra lastreada 
exclusivamente em uma prova ilícita, porquanto decorrente de violação a uma norma de direito material 
(artigo 151 do CP). 
 
DISTRIBUIÇÃO DOS PONTOS 
a) Sim. / Apropriação indébita qualificada (ou majorada) em razão do ofício, (0,2) 
/ art. 168, § 1º, III, do CP (0,15). 
0 / 0,15 / 0,2 / 0,35 
 
b) Falta de justa causa para a instauração de ação penal, (0,3) / já que a denúncia 
se encontra lastreada exclusivamente em uma prova ilícita, (0,3) / porquanto 
decorrente de violação a uma norma de direito material (art. 151 do CP OU art. 
395, III, do CPP OU art. 5º, XII e LVI, da CRFB) (0,3). 
0 / 0,3 / 0,6 / 0,9 
 
QUESTÃO 02 – EXAME XXI 
No dia 03 de março de 2016, Vinícius, reincidente específico, foi preso em flagrante em razão da apreensão 
de uma arma de fogo, calibre .38, de uso permitido, número de série identificado, devidamente municiada, 
que estava em uma gaveta dentro de seu local de trabalho, qual seja, o estabelecimento comercial “Vinícius 
House”, do qual era sócio-gerente e proprietário. Denunciado pela prática do crime do Artigo 14 da Lei nº 
10.826/03, confessou os fatos, afirmando que mantinha a arma em seu estabelecimento para se proteger de 
possíveis assaltos. Diante da prova testemunhal e da confissão do acusado, o Ministério Público pleiteou a 
condenação nos termos da denúncia em alegações finais, enquanto a defesa afirmou que o delito do Art. 14 
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do Estatuto do Desarmamento não foi praticado, também destacando a falta de prova da materialidade. Após 
manifestação das partes, houve juntada do laudo de exame da arma de fogo e das munições apreendidas, 
constatando-se o potencial lesivo do material, tendo o magistrado, de imediato, proferido sentença 
condenatória pela imputação contida na denúncia, aplicando a pena mínima de 02 anos de reclusão e 10 dias-
multa. O advogado de Vinícius é intimado da sentença e apresentou recurso de apelação. 
Considerando apenas as informações narradas, responda na condição de advogado(a) de Vinicius: 
 
A) Qual requerimento deveria ser formulado em sede de apelação e qual tese de direito processual poderia 
ser alegada para afastar a sentença condenatória proferida em primeira instância? Justifique. (Valor: 0,65) 
B) Confirmados os fatos, qual tese de direito material poderia ser alegada para buscar uma condenação penal 
mais branda em relação ao quantum de pena para Vinicius? Justifique. (Valor: 0,60) 
Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar as respostas. A mera citação do dispositivo legal não confere 
pontuação. 
 
GABARITO COMENTADO 
A questão exige do(a) examinando(a) conhecimento sobre os crimes em espécie previstos na Lei nº 10.826/03, 
bem como sobre a extensão dos princípios do contraditório e da ampla defesa. Narra o enunciado que Vinícius 
foi condenado pela prática do crime de porte de arma de fogo de uso permitido, pois tinha o material bélico, 
devidamente municiado, em seu local de trabalho. Consta, ainda, que o laudo de exame pericial da arma de 
fogo e das munições apreendidas somente foi juntado após manifestação das partes em alegações finais, 
tendo o magistrado proferido sentença condenatória de imediato. 
 
A) Em sede de apelação, deveria o advogado de Vinícius buscar o reconhecimento da nulidade da sentença, 
tendo em vista que, após manifestação da defesa, houve juntada de laudo de exame de arma de fogo, ou 
seja, de prova pericial, sem que fosse aberta vista às partes em relação à documentação. O não acesso pela 
defesa ao laudo de exame pericial violou o princípio da ampla defesa, em sua vertente da defesa técnica, além 
do próprio princípio do contraditório, já que aquela prova não lhe foi submetida. Assim, deveria a sentença 
ser anulada, sendo certo que o prejuízo foi constatado com a condenação do réu. 
 
B) A tese de direito material a ser apresentada pela defesa técnica de Vinícius para buscar uma condenação 
mais branda é de que o delito praticado pelo réu foi de posse de arma de fogo e não de porte de arma de 
fogo, tendo em vista que o agente possuía, em seu local de trabalho, arma de fogo de uso permitido. Prevê 
o Art. 12 da Lei nº 10.826/03 que o crime de posse de arma de fogo poderá ocorrer não apenas quando o 
material bélico estiver na residência do agente, mas também em seu local de trabalho, desde que o agente 
seja o titular ou responsável legal pelo estabelecimento. No caso, todos os requisitos foram observados, já 
que a arma estava no local de trabalho de Vinícius, estabelecimento do qual o agente era proprietário e sócio-
gerente. Assim, deveria a defesa buscar a desclassificação para o delito previsto no Art. 12 da Lei nº 10.826/03. 
 
 
 
 
 
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DISTRIBUIÇÃO DOS PONTOS 
A. Deveria o advogado de Vinicius requerer a anulação da sentença de primeira 
instância (0,30), tendo em vista houve violação ao princípio do contraditório 
ou da ampla defesa (0,15), no momento em que foi proferida sentença 
condenatória sem que a defesa tivesse vista da prova pericial juntada aos 
autos (0,20) 
0,00/0,15/0,20/0,30/0,35/ 
0,45/0,50/0,65 
 
B. A tese de direito material é a desclassificação para o crime de posse de 
arma de fogo, já que Vinicius possuía arma em seu local de trabalho (0,50), 
nos termos do Art. 12 da Lei nº 10.826/03 (0,10). 
0,00/0,50/0,60 
 
QUESTÃO 03 – EXAME XXI 
Mário foi surpreendido por uma pessoa que, mediante ameaça verbal de morte, subtraiu seu celular. No dia 
seguinte, quando passava pelo mesmo local, avistou Paulo e o reconheceu como sendo a pessoa que o roubara 
no dia anterior. Levado para a delegacia, Paulo admitiu ter subtraído o celular de Mário mediante grave 
ameaça, mas alegou que estava em estado de necessidade. O celular não foi recuperado e Paulo foi liberado 
em razão da ausência da situação de flagrante. Oferecida a denúncia pela prática do delito de roubo, Paulo 
foi pessoalmente citado e manifestou interesse em ser assistido pela Defensoria Pública. No curso da instrução, 
a vítima, única testemunha arrolada pelo Ministério Público, não foilocalizada, assim como Paulo nunca 
compareceu em juízo, sendo decretada sua revelia. A pretensão punitiva foi acolhida nos termos do pedido 
inicial, tendo o juiz fundamentado seu convencimento no que foi dito pelo lesado e pelo acusado na fase 
extrajudicial, aumentando a pena-base pelo fato de o agente ter ameaçado de morte o ofendido e deixando 
de reconhecer a atenuante da confissão espontânea porque qualificada. 
 
GABARITO COMENTADO 
A) A tese jurídica a ser apresentada pela defesa de Paulo para garantir sua absolvição é de insuficiência 
probatória, já que o magistrado não pode fundamentar sua decisão exclusivamente com base em elementos 
informativos, nos termos do Art. 155 do Código de Processo Penal. Claramente o magistrado considerou 
apenas os elementos informativos produzidos em sede policial, que não foram submetidos ao princípio do 
contraditório. O conceito de prova exige o respeito a esse princípio. Os elementos informativos somente podem 
embasar um decreto condenatório se confirmados por provas produzidas sob o crivo do contraditório. Ademais, 
não estamos diante de nenhuma das exceções trazidas pelo Art. 155, in fine, do CPP. Considerando que a 
decisão do magistrado baseou-se exclusivamente nas palavras da vítima em sede policial e na confissão do 
acusado na delegacia, não havendo provas produzidas em juízo, a condenação foi indevida. 
B) Em busca da redução da pena aplicada, deveria o(a) advogado(a) de Paulo defender que o aumento da 
pena-base em razão da ameaça de morte empregada representa violação ao princípio do ne bis in idem, tendo 
em vista que a grave ameaça constitui elementar do tipo de roubo, e que deveria ser reconhecida a atenuante 
da confissão, pois, ainda que qualificada, escorou o decreto condenatório do magistrado, nos termos da 
 
 
 
 
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Enunciado 545 da Súmula de Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça. Ademais, o Superior Tribunal de 
Justiça vem reconhecendo, de maneira tranquila, que a confissão qualificada, ou seja, aquela que apresenta 
causa excludente da ilicitude ou da culpabilidade, apesar de o agente confessar os fatos, é suficiente para o 
reconhecimento da atenuante. 
 
