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1 OS EFEITOS DAS DECISÕES PROFERIDAS PELO CONTROLE DIFUSO: UMA ANÁLISE DA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL 1 Chaiane Martins Bittencourt 2 RESUMO O Controle de constitucionalidade no Brasil ocorre tanto pela via difusa quanto pela via abstrata. Este estudo dá ênfase ao controle difuso de constitucionalidade, pelo qual todos os juízes de primeiro grau e todos os Tribunais podem realizar controle de constitucionalidade. No caso dos Tribunais, devem ser observados o artigo 97 da Constituição Federal de 1988 e a Súmula Vinculante n. 10, que tratam da reserva de plenário, ou seja, nos Tribunais as questões que envolvam inconstitucionalidade não podem ser apreciadas pelos órgãos fracionários (turmas ou câmaras), somente pelo plenário ou órgão especial (se houver) por meio de incidente. No entanto, os órgãos fracionários estão desobrigados de observar a reserva de plenário se a questão já houver sido julgada pelo plenário ou órgão especial, ou pelo plenário do Supremo Tribunal Federal. Os efeitos dessa decisão são entre as partes e retroativos. No controle difuso, uma decisão só terá efeitos erga omnes depois que o Senado Federal suspender a execução da lei declarada inconstitucional. Essa prerrogativa do Senado e os efeitos da decisão proferida no controle difuso têm gerado discussão, em razão da tendência de se aplicar ao controle difuso os efeitos do controle abstrato, ou seja, a modulação de efeitos temporais (ex nunc, ex tunc ou pro futuro) e o efeito erga omnes, essa tendência tem sido chamada de abstrativização. Na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal encontramos sinais da abstrativização, e, por isso, alguns precedentes da Corte serão analisados neste trabalho. Palavras-chave: Controle difuso de constitucionalidade. Reserva de plenário. Efeitos das decisões. Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. INTRODUÇÃO O sistema de controle de constitucionalidade brasileiro é composto por dois sistemas, o controle difuso e o controle concentrado, que são consideravelmente distintos entre si, pela sua origem, pela legitimidade e competência para seu exercício, mas principalmente pelos efeitos que suas decisões contemplam. No caso do controle difuso, os efeitos são ex tunc e inter partes, em outras palavras: a decisão é retroativa e alcança somente as partes envolvidas em determinada demanda. Já no caso do controle abstrato, os efeitos podem ser ex tunc, ex nunc ou pro futuro, ou seja, é possível a modulação dos efeitos temporais para que a decisão seja retroativa ou não, ou ainda passe a valer condicionada a um evento futuro. Ademais, a decisão é erga omnes – possui efeitos gerais. 1 Artigo extraído do Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharela em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS, aprovada com grau máximo pela banca examinadora, composta pelos professores Alexandre Mariotti (orientador), Claudio Ari Pinheiro de Mello e Marcus Vinícius Martins Antunes, em 18 de novembro de 2013. 2 Acadêmica do Curso de Ciências Jurídicas e Sociais (Direito) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. E-mail: cha_bj@hotmail.com 2 Nesse artigo, serão abordados os controles de constitucionalidade, com ênfase ao controle difuso (como ele é exercido pelos Tribunais, considerações sobre a cláusula de reserva de plenário, os efeitos das decisões a extensão dos efeitos de acordo com a doutrina majoritária e com a jurisprudência). Além disso, será abordado o papel do Senado Federal de suspender a execução de lei declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e as críticas que este instituto tem recebido. Ainda, serão brevemente abordados os institutos da súmula vinculante e da repercussão geral. Por fim, após a análise de alguns julgados, será feita uma análise crítica em relação à abstrativização e sua compatibilidade com nosso sistema jurídico. 1 O CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE NO BRASIL O sistema jurídico brasileiro é hierarquizado, estando a Constituição da República Federativa do Brasil (CF) em lugar de supremacia. Todos os atos do Poder Público – sejam do Poder Legislativo, ou do Poder Executivo 3– estão sujeitos às disposições constitucionais. Todavia, muitas vezes, a hegemonia da CF é colocada em risco, em razão da proliferação de atos normativos infraconstitucionais (que passam a integrar o ordenamento jurídico com grande frequência). Frente a essa situação, surgiu a necessidade de criar mecanismos que defendessem o texto constitucional, declarando inconstitucionais os comandos normativos que não se compatibilizem com ele. José Afonso da Silva sustenta que haverá uma incompatibilidade vertical entre o ato normativo eivado de inconstitucionalidade e a CF, e nesse caso prevalecerá o texto constitucional sendo inválido o ato normativo que o contrarie. 4 3 CUNHA JÚNIOR, Dirley da. Controle de constitucionalidade: teoria e prática. 6ª ed. Bahia: Juspodivm, 2012, p.42. 4 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 35ª ed. São Paulo: Malheiros 2012. 3 A doutrina reconhece três grandes modelos que visam assegurar a supremacia constitucional: o modelo norte-americano, o modelo austríaco e o modelo francês. 5 O modelo norte-americano (judicial review) é difuso e adota a teoria da nulidade, ou seja, se a lei é inconstitucional ela é nula. 6 No sistema austríaco (ou europeu), fruto da doutrina de Kelsen, o controle de constitucionalidade é exercido de forma exclusiva por um Tribunal Constitucional e impera a teoria da anulabilidade da lei inconstitucional. Na França, o controle de constitucionalidade é exercido por um órgão diverso dos demais poderes. 7 O Brasil adotou um sistema misto (ou híbrido), derivado dos modelos americano e austríaco. O controle difuso, oriundo do direito norte-americano, também é chamado de “controle pela via indireta, incidental, prejudicial, aberto, do caso concreto, via de exceção ou por defesa”.8O controle abstrato advém do sistema austríaco e também é denominado concentrado, pela via direta, objetivo, principal, fechado, ou por ação. 9 No Brasil, o Supremo Tribunal Federal (STF) é o órgão máximo do Poder Judiciário e exerce controle de constitucionalidade pela via difusa – quando julga Recurso Extraordinário (RE) –, mas também desempenha a função de Tribunal Constitucional – ao julgar ações diretas. O controle difuso também pode ser realizado por qualquer juiz ou tribunal, o que, nas palavras de Marinoni “confere ao juiz brasileiro uma posição de destaque no civil law”.10 1.1 O controle difuso de constitucionalidade O controle difuso de constitucionalidade tem suas raízes no sistema americano, precisamente em um precedente estadunidense de 1803 – Marbury v. Madison – onde a 5 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 28ª ed. São Paulo: Atlas 2012. 6 OLIVEIRA, Aline Lima de. A limitação dos efeitos temporais da declaração de inconstitucionalidade no Brasil: uma análise da influência dos modelos norte-americano, austríaco e alemão. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008. 7 ALMEIDA, Vânia Hack de. Controle de Constitucionalidade. