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INTRODUÇÃO AS ANEMIAS Profa. Dra. Romélia Pinheiro Gonçalves Lemes romeliaglemes@ufc.com TÓPICOS Definição de anemia Classificações das anemias Metabolismo do ferro Absorção do ferro Anemia ferropriva Epidemiologia Fisiopatologia Diagnóstico laboratorial Diagnóstico diferencial Quadro Clínico Tratamento ANEMIA A anemia é uma diminuição da massa dos glóbulos vermelhos abaixo dos valores necessários para o transporte de oxigénio aos tecidos Os sinais e sintomas decorrentes da hipóxia tecidual são a síndrome anêmica. ANEMIA • Síndrome clínica e quadro laboratorial caracterizado por: • Diminuição no número de eritrócitos circulantes, na concentração da hemoglobina e/ou na determinação do hematócrito. • A anemia não é um diagnóstico, mas sim um sinal de doença. • Principal causa de morbidade e mortalidade no mundo. • Recente estudos epidemiológicos sugerem que um terço da população mundial é afetado ANEMIA DE ACORDO COM A OMS Hb <13g/dL e Ht<41%, no homem adulto Hb <12g/dL e Ht<36%, na mulher adulta Hb < 11g/dL na mulher grávida Hb < 11g/dL na criança 17,5% 17,5% 29% 27,5% 9% hemólise sangramento agudo doença crônica deficiência de ferro outras Hemólise Sangramento agudo Deficiência de ferro Doença crônica Outras Principais causas de anemia Beris P, Tobler A. Schweiz Rundsch Med Prax. 1997;86:1684-86 Roteiro Diagnóstico das Anemias Anamnese Hemograma: Dosagem da hemoglobina Índices hematimétricos Observar a morfologia das hemácias Exames específicos % e número absoluto de reticulócitos Perfil de ferro, dosagem de vit B12 e folato Eletroforese de hemoglobina Mielograma e biópsia de Medula óssea. PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS –IDADE E SEXO Rodgers; Young, 2010 Rodgers; Young, 2010 CLASSIFICAÇÃO MORFOLÓGICA DAS ANEMIAS • Volume Corpuscular Médio (VCM) • Microcítica (VCM diminuído) • Macrocítica (VCM aumentado) • Normocítica (VCM normal) Rodgers; Young, 2010 CLASSIFICAÇÃO MORFOLÓGICA DAS ANEMIAS CLASSIFICAÇÃO DAS ANEMIAS Deficiência de produção de hemácias Falta de tecido eritropoiético: Destruição Estimulantes (EPO)↓ congênita. Invasão da medula óssea por elementos malignos. ↓ Elementos essenciais à eritropoiese: Ferro Folato Vitaminas B12, B6 e C. Excesso de destruição de eritrócitos Agressão ao eritrócito: Toxinas Parasitas Imunológica Defeito do eritrócito: Arquitetura da membrana Enzimático Hemoglobina anormal Hiperesplenismo. Perdas hemorrágicas Agudas: Traumas Cirurgias Hemorragias nos tratos gastrintestinal e genital Crônicas: Úlceras Tumores intestinais Parasitas intestinais Menstruações abundantes MANIFESTAÇÕES CLÍNICA DA ANEMIA • As manifestações clínicas são decorrentes da redução da capacidade transporte de O₂ no sangue e menor oxigenação dos tecidos (hipóxia): Palidez Tontura Astenia Falta de interesse e atenção Perversão do apetite e anorexia Irritabilidade Cefaléia Debilidade física Dispnéia aos esforços Depressão imunológica Heme (Fe2+ Ferro ferroso) : 30-40% do ferro heme ingerido é absorvido Inorgânico=ferro livre (Fe3+ Ferro Férrico): Na célula da mucosa (jejuno) temos 2 receptores: Um receptor específico para o ferro ligado ao heme Outro receptor é o Transportador de metal divalente (DMT1) que capta o ferro inorgânico porém é de 1 a 10% menos eficiente para a absorção. METABOLISMO DO FERRO