DISTRIBUIÇÃO DOS PONTOS 
A. Insuficiência probatória (0,20), tendo em vista que o magistrado 
baseou sua decisão exclusivamente em elementos informativos, o que é 
vedado pelo ordenamento jurídico (0,35), nos termos do Art. 155 do CPP 
OU Art. 5º, LV, da CRFB/88 (0,10) 
0,00/0,10/0,20/0,30/0,35/ 
0,45/0,55/0,65 
B. O aumento da pena base em razão da ameaça de morte configura bis 
in idem OU que a grave ameaça é elementar do tipo (0,30) e deveria ser 
reconhecida a atenuante da confissão, já que, embora qualificada, 
escorou o decreto condenatório (0,20), nos termos da Súmula 545/STJ 
(0,10) 
0,00/0,10/0,20/0,30/0,50/0,60 
 
 
QUESTÃO 01 – EXAME XXII 
Chegou ao Ministério Público denúncia de pessoa identificada apontando Cássio como traficante de drogas. 
Com base nessa informação, entendendo haver indícios de autoria e não havendo outra forma de obter prova 
do crime, a autoridade policial representou pela interceptação da linha telefônica que seria utilizada por Cássio 
e que fora mencionada na denúncia recebida, tendo o juiz da comarca deferido a medida pelo prazo inicial de 
30 dias. Nas conversas ouvidas, ficou certo que Cássio havia adquirido certa quantidade de cocaína, pela 
primeira vez, para ser consumida por ele, juntamente com seus amigos Pedro e Paulo, na comemoração de 
seu aniversário, no dia seguinte. Diante dessa prova, policiais militares obtiveram ordem judicial e chegaram 
à casa de Cássio quando este consumia e oferecia a seus amigos os seis papelotes de cocaína para juntos 
consumirem. Cássio, portador de maus antecedentes, foi preso em flagrante e autuado pela prática do crime 
de tráfico, sendo, depois, denunciado como incurso nas penas do Art. 33, caput, da Lei nº 11.343/06. 
Considerando os fatos narrados, responda, na qualidade de advogado(a) de Cássio, aos itens a seguir. 
A) Qual a tese de direito processual a ser suscitada para afastar a validade da prova obtida? (Valor: 0,65) 
B) Reconhecidos como verdadeiros os fatos narrados, qual a tese de direito material a ser alegada para tornar 
menos gravosa a tipificação da conduta de Cássio? (Valor: 0,60) 
Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não confere 
pontuação. 
 
Gabarito comentado 
A questão exige do examinando conhecimento sobre os delitos tipificados na Lei nº 11.343/06, além dos 
requisitos para decretação válida de interceptação telefônica. 
 
 
 
 
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A) A tese de direito processual a ser suscitada para defesa de Cássio para afastar a prova obtida é a invalidade 
da decisão que determinou a interceptação telefônica de Cássio, tendo em vista que, de início, foi determinada 
pelo prazo de 30 dias. Inicialmente deve ser destacado que a autoridade policial possui legitimidade para 
representar pela decretação da interceptação de comunicações telefônicas, nos termos do Art. 3º, inciso I, da 
Lei nº 9.296/96. Ademais, o crime investigado é punido com pena de reclusão e consta do enunciado que a 
prova não poderia ser obtida por outros meios disponíveis. Todavia, prevê o Art. 5º do mesmo diploma legal 
que a decisão que concede a medida deverá ser fundamentada e que não poderá exceder o prazo de 15 dias, 
renovável por igual período se comprovada a indispensabilidade do meio de prova. Diante disso, ainda que 
possa o período de 15 dias ser renovado, não pode, de início, a autoridade judicial determinar a interceptação 
por mais de 15 dias, sob pena de nulidade. 
B) A tese de direito material a ser alegada para tornar a conduta de Cássio menos gravosa é que foi praticado 
o delito previsto no Art. 33, § 3º da Lei nº 11.343/06, já que o agente oferecia drogas, de maneira eventual, 
sem objetivo de lucro, para seus amigos para juntos consumirem. Não há, assim, que se falar em prática de 
tráfico do Art. 33 da Lei nº 11.343/06 e nem mesmo na aplicação do §4º do mesmo dispositivo, já que o 
agente era portador de maus antecedentes. 
 
DISTRIBUIÇÃO DOS PONTOS 
ITEM PONTUAÇÃO 
A. A nulidade da decisão que decretou a interceptação das comunicações 
telefônicas OU ilicitude da prova obtida a partir das interceptações telefônicas 
(0,20), pois decretada a medida pelo prazo inicial de 30 dias (0,35), em 
desacordo com a previsão do Art. 5º da Lei nº 9.296/96 (0,10) 
0,00/0,20/0,30/0,35/ 
0,45/0,55/0,65 
B. A tese de direito material é que foi praticado o crime previsto no Art. 33, § 
3º da Lei nº 11.343/06 (0,45), tendo em vista que o agente tinha o material e 
o oferecia para junto consumir com seus amigos, de maneira eventual e sem 
intenção de lucro (0,15) 
0,00/0,15/0,45/0,60 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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 DAS PROVAS EM ESPÉCIE 
 
 
QUESTÃO 1 - EXAME 2010-02 
José da Silva foi preso em flagrante pela polícia militar quando transportava em seu carro grande quantidade 
de drogas. Levado pelos policiais à delegacia de polícia mais próxima, José telefonou para seu advogado, o 
qual requereu ao delegado que aguardasse sua chegada para lavrar o flagrante. Enquanto esperavam o 
advogado, o delegado de polícia conversou informalmente com José, o qual confessou que pertencia a um 
grupo que se dedicava ao tráfico de drogas e declinou o nome de outras cinco pessoas que participavam 
desse grupo. Essa conversa foi gravada pelo delegado depolícia. 
Após a chegada do advogado à delegacia, a autoridade policial permiti u que José da Silva se entrevistasse 
particularmente com seu advogado e, só então, procedeu à lavratura do auto de prisão em flagrante, ocasião 
em que José foi informado de seu direito de permanecer calado e foi formalmente interrogado pela 
autoridade policial. Durante o interrogatório formal, assisti do pelo advogado, José da Silva optou por 
permanecer calado, afirmando que só se manifestaria em juízo. 
Com base na gravação contendo a confissão e delação de José, o Delegado de Polícia, em um único ato, 
determina que um de seus policiais atue como agente infiltrado e requer, ainda, outras medidas cautelares 
investigativas para obter provas em face dos demais membros do grupo criminoso: 1. quebra de sigilo de 
dados telefônicos, autorizada pelo juiz competente; 2. busca e apreensão, deferida pelo juiz competente, a 
qual logrou apreender grande quantidade de drogas e armas; 3. prisão preventiva dos cinco comparsas de 
José da Silva, que estavam de posse das drogas e armas. Todas as provas coligidas na investi ação 
corroboraram as informações fornecidas por José em seu depoimento. 
Relatado o inquérito policial, o promotor de justiça denunciou todos os envolvidos por associação para o 
tráfico de drogas (art. 35, Lei 11.343/2006), tráfico ilícito de entorpecentes (art. 33, Lei 11.343/2006) e 
quadrilha armada (art. 288, parágrafo único). Considerando tal narrativa, excluindo eventual pedido de 
aplicação do instituto da delação premiada, indique quais as teses defensivas, no plano do direito material e 
processual, que podem ser arguidas a partir do enunciado acima, pela defesa de José. Indique os dispositivos 
legais aplicáveis aos argumentos apresentados. 
 
Gabarito comentado 
1. gravação informal obtida pelo delegado de polícia constitui prova ilícita, já que o preso tem o direito de 
ser informado dos seus direitos, dentre os quais o de permanecer calado (art. 5º, inc. LXIII, Constituição). 
O depoimento policial é um ato formal e, segundo o artigo 6º, V, deve observar as regras para a oitiva do 
acusado na fase judicial, previstas no Capítulo III, Título VII do Código de Processo Penal. Como as demais 
provas foram obtidas a partir do depoimento que constitui prova ilícita, devem igualmente ser consideradas 
ilícitas (art. 157, §1º, Código de Processo Penal). (0,3) 
 2. A infiltração de agente policial, conforme determina o artigo 53, I da Lei 11343/06, só pode ser 
determinada mediante autorização judicial e oitiva do Ministério Público. (0,3) 3. Não se admite a acumulação 
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das acusações de quadrilha e associação para o tráfico, já que as duas redações típicas compreendem as 
mesmas ações objetivas (estabilidade na comunhão de ações e desígnios para a prática de crimes). (0,4) 
 
Distribuição dos Pontos 
Item Pontuação 
Prova ilícita (Art. 157, parágrafo 1º, CPP) 0 / 0,3 
Vício na infiltração (Art.53, I, Lei 11.343/06) 0 / 0,3 
Cumulação entre quadrilha e associação 0 / 0,4 
 
