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Prévia do material em texto

LIVRO DIDÁTICO DE
REDAÇÃO INSTRUMENTAL
MARIA TEREZA DE MOURA LEITE 
VALQUÍRIA DA CUNHA PALADINO 
ORGANIZAÇÃO 
ROBERTO PAES 
GLADIS LINHARES 
Prefácio
Introdução
Encontrei hoje em ruas, separadamente, dois amigos meus que haviam se zangado um com o outro.
Cada um me contou a narrativa de por que haviam se zangado. Cada um me disse a verdade. Cada
um me contou as suas razões. Ambos tinham razão. Ambos tinham toda a razão. Não era que um via
uma coisa e outro outra, ou que um via um lado das coisas e outro um lado diferente. Não: cada um
via as coisas exatamente como se haviam passado, cada um as via com um critério idêntico ao do
outro, mas cada um via uma coisa diferente, e cada um, portanto, tinha razão. Fiquei confuso dessa
dupla existência da verdade.
Fernando Pessoa
Prezados(as) alunos(as),
A narrativa jurídica é o relato de todos os fatos importantes, que auxiliam na compreensão do caso
concreto e dos relevantes juridicamente, porque deles advêm consequências jurídicas, por isso a
seleção dos fatos é de fundamental relevância no discurso jurídico, uma vez que esses fatos
selecionados que se transformarão em argumentos na argumentação jurídica (ou fundamentos
jurídicos do pedido).
Além da importância da narrativa jurídica, é sabido que a prática do Direito se torna bem realizada à
medida que se tem em mãos, o poderoso instrumento da argumentação. Nosso cotidiano forense é
repleto de situações que con�rmam essa hipótese. Daqueles que narram e expõem os seus pedidos
judicialmente, por escrito ou oralmente, da defesa ou acusação nos tribunais do júri, da atuação do
magistrado ao fundamentar sua decisão.
Como se vê, a prática do Direito consiste não só em narrar, mas também em argumentar. A prática
forense do advogado segue sempre estes três pilares: narrar, argumentar e pesquisar embasamento
legal no ordenamento jurídico para a sustentação do pedido a ser apreciado pelo judiciário.
Para um estudo do tema, torna-se importante também apresentar os elementos da argumentação,
visualizados nos conceitos de orador, discurso (argumentação) e auditório, que são, inclusive,
pressupostos para o entendimento da Nova Retórica, do �lósofo-jurista Chaim Perelman.
O conceito perelmaniano de auditório universal é imprescindível para o desenvolvimento da
argumentação, bem como para a de�nição das estratégias argumentativas pautadas na persuasão.
Essas estratégias, em razão de sua importância, serão objeto de uma discussão, tendo em vista a
ligação intrínseca que possuem com os auditórios a que são direcionadas.
E esses, portanto, serão os temas principais deste livro Redação Instrumental: Narrativa Jurídica e
Argumentação Jurídica: o narrar para expor os fatos e o narrar para argumentar, de modo a fornecer
o conhecimento básico sobre a argumentação jurídica, permitindo aumentar a capacidade de
persuasão do aluno, futuro advogado.
Por �m, o livro Redação Instrumental oferece as ferramentas necessárias para quem está
ingressando no mundo forense e quer entender a narrativa jurídica, a argumentação jurídica e a
produzir textos jurídicos mais claros, coerentes e persuasivos, porque trata desses assuntos de
maneira segura, clara, coesa e extremamente didática, tornando os temas bem prazerosos e
acessíveis ao aluno do Direito.
Bons estudos!
Capítulo 1 
Capítulo 1
Narrativa Jurídica
Capítulo 1: Parte 1
Narrativa Jurídica
Introdução
O capítulo 1 procura fazer uma abordagem teórica da narrativa jurídica, com o objetivo de ressaltar
a importância da seleção dos fatos tanto para uma boa produção da narrativa jurídica quanto para
para uma melhor argumentação, além de trabalhar com os aspectos linguísticos fundamentais para
a produção de uma narrativa jurídica com qualidade e consistência.
Mostrar que até um texto produzido com o objetivo informativo, como exemplo, a narrativa jurídica,
revela intencionalidades discursivas por parte do advogado quando escolhe certa maneira de relatar
fatos, certos usos de estruturas sintáticas, ou seleção de palavras que revelam o seu posicionamento
e que dá uma feição ao que é dito diferentemente do que se outra pessoa o �zesse. Tal fato não
pode, em momento algum, ser desconsiderado e, por isso, Ducrot (1987), em vários de seus textos,
aborda a ideia de que argumentar seria a essência de todos os tipos de discursos produzidos.
Enfatiza-se, neste capítulo, no entanto, que as partes (acusação e defesa) têm inteira liberdade de
interpretar fatos e provas e de tirar as conclusões que entenderem; o que não podem é falsear a
“verdade”, narrando o que não aconteceu ou o que não foi dito ou relatado pelas partes,
respeitando-se sempre a lealdade processual.
Neste capítulo são citados também alguns casos concretos, cujo objetivo é demonstrar que a ideia
aqui defendida é de enorme importância não só teórica, mas também para a prática jurídica
futuramente.
Ao �nal, tem-se a parte prática com o objetivo de �xar os conteúdos trabalhados e para melhor
aprimoramento da produção escrita da narrativa jurídica.
OBJETIVOS
Compreender o conceito de narrativa jurídica.
Identi�car os elementos que compõem a narrativa jurídica.
Reconhecer as etapas/estágios do processo narrativo.
Selecionar os fatos relevantes e os juridicamente relevantes em busca de clareza textual.
Ordenar os fatos cronologicamente, segundo a sua ocorrência na linha do tempo.
Compreender a importância da seleção vocabular e da sua intencionalidade na elaboração da
narrativa.
Diferenciar discurso direto e discurso indireto.
Estabelecer relações temporais entre os fatos narrados, situando-os na linha do tempo
(antes, durante e depois).
Compreender que o tempo verbal informa, de uma maneira geral, se o verbo expressa algo
que já aconteceu, que acontece no momento da fala ou que ainda irá acontecer.
Reconhecer a importância das formas verbais pretéritas na narrativa jurídica.
Narração
CONCEITO
Othon Garcia (2012) de�ne narrativa como o relato de um episódio real ou �ctício que implica
interferência de elementos, como: fato ou ação [o quê]; personagens [quem]; o modo como a
ação/fato é desenvolvido [como]; o momento em que o fato ocorreu [quando]; o lugar do ocorrido
[onde]; o motivo do acontecimento [por quê]; e o resultado da ação [por isso].
No entanto, de acordo com Garcia (2012), nem sempre todos esses elementos estão presentes na
narrativa, mas, segundo ele, os elementos indispensáveis para que haja narração são quem e o quê.
O autor informa, ainda, que a narração gira em torno do fato, isto é, de “qualquer acontecimento de
que o homem participe direta ou indiretamente” (GARCIA, 2012, p. 254).
Garcia (2012, p.254) explica ainda que há três ou quatro estágios progressivos no enredo. O primeiro
é a exposição, na qual o narrador explica certas circunstâncias da história, situando o fato em época
e ambiência, e onde se faz a apresentação/introdução de algumas personagens. O segundo estágio é
a complicação – fase em que o con�ito é iniciado. Logo após aponta o clímax (ápice da história) como
fator progressivo da narração. Finalmente, o quarto estágio é o desfecho/desenlace, no qual se dá a
solução do con�ito.
Leia, agora, o conto “A moça Tecelã”, de Marina Colasanti e perceba como a narrativa literária é
construída, apresentando os quatro estágios ensinados por Garcia (2003), para depois dessa análise,
ser iniciado o estudo da narrativa jurídica, que muito se assemelha àquela:
Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E
logo sentava-se ao tear.
Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os �os
estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.
Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora,um longo tapete que nunca
acabava.
Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira
grossos �os cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas
nuvens, escolhia um �o de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido.
Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.
Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os
pássaros, bastava a moça tecer com seus belos �os dourados, para que o sol voltasse a
acalmar a natureza.
Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear
para frente e para trás, a moça passava os seus dias.
Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que
o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor deleite
que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu �o de escuridão, dormia tranquila.
Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela
primeira vez pensou em como seria bom ter um marido ao lado.
Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida,
começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia.
E aos pouco seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo
aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último �o da
ponta dos sapatos, quando bateram à porta.
Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi
entrando em sua vida.
Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos �lhos que teceria para
aumentar ainda mais a sua felicidade.
E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em �lhos, logo os
esqueceu. Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas
coisas todas que ele poderia lhe dar.
— Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram
dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, �os verdes para os batentes, e
pressa para a casa acontecer.
Mas pronta a casa, já não lhe pareceu su�ciente.
— Para que ter casa, se podemos ter palácio? — perguntou. Sem querer resposta,
imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata.
Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas,
e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite
chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem
parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira.
A�nal o palácio �cou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear
o mais alto quarto da mais alta torre.
— É para que ninguém saiba do tapete — ele disse. E antes de trancar a porta à chave,
advertiu: — Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos! Sem descanso tecia a
mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas
de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio
com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou em como seria bom estar sozinha
de novo.
Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas
exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao
tear.
Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e
jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os
cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois desteceu os criados e o palácio e
todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o
jardim além da janela.
A noite acabava quando o marido, estranhando a cama dura, acordou, e, espantado, olhou
em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e
ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo,
tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.
Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a
devagar entre os �os, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte.
COLASANTI, Marina. Doze reis e a moça no labirinto do vento. Ilustração, Ana Peluso.
Global: Rio de Janeiro, 2000.
EXPOSIÇÃO OU APRESENTAÇÃO
“Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite.” até
“Tecer era tudo o que queria fazer.”
COMPLICAÇÃO
CLÍMAX
DESFECHO
Leia, agora, o poema narrativo de Manuel Bandeira e perceba mais uma vez como a Literatura pode
auxiliar na compreensão do Direito, proporcionando resultados mais satisfatórios na compreensão
do fenômeno jurídico.
Tragédia Brasileira
Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade, conheceu Maria Elvira na Lapa, -
prostituída, com sí�lis, dermite nos dedos, uma aliança empenhada e os dentes em petição
de miséria.
Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no Estácio, pagou médico,
dentista, manicura... dava tudo quanto ela queria.
Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo um namorado.
Misael não queria escândalo. Podia dar uma surra, um tiro, uma facada. Não fez nada disso:
mudou de casa.
Viveram três anos assim.
Toda vez que Maria Elvira arranjava namorado, Misael mudava de casa.
Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria, Ramos,
Bonsucesso, Vila Isabel, Rua Marquês de Sapucaí, Niterói, Encantado, Rua Clapp, outra vez
no Estácio, Todos os Santos, Catumbi, Lavradio, Boca do Mato, Inválidos...
Por �m na Rua da Constituição, onde Misael, privado de sentidos e de inteligência, matou-a
com seis tiros, e a polícia foi encontrá-la caída em decúbito dorsal, vestida de organdi azul.
Fonte da imagem: http://www.escritas.org/pt/manuel-bandeira (http://www.escritas.org/pt/manuel-
bandeira)
Como se nota, toda narração transmite uma história que, organizada em um enredo, evolui no
tempo e no espaço. Os acontecimentos de uma narrativa se organizam em uma linha temporal.
Logo, ao se ler o poema do poeta Bandeira, embora feito em versos, vê-se que se trata de um poema
narrativo, por possuir todos os elementos da narrativa, como: enredo, personagens, espaço, tempo.
O poema responde às seguintes perguntas essenciais da narrativa:
O quê? 
Romance conturbado, que resulta em crime passional.
 
