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DEFINIÇÃO A relação entre o direito fundamental à liberdade de ir e vir e o Estado Democrático de Direito, problematizando a possibilidade de sua limitação; a caracterização do direito fundamental à liberdade de expressão e à igualdade no contexto do direito à diferença; as garantias do processo constitucional democrático e os desafios quanto à possibilidade de restrição. PROPÓSITO Compreender e analisar os fundamentos do direito à liberdade de ir e vir, à liberdade de expressão e à igualdade como garantias constitucionais do processo no Estado Democrático de Direito e ter capacidade de problematizar as possíveis limitações a esses direitos, especialmente em tempos de pandemia. PREPARAÇÃO Ao iniciar o estudo do conteúdo aqui proposto, é importante que você tenha em mãos a Constituição brasileira de 1988. OBJETIVOS MÓDULO 1 Reconhecer o direito fundamental à liberdade de ir e vir e a possibilidade de sua legítima limitação em casos de pandemia MÓDULO 2 Identificar possíveis limitações ao direito fundamental à liberdade de expressão MÓDULO 3 Descrever as limitações às garantias constitucionais do processo INTRODUÇÃO Neste tema, vamos estudar a importância do direito fundamental à liberdade de ir e vir no Estado Democrático de Direito, evidenciando sua relação com outros direitos fundamentais a ele correlatos. Também iremos analisar e problematizar a restrição dessas liberdades constitucionalmente estabelecidas, principalmente no contexto de pandemia. Ainda estudaremos o direito fundamental à liberdade de expressão, destacando que a efetividade normativa deste direito passa pelo entendimento da igualdade como decorrência do direito à diferença para, então, verificarmos se é ou não legítima alguma restrição quanto ao exercício desses direitos. Ao final, examinaremos o modelo de processo constitucional democrático, destacando as garantias constitucionais e questionando sobre a possibilidade de eventuais limitações dessas garantias no Estado Democrático de Direito. MÓDULO 1 Reconhecer o direito fundamental à liberdade de ir e vir e a possibilidade de sua legítima limitação em casos de pandemia O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO A democracia é um regime político expressamente previsto no texto da Constituição Federal (CF) de 1988 que, em seu artigo 1º, parágrafo único, estabelece que a República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito, tendo entre seus fundamentos a cidadania, a dignidade humana e a soberania popular. ARTIGO 1º, PARÁGRAFO ÚNICO O artigo 1º, parágrafo único, diz que todo poder emana do povo, que o exerce por meio de seus representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituição. javascript:void(0) Protesto em frente a câmara dos vereadores no Rio de Janeiro. A participação popular na tomada de decisões estatais e o direito de os cidadãos fiscalizarem os atos praticados pelos gestores públicos constituem um dos pilares do Estado Democrático de Direito. Assim, a democracia deve ser considerada um princípio confirmado nos atuais ordenamentos constitucionais que se constitui em fonte de legitimação do exercício do poder e que tem sua origem no povo. Nesse sentido, a democracia é mais do que a forma atual de Estado e de governo. (DIAS, 2010, p. 58- 59). A democracia implica a participação do povo, o que dá legitimidade à ação do Estado nas esferas legislativa, administrativa e judicial, conforme o que estabelece o parágrafo único do artigo 1º da CF (FREITAS, 2014, p. 10). O PRINCÍPIO DA VINCULAÇÃO AO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO EXPRIME-SE, TAMBÉM, PELO PRINCÍPIO DA RESERVA LEGAL OU PRINCÍPIO DA PREVALÊNCIA DA LEI, ESTE COM RECEPÇÃO EXPLÍCITA NO TEXTO CONSTITUCIONAL, POIS SOLENEMENTE DECLARADO NO ELENCO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DO POVO. (DIAS, 2010, p. 118) No Estado Democrático de Direito, os paradigmas tradicionais precisam ser superados pelas demandas por transformações sociais e realização efetiva da justiça social, tal como estabelecido pelos princípios constitucionais (SOARES, 2000, p. 111). O pressuposto básico de um Estado Democrático de Direito é que os sujeitos do diálogo estejam no mesmo plano jurídico de argumentação e debate, uma vez que o Estado, ao se colocar em posição superior a esses sujeitos e impor soberanamente sua decisão, compromete evidentemente a legitimidade democrática dos provimentos estatais (COSTA, 2016, p. 30). A legitimidade jurídica de todos os atos praticados numa sociedade democrática deve pressupor o direito de seus destinatários poderem participar dialogicamente dos parâmetros utilizados na construção do provimento estatal. O debate jurídico, na perspectiva democrática, pressupõe a superação da visão individualista na forma de ver, ler e compreender os direitos, considerando-se que a autonomia política do cidadão diante dos interesses econômicos, políticos, sociais, midiáticos e ideológicos é fundamental para a participação popular racional na construção das decisões de interesse da coletividade. Assim, o pensamento democrático liga-se estreitamente aos ideais de participação popular, consequência do exercício da cidadania que, por sua vez, apenas é viabilizado por meio do processo constitucional (COSTA, 2019, p. 24). A dialogicidade dos sujeitos direta ou indiretamente interessados na construção das decisões de interesse da coletividade é fundamental para assegurar a participação popular, elemento essencial da legitimidade jurídica no Estado Democrático de Direito. É por isso que o princípio democrático precisa ser compreendido como algo em constante transformação, uma vez que é resultado de uma sociedade aberta e ativa, não se limitando a um conceito estático. A democracia é vista como um regime político que: PERMITE AOS CIDADÃOS O SEU DESENVOLVIMENTO MEDIANTE A LIBERDADE DE PARTICIPAÇÃO NOS PROCESSOS POLÍTICOS, ECONÔMICOS E SOCIAIS EM CONSONÂNCIA COM O ESTABELECIMENTO DE UMA SOCIEDADE LIVRE, JUSTA E SOLIDÁRIA, SEGUNDO OS DITAMES DA CONSTITUIÇÃO. (FERREIRA, 2016, p. 36) Assim, a dignidade humana representa, simbolicamente, a despatrimonialização do direito, colocando como eixo central do ordenamento constitucional brasileiro a proteção ampla e integral da pessoa humana. DIGNIDADE HUMANA A dignidade humana deve ser compreendida com base em sua relacionação com o autorrespeito, como pensamento segundo o qual "qualquer vida é importante e tem o mesmo valor e a autenticidade relacionada à ideia segundo a qual cabe a cada ser humano desenvolver livremente seus projetos de felicidade". Assim, sem que as condições mínimas de sobrevivência e subsistência, ou seja, o mínimo existencial, sejam garantidas, não será possível atribuir valor igual a toda vida humana, o que se constitui em dimensão central do autorrespeito (OMMATI, 2018, p. 23). Com base no princípio aqui apresentado, é possível reconhecer a igualdade dos sujeitos quanto ao exercício dos direitos fundamentais previstos constitucionalmente. A LIBERDADE TEM DE SER INDISSOCIADA DA DIGNIDADE HUMANA, POIS SÃO INTEGRANTES DO NÚCLEO PRIMORDIAL DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988, ALÇANDO A PRIMEIRA POSIÇÃO DE PROEMINÊNCIA EM javascript:void(0) RELAÇÃO ÀS DEMAIS NORMAS VALORATIVAS, PARTICULARMENTE NO QUE SE REFERE À UTILIZAÇÃO COMO CRITÉRIO DE INTERPRETAÇÃO DAS RESTANTES. (VIEIRA, 2014, p. 122-123) LIBERDADE DE IR E VIR O valor da liberdade ganha mais projeção ao se inserir na dimensão da consciência e da crença individual, e em seus componentes lógicos, a saber, a "liberdade de expressão e a autodeterminação do indivíduo para fazer as escolhas existenciais" (VIEIRA, 2014, p. 123). O reconhecimento de direitos de liberdade do indivíduo decorre necessariamente do direito de os indivíduos serem tratados como iguais ou com respeito e consideração iguais. Desse modo, o igual respeito e consideração conduz, necessariamente, a liberdades iguais para todos osindivíduos (OMMATI, 2018, p. 65). Isso quer dizer que o direito à liberdade é assegurado a todo cidadão, desde seu nascimento, reflexo direto da autodeterminação e autonomia privada. ATENÇÃO O exercício do direito à liberdade não garante, no entanto, o direito de fazer o que se quer sem qualquer restrição, haja vista que "liberdade implica necessariamente o direito de tomar decisão com responsabilidade, ligando-se, portanto, com o igual respeito e consideração" (OMMATI, 2018, p. 65). A privação da liberdade é medida excepcional e admitida apenas quando houver processo judicial em que se assegura ao acusado o direito efetivo à defesa. PRIVAÇÃO DA LIBERDADE O texto da Constituição brasileira de 1988, Art. 5º, LIV, é claro ao estabelecer que ninguém será privado de sua liberdade sem o devido processo legal. A observância do rito processual adequado é medida exigida para assegurar a legalidade de eventual decisão judicial que priva a liberdade de um cidadão, além da obrigatoriedade de assegurar a participação do acusado na formação participada do mérito processual, requisito esse indispensável à legitimidade democrática do provimento final. Todo cidadão goza constitucionalmente do estado de inocência, cabendo ao Estado desconstituir essa presunção de não culpabilidade para, então, possibilitar eventual privação de liberdade, conforme Art. 5°, LVII, CF: ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória. javascript:void(0) O