 
Questão 1 – XXIV EXAME 
No dia 11/01/2016, Arnaldo, nascido em 01/02/1943, primário e de bons antecedentes, enquanto estava em 
um bar, desferiu pauladas na perna e socos na face de Severino, nascido em 30/03/1980, por acreditar que 
este demonstrara interesse amoroso em sua neta de apenas 16 anos. As agressões praticadas por Arnaldo 
geraram deformidade permanente em Severino, que, revoltado com o ocorrido, foi morar em outro estado. 
Denunciado pela prática do crime do Art. 129, § 2º, inciso IV, do Código Penal, Arnaldo confessou em juízo, 
durante o interrogatório, as agressões; contudo, não foram acostados aos autos boletim de atendimento 
médico e exame de corpo de delito da vítima, que também não foi localizada para ser ouvida. As testemunhas 
confirmaram ter visto Arnaldo desferir um soco em Severino, mas não viram se da agressão resultou lesão. 
Em sentença, diante da confissão, Arnaldo foi condenado a pena de 03 anos de reclusão, deixando o 
magistrado de substituir a pena privativa de liberdade por restritiva de direitos em virtude da violência. 
Considerando a situação narrada, na condição de advogado(a) de Arnaldo, responda aos itens a seguir. A) 
Em sede de recurso de apelação, qual argumento poderá ser apresentado em busca da absolvição de 
Arnaldo? Justifique. (Valor: 0,65) 
Gabarito Comentado 
A) Deveria o advogado de Arnaldo buscar sua absolvição em razão da ausência de prova da materialidade, 
tendo em vista que o crime deixou vestígios e não consta dos autos exame pericial. Não foi acostado boletim 
de atendimento médico ou exame de corpo de delito, direto ou indireto, de Severino, que sequer foi ouvido 
em juízo para confirmar as lesões. As testemunhas ouvidas, em que pese tenham confirmado que Arnaldo 
desferiu um soco na vítima, também não foram capazes de assegurar a existência de lesão corporal. Por fim, 
o Art. 158 do Código de Processo Penal prevê expressamente que, quando a infração deixar vestígios, é 
indispensável o exame de corpo de delito, não o suprindo a confissão do acusado. 
 
Distribuição dos Pontos 
Item Pontuação 
A. O argumento a ser apresentado em favor de Arnaldo é que a infração deixou 
vestígios e não existe prova da materialidade do crime de lesão corporal OU que 
0,00/0,55/0,65 
 
 
 
 
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não foi realizado exame de corpo de delito na vítima, não o suprindo a confissão 
do acusado (0,55), nos termos do Art. 158 do CPP (0,10) 
 
 
Questão 1 – XXIII EXAME 
José Barbosa, nascido em 11/03/1998, caminhava para casa após sair da faculdade, às 11h da manhã, no 
dia 07/03/2016, quando se deparou com Daniel, ex-namorado de sua atual companheira, conversando com 
esta. Em razão de ciúmes, retirou a faca que trazia na mochila e aplicou numerosas facadas no peito de 
Daniel, com a intenção de matá-lo. Daniel recebeu pronto atendimento médico, foi encaminhado para um 
hospital de Niterói, mas faleceu 05 dias após os golpes de faca. 
Já no dia 08/03/2016, policiais militares, informados sobre o fato ocorrido no dia anterior, comparecem à 
residência de José Barbosa, já que um dos agentes da lei era seu vizinho. Apesar de não ter ninguém em 
casa, a janela estava aberta, e os policiais puderam ver seu interior, verificando que havia uma faca suja de 
sangue escondida junto ao sofá. Diante disso, para evitar que José Barbosa desaparecesse com a arma 
utilizada, ingressaram no imóvel e apreenderam a arma branca, que foi devidamente apresentada pela 
autoridade policial. 
Com base na prova produzida a partir da apreensão da faca, o Ministério Público oferece denúncia em face 
de José Barbosa, imputando-lhe a prática do crime de homicídio consumado. 
Considerando a situação narrada, na condição de advogado(a) de José Barbosa, responda aos itens a seguir. 
A) Qual argumento a ser apresentado pela defesa técnica do denunciado para combater a prova decorrente 
da apreensão da faca? Justifique. (Valor: 0,65) 
B) Existe argumento de direito material a ser apresentado em favor de José Barbosa para evitar o 
prosseguimento da ação penal? Justifique. (Valor: 0,60) 
Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação ou transcrição do dispositivo 
legal não confere pontuação. 
Gabarito Comentado 
A) A defesa deveria alegar que a prova obtida a partir da apreensão da faca é ilícita, não podendo ser 
valorada no momento da sentença. Estabelece o Art. 5º, inciso XI, da CRFB/88 que a casa é asilo inviolável, 
não podendo nela ninguém ingressar sem consentimento do morador. A própria Constituição, todavia, trazexceções a esta regra, como na hipótese de flagrante delito ou mediante ordem judicial, durante o dia. Não 
havia, no caso apresentado, situação de flagrante delito, já que a simples posse de faca não configura crime 
e, em relação ao crime/ato infracional praticado no dia anterior, não havia situação de flagrância, pois 
ausentes os requisitos do Art. 302 do CPP. Ademais, não houve autorização do morador e nem existia ordem 
judicial de busca e apreensão, já que os policiais decidiram ingressar no imóvel porque viram a arma suja 
de sangue através da janela aberta. 
B) Sim, existe, tendo em vista que José Barbosa não poderia ser denunciado pela prática de crime de 
homicídio qualificado, já que era inimputável na data dos fatos. O Código Penal, para definir o momento do 
crime, adota a Teoria da Atividade, prevendo o Art. 4º que se considerado praticado o crime no momento 
 
 
 
 
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da ação ou omissão, ainda que em outro seja produzido o resultado. Dessa forma, o crime foi praticado no 
dia 07.03.2016, quando José Barbosa tinha 17 anos. Estabelece o Art. 27 do CP que será inimputável o 
menor de 18 anos. O fato de a consumação do delito só ter ocorrido após a maioridade penal de José 
Barbosa é irrelevante para o caso concreto, já que outro foi o momento da ação. 
 
Distribuição dos Pontos 
Item Pontuação 
A. O meio de obtenção da prova quando da apreensão da faca foi ilícito 
(0,20), tendo em vista que houve ingresso na residência de José Barbosa 
sem autorização do morador, flagrante delito ou ordem judicial (0,35), nos 
termos do art. 5º, XI, CRFB OU 157 do CPP (0,10). 
0,00/0,10/0,20/0,30/0,35/ 
0,45/0,55/0,65 
B. Não poderia José Barbosa ser processado criminalmente pela prática do 
crime de homicídio, tendo em vista que era inimputável na data dos golpes 
desferidos OU tendo em vista que praticou ato infracional análogo ao crime 
de homicídio (0,45), pois o Código Penal adota a Teoria da Atividade para 
definir o momento do crime (0,15). 
0,00/0,15/0,45/0,60 
 
 
QUESTÃO 3 – XVIII EXAME 2015-03 
Fernando foi pronunciado pela prática de um crime de homicídio doloso consumado que teve como vítima 
Henrique. Em sessão plenária do Tribunal do Júri, o réu e sua namorada, ouvida na condição de informante, 
afirmaram que Henrique iniciou agressões contra Fernando e que este agiu em legítima defesa. Por sua vez, 
a namorada da vítima e uma testemunha presencial asseguraram que não houve qualquer agressão pretérita 
por parte de Henrique. 
No momento do julgamento, os jurados reconheceram a autoria e materialidade, mas optaram por absolver 
Fernando da imputação delitiva. Inconformado, o Ministério Público apresentou recurso de apelação com 
fundamento no Art. 593, inciso III, alínea ‘d’, do CPP, alegando que a decisão foi manifestamente contrária 
à prova dos autos. A família de Fernando fica preocupada com o recurso, em especial porque afirma que 
todos tinham conhecimento que dois dos jurados que atuaram no julgamento eram irmãos, mas em 
momento algum isso foi questionado pelas partes, alegado no recurso ou avaliado pelo Juiz Presidente. 
 
Considerando a situação narrada, esclareça, na condição de advogado(a) de Fernando, os seguintes 
questionamentos da família do réu: 
A) A decisão dos jurados foi manifestamente contrária à prova dos autos? Justifique. (Valor: 0,60) B) Poderá 
o Tribunal, no recurso do Ministério Público, anular o julgamento com fundamento em nulidade na formação 
do Conselho de Sentença? Justifique. (Valor: 0,65) 
 
 
 
 
 
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Gabarito Comentado 
A) A decisão dos jurados não foi manifestamente contrária à prova dos autos, tendo em vista que o acusado 
e sua namorada alegaram a existência de legítima defesa. De fato, a namorada da vítima e uma testemunha 
afirmaram que esta causa excludente da ilicitude não existiu. Contudo, existem duas versões nos autos, com 
provas em ambos os sentidos, logo os jurados são livres para optar por uma delas, de acordo com a íntima 
convicção. Não houve arbitrariedade ou total dissociação da prova dos autos, mas apenas escolha de uma 
das versões. Assim, a soberania dos vereditos deve prevalecer, não cabendo ao Tribunal fazer nova análise 
do mérito, se a decisão não foi manifestamente contrária às provas produzidas. 
B) Não poderá o Tribunal anular o julgamento com base na existência de nulidade ocorrida durante a sessão 
plenária. De fato, prevê o Art. 448, inciso IV, do CPP, que estão impedidos de servir no mesmo Conselho os 
irmãos. Ocorre que o enunciado 713 da Súmula não vinculante do STF afirma categoricamente que “o efeito 
devolutivo da apelação contra decisões do júri é adstrito aos fundamentos de sua interposição”. O Ministério 
Público apresentou apelação apenas com fundamento na alínea ‘d’ do Art. 593, inciso III, do Código de 
Processo Penal. Assim, está limitado o efeito devolutivo, de modo que o Tribunal somente poderá analisar a 
existência de decisão manifestamente contrária à prova dos autos. Decisão em contrário prejudicaria a ampla 
defesa, pois eventual nulidade não foi combatida pela defesa em sede de contrarrazões. Poderia, ainda, o 
candidato basear sua resposta no enunciado 160 da Súmula do STF, que afirma que é nula a decisão que 
acolhe, contra réu, nulidade não arguida pela acusação. 
 