Quem? 
Misael e Maria Elvira.
 
Como? 
O envolvimento de um homem de 63 anos com uma prostituta.
 
Onde? 
Lapa, Estácio, Rocha, Catete e vários outros lugares.
 
Quando? 
Duração do relacionamento: três anos.
 
Por quê? 
Promiscuidade de Maria Elvira.
RESUMO
Em síntese, o poema narrativo relata um assassinato e suas causas e as personagens dessa Tragédia
Brasileira têm nome e características sociais bem de�nidas, a saber: personagem de classe média,
Misael, e de classe baixa, Maria Elvira, apresentando todos os elementos da narrativa jurídica.
Por �m, a de�nição de narrativa é sintetizada por Garcia da seguinte forma: “toda narrativa consiste
em uma sequência de fatos, ações ou situações que, envolvendo participação de personagens, se
desenrolam em determinado lugar e momento, durante certo tempo” (GARCIA, 2012, p. 258). E é a
partir desse conceito clássico que será desenhada uma teoria para a Narrativa Jurídica, tema central
deste capítulo.
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Filme: Narradores de Javé
O �lme brasileiro intitulado “Narradores de Javé” foi produzido em 2001 e foi dirigido por Eliane
Ca�é. Rodado no interior baiano, na cidade de Gameleiroda Lapa, o longa-metragem narra a
história de um distante vilarejo chamado Javé que estava prestes a ser destruído por causa da
construção de uma Usina Hidrelétrica. Seus habitantes, ao saberem da notícia, logo procuraram uma
alternativa para que a pequena vila não fosse destruída.
LEITURA
DWORKIN, Ronald. Uma questão de princípio. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005. Ronald
Dworkin em um os capítulos do seu livro intitulado “De que maneira o Direito se assemelha à
Literatura (2005)” desenvolve a sua metáfora do romance em cadeia como uma forma de se analisar
o Direito. Imagina que um número de romancistas �caria incumbido de escrever um livro. Mediante
um jogo de dados, estabelecer-se-ia a ordem de cada um. O primeiro começa o romance com as
informações que possui, quais sejam, a tarefa de iniciar uma obra e que, posteriormente, será
entregue a outro para que este a continue. A partir do segundo, cada romancista, além de se
responsabilizar pela criação de seu capítulo, precisará interpretar o anterior para que o romance
tenha certa integridade. Ou melhor, para que cada capítulo esteja integrado aos demais e a obra não
se torne, por exemplo, um livro de contos (DWORKIN, 2005, p. 237).
0:00 / 1:42:01
Narrativa Jurídica e seus Elementos Constitutivos: O Quê? Quem? Como?
Onde? Quando? Por quê?
Toda narrativa refaz os fatos a partir do ponto de vista do autor. Uma das características da
“verdade” jurídica é construir uma narrativa dos fatos, que podem ser descritos, por
exemplo, por um tipo penal – da infração penal – que nada mais é do que a descrição do
crime. Para construir a verdade de que determinado fato é crime, o caso passa por uma
transformação progressiva, daquilo que no início era uma "trama de vida" para um "fato
jurídico".
O tempo e narrativa encontram-se imbricados, pois tudo aquilo que pode ser contado em forma de
histórias sucede-se no tempo, arraiga-se no próprio tempo, desenvolve-se temporalmente; e o que
se desenvolve temporalmente pode ser narrado.
Assim, ao se contar uma história, reordena-se o tempo, articulam-se os eventos em uma sucessão,
dando contorno ao vivido de forma a garantir que o narrador se identi�que ao contá-la e que o leitor
se reconheça ao interpretá-la.
Não é sem propósito que a narrativa rearticula, no
presente, as imagens do passado de modo que
possam impulsionar e guiar nossa ação na
construção do futuro.
Nesse contexto, a narrativa só poderá ser entendida como a arte de tecer intrigas (enredo), o que
signi�ca dizer que contar uma história é “agenciar fatos”, compondo junto o que está separado.
“Agenciar fatos” é organizar sucessivamente os eventos da experiência temporal humana de forma a
dar sequência à história e, por isso, fazer surgir o tempo.
Pois bem, na Petição Inicial, por exemplo, a narrativa jurídica não poderia fugir ao que já foi posto, e
é produzida no elemento denominado DOS FATOS, iniciando-se sempre pelo autor dessa peça
processual, fazendo-se uso do padrão culto da língua portuguesa.
ATENÇÃO
A narrativa jurídica tem como ponto de partida a narração dos fatos que geraram a situação fática,
começando sempre pela causa de pedir mais remota (origem do negócio jurídico/relação com
Direito material) e terminando com a causa de pedir próxima (descumprimento da obrigação pelo
réu), indicando o porquê de seu pedido.
Sendo assim, o advogado do autor deverá narrar e descrever, primeiramente, os fatos que
originaram o seu direito (causa de pedir remota/ nascimento do Direito material). Exemplo:
“O autor celebrou contrato de locação com o réu, em 29 de setembro de 2014, por prazo
indeterminado, do imóvel localizado na Rua Francisco Rocha, nº 49, em Angra dos Reis,
Estado do Rio de Janeiro, pagando aluguel de R$2000,00 (dois mil reais) com vencimento
todo dia 20 de cada mês (doc.1).”
Em seguida, o advogado deverá narrar que houve violação ou ameaça de violação ao direito do autor
(causa de pedir próxima), descrevendo os fatos e encerrando a sua narrativa jurídica. Exemplo:
“O réu deixou de pagar os aluguéis dos meses de abril, maio e junho de 2015, perfazendo o
total de R$ 6.000,00 (seis mil reais), conforme demonstrativo em anexo (doc.2).”
Nos parágrafos apresentados, podem ser destacados os seguintes elementos da narrativa, tão
essenciais ao contexto jurídico ou ao mundo real:
O quê? 
Contrato de locação
 