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2005. 8 ALMEIDA, 2005. 9 ALMEIDA, 2005. 10 MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes obrigatórios. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011, p.73. 4 Suprema Corte fez prevalecera soberania da Constituição dos Estados Unidos em detrimento de lei infraconstitucional. 11 O sistema americano foi incorporado na nossa legislação por grande influência de Rui Barbosa, “conhecedor, como poucos, da obra dos mais eminentes comentadores da Constituição norte-americana de 1787 e, ao que se sabe, ele próprio o principal redator da Carta de 24 de fevereiro de 1891”.12 1.1.1 O controle difuso exercido pelos Tribunais No âmbito dos Tribunais para apreciar uma questão que envolva arguição de inconstitucionalidade, deve-se observar a cláusula de reserva de plenário. No atual texto constitucional, a reserva de plenário encontra-se disposta no art. 97. 13 Destarte, em decorrência da cláusula de reserva de plenário, a inconstitucionalidade só será declarada mediante o voto da maioria absoluta dos membros do Tribunal ou do órgão especial (se houver). Além disso, ela é associada ao princípio da presunção de constitucionalidade das leis, uma vez que exige quorum qualificado para a declaração de eventual inconstitucionalidade de lei ou ato do Poder Público. 14 Também é vedado aos órgãos fracionários afastar a aplicação de determinada lei ou ato normativo no caso concreto, mesmo sem declarar expressamente sua inconstitucionalidade. 15 Aliás, essa questão foi levada à apreciação do STF e depois de diversos precedentes 16 sobreveio a Súmula Vinculante n. 10. 17 11 RAMOS, Elival da Silva, Controle de constitucionalidade no Brasil: perspectivas de evolução. São Paulo: Saraiva, 2010. 12 RAMOS, 2010, p.184. 13 BRASIL, Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 5 de outubro de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm Acesso em 30 de set. 2013. 14 BARROSO, Luís Roberto. O controle de constitucionalidade no direito brasileiro: exposição sistemática da doutrina e análise crítica da jurisprudência. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2006. 15 CUNHA JÚNIOR, 2012. 16 Brasil, Supremo Tribunal Federal. RE: 482.090-1 SP, Rel. Min. Joaquin Barbosa, Publicação D. J. 13/03/2009. RE: 240.096-2 RJ, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Publicação D. J. 21/05/1999. RE: 544.246-2 SE, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Publicação D.J. 08/06/2007. RE 319.181-1 DF, Rel. Min. Ellen Gracie, Publicação D.J. 28/06/2002. AI AgR 472897 PR, Rel. Min. Celso de Mello, Publicação D. J. 26/10/2007. 17 Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, artigo 97) a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder público, afasta sua incidência, no todo ou em parte. BRASIL, Supremo Tribunal Federal. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/cms/verTexto.asp?servico=jurisprudenciaSumulaVinculante Acesso em: 26 set. 2013 5 Ademais, a questão constitucional é discutida pela via da exceção, ou seja, trata-se de uma prejudicial do processo e deve ser resolvida antes da apreciação do mérito. 18 A arguição de inconstitucionalidade no processo só pode ser suscitada por quem detenha legitimidade, ou seja: “(a) as partes (autor e réu) em quaisquer demandas; b) os terceiros intervenientes (litisconsortes, assistentes, oponentes entre outros); o Ministério Público quando oficie no feito, e d) o juiz ou tribunal, de ofício, exceto no Supremo Tribunal Federal no recurso extraordinário”.19 1.1.3 Regras de processamento do incidente nos Tribunais O procedimento que deve ser observado para a instauração de incidente de inconstitucionalidade é tratado pelo Código de Processo Civil (CPC) nos artigos 480 a 482 20 – além de ter disciplina nos diferentes regimentos internos dos Tribunais. O jurisdicionado, ao buscar a solução para sua demanda, pode sustentar – como causa de pedir – que determinada lei ou ato normativo viola o texto da CF. Se o processo tiver início no primeiro grau, o próprio magistrado por meio do controle difuso poderá declarar a inconstitucionalidade. Contudo, se tratando do segundo grau de jurisdição, o relator, após ouvir o Ministério Público, submeterá a questão à apreciação da turma ou câmara, e, uma vez acolhida, será lavrado acórdão para julgamento da questão prejudicial pelo pleno (ou ao órgão especial) 21 – que detém competência reservada para apreciar matéria constitucional. 22 Amaral Júnior 23 destaca que pode o órgão fracionário decidir que a lei ou ato normativo é constitucional, caso em que prosseguirá com o julgamento do mérito Após o julgamento, que acolhe ou rejeita a arguição de inconstitucionalidade, o processo retorna para o respectivo órgão fracionário para apreciação do mérito. 18 ALMEIDA, 2005. 19 AMARAL JÚNIOR, 2002, p.162/163. 20 BRASIL. Código de Processo Civil. Lei n. 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5869compilada.htm Acesso em: 27 set. 2013 21 CLÈVE, 2000. 22 LENZA, 2012. 23 AMARAL JÚNIOR, 2002, p.57/58. 6 A decisão proferida pelo plenário ou pelo órgão especial comporta somente embargos de declaração. 24 Não obstante, quando houver recurso – ordinário ou extraordinário25 – a decisão proferida em plenário poderá ser objeto recursal, ainda que indiretamente. 1.2.2 Hipóteses de não aplicação do artigo 97 da CF A alteração trazida pela Lei n. 9. 756/98, que acrescentou o parágrafo único ao art. 481 (CPC) 26 dispõe sobre duas situações em que não será necessário submeter eventual questão de inconstitucionalidade à apreciação do pleno ou do órgão especial: a) quando já houver pronunciamento do plenário ou do órgão especial do respectivo tribunal; b) quando já houver pronunciamento do Supremo Tribunal Federal sobre a questão. 27 Tais dispositivos almejam a economia processual, a busca pela segurança jurídica e a racionalização orgânica da instituição judiciária brasileira. 28 Ocorrendo alguma das hipóteses acima o órgão fracionário estará vinculado à decisão, conforme lecionam Marinoni e Mitidiero: (...) O órgão fracionário não pode deixar de aplicar ao caso concreto que lhe é submetido a decisão a respeito da questão constitucional já tomada pelo Plenário ou pelo Órgão Especial do tribunal ou pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal. 29 Segundo Marinoni, esta regra “obriga a adotar o precedente constitucional”.30 Appio, 31 observa que a competência dos demais Tribunais no controle de constitucionalidade é “remanescente”, em razão dessa vinculação às decisões proferidas pelo Pleno do STF. 24 Em caso de a decisão plenária ter sido obscura, contraditória, ou omissa (art. 535, I e II, do CPC). 25 Recurso ordinário, no caso de processos de competência originária dos Tribunais, e não submetidos à decisão em única instância. Recurso extraordinário, no caso dos feitos em grau recursal ou ordinários decididos em única instância com fundamento no art. 102, III, “b”, da CF. – Cf. AMARAL JÚNIOR, 2002. 26 Parágrafo único: Os órgãos fracionários dos tribunais não submeterão ao plenário ou ao órgão especial, a arguição de inconstitucionalidade, quando já houver pronunciamento destes ou do plenário do Supremo Tribunal Federal sobre a questão. (Incluído pela Lei nº 9.756, de 17.12.1998). – CPC, 1973. 