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249 AleitAmento mAterno: álcool e sAúde bebe REVISÃO E ENSAIOS Aleitamento materno: quanto o álcool pode influenciar na saúde do bebê? Breast-feeding: to which extent alcohol can affect the baby’s health? Lactancia Materna: cuanto el alcohol puede influenciar la salud del bebe? Adriana T. Kachani 1, Ligia Shimabukuro Okuda 1, Ana Lucia Rodrigues Barbosa 2, Silvia Brasiliano 3, Patrícia Brufentrinker Hochgraf 4. Programa de Atenção à Mulher Dependente Química do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (PROMUD- IPq- HC- FMUSP) 1 Nutricionista do Programa de Atenção à Mulher Dependente Química do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clíni- cas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (PROMUD- IPq- HC- FMUSP) 2 Estagiária de nutrição do PROMUD 3 Psicóloga, coordenadora do PROMUD 4 Psiquiatra, coordenadora do PROMUD resumo objetivos: Rever literatura científica acerca da teratogenicidade do álcool sobre o bebê durante o aleitamento materno. Fontes pesquisadas: revisão bibliográfica realizada no Sistema. “MED- LINE” (Index Medicus) cruzando os descritores “álcool” e “aleitamento materno”, e diversos uni- termos relacionados: etanol, alcoolismo, ama- mentação, produção de leite humano, entre ou- tros. síntese dos dados: Quando as mulheres que estão amamentando consomem álcool, de forma geral, cerca de 2% deste é transferido para o leite materno. A concentração de álcool no lei- te é influenciada tanto pela quantidade ingerida, quanto por outros fatores relacionados à nutriz: função hepática, composição e volume do leite, fluxo sanguíneo para a mama e peso. Em relação ao lactente, é importante observar suas funções absortivas e hepáticas. Nenhuma substância que cause dependência química deve ser ingerida pe- las mães lactantes, não só pelos efeitos fisiológi- cos sobre a criança, mas também pelos danos à saúde física e emocional das mesmas. Contudo, em doses reduzidas e esporádicas, o álcool não pode ser considerado incompatível com a ama- mentação. conclusões: Mesmo diante da exce- lência do leite materno, e da teratogenicidade do álcool, existem ocasiões em que o profissional da saúde deve considerar o risco/ benefício da práti- ca. Assim, a amamentação somente deverá ser in- terrompida ou desencorajada se existir evidência substancial que o consumo alcoólico está sendo nocivo ao bebê. Palavras-chave: Aleitamento materno.Consumo de bebidas alcoólicas. Abstract Objectives: To review the scientific literature about the teratogenicity of alcohol on the baby during breast-feeding. Researched sources: bib- liographic review carried out in the “MED-LINE” (Index Medicus) System, crossing the descriptors “alcohol” and “breast-feeding”, and several related uniterms: ethanol, alcoholism, breast-feeding, hu- man milk production, among others. Data synthe- sis: In general, when breast-feeding women con- sume alcohol, approximately 2% of such alcohol is 250 PediAtriA (são PAulo) 2008;30(4):249-256 251transferred to the mother’s milk. The concentration of alcohol in the milk is influenced both by the in- gested quantity as well as by other factors related to the breast-feeding woman: hepatic function, milk composition and volume, blood flow to the breast and weight. Regarding the infant, it is important to observe such infant absorptive and hepatic func- tions. No substance that causes chemical addic- tion should be ingested by breast-feeding mothers, not only because of the physiological effects on the child, but also because of the damages to such child physical and emotional health. However, in small and sporadic doses, alcohol cannot be considered in- compatible with breast-feeding. Conclusions: