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U N O PA R M ETO D O LO G IA D O EN SIN O D O FU TSA L E FU TEB O L Metodologia do ensino do futsal e futebol UNIDADE 4 MÉTODOS E PROCEDIMENTOS DE INTERVENÇÃO NO ENSINO DO FUTSAL E FUTEBOL Seção 1 | Ensino do futebol e futsal como forma de desenvolvimento humano Objetivos de aprendizagem: Esta unidade permitirá compreender aspectos do ensino do futebol e do futsal. Os elementos a serem abordados em relação ao ensino destas modalidades dizem respeito ao desenvolvimento humano dos praticantes das modalidades, tendo em vista as dimensões que podem ser estimuladas, se o ensino for bem conduzido pelo profissional responsável. Além dos aspectos cognitivos e motores, essa unidade tem como objetivo abordar questões sobre o ensino do futebol e do futsal como veículos de reflexões sociais ou desprovidas de elementos críticos. O planejamento será um dos eixos que necessitam ser compreendidos quando o assunto é o ensino de modalidades esportivas. Mostrar a importância da metodologia de ensino é primordial dentro desta unidade, já que diz respeito a uma das principais dimensões a serem adquiridas para quem deseja trabalhar com os processos de ensino-aprendizagem presentes no futebol e no futsal. Tiago Tristão Artero Unidade 4 O futebol e o futsal poderão, de maneira inequívoca, auxiliar de maneira bastante relevante no desenvolvimento do ser humano. De maneira plena, buscar meios para que estas modalidades permitam o desenvolvimento cognitivo e motor é uma função dos professores, a partir de uma visão que considera o futebol e o futsal como meios de melhorar a aprendizagem de um indivíduo. Métodos e procedimentos de intervenção no ensino do futsal e futebol U4 114 O planejamento no ensino do futebol e do futsal, assim como o planejamento para todo profissional que vai trabalhar com os processos de ensino-aprendizagem é fundamental. Saber as possibilidades de emprego desta modalidade para que os seus praticantes sejam de alguma forma beneficiados, assim como toda a equipe, é algo que pode ser proporcionado a partir de um bom planejamento. Há vários métodos que podem ser aplicados no ensino do futebol e do futsal. É possível e importante saber que o professor ou técnico podem utilizar ferramentas mais globais ou proporcionar ações motoras em etapas. A ação de quem ensina poderá visualizar o desenvolvimento de uma técnica em etapas ou de uma maneira mais ampla, em contextos diferentes, com objetivos diferentes. Portanto, saber qual método será empregado no ensino do futebol e do futsal auxiliará uma ação docente mais efetiva. Seção 2 | O planejamento no ensino do futebol e do futsal Seção 3 | Métodos a serem aplicados no ensino do futebol e do futsal Métodos e procedimentos de intervenção no ensino do futsal e futebol U4 115 Introdução à unidade A unidade contém importantes conteúdos voltados aos profissionais que desejam utilizar o futebol e o futsal como meio de desenvolvimento da motricidade, da cognição, do conhecimento processual, conhecimento declarativo, da criatividade e da capacidade de tomada de decisões – possibilidade presente no futebol e no futsal por terem grande aceitação no Brasil. Cabe, antes de tudo, a reflexão do motivo com que determinada prática esportiva é ensinada ou praticada. No âmbito social, um viés crítico pode estar relacionado ao contexto esportivo. Os autores citados neste livro possuem materiais de pesquisa com opiniões acerca do uso do esporte como instrumento de transformação social ou como forma de adquirir técnicas específicas dos gestos motores solicitados por determinada prática esportiva, no caso em questão, do futebol e do futsal. O tecnicismo poderá estar presente, valorizando as questões motoras presentes nos fundamentos do futebol e na sua evolução tática, mas também, além da parte técnica, será abordada uma visão crítica que enfatize ganhos sociais. No ensino de todas as modalidades, o planejamento torna-se elemento fundamental no desenvolvimento das técnicas referentes à prática esportiva e ao aperfeiçoamento dos objetivos e das estratégias delineadas. No que diz respeito à metodologia empregada para o ensino do futebol e do futsal, serão vistos métodos que partem dos gestos específicos para uma abordagem motora global e os métodos que vão do todo para a parte, além da possibilidade de abordagem mista – métodos utilizados de acordo com a situação pedagógica presente no contexto. Os assuntos relacionados podem dar uma base importante àqueles que utilizarão o futebol e o futsal como elemento pedagógico para a formação de valores e de olhares críticos ou como uma prática voltada à competição. Métodos e procedimentos de intervenção no ensino do futsal e futebol U4 116 Métodos e procedimentos de intervenção no ensino do futsal e futebol U4 117 Seção 1 Ensino do futebol e futsal como forma de desenvolvimento humano Introdução à seção Esta seção destina-se a mostrar o uso do futebol e do futsal como meio para alcançar o desenvolvimento de aspectos voltados à aprendizagem e dependentes de uma intervenção significativa do professor, em uma visão que valorize o que cada situação presente nestas modalidades esportivas pode proporcionar. Desta forma, dar ênfase ao trabalho de aprendizagem motora e de produção de conhecimento pode levar a um refinamento dos gestos e à superação de dificuldades e distúrbios. O ensino do futebol e do futsal poderá proporcionar o desenvolvimento da inteligência e da criatividade, dimensões que podem estar presentes quando um aluno necessita escolher entre uma opção e outra no momento do jogo, interagindo com os colegas de equipe e com os integrantes da equipe adversária. Para saber mais, acesse o link disponível em: <www.educacaopublica. rj.gov.br/biblioteca/educação_fisica/0001.html>. Acesso em: 10 mar. 2016. Esse link contém citações da professora Suraya Darido a respeito de concepções pedagógicas e a relação com a Educação Física e, consequentemente a abordagem de conteúdos da mesma. Para saber mais, acesse o link disponível em: <www.efdeportes.com/ efd179/educacao-fisica-no-desenvolvimento-cognitivo.htm>. Acesso em: 10 mar. 2016. Esse link contém um artigo que cita elementos cognitivos que podem ser trabalhados na Educação Física e nos esportes a partir de intervenções que contenham este olhar. Métodos e procedimentos de intervenção no ensino do futsal e futebol U4 118 Atualmente, muito se prega sobre a necessidade da prática de esportes para a promoção de uma saúde corporal (BETTI, 1994), no entanto, isso dependerá de uma série de fatores que, se não forem bem conduzidos, o esperado desenvolvimento de um indivíduo pode não acontecer – principalmente se o contato com o esporte depender de uma relação entre produto e consumo (BETTI, 1994). Um bom trabalho do professor por meio do esporte pode ser uma forma eficaz de realizar intervenções com os que estão na fase da infância (VOSER; GIUSTI, 2002). Assim, não somente as habilidades esportivas esperadas para aqueles que praticam determinada modalidade serão desenvolvidas, mas também elementos emocionais e psicossociais, como indicam Voser e Giusti (2002). Este tipo de desenvolvimento humano – emocional, psicossocial, de promoção da saúde – a partir do esporte é esperado do profissional de Educação Física no contexto escolar e pode fazer parte de um projeto maior, muitas das vezes esperado pelos responsáveis. Estes podem escolher a instituição de ensino para matricular seus filhos com base em referências de trabalho que valorizem a cognição e o desenvolvimento em vários aspectos (VOSER; GIUSTI, 2002). Outros autores, como Junior (1998) e Tani, Manoel, Kokubun e Proença (1988), também valorizaram a prática esportiva como formade melhorar a motricidade e como um elemento que auxilia na superação de doenças ou distúrbios. No caso do futsal e do futebol, sua complexidade e seu elemento acíclico (determinado por ações variadas durante uma partida e no momento dos treinamentos) são questões fundamentais para a evolução de uma criança ou jovem, podendo ser direcionadas de maneira adequada a cada indivíduo, dentro de suas possibilidades e limitações (JUNIOR, 1998). Figura 4.1 | Voleio Fonte: Disponível em: <http://www.istockphoto.com/br/fotos/futebol>. Acesso em: 15 mar. 2016. Métodos e procedimentos de intervenção no ensino do futsal e futebol U4 119 Observando a realização de um movimento complexo, como o voleio presente na Figura 4.1, é coerente pensar que gestos motores mais simples ou mais sofisticados dependerão do desenvolvimento de cada organismo e são passíveis de sofrerem intervenções individualizadas de profissionais, como indica Junior (1998). Certamente a figura em questão pode retratar um refinamento motor decorrente do treino e da aprendizagem de uma determinada técnica que exige uma habilidade motora específica. Em uma situação de aula, há questões pedagógicas presentes que podem ser conduzidas pelo profissional para um trabalho que valorize não somente fatores orgânicos mas emocionais e sociais. Neste sentido, Mutti (2003) cita algumas possibilidades que podem auxiliar nesse trabalho, a partir do futsal, seja a motricidade envolvida nos movimentos, sejam as relações estabelecidas entre os indivíduos em busca de atitudes positivas. É justamente