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Reflexao Casa e morar

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	Texto introdutório para o exercício arquitetônico projetual
	Estúdio II
ESTUDIO II
		 
Reflexão CASA/MORAR (palavras chave)
Na disciplina Estúdio II, Estruturações, se trabalha o tema morar, em residência unifamiliar isolada e, geralmente também, em residências agrupadas em condomínio ou, como alternativa, em edificação coletiva verticalizada. Para isso é necessário discutir previamente algumas questões fundamentais que irão orientar o desenvolvimento dos projetos. 
Que significa morar? O que é uma casa? Como ela é?
Estas perguntas podem parecer estranhas. Como assim, o que é morar ou uma casa? Todo mundo sabe que residência é o lugar físico, a edificação onde se mora. Por que temos que refletir sobre isso? É necessário? Que mais há para saber ou discutir que a gente não tenha experimentado? Não sabemos já o suficiente sobre o tema? Ou uma casa é o deveria ser diferente do que nós conhecemos como casa? Há casas diferentes? 
Diferente significa que não é semelhante ou que é desigual, diverso, que pode ser nem mesmo um pouco parecido com outro ou outra coisa, objeto, pessoa, que conheçamos ou não, do que entendemos, sabemos ou acreditamos. Em arquitetura o diferente entende-se como original, condição muito valorizada por arquitetos e clientes. Claro que esta originalidade deve ser entendida como de qualidade positiva. Originalidade a qualquer custo pode ser não tão interessante ou desejável assim.
Em outros países e culturas as habitações são diferentes? São melhores? As necessidades são outras? Todos têm a mesma idéia sobre o que é uma casa? A distribuição dos ambientes é diferente? O problema está no tamanho? No dinheiro disponível para edificar? Com recursos financeiros vou ter uma casa melhor? Precisa de alguma outra coisa? Há algumas outras considerações a fazer? 
Estes e outros interrogantes podem nos estimular a pensar sobre o tema.
Há algumas questões que podem nos auxiliar a refletir sobre alguns aspectos fundamentais.
Como por exemplo:
Uma casa é composta do que?
Existe um modelo universal?
Os modelos podem ser vários ou diversos?
Quem decide o modelo?
Se já existem por que deveria inventar outro?
Se existem não poderia escolher de um catálogo?
O que o arquiteto faz quando alguém solicita o projeto de uma casa? Usa os modelos?
Usar modelos tira a originalidade na criação arquitetônica?
Posso repetir o modelo da minha casa?
Ele é o melhor? Para quem?
Se eu tiver que fazer um projeto de uma casa, saberei como fazer? Como eu faço? Por onde começo?
Um iglu é uma casa?
Uma oca é uma casa?
E um apartamento, é uma casa? 
Bom, responder de maneira mais ou menos objetiva a estas questões depende da amplidão ou restrições com que se considerem os termos; da interpretação ou o do conceito que deles se tenha...
Oooppppsssss! Que é isso de conceito? Interessa para a arquitetura?
Dentre outros fatores, é o conceito que nos temos sobre uma casa o que orienta o projeto. E este conceito muda, de acordo com o local, clima, usuário, tipo de vida, época, etc. e também com o arquiteto que projeta.
Então o tal do conceito tem alguma importância no que vou a projetar? Do que se trata exatamente?
Conceito, Conceitual, Conteúdo.
Todos os substantivos� são conceitos e expressam uma idéia síntese, a essência daquilo que tentam representar. 
Por exemplo: um cachorro é um animal quadrúpede, peludo, de tamanho médio, geralmente carinhoso e fiel ao dono, guardião, que meche o rabo e faz ruau!, etc.. Mas...será que isso descreve a todos os cachorros? É claro que não. Tem cachorro baixo, alto, grande, pequeno, de pelo curto ou longo, de cor única ou várias, orelhas pequenas, grandes, que ficam de pé ou penduradas, com rabo e sem rabo, manso, amigável, companheiro, agressivo, independente, etc., etc., etc. Tem até cachorro sem pelo e uma raça que não late! 