27 AMARAL JÚNIOR, 2002. 28 LENZA, 2012. 29 MARINONI, Luiz Guilherme. MITIDIERO Daniel. Código de processo civil comentado artigo por artigo. 2ª ed.São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. 30 MARINONI, 2011. 31 APPIO, Eduardo. Controle difuso de constitucionalidade: modulação dos efeitos, uniformização de jurisprudência e coisa julgada. 1. ed. 2008, 1. reimpr. Curitiba: Juruá, 2010. p.42. 7 Por fim, outra exceção do ordenamento brasileiro em que não se aplica a reserva de plenário é nos processos de competência das Turmas Recursais. 32 2 EFEITOS DA DECISÃO NO CONTROLE DIFUSO DE CONSTITUCIONALIDADE A doutrina majoritária entende que a decisão proferida pela via difusa de constitucionalidade é declaratória e tem eficácia subjetiva 33 (efeito inter partes). Dessa forma, a decisão, independente do órgão prolator, não faz coisa julgada em relação à lei cuja inconstitucionalidade foi declarada na apreciação de um caso específico. Isso porque, na vigência de uma lei qualquer juiz ou Tribunal pode entendê-la como constitucional e continuar a aplicá-la, pelo menos até que o Senado Federal (SF) emita resolução suspendendo a execução da lei declarada inconstitucional após a apreciação do STF. 34 Todavia, para outra parte da doutrina, as decisões emitidas pelo pleno (ou órgão especial) em controle difuso, mesmo que não possuam eficácia erga omnes, transcendem o caso concreto e projetam seus efeitos no âmbito do Tribunal, vinculando todos os órgãos fracionários a ele pertencentes. 35 Nesse sentido, Zavascki defende que, por ser um instituto de caráter geral, a essência da norma é ter efeitos para além do caso concreto. 36 Esse entendimento também é adotado pelo judiciário brasileiro 37 , o qual defende que a vinculação da jurisprudência no controle difuso garante segurança e igualdade. Assim, uma vez esgotada a decisão nos plenários dos Tribunais – principalmente pelo Pleno do STF –, não é necessária nova apreciação de casos paradigmas ou equivalentes pelo plenário. 32 Isso porque, em que pese sejam órgãos competentes para julgar recursos, não são “tribunais”. Todavia, pode a parte sucumbente recorrer o Supremo Tribunal Federal, quando envolver questão de constitucionalidade. Ao teor da súmula 640 do STF: É cabível recurso extraordinário contra decisão proferida por juiz de primeiro grau nas causas de alçada, ou por turma recursal no juizado especial cível e criminal. – Cf. LENZA, 2012. 33 ZAVASCKI, Teori Albino. Eficácia das sentenças na jurisdição constitucional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. 34 SILVA, 2012. 35 AMARAL JÚNIOR, 2002. 36 ZAVASCKI, 2001, p. 26. 37 BRASIL, Supremo Tribunal Federal. RE 617389 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Segunda Turma, julgado em 08/05/2012 – Processo eletrônico DJe-099, Divulg. 21-05-2012, Public. 22-05-2012: “(...) III – A existência de orientação do Plenário da Corte sobre a questão constitucional debatida legitima o julgamento monocrático do recurso nos termos do art. 557 do CPC. IV - Agravo regimental improvido.” 8 Além do disposto na CPC, também os Regimentos Internos (RI) dos Tribunais 38 tratam do incidente de inconstitucionalidade. Para Amaral Júnior 39 as regras dispostas nos Regimentos Internos de alguns Tribunais, que exigem votação unânime 40 ou maioria de dois terços 41 para a vinculação dos órgãos fracionários às decisões do pleno, são ilegais, por ferirem o parágrafo único do art. 481 (CPC). Por outro lado, no plano da eficácia temporal, 42 a decisão de inconstitucionalidade proferida pela via difusa retroage para afetar o ato normativo desde a sua edição e, por se tratar de nulidade da norma, possui efeito ex tunc. A teoria da nulidade está relacionada ao precedente americano que deu origem ao controle difuso de constitucionalidade, case Marbury v. Madison: na motivação da decisão o juiz Marshall defendeu que a nulidade de uma norma inconstitucional era decorrente da supremacia da Constituição, argumento que foi adotado no ordenamento brasileiro por Rui Barbosa. 43 2.1 A possibilidade de atribuir efeito ex nunc à decisão proferida pelo controle difuso Embora o direito estadunidense tenha adotado a teoria da nulidade absoluta e, portanto, a retroatividade das decisões que declaram a inconstitucionalidade pela via difusa (efeito ex tunc). A Suprema Corte (1965), no case Likletter v. Walter decidiu que, em face da análise do caso concreto, pode o Poder Judiciário limitar os efeitos da decisão que declara a inconstitucionalidade, admitindo assim a atribuição de efeito ex nunc. 44 38 Dentre eles: Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal (art. 101) – Disponível em: http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/legislacaoRegimentoInterno/anexo/RISTF_Maio_2013_versao_eletronica.pdf Acesso em: 03 out. 2013. Regimento Interno do TRF4 (art. 210) – Disponível em: http://www2.trf4.jus.br/trf4/upload/editor/crp_RITRF4.pdf Acesso em: 03 out. 2013. 39 AMARAL JÚNIOR, 2002. p. 82. 40 Regimento Interno TJSC (art. 160) – Disponível em: http://www.tj.sc.gov.br/institucional/normas/regimento/reginterno.pdf Acesso em: 03 out. 2013. 41 Regimento interno do TJRS (art. 211) –Disponível em: http://www.tjrs.jus.br/site/legislacao/estadual/ Acesso em: 03 out. 2013. 42 Cf. RAMOS, 2010: os efeitos entre partes e erga omnes se encontram no plano da eficácia subjetiva (decisão pela qual se materializa a fiscalização). Já os efeitos ex tunc e ex nunc, no plano da eficácia temporal. 43 OLIVEIRA, 2008. 44 AZAMBUJA NETO, 2012. 9 O Brasil, por sua vez, também passou a adotar essa possibilidade, mas o fez nas ações constitucionais exercidas por meio do controle abstrato de normas, com as Leis n. 9.868/99 45 e 9.882/99, 46 que tratam do processamento e julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade, da Ação Direta de Constitucionalidade e da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental. 47 Com isso, questionou-se a possibilidade de atribuir efeito ex nunc às decisões no controle difuso. O STF entende que é possível, tanto é assim que já aplicou efeito ex nunc ao decidir o RE 197.917 48 , demanda que apreciou pela via difusa de constitucionalidade. 49 2.2. O controle difuso e a competência do SF: artigo 52, inciso X, da CF O Brasil não adotou o sistema de controle constitucional americano por completo, uma vez que no direito norte-americano existe a figura do stare decisis, isto é, um precedente, mesmo que decidido para o caso concreto, torna-se de observância obrigatória nos demais casos que envolvam a mesma matéria, pois tem eficácia vinculante. No intuito de compensar a inexistência dessa regra, foi introduzida na CF de 1934 (art. 91, IV, e 96) 50 disposição que atribuía ao SF a prerrogativa de suspender a execução de lei declarada inconstitucional. Assim, a decisão do STF que declara a inconstitucionalidade pela via difusa, em princípio, não tem caráter erga omnes. Para tanto, a deliberação deve ser comunicada ao SF, conforme estabelece o Regimento Interno do STF (RISTF) – art. 178.51 45 Lei n. 9.868, de 10 de novembro de 1999. Publicada no DOU em 11 de novembro de 1999. