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MATERIAL II herança e sua administração

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DIREITO DAS SUCESSÕES
Prof. Agaíde Zimmermann
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DA HERANÇA E DE SUA ADMINISTRAÇÃO
A herança é o conjunto de bens formado com o falecimento do de cujus (autor da herança).
Conforme o entendimento majoritário da doutrina, a herança forma o espólio, que constitui um ente despersonalizado ou despersonificado e não de uma pessoa jurídica, havendo uma universalidade jurídica, criada por ficção legal.
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A norma processual reconhece legitimidade ativa ao espólio, devidamente representado pelo inventariante (art. 75, VII, do NCPC, correspondente ao art. 12, V, do CPC/1973).
Não se pode esquecer que o direito à sucessão aberta e o direito à herança constituem bens imóveis por determinação legal, conforme consta do art. 80, II, do CC/2002. Isso ocorre mesmo se a herança for composta apenas por bens móveis, caso de dinheiro e veículos.
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Além de sua imobilidade, a herança é um bem indivisível antes da partilha. Nos termos do art. 1.791 do Código Civil, a herança defere-se como um todo unitário, ainda que vários sejam os herdeiros.
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Pelo mesmo comando legal, até a partilha, o direito dos coerdeiros, quanto à propriedade e posse da herança, será indivisível, e regular-se-á pelas normas relativas ao condomínio. 
Forma-se, então, um condomínio eventual pro indiviso em relação aos bens que integram a herança, até o momento da partilha entre os herdeiros.
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Corno primeira restrição, enuncia o § 2.º do art. 1 .7 93 que é ineficaz a cessão, pelo coerdeiro, de seu direito hereditário sobre qualquer bem da herança considerado singularmente. 
Ilustrando, se um herdeiro vender um veículo que compõe a herança, isoladamente, tal alienação é ineficaz.
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Outra importante limitação à autonomia privada consta do art. 1 . 794 do CC, pelo qual o coerdeiro não poderá ceder a sua quota hereditária a pessoa estranha à sucessão, se outro coerdeiro a quiser, tanto por tanto.
A norma consagra um direito de preempção, preferência ou prelação legal a favor do herdeiro condômino. 
Se o coerdeiro for preterido em tal direito, poderá, depositado o preço, haver para si a quota cedida a estranho (art. 1 .795 do CC).
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Nos termos da última norma, essa ação de adjudicação está sujeita ao prazo decadencial de 180 dias, a contar da transmissão do bem. 
Diante da valorização da boa-fé objetiva, entende-se que o prazo deve ser contado da ciência da realização da alienação e não da alienação em si. 
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Sobre o tema, assim adverte a jurisprudência mineira:
"Direito civil. Cessão de direitos hereditários. Direito de preferência. Inobservância. Demais herdeiros. Prazo decadencial para o exercício. A Cessão de direitos hereditários, sem a observância do direito de preferência dos demais herdeiros, encontra óbice no art. 1.795 do Código Civil/2002, que prescreve que 'o coerdeiro, a quem não se der conhecimento da cessão, poderá, depositado o preço, haver para si a quota cedida a estranho, se o requerer até 1 80 (cento e oitenta) dias após a transmissão'. 
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O prazo decadencial imposto ao coerdeiro prejudicado conta-se a partir da transmissão, contudo, será contado apenas da sua ciência acerca do negócio jurídico quando não é seguida a formalidade legal imposta pelo art. 1.793 do CC e a transmissão não se dá por escritura pública" (TJMG, Apelação Cível 1 .025 1 .07.02 1 397-9/00 1 1 , Extrema, 1 1 .ª Câmara Cível, Rel. Des. Fernando Caldeira Brant, j. 08.07.2009, DJEMG 20.07.2009).
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Em complemento, sendo vários os coerdeiros a exercer a preferência legal, entre eles se distribuirá o quinhão cedido, na proporção das respectivas quotas hereditárias (art. 1 . 795, parágrafo único, do CC).
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Muito importante se faz destacar O art. 1.792 do CC consagra a max11na sucessória intra vires hereditatis, prevendo que o herdeiro não responde por encargos superiores às forças da herança. 