Deu para entender? 
Da mesma maneira podemos imaginar uma cadeira. São todas iguais? Teoricamente sim, mas...tem de madeira, de plástico, de aço, brancas, vermelhas, pesadas, leves, arredondadas, de ângulos retos, com espaldar alto ou baixo, com estofamento ou sem, confortáveis ou não, etc., etc., etc. Podemos dizer que em geral têm dimensões parecidas e a mesma forma: com quatro patas (mas nem todas), espaldar e assento. Se todas têm características de semelhança básica o que as diferencia é o formato que faz com que cada modelo seja diferente de outro. 
A mesma coisa acontece com pessoas, carros, mesas, aparelhos de som, etc. Certo? Ou seja: temos o conceito fundamental em relação a sua forma, ainda que não necessariamente seja a mesma, a não ser que, no caso de uma moradia reduzamos o conceito de forma a uma casa que tem paredes, piso e teto, coisa que nem sempre sequer esta redução seja de fato verdadeira, pois nem mesmo assim identifica a todos os modelos ou conceitos de casa que há pelo mundo. Mas se em geral se corresponde a uma idéia genérica elementar, nos detalhes há uma mudança bastante sensível. Repetimos: cadeiras e mesas têm (cada uma delas) uma forma “igual”, mudando o formato. Se entende? E lembremos, tal qual no exemplo anterior do cachorro, que o conceito de cadeira excede a idéia da sua forma física�.
Voltando ao assunto: E uma casa? Vide abaixo a representação quase constante com que as crianças desenham sua idéias de casa/lar, não necessariamente coincidente com a construção real. Pela forma e características mais ou menos constantes com que são representadas diríamos que o conceito que elas têm de casa, pelo menos quanto à sua forma básica, é mais ou menos similar. E esse tipo de representação se reproduz em regiões e países diferentes. Curioso, né? Globalização? Tal vez...Mas não é esta curiosidade que vamos continuar discutindo. 
As diferenças entre estas idéias e conceitos de casas podem ser mais significativas se for considerado o conceito individual de morar, de lar, dos laços familiares, de família, que têm forte influencia cultural. Mas, tanto quanto uma casa, o conceito de uma coisa, idéia, pode mudar com o tempo... 
Então um conceito pode mudar!? 
Observe-se o caso do conceito relativo à moral. O que é moral ou não mudou nos últimos tempos. Não interessa aqui se a mudança foi para bem ou para mal, se perdeu valores ou se ganhou em liberdade. O fato é que mudou. Antigamente um casal estar morando juntos ou ter filhos sem estar formal e legalmente casados era impensável e um fato condenado, se não pela justiça (em alguns casos o era) pela dita “sociedade”. Hoje a condição e esse conceito mudaram radicalmente, certo? E mulher fumando? E fumar num ambiente onde há não-fumantes? (Neste último caso o problema já não é de moral e sim de ética).
 
Ok. Mas como é que mudou o morar? 
Vejamos: Todas as pessoas moram da mesma maneira? O ambiente físico é igual? Uma casa japonesa “tradicional” é igual que uma casa pobre do nordeste brasileiro? Uma casa de favela é igual a outra de bairros ricos de Rio ou São Paulo? Com, uma boa dose de imaginação e tolerância pode-se aceitar que todas são casas, mas...
Obviamente não dá para pensar que a forma é igual, ou suas dimensões, sua localização, o tipo de espaço e ambiência, a qualidade dos ambientes, as possibilidades que oferecem sejam sequer remotamente parecidas se considerar extremos. E se recursos financeiros são evidentemente importantes tampouco pode-se dizer que o problema se resolve apenas com dinheiro.