Even considering the excellence of mother’s milk and the teratogenicity of alcohol, there are occasions when the health professional should consider the risk/ben- efit of the practice. Thus, breast-feeding should only be interrupted or discouraged if there is substantial evidence that the consumption of alcohol is being harmful to the baby. Keywords: Breast feeding. Alcohol drinking. Alcoholism. Resumen Objetivos: Revisar la literatura científica acerca de la teratogenidad del alcohol sobre el bebe durante la lactancia materna. Fuentes pesquisadas: revi- sión bibliográfica realizada en el sistema “MED- LINE” (Index Medicus) cruzando los descriptores “alcohol” e “lactancia materna”, y diversos térmi- nos relacionados: etanol, alcoholismo, lactancia, producción de leche humana, entre otros. Síntesis de los datos: Cuando las mujeres que están lactan- do consumen alcohol, de forma general, cerca de 2% de este es transferido para la leche materna. La concentración de alcohol en la leche es influencia- da tanto por la cantidad ingerida, como por otros factores relacionadas a la nutrís: función hepática, composición y volumen de leche, flujo sanguíneo para la mama y peso. En relaciona al lactante, es importante observar sus funciones absortivas y he- páticas. Ninguna substancia que causa dependencia química debe ser ingerida por las madres que están lactando no solo por los efectos fisiológicos sobre el niño, mas también por los daños a la salud física y emocional de las mismas. Con todo, en dosis redu- cida y esporádicas, el alcohol no puede ser consi- derado compatible con la lactancia. Conclusiones: Mismo delante de la excelencia de la leche materna, y de la teratogenicidad del alcohol, existen ocasio- nes en que el profesional de la salud debe considerar de riesgo/ beneficio de la practica. Así la lactancia solamente deberá ser interrumpida o desencorajosa si existir evidencia substancial que el consumo alco- hólico esta siendo nocivo para el bebe. Palabras-clave: Lactancia materna. Consumo de bebidas alcohólicas. Alcoholismo. introdução Estudos comprovam o efeito protetor do alei- tamento materno frente a doenças, tais como anemia ferropriva, sarampo, diarréia, enterocoli- te necrotizante, doença celíaca, doença de Crohn, colite ulcerativa, alergias e infecções respiratórias agudas, parasitoses, otite, meningite, alergias, diabetes mellitus, infecções do trato urinário, displasia broncopulmonar, linfomas, leucemias, retinopatia e falência respiratória, entre outras, principalmente em crianças que apresentam sin- tomas de desnutrição e menores de um ano de idade. Verifica-se ainda, melhor: padrão cardior- respiratório durante a alimentação; acuidade vi- sual; desenvolvimento neuromotor e cognitivo; resposta às imunizações e a não instalação de há- bitos bucais viciosos – Más oclusões1-4. A mãe também é beneficiada pela amamen- tação. A ciência tem demonstrado que a chance de desenvolver câncer de mama é menor entre as mulheres que têm mais filhos e amamentam por mais tempo. Na Colômbia, onde a segunda causa de morte feminina é o câncer de mama, foi testada a proteção da amamentação materna contra a patogenia, e confirmada a importância de promover o aleitamento materno prolongado para preveni-la5. Além disso, a amamentação é um excelente aliado da mãe na recuperação do seu peso normal, pois produzir leite demanda muita energia6. É ainda importante lembrar que, sobretudo nas camadas populacionais de baixa renda com condições sociais e higiênicas deficientes, o leite humano, além de sua ação fundamental de trans- ferir os anticorpos e células imunocompetentes, também atua diminuindo o risco de contamina- ção que existe com a mamadeira, através de água contaminada, limpeza