Distribuição dos Pontos 
Item Pontuação 
A. Não. A decisão dos jurados não foi manifestamente contrária à prova dos autos, 
pois está baseada em uma das versões existentes nos autos OU porque as 
declarações do réu e de sua namorada escoram a decisão (0,45), devendo 
prevalecer a soberania dos vereditos OU a íntima convicção dos jurados (0,15). 
0,00/0,15/0,45/0,60 
 
B. Não, pois o Tribunal está limitado ao conteúdo da apelação apresentada pelo 
Ministério Público, OU Não, pois decisão em contrário prejudicaria a ampla defesa 
e/ou contraditório, tendo em vista que não foi rebatido em contrarrazões (0,55), 
na forma do enunciado 713 da Súmula não vinculante do STF OU do enunciado 
160 da Súmula do STF (0,10). 
0,00/0,10/0,55/0,65 
 
 
Questão 1 – XVII EXAME 2015.2 
Rodrigo, primário e de bons antecedentes, quando passava em frente a um estabelecimento comercial que 
estava fechado por ser domingo, resolveu nele ingressar. Após romper o cadeado da porta principal, subtraiu 
do seu interior algumas caixas de cigarro. A ação não foi notada por qualquer pessoa. Todavia, quando 
caminhava pela rua com o material subtraído, veio a ser abordado por policiais militares, ocasião em que 
admitiu a subtração e a forma como ingressou no comércio lesado. O material furtado foi avaliado em R$ 
 
 
 
 
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1.300,00 (um mil e trezentos reais), sendo integralmente recuperado. A perícia não compareceu ao local 
para confirmar o rompimento de obstáculo. O autor do fato foi denunciado como incurso nas sanções penais 
do Art. 155, § 4º, inciso I, do Código Penal. As únicas testemunhas de acusação foram os policiais militares, 
que confirmaram que apenas foram responsáveis pela abordagem do réu, que confessou a subtração. 
Disseram não ter comparecido, porém, ao estabelecimento lesado. Em seu interrogatório, Rodrigo confirmou 
apenas que subtraiu os cigarros do estabelecimento, recusando-se a responder qualquer outra pergunta. A 
defesa técnica de Rodrigo é intimada para apresentar alegações finais por memoriais. 
Com base na hipótese apresentada, responda, fundamentadamente, aos itens a seguir. 
A) Diante da confissão da prática do crime de furto por Rodrigo, qual a principal tese defensivaem relação 
à tipificação da conduta a ser formulada pela defesa técnica? (Valor: 0,65) 
B) Em caso de acolhimento da tese defensiva, poderá Rodrigo ser, de imediato, condenado nos termos da 
manifestação da defesa técnica? (Valor: 0,60) 
Obs.: Sua resposta deve ser fundamentada. A simples menção do dispositivo legal não será pontuada 
 
Gabarito comentado 
A) Foi imputado um crime de furto qualificado, pois houve rompimento de obstáculo. Ocorre que, para a 
punição por essa modalidade qualificada do crime, é necessária a realização de exame de local e a 
constatação do rompimento de obstáculo por prova pericial (Art. 158 do CPP). Assim têm decidido de maneira 
recorrente os Tribunais Superiores, não sendo suficiente a simples afirmação dos policiais, no sentido de que 
Rodrigo narrou que tinha subtraído os cigarros, pois essa confirmação foi apenas quanto à subtração, e os 
agentes da lei nem mesmo compareceram ao estabelecimento para verificar se, de fato, houve tal 
rompimento. Assim, diante da ausência de comprovação pericial da qualificadora, o crime praticado foi de 
furto simples. 
B) Em caso de acolhimento da tese defensiva, com a consequente desclassificação da conduta de Rodrigo 
de furto qualificado para furto simples, não poderá ser o acusado de imediato condenado, devendo o 
magistrado abrir vista para que o Ministério Público se manifeste sobre a possibilidade de oferecer proposta 
de suspensão condicional do processo, pois a pena mínima passou a ser de 01 ano de reclusão. Nesse 
sentido é o enunciado 337 da Súmula do STJ, que permite que, em caso de desclassificação ou procedência 
parcial, seja oferecida proposta de suspensão condicional do processo, ainda que encerrada a instrução. 
 
Distribuição dos Pontos 
Item Pontuação 
A. A principal tese defensiva é a desclassificação do furto qualificado para o 
simples OU que deve ser afastada a qualificadora prevista no inciso I do parágrafo 
4º do Art. 155 do Código Penal (0,25), pois não existe prova pericial do 
rompimento de obstáculo (0,30), prevista no Art. 158 do CPP (0,10). 
0,00/0,25/0,30/0,35 
0,40/0,55/0,65 
 
 
 
 
 
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B. Em caso de acolhimento da tese defensiva, não pode o réu ser de imediato 
condenado, pois deve ser possibilitado ao Ministério Público o oferecimento de 
proposta de suspensão condicional do processo (0,50), nos termos do enunciado 
337 da Súmula do STJ (0,10). 
0,00/0,50/0,60 
 
PEÇA PROFISSIONAL – IX EXAME (2012.3) 
Gisele foi denunciada, com recebimento ocorrido em 31/10/2010, pela prática do delito de lesão corporal 
leve, com a presença da circunstância agravante, de ter o crime sido cometido contra mulher grávida. Isso 
porque, segundo narrou a inicial acusatória, Gisele, no dia 01/04/2009, então com 19 anos, objetivando 
provocar lesão corporal leve em Amanda, deu um chute nas costas de Carolina, por confundi-la com aquela, 
ocasião em que Carolina (que estava grávida) caiu de joelhos no chão, lesionando-se. 
A vítima, muito atordoada com o acontecido, ficou por um tempo sem saber o que fazer, mas foi convencida 
por Amanda (sua amiga e pessoa a quem Gisele realmente queria lesionar) a noticiar o fato na delegacia. 
Sendo assim, tão logo voltou de um intercâmbio, mais precisamente no dia 18/10/2009, Carolina compareceu 
à delegacia e noticiou o fato, representando contra Gisele. Por orientação do delegado, Carolina foi instruída 
a fazer exame de corpo de delito, o que não ocorreu, porque os ferimentos, muito leves, já haviam sarado. 
O Ministério Público, na denúncia, arrolou Amanda como testemunha. 
Em seu depoimento, feito em sede judicial, Amanda disse que não viu Gisele bater em Carolina e nem viu 
os ferimentos, mas disse que poderia afirmar com convicção que os fatos noticiados realmente ocorreram, 
pois estava na casa da vítima quando esta chegou chorando muito e narrando a história. Não foi ouvida mais 
nenhuma testemunha e Gisele, em seu interrogatório, exerceu o direito ao silêncio. Cumpre destacar que a 
primeira e única audiência ocorreu apenas em 20/03/2012, mas que, anteriormente, três outras audiências 
foram marcadas; apenas não se realizaram porque, na primeira, o magistrado não pôde comparecer, na 
segunda o Ministério Público não compareceu e a terceira não se realizou porque, no dia marcado, foi dado 
ponto facultativo pelo governador do Estado, razão pela qual todas as audiências foram redesignadas. Assim, 
somente na quarta data agendada é que a audiência efetivamente aconteceu. Também merece destaque o 
fato de que na referida audiência o parquet não ofereceu proposta de suspensão condicional do processo, 
pois, conforme documentos comprobatórios juntados aos autos, em 30/03/2009, Gisele, em processo 
criminal onde se apuravam outros fatos, aceitou o benefício proposto. 
Assim, segundo o promotor de justiça, afigurava-se impossível formulação de nova proposta de suspensão 
condicional do processo, ou de qualquer outro benefício anterior não destacado, e, além disso, tal dado 
deveria figurar na condenação ora pleiteada para Gisele como outra circunstância agravante, qual seja, 
reincidência. Nesse sentido, considere que o magistrado encerrou a audiência e abriu prazo, intimando as 
partes, para o oferecimento da peça processual cabível. 
Como advogado de Gisele, levando em conta tão somente os dados contidos no enunciado, elabore a peça 
cabível. (Valor: 5,0) 
 
 
 
 
 