Entre uma casa e outra de digamos, exatamente o mesmo padrão, teremos diferenças qualitativas que farão que em caso de ter que escolher se decida por uma e não por outra. Algumas são condições ou detalhes evidentes. Em outros nem tanto. A diferença será apenas relativas ao “estilo” ou a decoração? Ou há diferenças significativas que resultam de mudanças conceituais?
A rigor, é sabido que as pessoas procuram um arquiteto não apenas porque pretendem seja uma casa linda, mas também porque a querem aconchegante e que proponha algo “diferente”. Não setrata apenas de um modismo, ainda que em muitos casos possa ser exatamente isso que se procura. 
O que é diferente? 
O que um arquiteto pode oferecer de novidade sem perder qualidade ou ainda melhorar a forma de vida?
Pode propor novas formas de morar que signifiquem uma melhoria em relação a tudo quanto seja possível e que estejam adequadas a uma forma moderna (nos aspectos “positivos”) de habitar e curtir o ambiente e tudo o que lhe diz respeito e não apenas em relação a questões tecnológicas. 
Curtir o ambiente?! Pois é...Hoje de trata mesmo de encontrar não apenas bem-estar, mas de sentir verdadeiro prazer no morar, de curtir a casa e tudo que tem dentro e o que ela representa (família, conforto, proteção, calor, alimentação, beleza, paz, lazer...tudo é relativo à pessoa, ao que ela quer, pensa e pretende. Oferecer a possibilidade de poder vivenciar um lar com tudo que isto significa, e não de apenas oferecer um espaço físico, pois afinal, o homem se adapta a quase qualquer estado, condição e situação. Disse homem...(e mulher, criança, também...via das dúvidas...
Então é possível encontrar nuanças e formatos diferentes no projeto de uma casa? 
Sim, assim como é possível ter outros conceitos sobre o morar e a casa. Imaginemos a grande diferença que existe entre morar numa casa que não possibilita a interatividade familiar, ou fria, com ambientes escuros, mal ventilados, todos fechados e para nada ligados entre si, janelas e portas pequenas que não possibilitem eventualmente usufruir de uma paisagem bonita, ou em área barulhenta, situada num bairro violento, de fronte a uma grande avenida de muito trânsito e atmosfera poluída...e comparemos com uma casa situada em um lugar fantástico e paisagem exuberante (praia, rio, montanha, conforme desejo), em áreas seguras, tranqüilas, muito verde, muito sol, e céu azul que se desfrutam pelos pátios ou espaços abertos que oferece, por grandes áreas envidraçadas, com temperatura agradável, família convidativamente estimulada para o convívio pela ambiência arquitetônica, vizinhos ótimos...Será que nossa casa deveria renunciar a usufruir de todas essas maravilhas? Não é legal ter ambientes amplos, bem ventilados, claros, com portas e janelas grandes abertas e ligadas a áreas externas com muito verde, onde seja possível o dilema de se preferível ficar dentro ou fora? Com varandas, cheirando a flores e com espaços internos que possam ligar-se a vontade, etc. etc.? Será que a forma de morar que estes exemplos propõem é a mesma?
Aqui se faz necessária uma parada para apontar para algo fundamental em termos de arquitetura: 
Arquitetonicamente, uma obra é conceitual, tem conteúdo, substância, quando a idéia como elemento vital predomina sobre a materialidade da obra, quando ela é fonte de conhecimento�, que se expressa através de uma síntese que denota o que ela é, ou tenta ser enquanto íntegra. 
Esta síntese se traduz como partido�. 
Para os arquitetos, o valor deste projeto está no (bom, ótimo) conceito de habitabilidade (ou na composição volumétrica, na ligação com o contexto, na funcionalidade, e outras ou todas essas e mais algumas outras) que ele propõe.