inadequada de bicos, falta de geladeira e aproveitamento de restos de ma- madas anteriores. Assim, deve-se atentar para a praticidade que a amamentação oferece: o leite 250 251 AleitAmento mAterno: álcool e sAúde bebe está sempre ali, na temperatura correta,esterili- zado para o bebê, além de ser gratuito. É uma fonte natural e renovável de alimentação, não há desperdício, não polui o meio ambiente e não de- vasta a natureza4,7. mitos relacionados ao consumo de álcool O aleitamento materno, além de ser biológico, é histórica, social e psicologicamente delineado através da cultura, com suas crenças e tabus, que influenciam de forma crucial sua prática8. Em vários povos persiste a crença de que o álcool se- ria galactogênico, ou seja, que o consumo de pe- quenas quantidades de álcool imediatamente an- tes do aleitamento facilitaria a produção de leite nas glândulas mamárias. Trabalho realizado com 40 mulheres lactantes mostrou que 45% delas re- ceberam aconselhamento de seus médicos e/ou enfermeiras para consumir álcool durante a lac- tação e 35% delas receberam o mesmo conselho de familiares e amigos9. No México, mulheres em fase de aleitamento são encorajadas a beber cerca de 2 litros diários de pulque, uma bebida fermentada a partir da Agave Atrovirens,, que possui uma pequena porcenta- gem alcoólica. Na Alemanha, a cerveja é conside- rada um “elixir mágico”, enquanto a comunidade Indochinesa da Califórnia prefere ervas medici- nais embebidas em vinho10. Já os chineses utili- zam uma mistura de porco, grão de bico, sopa de lulas e cabeças de camarão, com vinho doce feito de arroz glutinoso adicionado de insetos (8). Em 1895, era produzido nos Estados Unidos Malt Nutrine, uma cerveja de baixo teor alcoólico composto de malte de cevada e lúpulo10. No Brasil, a cultura popular também reco- menda a ingestão de cervejas mais escuras e “fortificadas”. Por não serem filtradas, é fato que contêm mais proteínas e lúpulo. Uma delas, com um touro como símbolo, reforça a idéia de for- ça e vitalidade necessárias para a amamentação e até dispõe de receitas com ovo, mel ou aveia para que seu conteúdo seja ainda mais fortificado11. consumo de álcool por mulheres Sabe-se que o álcool é a droga que mais se abu- sa, no Brasil e no mundo12.Estudo de tendências de consumo de álcool nos Países Europeus apon- tou que as mulheres consomem 30% do álcool vendido no continente13.Já no Brasil, pesquisa populacional recente apontou uso de álcool e de- pendência de álcool em mulheres14. (Tabela 1). Apesar da evolução social havida nos últimos anos, o preconceito relacionado a mulher que bebe continua ainda muito forte. Falhas no cumprimen- to do papel familiar, tendência à promiscuidade e estereótipo de maior agressividade são alguns dos estigmas listados, que influenciam negativamente na busca de tratamento. Assim, estudos apontam o quanto o consumo de álcool e o diagnóstico de alcoolismo são ignorados em serviços médicos em geral, que, geralmente, não possuem equipe trei- nada para diagnosticar o problema e responder as perguntas mais freqüentes15-18. Apesar de mulheres que amamentam demons- trarem usar menos drogas, seu padrão de consu- mo parece não diminuir neste período. Apro- ximadamente 10% delas relatam beber duas ou mais doses de álcool diariamente19. Estudos mais recentes demonstraram que apenas 5% seguiam este padrão apresentado após o parto, porém 37% relataram binge drinking freqüentes19,20. Sen- do assim, o objetivo deste trabalho é capacitar o profissional da saúde, especialmente o pediatra, a conhecer melhor a relação consumo de álcool X aleitamento materno, uma vez que estes pro- fissionais são freqüentemente consultados para opinar sobre a segurança do seu uso durante