Quem? 
Partes processuais: Autor Réu
 
Como? 
Modo como os fatos aconteceram: narrativa propriamente dita
 
Onde? 
Angra dos Reis, Estado do Rio de Janeiro
 
Quando? 
29 de setembro de 2014
 
Por quê? 
Inadimplência do réu
Veri�que, mais uma vez, o movimento do raciocínio lógico cronológico a ser apresentado quanto ao
ato de narrar, orientando-se pelo que já foi posto: partindo-se primeiramente da causa remota
(nascimento o Direito com a realização do contrato - direito de crédito) em direção/fechamento à
causa de pedir próxima (Inadimplência e violação de direito patrimonial do credor):
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O credor é titular de um direito de crédito em face do devedor. O contrato foi feito e
pactuado entre as partes: o credor teria direito ao pagamento de R$ 1.000,00 (mil) reais, em
7 de outubro de 2015 (dia do vencimento). O contrato foi �rmado, em 7 de outubro de
2014, e o credor já dispõe do crédito no dia do vencimento, mas o devedor nega-se a
cumprir a sua obrigação.
Contata-se que o direito de crédito nasceu com a realização do contrato, em 7 de outubro de 2014
(causa remota). No dia do vencimento, em outubro de 2015, o devedor negou-se a cumprir a sua
obrigação. Tornou-se, portanto, inadimplente, violando o direito patrimonial do credor de obter a
satisfação do seu crédito (causa de pedir próxima).
Neste exato momento, por conseguinte, violado o direito, surge para o credor a legítima pretensão
de poder exigir, judicialmente, que o devedor cumpra a prestação assumida (pedido).
ATENÇÃO
O advogado não pode se esquecer de que da narrativa lógica dos fatos que advém a conclusão, ou
seja, dos fatos narrados decorre logicamente o pedido.
Leia a narrativa jurídica a seguir (OAB-FGV-2014) para melhor compreensão de suas características
estruturais ou metodologia:
O autor comprou um aparelho de ar condicionado fabricado pela ré “G” S. A., empresa
sediada no Rio de Janeiro, em função da chegada do verão, em15 de janeiro de 2015.
Contudo o referido produto, apesar de devidamente entregue, desde o momento de sua
instalação, passou a apresentar problemas, desarmando e não refrigerando o ambiente.
Em virtude dos problemas apresentados, o autor entrou em contato com o fornecedor, em
25 de janeiro de 2013, que prestou devidamente o serviço de assistência técnica.
Nessa oportunidade, foi trocado o termostato do aparelho; todavia, apesar disso, o
problema persistiu, razão pela qual o autor, por diversas outras vezes, entrou em contato
com a ré “G” S. A. a �m de tentar resolver a questão amigavelmente.
Porém, tendo transcorrido o prazo de 30 (trinta) dias sem a resolução do defeito pelo
fornecedor, o autor requereu a substituição do produto; mas, para a surpresa do autor, a
empresa negou a substituição do aparelho, a�rmando que enviaria um novo técnico à sua
residência para analisar novamente o produto.
A assistência técnica informou ao autor, ainda, que a troca do produto só poderia ser
realizada após 15 (quinze) dias, devido à grande quantidade de demandas naquela empresa
no período do verão.
Note-se que, no corpo da narrativa jurídica, basta identi�car as partes como autor e réu, não
havendo, pois, necessidade de escrever os seus nomes e prenomes, pois já constam do início da
Petição Inicial no elemento chamado Quali�cação das Partes.
ATENÇÃO
A narrativa jurídica deve ser clara em relação ao pedido e a causa depedir, pois, somente, assim, o
réu terá condições de compreender qual é a exata pretensão do autor e exercer o contraditório.
Além disso, sabe-se que o autor deve narrar e descrever todos os fatos relevantes exaustivamente
para que o juiz possa dar-lhe o Direito.
Muitos fatos importantes constantes da narrativa têm pouca importância jurídica, mas lá estão para
fornecer um contexto aos fatos jurídicos mais relevantes, pois sem aqueles o restante não faria
sentido. É preciso, então, distinguir fato importante de fato jurídico:
Fato jurídico
Fato jurídico são os fatos fundamentais dos quais
decorre o direito de que pensa ter o autor.
Fatos importantes
Fatos importantes são os fatos secundários que
compõem o fato jurídico ou que auxiliam na
comprovação da sua existência, propiciando maior
clareza à situação fática.
ATENÇÃO
Na narrativa jurídica é de grande importância a seleção dos fatos e a ordenação do tempo, antes de
eles serem narrados; lembrando-se sempre de que a narração dos fatos deve ser concisa e e�caz,
seguir sempre a ordem linear ou cronológica (= calendário, relógio), deter-se apenas no essencial,
em um raciocínio lógico, coeso e coerente.
A narrativa dos fatos tem o conteúdo informativo porque assume a função de esclarecer uma
situação sobre a qual ainda se vai tirar o processo argumentativo, mas é certo que esse conteúdo
informativo não é imparcial, porque está contaminado pela constante vontade do representante
legal da parte (advogado) de persuadir; razão por que traz sempre um ponto de vista implícito no
ato de narrar que será a baliza de sustentação dos fundamentos jurídicos do pedido, daí a�rmar-se
que a narrativa jurídica é sempre marcada pela parcialidade de ambas as partes nestas peças:
Petição Inicial, Contestação, Queixa-Crime, dentre outras similares.
CONCEITO
A narrativa jurídica tem estrutura que oscila entre a narração e a descrição, por narrar e descrever
os fatos, conforme apresentados pela parte, ou seja, aquilo que é signi�cativo para o mundo jurídico
e que merece análise e julgamento do judiciário.
A narrativa jurídica apresenta fatos em sequência e decorrentes de uma relação de causa
consequência, isto é, um fato causa uma consequência que dá origem a outro fato, e assim por
diante. Isso signi�ca dizer que entre uma ação e outra, entre um fato e outro, há um lapso temporal,
e é a indicação de transcurso do tempo a tarefa principal do autor da narrativa, depois de selecionar
os fatos narrados.
No caso concreto, percebe-se que todos os fatos julgados relevantes pelo advogado foram narrados
linearmente em uma linha lógica e coerente de raciocínio, em uma progressão temporal,
respeitando-se anterioridade e posterioridade dos fatos e presenti�cam-se todos os elementos da
narrativa em seu corpo textual, como:
O quê? 
Contrato de compra e venda
 
Quem? 
Partes processuais: Autor e Ré “G” S. A.,
 
Onde? 
Rio de Janeiro
 
Quando? 
15 de janeiro de 2015.
 