ius puniendi e a privação de liberdade somente são possíveis mediante medida judicial excepcional que limita o direito fundamental de ir e vir, motivo esse que justifica a observância criteriosa do devido processo legal. IUS PUNIENDI direito de punir do Estado. A eventual privação de liberdade, contrariamente aos princípios constitucionais do processo (contraditório, ampla defesa e devido processo legal), acarretará o cerceamento de defesa e a ilicitude da prisão, reflexos de error in procedendo no âmbito do processo judicial autocrático. IN PROCEDENDO um ou mais vícios processuais que colocam o acusado em posição de desigualdade processual perante o Ministério Público, configurando-se evidente cerceamento de defesa. javascript:void(0) javascript:void(0) Nesse sentido, somente será admissível a limitação ou restrição temporária do direito de ir e vir quando efetivamente ficar comprovada a culpabilidade do agente, além de a norma prever de maneira prévia e expressa a possibilidade de aplicabilidade da pena privativa de liberdade. O texto constitucional ainda prevê a vedação de pena de caráter perpétuo, deixando mais evidente a dimensão constitucional e humana do direito fundamental à liberdade de locomoção, pressuposto básico ao exercício dos demais direitos humanos previstos no ordenamento jurídico brasileiro. OS DIREITOS FUNDAMENTAIS Os direitos fundamentais correspondem à constitucionalização de Direitos Humanos que desfrutaram de elevada justificação ao longo da história dos discursos morais, sendo, desse modo, entendidos como condições para que os demais direitos sejam construídos e exercidos plenamente (GALUPPO, 2003, p. 233). DIREITOS FUNDAMENTAIS javascript:void(0) Assim, os direitos fundamentais "são concebidos como direitos subjetivos de liberdade pertinentes ao titular perante o Estado, e, simultaneamente, como normas objetivas de princípios [...] e decisões axiológicas [...] que possuem validade para todos os âmbitos jurídicos" (SOARES, 2000, 111). Dessa forma, é possível afirmar que a democracia institui os direitos fundamentais, no entanto, "uma vez criados, tornam-se instrumentos que garantem a legitimidade moral do regime democrático" (MELLO, 2004, p. 151). O balizamento jurídico-constitucional central de uma sociedade democrática está nos direitos fundamentais, que são critérios de interpretação e valores superiores da ordem constitucional e jurídica. VOCÊ SABIA O conceito de que os direitos fundamentais fazem parte de um sistema na dimensão da Constituição foi recentemente referido na doutrina pátria, tendo como base o argumento de que os direitos fundamentais são, de fato, "a concretização do princípio fundamental da pessoa humana, consagrado expressamente na Lei Fundamental" (SARLET, 2004, p. 77, 81). Assim, atualmente, em nossa sociedade, os direitos fundamentais têm crescente importância na construção de uma sociedade mais livre e igual, na qual os valores ligados à preservação da vida e da dignidade da pessoa humana se constituem em fundamento de uma comunidade (FABRIZ, 2009, p. 155). RESTRIÇÃO DA LIBERDADE DE IR E VIR EM TEMPOS DE PANDEMIA Diante de todas as proposições teóricas apresentadas até aqui, torna-se relevante a seguinte indagação: Trata-se do direito que assegura a dignidade humana, conferindo a cada pessoa a possibilidade de autodeterminação de acordo com seus anseios e objetivos. ATENÇÃO O Estado não pode intervir arbitrariamente na liberdade de escolha das pessoas, salvo se tais escolhas esbarrarem no interesse coletivo ou nos direitos de outras pessoas, admitindo-se a responsabilidade jurídica (civil e criminal) em decorrência de eventuais abusos comprovados. A constitucionalização do direito fundamental à liberdade de ir e vir permite concluir que esse direito é um desdobramento interpretativo da presunção de inocência, ressaltando-se que a privação da liberdade somente se torna juridicamente viável mediante a observância do devido processo legal. Numa sociedade onde os indivíduos são considerados constitucionalmente livres, assegura-se, também, a igualdade no que tange ao exercício dos demais direitos fundamentais previstos no plano constituinte. Documento Plano de Contingência Nacional para Infecção Humana pelo novo Coronavírus. Excepcionalmente, em tempos de pandemia, o Estado tem legitimidade constitucional para limitar o direito individual de liberdade de locomoção (ir e vir), haja vista o interesse coletivo de proteger a saúde pública e, assim, evitar a proliferação de doenças que podem atingir a dignidade humana das pessoas. Torna-se importante esclarecer que a intervenção estatal em relação à limitação temporária do direito de ir e vir em tempos de pandemia é constitucionalmente admitida, pois essa é uma das estratégias para garantir a proteção jurídica do interesse público. Vamos entender mais sobre esse assunto e aprofundar os nossos conhecimentos com o Professor Doutor Fabrício Veiga Costa: Neste vídeo, você verá uma breve síntese sobre o Direito Fundamental à Liberdade de Ir e Vir. VERIFICANDO O APRENDIZADO MÓDULO 2 Identificar possíveis limitações ao direito fundamental à liberdade de expressão DIREITO FUNDAMENTAL À LIBERDADE DE EXPRESSÃO A liberdade é um direito que foi construído e conquistado após muitas lutas travadas nos mais diversos períodos da história. Ser livre é reconhecer juridicamente a capacidade de autodeterminação conferida a cada sujeito, corolário da dignidade humana e imprescindível ao reconhecimento da igualdade. O texto da CF é claro ao sistematizar nos seus mais diversos pontos o direito à liberdade. Desde o preâmbulo, o legislador constituinte reconheceu a instituição do Estado Democrático de Direito, estabelecendo como um de seus pilares o exercício da liberdade, visto como valor supremo da sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida com a ordem interna e internacional. PREÂMBULO "Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias,promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL." PLURALISTA O pluralismo político, previsto no artigo 1°, inciso V do texto constitucional, é mero desdobramento interpretativo do entendimento sistemático e integrativo do direito fundamental à liberdade. O caput do javascript:void(0) javascript:void(0) artigo 5° prevê a igualdade perante a lei, garantindo a brasileiros e estrangeiros residentes no Brasil a inviolabilidade do direito à vida, liberdade, igualdade, segurança e propriedade. No inciso VI, do artigo 5°, encontra-se a inviolabilidade da liberdade de consciência e crença, assegurando-se a proteção dos locais de cultos e de suas liturgias. A liberdade de expressão está prevista no inciso IX, do artigo 5° da Constituição democrática, ao preestabelecer a livre expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença. O texto constitucional garante, ainda, a plena liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar (inciso XVII, artigo 5°); a punição legal de qualquer discriminação atentatória aos direitos e liberdades fundamentais (inciso XLI, artigo 5°); a manifestação de pensamento, criação, expressão e informação (artigo 220, caput), proibindo a aprovação de leis que objetivem constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social. A liberdade de pensamento "é o direito de exprimir, por qualquer forma, o que se pense em ciência, religião, arte, ou o que for", ou seja, "trata-se de liberdade de conteúdo intelectual e supõe o contato do indivíduo com seus semelhantes, pelo qual o homem tenda, por exemplo, a participar a outros suas crenças, seus conhecimentos, sua concepção de mundo, suas opiniões políticas ou religiosas, seus trabalhos científicos" (SILVA, 2002, p. 240). Reconhecer a liberdade de pensamento como uma das estruturas da constitucionalidade democrática é legitimar juridicamente a autodeterminação do sujeito, a autonomia privada como elemento fundamental para sua dignidade e reconhecimento como pessoa. "A LIBERDADE DE EXPRESSÃO E DE MANIFESTAÇÃO DE PENSAMENTO NÃO PODE SOFRER NENHUM TIPO DE LIMITAÇÃO PRÉVIA, NO TOCANTE À CENSURA DE NATUREZA POLÍTICA, IDEOLÓGICA E ARTÍSTICA" (MORAES, 2004, P. 80), POIS "A CENSURA PRÉVIA SIGNIFICA O CONTROLE, O EXAME, A NECESSIDADE DE PERMISSÃO A QUE SE SUBMETE, PREVIAMENTE E COM CARÁTER VINCULATIVO, QUALQUER TEXTO OU PROGRAMA QUE PRETENDE SER EXIBIDO AO PÚBLICO EM GERAL" (MORAES, 2004, P. 81). LIBERDADE DE EXPRESSÃO X CENSURA Censurar é o mesmo que limitar o exercício democrático da liberdade de expressão, numa tentativa de calar vozes dissidentes que buscam, muitas vezes, opor-se às estruturas sociais que naturalizam a desigualdade, a discriminação e a indignidade. O ato de censura constitui um atentado ao modelo jurídico que preconiza o direito de fala, a autonomia de gestão conferida a cada sujeito de se expressar conforme suas convicções, vontades, comportamentos, gestos e meios próprios de enxergar-se e compreender socialmente o locus onde se encontra inserido. Protesto contra a censura. É nesse contexto que se vislumbram a importância e a dimensão da liberdade de expressão, no seu mais amplo sentido, na perspectiva sistemático-integrativa de reconhecimento do outro (coletivo ou individual) como igual no que tange ao exercício de todos os direitos fundamentais previstos no plano constitucional e infraconstitucional. "O CARÁTER PREVENTIVO E VINCULANTE É O TRAÇO MARCANTE DA CENSURA PRÉVIA, SENDO A RESTRIÇÃO À LIVRE