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9868.htm Acesso em: 04 out. 2013. 46 Lei n. 9.882, de 3 de dezembro de 1999. Publicada no DOU em 6 de dezembro de 1999. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9882.htm. Acesso em 04 out. 2013. 47 AZAMBUJA NETO, 2012. 48 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. RE 197917, Rel. Min. MaurícioCorrêa, Tribunal Pleno, julgado em 06/06/2002, DJ 07-05-2004 PP-00008 EMENT VOL-02150-03 PP-0036: “(...) 8. Princípio da segurança jurídica. Situação excepcional em que a declaração de nulidade, com seus normais efeitos ex tunc, resultaria grave ameaça a todo o sistema legislativo vigente. Prevalência do interesse público para assegurar, em caráter de exceção, efeitos pro futuro à declaração incidental de inconstitucionalidade. Recurso extraordinário conhecido e em parte provido. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28197917.NUME.+OU+197917.ACMS .%29&base=baseAcordaos&url=http://tinyurl.com/d7llezf Acesso em: 03 set. 2013. 49 LENZA, 2012. 50 BRASIL, Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 16 de junho 1934. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao34.htm. Acesso em 25 set. 2013. 10 A competência do SF encontra-se disposta no artigo 52, inciso X, da CF: “Compete privativamente ao Senado Federal: (...) X - suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional por decisão definitiva do STF”. 52 Discorrendo sobre a referida competência constitucional, o RI do SF (artigos. 386 e seguintes) 53 elenca quem deve fazer a comunicação da decisão que se pretende suspender, os documentos necessários para instruir a comunicação, a representação e o projeto de resolução: Cumpre esclarecer que, embora o inciso X (do art. 52, da CF) e o caput do artigo 386 do RI do SF falem em “lei”, a melhor interpretação é que o dispositivo abrange qualquer ato normativo (lei em sentido material) declarado inconstitucional pelo STF. 54 Ademais, a expressão “no todo ou em parte” significa que o SF está adstrito aos limites da decisão de inconstitucionalidade proferida pelo STF: “impossível o Senado Federal ampliar, interpretar ou restringir a extensão da decisão do STF”.55 Questão que gera grande divergência na doutrina é se a resolução tem efeitos ex tunc ou ex nunc. A corrente majoritária entende que os efeitos são ex nunc, contudo, importante parte da doutrina entende que os efeitos seriam ex tunc. 56 Em se tratando da Administração Pública direta ou indireta, o Decreto n. 2.346/97 57 prevê, de forma expressa, que os efeitos da resolução do Senado Federal são ex tunc. 58 Outro ponto de divergência doutrinária é se a competência do SF seria discricionária ou vinculada; mas sobre esta questão o STF já se posicionou, entendendo que a competência 51 BRASIL. Supremo Tribunal Federal (STF). Regimento Interno: [atualizado até março de 2011] – consolidado e atualizado até maio de 2002 por Eugênia Vitória Ribas. – Brasília: STF, 2011. 52 CF, 1988. 53 BRASIL. Regimento Interno do Senado Federal. Resolução n. 93 de 1970. Disponível em: http://www.senado.gov.br/legislacao/regsf/RegSFVolI.pdf Acesso em: 28 de set. de 2013. 54 NOVELINO, 2008. 55 LENZA, 2012. 56 Cf. CUNHA JÚNIOR: Gilmar Mendes e Clèmerson Merlin Clève defendem que os efeitos são ex tunc. Já para Themístocles Brandão Cavalcanti, Oswaldo Aranha Bandeira de Mello, Luiz Alberto Davi Araujo e Vidal Serrano Nunes Júnior, José Afonso da Silva, Regina Maria Macedo Nery Ferrari e Lênio Luiz Streck, os efeitos são ex nunc. 57 BRASIL, Decreto n. 2.346. Publicado em 10 de outubro de 1997. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D2346.htm Acesso em: 29 set. 2013. 58 CUNHA JÚNIOR, 2012. 11 do SF é discricionária, muito embora parte da doutrina persista no entendimento de que se trata de competência vinculada. 59 Registra-se, ainda, que nem a CF e nem o RI do SF tratam do prazo para que se suspenda a execução de lei declarada inconstitucional pelo STF. 60 2.2.1 A atuação do SF no controle difuso e o modelo de controle constitucional adotado pela CF Com o advento da CF, inúmeras modificações passaram a integrar o ordenamento jurídico pátrio, contudo, tem destaque para este estudo a ampliação do modelo abstrato de constitucionalidade. Isso porque, o controle abstrato não inclui a competência do SF de suspender a execução de lei ou ato normativo, uma vez que a decisão de inconstitucionalidade ao ser proferida possui efeito erga omnes e vinculante. 61 Em razão disso, a doutrina tem questionado se a prerrogativa do SF para suspender as leis declaradas inconstitucionais (pela via difusa) ainda se afirma, pois parte da doutrina entende que se deva retirar do sistema jurídico pátrio a intervenção do SF, reconhecendo-se às decisões do STF efeito erga omnes e vinculante, a semelhança do stare decisis da Supreme Court dos Estados Unidos. 62 2.3 A posição doutrinária da mutação constitucional No entender de Mendes 63 , a competência do Senado no controle difuso não se ajusta às novas premissas do controle constitucional, tendo sofrido um “processo de obsolescência”. 59 CUNHA JÚNIOR, 2012, destaca que: Lúcio Bittencourt, Manoel Gonçalves Ferreira Filho, Alfredo Buzaid, Celso Ribeiro Bastos, Zeno Veloso e Lenio Luiz Streck, defendem que a competência do SF é vinculada. 60 “(...) o que nos proporciona pensar que pode ficar omisso por 10, 15 ou 20 anos impunemente.” FERRARI, Regina Maria Macedo Nery. Efeitos da declaração de inconstitucionalidade. 3. ed., amp. e atual. de acordo com a CF/88. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1992, p.115: 61 Cf. NOVELINO, 2008: esses institutos não se confundem, pois a eficácia erga omnes se refere apenas à parte dispositiva da decisão, enquanto o efeito vinculante se refere tanto à parte dispositiva quanto aos fundamentos ou motivos determinantes da decisão. 62 CUNHA JÚNIOR, 2012, p. 176. 63 MENDES, COELHO e BRANCO, 2011, p. 1158/1159. 12 Para o autor, o art. 52, X, da CF sofreu uma mutação constitucional e a competência do Senado Federal, no controle difuso de constitucionalidade, passou a ter mero efeito de publicidade. 64 Ao contrário da Emenda Constitucional, que possui um processo rígido e formal para a alteração da CF (conforme previsto no seu art. 60), a mutação é uma modificação informal do sentido da CF, uma vez que não ocorre alteração no texto. Essa mudança interpretativa se mostra pertinente quando há uma relação de conflito entre “o direito constitucional e a realidade constitucional”.65 2.3.1 A polêmica da adoção da abstrativização e dos motivos determinantes da sentença (ratio decidendi) no controle difuso Em decorrência do destaque atribuído ao modelo abstrato, parte da doutrina tem sustentado a ocorrência de um “movimento de convergência”66 entre os dois modelos constitucionais. Para Barros esses sistemas se “misturam”. 67 A doutrina denominou de “abstrativismo” esta tendência de aplicar os efeitos do controle abstrato ao controle concreto (difuso). Aliás, essa inclinação não é só doutrinária, uma vez que o STF também a vem aplicando em alguns julgados 68 (como se verá no terceiro capítulo deste artigo). A posição doutrinária favorável a esta corrente sustenta que as Leis n. 9.868/99 e n. 9.882/99, embora tratem do controle abstrato de constitucionalidade, podem servir de “sucedâneo para a modulação da eficácia temporal também no âmbito do modelo de controle difuso-incidental de constitucionalidade”. 