no momento do jogo que essas questões serão trabalhadas, necessitando-se estender a análise das situações vividas, principalmente no contexto escolar – de maneira educativa –, de forma a desenvolver a criticidade nos participantes do processo, esquivando-se de visões meramente tecnicistas (KUNZ, 2006). As definições de Mutti (2003) e Kunz (2006) vão ao encontro de um tipo de esporte que incentive as relações entre os indivíduos, valorizando-se a coletividade e buscando visões cada vez mais críticas, de maneira que o futsal e o futebol sirvam para o desenvolvimento do ser humano de uma maneira mais holística, ou seja, considerando-o como sujeito integral. Greco (1995) destaca que quanto mais a metodologia de ensino do futebol ou do futsal usada pelo professor estiver relacionada com a prática real do jogo em si, melhor poderá contribuir para a melhora da capacidade de aprender, em especial o conhecimento declarativo processual. Em síntese, o conhecimento declarativo processual pode ser definido a partir da capacidade do aluno em declarar/explicar, que, segundo Greco (1995), é uma habilidade que verbaliza o que ocorreu durante o jogo, em um processo de acesso às memórias formadas em relação ao momento da partida. Igualmente importante é o conhecimento processual, e, de acordo com Queiroga (2005), uma forma simples de definir este conceito refere-se à forma de realizar algo. Explicar o que foi realizado e como isso foi realizado também depende da memória, no entanto, de uma memória relacionada ao conhecimento processual. O conhecimento declarativo processual mostra-se fundamental à medida em que, de acordo com Queiroga (2005), fazem parte de um arcabouço de habilidades a serem desenvolvidas. Essas habilidades podem contribuir de maneira bastante relevante no aprendizado do futebol e do futsal. Desenvolver habilidades e ter consciência do processo motor exigido nas Métodos e procedimentos de intervenção no ensino do futsal e futebol U4 120 habilidades do futebol e do futsal podem estar entre os objetivos buscados pelo professor quando realiza a definição de qual método irá utilizar para o ensino destas modalidades. O ganho cognitivo decorrente do aprendizado do futebol também está relacionado com o conhecimento convergente e com o conhecimento divergente (STERNBERG, 2000). O primeiro, de acordo com Sternberg (2000), está ligado ao desenvolvimento cognitivo. O autor relaciona o conhecimento convergente à capacidade de escolher, entre várias possibilidades, a melhor. Este aspecto cognitivo é observável no futebol e no futsal, pois em todo momento os praticantes necessitam tomar decisões e fazer escolhas. Já o aspecto divergente, segundo Sternberg (2000), está ligado aos processos criativos, em que alternativas podem ser criadas a partir deste tipo de conhecimento. Para que essas alternativas sejam criadas uma análise das possíveis soluções deve ser realizada. Esta busca pela elaboração de soluções, ainda de acordo com Sternberg (2000), refere-se ao conhecimento divergente no momento em que um jogador, ao se deparar com determinada situação em uma partida, poderá encontrar um meio de atingir um objetivo voltado a questões ofensivas ou defensivas. Durante uma partida de futebol ou de futsal, em que crianças ou jovens estão conduzindo e realizando passes, entre tantos outros jogadores no momento do jogo, os elementos cognitivos estão sendo constantemente solicitados. O autor indica que na prática de uma modalidade esportiva a capacidade de escolha e de tomada de decisões está presente durante todo momento de jogo. Ao escolher conduzir a bola, driblar ou realizar um passe, uma quantidade grande de variáveis pode interferir neste processo, fazendo com que a criatividade tenha que ser desenvolvida para a busca de determinadas soluções (STERNBERG, 2000). Em relação ao aprendizado dos movimentos utilizados nos esportes, na infância, a característica recreativa proporciona uma série de experiências motoras que auxiliam no desenvolvimento dos gestos motores específicos das modalidades esportivas (PAES, 1989). Portanto, o aspecto lúdico possui importante função na aquisição das experiências motoras. Diversos autores apontam para a necessidade de ampliar as experiências motoras na fase da infância, motivo pelo qual, segundo Vieira (1999) e Oliveira (2001), muitos atletas na fase adulta relatam terem experimentado ricas experiências motoras. A necessidade de experimentar diversas ações motoras na fase da infância confirma a crítica realizada por Oliveira (2001) em relação às ações motoras especializadas contidas nos esportes (especialização precoce que limita as possibilidades de vivenciar diversas formas de realizar determinado movimento). Especificamente no caso do futebol e do futsal, Paes (1989) afirma que deve ser valorizado o desenvolvimento do domínio corporal e a execução dos fundamentos Métodos e procedimentos de intervenção no ensino do futsal e futebol U4 121 técnicos a partir de uma vivência menos rígida em relação à execução motora. O revés da especialização precoce dos gestos motores contidos nos esportes é a estabilização do avanço motor dos alunos. Uma das possíveis soluções é oferecer experiências motoras enriquecedoras que podem ser transferidas de um esporte para outro, de acordo com Bayer (1994). Neste sentido, Paes (1989) enfatiza a necessidade de que a fase da infância seja considerada como uma fase generalizada, uma vez que as experiências motoras diversificadas contribuem para a aquisição de gestos motores mais complexos – a partir da adolescência. Esta liberdade contida nos movimentos é defendida também por Gallahue, Ozmun e Goodway (2013), uma vez que na transição entre a fase da infância para a adolescência também ocorre uma migração entre um estágio motor que vai da transição para a aplicação. Como exemplo, Gallahue, Ozmun e Goodway (2013) citam que crianças que chutam objetos de diferentes formatos, pesos e dimensões ampliam os padrões de movimento, de maneira que, ao chegar na adolescência, poderão manifestar um melhor refinamento nos movimentos especializados esperados para o futebol ou futsal. Gomes (2002) concorda com a necessidade de diversificar as experiências motoras quando cita umcampeão de natação que, durante a infância, praticou futebol, cross-contry, entre outras modalidades. Este nadador tornou-se campeão mundial, fato que Gomes (2002) relaciona com a quantidade de estímulos e o desenvolvimento psicomotor adquiridos na infância. Quando chega a fase da adolescência, Gallahue, Ozmun e Goodway (2013) citam a passagem do estágio de aplicação para o estágio de estabilização, sendo que, o estágio de estabilização estende-se para a fase adulta e permanece por toda a vida do indivíduo. Gallahue, Ozmun e Goodway (2013) citam as habilidades esportivas como um desenvolvimento dos movimentos fundamentais ou, ainda, a combinação de movimentos fundamentais. Quando Gallahue, Ozmun e Goodway (2013) citam os movimentos fundamentais, referem-se a locomover-se, manipular e estabilizar. Citam que nos esportes esses movimentos são exigidos constantemente. Esta concepção parte de uma abordagem chamada desenvolvimentista. Gallahue, Ozmun e Goodway (2013) indicam que, para que a performance de um movimento exigido no esporte (por exemplo, no futebol ou futsal) seja desenvolvida, os padrões executados necessitam ser elevados de maneira que ocorra um refinamento constante. Para que o conceito de padrão de movimento seja compreendido, Gallahue, Ozmun e Goodway (2013) indicam de maneira exemplificativa que o movimento das extremidades do corpo são formas organizadas de ações motoras, sendo Métodos e procedimentos de intervenção no ensino do futsal e futebol U4 122 diferente do movimento fundamental de determinado esporte (pois o padrão motor pode ser direcionado para um esporte, tornando-se, a partir daí, um movimento fundamental). Para que isso ocorra, Gallahue, Ozmun e Goodway (2013) destacam que é preciso que ocorra o desenvolvimento motor, ou seja, um processo contínuo de mudança no comportamento motor, podendo, para isso, utilizar-se do esporte para promovê-lo. No caso do futebol, de acordo com Gallahue, Ozmun e Goodway (2013), imprimir ou receber força de um objeto, como uma bola, são formas de manipulá- los. Portanto, o fundamento do chute é uma forma de manipular o objeto (a bola), assim como a execução de fundamentos, como o passe, o cabeceio e o drible. Este movimento pode estar condicionado a um movimento de ‘estabilidade com manipulação’, quando o jogador, por exemplo, realiza um chute em uma bola rolada em sua direção. De acordo com Gallahue, Ozmun e Goodway (2013), o movimento de estabilidade está relacionado ao equilíbrio tanto em um movimento estático quanto em um movimento dinâmico. A defesa de um chute pelo goleiro é uma ação eminentemente de estabilidade, assim como a execução da esquiva e dos giros. É certo que para executar uma ação motora direcionada ao futebol ou ao futsal, a coordenação óculo-pedal (capacidade de coordenar as ação da visão e do movimento dos pés), o equilíbrio e a percepção motora são exigidas (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). Uma importante relação realizada por Gallahue, Ozmun e Goodway (2013) e que serve como base de análise para