MANIFESTAÇÃO DE PENSAMENTO SUA FINALIDADE ANTIDEMOCRÁTICA". (MORAES, 2004, p. 81) "A liberdade de expressão de pensamento é tida por uma das mais importantes", haja vista que "a livre comunicação dos pensamentos e das opiniões é um dos direitos mais preciosos do homem; todo cidadão pode, pois, falar, escrever, exprimir-se livremente, sujeito a responder pelo abuso desta liberdade nos casos determinados pela lei" (BASTOS, 1998, p. 187). ATENÇÃO A liberdade não pode ser vista, no entanto, como um direito absoluto, já que seu exercício abusivo terá como consequência responsabilidades no campo cível e/ou penal. Deve-se pensar o gozo da liberdade de expressão num contexto democraticamente legítimo: ser livre é respeitar o outro, reconhecendo-o como igual e digno quanto ao pleno exercício de todos os direitos fundamentais previstos constitucionalmente. Quando o exercício da liberdade individual esbarra em direitos fundamentais alheios (individuais e/ou coletivos), tal exercício se torna ilegítimo, devendo o agente reparar eventuais danos como forma de restabelecer o status quo ante ou compensar monetariamente os prejuízos de ordem material e/ou moral causados. "A LIBERDADE DE EXPRESSÃO DEVE, PORTANTO, SER CONSIDERADA COMO IMPORTANTE COMPONENTE E INSTRUMENTO DE AUTODETERMINAÇÃO". (FIGUEIREDO, 2020, p. 31) AUTODETERMINAÇÃO A autodeterminação é a autonomia reconhecida a cada sujeito de fazer escolhas que não ocasionem violação de direitos de terceiros. DIREITO DE FALA E EXPRESSÃO O direito de fala e de expressão no Estado Democrático de Direito não inclui a reprodução do discurso de ódio contra minorias socialmente vulnerabilizadas (minorias sexuais; pessoas em situação de rua; negros; imigrantes; refugiados); significa que o direito de se expressar não comporta a possibilidade de dizer o que bem entende, sem o cuidado quanto aos desdobramentos do conteúdo da própria fala. javascript:void(0) EXEMPLO Toda pessoa tem o direito de se expressar em redes sociais, mas esse direito não inclui a possibilidade de ofender os outros, seja no âmbito individual ou coletivo. Postagens racistas, misóginas, homofóbicas, machistas, transfóbicas e que estimulam a violência no seu mais amplo espectro (físico, moral, psicológico) são formas de exercer abusivamente o direito fundamental à liberdade de expressão e, por isso, têm consequências jurídicas tanto na perspectiva cível (reparação civil) quanto penal (aplicabilidade de pena prevista em lei). É nesse contexto propositivo que se verifica a proibição legal do discurso de ódio, que se concretiza nos atos de violências praticados pela fala e pelo abuso do direito de expressão, seja de maneira presencial ou por intermédio de instrumentos digitais, como a internet. A liberdade individual dá ao indivíduo a possibilidade de desenvolver seu potencial integralmente, controlar seu próprio destino e ter influência sobre as decisões coletivas. Isto pode ser sustentado pelo argumento que considera a autonomia individual com base no pressuposto de que, se os indivíduos não gozarem do direito de minimamente fazer escolhas por si mesmos, eles deixam de ser realmente indivíduos. Também se considera que a liberdade de expressão é desdobramento de o discurso ser, efetivamente, uma concretização da liberdade individual (FIGUEIREDO, 2020, p. 31). A legitimidade quanto ao exercício do direito fundamental à liberdade de expressão é, além de um ato democrático, a possibilidade conferida constitucionalmente que permite o direito à livre manifestação de pensamento, seja na perspectiva científica, religiosa, de crenças ou de concepções decorrentes dos aspectos subjetivos que marcam a individualidade de cada pessoa. A LIBERDADE ESTÁ MUITO MAIS NA AÇÃO DO QUE APENAS NO PENSAR OU NO LEGISLAR, É DIZER, NO QUERER DE QUEM FAZ A LEI OU DO PODER POLÍTICO", CONSIDERANDO-SE QUE "QUANDO SE DIZ LIBERDADE DE EXPRESSÃO, NÃO SE DEVE PENSAR SOMENTE NA QUESTÃO IDEOLÓGICA, MAS PRINCIPALMENTE NA PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE, NA ELABORAÇÃO DAS LEIS E NA SUA APLICAÇÃO. (TALLARICO; GOLINI, 2017, p. 30) LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PARTICIPAÇÃO POPULAR Outro desdobramento teórico que permite o exercício democrático do direito fundamental à liberdade de expressão está no direito de participação popular, na soberania popular, na possibilidade de a coletividadeser parte integrante na prática e fiscalidade dos atos praticados pelos agentes públicos. Significa dizer que todos os provimentos estatais, seja no âmbito legislativo, executivo ou judicial, quando regidos pelo princípio da publicidade e impessoalidade, autorizam o direito de seus destinatários serem coautores, possibilitando a direta participação para controlar a legalidade de tais atos, além de conferir-lhes democraticidade. População indígena no planalto. Ao estudar o processo legislativo no Estado Democrático de Direito, compreendemos que a população e a sociedade civil podem ser autoras de propostas legislativas, mediante a iniciativa popular. Veja: ARTIGO 14, INCISO III O artigo 14, inciso III do texto da Constituição brasileira de 1988, estabelece que a soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante iniciativa popular. ARTIGO 27, PARÁGRAFO 4º O artigo 27, parágrafo 4 do texto constitucional vigente, prevê que a lei disporá sobre a iniciativa popular no processo legislativo estadual. ARTIGO 29, INCISO XIII O artigo 29, inciso XIII, prevê que os municípios são regidos pela lei orgânica, devendo ser assegurado o direito à iniciativa popular de projetos de lei de interesse municipal específico ou de bairros, através da manifestação de, pelo menos, cinco por cento do eleitorado. ARTIGO 61, PARÁGRAFO 2° O artigo 61, parágrafo 2° do texto constitucional, prevê que a iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído em pelo menos cinco estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles. Esses dispositivos materializam a possibilidade efetiva de exercício do direito à liberdade, corolário da participação na formação discursiva dos provimentos legislativos. No mesmo sentido, temos o direito de os destinatários finais dos provimentos jurisdicionais serem seus coautores, como é o caso, por exemplo, do processo coletivo cujas demandas de cunho metaindividual têm o poder de atingir toda a coletividade, permitindo-se, assim, que esses sujeitos afetados pelos efeitos dessas decisões possam participar discursivamente da sua construção, requisito essencial para assegurar sua democraticidade. ATENÇÃO Na seara do Poder Executivo, o direito à liberdade de expressão, como desdobramento do direito à participação popular, permite que todo cidadão possa fiscalizar a legalidade e a moralidade administrativa dos atos praticados pelos gestores públicos, como é o caso, por exemplo, dos processos licitatórios, abertos como requisito para a seleção de pessoas habilitadas a contratar com o poder público. LIBERDADE DE EXPRESSÃO E O DIREITO À IGUALDADE E À DIFERENÇA O estudo crítico do direito fundamental à liberdade de expressão no Estado Democrático exige, inicialmente, a análise do direito à igualdade no contexto das diferenças que marcam o pluralismo e a diversidade da sociedade contemporânea. O direito fundamental à igualdade pressupõe o reconhecimento de todas as pessoas no âmbito de suas individualidades. Ao direito democrático cabe a responsabilidade de proteger todos os cidadãos indiscriminadamente, não se admitindo que a ciência jurídica seja utilizada como parâmetro para discriminar, excluir e marginalizar pessoas. Multiculturalismo. Nesse cenário, o direito à diferença ressalta a necessidade de reconhecimento das diferentes identidades dos indivíduos, e o alcance do direito à igualdade traz em si a premissa de não discriminação ao que é diferente. Ser livre é ter protegido o igual direito de ser diferente no contexto plural das diversidades sociais. A violação dos direitos fundamentais ocorre em grande medida pela dificuldade de reconhecer o outro em sua diferença e pelo temor ao diferente, que gera a dicotomia eu X outro, faz com que o distinto seja motivo para diminuir o outro em seus direitos e dignidade. O direito à diferença é corolário do direito fundamental à igualdade. Ou seja, não é juridicamente viável, sob o ponto de vista democrático, utilizar- se da norma jurídica para discriminar e segregar pessoas, justificando tal tratamento com base no cognominado direito à diferença. COMENTÁRIO Pensar o direito à igualdade numa sociedade plural e marcada pela diversidade é um meio de assegurar visibilidade, dignidade, liberdade e inclusão de todas as pessoas, para que não sejam discriminadas e excluídas em razão de suas escolhas realizadas no âmbito da subjetividade situada. As proposições jurídicas trazidas pela modernidade baseiam-se na homogeneização de pessoas e padrões de condutas, ignorando a diversidade como característica ínsita da sociedade plural e globalizada. Aqueles sujeitos que destoam dos padrões pasteurizados e ideologizados pelas ciências são patologizados ou passam a integrar o rol das condutas consideradas criminosas pela ciência do direito. A criminalização da mendicância, a patologização da homossexualidade e da transexualidade são alguns exemplos que ilustram com clareza que as ciências médicas e jurídicas são recintos utilizados para a segregação daqueles que fogem aos padrões binários e capitalistas decorrentes