69 64 MENDES, COELHO e BRANCO, 2011, p. 65NOVELINO, 2008, p. 144. 66 LEAL Roger Stiefelmann. A convergência dos Sistemas de Constitucionalidade: aspectos processuais e institucionais. Revista de Direito Constitucional e Internacional. RDCI 57/62, out. – dez. 2006. Clèmerson Merlin Clève e Luís Roberto Barroso (organizadores). Edições Especiais Revista dos Tribunais 100 anos: doutrinas essenciais (...). vol. V. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 494. 67 BARROS. O senado e o controle de constitucionalidade. 68 NOVELINO, 2008. 69 CUNHA JÚNIOR, 2012, p.169. 13 No que se refere à teoria dos motivos determinantes ou transcendência dos motivos da decisão, o efeito vinculante se projeta não somente para a parte dispositiva da sentença, mas também para as motivações que alicerçaram a decisão proferida pelo STF. 70 Para Zavascki 71 , a autorização para que o STF profira decisões vinculantes é dada pelo texto constitucional, ou seja, decorre da própria supremacia da CF, ainda que em controle de constitucionalidade difuso. Da parte da doutrina não partidária dessa teoria, destaca-se o posicionamento de Alfredo Buzaid, positivado no próprio CPC (art. 469): “Não fazem coisa julgada: (...) III. a apreciação da questão prejudicial decidida incidentalmente no processo”.72 De acordo com Marinoni e Mitidiero: A coisa julgada outorga proteção ao dispositivo da decisão de mérito transitada em julgado. Os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance da decisão, a versão dada pela sentença aos fatos, adotada como seu fundamento, e a apreciação de questão prejudicial, decidida incidentalmente no processo não fazem coisa julgada. (...) O direito brasileiro adotou a teoria restritiva dos limites objetivos da coisa julgada. A fundamentação da decisão, incluída aí a análise de questão prejudicial, e a versão dada aos fatos pelo órgão julgador não vinculam – não restam imutáveis e indiscutíveis em eventuais processos subsequentes. 73 Também merece ênfase a posição de Lenza, igualmente contrária à aplicação da ratio decidendi no controle difuso: (...) embora a tese da transcendência decorrente do controle difuso pareça bastante sedutora, relevante e eficaz, inclusive em termos de economia processual, de efetividade do processo, de celeridade processual (art. 5º, LXXVIII – Reforma do Judiciário) e de implementação do princípio da força normativa da Constituição (Konrad Hesse), afigura-se faltar, ao menos em sede de controle difuso, dispositivos e regras, sejam processuais, sejam constitucionais, para a sua implementação. 74 Essa parte da doutrina sustenta que já existe no sistema jurídico brasileiro um instituto capaz de alcançar esse objetivo, qual seja: a súmula vinculante. 70 NOVELINO, 2008. 71 ZAVASCKI, 2000, p.135. 72 MARINONI e MITIDIERO, 2010, p. 448. 73 MARINONI e MITIDIERO, 2010, p. 448. 74 LENZA, 2012, p 281, grifos no original. 14 No entanto, para aqueles que adotam a transcendência dos motivos da decisão, 75 a súmula seria completamente dispensável se houvesse consenso que a ratio decidendi extraída dos recursos extraordinários comporta efeito vinculante. Em que pese a grande divergência doutrinária sobre o tema, parece impossível negar a tendência do sistema jurídico brasileiro de acabar consolidando a teoria da transcendência. Essa tendência se nota, por exemplo, no parágrafo único, do art. 481, do CPC – incluído no ordenamento pela Lei n. 9.756 (de 17 de dezembro de 1998) – e na repercussão geral do recurso extraordinário (art. 543-A, CPC). 2.3.2 A repercussão geral A Lei n. 11.418/2006 acrescentou ao CPC o art. 543-A, com o intuito de limitar o conhecimento do RE somente às situações que tenham repercussão geral. A repercussão geral de uma demanda se traduz pela existência de questão relevante do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico, que ultrapassem os interesses subjetivos da causa (art. 543-A, parágrafo 1º). Nota-se o caráter subjetivo dos critérios que determinam a existência ou não de repercussão geral. Há uma vinculação horizontal, pois a ratio decidendi aplicada para a declaração de existência ou não de repercussão geral vincula o STF, que ficará obrigado a observá-la nos julgamentos futuros, a menos que se revise o posicionamento nos termos do RISTF. 76 A decisão que declara ou não a existência de repercussão geral é irrecorrível e em caso de indeferimento todos os casos semelhantes serão liminarmente indeferidos (art. 543, parágrafo 5º). Esse artigo traduz mais uma situação de mitigação dos efeitos tradicionais do controle difuso de constitucionalidade, uma vez que, a decisão que declara ou não a existência de repercussão geral à demanda levada ao STF acaba refletindo na esfera de direito de casos paradigmas, portanto, os efeitos da decisão se estendem para além da demanda individual, obtendo efeitos gerais. 75 MARINONI, 2011. 76 MARINONI e MITIDIERO, 2010. 15 De acordo com o parágrafo 2º, do referido artigo, o recorrente deve demonstrar a repercussão geral na preliminar do recurso. Se o recurso objetivar impugnar decisão que contrariou súmula ou jurisprudência dominante no STF haverá repercussão geral (art. 543-A, parágrafo 3º). Pode o relator admitir a participação de amicus curiae (art. 543-A, parágrafo 6º). O art. 543-C, caput, determina que em caso de multiplicidade de recursos que versem sobre a mesma matéria, o presidente do tribunal de origem admitirá recursos representativos – um ou mais – da questão e os encaminhará ao STJ, ficando os demais processos suspensos até a prolação da decisão pelo Superior Tribunal. 77 2.3.2 Considerações sobre o instituto da súmula vinculante Conforme já referido, parte da doutrina defende que a súmula vinculante é um instituto mais legitimado para conferir efeito erga omnes às decisões proferidas pelo STF no controle difuso de constitucionalidade, uma vez que sua característica é possuir efeitos gerais. Por isso, serão feitas algumas considerações sobre este instituto. A súmula vinculante ingressou no ordenamento jurídico pela Emenda Constitucional n. 45, de 2004, que acrescentou à CF o art. 103 A. 78 O quorum para aprovação de uma súmula vinculante – 2/3 (8 votos) dos membros do STF – é maior que o quorum exigido aos Tribunais para declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo – art. 97 da CF, maioria absoluta. Ademais, os efeitos da súmula vinculante são erga omnes, vinculando o Poder Judiciário e a administração pública direta e indireta, cabendo reclamação ao STF em caso de não aplicação ou aplicação indevida do texto sumular. 77 Cf. LENZA, 2012, p.283: Ainda, o autor esclarece que nos dois casos a lei ressalva a possibilidade de manifestação de amicus curiae e que “isso caracteriza mecanismo de legitimação da decisão”. p. 283 78 CF, 1988. 16 O STF pode rever ou até mesmo cancelar súmula vinculante, o procedimento para edição, revisão e cancelamento é tratado pela Lei n. 11.417, de 19 de dezembro de 2006. 