Por quê? 
Vício de qualidade do produto
 
Como? 
Modo como os fatos aconteceram: narrativa propriamente dita.
A narrativa se iniciou pela causa remota – contrato e compra e venda - e terminou com a causa de
pedir próxima: sem a resolução do defeito pelo fornecedor, o autor requereu a substituição do
produto.
Percebe-se uma organização especí�ca da narrativa jurídica em questão, pois o seu objetivo não é só
levar o caso ao judiciário para julgar a questão jurídica submetida à apreciação, mas também de
apresentar a indignação gerada no autor quanto a uma questão ético-pro�ssional da empresa e aos
maus serviços prestados ao consumidor. Esse objetivo subjacente aparece nas entrelinhas do texto,
mas não deverá escapar à análise do julgador, visto que a organização sintático-semântica da
narrativa jurídica é que conduz ao efeito de sentido desejado.
Os parágrafos da narrativa jurídica são dinâmicos, pois os acontecimentos são narrados em
uma linha lógica de raciocínio, não havendo, sequer, uma quebra de raciocínio no curso do
discurso narrativo.
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Nota-se que as formas verbais usadas nas a�rmações do autor têm, na sua maioria, sujeito agente
(“comprou”, “entrou”, “requereu”), o que torna as frases todas dinâmicas, característica esta essencial
da narração.
ATENÇÃO
É fundamental a diferenciação entre o ato de argumentar e o ato de narrar, porque a argumentação
feita no momento em que se busca uma compreensão do caso concreto é fator que pode vir a
confundir e prejudicar a compreensão da narrativa jurídica.
COMENTÁRIO
É muito comum o aluno de Direito ler o caso concreto e já partir para a argumentação, em vez de
atentar para o ato de narrar. Não é incomum, o professor solicitar aos alunos uma narrativa jurídica,
e, no momento da correção, deparar- se com um texto misto, em que o aluno narra e argumenta ao
mesmo tempo, sem perceber que está se posicionando diante do caso dado e formulando
argumentos para defesa de seu ponto de vista ou tese.
Deve-se �car bastante atento a essa postura diante desse tipo de texto porque a narrativa dos fatos
(“Dos Fatos”) precede à argumentação jurídica (“Do Direito”) e só traz a situação fática: fatos, provas
e as circunstâncias em que o fato ocorreu.
COMENTÁRIO
As partes processuais no discurso jurídico são sujeitos, seres, indivíduos de carne e osso (reais) e
não personagens, já que estes são �ctícios, são construções de/no papel. Logo, a nomenclatura
personagens não deve ser usada nos textos jurídicos.
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CAPÍTULO 1
Narrativa Jurídica
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CAP. 
Capítulo 1: Parte 2
Narrativa Jurídica: Raciocínio lógico na seleção e organização dos fatos.
Os fatos devem ser narrados em um raciocínio lógico, coeso e coerente, na ordem linear ou
cronológica (= calendário, relógio), pois é da narrativa lógica dos fatos que advém a
conclusão, ou seja, dos fatos narrados decorre logicamente o pedido.
Em outros dizeres, começa-se a narrar da causa de pedir mais remota (contrato de compra e venda
entre A e B – relação com Direito material) e fecha-se esse texto com a narrativa da causa de pedir
mais próxima (lesão do direito do autor/ descumprimento da obrigação pela empresa G.S.A.).
COMENTÁRIO
Não basta a mera descrição de fatos de forma aleatória, sendo indispensável uma coerência lógica e
verossímil entre os fatos narrados. O advogado deve selecionar os fatos que justi�carão o pedido,
portanto antes de se iniciar a narrativa, é importante que se tenha claro o pedido que será
formulado.
A narrativa dos fatos contém as causas de pedir da parte autora da Inicial - são os fatos que
expressarão ao juiz, se, de fato, o autor é detentor do direito subjetivo que ele considera possuir.
Caso da narrativa dos fatos não se extraia a razão de pedir, a Inicial será declarada inepta, isto é, não
apta para dar prosseguimento ao processo, em virtude de haver ausência de correlação entre
fundamentos fáticos e jurídicos expostos e o pedido �nal formulado, julgando-se extinto o processo
sem exame de mérito.
ATENÇÃO
Ementa: HORAS EXTRAS E REFLEXOS. INTERVALO INTRAJORNADA. AUXÍLIO ALIMENTAÇÃO. INÉPCIA
DA PETIÇÃO INICIAL. MANTIDA. Se, ao deduzir suas pretensões, o autor não o faz de forma clara,
trazendo aos autos os elementos mínimos necessários para a análise do mérito dos pedidos, impõe-
se a declaração da inépcia da inicial. Apelo não provido.
Ementa: Apelação Cível. Ação de indenização por serviços prestados na constância da união estável
Indeferimento da petição inicial Incoerência entre a narrativa dos fatos e os pedidos deduzidos.
Inépcia da petição inicial mantida. Nega-se provimento ao recurso.
Narrativa Jurídica: Ordem Linear ou Cronológica
CONCEITO
A estrutura da narrativa é uma sequência de fatosrelacionados entre si de forma coerente, em que
há uma ordem temporal e uma causal. A ordem temporal trata da cronologia dos fatos, sucessão de
acontecimentos no decorrer do tempo, e a causal estabelece a relação de causa e consequência
(conduta humana) ou causa e efeito (fenômeno da natureza).
Na narrativa jurídica prioriza-se sempre a sequência lógica e linear de tempo e espaço, em que os
fatos se passam em um determinado tempo e lugar, segundo a ordem cronológica ou linear- tudo
conforme ou enquanto o tempo passa (antes-durante- depois).
Narra-se, portanto, a situação fática na ordem
rigorosamente linear (= relógio, calendário), ou
seja, na ordem natural do tempo: começo, meio,
�m.
Leia a narrativa jurídica abaixo (OAB-RJ 2008.1) e observe o transcurso do tempo entre os fatos, os
quais se apresentam, rigorosamente, na ordem linear:
A autora, vendedora domiciliada na cidade de São Paulo – SP, alegou ter engravidado, após
relacionamento amoroso exclusivo com o réu, representante de vendas de empresa
sediada em Porto Alegre – RS.
No entanto, o réu se negou a reconhecer a paternidade ao argumento de que tem dúvidas
acerca da �delidade da mãe, já que ele chegava a �car um mês sem ir a São Paulo durante o
relacionamento que teve com a autora.
O réu recebe o salário bruto de R$ 5.000,00 mensais e arca com o sustento de uma �lha,
estudante de 22 anos, e ele não tem domicílio �xo em razão de sua pro�ssão demandar
deslocamentos constantes entre São Paulo – SP, Rio de Janeiro – RJ e Porto Alegre – RS.
A autora ganha, no presente momento, cerca de dois salários mínimos e as despesas
mensais de João totalizam R$ 1.000,00.
Como se nota, houve uma seleção prévia dos fatos relevantes que compõem a narrativa jurídica e
eles foram, em seguida, ordenados cronologicamente (= relógio). Assim, a narrativa se apresenta na
ordem linear (fato anterior/causa x fato posterior/consequência), partindo da causa de pedir remota
para a causa de pedir próxima, em uma linha de raciocínio lógica, clara, concisa e objetiva, sem
nenhuma alusão às normas jurídicas, trazendo somente a narração dos fatos e a descrição das
circunstâncias em que ocorreram (fato, prova, circunstância) e as provas.
Observa-se, também, que a cada parágrafo foi narrado e descrito apenas um fato.
Os fatos são narrados e situados no tempo, isto é no passado, as datas têm também como
referência um marco temporal, �xado no próprio texto.
Destaca-se que os advérbios e as expressões adverbiais são também fatores importantes para situar
a narração no transcurso do tempo.
RESUMO
Por conseguinte, pode-se a�rmar que a narrativa se desenvolve da seguinte forma: ações
determinadas, em ordem preferencialmente linear, havendo um lapso temporal entre um fato e
outro, indicando o transcurso do tempo e com precisa marcação de tempo, seja pelo uso do tempo
verbal, seja por outras marcações, como os advérbios ou as expressões adverbiais.
COMENTÁRIO
A coerência narrativa apresenta os fatos de forma cronológica, linear e progressiva, possibilitando
que o receptor, no caso o juiz, acompanhe de forma lógica e sequencial o raciocínio do pro�ssional
do Direito. A coerência narrativa evita, assim, a retomada de passagens já narradas e orienta de
forma cronológica a exposição dos fatos sem registrá-la fora de ordem, proporcionando ao juiz
melhor entendimento sobre a situação fática e, consequentemente, maior justeza em seu
julgamento.
Quadro esquemático 1
Aspectos Linguísticos: Narrativa Jurídica
O advogado utiliza-se de vários procedimentos linguísticos na elaboração da narrativa jurídica para
exercer a persuasão, como: terceira pessoa do singular, que é mais um recurso verbal que provoca
efeito de distanciamento do advogado em relação aos fatos narrados, fazendo com que pareçam
narrar-se a si mesmos, causando um efeito de objetividade, o transcurso do tempo e a preferência
pela ordem cronológica ou linear em busca de maior clareza textual.
O transcurso do tempo (ou lapso temporal) entre uma ação e outra, praticada pelos sujeitos
envolvidos na situação fática, é o eixo principal da coerência narrativa, pois a progressão da
narrativa é sempre temporal. A ordem da narrativa dos fatos (linear); marcos temporais,
advérbios ou locuções adverbiais de tempo referências a datas, horas – são todos
elementos que orientam de modo mais explícito o leitor quanto ao eixo da coerência
narrativa.
Todos esses elementos descritos fazem parte da estratégia de persuasão porque produzem no
auditório os efeitos de realidade, de “verdade”, ou melhor, de verossimilhança e, portanto, de maior
con�abilidade nos fatos narrados.
Modos de Narrar o Texto Jurídico: Discurso Direto e Indireto
O discurso relatado caracteriza as vozes do discurso alheio, isto é, a presença do outro no
discurso. Na descrição de algumas formas de discurso relatado estão o discurso direto e
discurso indireto, que são modos de relatar o discurso de outrem, que variam no grau de
ênfase em que se delimitam as fronteiras entre discurso citado e discurso citante – ainda
que nos dois modos seja bastante explícito que aquilo que é dito provém de um outro
enunciador.
Há diversos mecanismos linguísticos que servem para registrar o discurso alheio no interior de um
texto, como o discurso direto, o indireto, a modalização no discurso.
ATENÇÃO
Para se compreender esse procedimento linguístico, é preciso estar consciente de que há, sempre,
um discurso citante, o discurso de quem está produzindo o texto e um discurso citado, aquele
discurso utilizado para complementar ou ilustrar o discurso citante.
No corpo textual da narrativa jurídica, muitas vezes, é importante atribuir uma fala ou comentário a