a amamentação. Fontes pesquisadas A revisão bibliográfica foi realizada no Siste- ma. “MED-LINE” (Index Medicus) cruzando os descritores “álcool” e “aleitamento materno”, além de diversos unitermos relacionados a eles, tais como: etanol, alcoolismo, amamentação, produção de leite humano, entre outros. Todos os termos foram usados em língua inglesa. Diversos trabalhos eram caracterizados como estudos de múltiplos fatores associados ao aleitamento ma- terno, não havendo uma preocupação específica tabela1. Prevalência sobre uso de álcool e dependência de álcool de mulheres brasileiras. Faixa etária uso de álcool (%) Prevalência de alcoolismo (%) 18-24 anos 72,6 12,1 25-34 anos 73 7,7 Total 68,3 6,9 Adaptado de 14. 252 PediAtriA (são PAulo) 2008;30(4):249-256 253com o consumo alcoólico. Em virtude da restrita literatura sobre o assunto, não foi estabelecido nenhum período de publicação do artigo para ser incluído nesta revisão. Alguns livros de referên- cia brasileiros também foram consultados. dados obtidos Fisiologia do álcool e da lactação Para ser transferido para o leite, o álcool pre- cisa alcançar o tecido alveolar da glândula ma- mária. O fator determinante da quantidade de álcool que aparece no leite é sua concentração no sangue materno. Durante a lactação, a passagem de drogas do sangue para o leite materno (LM) ocorre através de mecanismos que envolvem membranas biológicas formadas por fosfolipíde- os e proteínas. O baixo peso molecular do álcool permite que ele atinja facilmente o LM, atraves- sando o capilar endotelial materno e a célula al- veolar por difusão passiva. Assim, a composição da membrana exerce influência na velocidade da passagem e na concentração do álcool no leite humano21,22. Quando as mulheres que estão amamentando consomem álcool, de forma geral, cerca de 2% deste é transferido para o sangue e LM. Apesar de não ser estocado nas glândulas mamárias, o nível de álcool encontrado no leite é proporcio- nal ao encontrado no sangue da mãe e, desta for- ma, o leite apresentará quantidades consideráveis de álcool enquanto os níveis no sangue forem mensuráveis10,22. Uma vez que é uma substância de rápida absorção, o álcool passa rapidamente do plasma para o LM. O pico da quantidade de álcool presente no sangue coincide com o do LM, sendo menor neste, e gira em torno de 30 minutos a 1 hora após o seu consumo, podendo ser retardado até 90 minutos quando ingerido com alimentos, com uma diferença individual considerável entre as mulheres10,21. É importante ressaltar a baixa atividade da enzima álcool-desidrogenase (ADH) no lactente22. Nas mães lactantes, a referida enzi- ma também tem menor atividade, repercutindo na sua concentração plasmática. Estudo em ratas lactantes comparadas a ratas virgens demonstrou níveis plasmáticos de ADH até 20 vezes menor desta enzima23. Sabe-se que o LM está sujeito a mudanças na sua composição. Dependendo da fase da lac- tação (colostro X leite maduro) ou até mesmo na fase da mamada (leite anterior X leite poste- rior), existem alterações quanto a concentração de lipídeos e proteínas. Tais alterações influen- ciam na extensão da transferência do álcool do plasma para o leite, causando variação na sua concentração no leite materno22. É sabido tam- bém que o leite de mães de bebês pré-termo tem baixo teor de gordura e alto teor de pro- teínas, o que implica em diferentes níveis do álcool no leite materno24,25. Modelos com ani- mais têm demonstrado que o consumo crônico de álcool durante a lactação resulta alteração do perfil de fosfolipídeos, quando comparado com DAMS26. Outros fatores relacionados a nutriz também influenciam na concentração de álcool no LM: sua função hepática, a composição e volume do leite, seu