professores e técnicos de futebol ou futsal é o fato de que o estímulo motor específico a estas modalidades permitem melhora na performance que, em alguns casos, supera a diferença de idade (quando se compara jogadores de diferentes idades mas com performances diferentes, mesmo que com vantagem para um jogador mais novo que teve oportunidade de treino e desenvolvimento das habilidades específicas do futebol ou futsal). Esta visão em relação à aquisição das habilidades específicas é justificada por Gallahue, Ozmun e Goodway (2013) ao citarem as fases do desenvolvimento motor e a importância das situações vividas. Relatam que um indivíduo, mesmo estando em uma idade (dez anos) correspondente ao início do desenvolvimento dos movimentos especializados, poderá demonstrar uma habilidade correspondente ao estágio de utilização ao longo da vida. De acordo com essa visão é viável buscar um desenvolvimento precoce de um aluno, desde que ocorra pareamento com os indivíduos em outras áreas do desenvolvimento, buscando-se, desta forma, condições viáveis de proficiência em ações motoras diversas (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, p. 24, 2013). Métodos e procedimentos de intervenção no ensino do futsal e futebol U4 123 Figura 4.2 | Habildades do futebol Fonte: Gallahue, Ozmun e Goodway (2013). A Figura 4.2 traz, de acordo com a visão de Gallahue, Ozmun e Goodway (2013), uma relação de habilidades presentes e necessárias para a prática do futebol e do futsal. Como é possível notar, a tabela cita três tipos de movimentos fundamentais (manipulação, locomoção e estabilidade). O direcionamento dos movimentos fundamentais é realizado a fim de que se desenvolvam os movimentos especializados do esporte (no caso, os fundamentos técnicos, como o chute, a finta, o amortecimento da bola, o drible, entre outros). O professor ou técnico poderá atuar tendo em vista, tanto o desenvolvimento dos movimentos fundamentais quanto o desenvolvimento dos movimentos especializados. De acordo com Gallahue, Ozmun e Goodway (2013), um cuidado a ser tomado no ensino da prática do futebol e do futsal – e que influencia no desenvolvimento cognitivo/motor – é a garantia de que, ao aproximar-se da fase da adolescência, não haja lesões na condução dessas modalidades, visto que pode haver um aumento na prática (por haver disputas e competições em temporada com treinos durante o ano todo). Movimentos fundamentais Habilidades do movimento especializado MANIPULAÇÂO • chutar • Fazer malabarismo • Recepção • Lançar • Amortecimento LOCOMOÇÃO • Corrida • Saltar e dar passo saltado • Corrida lateral ESTABILIDADE • Movimentos axiais • Equilíbrio dinâmico - Chute com o lado interno do pé -Chute com a parte interna do pé - Chute com a ponta do pé - Chute com a parte externa do pé - Chute de calcanhar - Drible - Chute de escanteio - Passe - Chute a gol - Voleio de goleiro - Cabeceio - Embaixadas - Habilidades de goleio - Lançar bola para o campo - Lançamento do goleiro - Amortecer com a sola do pé - Amortecer com os dois joelhos - Amortecer na barriga - Amortecer com um joelho - Amortecer no peito - Com a bola - Sem a bola - Cabecear - Marcação - Habilidades de goeiro - Habilidades de jogadores de linha - Marcação - Desviar-se do oponente - Finta com a bola Métodos e procedimentos de intervenção no ensino do futsal e futebol U4 124 É preciso tecer algumas considerações para que seja realizada uma reflexão sobre os motivos para ensinar-se determinado esporte a um aluno. Darido (2012) conceitua distintas concepções a respeito da função da Educação Física no contexto escolar, decorrentes de visões fundamentadas nas concepções pedagógicas. Além disso, cita a existência do uso da Educação Física como uma forma de premiar ou como um meio de castigar os alunos, advindo da prática dos professores em proibir ou permitir que um aluno realize a Educação Física ou participe de determinado esporte, sabendo de antemão do prazer que experimentam nestes momentos em que o corpo pode ser utilizado de maneira mais ampla, quando consideradas outras disciplinas ministradas eminentemente em sala de aula. Darido (2012) ainda aborda uma concepção que enxerga a Educação Física a partir de um viés construtivista, utilizando-a como meio de desenvolver o organismo e seu aspecto psicomotor, para que, desta forma, possa facilitar a aprendizagem, a alfabetização, entre outras capacidades. Uma outra concepção indicada pela autora é a Educação Física como forma de promoção da saúde e como ganho de qualidade de vida, já que, a partir do gasto energético presente nos esportes e da solicitação do uso dos músculos e articulações, o sedentarismopode ser combatido. O desenvolvimento da motricidade e da qualidade do movimento faz parte de outra abordagem citada por Darido (2012), desprezando-se neste contexto as questões sociais e valorizando as questões motoras e toda complexidade existente nos movimentos exigidos pelos exercícios e pelos esportes em suas especificidades. A Educação Física como um meio de realizar mudanças sociais é mais uma dimensão possível citada por Darido (2012), em que a contextualização histórica, a consciência social e as possíveis mudanças decorrentes da ação ativa dos indivíduos na sociedade – visando mudanças na realidade – poderão ser buscadas. Desta forma, os conteúdos trabalhados nos esportes ou nas outras práticas da Educação Física necessitam de relevância social para que tenham sentido dentro desta abordagem. A Educação Física em uma perspectiva cultural é mais uma abordagem citada por Darido (2012), em que o legado de outras gerações necessita ser preservado e resgatado, de forma que os alunos conheçam as práticas desenvolvidas ao longo da história da humanidade em sua organização social. Esse legado de outras gerações refere-se ao que foi desenvolvido no âmbito esportivo, ginástico e das danças. Para Apolo (2004), ensinar futsal significa um processo de investigação dos indivíduos participantes, sem, necessariamente, ater-se ao porquê do ensino desta modalidade esportiva – visão considerada estreita, principalmente quando há o entendimento de que o futebol pode ser um instrumento de desenvolvimento social ou de alienação do indivíduo (BETTI, 1994). Métodos e procedimentos de intervenção no ensino do futsal e futebol U4 125 • De que forma o conhecimento declarativo e processual é requisitado na prática do futebol e do futsal e como o desenvolvimento destes conhecimentos podem auxiliar os jogadores? • De que forma a metodologia do ensino do futebol em um âmbito reflexivo pode auxiliar os praticantes de futebol e de futsal? 1. Sobre o conhecimento convergente e conhecimento divergente, marque a alternativa correta: a) Conhecimento convergente está relacionado aos processos criativos, ou seja, à criação de novas alternativas. b) Conhecimento divergente refere-se à capacidade de escolher, entre várias possibilidades, a melhor. Este aspecto cognitivo é observável no futebol e no futsal, pois em todo momento os praticantes necessitam tomar decisões e fazer escolhas. c) Conhecimento convergente refere-se à capacidade de escolher entre várias possibilidades que se mostram possíveis. d) Conhecimento divergente diz respeito à possibilidade do jogador aprender os fundamentos técnicos de maneira significativa. e) Conhecimento convergente refere-se à capacidade motora de aplicar os fundamentos técnicos de maneira mecânica. Métodos e procedimentos de intervenção no ensino do futsal e futebol U4 126 2. A respeito do desenvolvimento da criatividade do jogador, assinale a alternativa correta: a) Conhecimento convergente e divergente não estão relacionados com a criatividade de um jogador de futebol ou de futsal. b) A valorização das questões técnicas em um contexto de rendimento podem garantir a espontaneidade do jogador. c) A valorização do desenvolvimento e da especialização precoce auxilia na melhora da criatividade do jogador de futebol ou de futsal, independentemente da vivência motora que exija outras habilidades. d) A necessidade de experimentar diversas ações motoras na fase da infância limita a aprendizagem de um esporte, em específico. e) A valorização do desenvolvimento do domínio corporal e a execução dos fundamentos técnicos a partir de uma vivência menos rígida em relação à execução motora podem contribuir para que a criatividade possa se manifestar. Métodos e procedimentos de intervenção no ensino do futsal e futebol U4 127 Seção 2 O planejamento no ensino do futebol e do futsal Introdução à seção Na abordagem do ensino do futebol e do futsal, o planejamento faz parte da ação do professor ou técnico, visando alcançar determinado fim. Algumas possibilidades são citadas nesta seção, pois fazem parte do planejamento, como em relação aos momentos preparatórios, de desenvolvimento e de aperfeiçoamento, estando um momento ligado ao outro. Para conceber o planejamento é possível pensá-lo a partir de temas presentes na vida social, podendo ser um meio para que avanços sejam conquistados, por exemplo, na sociedade, na saúde e na política. O planejamento também pode fundamentar-se no aperfeiçoamento de gestos e técnicas do futebol em um viés tecnicista sem buscar, necessariamente, transformações sociais. Os sistemas de jogo e as possibilidades de