uma das partes. Nessas situações, pode-se recorrer a diferentes modos de organização da
linguagem para informar o que foi dito por alguém, fazendo uso do discurso direto e indireto.
Sempre que o narrador apresenta a fala integral
das partes, sem qualquer interferência, diz-se que
ocorreu o uso do discurso direto.
As narrativas costumam marcar o discurso direto com o uso de travessões (-) ou aspas (“”) para
identi�car a fala da personagem. Para introduzir o discurso direto, emprega-se o dois pontos no �nal
da frase anterior.
[...] o jornalista Clóvis V. disse, em 13/1/2010, em seu blog pessoal na Internet: “ele não tem
condições de gerir o clube porque é um burro, de capacidade intelectual inferior à de uma
barata" e, por isso, levou o clube à falência e está com os bolsos cheios de dinheiro do clube
e dos torcedores".
CONCEITO
O discurso direto caracteriza-se, assim, pela presença de verbos dicendi, aqueles que servem para
introduzir a fala da outra pessoa (dizer, a�rmar, responder, declarar, de�nir), de verbos da área
semântica de perguntar (indagar, adquirir, questionar, interrogar) e de verbos sentiendi, os que
expressam estado de espírito, reação psicológica da pessoa que fala, emoções (gemer, suspirar,
lamentar (-se), queixar-se, explodir). Esses verbos podem vir implícitos ou explícitos.
ATENÇÃO
O discurso direto – que é uma citação direta – se faz muito presente, em busca da argumentação por
autoridade para alcançar convencimento ou persuasão. Para fundamentar suas razões, no campo
jurídico, citam-se doutrinadores e jurisprudências, muitas vezes, ocupando tais estratégias a maior
parte do corpo do texto produzido.
No entanto, deve-se evitar o uso do discurso direto na narrativa jurídica porque o advogado deve
mostrar, em seu texto, a sua competência linguística por meio de uma linguagem própria,
autônoma, narrando e descrevendo com sua própria linguagem o que a parte lhe relatou sobre o
caso concreto, buscando maior veracidade para os fatos narrados.
Contudo, quando o advogado, em lugar de
apresentar a fala da (s) parte(s) em seu texto, as
reconstrói por meio da sua linguagem, tem-se a
ocorrência do discurso indireto.
Na audiência de instrução e julgamento, realizada em 29/08/2013 (quinta-feira), foram
ouvidas duas testemunhas de acusação que, cada uma a seu turno, disseram ter visto Diogo
pular o muro da residência da vítima e de lá sair, cerca de vinte minutos após, levando uma
mochila cheia.
CONCEITO
A citação no discurso indireto, no entanto, não é feita da mesma forma que no discurso direto. Lá, o
discurso citado é copiado da mesma forma; aqui, o discurso citado é apropriado pelo enunciador do
discurso citante e é apresentado sob a forma de uma oração subordinada substantiva objetiva,
introduzida por um verbo de dizer.
RESUMO
Sendo assim, o discurso indireto caracteriza-se, geralmente, pela presença de verbos dicendi e
sentiendi, pela conjunção integrante que ou se e pela alteração de tempos verbais, advérbios e
pronomes.
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CAPÍTULO 1
Narrativa Jurídica
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CAP. 
Capítulo 1: Parte 3
Passagem do Discurso Direto para Discurso Indireto
DISCURSO DIRETO DISCURSO INDIRETO
1ª pessoa 3ª pessoa
eu, me, mim, comigo ele (s), ela (s), se, si, consigo, o (s), a (s), lhe
(s)
nós, nos, conosco eles, elas, os, as, lhes
meu, meus, minha, minhas, nosso, nossos, nossa,
nossas
seu, seus, sua, suas, dele (a) (s)
Tabela 1.1 – Mudança das pessoas do discurso.
DISCURSO DIRETO DISCURSO INDIRETO
Presente do indicativo - 
Todos disseram: 
– Não votamos nele.
Pretérito imperfeito do indicativo - 
Todos disseram que não votavam nele.
Pretérito perfeito do indicativo
- 
O moço perguntou: 
– Ele assinou o requerimento?
Pretérito mais-que-perfeito do indicativo - 
O moço perguntou se ele não assinara o requerimento.
Futuro do presente do
indicativo - 
O mecânico garantiu: 
– Eu consertarei a moto.
Futuro do pretérito do indicativo - 
O mecânico garantiu que consertaria a moto.
Presente do subjuntivo - 
Duvido que a assembleia
aprove a proposta – 
disse-lhe o sindicalista.
Pretérito imperfeito do subjuntivo - 
O sindicalista disse-lhe que duvidava que a assembleia
aprovasse a proposta do governo.
Futuro do subjuntivo - 
A garota disse: 
– Só sairei daqui quando ele
Pretérito imperfeito do subjuntivo - 
A garota disse que só sairia quando ele chegasse.
q q
chegar.
Imperativo - 
Passe-me o sal – pediu-me ela.
Pretérito imperfeito do subjuntivo - 
Ela me pediu que passasse o sal.
Tabela 1.2 – Mudança dos tempos verbais.
DISCURSO DIRETO DISCURSO INDIRETO
Ontem No dia anterior
Hoje e agora Naquele dia e naquele momento
Amanhã No dia seguinte
Aqui, aí, cá Ali e lá
Este, esta e isto Aquele, aquela, aquilo
Tabela 1.3 – Mudança dos advérbios e adjuntos adverbiais.
DISCURSO DIRETO DISCURSO INDIRETO
Frases interrogativas, 
exclamativas e imperativas
Frases declarativas
Tabela 1.4 – Mudança na pontuação das frases.
RESUMO
Discurso Direto: Nesse tipo de discurso os sujeitos/personagens literários ganham voz. É o que
ocorre normalmente em diálogos. Isso permite que traços da fala e da personalidade das
partes/personagens literários sejam destacados e expostos no texto. O discurso direto reproduz
�elmente as falas das partes. Verbos como dizer, falar, perguntar, entre outros, servem para que as
falas das partes sejam introduzidas e elas ganhem vida, como em uma peça teatral.
Travessões, dois pontos, aspas e exclamações são muito comuns durante a reprodução das falas.
Podem ser mantidas interjeições, frases de tipo exclamativo, vocativos, uso afetivo dos
determinantes, vocabulário e frases próprias da oralidade.
Discurso Indireto: O narrador conta a história e reproduz fala, e reações das partes/personagens
por meio da paráfrase, usando as formas verbais, na terceira pessoa. Nesse caso, o narrador se
utiliza de palavras próprias para reproduzir aquilo que foi dito pela parte/ personagem literário. Esse
tipo de discurso indireto que deve ser priorizado na narrativa jurídica.
COMENTÁRIO
O discurso indireto livre é uma fusão dos discursos direto e indireto, porque apresenta a fala ou o
pensamento da personagem discretamente inseridos no discurso do narrador, todavia não se faz
uso do discurso indireto livre na narrativa jurídica, porque esse tipo de discurso é próprio da
Literatura.
No discurso jurídico, as vozes não se confundem, porque são individualizadas, e cada um será
responsável pela informação trazida aos autos e responderá por ela juridicamente.
Função dos Tempos Verbais: Narrativa Jurídica
Na narrativa jurídica, a atividade verbal é constante e os fatos se transformam. Os sujeitos
que desenvolvem as suas ações no tempo e no espaço caracterizam os elementos principais
de um texto narrativo. Ocorre uma progressão temporal, o texto se desenvolve no tempo,
um fato se sucede a outro fato, como sequências temporais, as quais podem ser realizadas
por verbos nos tempos pretéritos do modo indicativo.
Os tempos verbais situam o leitor ou o ouvinte no processo comunicacional da linguagem. O
pretérito perfeito, o imperfeito e o mais-que-perfeito indicam o que está sendo narrado.
ATENÇÃO
A estrutura do texto narrativo mantém relação com determinados tempos verbais do modo
indicativo, especialmente os pretéritos perfeito, imperfeito e mais-que-perfeito. A utilização desses
tempos verbais é muito importante para a progressão do texto, para que ele se constitua em um
encadeamento linear ou cronológico de acontecimentos.
COMENTÁRIO
Estudar verbos signi�ca estar diante de uma das classes gramaticais com maior ocorrência de itens
lexicais de nossa língua - as outras são os substantivos e os adjetivos. É estar diante de elementos
estruturais do verbo, como desinências modo - temporais e desinências número-pessoais, vozes dos
verbos, conjugações, modo e tempos verbais, sobretudo, a semântica dos tempos verbais.
Para melhor compreensão da semântica verbal, há necessidade de se estudar as de�nições do verbo
e dos tempos verbais do modo indicativo encontradas em gramáticas.
Para Bechara (2006, p.209), o verbo é “a unidade de signi�cado categorial que se caracteriza por ser
um molde pelo qual se organiza o falar seu signi�cado lexical”. Destaca-se que o papel do tempo
está expresso na primeira de�nição do verbo, enquanto a segunda não menciona o tempo, mas
apresenta o verbo como o organizador do falar.
Em relação aos modos dos verbos, Bechara (2006,
p.196) ressalta que os modos ocorrem, conforme a
posição do falante entre a ação verbal e seu
agente.
Ele acrescenta (2006, p.213) que o falante pensa nessa ação e pode considerá-la de cinco formas, a
saber: como algo feito, verossímil (modo indicativo - canto, cantei, cantava e cantarei); como um fato
incerto (modo subjuntivo - talvez eu cante, se cantasse); como um fato dependente de uma condição
(modo condicional – cantaria); como uma ação desejada pelo agente (modo optativo – “E viva eu cá
na terra sempre triste”); e, por último, como um ato que se exige do agente (modo imperativo -
cantai).
CONCEITO
Os tempos verbais são (BECHARA, 2006, p.195) estes: presente – referência a fatos que passam ou
estendem ao momento em que se fala (eu canto); pretérito-referência a fatos anteriores ao
momento em que se fala e subdividido em imperfeito (cantava), perfeito (cantei) e mais-que-perfeito
(cantara); e futuro – referência a fatos ainda não realizados e subdividido em futuro do presente
(cantarei) e futuro do pretérito (cantaria).
Bechara (2006, p.212) apresenta a seguinte �gura 1.1 para ilustrar o tempo, também chamado por
ele de nível temporal:
Na �gura 1.1, nota-se que é destacada a relação temporal do acontecimento comunicado com o
momento da fala. O presente encerra esse momento,o passado é anterior e o futuro acontecerá
depois desse momento.
No pretérito, “a concomitância do momento do acontecimento em relação a um momento de
referência pretérito pode exprimir-se tanto pelo pretérito perfeito quanto pelo pretérito imperfeito”
(FIORIN, 2010, p.155) e a diferença entre eles está no fato de que cada um tem um aspecto.
Enquanto o perfeito marca algo limitado, acabado, dinâmico e pontual, o imperfeito marca algo não
limitado, inacabado, estático e durativo. E o pretérito mais-que-perfeito assinala uma relação de
anterioridade entre o momento do acontecimento e o momento de referência pretérita com um
aspecto sempre perfectivo. Essas a�rmações sobre o pretérito são apresentadas na �gura 1.2 –
Momento de referência pretérito – MR pretérito – (FIORIN, 2010, p. 154):