de máximas generalizantes impostas institucionalmente. Assim, legitima-se a violação institucionalizada do direito fundamental à liberdade de expressão, pois esses sujeitos, que deixam de corresponder às máximas generalizantes imposta por padrões homogêneos, são excluídos e colocados em posição jurídico-estrutural de desigualdade perante os demais, pelo simples fato de não poderem ser livres em suas escolhas pessoais. É nesse contexto propositivo que pessoas são segregadas e violadas no direito constitucional de serem livres, seja em razão da inadequação aos padrões homogêneos e universais, seja em virtude da naturalização da invisibilidade desses sujeitos. A igualdade formal e material proposta pelas legislações constitui um mecanismo que objetiva amenizar os impactos dessas desigualdades estruturais que acometem os sujeitos excluídos ao longo da história pelas instituições (família, sociedade, religiões, Judiciário, Legislativo, Executivo), proporcionando condições fático-jurídico-legais de assegurar a liberdade como corolário da dignidade humana. IGUALDADE FORMAL A igualdade formal é a que garante idêntico tratamento a todos perante a lei. IGUALDADE MATERIAL Já a igualdade material leva em consideração as diferenças, de modo a possibilitar o tratamento desigual àqueles que estão em situações desiguais. A dignidade humana emerge como fundamento da República Federativa do Brasil, expressamente mencionada no artigo 1° da Constituição brasileira de 1988, para despatrimonializar a forma de compreender a ciência do direito, colocando a pessoa humana como centro da proteção jurídica de todo o ordenamento legal e constitucional. A ampla proteção integral da pessoa humana exige o respeito à diferença, o reconhecimento do outro como igual no que tange ao acesso aos direitos civis, além da vedação de qualquer tipo de discriminação ou preconceito que venham reproduzir o modelo institucionalizado de segregação daquelas pessoas que fogem aos padrões homogêneos impostos pelos ideais individualistas e patrimonialistas reproduzidos pela modernidade. Assim, com a exaltação da dignidade humana, o direito à diferença encontra-se amparado pela perspectiva universalista que considera o ser humano como destinatário final da tutela jurídica, de modo que o respeito à sua individualidade e realização é observado como desdobramentos lógicos da concretização do direito fundamental à liberdade de expressão. O direito à diferença se traduz, enfim, em uma luta pelo reconhecimento das classes minoritárias da sociedade que, na dicotomia eu x outros, constantemente são prejudicadas. Apenas o decreto de igualdade de todos perantea lei não é suficiente para garantir a possibilidade de realização do reconhecimento pleno desse direito na vida social (BITTAR, 2009, p. 553). A simples letra fria do texto legal é insuficiente para corrigir as desigualdades estruturais e, assim, permitir aos cidadãos o direito digno de serem livres em suas diferentes formas de ver, ler e compreender o mundo. PODEMOS NOTAR, ENTÃO, QUE O EQUILÍBRIO DAS RELAÇÕES HUMANAS NÃO É SUPRIDO PELA IDEIA DE IGUALDADE, MAS SIM PELO RECONHECIMENTO DA DIVERSIDADE DA NATUREZA HUMANA COMO FORMA DE DESCONSTRUÇÃO DAS ESTRUTURAS DE DOMINAÇÃO (FAMÍLIA, ESTADO, SOCIEDADE, IGREJA) QUE NATURALIZAM HISTORICAMENTE A MARGINALIDADE, A EXCLUSÃO, A SEGREGAÇÃO E A DESIGUALDADE DAQUELES SUJEITOS QUE INTEGRAM AS "DITAS" MINORIAS SOCIAIS. EIXOS DA TUTELA DO DIREITO Na visão de Farias (2015), a tutela do direito à diferença ocorre em três eixos: EIXO REPRESSIVO Defende que as normas punitivas servem para tutelar as identidades individuais e grupais e, portanto, o Direito Penal pode funcionar como instrumento de promoção da cidadania. Como exemplo de atuação desse eixo, podemos mencionar a Lei 7.716/1989, que trata dos crimes resultantes de preconceito por raça, cor, etnia, credo ou nacionalidade. EIXO PREVENTIVO Atua por meio de políticas públicas voltadas para a defesa dos direitos humanos — como a educação, por exemplo —, partindo do pressuposto de que é fundamental auxiliar as pessoas a reconhecerem o que é dignidade e a exercerem a cidadania. EIXO INCLUSIVO Consiste na atuação do poder público ou privado por meio de ações afirmativas que buscam orientar os cidadãos quanto à solução das situações de desigualdades já existentes. Visam, assim, ao desfazimento de exclusões históricas. Ações desse eixo podem ser vistas, por exemplo, nas políticas públicas voltadas ao público LGBTQI+, assim como às minorias historicamente marginalizadas e às cotas raciais para ingresso na educação de nível superior e em concursos públicos (FARIAS; 2015). O respeito à diferença, além de ser visto como um desdobramento da interpretação extensivo-sistemático- integrativa do direito fundamental à igualdade, materializa-se no reconhecimento da liberdade de expressão, na possibilidade de garantir às pessoas autonomia e autodeterminação para se construírem conforme suas subjetividades, sem que essas diferentes formas de ler e ver a vida sejam utilizadas como ferramentas para discriminações. LIBERDADE DE EXPRESSÃO E DISCURSOS VIOLENTOS javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) A proteção dos direitos humanos, a repressão do discurso de ódio contra as minorias, a regulamentação dos limites constitucionais do exercício do direito fundamental de liberdade de expressão, a efetividade do princípio da não discriminação e o repúdio a qualquer meio ou forma de tornar invisível o direito à diferença são alguns dos compromissos assumidos pelo Estado Democrático de Direito. COMENTÁRIO Não se propõe aqui fazer uma reflexão teórica profunda para limitar os conceitos definitivamente, mas é necessário, ao menos, problematizar algumas questões essenciais ao debate crítico do objeto aqui proposto. Uma primeira aproximação possível com os temas de discursos violentos, liberdade de expressão e democracia que preza por direitos humanos parte da noção de que as identidades humanas são necessariamente formuladas na interlocução com o outro. O diálogo com o outro, no sentido mais amplo possível, é o que viabiliza a consolidação do próprio "eu", tanto na afirmação e retroalimentação do que os outros afirmam quanto na luta contra os que querem se ver em nós. "PARECE PLAUSÍVEL SUPOR QUE A LIBERDADE É UMA QUALIDADE QUE, POR EXEMPLO, PODE SER ATRIBUÍDA ÀS PESSOAS, AÇÕES E SOCIEDADES". OU SEJA, "ESSA SERIA, NO ENTANTO, UMA PERSPECTIVA BASTANTE RUDIMENTAR E SUPERFICIAL. QUEM DIZ QUE UMA PESSOA É LIVRE PRESSUPÕE QUE, PARA ESSA PESSOA, NÃO EXISTEM EMBARAÇOS, RESTRIÇÕES OU RESISTÊNCIAS DE QUALQUER ESPÉCIE (...) COM ISSO, PODER-SE-IA CONSIDERAR LIBERDADE COMO UMA RELAÇÃO DIDÁTICA ENTRE UMA PESSOA E UM EMBARAÇO À LIBERDADE. MAS ISSO NÃO É SUFICIENTE". Robert Alexy (2003, p. 219) A liberdade de expressão, nesse contexto, não pode ser entendida como direito ilimitado de veicular opiniões. Em um regime político democrático, que ao menos se propõe a prezar pelo igual respeito e dignidade entre seus cidadãos, não é possível considerar que esteja dentro da esfera de direitos de uns vociferar palavras de ódio contra outros. A liberdade de expressão encontra limites em outros valores reputados importantes e, no limite, na própria segurança dos membros da comunidade política. O preconceito e o ódio, portanto, não podem ser considerados exercícios da liberdade individual, sob pena de serem vistos sob uma ótica individualizante e de cortesia, quando, na verdade, estão em jogo problemas estruturais e de justiça social. Pensar a liberdade de expressão numa sociedade democrática implica privilegiar a observância dos direitos fundamentais, ou seja, todas as vezes que o referido direito for absolutizado, permitindo que pessoas sejam ilimitadamente livres para expressar o que quiserem, abre-se a possibilidade de institucionalizar o discurso de ódio, cuja sistematização é reflexo da contrariedade da teoria dos direitos fundamentais. Manifestação contra o racismo. Uma primeira aproximação possível com os temas de discursos violentos, liberdade de expressão e democracia que preza por direitos humanos parte da noção de que as identidades humanas são necessariamente formuladas na interlocução com o outro. O diálogo com o outro, no sentido mais amplo possível, é o que viabiliza a consolidação do próprio "eu", tanto na afirmação e retroalimentação do que os outros afirmam quanto na luta contra os que querem se ver em nós. A existência de conflitos entre os direitos fundamentais no plano da aplicação exige a ponderação das normas diante do caso concreto que privilegie o exercício das liberdades individuais e coletivas no contexto propositivo da dignidade humana daqueles sujeitos vulneráveis, excluídos, marginalizados que integram grupos minoritários. O discurso democrático deve tornar visíveis os direitos de todos os segmentos da sociedade civil e exigir a proteção jurídico-constitucional da diversidade e do pluralismo social. Sabemos que a identidade humana é socialmente construída. Para os integrantes de grupos minoritários, o processo de descoberta e reconhecimento da identidade pode ser violento. Isso porque, ao serem alvo de interlocuções que os colocam em patamar de cidadania inferior ao que lhes é juridicamente garantido, eles acabam atingidos ao menos de duas formas diferentes. Primeiro no diálogo interior, podendo se converter em enfraquecimento da autoestima e depreciação, como