estruturação de estratégias, técnicas e táticas fazem parte do arcabouço de conhecimentos que o professor ou técnico deve dominar para que faça as devidas intervenções pedagógicas. Para saber mais, acesse o link disponível em: <www.efdeportes.com/ efd149/futebol-escolar-numa-pespectiva-construtivista.htm>. Acesso em: 10 mar. 2016. O link apresenta conteúdos referentes ao planejamento realizado a partir de uma abordagem construtivista do futebol. Em relação ao planejamento, segundo Freire (2003), dificilmente a escola considera as questões culturais nas quais os alunos estão inseridos. Em sua função educativa, a escola deveria considerar o ensino do futebol e do futsal de maneira diferente da que normalmente é praticada nas ruas (FREIRE, 2003). Métodos e procedimentos de intervenção no ensino do futsal e futebol U4 128 Distanciar-se do aspecto eminentemente excludente (decorrente, muita vezes, da competitividade que afasta os mais “fracos”) e buscar enriquecer processos culturais por meio do futebol e do futsal são alternativas coerentes para o ensino destas modalidades no contexto escolar. Freire (2003) configura a “pedagogia de rua” como aquela que não tem por base os aspectos educativos. Mesmo sendo lúdica, utiliza-se de elementos excludentes e competitivos que contribuem para a geração de estigmas (que se estendem, por vezes, no decorrer dos anos). O planejamento direcionado para o ensino de futsal, de acordo com Apolo (2004), deve seguir algumas etapas. O autor defende que ele seja feito no momento preparatório, em que as ações são organizadas, bem como os objetivos são buscados. Esta primeira etapa é importante, pois fornece as direções iniciais para que sejam consideradas questões como o nível da turma e a escolha de materiais. Segundo Apolo (2004), após desenvolver a ação em si, período em que a interação entre docente e discente necessita ocorrer. Após esta etapa surge o momento de aperfeiçoar a ação. Esta última fase poderá ser colocada em prática via análise do alcance ou não dos objetivos propostos inicialmente. Para isto, avaliações poderão ser realizadas com o intento de melhorar o planejamento (APOLO, 2004). A fim de observar o planejamento voltado ao ensino do futebol e do futsal, Voser e Giusti (2002) concebem esta ação de maneira similar à de Apolo (2004). Voser e Giusti (2002) referem-se, além das etapas propostas – de avaliação inicial, definição dos objetivos e dos assuntos a serem abordados, formas de aplicação das atividades, materiais a serem utilizados e avaliação –, um planejamento para o ano todo, outro para um agrupamento de meses e outro planejamento referente ao trabalho do conteúdo para aplicação em cada dia. Compreender a dimensão das ações práticas e do desenvolvimento da motricidade serve como base para o trabalho de um professor de Educação Física. No entanto, Kunz (2006) indica uma outra concepção de ensino e do porquê ensinar futebol ou futsal. Relaciona motivações de desenvolvimento da análise crítica, rumo a uma emancipação social em decorrência de um trabalho reflexivo, tanto por parte dos professores quanto por partedos alunos. Desta forma, o significado de cada movimento e as adaptações motoras decorrentes das experiências sociais vividas em modalidades esportivas como o futebol ou o futsal são caminhos para abordar os praticantes. O porquê de ensinar um esporte (como o futebol ou o futsal), segundo Kunz (2006) justifica-se como uma possiblidade de desenvolver um olhar crítico sobre o próprio esporte e sobre a sociedade. Desta forma, proporcionar momentos reflexivos, permitido pela aproximação do Métodos e procedimentos de intervenção no ensino do futsal e futebol U4 129 professor aos alunos pode servir para o desenvolvimento de um olhar crítico – presente antes de uma partida, durante e depois. Para Mutti (2003), o futsal, além dos significados implícitos nesta prática, em particular aqueles desenvolvidos em momentos de jogo, pode contribuir para aumentar o arcabouço de situações vividas. Essas situações vividas, citadas por Mutti (2003), conferem uma quantidade necessária de conhecimentos práticos exigidos por essa modalidade esportiva. O refinamento motor e a evolução nos movimentos exigidos pelo futsal poderão ser trabalhados em contextos distintos, necessitando, para isso, de intervenções de ensino realizadas por um profissional de Educação Física (MUTTI, 2003). Este autor enfatiza que as situações de aprendizagem, decorrentes dessas intervenções, necessitam valorizar a dimensão da motricidade. Saber porque ensinar futebol ou futsal pode auxiliar na definição do planejamento do professor, uma vez que vai ao encontro da necessidade de observar as ações que estão no entorno da prática dessas modalidades (BETTI, 1994). Esta visão está direcionada rumo a um olhar crítico a respeito da maneira como ocorre o aprendizado e as relações sociais envolvidas nas práticas esportivas (BETTI, 1994). O autor ainda valoriza a importância de sair de um papel passivo na prática esportiva, incorporando novos olhares a respeito do consumo do futebol enquanto produto. Esse papel passivo diz respeito à população crescente de indivíduos que entram em contato com o futebol e o futsal por meio de imagens (televisivas, jornalísticas, em matérias da internet), sem necessariamente praticar uma modalidade esportiva (BETTI, 1994). Betti (1994) reforça, ainda, a importância de mudar este panorama a partir de um novo olhar, que permita compreender o futebol e o futsal como modalidades esportivas a serem efetivamente praticadas, o que faz diferença tanto no papel do ensino do professor quanto no contexto dos alunos. Portanto, ensinar o futebol e o futsal e permitir que os alunos pratiquem-nos em um contexto educativo – ou, até mesmo, competitivo – é primordial enquanto uma opção que mobiliza as relações sociais e promove ganho relacionado à cultura corporal. Há autores que indicam a discussão sobre a função de ensinar o futebol e o futsal de maneira crítica como algo dispensável, por exemplo, Voser e Giusti (2002) entendem essas práticas como forma de melhorar a questão motora em um contexto desenvolvimentista (ou seja, que valoriza o ganho motor e a o aprendizado do gesto técnico). Já na visão de Kunz (2006) um planejamento direcionado por olhar crítico irá preocupar-se com objetivos do ensino do futsal, ou seja, em que contexto (social e político) está havendo a prática da modalidade. Kunz (2006) também ratifica a importância de saber com que fins o futsal é praticado. Apolo (2004) defende que os alunos sejam mobilizados a partir de questões que gerem interesse a partir de um ensino relevante para eles, de maneira que se envolvam na prática e que o esporte seja um gerador de significados. Métodos e procedimentos de intervenção no ensino do futsal e futebol U4 130 Em relação às questões técnicas, o planejamento pode estar voltado, por exemplo, para os fundamentos do futebol e do futsal e para os elementos táticos. Tanto os fundamentos quanto a questão tática são aspectos importantes para que a movimentação (no campo ou na quadra) ocorra de maneira consciente (VOSER; GIUSTI, 2002). Os autores diferenciam técnica e tática empregadas durante os treinamentos ou durante um jogo, podendo, ambas, serem abordadas em um contexto de ensino (seja nos gestos desempenhados nos fundamentos do futebol e do futsal, seja na movimentação dos jogadores empregada em determinado sistema de organização dos integrantes de uma equipe em campo/quadra). Quando nos atemos às questões técnicas e táticas – descritas por Voser e Giusti (2002) – é possível ter contato com os conteúdos que atendem ao aperfeiçoamento dos gestos, movimentos e desempenho. Portanto, o planejamento será realizado em consonância com estes objetivos, devendo estar presente nos planos, meios de melhorar a dimensão motora e tática dos jogadores, no âmbito individual e coletivo. Em contrapartida, autores como Betti (1994) e Kunz (2006) promovem uma análise do esporte enquanto ganho de autonomia e promoção de uma análise crítica de sociedade, tendo o esporte como meio. • O momento preparatório, segundo Apolo (2004), é um momento de aperfeiçoamento ou de organização das ações iniciais a serem seguidas? Qual a importância que pode ser atribuída ao momento preparatório? • Existe um consenso acerca da concepção de planejamento e dos objetivos inerentes a ele ou existem concepções diferentes sobre ele? Quais visões podem ser citadas? 