Observe um exemplo e atente para as explicações dadas sobre os tempos verbais:
Gustavo ajuizou, em face de seu vizinho Leonardo, ação com pedido de indenização por
dano material suportado em razão de ter sido atacado pelo cão pastor alemão de
propriedade do vizinho. Segundo relato do autor, o animal, que estava desamarrado
dentro do quintal de Leonardo, o atacara, provocando-lhe corte profundo na face. Em
consequência do ocorrido, Gustavo alegou ter gasto R$ 3 mil em atendimento hospitalar e
R$ 2 mil em medicamentos. Os gastos hospitalares foram comprovados por meio de notas
�scais emitidas pelo hospital em que Gustavo fora atendido, entretanto este não
apresentou os comprovantes �scais relativos aos gastos com medicamentos, alegando ter-
se esquecido de pegá-los na farmácia. Leonardo, devidamente citado, apresentou
contestação, alegando que o ataque ocorrera por provocação de Gustavo, que jogava
pedras no cachorro. Alegou, ainda, que, ante a falta de comprovantes, não poderia ser
computado na indenização o valor gasto com medicamentos.
Para exempli�car a relação dessas variáveis, Azeredo (2004, p. 129) propõe a seguinte �gura 1.3 em
uma formulação esquemática.
Azeredo (2008, p. 358) apresenta uma descrição dos tempos verbais simples no modo indicativo.
PRESENTE
O presente representa um fato não concluído situado
em um intervalo de tempo do qual faz parte o
momento da enunciação (ME).
PRETÉRITO PERFEITO
O pretérito perfeito representa um fato concluído e se
situa em um intervalo de tempo anterior ao ponto de
referência presente, compondo uma ação situada em
uma época anterior ao ME.
PRETÉRITO IMPERFEITO
O pretérito imperfeito indica um fato não concluído
que se situa em um intervalo de tempo simultâneo a
um ponto de referência passado ou ainda anterior a
um ponto de referência futuro. Esse tempo verbal é
muito usado no texto descritivo.
PRETÉRITO MAIS-QUE-PERFEITO
O pretérito mais-que-perfeito apresenta um fato
concluído que se situa em um intervalo de tempo
anterior a um ponto de referência passado.
FUTURO DO PRESENTE
O futuro do presente representa um fato não
concluído em um intervalo de tempo posterior ao
presente ou simultâneo ao momento da enunciação.
FUTURO DO PRETÉRITO
E, por último, o futuro do pretérito representa um fato
não concluído em um intervalo de tempo posterior ao
passado, simultâneo ao passado ou relativamente
hipotético em um intervalo simultâneo. Dessa forma,
descrevem-se questões essenciais para a
compreensão semântica dos tempos verbais.
RESUMO
Desse modo, o tempo verbal pretérito imperfeito é um assinalador de fatos contínuos ou ações
frequentes, quando há repetição, pode apresentar a causa e a consequência no texto. Usa-se esse
tempo quando se quer expressar que a ação está em curso ou que as ações foram interrompidas.
O pretérito perfeito exprime um fato concluso e o mais-que-perfeito é usado quando o narrador
retoma um acontecimento ainda mais anterior aos fatos que narra, pois trata-se de um passado
remoto.
O tempo verbal que perdura em quase toda a narrativa jurídica é o pretérito perfeito porque
apresenta os fatos conclusos, acabados e refere-se a um passado próximo.
COMENTÁRIO
Deve-se evitar o pretérito imperfeito não só por indicar um fato intermitente, contínuo, mas também
por ser a forma verbal muito usada na �cção, e Direito trabalha com o real. Contudo, em
determinadas situações, poderá ser utilizado como recurso estilístico para prolongar a conduta;
enaltecer ou denegrir, atenuar ou agravar a conduta da parte processual desejada, como: o autor
espancava a criança ou batia na criança; a mãe sempre telefonava ao �lho quando viajava a
trabalho; reiterando a conduta com intencionalidade positiva ou negativa, trabalhando-os com a
semântica verbal.
Evita-se o pretérito mais-que-perfeito, por se tratar de um tempo passado muito remoto, distante.
A�nal, o Direito é lento, mas um processo não leva mais de cinquenta anos para ser julgado. Logo,
esse tempo verbal deve ser usado em circunstâncias especiais que trazem fatos ao caso concreto de
tempo bem distante, como ocorre na regularização de documentos em casos de doação feita em um
passado muito distante, direito a usucapir ou regularização de documentos em testamento, dentre
outros.
ATENÇÃO
Flexão Verbal: Pessoa, Número, Tempo e Modo.
O verbo pode se �exionar de quatro maneiras, a saber: pessoa, número, tempo e modo. É a classe
mais rica em variações de forma ou acidentes gramaticais. Por meio de um morfema chamado
desinência modo temporal, são marcados o tempo e o modo de um verbo. Observe mais
detalhadamente esse tema:
O modo verbal caracteriza as várias maneiras de como se pode utilizar o verbo, dependendo da
signi�cação que se pretende dar a ele. Rigorosamente, são três os modos verbais: indicativo,
subjuntivo e imperativo.
A maioria dos gramáticos denomina particípio, o gerúndio e o In�nitivo como formas nominais do
verbo, e não como modos verbais, porque existem algumas particularidades em cada uma dessas
formas que podem impedir de serem consideradas modos verbais. Observe:
In�nitivo
Tem características de um substantivo, podendo assumir a função de sujeito ou de
complemento de um outro verbo, e até ser precedido por um artigo.
Gerúndio
Particípio
Volta-se, agora, para os modos verbais, propriamente ditos:
Modo Indicativo
O verbo expressa uma ação que, provavelmente, acontecerá, uma certeza, trabalhando com
reais possibilidades de concretização da ação verbal ou com a certeza comprovada da
realização daquela ação.
Modo Subjuntivo
Modo Imperativo
Já o tempo verbal informa, de uma maneira geral, se o verbo expressa algo que já aconteceu, que
acontece no momento da fala ou que ainda irá acontecer. São essencialmente três tempos:
presente, passado ou pretérito e futuro.
Os tempos verbais são estes:
TEMPO VERBAL EXEMPLO CONCEITO
Presente amo expressa algo que acontece no momento da fala.
Pretérito
Perfeito
amei expressa uma ação pontual, ocorrida em um momento anterior à
fala.
Pretérito
Imperfeito
amava expressa uma ação contínua, ocorrida em um intervalo de tempo
anterior à fala.
Pretérito mais-
que-perfeito
amara contrasta um acontecimento no passado ocorrido anteriormente
a outro fato também anterior ao momento da fala.
Futuro do
presente
amarei expressa algo que possivelmente acontecerá em um momento
posterior ao da fala.
Futuro do
pretérito
amaria expressa uma ação que era esperada no passado, porém que
não aconteceu
pretérito não aconteceu.
Na narrativa jurídica prioriza-se também o estudo do verbo para melhor compreensão dos fatos
narrados e descritos e, consequentemente, do caso concreto.
RESUMO
No texto narrativo, a atividade verbal é constante e os fatos se transformam. As partes que
desenvolvem as suas ações no tempo e no espaço caracterizam os elementos principais de um texto
narrativo jurídico. Ocorre uma progressão temporal,o texto se desenvolve no tempo, um fato se
sucede a outro fato, como sequências temporais, as quais podem ser realizadas por verbos nos
tempos pretéritos do modo indicativo.
O tempo verbal pretérito imperfeito é um assinalador de fatos contínuos ou ações frequentes,
quando há repetição, pode apresentar a causa e a consequência no texto. Usa-se este tempo
quando se quer expressar que a ação está em curso ou que as ações foram interrompidas ou, então,
como recurso estilístico-semântico.
O pretérito perfeito exprime um fato concluso e o mais-que-perfeito é usado quando o narrador
retoma um acontecimento ainda mais anterior aos fatos que narra.
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CAPÍTULO 1
Narrativa Jurídica
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CAP. 
Capítulo 1: Parte 4
Paráfrase: Discurso Indireto
Há várias maneiras de enriquecer o vocabulário e uma das mais e�cazes é a paráfrase. Parafrasear
permite incorporar novas estruturas linguísticas (diversi�car construções) e também dominar o
sentido das palavras. Parafrasear é reescrever um texto sem alterar-lhe o sentido. Não é preciso
reduzir o tamanho, apenas dar outra forma, usar outras construções, a �m de preservar o
signi�cado original.
A paráfrase é uma técnica amplamente utilizada, principalmente nos textos jurídicos, pois é uma
reescritura de texto sem alterar o seu conteúdo.
EXEMPLO
Observe o exemplo abaixo:
O �lme Tempos Modernos foi um grande sucesso, mas, à época de seu lançamento, deu prejuízo. Foi
proibido na Itália e na Alemanha, onde Hitler e Mussolini o consideravam “socialista”.
Fonte: http://www.sescsp.org.br/programacao/36515_TEMPOS+MODERNOS+MODERN+TIMES
(https://www.youtube.com/watch?v=CozWvOb3A6E)
Tem-se a seguinte paráfrase: Tempos Modernos obteve grande aceitação, quando de seu
lançamento, entretanto não obteve lucro. Foi vetado nos países europeus dominados pelo fascismo
e nazismo, cujos líderes o consideravam portador de ideias comunistas.
Em Direito, os representantes legais das partes processuais, por exemplo, ao elaborarem a narrativa
jurídica, sempre fazem paráfrase daquilo que foi narrado por elas, em um discurso indireto,
respeitando-se a modalidade culta da língua.
Logo, a narrativa jurídica é uma paráfrase da representação da realidade apresentada pela
parte, por esse motivo pode-se aproximar o discurso jurídico do discurso cientí�co:
primeiro, por lidar com fatos reais e, segundo, pela possibilidade de ser parafraseado.
Encontram-se na narrativa jurídica enunciados sinônimos ou semanticamente equivalentes
aos dos textos apresentados pela parte ou ao que ela contou, que passaram não só pela
interpretação da parte, mas também pela do advogado, portanto os fatos não são mais
puros.
Dessa forma, percebe-se que a narrativa jurídica é profundamente in�uenciada pelo texto do outro;
não é um texto puro, mas sim um intertexto. Há na narrativa jurídica uma paráfrase interpretativa;
uma narração cuja forma de apresentação (fatos selecionados e sua sintaxe) já antecipa a exposição
que se fará mais adiante no elemento “Do Direito” (argumentação).
Entretanto, o advogado da parte tem sua criatividade tolhida: é impossível – e ilegal – que os fatos
sejam expostos de forma diferente daquela apresentada pela parte, sob pena de se alterarem os
próprios fatos, o que seria uma litigância de má-fé, além de envolver questões ético-pro�ssionais;
embora, em uma outra situação, se aceite o entendimento de que todo discurso é construído e que
não existe fato puro, mas sim várias versões sobre ele.
RESUMO
A paráfrase pode ser entendida, assim, como um discurso intertextual em repouso em que alguém