afirma Taylor (2013, p. 242). Depois, no nível público, no espaço social, integrantes de grupos minoritários podem ser afetados por discursos inferiorizantes proferidos por instituições, por exemplo. Esses discursos têm grande potencial para incentivar outros membros da sociedade a atitudes como inferiorizar minorias ou agredi-las fisicamente e de outras formas. Isso posto, há de se entender que discursos odiosos são os que inferiorizam ou depreciam pessoas ou grupos sociais, podendo causar-lhes danos físicos e/ou psicológicos. Ao bloquearem a via do reconhecimento das identidades, que é "uma necessidade humana vital" (TAYLOR, 2013, p. 242), esses discursos subjugam à marginalização social os cidadãos que pleiteiam o direito à identidade e, em alguma medida, restringem sua liberdade de expressão. VOCÊ SABIA O Brasil apresenta dados alarmantes sobre violência contra minorias, notadamente mulheres, negros e LGBTQI+. Em 2019, por exemplo, foi registrada uma morte de mulher a cada duas horas, quase seis estupros por hora e uma morte de LGBTQI+ a cada 26 horas. Além disso, em 2015, os números indicaram que, do total de homicídios, 71% foram cometidos contranegros (SOUTO, 2018). POSSIBILIDADES DE LIMITAÇÃO AO DIREITO DE LIBERDADE DE EXPRESSÃO Antes de afirmar que o exercício do direito de liberdade de expressão pode sofrer qualquer limitação, é importante esclarecer que ele deve ser exercido num contexto em que se reconheça a legitimidade democrática de seus titulares. Liberdade a crença. Ser livre é poder expressar de forma autônoma as percepções individuais, as crenças, valores e concepções de mundo. Essa liberdade não é absoluta e irrestrita, deve ser regulada pelo Estado para prevenir a possibilidade de violação de direitos de outros sujeitos. A restrição do direito à liberdade de expressão nada mais é do que o direito que o Estado tem de regular o seu exercício, estabelecendo critérios e parâmetros para o reconhecimento do direito de ser livre e se expressar, de modo a reconhecer o(s) outro(s) de forma igual e digna. Nesse sentido, a democracia é mais do que a forma atual de Estado e de governo. (DIAS, 2010, p. 58- 59). A democracia implica a participação do povo, o que dá legitimidade à ação do Estado nas esferas legislativa, administrativa e judicial, conforme o que estabelece o parágrafo único do artigo 1º da CF (FREITAS, 2014, p. 10). É por isso que o ordenamento jurídico-constitucional brasileiro veda o discurso de ódio contra as minorias sociais, punindo seus agentes e os responsabilizando tanto na esfera cível quanto criminal. Se o Estado reconhecesse a liberdade de expressão como um direito absoluto, legitimaria a possibilidade de ofensa a terceiros, seja na perspectiva individual e/ou coletiva, contrariando o livre exercício dos demais direitos fundamentais expressamente previstos no plano constitucional. Assim, todo cidadão possui o direito de se expressar, porém há limites constitucionais de preservação dos direitos fundamentais que devem ser respeitados. Entenda mais sobre esse assunto no vídeo a seguir: Neste vídeo, iremos fazer uma breve síntese sobre o tema Direito Fundamental à Liberdade de Expressão. VERIFICANDO O APRENDIZADO MÓDULO 3 Descrever as limitações às garantias constitucionais do processo O PROCESSO CONSTITUCIONAL DEMOCRÁTICO Promulgação da Constituição em 1988. O direito constitucional possibilitou juridicamente a aquisição da condição de cidadãos mediante a previsão legislativa da inviolabilidade dos direitos fundamentais e das garantias e princípios constitucionais. O estudo do processo constitucional nos tempos atuais viabiliza indagações acerca da hermenêutica constitucional, do controle de constitucionalidade, da aplicabilidade e do exercício dos direitos fundamentais como meio de controle e de fiscalidade da construção dos atos e provimentos estatais. O parâmetro para a interpretação racional das normas jurídicas é a Constituição, considerada a norma limitadora dos excessos praticados pelo Estado e pelo julgador, que muitas vezes utiliza de outros critérios em detrimento da objetividade e racionalidade crítica no julgamento das demandas. Considerado um dos princípios regentes do Estado Democrático de Direito, a soberania popular viabiliza, por meio do devido processo constitucional, a participação popular na construção e no controle dos atos estatais. A constitucionalização do processo, que permite o debate de pontos controversos da demanda pelas partes interessadas, assegura a legitimidade democrática do provimento final. A efetivação dos direitos expressos na Constituição apresenta um dilema, já que sua aplicação, sob o ponto de vida prático, continua sendo muitas vezes simbólica, quase uma "letra morta", desprezando toda a principiologia e sistematicidade constitucional. As ações constitucionais são a via para o exercício desses direitos constitucionalmente garantidos. ATENÇÃO A importância do processo como concretizador dos direitos fundamentais no Estado Democrático de Direito deve ser compreendida com fundamento nos princípios do devido processo constitucional, isonomia, contraditório, ampla defesa, fundamentação das decisões judiciais, reserva legal, inafastabilidade do controle jurisdicional e supremacia da constituição. O processo constitucional democrático é a instituição jurídica que legitima a implementação dos direitos fundamentais expressos e previamente previstos no plano legislativo. NESSE SENTIDO, O PROCESSO CONSTITUCIONAL DEVE SER VISTO COMO "LUGAR" DE DISCURSIVIDADE ISONÔMICA E ISOMÊNICA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS, QUE DEVERÃO SER IMPLEMENTADOS PELO ESTADO, COMO FORMA DE GARANTIR O EXERCÍCIO DA CIDADANIA. ISOMENIA Iigualdade fática e jurídica conferida à pessoa humana em relação à lei ou ao texto constitucional. Trata- se de igualdade argumentativa; igual oportunidade de diálogo e debate conferida às partes no âmbito processual, especialmente quanto às iguais possibilidades conferidas às partes de interpretação e aplicabilidade da norma jurídica. ISONOMIA Igualdade construída a partir e por meio da lei. É uma proposta normativa, legal e constitucional que objetiva oferecer à pessoa humana igualdade no âmbito do direito, sem garantir efetivamente igualdade no plano fático, pois a letra da lei é insuficiente para mudar as estruturas sociais que naturalizam a desigualdade. javascript:void(0) javascript:void(0) Nessa perspectiva, você deve estar se perguntando: qual a função do Judiciário? JUDICIÁRIO A ele cabe a responsabilidade de utilizar a jurisdição constitucional como meio de viabilizar o exercício de tais direitos, já que a jurisdição constitucionalmente democratizada é uma função estatal que supera o protagonismo judicial. A interpretação das normas constitucionais não pode restringir ou tolher direitos, tampouco conferir tratamento jurídico ofensivo ao princípio da isonomia. O processo constitucional é o meio garantidor da eficácia e do exercício dos direitos fundamentais via ações constitucionais. O Judiciário, no exercício da função jurisdicional, viabilizará tal exercício através das pretensões levadas até ele, uma vez que os problemas estruturais enfrentados pelo Estado não servem de justificativa ao descumprimento dos direitos fundamentais. Nesse sentido, o processo constitucional democrático é instituição jurídica que legitima a implementação dos direitos fundamentais expressa e previamente previstos no plano legislativo. A sistematização teórica do modelo de processo constitucional democrático pressupõe a superação do entendimento clássico adotado pela doutrina: o processo é uma relação jurídica instituída entre pessoas (juiz, autor e réu) e o magistrado se encontra em posição hierarquicamente superior aos sujeitos do processo. ESCOLA PAULISTA DE PROCESSO A Escola Paulista de Processo, também denominada de Escola Instrumentalista, defende o entendimento por meio do qual o processo é um instrumento para o exercício da jurisdição, facultando ao julgador utilizar discricionariedade e protagonismo judicial, proferindo decisões unilaterais e autocráticas por meio das quais prevalecerá a onisciência e a forte carga metajurídica do julgador. javascript:void(0) Na perspectiva instrumentalista, o magistrado tem o poder de decidir solitariamente a lide, haja vista que não é obrigado a permitir que os sujeitos que integram a relação jurídica participem diretamente da construção da decisão judicial. Em contrapartida, no âmbito do processo constitucional democrático, as partes diretamente afetadas pelos efeitos do provimento final de mérito terão o direito fundamental de participar da sua construção discursiva. CONSTRUÇÃO DISCURSIVA O processo que, nessa perspectiva científica, é visto como locus (espaço) de ampla dialeticidade e exauriência argumentativa de todos os pontos controversos da demanda. javascript:void(0) A superação do instrumentalismo processual, mediante a ruptura com os escopos metajurídicos da jurisdição e o protagonismo judicial, será possível mediante a utilização do espaço processual como locus de ampla discursividadeda pretensão deduzida no contexto da racionalidade crítica, pois assim se tornará viável abandonar a forte carga axiológica das decisões judicias e, assim, garantir a segurança jurídica por meio do princípio da fundamentação racional das decisões judiciais. O estudo da jurisdição é outro tema que gera debate na doutrina. Para