É conveniente afirmar que toda obra arquitetônica (que se preze como tal, ou não) deve ser precedida na sua concepção pelo conceito geral que a orientará e definirá e pelos conceitos sistêmicos que a complementam. Defini-la conceitualmente é fundamento básico. Uma obra sem conceito arquitetônico claro é essencialmente somente uma construção e, como tal, vê seu valor diminuído. Vide a propósito o comentário de Leupen (1999) sobre o trabalho de Jean Nouvel no texto “Introdução à prática projetual” disponível na Aula rede.
Mas afinal, o que é uma casa?
A definição de casa é extremamente variável e obedece a critérios nem sempre assimiláveis por todos e que são principalmente de origem cultural. Um iglu ou uma oca podem não ser aceitáveis como casas na nossa cultura, mas são reconhecidos como tais, ou coisa mais ou menos similar, tanto pelos esquimós quanto pelos aborígenes que as habitam.
 Shell house em Karuizawa, Japão. Artechnic
Quer dizer, portanto, que a princípio são locais de habitação, de moradia, ainda que não exclusivamente, pois podem ter ou possibilitar outras diversas funções e ser também um local de trabalho ou lazer. A rigor e ainda que a função morar seja a predominante uma casa pode ter múltiplas funções que obedecem à vontade ou a forma de vida de quem ocasionalmente a ocupa. Morar pode ser reduzido a sua essência utilitária, mas na verdade esta tem uma dimensão maior, onde aspectos simbólicos, contextuais, paisagísticos, culturais e comportamentais, dentre outros, confluem para sua melhor, mais abrangente e precisa definição.
A princípio pode-se dizer que um apartamento (também) é um lugar de moradia, mas não uma casa. O que os diferencia? A casa, grande o pequena, boa o nem tanto, funciona como uma unidade autônoma implantada num terreno que tem limites próprios dela, que pode ser térrea ou ser distribuída em vários andares, 2, 3 ou até 4, conforme algumas soluções ou situação topográfica. O apartamento, ainda que também em alguns lugares se denomine assim a cômodos de uma habitação, forma parte de uma edificação coletiva de maneira solidária, com uma relativa autonomia de partes e de uso. 
Não existe um limite preciso para a altura em metros ou para o número de andares de uma casa. A maioria das prefeituras, através dos seus códigos de edificações dá uma orientação quanto aos pés direitos (distância livre entre piso e forro do teto ou do teto mesmo) mínimos e números de andares máximos e das características dimensionais, tipos de iluminação e ventilação, materiais construtivos e outras indicações dos ambientes, locais que podem compor uma casa. Dependendo do caso podem até regulamentar o estilo arquitetônico a ser observado ou dar algumas orientações a respeito que devem ser observadas, ainda que não configurem propriamente um “estilo”, como por exemplo, no caso em que as edificações são implantadas em áreas consideradas patrimônio histórico, onde se tenta não descaracterizar o local ou o grupo de construções existentes.
O Aurélio define o que é uma casa mais ou menos dessa forma sendo, nas acepções que nos interessam, ou 1. Um edifício ou 2. Cada uma das divisões de uma habitação. 
E o que é um edifício? O próprio Aurélio serve para entender a idéia: “Construção de alvenaria, madeira, etc., de caráter mais ou menos permanente, que ocupa certo espaço de terreno, é geralmente limitada por paredes e teto, e serve de moradia, etc., edificação, casa, prédio, imóvel.” E nesta definição a imprecisão do tal do caráter já pré-anuncia outras tantas imprecisões ou subjetividades que a discussão sobre o tema pode acarretar.
O que seria mais ou menos permanente? Corresponderia a uma vida potencial de 1, 5, 10, 20, 40, 50, 100 anos? O gelo de um iglu pode ser considerado um material de construção? Por que não? É viável durante o inverno ou para o ano todo em algumas latitudes do Pólo Norte (ou no sul, se fosse o caso). Se durar até a chegada da primavera seria de caráter permanente, ainda que durasse 4 ou 5 meses, mas servindo de casa durante todo esse tempo? Um trailer pode ser considerado casa? Sim? Não? Por quê?