fluxo sanguíneo para a mama e seu peso. A Figura 1 orienta quanto ao tempo de eli- minação do álcool desde o início do consumo da mãe até o clearence no LM. Durante os primeiros dias de lactação, quando é produzido o colostro, as células alveolares são pequenas e o espaço intracelular é largo, o que faz com que o álcool transfira-se mais facilmente para o leite materno. Porém, como o volume de colostro ingerido pelo bebê é pequeno, a dose absoluta de álcool tam- bém é baixa. Já com a redução dos níveisde pro- gesterona, há crescimento das células alveolares e estreitamento dos espaços intracelulares com redução da transferência do álcool. Contudo, a quantidade ingerida pelo bebê é maior22,27. Em relação ao lactente, é importante observar suas funções absortivas e hepáticas. Assim, quan- to mais imaturo ele for, menor sua capacidade de metabolização e eliminação do álcool. Esses efei- tos podem ser ainda maiores em bebês pré-termo, cuja imaturidade pode prolongar a meia vida do álcool, causando acúmulo de doses repetidas. Sabe-se que nas primeiras semanas de vida dos bebês, sua capacidade de metabolizar o álcool é metade da capacidade dos adultos21,22,25. Consumo de álcool As calorias fornecidas pelo álcool podem al- terar o perfil dietético e o valor energético total (VET) diário da mãe que amamenta. A inten- sidade com que estas alterações ocorrem e se manifestam está diretamente relacionada com a quantidade e constância da ingestão alcoólica. Sabe-se que o álcool supre o alimento na dieta 252 253 AleitAmento mAterno: álcool e sAúde bebe de dependentes graves, portanto o alcoolista é descrito normalmente como um paciente desnu- trido, uma vez que a ingestão alcoólica substitui calorias e nutrientes adequados. Já no consumo mais moderado, a ingestão alcoólica é usualmen- te uma fonte adicional de energia, sendo somada à dieta habitual da paciente. Esse tipo de fonte calórica é conhecida como “calorias vazias”, uma vez que apesar de seu alto valor energético, faltam nutrientes essenciais como proteínas, vitaminas e elementos traços. Paralelamente, não podemos deixar de atentar à baixa absorção de nutrientes em indivíduos alcoolistas, causada pela insufici- ência pancreática e deficiência de enzimas que atuam na borda em escova do intestino28-32. Um importante problema nas pesquisas com álcool tem sido o efeito anorexígeno da droga, re- sultando numa depleção nutricional que pode ser confundida com os efeitos adversos do álcool23. De qualquer forma, a manutenção da lactação com ingestão energética e nutricional mais baixa é possível. Porém, é recomendável que a mulher lactante receba, através de sua alimentação, gran- de quantidade de água, macro e micro nutrientes, que serão utilizados para a formação do leite sem que desfalque suas reservas orgânicas8. Nenhuma substância que cause dependência química deve ser ingerida pelas mães lactantes, não só pelos efeitos fisiológicos sobre a criança, mas também pelos danos à saúde física e emo- cional das mesmas21. Em doses reduzidas e espo- rádicas, o álcool é considerado compatível com a amamentação, porém a Academia Americana de Pediatria (AAP) não fornece uma dose máxi- ma segura. No entanto, esta mesma Academia33. considera o alcoolismo uma contra-indicação ao Peso dA mãe em KG no. de doses (HorAs: minutos) i 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 17 40.8 (90) 2:50 5:40 8:30 11:20 14:10 17:00 19:51 22:41 43.1 (95) 2:46 5:32 8:19 11:05 13:52 16:38 19:25 22:11 45.4 (100) 2:42 5:25 8:08 10:51 13:34 16:17 19:00 21:43 47.6 (105) 2:39 5:19 7:58 10:38 13:18 15:57 18:37 21:16 23:56 49.9 (110) 2:36 5:12 7:49 10:25 13:01 15:38 18:14 20:50 23:27 52.2 (115) 2:33 5:06 7:39 10:12 12:46 15:19 17:52 20:25 22:59 54.4 (120) 