79 As súmulas vinculantes decorrem de decisões proferidas inicialmente pela via difusa de constitucionalidade, 80 sua edição deve ser precedida de reiteradas decisões sobre matéria constitucional, para que haja “maturação da questão controvertida”.81 Posiciona-se Marinoni, no sentido de que a súmula vinculante somente se torna necessária quando a ratiodecidendi se mostra complexa e obscura. 82 Percebe-se que, de fato, há uma coerência na posição doutrinária que vê a súmula vinculante como meio mais autêntico para fazer imperar as decisões proferidas pelo STF em caráter difuso de constitucionalidade. Se o propósito do efeito erga omnes é garantir a segurança jurídica, a súmula realmente se mostra um instituto mais hábil, uma vez que decorre de um entendimento consolidado pelo STF depois de diversas decisões sobre a mesma matéria e sua edição requer a adesão de pelo menos 2/3 dos ministros do STF. 3 EFEITOS DAS DECISÕES PROFERIDAS PELO STF EM CONTROLE DIFUSO Na via difusa de constitucionalidade, o STF também já aplicou a teoria da transcendência dos motivos determinantes da decisão ou ratio decidendi. Portanto, serão analisados dois desses casos: “Mira Estrela” e “progressão do regime na lei dos crimes hediondos”. 83 O primeiro caso sob análise é o RE 197. 917/SP 84 , que trata de ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público Estadual de São Paulo, objetivando reduzir o número de vereadores do município de Mira Estrela, sustentando a inconstitucionalidade da respectiva Lei Orgânica (art. 6º, parágrafo único) por afronta à CF (art. 29, inciso IV, alínea “a”). O juiz a quo declarou a inconstitucionalidade e determinou a extinção dos mandatos que excediam à 79 BRASIL. Lei n. 11.417, de 19 de dezembro de 2006. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11417.htm Acesso em 20 de out. de 2013. 80 MENDES, COELHO e BRANCO, 2011. 81 MENDES, COELHO e BRANCO, 2011, p. 1006. 82 MARINONI, 2011, p. 85. 83 LENZA, 2012. 84 Vide nota n. 50. 17 determinação constitucional. O Município e a Câmara de Vereadores interpuseram apelação e o Tribunal acolheu o recurso. Em razão disso, a discussão foi até o STF, que declarou a inconstitucionalidade do dispositivo questionado, mas protelou os efeitos do julgado para o futuro, após o fim do mandato dos vereadores. No respeitante ao efeito temporal, verifica-se que o STF aplicou ao caso efeito ex nunc, argumentando que, do contrário, a segurança jurídica estaria em risco, uma vez que atingiria o legislativo vigente e que, excepcionalmente, em nome da prevalência do interesse público, a decisão – proferida pela via difusa – projetaria seus efeitos para o futuro.85 A modulação temporal dos efeitos tem previsão legal nos artigos 27 e 11, das Leis n. 9.868/99 e n. 9.882/99. Ocorre que, como já ressaltado neste trabalho (cap. II, seção 2.1), essas leis tratam de ações constitucionais processadas pela via abstrata de inconstitucionalidade, o que leva a crer que o STF está a aplicar os efeitos do controle abstrato mesmo nas ações processadas pela via difusa – adotando a abstrativização. Depois de o STF apreciar este caso pela via difusa, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aplicou para todos os municípios o entendimento adotado no caso do Município de Mira Estrela, emitindo a Resolução n. 21.702/04, a qual foi objeto das Ações Diretas de Inconstitucionalidade n. 3.345/05 e n.3.365/05, que foram julgadas improcedentes. O STF entendeu que a fundamentação do julgado que originou a Resolução do TSE transcendeu o caso concreto, sendo aplicável aos demais casos que tratem da mesma matéria, adotando a transcendência dos fundamentos da decisão. Nota-se essa tendência também na decisão da Corte proferida no Habeas Corpus 82.959, 86 oportunidade em que o STF entendeu ser a vedação à progressão de regime, no caso de crimes hediondos (prevista no art. 2º, parágrafo 1º, da Lei 8.072/90), inconstitucional. 85 STF, RE 197.917. 86 BRASIL, Supremo Tribunal Federal. HC 82959, Rel. Min. Marco Aurélio, Tribunal Pleno, julgado em 23/02/2006, DJ 01-09-2006. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28HC%24.SCLA.+E+82959.NUME.%2 9+OU+%28HC.ACMS.+ADJ2+82959.ACMS.%29&base=baseAcordaos&url=http://tinyurl.com/ayxgn8h Acesso em: 06 out. de 2013. 18 No entanto, como a decisão foi proferida pela via difusa de inconstitucionalidade teria – em tese – efeito ex tunc. Todavia, a corte acordou que, com relação às penas já extintas até a data do julgamento, a decisão não geraria efeito, ou seja, a decisão não retroagiria. É relevante citar o voto do Min. Gilmar Mendes, que neste julgado ressalta a importância de eventual revisão da jurisprudência da Corte dizendo que, por vezes, os casos postos a julgamento implicam em uma mudança de entendimento, ou em uma “mutação normativa ou evolução da interpretação”.87 O Ministro busca exemplificar essa situação no direito comparado, citando o caso Plessy v. Ferguson (1896) em que a Suprema Corte Americana entendeu que a separação entre brancos e negros, naquele caso, era legítima. Mais tarde (1954), todavia, essa orientação foi superada – caso Brown v. Boardof Education. Continuando sua fundamentação, cita outro precedente da Corte americana: Mapp v. Ohio (1961). Neste caso a Sra. Dobree foi condenada, em primeira instância, por portar material pornográfico, ocorre que os policiais entraram em sua residência – onde colheram os indícios que embasaram sua condenação – desprovidos de mandado judicial. A decisão foi até a Suprema Corte, que declarou que a regra que proibia o uso de provas obtidas por meios ilícitos nas cortes federais (baseada na quarta emenda) deveria se estender às cortes estaduais, tornando-se de força obrigatória a todos os Estados. 88 Esse entendimento foi confirmado, em 1965, no caso Linkletter v. Walter. No entanto, neste case, a Suprema Corte decidiu limitar os efeitos da decisão anterior, ou seja, decidiu por não aplicar o precedente do caso Mapp aos casos finalizados antes dele. 89 Nessa construção, Gilmar Mendes mostra a possibilidade de adequar os efeitos da decisão também no controle difuso e, inclusive, manifesta-se adepto a essa posição, votando pela concessão de efeito ex nunc no caso em apreço. 90 87 STF, HC 82959, DJ: 01-09-2006. 88 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. HC 82959, Rel. Min. Marco Aurélio, Tribunal Pleno, julgado em 23/02/2006, DJ 01-09-2006. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28HC%24.SCLA.+E+82959.NUME.%2 9+OU+%28HC.ACMS.+ADJ2+82959.ACMS.%29&base=baseAcordaos&url=http://tinyurl.com/ayxgn8h Acesso em: 06 out. de 2013. 89 STF, HC 82959. 90 STF, HC 82959. 19 3.1 O efeito erga omnes no controle difuso: uma questão ainda em discussão na Suprema Corte A Defensoria Pública da União interpôs Reclamação (Rcl. n. 4.335) contra ato praticado pelo Juiz da Vara de Execução Penal de Rio Branco/AC, que se negava a adotar o novo entendimento firmado pelo STF no HC 82.959, argumentando, para tanto, que o quorum que considerou a inconstitucionalidade da lei dos crimes hediondos, neste caso, foi apertado (6X5) e que a jurisprudência da Corte, por longos anos, se inclinou em sentido contrário. Além disso, o Juiz sustentou que a melhor doutrina considera que, na via difusa de constitucionalidade, os efeitos são inter partes e não vinculativos à decisão do STF, a menos que haja Resolução suspendendo a execução da lei inconstitucional. 