O tal do caráter de permanente sugere duas alternativas básicas: 1) de objeto ou artefato permanente (ou durável, imutável, persistente, estável, firme) que apresenta condições de resistência e vida útil, em condições de habitabilidade e 2) de ocupação permanente (constante, persistente, duradoura), ou seja: que possibilita a permanência ou presença habitual de pessoas. O Aurélio sugere atender à alternativa 1). E se não for ocupada? Continua sendo uma casa? Uma casa, porém desocupada? Apenas uma edificação com função presumida, porém não necessariamente definida? Más, não há edificações que foram concebidas como casas que hoje funcionam como lojas, consultórios, como escritórios de profissionais liberais ou ainda como oficinas?Quer dizer então que o que aparenta ser uma casa ou foi concebida como tal não necessariamente o é.
Parece que as definições claras e absolutas não são tão precisas nem definitivas assim. Ou mostram que os ambientes são muito mais flexíveis do que se imagina, ou que podem ser facilmente adaptados ou que o homem se ajusta às circunstancias e contextos sem maiores dificuldades.
Se for pelo nosso padrão habitual ou pelo conceito mais ou menos generalizado, uma casa é um imóvel que possui ambientes tais como sala de estar, cozinha, dormitório e banheiro. Poder-se-ia incluir garage (ou garagem) copa, área de serviço ou lavanderia, e outros ambientes como lavabo, despensa, quarto de jogos, etc. Para alguns em condição de extrema pobreza a casa fica restrita a um único ambiente, sem banheiro onde podem estar incluídos equipamentos tais como cama, sofá, fogão e geladeira. Nem por isso para esse morador deixa de ser uma casa, ainda que pouco confortável ou sem atender a requisitos que consideraríamos mínimos. Mas lembremos que um ambiente de 3x4 pode ser tanto um dormitório como servir para muitas outras funções. Vai ser seu formato, condição e situação em relação a outros ambientes que vai caracterizar melhor seu potencial de uso ou função principal.
Casa em Nova Lima. Minas Gerais. Arq. Ulisses Morato
O que afinal significa “morar”? Residir? Habitar? Habitar vem de hábito, o que corresponde ao que habitualmente, freqüentemente, costumeiramente, se faz. Algo que acontece regularmente ao longo do tempo. Mas explica? Habitar pode ser explicado como o atendimento ou albergue das funções básicas do ser humano? Lugar para refugiar-se, dormir, alimentar-se, relaxar, conviver com a família, etc.? Ou há algo ou muito mais? O que seria?
E estas funções, são similares para todos? Todos têm as mesmas necessidades e hábitos?
O morar de uma família brasileira urbana de classe média será por acaso similar ao morar de uma família pobre do sertão? Parecido? Remotamente parecido? No que? São extremos? E se comparássemos duas famílias de renda similar e mesma localização urbana de uma mesma cidade, terão as mesmas necessidades, costumes, comportamentos? Até que ponto? No que se parecem ou diferenciam e por quê? O dormitório (e o dormir) de um adolescente é similar ao quarto e dormir dos seus pais? A configuração e arranjo do local e o mobiliário são ou devem ser diferentes? Qual a razão? 
Um quarto ou dormitório é para? Dormir? Só? Qual deve ser a sua localização? Neste local o adolescente recebe seus colegas? Para estudar, ouvir música, divertir-se, compartilhar seus segredos, namorar, etc. e, também...dormir...? Não funciona de maneira similar a um apartamento? Um local privativo da pessoa? Um apartamento dentro de uma casa?
Por que chamar-lo de dormitório então? 
Será esta sua função única ou principal? 