1. Sobre o planejamento voltado ao ensino do futebol e do futsal, assinale a alternativa correta: Métodos e procedimentos de intervenção no ensino do futsal e futebol U4 131 2. Em relação ao planejamento no futebol e no futsal, assinale a alternativa incorreta: a) Em relação às questões técnicas, o planejamento pode estar voltado, por exemplo, para os fundamentos do futebol e do futsal e para os elementos táticos. b) Os autores diferenciam técnica e tática empregadas durante os treinamentos ou durante um jogo e não podem ser abordadas em um contexto de ensino, pois técnica e tática são dimensões competitivas. c) O planejamento pode estar voltado para ganho de autonomia e promoção de uma análise crítica de sociedade, tendo o esporte como meio. d) A utilização do esporte como um meio para alcançar uma visão crítica de sociedade proporciona a mudança desse panorama a partir das relações sociais. e) Um indivíduo poderá exercer um papel ativo em relação ao futebol e ao futsal quando, de fato, praticar o esporte e deixar de lado um papel passivo como espectador. a) O planejamento deve considerar questões como a avaliação inicial, a definição dos objetivos e dos assuntos a serem abordados e as formas de aplicação das atividades. b) Os materiais que serão utilizados no ensino do futebol dizem respeito à execução dos fundamentos técnicos, não havendo relação com o planejamento. c) O planejamento deve ser realizado sempre para o ano todo, pois realizar o planejamento para um agrupamento de meses não auxilia o ensino de maneira significativa. d) Não saber porque ensinar futebol ou futsal pode auxiliar na definição do planejamento do professor, uma vez que vai ao encontro da necessidade do professor focar-se na sua ação docente. e) Condicionar o aprendizado do futebol à necessidade de sair de um papel ativo na prática esportiva, para que os alunos possam realizar um papel passivo auxilia no planejamento. Métodos e procedimentos de intervenção no ensino do futsal e futebol U4 132 Métodos e procedimentos de intervenção no ensino do futsal e futebol U4 133 Seção 3 Métodos a serem aplicados no ensino do futebol e do futsal A metodologia voltada ao ensino do futsal pode ser concebida a partir de um método parcial, global ou misto. Cada método empregado gera um tipo específico de ensino ou de treinamento e influencia no planejamento do profissional que está trabalhandocom determinado grupo. Cada método de ensino do futebol ou do futsal possui vantagens e desvantagens que serão descritas no decorrer desta seção. Alguns métodos poderão estimular a motivação e a criatividade dos alunos, enquanto outros poderão gerar ganhos motores mais detalhados e refinados, a depender da concepção do método empregado e escolhido pelo professor ou técnico na definição do trabalho que será realizado. Um aspecto a ser destacado é que a metodologia vai além dos momentos do jogo, em si, extrapolando sua importância para momentos de reflexão pré e pós-jogo, bem como nos treinamentos. O planejamento voltado ao ensino do futebol e do futsal está intrincado a muitas outras questões, como, por exemplo, ao método que será empregado. Mutti (2003) indica que a metodologia escolhida por um professor para ser aplicada equivale a um caminho utilizado para chegar a um determinado objetivo. Esse método servirá, ainda segundo o autor, para direcionar o ensino de acordo com as diversas possibilidades dispostas. Mutti (2003) indica, para o ensino do futsal, possíveis métodos a serem aplicados, como o método parcial, o método global e o método misto. Para saber mais, acesse o link disponível em: <www.efdeportes.com/ efd50/passe.htm>. Acesso em: 10 mar. 2016. Esse link contém um artigo que compara os métodos de ensino do futebol em uma pesquisa que tem como público crianças submetidas e distintos tipos de intervenções em relação ao treinamento. Métodos e procedimentos de intervenção no ensino do futsal e futebol U4 134 O método parcial de ensino voltado ao futsal, de acordo com Costa (2003) é aplicado a fim de alcançar uma ação motora mais detalhada e correta em cada parte da execução proposta. O revés desta forma de trabalho é, segundo o autor, a falta de motivação, muitas das vezes decorrentes de um ambiente pouco estimulante quando há a aplicação desta metodologia. A metodologia parcial é similar ao que Reis (1994) classifica como método analítico-sintético, em que, conforme as técnicas vão sendo dominadas em partes, outras são solicitadas, até que a modalidade esportiva possa ser praticada. Portanto, é um método que se configura em treinar os gestos e ações em um contexto fora do jogo para, somente depois, ser inserido em uma situação de jogo (SANTANA, 2006). O trabalho individualizado, da parte para o todo (parcial), por vezes, de acordo com Reis (1994), pode ser desestimulante, pois é treinado fora do contexto de jogo, em situações simuladas. Costa (2003) indica algumas desvantagens na aplicação da metodologia de ensino parcial, pois a motivação para a prática fica comprometida, bem como o ato de reproduzir toma o lugar do ato de criar. Ainda há, como consequência, insuficiente realidade neste tipo de treino, já que as situações específicas da prática esportiva não estão presentes, visto que as ações simulam uma partida (COSTA, 2003). A crítica em relação a esse método, tecida por Garganta (1995), vai ao encontro de que os momentos lúdicos ficam comprometidos, e, de acordo com o autor, nesses momentos há ganho de criatividade a partir das descobertas – diferentemente do que ocorre em uma situação com características eminentemente técnicas. Porém, para Costa (2003) há vantagens no ensino parcial, como a aquisição de um gesto motor correto dos fundamentos técnicos, a possibilidade de intervenção do professor de Educação Física ou técnico ao realizar adequações nos movimentos no mesmo instante da execução, a capacidade do profissional visualizar a evolução do gesto e a possibilidade de considerar o nível de aprendizagem motora de cada aluno, já que a orientação pode ser específica, caso a caso (COSTA, 2003). Uma metodologia que valorize o ensino do movimento de maneira global, conforme indicado por Costa (2003), define um ambiente mais estimulante, pois proporciona uma execução menos fragmentada e que valoriza, de maneira um pouco mais intensa, a espontaneidade. Santana (2006) refere-se a este método global como global-funcional, momento em que as condições do jogo podem ter sua complexidade, aos poucos, aumentada, permitindo ao aluno um aprendizado progressivo e motivador. Segundo o autor, a motivação pode vir em grande parte do atendimento à vontade do aluno em jogar – no caso, futebol ou futsal. Neste contexto, jogos pré-desportivos poderão ser aplicados, até que o esporte, com suas regras e características mais formais, possa ser desenvolvido. O gesto desenvolvido, de acordo com Santana (2006), ocorrerá a Métodos e procedimentos de intervenção no ensino do futsal e futebol U4 135 partir de um movimento contextualizado, realizado do início ao fim em uma situação de jogo, denominado global. O caráter motivador auxilia no caso do trabalho com turmas, em especial no contexto escolar, para que se efetive o aprendizado de maneira significativa. Com relação às desvantagens do método global, o gesto técnico correto, muitas vezes, pode demorar a ser alcançado, gerando desmotivação no aprendiz (COSTA, 2003; GRECO, 1995). Neste método não há um acompanhamento passo a passo de cada etapa do gesto motor, mas sim uma exploração dos movimentos de uma maneira mais livre e geral (pois o aluno executará cada técnica a partir das situações surgidas nos jogos, e não isoladamente em cada gesto motor). O olhar do professor ou técnico a respeito da evolução da aprendizagem técnica e motora fica prejudicado, devido ao caráter coletivo desse tipo de método aplicado que não permite ao professor intervenções pormenorizadas em cada etapa do gesto motor. O aluno, neste caso, executa o gesto do início ao fim, sem a fragmentação em relação às etapas do movimento/técnica empregada. As limitações do aluno quanto ao seu rendimento e desempenho, de acordo com considerações de Costa (2003), não podem ser atendidas em cada etapa do gesto motor. O equilíbrio entre os dois métodos descritos anteriormente, segundo Costa (2003), poderá ser alcançado a partir do uso de um método misto. Desta forma, serão reunidos aspectos da metodologia de ensino parcialmente detalhada e globalmente aplicada. Os fundamentos do futsal, segundo Mutti (2003), serão trabalhados a partir da metodologia que contemple as técnicas presentes nesta modalidade, com as devidas indicações de como elas serão realizadas. É certo que, segundo o autor, as adequações dos movimentos necessitam ser realizadas de forma cuidadosa, já que há muitas possibilidades de conceber a melhor maneira de ensinar cada técnica como da parte para o todo ou vice-versa. O direcionamento do treino com base na repetição e na aquisição de gestos técnicos passo a passo está em contraposição à atuação do profissional que valoriza a resolução de situações e o desenvolvimento da criatividade. Esta última concepção, fundamentada na resolução de problemas, de acordo com Bayer (1990), pode ser chamada de “pedagogia das situações”, pois essa pedagogia tem como base a análise de cada situação (no caso, esportiva) e a sua resolução. De maneira similar, Garganta (1998) destaca uma abordagem de cunho mecanicista e outra que garante uma melhor compreensão das situações de jogo. No primeiro caso, Garganta (1998) indica que é dada ênfase aos fundamentos do futebol e do futsal e na sua execução motora. Já na segunda situação valoriza-se a compreensão do jogo como um todo, da tática envolvida e da complexidade que, pouco a pouco, torna-se crescente, conforme a melhora da equipe e das capacidades do jogador. Cada situação apresentada no futsal deve ser analisada, de maneira que a Métodos e procedimentos de intervenção no ensino do futsal e futebol U4 136 metodologia do profissional de Educação Física seja adequada, visto a necessidade de atingir alguns objetivos individuais e