2:30 5:00 7:30 10:00 12:31 15:01 17:31 20:01 22:32 56.7 (125) 2:27 4:54 7:22 9:49 12:16 14:44 17:11 19:38 22:06 59.0 (130) 2:24 4:49 7:13 9:38 12:03 14:27 16:52 19:16 21:41 61.2 (135) 2:21 4:43 7:05 9:27 11:49 14:11 16:33 18:55 21:17 23:39 63.5 (140) 2:19 4:38 6:58 9:17 11:37 13:56 16:15 18:35 20:54 23:14 65.8 (145) 2:16 4:33 6:50 9:07 11:24 13:41 15:58 18:15 20:32 22:49 68.0 (150) 2:14 4:29 6:43 8:58 11:12 13:27 15:41 17:56 20:10 22:25 70.3 (155) 2:12 4:24 6:36 8:48 11:01 13:13 15:25 17:37 19:49 22:02 72.6 (160) 2:10 4:20 6:30 8:40 10:50 13:00 15:10 17:20 19:30 21:40 23:50 74.8 (165) 2:07 4:15 6:23 8:31 10:39 12:47 14:54 17:02 19:10 21:18 23:50 77.1 (170) 2:05 4:11 6:17 8:23 10:28 12:34 14:40 16:46 18:51 20:57 23:03 79.3 (175) 2:03 4:07 6:11 8:14 10:18 12:22 14:26 16:29 18:33 20:37 22:40 81.6 (180) 2:01 4:03 6:05 8:07 10:08 12:10 14:12 16:14 18:15 20:17 22:19 83.9 (185) 1:59 3:59 5:59 7:59 9:59 11:59 13:59 15:59 17:58 19:58 21:58 23:58 86.2 (190) 1:58 3:56 5:54 7:52 9:50 11:48 13:46 15:44 17:42 19:40 21:38 23:36 88.5 (195) 1:56 3:52 5:48 7:44 9:41 11:37 13:33 15:29 17:26 19:22 21:18 23:14 90.7 (200) 1:54 3:49 5:43 7:38 9:32 11:27 13:21 15:16 17:10 19:05 20:59 22:54 93.0 (205) 1:52 3:45 5:38 7:31 9:24 11:17 13:09 15:02 16:55 18:48 20:41 22:34 95.3 (210) 1:51 3:42 5:33 7:24 9:16 11:07 12:58 14:49 16:41 18:32 20:23 22:14 1 dose= 340g de 5% de cerveja, ou 141.75g de 11% de vinho, ou 42.45g de 40% de licor Koren25, 2002. Figura 1- Tempo do início do consumo alcoólico até o clearence de álcool do leite materno, de acordo com o peso, assumindo uma média de altura de 1,62m. 254 PediAtriA (são PAulo) 2008;30(4):249-256 255aleitamento, uma vez que em grande quantida- de o álcool pode causar sonolência, perspiração, sono profundo, atraso no crescimento e diminui- ção do ganho de peso. Sabe-se que crianças mamam menos ao serem expostas ao álcool – cerca de 20% menos – duran- te as 4 primeiras horas após a ingestão. Porém, de 8 a 12 horas após o consumo de álcool, as crian- ças costumam compensar sua necessidade ener- gética mamando um número maior de vezes34. A mesma autora observou9. que existe uma impor- tante correlação inversa entre os hábitos de con- sumo alcoólico e o ritmo e freqüência de sugadas no leite que contém álcool. Ou seja, quanto mais doses consumidas, menor quantidade de sugadas totais, sugadas por seio e maior número de pau- sas realizadas pelos bebês. Mas esta diminuição não está relacionada com a rejeição ao sabor al- coólico, ao contrário, este, por possuir um sabor acentuado e doce estimularia o consumo. Uma vez que estudos em animais revelam que jovens acumulam memória orosensória durante o alei- tamento, a percepção do álcool no leite materno poderia contribuir para possíveis abusos ou de- pendência numa idade mais avançada35. Trabalho recente36 aponta uma preferência ao sabor doce por pacientes dependentes de álcool relacionados a história familiar de dependência, o que poderia ser resultado do aleitamento materno contamina- do por álcool. Sabe-se que as experiências sensoriais do bebê durante os dois primeiros meses de vida têm um efeito residual, mesmo que para um indivíduo não seja possível encontrar na sua memória cons- ciente as lembranças deste período de vida. O lei- te materno representa para o bebê um veículo po- tencial de experiências ricas e complexas, sendo um reflexo da cultura e dos hábitos alimentares de seus pais37 Evidências apontam que o consumo mode- rado de álcool desorganiza a produção dos dois hormônios principais responsáveis pela lactação – a prolactina e a oxitocina, responsáveis respec- tivamente pela indução da secreção e pela ejeção do leite38. Logo após a exposição ao álcool, o ní- vel da prolactina aumenta enquanto a