Talvez no caso dos pais o seja. Pareceria ser (más ou menos, novamente a imprecisão) que para os pais o quarto ou dormitório deveria (ou deve?) ter uma localização mais reservada (íntima). Mas será que no caso de um ambiente destinado a um adolescente a localização também deve corresponder ao de uma área (menos?) íntima ou deveria ser (mais) social? Devem estar num mesmo lugar, numa mesma região da casa? Devem de estar separados? Um deles (o dos pais) dando toda a garantia de privacidade e possibilitando a relação social (dos amigos, namorada, namorado...) no outro? A configuração física pode até ser parecida (um quadrado, um retângulo, se o que se pretende é um melhor aproveitamento do espaço) mas o arranjo, o layout (organização, disposição de mobiliário e equipamentos), conforme os tipos e formas de uso serão diferentes.
O dormitório dos pais, portanto, poderá ser mobiliado como um dormitório onde a cama de casal tem função principal e posição dominante. Mas, e no caso dos adolescentes? Deverá ter cama ou seria desejável que fosse um sofá cama que têm outra aparência e utilidade (extra)? É uma área de dormir ou deveria se parecer (mais, ou também) com uma área social, uma sala de estar, ou de estudo, ou de lazer? Ou deveria ser ou ter todo isso e ser ou ter mais alguma coisa? Imagine você como gostaria que seu “dormitório” fosse. Onde deveria estar localizado, quais suas dimensões, que tipo de mobiliário teria, que funções ou que uso possibilitaria. 
Não sonhe de mais...
Mas...e se de repente o quarto do adolescente também vira quarto de casal? Se estiver em área “social” não ficará assim em uma condição não desejável quanto a privacidade e barulho? Uma situação de desconforto também poderia resultar do fato de um ambiente deixar de ter como função principal a de ser um dormitório para transformarse em escritório. Há de se pensar então que os ambientes deveriam ser flexíveis e readequáveis às circunstancias? Isto não complicaria o projeto? Obviamente teria uma complexidade maior.
A cozinha e sua mesa eram antigamente lugares e elementos multiuso. Raramente tinham bancadas realmente funcionais. Geralmente na cozinha existia um fogão e uma pia. Os alimentos se preparavam na mesa onde também se reparavam artefatos com defeitos, se estudava, se costurava e também se faziam as refeições. Era um lugar natural para a reunião familiar, porque a preparação de alimentos e cozinhar demandavam muito tempo. Os frangos se criavam no fundo/quintal da casa e para servir de refeição dava um trabalho extra, além de desagradável (e triste, como ao matar o pobre frango). O quintal proveia também de legumes, verduras e frutas. A família ficava muito tempo no local, fonte de informações e fofocas e lugar também onde se recebiam os familiares e amigos mais íntimos.
A cozinha atual (planejada, de custo extremamente alto) deve ser considerada como uma área de “serviço” oculta ou reservada para pessoal de serviço como o era “antigamente”, na época da escravidão ou quando ter “empregada” em casa era muito comum ou, pelo contrário, pode (também?) ser destinada a atividades sociais? Depende de que ou de quem? Qual a disposição em relação à sala de estar e/ou jantar? Deve servir como copa também? Junto com o banheiro é uma das áreas mais caras da construção. Estará reservada ao pessoal de “serviço”? A empregada doméstica ainda existe? É de presença habitual? Fica o tempo todo à serviço da família ou do morador? Reside neste local? É horista e de presença eventual? É parte da família? Tem livre acesso a todos os ambientes? A cozinha funciona (apenas?) regularmente durante a preparação e cocção das refeições familiares? Quantas refeições? Todos os ocupantes almoçam, jantam, etc. (juntos?) em casa? Ou as refeições acontecem fora porque todos trabalham ou estudam em outros lugares? São preparadas esquentando no microondas alimentos já prontos e congelados? Qual será o futuro da cozinha? Ainda é o lugar de reunião familiar? Deve continuar assim ou deve mudar? Por quê? 