Evstatiev; Gasche , 2012 Carnes: fonte rica de heme (melhor absorvido); Fontes não-carnes: pobres em estoques de ferro, o ferro é efetivamente menos absorvido havendo necessidade de grande quantidade de consumo para manter as reservas. Um indivíduo adulto tem no seu organismo de 4 a 5 g de ferro, sendo que cerca de 2,5 g na forma de Hemoglobina MILLER , 2016 METABOLISMO DO FERRO Absorção do ferro Figura 1. O enterócito e as proteínas envolvidas na absorção do ferro. Dcytb: ferroredutase; DMT-1: transportador de metal divalente-1; HCP-1: proteína transportadora do heme-1; Nu: núcleo; HFE: proteína da hemocromatose; TfR: receptor da transferrina FERROPORTINA O ferro é exportado do enterócito pela Ferroportina e se liga a transferina no plasma, principal transportador de moléculas de ferro; Transferina pode liberar o ferro para a eritropoese e/ou para ser estocado no fígado, através de um receptor na membrana das células Ferritina é a proteína de estoque do ferro A ferritina consiste de 24 subunidades de ferritina que pode estocar cerca de 4500 moléculas de ferro O ferro contido na hemoglobina é reclicado através das hemácias senescentes e se liga a ferritina nos macrófagos O ferro é transferido a transferina para a reciclagem na eritropoese ou é estocado HEPCIDINA Proteína Hepcidina: Descrita em 2001 Função : Controla a absorção do ferro e a liberação do ferro dos estoques; Síntese: Fígado (principalmente), macrófagos, adipócitos, coração e rins. É regulada não só pela concentração de ferro intra e extracelular mais pela inflamação e pela necessidade de ferro a eritropoese; Hepcidina se liga a ferroportina levando a sua degradação; Quando ocorre a degradação da ferroportina o ferro não pode ser liberado do enterócito ou do hepatócito, levando em ambos os casos: a deficiência na absorção do ferro e prejuízo na liberação de ferro dos depósitos para a formação de células vermelhas; No plasma: a hepcidina é ligada a α2-macroglobulina e albumina; Níveis reduzidos de Hepcidina Hipóxia; Aumento da Eritropoese; Deficiência de ferro Endócrinos ( testosterona, estrógeno e fatores de crescimento) Níveis elevados de Hepcidina Concentração elevada de ferro no fígado e plasma; Inflamação; Atividade física. HEPCIDINA ANEMIA FERROPRIVA Doença hematológica caracterizada pela deficiência absoluta de ferro; Estudos epidemiológicos reportam que a mesma corresponde a maior causa de anemia na população mundial DEFICIÊNCIA DE FERRO Absoluta: estoques de ferro corpóreo diminuído ou esgotados Funcional: estoques de ferro corpóreo estão normais ou aumentados, porém o suplemento para a medula óssea é inadequado. Deficiência funcional de ferro : Inflamações agudas ou crônicas Deficiência Absoluta de ferro: Anemia ferropriva ANEMIA FERROPRIVA-EPIDEMIOLOGIA 1/3 da população mundial: Anemia Metade: Anemia Ferropriva Problema mundial de saúde pública Crianças de 0 a 15 anos Mulheres em idade fértil Gestantes Adolescentes Levi et al, 2016; Looker et al, 1997 CICLO VITAL DAS HEMÁCIAS- VIA DE FERRO ETIOLOGIA DA PERDA DE FERRO Perda fisiológicas de ferro : 1-2 mg de ferro é perdido diariamente como resultado de: Sangramento menstrual; Suor; Descamação da pele; Excreção urinária ATENÇÃO Não existe um mecanismo fisiológico regulatório da excreção do excesso de ferro: ingestão da dieta, absorção intestinal e a reciclagem do ferro devem ser finamente regulada. ANEMIA FERROPRIVA:ETIOLOGIA Perdas Menstruais –Perdas média de 35mL (16 mg de ferro por período) Gestação e Parto Perdas Gastrointestinais Cancer Gastrite Helicobacter pylori-ulceras(gastrite), acloridria (prejudicando a absorção), gastrite autoimune Gastrite atrófica Úlceras Obesidade. 