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148 
Gabarito comentado 
O examinando, observando a estrutura correta, deverá elaborar MEMORIAIS, com fundamento no Art. 403, 
§3º, do CPP. 
A peça deve ser endereçada ao Juiz do Juizado Especial Criminal. 
Preliminarmente, deve ser alegada a decadência do direito de representação. Os fatos ocorreram em 
01/04/2009 e a representação apenas foi feita em 18/10/2009 (Art. 38, CPP). 
Também em caráter preliminar deve ser alegada a nulidade do processo pela inobservância do rito da Lei 
9.099/95, anulando-se o recebimento da denúncia, com a consequente prescrição da pretensão punitiva. 
Isso porque os fatos datam de 01/04/2009 e a pena máxima em abstrato prevista para o crime de lesão 
corporal leve é de um ano, que prescreve em quatro anos (Art. 109, inciso V, do CP). Como se trata de 
acusada menor de 21 anos de idade, o prazo prescricional reduz-se pela metade (Art. 115, do CP), totalizando 
dois anos. Com a anulação do recebimento da denúncia, este marco interruptivo desaparece e, assim, 
configura-se a prescrição da pretensão punitiva. 
No mérito, deve ser requerida absolvição por falta de prova. A materialidade do delito não restou 
comprovada, tal como exige o Art. 158, do CPP. O delito de lesão corporal é não transeunte e exige perícia, 
seja direta ou indireta, o que não foi feito. Note-se que não foi realizado exame pericial direto e nem a perícia 
indireta pôde ser feita, pois a única testemunha não viu nem os fatos e nem mesmo os ferimentos. 
Também no mérito, deve ser alegado que não incidem nenhuma das circunstâncias agravantes aventadas 
pelo Ministério Público. Levando em conta que Gisele agiu em hipótese de erro sobre a pessoa (Art. 20, § 
3º, do CP), devem ser consideradas apenas as características da vítima pretendida (Amanda) e não da vítima 
real (Carolina), que estava grávida. Além disso, não incide a agravante da reincidência, pois a aceitação da 
proposta de suspensão condicional do processo não acarreta condenação e muito menos reincidência; Gisele 
ainda é primária. 
Ao final, deve elaborar os seguintes pedidos: a extinção de punibilidade pela decadência do direito de 
representação; a declaração da nulidade do processocom a consequente extinção da punibilidade pela 
prescrição da pretensão punitiva; a absolvição da ré com fundamento na ausência de provas para a 
condenação. Subsidiariamente, em caso de condenação, deverá pleitear a não incidência da circunstância 
agravante de ter sido, o delito, cometido contra mulher grávida; a não incidência da agravante da 
reincidência; a atenuação da pena como consequência à aplicação da atenuante da menoridade relativa da 
ré. 
 
Distribuição dos Pontos 
 
Item Pontuação 
1) A peça deve ser endereçada ao Juiz do Juizado Especial 
Criminal. (0,25) 
0,00/0,25 
 
 
 
 
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2) Indicação do dispositivo legal que fundamenta a peça: Art. 403, 
§ 3º, do CPP (0,20). 
0,00/0,20 
3) Arguição da preliminar de decadência do direito de 
representação (0,50). 
Desenvolvimento fundamentado no sentido de que os fatos 
ocorreram em 01/04/2009 e a representação apenas foi feita em 
18/10/2009 (Art. 38, do CPP).(0,75) OBS: A mera indicação do 
artigo não pontua 
0,00/0,50/1,25 
4) Também em caráter preliminar deve ser alegada a nulidade do 
processo pela inobservância do rito da Lei n. 9.099/95 (0,25), 
anulando-se o recebimento da denúncia (0,25) com a 
consequente prescrição da pretensão punitiva.(0,25) 
0,00/0,25/0,50/0,75 
5) Desenvolvimento fundamentado acerca da absolvição por falta 
de prova (0,25), bem como da ausência de materialidade do delito 
(0,50) 
0,00/0,25/,050/,75 
6) Desenvolvimento fundamentado acerca da não incidência da 
agravante de crime praticado contra mulher grávida, pois a 
hipótese é de erro quanto à pessoa(0,30) na forma do Art.20, § 
3º do CP (0,10), OBS: A mera indicação do artigo não pontua. 
0,00/0,30/0,40 
7) Desenvolvimento fundamentado acerca da não incidência da 
agravante da reincidência (0,35). 
0,00/0,35 
8) Pedidos: 
A) extinção de punibilidade pela decadência do direito de 
representação (0,20); 
B) declaração da nulidade do processo (0,10) com a consequente 
extinção da punibilidade pela 
prescrição da pretensão punitiva (0,10); 
C) Absolvição (0,10) por falta de provas para a condenação OU 
por não haver prova da existência 
do fato (0,10); 
0,00/0,10/0,20/0,30/0,40/0,50/0,60 
D) Subsidiariamente, em caso de condenação: 
d1) não incidência da agravante de crime cometido contra mulher 
grávida (0,10); 
d2) não incidência da agravante da reincidência (0,10); 
d3) incidência da atenuante da menoridade relativa da ré (0,10) 
0,00/0,10/0,20/0,30 
9) Estrutura correta (indicação das partes/ local/ data/ 
assinatura). 
0,00/0,15 
 
 
 
 
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150 
 
 
PEÇA PROFISSIONAL – VI EXAME (2011.3) 
No dia 10 de março de 2011, após ingerir um litro de vinho na sede de sua fazenda, José Alves pegou seu 
automóvel e passou a conduzi-lo ao longo da estrada que tangencia sua propriedade rural. Após percorrer 
cerca de dois quilômetros na estrada absolutamente deserta, José Alves foi surpreendido por uma equipe da 
Polícia Militar que lá estava a fim de procurar um indivíduo foragido do presídio da localidade. 
Abordado pelos policiais, José Alves saiu de seu veículo trôpego e exalando forte odor de álcool, oportunidade 
em que, de maneira incisiva, os policiais lhe compeliram a realizar um teste de alcoolemia em aparelho de 
ar alveolar. Realizado o teste, foi constatado que José Alves tinha concentração de álcool de um miligrama 
por litro de ar expelido pelos pulmões, razão pela qual os policiais o conduziram à Unidade de Polícia 
Judiciária, onde foi lavrado Auto de Prisão em Flagrante pela prática do crime previsto no artigo 306 da Lei 
9.503/1997, c/c artigo 2º, inciso II, do Decreto 6.488/2008, sendo-lhe negado no referido Auto de Prisão 
em Flagrante o direito de entrevistar-se com seus advogados ou com seus familiares. Dois dias após a 
lavratura do Auto de Prisão em Flagrante, em razão de José Alves ter permanecido encarcerado na Delegacia 
de Polícia, você é procurado pela família do preso, sob protestos de que não conseguiam vê-lo e de que o 
delegado não comunicara o fato ao juízo competente, tampouco à Defensoria Pública. 
Com base somente nas informações de que dispõe e nas que podem ser inferidas pelo caso concreto acima, 
na qualidade de advogado de José Alves, redija a peça cabível, exclusiva de advogado, no que tange à 
liberdade de seu cliente, questionando, em juízo, eventuais ilegalidades praticadas pela Autoridade Policial, 
alegando para tanto toda a matéria de direito pertinente ao caso. 
Gabarito Comentado: 
O examinando deverá redigir uma petição de relaxamento de prisão, fundamentado no art. 5º, LXV, da 
CRFB/88, ou art. 310, I, do CPP (embora os fatos narrados na questão sejam anteriores à vigência da Lei 
12.403/11, a Banca atribuirá a pontuação relativa ao item também ao examinando que indicar o art. 310, I, 
do CPP como dispositivo legal ensejador ao pedido de relaxamento de prisão. Isso porque estará 
demonstrada a atualização jurídica acerca do tema), a ser endereçada ao Juiz de Direito da Vara Criminal. 
Na petição, deverá argumentar que: 
1. O auto de prisão em flagrante é nulo por violação ao direito à não autoincriminação compulsória (princípio 
do nemo tenetur se detegere), previsto no art. 5º, LXIII, da CRFB/88 ou art. 8º, 2, “g” do Decreto 678/92. 
2. A prova é ilícita em razão da colheita forçada do exame de teor alcoólico, por força do art. 5º, LVI, da 
CRFB/88 ou art. 157 do CPP. 
3. O auto de prisão em flagrante é nulo pela violação à exigência de comunicação da medida à Autoridade 
Judiciária, ao Ministério Público e à Defensoria Pública dentro de 24 horas, nos termos do art. 306, §1º, do 
CPP ou art. 5º, LXII, da CRFB/88, ou art. 6º, inciso V, c/c. artigo 185, ambos do CPP (a banca também 
convencionou aceitar como fundamento o artigo 306, caput, do CPP, considerando-se a legislação da época 
dos fatos). 
 