coletivos (COSTA, 2003). O que Costa (2003) sugere, de fato, é que o alunopraticante da modalidade esportiva seja estimulado em sua capacidade de criação e no desenvolvimento de sua inteligência, já que são estas características que podem proporcionar que ele encontre formas de resolver as situações que ocorrerão durante o jogo. Neste sentido, Rezer (2003) sugere que situações sejam problematizadas durante e após os jogos, para que a capacidade de resolvê-las seja desenvolvida no contexto da prática esportiva. Uma destas situações, conforme indicação de Santana (2006), pode ser, por exemplo, em relação à localização do adversário em campo, a movimentação com e sem a bola e as possibilidades de ação diante de situações imprevisíveis surgidas durante a realização de uma partida. Em uma dimensão que valoriza o desempenho e a aprendizagem motora, Costa (2003) cita que a forma de ministrar determinada aula em âmbito de aprendizado do esporte necessita de metas e uma forma de ensinar que valorize o maior desenvolvimento em um mínimo de tempo. Desta maneira, não somente o gesto técnico irá desenvolver-se, como também o condicionamento e a motricidade especificamente necessária à modalidade esportiva escolhida (COSTA, 2003). Muitos professores executam suas metodologias de ensino voltadas para o futebol, para o futsal e para tantas outras vivências esportivas, às vezes, sem atentarem-se sobre qual método estão aplicando, muitas vezes, utilizando-se do método parcial, global ou misto (COSTA, 2003). Isto é um problema quando concebemos que a metodologia escolhida e a concepção de ensino é parte importante da atuação docente (DARIDO, 2012). A contrapartida de Kunz (2006) sobre a temática de metodologia no ensino do futsal diz respeito à desconstrução e reconstrução do esporte, da maneira em que se encontra tradicionalmente organizado, gerando argumentos e pontos de vista dotados de questionamentos que permitam aos alunos desenvolverem suas próprias criações e soluções para os problemas gerados no contexto da prática esportiva. Esta visão promove ganhos aos alunos, na medida que eles adquirem maior autonomia e capacidade de escolha. Jogos e materiais audiovisuais como filmes poderão fazer parte do arcabouço de recursos aplicados pelo professor, visando auxiliar o método de trabalho escolhido pelo mesmo, de acordo com Costa (2003). Com esses materiais, especificidades, como as regras, a movimentação dos jogadores, entre tantos outros fatores que influenciam a organização de uma equipe poderão ser analisados. O viés empregado como método também poderá buscar uma diferenciação sobre os objetivos da prática de determinado esporte, no caso do futebol e do futsal, a respeito de uma prática voltada ao rendimento ou como meio de conhecimento do esporte e suas Métodos e procedimentos de intervenção no ensino do futsal e futebol U4 137 particularidades técnicas, táticas, entre outras (COSTA, 2003). No sentido contrário vai Kunz (2006), quando defende que na metodologia de ensino do futsal a abertura para os questionamentos que permitam ao aluno defender seu ponto de vista e alcançar meios comuns de beneficiar o caráter social ganha força. Portanto, há uma diferenciação metodológica entre a reprodução de conceitos e práticas (advindos da mídia e do senso comum) e a criação – esta última defendida por Kunz (2006). O desenvolvimento de valores que contribuam para determinado ganho social, a partir de uma valorização do aspecto coletivo e do trabalho com turmas mistas (de idade e nível técnico diferentes), é uma opção a ser considerada, de acordo com Kunz (2006). O autor sinaliza que neste tipo de trabalho o processo de aceitação necessita estar presente – contrariamente ao viés competitivo, muitas vezes, de segregação. Este processo está presente em grande parte dos estudantes e faz parte de uma cultura de competitividade e exclusão presente na sociedade. Para que tais problemas sejam equacionados, Kunz (2006) sugere que haja uma mudança no tipo de trabalho realizado na Educação Física e com os esportes, visitando uma relação equilibrada entre teoria e prática. No que diz respeito à metodologia empregada pelos professores, Daólio (1997) indica a necessidade de estimular questões técnicas aos alunos, com base na cultura corporal que trazem de seu contexto social. Bayer (1994) indica a necessidade de agrupar diferentes modalidades a partir de características em comum, para que possa ser realizado um trabalho integrado. Essas características dizem respeito a alguns gestos motores e algumas táticas que possuem similaridades em seus objetivos, como a defesa de um alvo, ações de ataque e desenvolvimento da capacidade de decisão dos alunos, bem como a resolução de problemas (GARGANTA, 1998). Daolio (2002) destaca a necessidade do indivíduo poder influenciar seu meio de maneira positiva, utilizando, para isso, os saberes que já possui de experiências vividas. Da mesma forma, poderá adquirir e melhorar seu conhecimento tático, tanto a partir de aspectos individuais quanto de elementos que envolvem todo o grupo do qual participa. Souza (1999) sugere que, para isso, alguns questionamentos podem ser realizados, como “o que fazer”, “quando fazer” e “por que fazer”. Esses questionamentos permitirão pensar a própria prática motora no contexto de uma modalidade esportiva, levando o aluno a pensar sobre as situações de jogo que aparecem em muitos momentos no decorrer de uma partida. Essa metodologia fundamentada nos questionamentos permitirá, aos alunos, entender os princípios operacionais de um jogo coletivo (BAYER, 1994). Permitirá, também, entender que, na menor parte do tempo, suas ações táticas ocorrerão com a bola, necessitando, desta maneira, pensar nas muitas formas de agir durante a partida e durante os momentos que estão sem a bola, de acordo com Santana (2006). Métodos e procedimentos de intervenção no ensino do futsal e futebol U4 138 Participar de forma ativa, conhecendo a tática envolvida, para Bayer (1994), permite indicar um sentido ao jogo, já que as ações técnicas e os fundamentos necessitam da noção tática. Em relação aos jogos desportivos coletivos, Garganta (1998) afirma que podem gerar melhoras no âmbito social, afetivo, técnico e tático (tanto o futebol quanto o futsal enquadram-se na classificação de “jogos desportivos coletivos”). Um dos pontos afirmados por Garganta (1998) é que os jogos desportivos coletivos propiciam o desenvolvimento de situações de cooperação e competição, ambas as situações exigem a tomada de decisões frente aos desafios do jogo. Segundo Garganta (1998), a adaptação do jogador às diversas situações surgidas em uma partida propiciam a melhora na capacidade de interpretar de diversas formas as informações surgidas. Inseridos nas características dos jogos desportivos coletivos estão o jogo anárquico, descentralizado, estruturado e elaborado. De acordo com Garganta (1995), para melhor compreender as etapas pelas quais os alunos interagem no aprendizado do jogo, metodologicamente é válido saber que o jogo esportivo passa por alguns momentos. O autor classifica o primeiro momento como uma etapa de anarquia, em que não há organização na movimentação, há um excesso de oralidade no momento do jogo e concentração de indivíduos próximos à bola (geralmente ocorrido na infância, mas podendo estender-se por outras faixas etárias). Nesta etapa, crianças ou jovens buscam, de maneira contínua, o contato com a bola, sem atentarem-se ao fato de que poderiam estar posicionados no campo ou na quadra de maneira que possam auxiliar uma estratégia definida para a equipe e receber a bola em momentos oportunos. No segundo momento, de acordo com Garganta (1998), há um processo de descentralização, em que a concentração inicial excessiva desfaz-se e há certa distribuição dos praticantes no espaço destinado à prática esportiva, utilizando-se, parase comunicarem, de gestos com significados direcionados para melhor organização do jogo. Nesta etapa, há uma melhor movimentação na quadra ou no campo em relação à fase anterior. A interação entre os jogadores, de acordo com Garganta (1998), acontece por meio de uma comunicação cada vez menos oral (como era predominante na fase anterior) e enfatizando-se gestos que permitem a um jogador saber quando irá receber a bola ou, ainda, quando o colega da mesma equipe poderá movimentar-se para receber a bola. No próximo momento, há uma fase de estruturação, fase em que, gradualmente, o jogo torna-se uma prática com melhor organização na relação entre os componentes da mesma equipe. Nesta etapa, há a comunicação mais efetiva por meio dos gestos e o posicionamento dos jogadores na quadra ou no campo mostra-se melhor distribuído. A melhora nesta organização é definida por Garganta (1998) como fase elaborada. A condição motora e de movimentação bem como a capacidade de enxergar o jogo – a partir de uma melhor distribuição de seus componentes no espaço – evoluem, Métodos e procedimentos de intervenção no ensino do futsal e futebol U4 139 de acordo com o desenvolvimento dos momentos do jogo. Nessa fase elaborada, segundo Garganta (1998), a compreensão dos fundamentos técnicos e da organização da equipe na quadra e no campo está mais desenvolvida. Garganta (1998) ressalta que, conforme a