7.9% desenvolvem deficiência de ferro por aumento dos níveis de hepcidina Doença Celíaca. Deficiência de ferro, prejuízo na absorção, perdas de sangue e aumento nos níveis de hepcidina. Hematúria. Perdas de ferro na urina. Cirurgia Bariátrica. Deficiência de ferro pode chegar a 50%. Meta-análise 23%. Devidoao comprometimento do duodeno (principal sitio de absorção do ferro) CAUSAS DE CARÊNCIA DE FERRO Perdas sanguíneas: lesões gastrointestinais. Fatores de risco para tumor são idade >50 anos, sexo masculino e Hb<9g/dL. Gastrite atrófica ou infecção por H pylori Absorção Transporte e Metabolismo Aumento das perdas Aumento das Necessidades Mei et al, 2005; Zimmermann; Hurrell, 2015; Bruno; De, 2015 DIETA Recomendações de Ingestão diária de Ferro: 8 mg de ferro para homem adulto; 18 mg de ferro para mulher na premenopausa 27 mg de ferro durante a gravidez 5% a 10% são absorvidos (Absorção de 1 a 3 mg diário) Carência de ferro exclusivamente da dieta : pouco frequente Zago et al., 2005 PERDAS SANGUINEAS Principal causa de anemia ferropriva em adultos; 1ml de sangue normal=0,5mg de ferro Não existe carência de ferro resultante do aumento da excreção, pois não existe vias de excreção do ferro Sangramentos: tubo digestivo (lesões benignas, malignas ou parasitas); hipermenorréia; úlceras; hemorroidas; menorragias. AUMENTO DAS NECESSIDADES Períodos de crescimento Gestação Ambos aumento das necessidades associado a uma dieta insuficiente, desenvolvem anemia Mei et al, 2005; Zimmermann; Hurrell, 2015; Bruno; De, 2015 ANEMIA FERROPRIVA: SINTOMAS Podem ser em decorrência da deficiência do ferro e da anemia Palidez (45-50%): anemia Fadiga (44%): anemia e da deficiência de ferro Dispneia Cefaleia (63%) Taquicardia Alopecia (30%) Glossite atrófica (27%) Estudos tem demonstrado melhora da fadiga em pacientes com depleção de ferro sem anemia(Vaucher et al, 2012; Verdon et al, 2003; Krayenbuehl et al, 2011) ANEMIA FERROPRIVA-DIAGNÓSTICO Ferritina: teste diagnóstico mais eficiente. Considerar a idade e a condição clínica. Volume Corpuscular médio (VCM): pode ser normal, não é tão utilizado; Protoporfinina eritrocitária Livre (marcador de deficiência de ferro na eritropoese): aumenta na deficiência de ferro , anemia da doença crônica e por envenenamento por chumbo; Ferro sérico: Varia muito. Pode estar baixo na anemia da inflamação e pode ser falsamente elevado em pacientes com deficiência de ferro e com uso de ferro oral. Mei et al, 2005; Zimmermann; Hurrell, 2015; Bruno; De, 2015 ANEMIA FERROPRIVA-DIAGNÓSTICO Capacidade Total de Ligação do Ferro: sensível porém não específica. Esta reduzido na inflamação, idade e desnutrição Receptor solúvel da transferina : aumentado na deficiência de ferro e o teste não é afetado pela inflamação. Entretanto pode estar aumentado em condições associadas com aumento da massa de eritrócitos, anemias hemolíticas ou na LLC; Coloração para Ferro na Medula óssea. “gold standard” para deficiência de ferro. Invasivo. Mei et al, 2005; Zimmermann; Hurrell, 2015; Bruno; De, 