 
 
 
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4. O auto de prisão é nulo por violação ao direito à comunicação entre o preso e o advogado, bem com 
familiares, nos termos do art. 5º, LXIII, da CRFB ou art. 7º, III, do Estatuto da Ordem dos Advogados do 
Brasil ou art. 8º, 2, “d” do Decreto 678/92; 
Ao final, o examinando deverá formular pedido de relaxamento de prisão em razão da nulidade do auto de 
prisão em flagrante, com a consequente expedição de alvará de soltura. 
Distribuição dos Pontos 
 
Item Pontuação 
1 - Estrutura correta (divisão das partes / indicação de local, data, assinatura) 0,00/0,25 
2 - Indicação correta dos dispositivos legais que dão ensejo ao pedido de 
relaxamento de prisão – art. 5º, LXV, da CRFB OU art. 310, I, do CPP. 
0,00/0,50 
3 - Endereçamento correto – Juiz de Direito da XX Vara Criminal da Comarca... 0/0,25 
4.1 - Desenvolvimento jurídico acerca da nulidade do auto de prisão em flagrante 
por violação ao direito a não produzir prova contra si (0,5) [art. 5º, LXIII, da CRFB 
OU art. 8º, 2, “g” do Decreto 678/92 (Pacto de San José da Costa Rica)] (0,25) 
0/0,5/0,75 
4.2 - em razão da colheita forçada do exame de teor alcoólico e consequente 
ilicitude da prova (0,5) [art. 5º, LVI, OU art. 157 do CPP] (0,25) 
0/0,5/0,75 
5 - Desenvolvimento jurídico acerca da nulidade do auto de prisão em flagrante 
por violação ao direito à comunicação entre o preso e o advogado, bem como 
familiares (0,8), nos termos do art. 5º, LXIII, da CRFB OU art 7º, III, do EOAB 
(0,2). 
0/0,8/1,0 
6 - Desenvolvimento jurídico acerca da nulidade do auto de prisão em flagrante 
por violação à exigência de comunicação damedida à autoridade judiciária e à 
defensoria pública dentro de 24 horas (0,8), nos termos do art. 306, §1º, do CPP 
OU art. 5º, LXII, da CRFB (0,2). 
0/0,8/1,0 
7 - Pedido de relaxamento de prisão em razão da nulidade do auto de prisão em 
flagrante (0,25) e expedição de alvará de soltura (0,25). 
0/0,25/0,5 
 
PEÇA PROFISSIONAL – IV EXAME (2011.1) 
Tício foi denunciado e processado, na 1ª Vara Criminal da Comarca do Município X, pela prática de roubo 
qualificado em decorrência do emprego de arma de fogo. Ainda durante a fase de inquérito policial, Tício foi 
reconhecido pela vítima. Tal reconhecimento se deu quando a referida vítima olhou através de pequeno 
orifício da porta de uma sala onde se encontrava apenas o réu. Já em sede de instrução criminal, nem vítima 
nem testemunhas afirmaram ter escutado qualquer disparo de arma de fogo, mas foram uníssonas no 
sentido de assegurar que o assaltante portava uma. Não houve perícia, pois os policiais que prenderam o 
réu em flagrante não lograram êxito em apreender a arma. Tais policiais afirmaram em juízo que, após 
escutarem gritos de "pega ladrão!", viram o réu correndo e foram em seu encalço. Afirmaram que, durante 
 
 
 
 
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a perseguição, os passantes apontavam para o réu, bem como que este jogou um objeto no córrego que 
passava próximo ao local dos fatos, que acreditavam ser a arma de fogo utilizada. O réu, em seu 
interrogatório, exerceu o direito ao silêncio. Ao cabo da instrução criminal, Tício foi condenado a oito anos e 
seis meses de reclusão, por roubo com emprego de arma de fogo, tendo sido fixado o regime inicial fechado 
para cumprimento de pena. O magistrado, para fins de condenação e fixação da pena, levou em conta os 
depoimentos testemunhais colhidos em juízo e o reconhecimento feito pela vítima em sede policial, bem 
como o fato de o réu ser reincidente e portador de maus antecedentes, circunstâncias comprovadas no curso 
do processo. 
 
Você, na condição de advogado(a) de Tício, é intimado(a) da decisão. Com base somente nas informações 
de que dispõe e nas que podem ser inferidas pelo caso concreto acima, redija a peça cabível, apresentando 
as razões e sustentando as teses jurídicas pertinentes. 
 
Gabarito Comentado 
O examinando deve redigir uma apelação, com fundamento no artigo 593, I, do Código de Processo Penal. 
A petição de interposição deve ser endereçada ao juiz de direito da 1ª vara criminal da comarca do município 
X. Nas razões de apelação o candidato deverá dirigir‐se ao Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, 
argumentando que o reconhecimento feito não deve ser considerado para fins de condenação, pois houve 
desrespeito à formalidade legal prevista no art. 226, II, do Código de Processo Penal. Dessa forma, inexistiria 
prova suficiente para a condenação do réu, haja vista ter sido feito somente um único reconhecimento, em 
sede de inquérito policial e sem a observância das exigências legais, o que levaria à absolvição com fulcro 
no art. 386, VII, do mesmo diploma (também aceita‐se como fundamento do pedido de absolvição o art. 
386, V do CPP). Outrossim, de maneira alternativa, deverá postular o afastamento da causa especial de 
aumento de pena decorrente do emprego de arma de fogo, pois esta deveria ter sido submetida à perícia, 
nos termos do art. 158 do Código de Processo Penal, o que não foi feito, de modo que não há como ser 
comprovada a potencialidade lesiva da arma. Ademais, sequer foi possível a perícia indireta (art. 167 CPP), 
pois nenhuma das testemunhas disse ter escutado a arma disparar, de modo que o emprego de arma 
somente poderia servir para configurar a grave ameaça, elementar do crime de roubo. 
 
Distribuição dos Pontos 
 
Item Pontuação 
Estrutura correta (divisão das partes / indicação de local, data, assinatura) 0,00/0,25 
Indicação correta do prazo e dispositivos legais que dão ensejo à 
apelação, na petição de interposição (art. 593, I, do CPP) 
0,00/0,25 
Endereçamento correto da interposição – 1ª Vara Criminal do Município X 0/0,25 
Endereçamento correto das razões – Tribunal de Justiça do Estado 0/0,25 
 
 
 
 
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Desenvolvimento jurídico acerca da falta de observância da formalidade 
legal (0,8) / prevista no art. 226, II, do CPP (0,2) 
0/0,2/0,8/1,0 
Desenvolvimento jurídico acerca da ausência da apreensão da arma (ou 
de ausência de potencialidade lesiva), o que impede o exame pericial da 
arma, nos termos do art. 158 do CPP. (0,6) / Ninguém afirmou que a arma 
tenha efetuado qualquer disparo (perícia indireta) (0,4). 
0/0,4/0,6/1,0 
Pedido: Absolvição + argumento + base legal 0/0,5 
Pedidos (0,5 cada) – no mínimo 3 pedidos – máximo 1,5 ponto: 
‐ redução da pena + base legal 
‐ mudança de regime + base legal 
‐ nulidade da prova + base legal 
‐ afastamento da agravante + argumento + base legal 
0/0,5/1,0/1,5 
 
 
PEÇA PROFISSIONAL – EXAME (2010.3) 
No dia 17 de junho de 2010, uma criança recém-nascida é vista boiando em um córrego e, ao ser resgatada, 
não possuía mais vida. Helena, a mãe da criança, foi localizada e negou que houvesse jogado a vítima no 
córrego. Sua filha teria sido, segundo ela, sequestrada por um desconhecido. Durante a fase de inquérito, 
testemunhas afirmaram que a mãe apresentava quadro de profunda depressão no momento e logo após o 
parto. Além disso, foi realizado exame médico legal, o qual constatou que Helena, quando do fato, estava 
sob influência de estado puerperal. À míngua de provas que confirmassem a autoria, mas desconfiado de 
que a mãe da criança pudesse estar envolvida no fato, a autoridade policial representou pela decretação de 
interceptação telefônica da linha de telefone móvel usado pela mãe, medida que foi decretada pelo juiz 
competente. A prova constatou que a mãe efetivamente praticara o fato, pois, em conversa telefônica com 
uma conhecida, de nome Lia, ela afirmara ter atirado a criança ao córrego, por desespero, mas que estava 
arrependida. O delegado intimou Lia para ser ouvida, tendo ela confirmado, em sede policial, que Helena de 
fato havia atirado a criança, logo após o parto, no córrego. Em razão das aludidas provas, a mãe da criança 
foi então denunciada pela prática do crime descrito no art. 123 do Código Penal perante a 1ª Vara Criminal 
(Tribunal do Júri). Durante a ação penal, é juntado aos autos o laudo de necropsia realizada no corpo da 
criança. A prova técnica concluiu que a criança já nascera morta. Na audiência de instrução, realizada no dia 
12 de agosto de 2010, Lia é novamente inquirida, ocasião em que confirmou ter a denunciada, em conversa 
telefônica, admitido ter jogado o corpo da criança no córrego. A mesma testemunha, no entanto, trouxe 
nova informação, que não mencionara quando ouvida na fase inquisitorial. Disse que, em outras conversas 
que tivera com a mãe da criança, Helena contara que tomara substância abortiva, pois não poderia, de jeito 
nenhum, criar o filho. Interrogada, a denunciada negou todos os fatos. Finda a instrução, o Ministério Público 
manifestou-se pela pronúncia, nos termos da denúncia, e a defesa, pela impronúncia, com base no 
interrogatório da acusada, que negara todos os fatos. O magistrado, na mesma audiência, prolatou sentença 
 
 
 
 
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154 
de pronúncia, não nos termos da denúncia, e sim pela prática do crime descrito no art. 124 do Código Penal, 
punido menos severamente do que aquele previsto no art. 123 do mesmo código, intimando as partes no 
referido ato. 
Com base somente nas informações deque dispõe e nas que podem ser inferidas pelo caso concreto acima, 
na condição de advogado(a) de Helena, redija a peça cabível à impugnação da mencionada decisão, 
acompanhada das razões pertinentes, as quais devem apontar os argumentos para o provimento do recurso, 
mesmo que em caráter sucessivo. 
 