abre mão de sua voz para deixar a voz do outro falar.
Não há con�ito de vozes, pois não há oposição; funcionando como se fosse um espelho que re�ete o
discurso do outro. Partindo desse conceito, pode-se a�rmar que, na narrativa jurídica, por meio da
paráfrase, há uma voz monofônica aparente (voz do representante legal).
Polifonia: Discurso Jurídico
CONCEITO
Emprega-se o termo polifonia (BAKHTIN, 2008, p.23) para caracterizar um certo tipo de texto, em que
se deixam entrever muitas vozes, por oposição aos textos monofônicos, que silenciam os diálogos
que os constituem. Assim, na polifonia trata-se da existência de vozes de enunciadores diferentes ou
pontos de vista diferentes.
Por causa das funções sociais abrangidas pelo Direito, o discurso jurídico reveste-se de uma
tipologia própria, que é a do poder e da persuasão, permeado pelo elemento ideológico. É
essencialmente persuasivo, pois instaura sempre como destinatário direto ou indireto um alguém
que, supostamente, tenha infringido o ordenamento.
Sendo assim, o espaço jurídico conduzirá os efeitos de poder e as relações de força que se
instauram entre os sujeitos que, inscritos em uma formação ideológico-discursiva, passam a
ser vistos como seres socializados que se utilizam de certos argumentos de “verdade” que
lhes servem de sustento. É o discurso autoritário, que procura “barrar” a voz do outro, ou
seja, o discurso jurídico é monofônico, pois as vozes que naturalmente se mostram, nos
textos polifônicos, são abafadas ou ocultadas sob a aparência de uma única voz
essencialmente monofônica.
ATENÇÃO
O discurso jurídico é dotado de polifonia. Ou seja, além da voz narradora, outros elementos estão
presentes como vozes. É o caso das partes, testemunhas, autoridade. Para introduzi-los no discurso,
pode-se usar a referência indireta, por meio de citações e paráfrases. As paráfrases e citações
CURIOSIDADE
constituem um recurso frequente nos textos jurídicos. Para introduzi-las, utilizam-se os verbos
dicendi: dizer, a�rmar, declarar. Dessa forma, garante-se neutralidade ao discurso, deixando a carga
interpretativa para a voz introduzida.
Dessa forma, entende-se que o discurso jurídico
busca se tornar o discurso da verdade única,
absoluta, por meio de uma simulação lógico-
dedutiva- “sujeito da verdade”.
Dessa maneira, a voz do autor construída na narrativa jurídica possui efeito monofonizante por não
se manifestar por si mesma, mas apenas e tão somente por meio da voz do advogado. O autor é
privado da palavra e é construído como sujeito para o qual se aponta, mas que não se traz para
dentro da interlocução. Essa estratégia discursiva de apagamento que é denominada monofonização
ou efeito monofonizante.
Tal estratégia distancia o autor e passa uma ideia de que aparentemente não há
contradição, apenas a luta justa e transparente por um direito perdido ou ameaçado, com o
objetivo de se buscar uma boa argumentação, no sentido retórico (persuasão).
Todavia é evidente que o Direito não se resume à voz de um único narrador, pois até em sua
essência é polifônico, especialmente no paradigma de um Estado Democrático do Direito, mas o
advogado vale-se dessa estratégia discursiva de apagamento na peça das partes - discurso
monofônico-, em busca de maior convencimento ou persuasão acerca dos fatos narrados.
Por essa razão, presenti�ca-se a polifonia do discurso jurídico, mais especi�camente nos textos de
cunho decisório. Depara-se com a polifonia, por exemplo, na análise das marcas de desdobramento
da voz do Estado em leis, jurisprudências e doutrinas; na análise da sobreposição e/ ou
hierarquização de vozes nas Sentenças, principalmente a sobreposição da voz do juiz na Sentença
pela voz dos desembargadores no Acórdão, estendendo esse raciocínio as demais instâncias
superiores.
MULTIMIDIA
1. Tempo de Matar, baseado em livro de John Grisham. Direção de Joel Schumacher. Atores: Sandra
Bullok, Samuel L. Jackson, Matthew Mc Conaughey e Kevin Spacey. Estados Unidos 1996. Disponível
em vídeo pela Warner Home Vídeo.
Fonte: http://www.adorocinema.com/�lmes/�lme-15283/fotos/detalhe/?cmedia�le=19902488
(http://www.adorocinema.com/�lmes/�lme-15283/fotos/detalhe/?cmedia�le=19902488)2. Filadél�a, dirigido por Jonathan Demme. Atores: Tom Hanks, Denzel Washington, Jason Robards,
Mary Steenburgen, Antonio Banderas. Estados Unido, 1993. Disponível em vídeo pela Abril Vídeo.
CURIOSIDADE
Fonte: http://registropop.com/corujao-de-210416-quinta-feira-globo-exibe-o-�lme-�ladel�a/
(http://registropop.com/corujao-de-210416-quinta-feira-globo-exibe-o-�lme-�ladel�a/)
ATIVIDADE
01. Leia os fatos que irão compor a situação fática de cada um dos três casos concretos abaixo,
postos intencionalmente na ordem alinear, e reordene-os na ordem rigorosamente linear ou
cronológica.
Caso Concreto 1 – XIV Exame Da Ordem /2014
Síntese da entrevista realizada com Heitor Samuel Santos, brasileiro, solteiro, desempregado, �lho
de Isaura Santos, portador da identidade 559, CPF 202, residente e domiciliado na Rua Sete de
Setembro, casa 18 – Manaus – Amazonas – CEP 999:
( ) teve a CTPS assinada como assistente de estoque,
( ) mas, em parte do horário de trabalho, também realizava as tarefas de um analista de compras,
pois seu chefe determinava que ele �zesse pesquisa de preços e comparasse a sua evolução ao
longo do tempo, atividades estranhas à sua função de assistente de estoque;
( ) trabalhava de 2ª a 6ª feira das 8h às 16h45min, com intervalo de 45 minutos para refeição, e aos
sábados das 8h às 12h, sem intervalo;
( ) é portador de de�ciência e soube que, após a sua dispensa, não houve contratação de um
substituto em condição semelhante;
( ) a empresa possui 220 empregados;
( ) seu e-mail pessoal era monitorado pela empresa porque, na admissão, estava ocorrendo um
problema na plataforma institucional, daí porque a ex-empregadora acordou com os empregados
que o conteúdo de trabalho seria enviado ao e-mail particular de cada um, desde que pudesse fazer
o monitoramento;
( ) trabalhou na fábrica de componentes eletrônicos Nimbus S.A. situada na Rua Leonardo Malcher,
7.070 – Manaus – Amazonas – CEP 210), de 10.10.2012 a 02.07.2014; ( ) foi dispensado em 2/7/2014,
sem justa causa e recebeu, corretamente, sua indenização;
( ) que, em razão disso, o empregador teve acesso a diversos escritos e fotos particulares do
depoente, inclusive conteúdo que ele não desejava expor a terceiros;
( ) durante o contrato sofreu descontos a título de contribuição sindical e confederativa, mesmo não
sendo sindicalizado;
Caso Concreto 2 – XIV Exame Da Ordem /2014
Síntese da entrevista feita com Bruno Silva, brasileiro, solteiro, CTPS 0010, Identidade 0011, CPF 0012
e PIS 0013, �lho de Valmor Silva e Helena Silva, nascido em 20.02.1990, domiciliado na Rua Oliveiras,
150 – Cuiabá – CEP 20000-000:
( ) Bruno costumava fazer digitação de trabalhos de conclusão de curso para universitários,
ganhando em média R$200,00 por mês, mas no período em que esteve afastado pelo INSS não teve
condição física de realizar esta atividade, que voltou a fazer tão logo retornou ao emprego;
( ) no acidente, sofreu amputação traumática de um dedo da mão esquerda e se submeteu a
tratamento médico e psicológico, gastando com os pro�ssionais R$ 2.500,00 entre honorários
pro�ssionais e medicamentos, tendo levado consigo os recibos;
( ) que teve a CTPS assinada e exercia a função de empacotador, recebendo por último o salário de
R$ 1.300,00 por mês; que sua tarefa consistia em empacotar congelados de legumes numa máquina
adquirida para tal �m;
( ) que foi admitido em 05.07.2011 pela empresa Central de Legumes Ltda., situada na Rua das
Acácias, 58 – Cuiabá – CEP 20000-010, e dispensado sem justa causa em 27.10.2013, quando recebeu
corretamente as verbas da extinção contratual;
( ) no retorno, tendo sido comprovada pelos peritos do INSS a perda de 20% da sua capacidade
laborativa, foi readaptado a outra função;
( ) em 30.11.2011 sofreu acidente do trabalho na referida máquina, quando sua mão �cou presa no
interior do equipamento, �cando afastado pelo INSS e recebendo auxílio doença acidentário até
20.05.2012, quando retornou ao serviço;
( ) a CIPA da empresa, convocada quando da ocorrência do acidente, veri�cou que a máquina havia
sido alterada pela empresa, que retirou um dos componentes de segurança para que ela trabalhasse
com maior rapidez e, assim, aumentasse a produtividade.
Caso Concreto 3 - VIII Exame Da Ordem /2012
Síntese da entrevista feita com Norberto Castro, brasileiro, solteiro, CTPS 0106, Identidade
124356011, CPF 0012345 e PIS 001314 15, �lho de Joaquim Castro e Marilda Castro, nascido em
20.02.19800, domiciliado na Rua Palmas, 36 – Tocantins– CEP 20000-000:
( ) o terreno está situado na Rua Cardoso Soares nº 42, no bairro de Lírios, na cidade de
Condonópolis, no estado de Tocantins.
( ) em razão disso, Norberto tem sido constantemente sondado a se retirar do local, recebendo
ofertas de valor insigni�cante, já que as construtoras alegam que o terreno sequer pertence a ele,
pois está registrado em nome de Cândido Gonçalves.
( ) Norberto da Silva, pessoa desprovida de qualquer bem material, adquiriu de terceiro, há nove
anos e meio, posse de terreno medindo 240m² em área urbana, onde construiu moradia simples
para sua família.
( )Norberto não tem qualquer interesse em aceitar tais ofertas; ao contrário, com setenta e dois anos
de idade, viúvo e acostumado com a vida na localidade, demonstra desejo de lá permanecer com
seus �lhos.
( ) a posse é exercida ininterruptamente, de forma mansa e pací�ca, sem qualquer oposição.
( ) no último ano o bairro passou por um acelerado processo de valorização devido à construção de
suntuosos projetos imobiliários.
( ) são seus vizinhos do lado direito Carlos, do esquerdo Ezequiel e, dos fundos, Edgar.
02. A partir da coletânea de textos, a seguir, extraídos de matérias jornalísticas, elabore uma
narrativa jurídica, obedecendo à metodologia trabalhada neste livro. Antes, de elaborar a sua
narrativa jurídica, identi�que todos os elementos da narrativa jurídica, a saber:
QUEM QUER?
QUER O QUÊ?
DE QUEM?
POR QUÊ?
COMO?
ONDE?
QUANDO?
ATENÇÃO
Não inicie a narrativa jurídica pela data ou outro elemento similar (lugar, horas), pois o
texto deve ser iniciado sempre pelo seu protagonista e na narrativa jurídica o protagonista
é o autor. Logo, inicie a narrativa jurídica sempre pelo autor da Petição Inicial. Não há
necessidade de quali�cá-lo, pois as descrições do autor já foram feitas anteriormente, em
outro momento (Quali�cação das Partes).
 