91 O processo é de relatoria do Min. Gilmar Mendes, mas, até esta data, pende de julgamento. Todavia, alguns Ministros já manifestaram suas posições, dentre eles o próprio relator, que julgou procedente a reclamação. Na suafundamentação sustentou que, com o advento da Lei n. 9.882/99, alterou-se o entendimento sobre a divisão de poderes, tornando comum a eficácia geral das decisões do STF, que declaram a inconstitucionalidade de determinado ato normativo, mesmo na via difusa, tendo o SF somente a tarefa de publicar a decisão no Diário do Congresso. 92 O Min. Eros Grau, acompanhou o relator, entendendo que frente à mutação constitucional a atuação do SF (no controle difuso) se restringiu a publicar a decisão proferida pelo STF, que julga a inconstitucionalidade de uma lei (ou ato normativo), uma vez que a decisão goza de força normativa própria para suspender a execução da lei. 93 O Min. Sepúlveda Pertence julgou improcedente a reclamação, mas concedeu habeas corpus para que o juiz a quo examinasse os demais requisitos para a progressão de regime. Posicionou-se contra a tese do relator, argumentando que embora a coexistência dos sistemas difuso e o abstrato (desde a EC 16/65) tenha tornado a suspensão do SF cada vez mais 91 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Rcl. 4335 / AC. Rel. Min. Gilmar Mendes. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28Rcl%24.SCLA.+E+4335.NUME.%29 &base=baseMonocraticas&url=http://tinyurl.com/c4z34zg Acesso em: 06 out. de 2013 92 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Informativo n. 454/STF, de 1º e 2 de fevereiro de 2007. Disponível em: http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo454.htm Acesso em: 06 out. de 2013 93 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Informativo n. 463, de 16 a 20 de abril de 2007. Disponível em: http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo463.htm Acesso em: 06 out. de 2013 20 antiquada, não se pode combater esse dispositivo por meio mutação constitucional, entretanto, a eficácia geral das decisões do STF pode ser alcançada por meio da edição de súmula vinculante. 94 Já o Min. Joaquim Barbosa, também foi favorável à concessão da ordem de habeas corpus, mas não conheceu da reclamação. Para ele esse caso não se trata de mutação constitucional, ante a ausência de dois requisitos fundamentais: tempo suficiente para se verificar a mutação e, por consequência, o desuso do dispositivo constitucional. Ainda, segundo o Min., a atuação do SF no controle difuso de constitucionalidade não impede a atuação do STF, mas a complementa. Ademais, acompanhando o Min. Sepúlveda Pertence, sustentou a possibilidade de se editar súmula vinculante. 95 Por sua vez, o Min. Ricardo Lewandowski acompanhou o Min. Joaquim Barbosa e concedeu a ordem (habeas corpus) e também não conheceu da reclamação. Ressalta que embora a CF tenha dado ao STF, o poder de dar eficácia erga omnes e efeito vinculante, para algumas decisões, isso não significaria a perda de competências pelos demais Poderes. Alegou, ainda, que o art. 60, §4º, III, da CF confere status de cláusula pétrea à separação de Poderes, o que impede a criação de emenda e, por consequência, a mutação constitucional. Embora o Ministro tenha reconhecido a relevância das decisões proferidas pela Corte, defendeu que isso não modifica a interpretação do art. 52, X, da CF, e que o objetivo de dar eficácia geral às decisões proferidas em controle difuso pode ser alcançado pelas súmulas vinculantes. 96 Na presente data, o processo está aguardando o voto do Min. Teori Zavascki. Todavia, como já citado em trecho deste trabalho (cap. II, seção 2.3.1), a tendência é que ele acompanhe o voto do relator, uma vez que, em sua doutrina, é partidário da tese sustentada por Gilmar Mendes. Seja qual for a posição da Corte ao final do julgamento da reclamação, não há como se ignorar que a decisão tende a ser acirrada, pois até o momento há dois votos acolhendo a tese 94 STF, Informativo n. 463. 95 STF, Informativo n. 463. 96 BRASIL, Supremo Tribunal Federal. Informativo n. 706 de 13 a 17 de maio de 2013. Disponível em: http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo706.htm Acesso em: 06 out. de 2013 21 do relator (possivelmente três, se considerarmos a posição doutrinária de Teori Zavascki) e três desacolhendo. Ademais, pode-se entender que a questão ficou prejudicada depois da edição da Súmula Vinculante n. 26 97 o que afirmaria a legitimidade do instituto como meio de abstrativização. 3.2. Considerações gerais sobre a compatibilidade da modulação temporal e da eficácia erga omnes das decisões proferidas pelo STF na via difusa Cumpre analisar, sem grandes pretensões, se a modulação dos efeitos temporais se compatibiliza com sistema brasileiro. No sistema americano, berço do controle difuso, a Suprema Corte estadunidense, passou a entender que, mediante a análise concreta do caso, é possível a modulação temporal, uma vez que no Common Law as modificações de entendimento se dão por força de uma decisão. O nosso sistema, no entanto, é enraizado no Civil Law e necessita de disciplina legal, o que, conforme o entendimento de alguns autores, impossibilitaria a adoção da modulação dos efeitos. 98 Na decisão do caso Mira Estrela, o STF utilizou como base legal para a modulação temporal a Lei n. 9.868/99, que permite a limitação dos efeitos temporais em caráter de excepcionalidade. Embora a lei tenha uma intenção alinhada com os princípios constitucionais (da segurança jurídica e do interesse social), não há como negar que são dispositivos voltados para o controle abstrato. 97 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula Vinculante nº 26 – PSV 30 – Dje nº 35/2010 - Tribunal Pleno de 16/12/2009 – DJe nº 238, p. 1, em 23/12/2009 - DOU de 23/12/2009, p. 1. Progressão de Regime no Cumprimento de Pena por Crime Hediondo - Inconstitucionalidade - Requisitos do Benefício - Exame Criminológico: “Para efeito de progressão de regime no cumprimento de pena por crime hediondo, ou equiparado, o juízo da execução observará a inconstitucionalidade do art. 2º da Lei n. 8.072, de 25 de julho de 1990, sem prejuízo de avaliar se o condenado preenche, ou não, os requisitos objetivos e subjetivos do benefício, podendo determinar, para tal fim, de modo fundamentado, a realização de exame criminológico.” Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28%28sumula+vinculante+26%29%29+ E+S.FLSV.&base=baseSumulasVinculantes Acesso em 22 de out. de 2013. 98 LENZA, p. ex. 22 Portanto, ainda que não pareça absurda a ideia de modular os efeitos temporais também no controle difuso, se mostra evidente a carência de dispositivo legal que se preste a esta função. No que se refere à Rcl. n. 4.335, a primeira consideração é sobre o cabimento desta via para atacar a inobservância de decisão constitucional proferida pelo STF na via difusa de constitucionalidade. Se considerarmos que a decisão no controle difuso opera seus efeitos somente entre as partes, ela não alcançaria àqueles que não integraram os polos processuais do recurso extraordinário, de modo que a reclamação seria “incabível como meio jurídico para a impugnação de decisão de autoridade que contraria decisão proferida pelo STF em controle difuso”.99 O segundo ponto diz respeito à legitimidade do STF, à luz da separação de poderes, para sustentar que em decorrência de uma mutação constitucional a competência do SF se restringiu à mera publicação das decisões declaradas inconstitucionais pelo judiciário (STF). 