E a área de serviço (ou lavanderia)? Onde fica? Tem que ficar fora de casa, isolada num outro local? É um tanque junto com uma máquina de lavar ou ainda uma secadora que ficam quase ao relento? Onde se passa a roupa? Antigamente a área de passar era necessário que ficasse próxima do fogão porque os ferros eram a carvão e não existiam as tábuas de passar no formato atual. É um lugarzinho acanhado, mal ventilado e iluminado, onde raramente há proteção para resguardar-se da chuva, do vento e do frio? Não deveria ser um lugar arejado, ordenado, amplo, ventilado, bem iluminado e confortável? Não deve ser um local tão planejado quanto a cozinha? Não é o lugar onde se deve também passar a roupa? Dormitório, sala ou cozinha são lugares para isso? Por falta de opção? Não deveria se abrir para um jardim ou para um lugar agradável? Esse lugar tem aparelho de som, ou uma rádio?
Escolha uma área de serviço...
 
E onde deve ficar o varal e que características deve ter? É necessário que exista ou vou somente utilizar a secadora de roupas, ainda que o custo de aquisição e funcionamento seja alto? Este varal é um fio pendurado nas paredes de qualquer canto no“fundo de quintal”? Quanto mede? Não deve haver lugares tanto com cobertura, com sombra quanto com sol direto? Existem outros mecanismos e artefatos para secar a roupa? Por que nas casas não é previsto adequadamente este local? Deve ficar próximo da área de serviço? Forma parte de esse local? Fica próximo da cozinha ou esta proximidade pode prejudicar as roupas penduradas?
A sala “social” deve funcionar (apenas) como sala de visitas (quem são estas visitas?). Deve existir um local apenas para receber outras pessoas, estranhos inclusive? É necessário construir e mobiliar um ambiente para isso? 
Ou deve ser uma sala de estar (o living room) destinada ao uso pleno e constante da família e, eventualmente, para receber as visitas? (para os filhos, para os pais, para todos? Familiares? Amigos? Desconhecidos?). Deve abrir-se para a rua? Ou para um espaço social (exterior) do lote em que implantada? Qual é a relação da casa com a rua, um local que de social, passou a ser um local perigoso? Esta sala é mais um local ou o ambiente sobre o que se estruturam os outros? (Depende da proposta, que se estrutura sobre um conceito de vida, né?)
Existe ainda o “fundo de quintal”? Ou pomar? Se antigamente servia para criar galinhas, eventualmente porcos ou cabras, ou para plantar legumes e hortaliças qual a utilidade hoje? Plantam-se hortaliças e legumes? Colhem-se frutas? Há então galinheiro ou criação de outros animais? Devem existir áreas deste tipo? Para quê? Ainda se praticam este tipo de atividades nas residências? Em alguns casos, circunstancias e lugares? Há quarto de despejo no fundo? Por que de despejo? Não seria interessante se este fundo de quintal fosse uma área de lazer, com varanda, piscina, churrasqueira, gazebo, belos jardins, recantos com usos diferentes, etc. em vez de um lugar que eventualmente funciona como depósito de bugigangas.? Armários suficientes não resolveriam a questão. As casas tem número suficientes de armários? Onde guardo a enceradeira, escada, mangueira, as ferramentas, a cortadora de grama, a ração dos cães? 
“Fundo” diferente...
E o banheiro? Não confundamos com o lavabo. Banheiro é o local onde pode-se tomar banho. É o lugar onde as pessoas se asseiam e fazem suas necessidades fisiológicas. Mas também lêem, tratam seu corpo e guardam alguns tipos de equipamentos, objetos, etc. Como deve ser? Qual o tempo de permanência das pessoas neste local? Há pesquisas que constatam uma permanência relativamente longa neste ambiente, principalmente no caso das garotas. Todos consideram este local apenas como de “serviço” e uso apenas eventual? É necessário que exista uma banheira? E bidê? Deveria ter mictório para uso dos homens? É um lugar que deveria ser personalizado para cada pessoa? É um ambiente onde a intimidade deve ser resguardada? Poderia se abrir a um pátio ou jardim? Sim? Não?