necessidade de falar enquanto joga vai dando lugar a uma gestualidade específica, um novo tipo de comunicação sobre os elementos de determinada prática esportiva desenvolve-se, rumo a uma fase elaborada, na qual a vontade de estar com a bola a todo o momento desfaz-se, dando lugar a formatos diferentes de organização, tanto da movimentação dos componentes do jogo quanto do direcionamento que darão estrategicamente à partida. Dimensões similares podem ser encontradas em práticas esportivas distintas, em muitos casos com uma bola, utilizando, para movimentá-la, os membros inferiores, superiores ou ainda outro objeto, um espaço destinado à prática esportiva e à disputa com outra equipe, tudo isto gerenciado por regras, limitações e possibilidades impostas por elas (BAYER, 1994). Tanto o futebol quanto o futsal são modalidades que envolvem tanto o auxílio entre os componentes da mesma equipe quanto uma disputa com os membros da equipe adversária, busca-se a realização das metas propostas – no caso da principal, o gol (SANTANA, 2006). É uma prática esportiva que necessita de invasão do campo adversário, diferentemente de outras modalidades como o voleibol ou o tênis, em que não há invasão. Por se tratarem de modalidades de invasão, o futebol e o futsal exigem uma organização dos espaços bastante complexa, já que a ação motora para ocupar determinado local, mantendo o controle da bola ou buscando manter o controle, não é algo simples (SANTANA, 2006). A recuperação da posse de bola é tão importante quanto a capacidade de manter sua posse, já que uma rápida movimentação rumo ao gol contrário exige da outra equipe uma busca constante na recuperação dela (SANTANA, 2006). Quando analisamos estes aspectos sobre a dinâmica de jogo, avanço e defesa, bem como a movimentação rumo ao cumprimento dos objetivos do jogo – seja de manter a posse da bola, avançando à quadra adversária, seja defendendo a própria quadra –, citada por Santana (2006), é primordial recordar o que Garganta (1995) indica a respeito dos momentos de evolução de um jogo a partir de um trabalho realizado com determinada equipe ou grupo de alunos. Em especial, as crianças são beneficiadas por um trabalho voltado ao aprendizado do futsal ou do futebol, pois, ao adquirirem a capacidade de movimentação, comunicação (oral ou gestual) e controle da bola, estão desenvolvendo-se de maneira bastante intensa, caso o trabalho seja bem conduzido pelo profissional de Educação Física ou técnico (VOSER; GIUSTI, 2002). Voser e Giusti (2002) ressaltam que elementos emocionais e cognitivos estão sendo desenvolvidos quando há o emprego do esforço necessário para manter a Métodos e procedimentos de intervenção no ensino do futsal e futebol U4 140 posse de bola, avançar rumo ao gol do lado da quadra do adversário e para realizar uma interação com a equipe adversária. Essa interação é citada por Garganta (1995) como uma possibilidade de aplicação dos elementos táticos, podendo ser vista nos momentos em que o jogador decide realizar um toque de bola ou, simplesmente, em uma movimentação que realiza sem a posse de bola. No momento da escolha da metodologia de ensino a ser aplicada no ensino do futebol e do futsal é necessário considerar o desenvolvimento da resistência, da velocidade, da agilidade e da flexibilidade (FREIRE, 2003). Para que estas capacidades sejam desenvolvidas, é necessário que estejam vinculadas ao desenvolvimento da noção espaço-temporal. Uma determinada situação de jogo exigirá um “sem número” de combinações destas habilidades, conceito que valoriza a aprendizagem de ações motoras básicas (no caso de indivíduos que não adquiriram um conjunto de habilidades motoras condizentes com a idade ou com o contexto em que se encontram). Neste caso, a metodologia irá voltar-se às atividades mais elementares, melhorando o gesto motor por meio, por exemplo, de pré-desportivos (FREIRE, 2003). A metodologia de ensino poderá voltar-se ao trabalho de cada fundamento e das situações de jogo. No caso da finalização, além das diversas partes do corpo possíveis de serem utilizadas (por exemplo, o pé, a cabeça, o ombro), há outras capacidades que necessitam ser desenvolvidas como a propriocepção, a rápida movimentação e a capacidade de estar em equilíbrio no momento de finalização (FREIRE, 2003). Freire (2003) sugere algumas possibilidades de intervenção do professor no ensino da habilidade de finalização, como realizar a atividade chamada “gol a gol” (em que um jogador realizará um chute rumo ao gol adversário do próprio campo de defesa, e vice- versa). Outra atividade sugerida por Freire (2003) para auxiliar no desenvolvimento de habilidades voltadas à finalização é o “controle” (jogo que realiza-se a partir de passes e chutes ao gol com a bola controlada sem que haja contato com o chão no momento da execução destes fundamentos). No caso da “rebatida”, os jogadores chutarão – a partir da marca do pênalti ou outra marcação escolhida – de maneira bastante veloz, de maneira que a bola seja rebatida e proporcione uma nova oportunidade de marcar o gol (FREIRE, 2003). Nos “cruzamentos” é possível realizar um passe a partir da linha de fundo, com a bola alta, a meia altura ou rasteira, para que outros jogadores possam finalizar com diferentes partes do corpo (menos com os braços e mãos). No caso da atividade chamada “pivô”, o jogador que chutará ao gol realiza um passe para outro que está de costas para a meta adversária, este, por sua vez, devolve a bola para o que iniciou a jogada que, por fim, realiza a finalização com o objetivo de obter o gol. Mais uma atividade de finalização a ser citada refere-se à “corrida sob a corda”, em que o objetivo é chutar ao gol após passar por baixo de uma corda que está sendo segurada por outros colegas (FREIRE, 2003). Todas as atividades exemplificadas por Freire (2003) são direcionadas para adquirir melhor capacidade de finalização e direcionam um trabalho coletivo que Métodos e procedimentos de intervenção no ensino do futsal e futebol U4 141 exige do jogador uma gama de outros fundamentos e habilidades, como o passe, o cabeceio, a movimentação, a corrida, o salto, entre outros. De acordo com Freire (2003), a finalização, assim como o passe ou o lançamento, poderá ser executada com diferentes intensidades e distâncias, exigindo, desta maneira, diferentes graus de habilidades dos praticantes do futebol ou do futsal. Comopôde ser visto nesta seção, há muitos pontos de vista a serem considerados na escolha de uma metodologia de ensino voltada ao futebol e ao futsal. Cabe ao professor analisar os métodos e as possibilidades de desenvolvimento de seus alunos, conhecendo as aplicações possíveis nos mais variados contextos nos quais os processos de ensino-aprendizagem acontecerão. • Como o método parcial pode ser descrito no trabalho com o futebol ou o futsal e na abordagem dos fundamentos destes? • Como o método global pode ser descrito no trabalho com o futebol ou o futsal e na abordagem dos fundamentos destes? 1. Em relação às vantagens e desvantagens do método parcial e do método global, assinale a alternativa correta: a) O método parcial permite o aprendizado da técnica durante a situação de jogo, não se preocupando com as etapas do gesto motor. b) A valorização das concepções críticas a respeito do ensino do futebol e do futsal estão relacionadas com o método parcial que permite a visão do “todo”. c) A estrutura de ensino do método parcial permite a compreensão de cada etapa do gesto motor exigido para a aprendizagem do fundamento técnico. Métodos e procedimentos de intervenção no ensino do futsal e futebol U4 142 d) O método global ensina cada etapa do gesto motor até que se alcance uma compreensão global. e) Tanto o método parcial quanto o método global não se relacionam com o método misto de ensino dos fundamentos do futebol e do futsal. 2. Para a utilização dos métodos de ensino nos esportes, é possível definir fases como a anarquia, a descentralização, a estruturação e a fase elaborada. Assinale a alternativa correta: a) A fase de anarquia é a fase mais refinada entre as outras fases. b) Na fase de descentralização os jogadores já conseguem comunicar-se efetivamente a partir de gestos motores. c) Na fase de anarquia não predomina a oralidade durante uma partida de futebol ou futsal. d) Na fase elaborada predomina a oralidade para que os jogadores possam comunicar-se. e) Na fase elaborada há uma organização dos jogadores em quadra ou em campo que permite a execução de técnicas e táticas mais avançadas. O planejamento anual, o semestral ou bimestral e o diário necessitam ser realizados para que haja uma programação a ser seguida, cada qual com suas características e objetivos diferentes, visto que a avaliação de uma equipe – ou individual voltada aos participantes de uma equipe – poderá ter caráter de análise das técnicas obtidas ou dos avanços sociais decorrentes do uso do esporte como um meio de auxílio à sociedade. O ensino do futebol e do futsal deve ser realizado a partir de visões que consideram estas modalidades esportivas como meios de alcançar ganho técnico, tático e motor, mas, também, como Métodos e procedimentos de intervenção no ensino do futsal e futebol U4 143 uma forma de gerar mudanças sociais e gerar uma visão crítica que