GABARITO COMENTADO 
O recurso cabível é o recurso em sentido estrito, na forma do art. 581, IV, do Código de Processo Penal, 
dirigido ao Juiz da 1ª Vara Criminal (Tribunal do Júri). 
Em primeiro lugar, deverá o examinando requerer, em preliminar, o desentranhamento das provas ilícitas. 
Isso porque o crime investigado, infanticídio (art. 123 do Código Penal), é punido com pena de detenção. 
Em razão disso, não era admissível a interceptação telefônica prevista na Lei 9.296/96, pois a lei em tela 
não admite a medida quando o crime só é punido com pena de detenção (art. 2º, III). É de ressaltar que o 
crime de aborto, previsto no art. 124, também só é punido com pena de detenção. Além disso, o enunciado 
indica não existir indícios suficientes de autoria, uma vez que o delegado representou pela decretação da 
quebra com base em meras suspeitas. Finalmente, não foram esgotados todos os meios de investigação, 
condição sine qua non para que a medida seja decretada. Por outro lado, o examinando deverá registrar 
também que o testemunho de Lia, embora seja prova realizada de modo lícito, será ilícito por derivação, na 
forma do art. 157, § 1º, do Código e Processo Penal e, portanto, imprestável. Ainda em preliminar, deverá 
o examinando suscitar a nulidade do processo por violação do art. 411, § 3º do Código de Processo Penal, 
c/c art. 384 do Código de Processo Penal. Com efeito, diante das regras acima referidas, o Juiz, vislumbrando 
a possibilidade de nova definição do fato em razão de prova nova, surgida durante a instrução, deverá abrir 
vista dos autos para que o Ministério Público, se for o caso, adite a denúncia, mesmo que a pena prevista 
para a nova definição jurídica seja menor, conforme a nova redação do art. 384 do Código de Processo 
Penal, dada pela Lei 11.719/2008. O candidato deverá, ainda, sustentar que não restou provada a 
materialidade do crime de aborto, uma vez que nenhuma perícia foi feita no sentido de comprovar que a 
criança faleceu em decorrência da ingestão de substância abortiva. Finalmente, deveria requerer, em caráter 
sucessivo, a impronúncia da acusada, uma vez que, retiradas as provas ilícitas dos autos, nenhuma prova 
de autoria existiria contra a denunciada. Em relação aos itens da correção, assim ficaram divididos: 
 
DISTRIBUIÇÃO DE PONTOS 
Item Pontuação 
Endereçamento correto e indicação da norma (art. 581, IV, CPP) 0,00/0,35/0,7 
Pedido de reconsideração ao juiz de 1º grau e indicação da norma 
(art. 589, parágrafo único, CPP) 
0 / 0,1 / 0,2 
 
 
 
 
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Indicação da ilegitimidade/ilicitude da interceptação telefônica (0,4) 
por tratar-se de crime apenado com detenção (0,4) 
OU 
Indicação da ilegitimidade/ilicitude da interceptação telefônica (0,4) 
com fundamento na necessidade de esgotamento prévio dos meios de 
investigação (0,4) 
0/0,4/0,8 
Indicação do dispositivo legal (art. 2º, III, Lei 9.296/96) OU (art. 2º, II, 
Lei 9.296/96) 
0/0,5 
Indicação da ilicitude por derivação da prova testemunhal (0,25) com 
fundamentação legal (art. 157, §1º, CPP) (0,25) 
0/0,25/0,5 
Desenvolvimento fundamentado de que haveria violação das regras 
referentes à mutatio libelli (0,25/0,5) / Indicação do dispositivo legal: 
art. 384 do CPP (0,25), c/c art. 411, §3º, do CPP (0,25) 
0 / 0,25 / 0,5 / 0,75 
/1,0 
Desenvolvimento fundamentado acerca da ausência de prova da 
materialidade do crime de aborto por inexistência de perícia que 
vincule o óbito à substância abortiva 
0/0,25/0,5 
Pedidos principais corretos (0,2 cada): 
- desentranhamento da prova Ilícita 
- impronúncia em virtude do desentranhamento da prova ilícita e 
consequente ausência de indícios suficientes de autoria 
- impronúncia por ausência de prova da materialidade do crime de 
aborto 
- absolvição sumária OU nulidade da decisão de pronúncia, com 
fundamento na mutatio libelli 
0 / 0,2 / 0,4 / 0,6 / 
0,8 
 
 
 
 
PEÇA PROFISSIONAL – EXAME (2010.2) 
A Polícia Civil do Estado do Rio Grande do Sul recebe notícia crime identificada, imputando a Maria Campos 
a prática de crime, eis que mandaria crianças brasileiras para o estrangeiro com documentos falsos. Diante 
da notícia crime, a autoridade policial instaura inquérito policial e, como primeira providência, representa 
pela decretação da interceptação das comunicações telefônicas de Maria Campos, “dada a gravidade dos 
fatos noticiados e a notória dificuldade de apurar crime de tráfico de menores para o exterior por outros 
meios, pois o ‘modus operandi’ envolve sempre atos ocultos e exige estrutura organizacional sofisticada, o 
que indica a existência de uma organização criminosa integrada pela investigada Maria”. O Ministério Público 
opina favoravelmente e o juiz defere a medida, limitando-se a adotar, como razão de decidir, “os 
fundamentos explicitados na representação policial”. 
 
 
 
 
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2ª Fase 
 
 
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No curso do monitoramento, foram identificadas pessoas que contratavam os serviços de Maria Campos para 
providenciar expedição de passaporte para viabilizar viagens de crianças para o exterior. Foi gravada 
conversa telefônica de Maria com um funcionário do setor de passaportes da Polícia Federal, Antônio Lopes, 
em que Maria consultava Antônio sobre os passaportes que ela havia solicitado, se já estavam prontos, e se 
poderiam ser enviados a ela. A pedido da autoridade policial, o juiz deferiu a interceptação das linhas 
telefônicas utilizadas por Antônio Lopes, mas nenhum diálogo relevante foi interceptado. 
O juiz, também com prévia representação da autoridade policial e manifestação favorável do Ministério 
Público, deferiu a quebra de sigilo bancário e fiscal dos investi gados, tendo sido identificado um depósito 
de dinheiro em espécie na conta de Antônio, efetuado naquele mesmo ano, no valor de R$ 100.000,00 (cem 
mil reais). O monitoramento telefônico foi mantido pelo período de quinze dias, após o que foi deferida 
medida de busca e apreensão nos endereços de Maria e Antônio. A decisão foi proferida nos seguintes 
termos: “diante da gravidade dos fatos e da real possibilidade de serem encontrados objetos relevantes para 
investigação, defiro requerimento de busca e apreensão nos endereços de Maria (Rua dos Casais, 213) e de 
Antônio (Rua Castro, 170, apartamento 201)”. No endereço de Maria Campos, foi encontrada apenas uma 
relação de nomes que, na visão da autoridade policial, seriam clientes que teriam requerido a expedição de 
passaportes com os nomes de crianças que teriam viajado para o exterior. No endereço indicado no mandado 
de Antônio Lopes, nada foi encontrado. Entretanto, os policiais que cumpriram a ordem judicial perceberam 
que o apartamento 202 do mesmo prédio também pertencia ao investi gado, motivo pelo qual nele 
ingressaram, encontrando e apreendendo a quantia de cinquenta mil dólares em espécie. Nenhuma outra 
diligência foi realizada. 
Relatado o inquérito policial, os autos foram remeti dos ao Ministério Público, que ofereceu a denúncia nos 
seguintes termos: “o Ministério Público vem oferecer denúncia contra Maria Campos Prof. Arnaldo França 
Quaresma Junior OAB 2ª Fase 48 e Antônio Lopes, pelos fatos a seguir descritos: Maria Campos, com o 
auxílio do agente da polícia federal Antônio Lopes, expediu diversos passaportes para crianças e 
adolescentes,sem observância das formalidades legais. Maria tinha a finalidade de viabilizar a saída dos 
menores do país. A partir da quantia de dinheiro apreendida na casa de Antônio Lopes, bem como o depósito 
identificado em sua conta bancária, evidente que ele recebia vantagem indevida para efetuar a liberação dos 
passaportes. Assim agindo, a denunciada Maria Campos está incursa nas penas do artigo 239, parágrafo 
único, da Lei n. 8069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente), e nas penas do artigo 333, parágrafo único, 
c/c o artigo 69, ambos do Código Penal. Já o denunciado Antônio Lopes está incurso nas penas do artigo 
239, parágrafo único, da Lei n. 8069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente) e nas penas do artigo 317, 
§ 1º, c/c artigo 69, ambos do Código Penal”. 
O juiz da 15ª Vara Criminal de Porto Alegre, RS, recebeu a denúncia, nos seguintes termos: “compulsando 
os autos, verifico que há prova indiciária sufi ciente da ocorrência dos fatos descritos na denúncia e do 
envolvimento dos denunciados. Há justa causa para a ação penal, pelo que recebo a denúncia. Citem-se os 
réus, na forma da lei”. Antônio foi citado pessoalmente em 27.10.2010 (quarta-feira) e o respectivo mandado 
foi acostado aos autos dia 01.11.2010 (segunda-feira). Antônio contratou você como Advogado, repassando-
lhe nomes de pessoas (Carlos de Tal, residente na Rua 1, n. 10, nesta capital; João de Tal, residente na Rua 
 
 
 
 
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4, n. 310, nesta capital; Roberta de Tal, residente na Rua 4, n. 310, nesta capital) que prestariam relevantes 
informações para corroborar com sua versão. 
 