100 Outra questão queimporta debater é a possibilidade de que todos os órgãos do Poder Judiciário apliquem a modulação dos efeitos temporais. Apesar de o STF ter se manifestado no sentido de que somente o plenário da Corte pode limitar os efeitos das decisões em controle difuso, não há embasamento legal para este entendimento, uma vez que, tradicionalmente, os Tribunais e juízes podem exercer o controle difuso, desse modo, em nome da segurança jurídica e do excepcional interesse social, poderiam modular os efeitos das decisões, já que, por se tratarem de princípios constitucionais, não há como restringir sua aplicação no controle difuso. Existem grandes desafios para que se implante, definitivamente, a eficácia erga omnes das decisões proferidas pelo STF, dentre eles a ausência de tradição histórica e de positivação constitucional. Além disso, seria necessária uma considerável modificação no sistema 99 PIÑEIRO, 2012, p. 194. 100 PIÑEIRO, 2012, p. 204. 23 jurídico, uma vez que uma alteração nesse sentido implicaria “reconhecer a alteração, inclusive, dos limites da coisa julgada, que, dessa forma, não abrangeriam somente a solução de litígio entre as partes, na medida em que a decisão vincularia indivíduos que sequer poderiam ter participado da relação processual originária”.101 Ademais, se a teoria da mutação for adotada pelo nosso sistema jurídico fica a dúvida do momento em que a decisão passara a ter eficácia geral. Atualmente, embora haja polêmica se a Resolução do SF tem eficácia ex tunc ou ex nunc, fato é que a partir da publicação o ato cuja execução foi suspensa não produzirá mais efeitos. 102 Com a mutação não haverá marco temporal definido, uma vez que as disposições expressas na Lei 9.868/99 parecem não se aplicar, por dois motivos: primeiro por se referir ao procedimento abstrato e, segundo, por encontrar limitação na redação do seu art. 28, que assegura publicidade somente para a parte dispositiva da decisão 103 , in verbis: “Dentro do prazo de dez dias após o trânsito em julgado da decisão, o STF fará publicar em seção especial do Diário da Justiça e do Diário Oficial da União a parte dispositiva do acórdão”.104 CONSIDERAÇÕES FINAIS O sistema de controle difuso, desde que foi adotado pelo nosso ordenamento jurídico sofre com a ausência de vinculação ao precedente. Intentando corrigir essa carência, incorporamos a competência do SF, para que as decisões que declarassem a inconstitucionalidade pela via difusa pudessem ter efeitos gerais. Mais tarde, passamos a adotar também o sistema abstrato de constitucionalidade, fazendo com que as deficiências do controle difuso de constitucionalidade fossem sentidas com mais intensidade, especialmente a partir de 1988. No controle abstrato, a decisão prolatada pelo STF tem efeito erga omnes, o que evita a burocracia de enviar ao Senado Federal a decisão para que ela possa ter eficácia geral. 101 PIÑEIRO, 2012. 102 PIÑEIRO, 2012, p. 213/214. 103 PIÑEIRO, 2012. 104 BRASIL, Lei n. 9.868, de 10 de novembro de 1999. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9868.htm Acesso em: 10 de out. de 2013. 24 Portanto, do ponto de vista da celeridade processual, da segurança e da igualdade jurídica, o sistema abstrato se mostra mais avançado, de modo que, nada mais que natural o STF e parte da doutrina entenderem arcaicas e ineficazes muitas das peculiaridades do controle difuso. Ademais, a inserção do parágrafo único ao art. 481 (CPC), que passou a vedar a remessa de questão constitucional ao plenário do respectivo Tribunal quando este já tiver se manifestado sobre a matéria ou quando houver decisão do Pleno do STF, trouxe para o controle difuso o caráter erga omnes das decisões proferidas pelo STF. Nota-se, aqui, a tendência de vinculação ao precedente, tal qual ocorre no direito americano. Outra tendência que este parágrafo revela, além da abstrativização dos efeitos, é a adoção da teoria dos motivos determinantes da sentença, pois se a decisão em controle difuso vincula os demais Tribunais, na apreciação da matéria o julgador terá que buscar nos motivos que fundamentaram a decisão do STF a adequação, ou não, ao caso trazido na demanda particular. Em análise a alguns julgados do STF, ficou bastante nítida a tendência de combinar os efeitos do sistema abstrato com o sistema difuso, transparecendo, inclusive, uma certa empolgação da Corte com a função de Tribunal Constitucional que lhe foi concedida pelo controle abstrato. Em razão disso, tem sustentado que a competência do Senado para suspender a execução de leis declaradas inconstitucionais é obsoleta e estaria superada, tendo as decisões da corte, seja em controle difuso ou abstrato, eficácia geral independente da edição de resolução. Todavia, parece que com o intuito de garantir efetividade aos direitos e garantias fundamentais, por meio do efeito erga omnes e da modulação temporal de suas decisões (tanto da via difusa quanto na via abstrata) o STF talvez esteja invadindo a competência do legislativo e infringindo a própria separação de poderes. A questão da competência do SF no controle difuso foi levada ao STF por meio da Rcl. 4.335, mais ainda pende de julgamento. Todavia, sobram questionamentos quanto a legitimidade do entendimento que vem sendo adotado, com relação à abstrativização. 25 Embora não se possa negar que existem muitos institutos ultrapassados que obstruem uma prestação jurisdicional efetiva e mesmo quem defende a permanência do art. 52, X, da CF, reconheça que ele está obsoleto 105 fato é que não há diploma legal que permita o afastamento dessa prerrogativa do SF. Diante disso, conclui-se com esta pesquisa que as teorias da abstrativização e da transcendência dos motivos determinantes da sentença são bastante sedutoras e talvez possam agregar valor ao ordenamento jurídico brasileiro. No entanto, elas precisam ser amadurecidas até que possam ser legitimadas por EC, pois a Constituição não pode se furtar de positivar em seu próprio texto as mudanças relativas ao controle de constitucionalidade. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Vânia Hack de. Controle de Constitucionalidade. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2005. AMARAL JÙNIOR, José Levi Mello do. Incidente de Arguição de Inconstitucionalidade: comentários ao art. 97 da Constituição e os arts. 480 a 482 do Código de Processo Civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012. APPIO, Eduardo. Controle Difuso de Constitucionalidade: modulação dos efeitos, uniformização de jurisprudência e coisa julgada. Curitiba: Juruá, 2010. AZAMBUJA NETO, Mário. Controle de Constitucionalidade de Leis Penais e Reserva de Plenário. 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