Não faça uma narrativa jurídica confusa, ora usando o nome civil das partes, ora usando
as nomenclaturas autor e réu. Esse procedimento afeta a clareza textual.
 
Na narrativa jurídica, a repetição da nomenclatura autor e réu faz-se necessária à clareza
do texto.
 
Se usar Autor com a primeira letra maiúscula ou todo ele em caixa alta, ou até negritado,
adotar o mesmo critério para a parte contrária. Não estabelecer diferenças de estilo de
escrita entre as partes para evitar interpretações distorcidas.
 
Não se posicione na narrativa jurídica, com a intenção de defender uma tese, isto é, não se
justi�ca, não se fundamenta neste primeiro momento; narram-se apenas os fatos
relevantes (fatos simples- auxiliam na composição da lide) e os relevantes juridicamente
(fato jurídico- deste advêm consequências jurídicas/direito subjetivo lesionado)
necessários à compreensão da lide.
 
Não fazer resumo dos fatos, mas sim a narração dos fatos. Logo narrar e resumir são
institutos bem distintos. Para isso, a cada parágrafo narrar e descrever apenas um (1) fato,
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sempre que possível acompanhado de uma prova ou de um indício, e as circunstâncias em
que o fato ocorreu.
 
Não se usa na narrativa jurídica, elaborada pelos representantes legais das partes,
nomenclatura jurídica nem tampouco dispositivos legais. Nesse elementotrabalha-se
apenas com NARRAÇÃO e DESCRIÇÃO DOS FATOS, PROVAS e CIRCUNSTÂNCIAS em que o
fato aconteceu.
 
Não se faz uso dos conectores subordinativos, pois eles fazem parte da argumentação e
não da narração. Deve-se optar sempre pelos conectores coordenativos.
 
Evite a expressão “Ocorre que” (verbo + a conjunção integrante “que”) em sua narrativa
jurídica, que vem sendo usada frequentemente nos textos jurídicos, mas sem preservar o
sentido de sua etimologia. Pode-se vislumbrar, nos textos jurídicos, que há um processo
de polissemia (múltiplos sentidos) em relação a esse fenômeno.
 
Cuidado! O advérbio “onde” indica o lugar (estático) em que se está ou em que se passa
algum fato. Geralmente, refere-se a verbos que exprimem permanência. O advérbio
“onde” não deve ser usado em situações em que a ideia de lugar, mesmo que
metaforicamente, não esteja presente. Em termos práticos, “onde” pode ser substituído
por: em que lugar, no qual, em que.
 
Pre�ra a voz ativa à voz passiva. Exemplo: “A Autora e a avó materna cuidaram da criança,
durante cinco anos, e o menor nunca recebeu a visita ou auxílio �nanceiro do Réu, mesmo
tendo este reconhecido a paternidade”. Em vez de: “Durante cinco anos, a criança foi
cuidada por sua mãe e sua avó materna, nunca tendo o menor recebido visita ou auxílio
�nanceiro do genitor, mesmo tendo este reconhecido a paternidade”. A voz ativa possui
força mais persuasiva.
 
Priorize a ordem direta (verbo + sujeito + o restante) em nome da clareza: O autor
comprou um aparelho de ar condicionado fabricado pela “G” S. A., empresa sediada no Rio
de Janeiro, em função da chegada do verão, em 15 de janeiro de 2015.
 
Lembrar-se sempre de que da narrativa lógica dos fatos que advém a conclusão, isto é,
dos fatos narrados decorre logicamente o pedido.
 
Depois de selecionar os fatos, narre-os em ordem cronológica ou linear.
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ESTUDO DE CASO
REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AZEREDO, José Carlos. Gramática Houaiss da língua portuguesa. 2.ed. São Paulo:
Publifolha,2008.
BAKHTIN, M.. Problemas da Poética de Dostoiévski. 3. ed. Traduzido por Paulo Bezerra. Rio
de Janeiro: Forense Universitária, 2002.
BANDEIRA, Manuel. Poesia Completa e Prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1966.
BECHARA, Evanildo. Gramática escolar da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna, 2006.
COLASANTI. Amores Rasgados. Rio de Janeiro: Rocco, 2006.
CUNHA, Celso e Lindley Cintra, L. F. Nova gramática do português contemporâneo. 5. ed.
Rio de Janeiro: Lexikon, 2008. DUCROT, Oswald. O dizer e o dito. São Paulo: Pontes, 1987.
DWORKIN, Ronald. Uma questão de princípio. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
FIORIN, José Luiz. As astúcias da enunciação: as categorias de pessoa, espaço e tempo. São
Paulo: Ática, 2010.
GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna. 18. ed. Rio de Janeiro: Fundação
Getúlio Vargas, 2012.
RODRÍGUEZ, Victor Gabriel. Manual de Redação Forense. Curso de Linguagem e Construção
de Texto no Direito. 2. ed. Campinas: LZN, 2002.
PALADINO, Valquiria da Cunha (ORG.) et al. Argumentação Jurídica. Teoria e Prática. 4ª ed.
Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2013.
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CAPÍTULO 1
Narrativa Jurídica
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CAP. 
Capítulo 2
Narrativa dos Fatos e Construção de Versões
Capítulo 2: Parte 1
Narrativa dos Fatos e Construção de Versões
Introdução
O capítulo 2 procura fazer uma abordagem teórica da narrativa jurídica, a�rmando que o fato é um
só, mas cada narrador ou representante legal da parte mostrará a sua versão sobre ele de acordo
com o seu intento defensivo ou acusatório, isto é, cada um deles irá narrar o fato, dando-lhe uma
versão, do modo que lhe interessar.
Assim como a seleção dos fatos e, consequentemente, as versões dadas sobre eles, que constam da
narrativa jurídica, devem atender às intenções argumentativas futuras dos representantes legais das
partes.
Demonstrar, portanto, neste capítulo 2, que a noção de fato no direito implica sempre uma
normatização jurídica, de forma tal, que não se poderia falar em fato puro em contraposição a fato
jurídico. Neste sentido é que, superando a noção de fato como correspondência com a realidade,
esta terá, em direito, um caráter sempre persuasivo, desde já normatizado e valorado pelos
interesses de quem o descreve.
Considerar, assim, o fato como uma construção humana numa atividade interpretativa que atenda
aos interesses da parte sem perder de vista o raciocínio lógico e a aparência da “verdade”, isto é, a
verossimilhança no ato de narrar a situação fática.
OBJETIVOS
Compreender como os recursos linguísticos auxiliam na apresentação dos fatos e constroem
diferentes versões.
Compreender a função da descrição no ato de narrar.
Identi�car a função do uso de modalizadores na narrativa jurídica.
Selecionar fatos/versões e vocábulos que imprimam ao texto a função persuasiva.
Compreender a importância da narrativa dos fatos, das provas, das versões lógicas e
verossímeis sobre os fatos para a argumentação.
Construção: Fatos e Versões
Analisa-se aqui a noção de fato, segundo a abordagem do pragmatismo �losó�co, porque, nessa
perspectiva, é visto como uma narração (construção humana), que re�ete os interesses das partes
(advogado), afastando-se da teoria da concepção da objetividade na interpretação do fato e da teoria
da “verdade” como correspondência, e a prova é examinada como descrição, voltada à persuasão.
ATENÇÃO
O fato (suporte fático concreto) será trabalhado, portanto, como versões trazidas pelas partes,
incompatível com a tese de que existe uma única versão “verdadeira” passível de ser descoberta.
Tenta-se explicar, de modo simples e lógico, como ocorre a passagem do fato, do mundo fático para
o mundo jurídico.
Leia a crônica de Luís Fernando Veríssimo para melhor compreensão doque foi ensinado até o
momento:
Uma donzela estava um dia sentada à beira de um riacho deixando a água do riacho passar
por entre os seus dedos muito brancos, quando sentiu o seu anel de diamante ser levado
pelas águas. Temendo o castigo do pai, a donzela contou em casa que fora assaltada por
um homem no bosque e que ele arrancara o anel de diamante do seu dedo e a deixara
desfalecida sobre um canteiro de margarida. O pai e os irmãos da donzela foram atrás do
assaltante e encontraram um homem dormindo no bosque, e o mataram, mas não
encontraram o anel de diamante. E a donzela disse:
– Agora me lembro, não era um homem, eram dois.
E o pai e os irmãos da donzela saíram atrás do segundo homem e o encontraram, e o
mataram, mas ele também não tinha o anel. E a donzela disse:
– Então está com o terceiro!
Pois se lembrara que havia um terceiro assaltante. E o pai e os irmãos da donzela saíram no
encalço do terceiro assaltante, e o encontraram no bosque. Mas não o mataram, pois
estavam fartos de sangue. E trouxeram o homem para a aldeia, e o revistaram e
encontraram no seu bolso o anel de diamante da donzela, para espanto dela.
– Foi ele que assaltou a donzela, e arrancou o anel de seu dedo e a deixou desfalecida –
gritaram os aldeões. Matem-no!
– Esperem! – gritou o homem, no momento em que passavam a corda da forca pelo seu
pescoço. – Eu não roubei o anel. Foi ela que me deu! E apontou para a donzela, diante do
escândalo de todos.
O homem contou que estava sentado à beira do riacho, pescando, quando a donzela se
aproximou dele e pediu um beijo. Ele deu o beijo. Depois a donzela tirara a roupa e pedira
que ele a possuísse, pois queria saber o que era o amor.
Mas como era um homem honrado, ele resistira, e dissera que a donzela devia ter
paciência, pois conheceria o amor do marido no seu leito de núpcias. Então a donzela lhe
oferecera o anel, dizendo

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