a Escola Instrumentalista, a jurisdição é um poder pessoal do magistrado, que o coloca em posição hierarquicamente superior aos demais sujeitos do processo. Os instrumentalistas defendem que a jurisdição tem escopos (finalidades) metajurídicos (valorativos), como é o caso dos fins sociais, políticos, econômicos e morais. COMENTÁRIO No momento em que se permite ao juiz buscar fundamentos fora da ciência do Direito para proferir suas decisões judiciais, fortalece-se o seu protagonismo, legitimando-o pressupostamente ao poder de decidir de modo unilateral, sem permitir a participação dos destinatários do provimento final na formação participada do mérito. O protagonismo e a discricionariedade judicial são parâmetros utilizados para a sistematização teórica de um modelo de jurisdição autocrática, que legitima pressupostamente a autoridade do julgador em proferir julgados unilaterais, sem o compromisso de garantir às partes o direito de participarem da construção dialógica dos fundamentos jurídico-constitucionais e fáticos da decisão final de mérito. Outra questão relevante, quando se debate os fundamentos da jurisdição autocrática, diz respeito à criatividade do julgador diante do julgamento do caso concreto; o poder criativo do juiz fica evidente, quando a jurisdição é vista por ele como uma atividade pessoal que o autoriza a reproduzir suas percepções pessoais como fundamentos do julgamento do mérito da pretensão deduzida. EM CONTRAPARTIDA, E SOB A ÓTICA DA CONSTITUCIONALIDADE DEMOCRÁTICA, ENQUANTO A JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL É VISTA E COMPREENDIDA COMO UM DIREITO FUNDAMENTAL, O PROCESSO É CONSIDERADO UMA GARANTIA CONSTITUCIONAL. Uma das principais características do processo constitucional democrático é a possibilidade de os destinatários do provimento final serem coautores do conteúdo decisório de mérito. Compreender a jurisdição constitucional como um direito fundamental é o mesmo que reconhecer a legitimidade democrática de acesso amplo e igualitário ao Poder Judiciário a todos os cidadãos. A inafastabilidade do controle jurisdicional, também denominada de princípio do amplo acesso à justiça, tem previsão expressa no artigo 5°, inciso XXXV da Constituição brasileira de 1988 (a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito). A jurisdição constitucional se efetiva inicialmente com o direito assegurado a todos os cidadãos de poderem levar sua pretensão para o Judiciário, objetivando ter acesso a uma decisão judicial participada e fundada em parâmetros condizentes com a racionalidade crítica. Movimento sindical participando da sessão deliberativa ordinária. Trata-se de proposição teórica que objetiva desconstruir o protagonismo e a discricionariedade judicial, pois o fundamento e o referencial lógico para as decisões não podem ser a subjetividade e as percepções pessoais do julgador, visto que o jurisdicionado tem o direito fundamental a um provimento jurisdicional construído discursivamente em bases fundadas na racionalidade crítico-constitucionalizada do julgador, que deverá privilegiar a proteção dos direitos fundamentais e dos direitos humanos expressamente previstos no plano constitucional e infraconstitucional do ordenamento jurídico brasileiro vigente. PRINCÍPIOS REGENTES DO MODELO DE PROCESSO E JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL DEMOCRÁTICO Com base nas proposições críticas do modelo de processo e jurisdição autocráticos defendidos pela Escola Instrumentalista, e apresentando como contraponto argumentativo estudos sistematizados no âmbito do processo constitucional democrático e da jurisdição como direito fundamental, vamos iniciar o exame dos princípios regentes do modelo de processo e jurisdição constitucional democrático: CONTRADITÓRIO Trata-se de princípio constitucional expressamente previsto no artigo 5°, inciso LV da Constituição brasileira de 1988, e dispõe que "aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral, são assegurados o contraditório e ampla defesa, bem como os meios de recursos a ela inerentes". A principal característica do princípio do contraditório é garantir igualdade a todos os sujeitos do processo de debaterem de forma ampla os pontos controversos da demanda. A não oportunização ou não implementação do contraditório tem como consequência direta a configuração do cerceamento de defesa. No Estado Democrático, o contraditório legitima o espaço processual de debate isonômico e isomênico dos pontos controversos da demanda judicial, uma vez que viabiliza o direito de as partes participarem da construção do provimento final. AMPLA DEFESA Princípio que genuinamente prevê o dever de o magistrado, ao longo do processo judicial, bem como no âmbito administrativo, garantir o direito de fala, produção de provas e ampla argumentação no que atine aos fatos alegados. Trata-se de princípio constitucional explícito (artigo 5°, inciso LV da Constituição brasileira de 1988) que caminha numa via de mão dupla com o contraditório, mas com ele não se confunde. Enquanto o contraditório assegura a dialeticidade processual dos pontos controversos da demanda, a ampla defesa garante o direito de produção de provas consideradas essenciais ao esclarecimento da verdade processual e à fundamentação das decisões judiciais. Considerada o aspecto substancial do princípio do contraditório, a ampla defesa confere aos litigantes todos os meios em direito para se defender, possibilitando a participação direta dos sujeitos no julgamento da lide, de forma a influenciar na decisão do magistrado. A ampla defesa, no contexto do processo constitucional democrático, legitima todos os sujeitos do processo no que tange a como devem agir, atuar e conduzir o procedimento legal de esclarecimento objetivo dos pontos controversos da demanda, mediante a exauriência probatória. É um princípio que garante igualmente a todos os sujeitos do processo o direito de provarem tudo o que foi alegado em seu desfavor, oportunizando a resistência processual e procedimental legitimada pelos limites legais. DEVIDO PROCESSO LEGAL Funda-se na obrigatoriedade de procedimentalizar a resolução de conflitos, garantindo-se aos sujeitos do processo a exauriência argumentativa e a amplitude quanto à produção das provas necessárias ao esclarecimento dos fatos alegados. O devido processo legal é considerado princípio constitucional explícito, previsto no artigo 5°, inciso LIV da Constituição brasileira de 1988, que é clara ao estabelecer que "ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal". Observar o devido processo legal é seguir uma ritualística que oportuniza igualdade argumentativa às partes; legitima-se, dessa forma, o direito de os sujeitos do processo participarem dialogicamente da construção do provimento final. Observar todas as etapas processuais previstas em lei; exigir do julgador a fundamentação racional da decisão judicial; garantir que todas as provas produzidas e argumentos trazidos aos autos sejam apreciados pelo magistrado como meio de viabilizar a racionalidade discursiva do provimento final; oportunizar aos sujeitos do processo o direito de sanar vícios processuais, priorizando-se o julgamento do mérito da pretensão deduzida; legitimar a criação de técnicas processuais e procedimentais voltadas à maior efetividade processual são alguns dos desdobramentos interpretativos do devido processo legal. ISONOMIA PROCESSUAL Sob a perspectiva do processo constitucional democrático, todos os sujeitos do processo devem ter asseguradas iguais possibilidades de produção de provas e alegações referentes aos pontos controversosda demanda judicial. Compreender o processo como um espaço de ampla discursividade pressupõe assegurar às partes igualdade e oportunidades de debate, ressaltando-se que a efetivação do princípio da isonomia processual passa não apenas pela oportunidade de diálogo processual, mas, sim, pelo direito de ver todas as alegações e provas racionalmente analisadas pelo julgador no momento da apreciação do mérito da pretensão inicialmente deduzida em juízo. O artigo 7° do Código de Processo Civil brasileiro vigente assegura às partes "paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação das sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório". A previsão constitucional do princípio da isonomia processual encontra-se no caput do artigo 5° do texto constitucional, que consagra que "todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, assegurando aos brasileiros natos e estrangeiros residentes no Brasil a inviolabilidade do direito à vida, liberdade, igualdade, segurança e propriedade". INDISPENSABILIDADE DO ADVOGADO O advogado é considerado função essencial à justiça, conforme dispõe o artigo 133 da CF. A advocacia não integra nenhum dos poderes previstos constitucionalmente, ou seja, existe de forma autônoma e independente em relação ao Executivo, Legislativo e Judiciário. A indispensabilidade do advogado no âmbito do processo constitucional democrático se justifica em razão do direito de as partes terem acesso a uma defesa técnica, assistidas por profissional com conhecimento suficiente a lhe assegurar a ampla defesa, contraditório, isonomia processual e devido processo legal. O jus postulandi constitui uma exceção ao princípio da indispensabilidade do advogado, já que esse instituto jurídico garante ao jurisdicionado, em situações específicas e pontuais, o