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Resenha O amor e a Lei Psicologia

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Resenha
O texto “Amor e a lei – O Processo de Separação no Tribunal de Família” de Fernanda Otoni de Barros versa basicamente sobre os desencontros amorosos que acabam desembocando nas Varas de Família. A esperança das partes ao chegar ao tribunal é que as normas regulem o irregulável, colocando fim ao caos deflagrado pelo mais íntimo foro do ser humano.
Assim, o estudo em questão, objetiva demonstrar um pouco do que ocorre no processo de separação, entretanto, sem esgotar o tema em questão. Neste sentido, tenho como foco a ficção que envolve toda a trama conjugal que é exposta nas Varas de Família, trama esta que se mostra como expressão da verdade, mesmo não o sendo e um breve relato do papel da clínica no judicial.
Temos por um lado o magistrado, o qual pressupõe-se que seja neutro ao proceder à análise do caso e à condução do processo em julgamento. Entretanto, sabe-se que isso se trata de uma ficção, visto que a subjetividade do jurista interfere de fato na formulação de sua convicção. “Está em dia a frase: Cada cabeça uma sentença” (BARROS, 1997, p. 41)
Observa-se ainda, por outro lado, que a ficção também impera fora das sentenças do juiz, de modo que a subjetividade acaba colocando-se de forma determinante em todo o espaço do julgamento. Assim, temos que os valores morais e pessoais acabam sendo usados para determinar o comportamento do outro.
Um dos motivos de toda a subjetividade presente no tribunal é explicado pela autora, e diz respeito à sexualidade humana, de modo que esta em “em suas possíveis e inimagináveis vestes” determina a cena do processo litigioso. Este é o local em que vai atuar o inconsciente, espaço em que as partes tornam pública a sua vida privada, causando, muitas vezes, impacto àqueles que estão de telespectadores.
Entra em cena também neste processo a Justiça, como sendo uma demanda simbólica das partes. Assim ela é vista como ficção, já que enquanto um ideal que é perseguido por todos, é visto por cada um de forma distinta, aparecendo vários arranjos possíveis e inimagináveis para descrevê-la.
Conforme foi ressaltado acima, não há um consenso sobre o que é o justo, de forma que um ato diferente de nosso desejo nos faz idealizar uma sociedade de iguais. Para tanto, criamos a lei, como tentativa de uniformizar as ações, e ela só é escrita, porque vivemos em uma sociedade civilizada de diferentes, com aspirações distintas.
Fica claro, em face do exposto, que “é inegável o entrelaçamento entre Direito de Família e a estrutura subjetiva das relações” (BARROS, 1997, p. 42). Assim, notamos que o aparato jurídico por si só é insuficiente para conseguir fixar-se na objetividade que é demandada por essa seara jurídica.
Frente a toda essa ficção e subjetividade, é necessário relembrar como atua o saber psicológico no Ordenamento Jurídico. A Psicologia Jurídica inseriu-se no Direito como meio de prova processual, através da pericia, como explica a autora: “a prova pericial é um dispositivo jurídico que auxilia na formação da convicção do juiz , para que este julgue, intervenha na vida privada de uma forma que pode almejar ser educativa, preventiva ou punitiva.” (BARROS, 1997, p. 43)
O perito, portanto, tem como atribuição contribuir com os autos do processo com o esclarecimento da verdade do fato que está em questão no juízo. Entretanto, essa é uma tarefa utópica, visto que são apresentadas versões distintas pelo casal em litígio, de forma que cada um tem uma história própria pra contar, cada um defende sua versão.
Dessa forma, “não existe uma verdade única sendo que cada um constrói a sua ficção sobre a sua história e em torno disso sustenta um saber que é transmitido e repetido ‘como se’ fosse a verdade, mas é uma construção absolutamente particular.” (BARROS, 1997, p. 43)
Temos portanto, que a posição do perito serve apenas para manter a “onipotência narcísica” do profissional que acredita que consegue responder com a verdade ao que pede o Direito. Entretanto, o saber apresentado como verdade cristalizada é uma ficção psicológica” (BARROS, 1997, p. 44)
Por outro lado, a psicanálise no campo judicial, na figura da clínica, visa ir muito além da perícia, buscando a mediação. Assim, temos que:
o campo da Psicologia Jurídica deve ser o de restituir àquele que a procura a dignidade de ser autor de sua história, trabalhando no sentido de promover uma implicação deste na tecitura discursiva e simbólica que apresenta, desmontando as ficções em que o sujeito encontrava-se alienado, originalmente ao endereçar à Justiça, este Outro, os desígnios de sua vida. (BARROS, 1997, p. 46)
Por fim, fica a lição de que é necessário romper com as estruturas passadas que conduzem a ficção e construir uma prática conforme a ética, em que as diferenças sejam reconhecidas e levadas em conta na formulação das convicções que envolvem o amor e a lei.

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