Ao herdeiro cabe o ônus de provar o excesso, salvo se houver inventário que a escuse, demonstrando o valor dos bens herdados.
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Sobre o tema destaca-se os seguintes pontos:
A) Os herdeiros respondem pelas dívidas do de cujus somente até os limites da herança e proporcionalmente às suas quotas. Exemplo: o falecido deixou dois herdeiros e um patrimônio de R$ 500.000,00.
Deixou, ainda, uma dívida de R$ 1.000.000,00. Cada herdeiro somente responde nos limites das suas quotas na herança (R$ 250.000,00).
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B) Como os herdeiros respondem dentro das forças da herança, eventual penhora de bens não pode recair sobre a meação dos cônjuges dos herdeiros casados pela comunhão parcial de bens, eis que excluídos da com unhão os bens recebidos por herança (TJSP, Agravo de Instrumento 804.500.5/2, Acórdão 3.236.489, ltapeva, 8.ª Câmara de Direito Público, Rei. Des. Carvalho Viana, j. 03.09.2008, DJESP 1 5.1 0.2008).
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C) Nos contratos impessoais, a obrigação do falecido transmite-se aos herdeiros. É o caso, por exemplo, da empreitada, em regra (art. 626 do CC). O ônus que é transmitido aos herdeiros vai até os limites da herança (STJ, REsp 703.244/SP, 3.ª Turma, Rei. Min. Nancy Andrighi, j. 1 5.04.2008, DJe 29.04.2008). 
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D) Nos contratos pessoais ou personalíssimos (intuitu personae), a obrigação do falecido não se transmite aos herdeiros, como ocorre na prestação de serviços (art. 607 do CC). 
O exemplo da fiança merece maiores digressões, eis que a condição de fiador não se transmite aos seus herdeiros. Porém, são transmitidas aos herdeiros as obrigações vencidas enquanto era vivo o fiador, até os limites da herança (art. 836 do CC).
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E) Se um dos devedores solidários falecer deixando herdeiros, cada um destes será obrigado a pagar a quota que corresponder a o seu quinhão hereditário, nos limites da herança (correta interpretação do art. 276 do CC).
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F) "O espólio sucede o de cujus nas suas relações fiscais e nos processos que os contemplam como objeto mediato do pedido. Consequentemente, o espólio responde pelos débitos até a abertura da sucessão, segundo a regra intra vires hereditatis" (STJ, REsp 499.1 47 /PR, l .ª Turma, Rei. Min. Luiz Fux, j. 20.1 1 .2003, DJ 1 9. 1 2.2003, p. 336).
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Prazo para abertura do inventário
Nos termos do art. 611 NCPC, o processo de inventário e de partilha deve ser instaurado dentro de 2 meses, a contar da abertura da sucessão.
DOIS MESES É DIFERENTE DE 60 DIAS... NO CPC DE 1973 O PRAZO ERA DE 60 DIAS...
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É comum haver atraso na abertura do inventário. Diversas as razões, como o trauma decorrente da perda de um ente familiar, dificuldades financeiras, problemas na contratação de advogado ou necessidade de diligências para localização dos bens e sua documentação .
A inércia do responsável poderá ensejar a atuação de outro interessado na herança, que tenha legitimidade concorrente (Ex. herdeiros e terceiros interessados).
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O atraso na abertura do processo de inventário, quando superior aos dois meses, acarretará acréscimo dos encargos fiscais, pela incidência de multa.
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Como é notório, a administração do inventário cabe ao inventariante.
Todavia, nos termos do art. 1.797 do CC, até o compromisso do inventariante, a administração da herança caberá a um administrador provisório ou ad hoc, de acordo com a seguinte ordem sucessiva:
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1) Ao cônjuge ou companheiro, se com o outro convivia ao tempo da abertura da sucessão.
2) Ao herdeiro que estiver na posse e administração dos bens, e, se houver mais de um nessas condições, ao mais velho.
3) Ao testamenteiro.
4) À pessoa de confiança do juiz, na falta ou escusa das indicadas nos incisos antecedentes, ou quando tiverem de ser afastadas por motivo grave levado ao conhecimento do juiz.
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Registra-se que o rol descrito é meramente exemplificativo (numerus apertus) e não taxativo (numerus clausus), o que está de acordo com o sistema aberto adotado pela codificação de 2002. 