acesso ao Judiciário independentemente de estar representado por um advogado. Mesmo assim, sabe-se que é por meio da advocacia tecnicamente preparada que se torna viável resistir aos arbítrios da atuação jurisdicional decorrente da discricionariedade do julgador. Eventuais abusos no exercício da função jurisdicional poderão ser alegados e questionados pelo advogado, que garante às partes envolvidas no conflito não serem subtraídas de seus direitos em virtude da postura beligerante de alguns magistrados que decidem de forma parcial, valoram provas com o propósito de privilegiar algumas partes em detrimento de outras. Reconhecer constitucionalmente a advocacia como uma função essencial à justiça, além de proteger imediatamente as partes quanto aos eventuais abusos decorrentes da jurisdição autocrática, constitui uma proposta de democratizar o acesso à justiça. O acesso ao Judiciário só é efetivamente assegurado quando o jurisdicionado tem a possibilidade de debater as questões técnicas e jurídicas que permeiam a pretensão deduzida. Para isso, é fundamental estar assistido por um advogado, profissional com formação específica para atuar nesse quesito. INAFASTABILIDADE DO CONTROLE JURISDICIONAL A inafastabilidade do controle jurisdicional também é denominada de princípio do amplo acesso à justiça, com previsão expressa no artigo 5°, inciso XXXV da CF (a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito). Objetiva a democratização das vias de acesso ao Judiciário, oportunizando a todas as pessoas, indistintamente, iguais condições de pleitear o reconhecimento de determinado bem da vida ou o exercício de direitos. O acesso à justiça, na perspectiva da processualidade democrática, não objetiva apenas o direito de levar determinada pretensão para o Poder Judiciário. Além da possibilidade de movimentar o Judiciário, a efetivação do acesso à justiça ocorre quando se garante isonomicamente às partes interessadas o direito de amplo debate de suas alegações, produção probatória exauriente e legitimidade jurídica na formação participada do provimento final. O processo constitucional democrático é visto como um espaço que garante não apenas o direito de a parte apresentar sua pretensão para o Judiciário. Pelo contrário, garante que o direito pleiteado em juízo seja amplamente debatido, provado, esclarecido pelas partes interessadas. O acesso à justiça, visto sob a ótica da democraticidade do processo constitucional, deve se dar no tempo razoável a evitar o perecimento do direito pretendido pelas partes. Por meio do acesso ao Judiciário, as partes precisam reconhecer e exercer os direitos pleiteados, de modo que o provimento jurisdicional seja proferido no tempo necessário a evitar dilações indevidas, atos protelatórios e perda de direitos. O direito fundamental de acesso à justiça deverá assegurar às partes iguais condições de interpretação (isomenia) e aplicabilidade da norma jurídica ao caso concreto, privilegiando o julgamento racional, juridicamente fundamentado e baseado nas provas produzidas pelas partes em juízo. PUBLICIDADE O caráter normativo do princípio da publicidade dos atos processuais justifica-se em razão do dever legal de transparência e da legitimidade conferida a todos os interessados em fiscalizar os atos praticados pelos magistrados, auxiliares da justiça e representantes do Ministério Público. O artigo 93, inciso IX, da CF estabelece expressamente que todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, ressaltando-se que o inciso LX, do artigo 5°, estabelece que a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social exigirem. Já no plano infraconstitucional, o artigo 189 do Código de Processo Civil brasileiro vigente prevê que os atos processuais são públicos, todavia tramitarão em segredo de justiça os processos: a) em que o exija o interesse público ou social; b) que versem sobre casamento, separação de corpos, divórcio, separação, união estável, filiação, alimentos e guarda de crianças e adolescentes; c) em que constem dados protegidos pelo direito constitucional à intimidade; d) que versem sobre arbitragem, inclusive sobre cumprimento de carta arbitral, desde que a confidencialidade estipulada na arbitragem seja comprovada perante o juízo. No mesmo sentido, o artigo 368 do Código de Processo Civil institui que "a audiência será pública, ressalvadas as exceções legais". O legislador do atual Código de Processo Civil reafirma o princípio da publicidade no artigo 8° e também no artigo 11. A expressa previsão legal e constitucional justifica a afirmação de que a publicidade é um princípio jurídico explícito, que zela pela possibilidade conferida a todas as pessoas de terem acesso e conhecimento dos fatos alegados e debatidos no âmbito dos processos judiciais, salvo as hipóteses instituídas em lei. Tornar público o conteúdo dos atos javascript:void(0) javascript:void(0) processuais é uma forma de reconhecer o caráter democrático do processo civil, oportunizando o direito de ampla fiscalidade a todos os interessados quanto ao que foi decidido e alegado. O princípio da publicidade não pode ser aplicado e interpretado de forma absoluta e irrestrita nos processos judiciais. Há pretensões que, quando discutidas no contexto do processo civil brasileiro vigente, correrão em segredo de justiça, ou seja, são processos cujo conteúdo não pode ser publicizado em virtude de versar sobre a privacidade e intimidade das pessoas. ARTIGO 8° Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência. ARTIGO 11 Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade. SEGREDO DE JUSTIÇA Os clássicos exemplos de processos que correm em segredo de justiça são os processos de família (divórcio, separação judicial, reconhecimentode paternidade, cumprimento de sentença de alimentos, destituição de poder familiar, reconhecimento e dissolução de união estável), além daqueles processos que versam sobre direitos de crianças e adolescentes (adoção, ação de alimentos). Além desses casos clássicos de processos judiciais que correm em segredo de justiça por determinação legal, o magistrado poderá, por meio de decisão fundamentada, determinar a restrição da publicidade, quando verificar que o conteúdo constante dos autos versa sobre questões atinentes à privacidade e/ou intimidade dos sujeitos do processo. DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO É considerado um princípio constitucional implícito, já que não existe no texto da Constituição brasileira de 1988 um dispositivo específico que o preveja expressamente. Sua formulação jurídica decorre da interpretação extensiva e sistemática das normas constitucionais que disciplinam a organização do Poder Judiciário, estruturando-o em órgãos de primeira e segunda instância (grau de jurisdição). O javascript:void(0) direito de recorrer é reflexo do status normativo conferido ao princípio do duplo grau de jurisdição. Recorrer constitui a possibilidade de revisão, reexame, reapreciação dos fundamentos de fato e de direito utilizados pelo julgador para proferir a decisão judicial recorrida. Importante esclarecer que esse direito poderá ser exercido em casos de sentenças terminativas; sentenças definitivas; decisões interlocutórias; acórdãos; decisões monocráticas; despachos de mero expediente. É controversa entre os estudiosos a recorribilidade dos despachos de mero expediente. Garantir a implementação do princípio do duplo grau de jurisdição constitui um meio de assegurar a legitimidade de amplo debate no espaço processual destinado à exauriência argumentativa. Oportunizar o exercício do direito fundamental de recorrer, mediante a alegação de error in procedendo e error in judicando, materializa a oportunidade de corrigir eventuais injustiças processuais mediante a possibilidade de invalidação, reforma, esclarecimento ou integração do conteúdo da decisão recorrida. Dessa forma, garante-se uma análise mais apurada racionalmente dos fundamentos decisórios, visando avaliar sua coerência e adequação aos fatos alegados e provados em juízo. O error in procedendo decorre da inobservância de uma questão formal, procedimental, enquanto o error in judicando deriva de uma falha na análise de questões materiais, caracterizando um erro de julgamento. DIGNIDADE HUMANA NO DIREITO PROCESSUAL Expressamente prevista no artigo 1º, inciso III, da Constituição brasileira de 1988, a dignidade da pessoa humana é considerada um dos fundamentos da CF. A natureza fundamental decorre de seu conteúdo aberto, utilizado como referencial teórico à compreensão sistemática do direito que prioriza a proteção jurídica das pessoas na sua maior amplitude possível, seja no aspecto individual ou coletivo. Sob a ótica processual, a dignidade humana viabiliza a compreensão do processo como espaço de ampla discursividade de pretensões que objetivam a proteção da pessoa humana, não especificamente do patrimônio. Pensar a dignidade humana sob o espectro processual é reconhecer que o objetivo das partes deve ser a proteção integral da pessoa humana, ressaltando-se que os efeitos jurídicos dos provimentos jurisdicionais não podem atentar contra a integridade física, moral, psicológica das pessoas. O processo não pode ser visto como instrumento de coisificação ou desumanização dos seus atores. Qualquer decisão judicial deve ter como propósito reconhecer a proteção jurídica da pessoa humana na sua integralidade. É com fundamento