Gabarito comentado 
• O candidato deverá redigir Resposta à Acusação endereçada ao Juiz de Direito da 15ª Vara Criminal de 
Porto Alegre, RS, com base nos artigos 396 e/ou 396-A do Código de Processo Penal. É indispensável a 
indicação do dispositivo legal que fundamenta a apresentação da peça. Peças denominadas “Defesa Previa”, 
“Defesa Preliminar” e “Resposta Preliminar” sem indicação do dispositivo legal não serão aceitas. Peças com 
fundamento simultâneo nos artigos 406 e 514 do Código de Processo Penal, ou em qualquer artigo de outra 
lei não serão aceitas. Quando se indicava os artigos 396 e/ou 396-A, as peças eram aceitas independente 
do nome, salvo quando também se fundamentavam no art. 514 do Código de Processo Penal ou em outro 
artigo não aplicável ao caso. Admitiu-se a resposta acompanhada da exceção de incompetência, pontuando-
se os argumentos constantes de ambas as peças. 
 • A primeira questão preliminar que deverá ser arguida é incompetência da Justiça Estadual para processar 
o feito, eis que o crime é de competência federal, nos termos do que prevê o artigo 109, V, da Constituição 
Federal. Relativamente a esse tema, admitiu-se também a arguição de incompetência com base no inciso IV 
do art. 109, da Constituição. Em ambos os casos, será considerada válida a indicação da transnacionalidade 
do crime ou a circunstância de ser uma acusação de crime supostamente praticado por funcionário público 
federal no exercício das funções e com estas relacionadas. Admite-se também a simples referência ao 
dispositivo da Constituição, ou até mesmo à Súmula n. 254, do extinto mas sempre Egrégio Tribunal Federal 
de Recursos. Não será aceita, por outro lado, a referência ao art. 109, I da Constituição nem às Súmulas 
122 e/ou 147 do STJ. 
• A segunda questão preliminar que deverá ser arguida é nulidade na interceptação telefônica. Aqui, foram 
pontuados separadamente os dois argumentos para sustentar a nulidade: (a) falta de fundamentação da 
decisão nos termos do que disciplina o artigo 5º, da Lei n. 9.296/96 e artigo 93, IX, da Constituição da 
República; no mesmo sentido; (b) impossibilidade de se decretar a medida de interceptação telefônica como 
primeira medida investigativa, não respeitando o princípio da excepcionalidade, violando o previsto no artigo 
2º, II, da Lei n. 9.296/96. Na nulidade da interceptação não se aceitará o argumento do art. 4º, acerca da 
ausência de indicação de como seria implementada a medida. Também não se aceitará a nulidade decorrente 
da incompetência para a decretação, eis que o argumento da incompetência era objeto de pontuação 
específica. 
• A terceira questão preliminar que deverá ser arguida é a nulidade da decisão que deferiu a busca e 
apreensão nula, eis que genérica e sem fundamentação, fulcro no artigo 93, IX, da Constituição da República. 
• A quarta questão preliminar que deverá ser arguida é a nulidade da apreensão dos cinquenta mil dólares, 
eis que o ingresso no outro apartamento de Antônio, onde estava a quantia, não estava autorizado 
judicialmente. Relativamente a este ponto, era indispensável que se associasse a ilegalidade ao conceito de 
prova ilícita e consequentemente requerendo-se a desconsideração do dinheiro lá apreendido. 
 
 
 
 
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• A quinta questão preliminar que deverá ser arguida é a inépcia da inicial acusatória, eis que a conduta é 
genérica, sem descrever as elementares do tipo de corrupção passiva e sem imputar fato determinado. Isso 
viola o previsto no artigo 8º, 2, ‘b’, do Decreto 678/92, o qual prevê como garantia do acusado a comunicação 
prévia e pormenorizada da acusação formulada. Além disso, limita o exercício do direito de defesa, em 
desrespeito ao previsto no artigo 5º, LV, da Constituição da República. Por fim, há violação ao artigo 41, do 
Código de Processo Penal. 
• Em relação ao crime de corrupção passiva, previsto no artigo 317, §1º, do Código Penal, o candidato 
deverá apontar a falta de justa causa para a ação penal. Afirmações genéricas de falta de justa causa não 
serão consideradas suficientes para obtenção da pontuação. Com efeito, é preciso que o candidato faça um 
cotejo entre o tipo penal (com seus elementos normativos, objetivos e subjetivos) e os fatos narrados no 
enunciado da questão. São exemplos de argumentos: não há prova suficiente de que o réu recebia vantagem 
indevida para a emissão de passaportes de forma irregular; não há nenhuma prova de que os passaportes 
fossem emitidos de forma irregular; nenhum passaporte foi apreendido ou periciado na fase de inquérito 
policial; não há prova de que os passaportes supostamente requeridos por Maria na ligação telefônica foram, 
efetivamente, emitidos; não há prova de que houve o exaurimento do crime, nos termos do que prevê o §1º 
do artigo 317, do Código Penal, ou seja, que Antônio tenha efetivamente praticado ato infringindo dever 
funcional. 
• No que tange ao crime previsto no artigo 239, parágrafo único, da Lei n. 8.069/90 (Estatuto da Criança e 
do Adolescente), não há qualquer indício da prática delituosa por parte de Antônio, eis que não há sequer 
referência de que ele tivesse ciência da intenção de Maria. Em outras palavras, o candidato deverá indicar 
que não havia consciência de que Antônio estivesse colaborando para a prática do crime supostamente 
praticado por Maria, inexistindo, dessa forma dolo. Assim como no caso do crime anterior, afirmações 
genéricas de falta de justa causa não serão consideradas suficientes para obtenção da pontuação. Com 
efeito, é preciso que o candidato faça um cotejo entre o tipo penal (com seus elementos normativos, 
objetivos e subjetivos) e os fatos narrados no enunciado da questão. Dessa forma, relativamente à 
atipicidade do crime do art. 239, é indispensável que o candidato apontasse a ausência de dolo ou falasse 
do elemento subjetivo do tipo. Argumentos relacionados exclusivamente ao nexo causal não serão 
considerados aptos. 
• Ao final, o candidato deverá especificar provas, indicando rol de testemunhas. Os requerimentosdevem 
ser de declaração das nulidades, absolvição sumária e, alternativamente, instrução processual com produção 
da prova requerida pela defesa. Para pontuar o pedido não é necessário que o candidato faça todos os 
pedidos constantes do gabarito, mas que seus pedidos estejam coerentes com a argumentação desenvolvida 
na peça. Por outro lado, se houver argumentos flagrantemente equivocados em maior número do que 
adequados, o pedido deixará de ser pontuado. No pedido, não foi admitida absolvição com fulcro no art. 386 
e do 415 do Código de Processo Penal, já que ele trata das hipóteses de absolvição após o transcurso do 
processo, e não na fase de resposta. 
• O último dia do prazo é 08.11.2010, eis que a contagem inicia na data da intimação pessoal. Não serão 
aceitas datas como 06 ou 07 de novembro, pois o enunciado é claro ao especificar que a petição deveria ser 
 
 
 
 
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protocolada no último dia do prazo, o qual se prorrogou até o dia útil subsequente. Erros como 08 de outubro 
e 08 de setembro (ou qualquer outra data) serão considerados insuscetíveis de pontuação. 
• Por fim, o gabarito não contempla nenhuma atribuição de pontuação para as argumentações relativas à: 
(1) ausência de notificação para apresentar resposta preliminar (art. 514, Código de Processo Penal); (2) 
nulidade da decisão que decretou a quebra do sigilo bancário. Também não será atribuída pontuação á 
simples narrativa dos fatos nem às afirmações genéricas de que não havia justa causa para a ação penal. 
 
DISTRIBUIÇÃO DE PONTOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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