Desse modo, pode ser tido como administrador provisório um companheiro homoafetivo do falecido ou filho socioafetivo não registrado
que esteja na posse dos bens do de cujus.
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DA HERANÇA JACENTE E DA HERANÇA VACANTE
O objetivo do Direito das Sucessões é destinar os bens do falecido aos seus herdeiros. 
Entretanto, pode ocorrer que o de cujus não tenha deixado herdeiros, prevendo o art. 1.844 do CC que, não sobrevivendo cônjuge, ou companheiro, nem parente algum sucessível, ou tendo eles renunciado à herança, esta se devolve ao Município ou ao Distrito Federal, se localizada nas respectivas circunscrições, ou à União, quando situada em território federal.
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Herança jacente é a hipótese de quando não há herdeiro certo e determinado, ou quando não se sabe da existência dele. 
Já a herança vacante ocorre quando a herança é entregue à fazenda pública por se ter verificado não haver herdeiros que se habilitassem no período da jacência.
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Antes do destino final de tais bens vagos, que são devolvidos ao Estado, a lei consagra uma série de procedimentos, surgindo os conceitos de herança jacente e vacante que, do mesmo modo, constituem conjuntos de bens a formar um ente despersonalizado. 
Frise-se que, ao final do processo, o Estado não é herdeiro, mas um sucessor irregular, não estando sujeito ao direito de Saisine.
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A herança jacente ficará sob a guarda, a conservação e a administração de um curador até a respectiva entrega ao sucessor legalmente habilitado, ou até a declaração de vacância (art. 739 do CPC/2015, correspondente ao art. 1.143 do CPC/1973).
Registra-se que os bens do de cujos serão arrolados pelo magistrado em que o feito tramitar, comparecendo este e seu escrivão ao local onde residia o falecido para averiguação dos bens.
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Durante a arrecadação, o juiz ou a autoridade policial inquirirá os moradores da casa e da vizinhança sobre a qualificação do falecido, o paradeiro de seus sucessores e a existência de outros bens, lavrando-se de tudo auto de inquirição e informação (art. 740, § 3 .0, do CPC/2015).
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Ato contínuo, praticadas as diligências de arrecadação e ultimado o inventário, serão expedidos editais na forma da lei processual . 
Nos da lei processual, os editais seriam estampados três vezes, com intervalo de 30 dias para cada um, no órgão oficial e na imprensa da comarca, para que viessem a habilitar-se os sucessores do finado no prazo de seis meses contados da primeira publicação. 
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Verificada a existência de sucessor ou testamenteiro em lugar certo, far-se-ia a sua citação, sem prejuízo do edital. 
Quando o finado fosse estrangeiro, seria também comunicado o fato à autoridade consular.
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O art. 741 do CPC/2015, correspondente ao último preceito, traz algumas inovações. De início, conforme o seu caput, "ultimada a arrecadação, o juiz mandará expedir edital, que será publicado na rede mundial de computadores, no sítio do tribunal a que estiver vinculado o juízo e na plataforma de editais do Conselho Nacional de Justiça, onde permanecerá por 3 (três) meses, ou, não havendo sítio, no órgão oficial e na imprensa da comarca, por 3 (três) vezes com intervalos de 1 (um) mês, para que os sucessores do falecido venham a habilitar-se no prazo de 6 (seis) meses contado da primeira publicação".
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Decorrido um ano de sua primeira publicação, sem que haja herdeiro habilitado ou pendente a habilitação, será a herança declarada vacante, o que tem caráter definitivo para a destinação dos bens (arts. 743 do CPC/2015 e 1.820 do CC/2002).
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Não se olvide que "é entendimento consolidado neste Superior Tribunal de Justiça que os bens jacentes são transferidos ao ente público no momento da declaração da vacância, não se aplicando, desta forma, o princípio da saisine" (STJ, AgRg no Ag 85 1 .228/RJ, Rel. Min. Sidnei Beneti, 3 .ª Turma, j. 23. 09.2008, DJe 13.10.2008). Por tal motivo, é absolutamente possível se usucapir bens de herança jacente. Vejamos:
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FIM
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