oxitocina diminui, tanto durante quanto depois da estimu- lação do seio da mãe10. Esses resultados sugerem que, ao contrário do que se acreditava antigamente, o consumo de álcool a curto prazo desregula a liberação dos hormônios responsáveis pela lactação. Além dis- so, a diminuição da oxitocina relaciona-se com a redução no rendimento e na ejeção do leite e, conseqüentemente, na diminuição da ingestão de até 20% do leite39. A AAP33 alerta que a inges- tão superior a 1g/kg diminui a ejeção de leite, porém as conseqüências dessa desorganização hormonal a longo prazo na perfomance da lac- tação e na saúde da mulher ainda permanecem desconhecidas38. Ao contrário da sabedoria popular, crianças expostas ao álcool durante as mamadas têm uma redução do tempo de sono REM (rapid eye mo- vement),o que faria com que dormissem por pe- ríodos mais curtos de tempo durante as 3,5 horas após o aleitamento40. No que diz respeito ao desenvolvimento do bebê, ainda é desconhecido o efeito da exposição ao álcool. Ao buscar uma deficiência motora em crianças de 18 meses associada ao consumo mo- derado de álcool durante a lactação, pesquisado- res concluíram que não seria possível afirmar que o álcool foi maléfico, já que a idade insuficiente das crianças, não permitiu a mensuração através das escalas propostas20. conclusões Mesmo diante da excelência do leite materno, existem ocasiões em que o profissional da saúde deve considerar o risco/ benefício da prática. Alei- tamento materno e alcoolismo é uma delas. Nesse sentido, ao recomendar a amamentação para uma mãe alcoolista, devemos sempre nos questionar: pode o lactente expor-se a concentração de álcool no leite materno? Os riscos superam os enormes benefícios? Assim, a amamentação somente de- verá ser interrompida ou desencorajada se existir evidência substancial que o consumo alcoólico está sendo nocivo ao bebê. Sabe-se que o cérebro se desenvolve rapida- mente tanto no final da gestação, como no período de puerpério, e pode ser vulnerável a exposição teratogênica, Porém, a proporção de quantida- de de álcool ingerida pelo bebê é muito menor daquela transmitida via placentária, que poderia causar a síndrome fetal por uso de álcool. Assim, é importante realçar que o ato de ama- mentar transcende o prisma biológico, da promo- ção nutricional e de adaptação da criança. O mo- mento da amamentação supre desde o início as necessidades emocionais, o contato pele a pele, olhos nos olhos entre dois seres, tornando a mãe 254 255 AleitAmento mAterno: álcool e sAúde bebe a primeira professora de amor de seus filhos, o que não pode ser esquecido na dúvida da supres- são do aleitamento materno. Aplicação prática/ recomendações • amamentar acarreta no organismo materno uma demanda similar à gestação. Assim, a alimentação da lactante deve ser aumentada e ajustada para oferecer alimentação ao bebê8; • A lactante deve ingerir líquidos em abundân- cia para reposição da água secretada no leite materno8. • A mãe que consome álcool regularmente deve ser orientada a observar a criança em relação a possíveis efeitos colaterais, tais como alte- ração no padrão alimentar, hábitos de sono, agitação, tônus muscular, distúrbios gastroin- testinais, etc8,22; • A mãe deve ser lembrada também a armazenar com antecedência leite no congelador para ali- mentar seu bebê caso haja algum episódio de binge drinking; • Após a ingestão de mais de 1 dose, a mãe deve evitar o aleitamento por duas horas. Durante este intervalo, deve extrair o leite e desprezá-lo21; • Durante o aleitamento materno, não se deve ultrapassar a quantidade de 0,5g de álcool/ kg de peso / dia22; referências 1. Serra-Negra JMC, Pordeus IA, Rocha Jr JF. 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