nessa visão principiológica que o legislador brasileiro delimitou os parâmetros regentes da procedimentalidade jurídica de análise do mérito da pretensão. O processo não pode ser visto, portanto, como uma oportunidade de violação de direitos e coisificação das pessoas humanas. Pelo contrário, no âmbito processual deve-se buscar procedimentalizar meios hábeis que garantam às pessoas condições que legitimam o exercício dos direitos fundamentais expressamente previstos no plano constituinte. javascript:void(0) O processo de conhecimento tem como finalidade principal garantir o reconhecimento ou o acertamento dos direitos pretendidos pelo autor da ação, motivo esse que justifica a existência das fases postulatória, instrutória e decisória como referenciais que caracterizam o procedimento comum. Sob a ótica do princípio da dignidade humana, consideram-se ilícitas as provas obtidas por meio de coação e tortura, haja vista que tais meios configuram violação de direitos fundamentais e, consequentemente, a ofensa do princípio constitucional em tela. O patrimônio imaterial deve ser preservado de qualquer ato ou conduta arbitrariamente praticado contra a integridade humana das partes envolvidas diretamente no conflito de interesses levado ao Judiciário. TORTURA "III- ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante;" — artigo 5º da Constituição Federal. REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS Agora, vamos examinar o objeto das ações constitucionais, vistas como espaços hábeis a assegurar o exercício e a implementação dos direitos fundamentais previstos no plano constituinte e instituinte: 1. MANDADO DE SEGURANÇA Trata-se de ação constitucional expressamente prevista no artigo 5°, inciso LXIX do texto da Constituição brasileira de 1988, que garante a proteção de "direito líquido e certo não amparado por habeas corpus e habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do poder público". O objetivo da respectiva ação constitucional é assegurar proteção jurídica às pessoas físicas e jurídicas, quando violadas em seus direitos fundamentais líquidos e certos previstos constitucionalmente. Sempre que uma autoridade pública ou um agente que exerce atividades de natureza pública praticar ato contrário a um direito líquido e certo poderá ser demandado via mandado de segurança. Tal ação possui rito próprio (especial) previsto na Lei 12.016, de 07 de agosto de 2009. Exige-se que a prova da violação do direito líquido e certo seja documental e pré-constituída, haja vista que é inadmissível a dilação probatória. A concessão de liminares inaudita altera partes é uma possibilidade real no âmbito do mandado de javascript:void(0) segurança, desde que o demandante alegue e prove o fumus boni iuris e o periculum in mora, mediante a demonstração de risco de dano iminente quanto à violação do direito líquido e certo ora alegado em juízo. 2. HABEAS CORPUS O artigo 5°, inciso LXVIII do texto da Constituição de 1988, prevê que o habeas corpus será concedido sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder. Trata-se de ação constitucional que objetiva proteger processualmente o direito fundamental de liberdade de ir e vir quando violado mediante a prática de ato ilícito. É considerada uma das ações constitucionais mais antigas na história da humanidade cujo objetivo central é proteger o direito fundamental de liberdade de ir e vir contra qualquer ato ilícito que venha a desencadear, por exemplo, alguma prisão abusiva ou ilícita. Sempre que o Poder Judiciário ou um delegado de polícia determinar uma prisão em flagrante, qualquer prisão provisória (preventiva e temporária) ou sentença penal condenatória que priva ilicitamente a liberdade do condenado, o cidadão poderá resistir a essas ilicitudes mediante a propositura da ação de habeas corpus. 3. HABEAS DATA Expressamente previsto no artigo 5°, inciso LXXII do texto constitucional, o habeas data será concedido para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público ou para a retificação de dados, quandonão se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo. A respectiva ação constitucional assegura o direito fundamental de informação sobre cidadãos constante em bancos de dados públicos ou de natureza pública, quando tal direito é violado ou negado ao cidadão, exigindo- se, assim, a intervenção do Poder Judiciário para reprimir a violação de tal direito e, assim, possibilitar seu exercício legítimo. 4. MANDADO DE INJUNÇÃO O artigo 5°, inciso LXXI da Constituição brasileira de 1998, estabelece que será concedido mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e das liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania. Importante esclarecer que a respectiva ação constitucional tem o condão de possibilitar que o Poder Judiciário seja acionado, quando houver uma norma constitucional que não tem aplicabilidade imediata, e, por isso, exige regulamentação no plano constitucional. Mas como o Legislativo é omisso quanto a essa regulamentação, torna-se necessário movimentar o Judiciário que tem o condão de, mediante determinação de regulamentação infraconstitucional, tornar viável e concreto o exercício de direitos constitucionais. 5. AÇÃO POPULAR O artigo 5°, inciso LXXIII da Constituição brasileira de 1988, prevê que qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e de ônus da sucumbência. Trata-se de ação coletiva que tem como objeto a proteção de direitos metaindividuais (coletivos e difusos), sempre que houver a alegação e comprovação de conduta ilícita contrária ao meio ambiente, patrimônio público, patrimônio histórico-cultural e moralidade administrativa. O cidadão tem legitimidade processual ativa para movimentar o Judiciário e buscar a proteção dos direitos supramencionados, ressaltando-se que o Ministério Público atuará como fiscal da lei ou litisconsórcio ativo concorrente e superveniente. POSSIBILIDADE DE LIMITAÇÃO DAS GARANTIAS CONSTITUCIONAIS DO PROCESSO Após as proposições teóricas aqui delineadas, finalmente, vamos a um importante questionamento: É juridicamente possível limitar as garantias constitucionais do processo democrático em situações atípicas, como em casos de pandemia? Entendemos que a existência de fatos exógenos (externos), como é o caso de pandemia, não é justificativa plausível e legítima para restringir o espaço processual de debate constitucionalizado e democrático das questões controversas que integram a demanda judicial. Os princípios do contraditório, ampla defesa, devido processo legal, duplo grau de jurisdição, isonomia processual, indispensabilidade do advogado, inafastabilidade do controle jurisdicional e dignidade humana são normas jurídicas cogentes (de aplicação obrigatória e que não podem deixar de ser observadas por desejo particular), cuja interpretação e aplicabilidade não são casuísticas. Em outras palavras, fatores sociais, naturais, políticos, econômicos ou morais não podem servir de justificativa para relativizar os respectivos princípios, com a consequente limitação do direito fundamental à isonômica dialeticidade processual de provas e argumentos trazidos pelas partes ao processo. Vamos entender um pouco mais sobre esse assunto, suas características e as influências da Escola Instrumentalista, no vídeo a seguir: Neste vídeo, iremos fazer uma breve síntese sobre as Garantias Constitucionais do Processo. VERIFICANDO O APRENDIZADO CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS O direito fundamental à liberdade, em seus mais diversos aspectos, constitui um dos pilares do Estado Democrático de Direito. Sua interpretação e sua aplicabilidade devem se basear em parâmetros constitucionais como dignidade humana e igualdade. O direito à liberdade tem como corolário a autodeterminação e a autonomia privada, conferindo a cada pessoa o direito de definir o que melhor lhe convier, de acordo com sua subjetividade, sem qualquer intervenção estatal. O direito fundamental à liberdade de locomoção (ir e vir) poderá sofrer eventuais limitações em tempos de pandemia, especialmente em razão do interesse do Estado em proteger e garantir a saúde coletiva da sociedade contemporânea. A privação da liberdade somente se torna viável mediante a observância do devido processo legal e a desconstituição do estado constitucional de inocência assegurado a todo cidadão. A liberdade de expressão é outro direito fundamental indispensável às sociedades democráticas, reconhecendo-se o livre exercício de crença, o pensamento científico, as manifestações artísticas e culturais e a liberdade de cátedra; inadmitindo-se qualquer intervenção estatal que acarrete a censura. O modelo de processo constitucional democrático é considerado um espaço de ampla dialogicidade isonômica e isomênica das provas e dos pontos controversos que integram a pretensão deduzida em juízo. PODCAST REFERÊNCIAS ALEXY, Robert. Três escritos sobre los derechos fundamentales y la teoría de los princípios. Bogotá: Universidad Externado de Colômbia, 2003. BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito constitucional. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 1998. BITTAR, Eduardo C. B. Reconhecimento e direito à diferença: teoria crítica, diversidade e a cultura dos direitos humanos. São Paulo: Revista da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. v. 104. Jan/dez 2009. p. 551-565 . 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