pode estimular a espontaneidade e uma mudança do ambiente no qual os indivíduos estão inseridos. Por um lado, pode haver a busca pelo desenvolvimento da motricidade e, por outro, pode ser estimulado a busca por um significado para os movimentos executados em determinado contexto. Quando o futebol e o futsal são utilizados como forma de contribuir para o desenvolvimento humano de um indivíduo ou de um grupo de alunos configuram-se como uma importante ferramenta na busca de soluções necessárias para resolver as situações de jogo surgidas. Para que este intento seja realizado, a criatividade é outro elemento, a ser desenvolvido, que está relacionado aos ganhos cognitivos que estas modalidades proporcionam. Desta forma, fique atento ao significado de conhecimento convergente e conhecimento divergente, perceba como estes tipos de saberes podem estar presentes no futebol e no futsal, bem como o conhecimento declarativo e o processual. Esses conhecimentos dependerão das experiências vividas no futebol e poderão ser frutos de um trabalho consciente do profissional de Educação Física em busca do desenvolvimento humano de seus alunos. Os autores citados neste material indicam formas de conceber o ensino do futebol e do futsal, por exemplo, indicando o método parcial, global e misto, em fases distintas, como a que vai da anarquia até a estruturação. Os elementos e dimensões citados irão dar sentido às muitas possibilidades de ensino do futebol e do futsal. Para encerrar o estudo desta unidade, é preciso, antes de tudo, que o material indicado na bibliografia seja pesquisado e as questões para reflexão sejam compreendidas a partir do que foi discorrido em cada seção. O ensino do futebol e do futsal estão condicionados a muitas dimensões, as quais foram citadas neste material. Dimensões relacionadas ao desenvolvimento humano – motor, social, de desenvolvimento cognitivo, entre outros – dimensões decorrentes da compreensão do porquê o esporte está sendo ensinado e para que fim o processo Métodos e procedimentos de intervenção no ensino do futsal e futebol U4 144 de ensino e aprendizagem do esporte acontecerá; outras dimensões que valorizam o planejamento e as formas com que poderá ser desenvolvido; por fim, o ensino do futebol e do futsal está relacionado à dimensão metodológica, tanto a partir de concepções dos métodos de treino quanto a partir de concepções sobre o porquê do aprendizado de determinado esporte (para fins sociais ou para a melhora das técnicas, por exemplo). Como visto, há distintas formas de trabalho, muitas vezes, decorrentes das diferentes concepções pedagógicas, às vezes contrárias, como em relação ao método de ensino empregado parcial, global ou misto. Abordagens que valorizam questões sociais ou aspectos motores são distintas em suas concepções e exigem abordagens de ensino e de treinamento diferentes. Questões técnicas, táticas e referentes aos sistemas de jogo necessitam ser observadas quando se busca a evolução de uma equipe ou grupo de alunos nas questões específicas do futebol e do futsal. 1. A respeito das distintas concepções em relação à Educação Física, citadas por Darido (2012), assinale as alternativas corretas: I. A concepção construtivista na Educação Física possui como prerrogativa o uso do castigo e da premiação, visto que os esportes geram prazer e a permissão ou a proibição de sua prática pode auxiliar os alunos a se concentrarem em outras disciplinas existentes no contexto escolar. II. A Educação Física como promotora da saúde – podendo, para isso, ser utilizado esportes, como o futebol e o futsal – visa alcançar melhora na análise crítica da sociedade. III. O uso da Educação Física para desenvolver a motricidade possui, em suas prerrogativas, uma busca pela qualidade dos movimentos. Métodos e procedimentos de intervenção no ensino do futsal e futebol U4 145 2. Em relação ao ensino do futebol e do futsal, tendo em vista a melhora nos aspectos técnicos, assinale a alternativa correta: a) A melhora nos gestos motores, a partir de uma metodologia de ensino parcial, pauta-se na intervenção dos movimentos como um todo em situações de jogo. b) O desenvolvimento de um indivíduo em um esporte pode ser alcançado, segundo o método global, utilizando-se de um treino de cada gesto motor de forma separada para até alcançar um nível satisfatório na ação motora. c) O método de ensino misto alterna momentos de detalhamento dos gestos técnicos, que permitem uma avaliação e desenvolvimento do gesto de maneira parcial, com vivências de jogo que favorecem a motricidade em um nível global. d) Os gestos técnicos podem ser desenvolvidos, a partir do método parcial, dando-se ênfase à espontaneidade no movimento. e) Na escolha do método parcial, global ou misto, o professor sempre estará valorizando a criatividade nos movimentos.IV.O uso da Educação Física e dos esportes para que mudanças sociais sejam alcançadas pode ser trabalhado tendo como objetivo principal a melhoria da saúde da sociedade, justificando, desta maneira, as mudanças sociais necessárias. Estão corretas: a) As alternativas I e II. b) A alternativa III. c) As alternativas I e IV. d) As alternativas III e IV. e) Nenhuma das alternativas. Métodos e procedimentos de intervenção no ensino do futsal e futebol U4 146 3. A respeito do desenvolvimento das capacidades de um indivíduo que podem ser obtidas a partir da prática dos esportes, assinale a alternativa incorreta: a) O conhecimento processual e o conhecimento declarativo podem ser trabalhados permitindo aos praticantes do futebol e do futsal o uso da criatividade e da capacidade de tomar decisões durante um jogo. b) O método global, quando utilizado como forma de ensino dos esportes, favorece a espontaneidade e a motivação do aluno, tendo como desvantagem a dificuldade em corrigir detalhes do gesto motor exigido, por exemplo, pelo futebol. c) O ensino do futebol e do futsal poderá pautar-se com vistas ao desenvolvimento motor do indivíduo, mas também afetivo, social e técnico. d) O desenvolvimento cognitivo de um aluno poderá ser alcançado por meio do futebol e do futsal devido ao grande arcabouço que oferecem no trabalho de ensino e aprendizagem. e) Uma possibilidade de desenvolvimento do indivíduo por meio do esporte relaciona-se à migração entre um estágio motor que vai da “aplicação” para a “transição”’ (GALLAHUE; GOODAY; OZMUN, 2013). 4. Sobre o ensino do futebol e do futsal, assinale a alternativa incorreta: a) A “pedagogia das situações” refere-se à aquisição de possíveis soluções padronizadas, a partir das diferentes situações surgidas nos esportes. b) A busca pelo desenvolvimento da capacidade de analisar as diversas situações surgidas na prática do esporte e resolver problemas oriundos destas situações pode ser chamada de “pedagogia das situações”. c) Em contraposição a um ensino do futebol e do futsal com fins mecanicistas está o ensino destas modalidades visando a compreensão da complexidade das situações esportivas e o desenvolvimento da criatividade. Métodos e procedimentos de intervenção no ensino do futsal e futebol U4 147 5. No tocante a escolha da metodologia para o ensino do futebol e do futsal, assinale a alternativa correta: a) Problematizar as situações de jogo e analisar as possibilidades de ação são funções do professor, não do aluno, já que este irá jogar de acordo com as orientações do professor. b) Em uma dimensão que valoriza o desempenho e a aprendizagem motora, a prioridade é problematizar as situações a partir de uma análise social. c) Buscar uma desconstrução e reconstrução do esporte em suas bases de organização tradicionais são prerrogativas de uma metodologia que valoriza o desenvolvimento motor e dos fundamentos técnicos. d) Jogos e materiais audiovisuais são recursos dispensáveis no ensino do futebol e do futsal, já que são modalidades práticas. e) Permitir ao aluno desenvolver suas próprias criações e soluções para os problemas poderá, na visão de Kunz (2006), ser realizado descontruindo e reconstruindo o esporte em suas bases tradicionalmente organizadas. d) Após desenvolver a ação em si, período em que a interação entre docente e discente necessita ocorrer, surge o momento de aperfeiçoar a ação. Estas etapas auxiliam na análise do alcance ou não dos objetivos propostos inicialmente. e) Para melhorar o planejamento no ensino do futebol e do futsal, avaliações poderão ser realizadas com o intento de melhorar o planejamento, de acordo com Apolo (2004). Métodos e procedimentos de intervenção no ensino do futsal e futebol U4 148 Métodos e procedimentos de intervenção no ensino do futsal e futebol U4 149 Referências APOLO, A. Futsal: metodologia e didática na aprendizagem. São Paulo: Phorte, 2004. BAYER, C. O ensino dos deportos colectivos. Lisboa: Dinalivros, 1994. BETTI, Mauro. Sociologia da Educação Física e esporte no Brasil: passado, presente e futuro. In: REZENDE, H. G. (Org.). Educação física e esporte: ensaios e perspectivas. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira para o Desenvolvimento da Educação Física, Universidade Gama Filho, 1994. COSTA, Claito Frazzon. Futsal: aprenda a ensinar. Florianópolis: Visual Books, 2003. DAOLIO, J. Cultura: educação física e futebol. 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