2015 QUADRO LABORATORIAL- ANEMIA FERROPRIVA Anemia é classicamente Microcítica e Hipocrômica : porém esses achados não são sensíveis e nem específicos; VCM : é baixo na anemia ferropriva severa Comorbidades: doença hepática pode atenuar a diminuição do VCM na anemia por deficiência de ferro; Talassemia e Anemia da Inflamação: podem cursar com microcitose Mei et al, 2005; Zimmermann; Hurrell, 2015; Bruno; De, 2015 QUADRO LABORATORIAL : DEFIÊNCIA DE FERRO À ANEMIA FERROPRIVA ESTÁGIOS: NORMAL / DEFICIÊNCIA DE FERRO/ ANEMIA FERROPRIVA Normal Depósitos reduzidos Eritropoese deficiente Anemia ferropriva Anemia Ausente Ausente Presente Presente Morfologia das hemácias Normal Normal Normal Microcítica e hipocrômica Depósitos de ferro (MO) +++ + 0 0 Ferritina sérica (g/L) 10060 <25 10 <10 Fe sérico (g/dL) 11550 <115 <60 <40 CTLF (g/dL) 33030 330-360 390 410 IST (%) Normal Normal ou diminuída 16% <16% Oliveira, 2008 ALTERAÇÕES LABORATORIAIS ASSOCIADAS A DEFICIÊNCIA DO FERRO E A ANEMIA FERROPRIVA HEMATOSCOPIA- NORMAL X ANEMIA FERROPRIVA Hemácias normais Hemácias microcíticas e hipocrômicas HEMOGRAMA: ANEMIA FERROPRIVA ANEMIA Microcitose Hipocromia Poiquilocitose (Ovalócitos, eliptócitos) RDW aumentado Leucograma: Normal Plaquetas: Normal ou aumentadas HEMATOSCOPIA: ANEMIA FERROPRIVA X TALASSEMIAS Hemácias microcíticas e hipocrômicas, com RDW normal Hemácias microcíticas e hipocrômicas, com RDW aumentado PERFIL DO FERRO -ANEMIA FERROPRIVA Ferritina diminuída Ferro sérico diminuído (Normal: 60-150 μg/dL) Capacidade total de ligação do ferro –CTLFe aumentada (Normal:250 a 360µg/dL) Ìndice de Saturação da transferina-IST(%) diminuído (Normal 20 a 40%) Receptor da transferina sérico – sTfR aumentado Oliveira, 2008 TRATAMENTO -ANEMIA FERROPRIVA Reposição de ferro Ferro oral (Sulfato ferroso): 1a linha Ferro parenteral: deve ser indicado em pacientes com deficiência de ferro na qual não responderam ou não toleraram a terapia com ferro oral; Ferro intravascular: pacientes com histórico de resistencia a terapia com ferro oral relacionado a absorção de ferro, tais como cirurgias no intestino ou procedimentos bariátricos. Rodgers; Young, 2010; Bonovas et al, 2016 AVALIAÇÃO DA RESPOSTA AO TRATAMENTO- ANEMIA FERROPRIVA Uma semana de tratamento com ferro oral ocorre aumento na contagem de reticulócitos; Segunda semana de tratamento com ferro oral aumenta a concentração da Hemoglobina; Uso do ferro oral deve ser continuo com o objetivo de repor os estoques de ferro (ferritina de 50 a 100 ng/dL); Não resposta ao ferro oral (Resistencia a ferro oral) : não adesão ao tratamento por dores no estomago e constipação; máabsorção do ferro (infecção por H pylori e doença celiaca); uso de substancias que inibem a absorção do ferro, pacientes com histórico de sangramento crônico ( lesões no intestino, por cirurgias como por processos inflamatórios). Okam; Koch; Tran, 2016 RESUMO A anemia ferropriva é uma das causas mais frequentes de anemia no mundo, caracterizada por uma variedade de sintomas clínicos, tais como fadiga, sendo o diagnóstico realizado pela dosagem sérica da ferritina e o tratamento com ferro oral ou intravenoso. O desafio é detectar a causa e tratar. LEITURA SUGERIDA DeLoughery TG. Iron Deficiency Anemia. Med Clin North Am. 2017 Mar;101(2):319- 332. doi: 10.1016/j.mcna.2016.09.004. Epub 2016 Dec 8. OBRIGADA