Onde se guarda o botijão de gás? Deve ficar próximo da cozinha? A pessoa que renova a carga entra na casa? Como deve ser pensada a entrada de outros equipamentos, fiações e elementos diversos, tais como eletricidade, água, internet, TV a cabo ou satelital, telefonia, correio? Onde vai a caixa de água? Posso ter acesso fácil para limpeza ou tenho que entrar por uma portinhola no forro e engatinhar sob o telhado espantando ratos e baratas para chegar nela? Há iluminação natural, artificial, que possibilite o trabalho nesse local? Posso ficar de pé? E como subo no telhado? Devo ter uma escada que não sei onde guardar para trabalhosamente subir para arrumar a antena de TV, recolocar as telhas que escorregaram ou quebraram, verificar se o painel para aquecimento está em condiciones de funcionar? Os canos e fiações passam por onde? Se um cano entupir tenho que quebrar as paredes para poder consertá-lo?
E onde fica meu cachorro? Onde coloco sua casinha? Onde guardo minha bicicleta e a esteira para ginástica?
Como se vê, há muitas dúvidas elementares a pensar e sobre as que podemos refletir sobre estes ambientes mais do que convencionais. Serão estes usos e funções estanques, totalmente definidas e inalteráveis? É o arquiteto que deve pensar nessas coisas? Senão ele quem?
Pode-se imaginar uma situação tal como apresentada no (primeiro) filme “A Máquina do Tempo” onde um viajante no tempo (vamos admitir que seja possível, coisa que não é, porque senão, como já disse o físico inglês Stephen Hawking, nosso tempo estaria cheio de turistas do futuro, a não ser que tal futuro não exista...), a bordo da sua máquina situada num lugar fixo vê a cidade se transformar à medida que aceleradamente passam os anos, onde novos edifícios aparecem, outros são demolidos, crescem na altura e mudam no estilo, e melhor ainda, vemos a vitrine de uma loja com um manequim feminino, que também permanece no mesmo lugar, mudando apenas o tipo e estilo de roupa, conforme mudam as estações do ano, a moda e os anos mesmo. 
As coisas mudam...
Bom...não precisa ser tão radical...
Se fosse possível estar a bordo de uma máquina do tempo numa viagem similar, poder-se-ia notar situações bastante diferentes e mudanças significativas. Apenas para citar o caso brasileiro, a São Paulo primitiva mudaria substancialmente de um mísero casario com poucos transeuntes na rua, algum que outro cavalo e poucas carroças para uma cidade que cresceria lentamente na horizontal, com alguns poucos palácios (dos nobres barões e governamentais) e edifícios notáveis e alguma que outra igreja ou catedral na área central e bairros pobres e de operários na periferia para depois, lentamente ainda, mudar o traçado irregular para outro mais regular, planejado, com parques e jardins, grandes galpões industriais também nas bordas.
De repente, há uma transformação bastante abrupta, com um crescimento rápido, tanto na horizontal quanto na vertical, com áreas de comércio espalhadas, shoppings, conjuntos habitacionais, conjuntos de edifícios de todo tipo em grandes alturas, com um adensamento notável e em especial, com uma miríade de gente e veículos circulando pelas ruas até ficarem congestionadas, e com aviões, ônibus, metrô, etc. Novos estilos de edificações e nas roupas das pessoas seriam também notados. Esta cidade tem uma história de crescimento (não estamos avaliando se para melhor ou pior). Crescimento nem sempre significa evolução. Infelizmente, a cidade que foi pensada para uma casa por lote, gente apenas caminhando e alguma que outra eventual carroça se vê abarrotada por gente, edifícios veículos e objetos de todo tipo, poluída e gigante. Mas há coisas boas também. Felizmente.
Se a máquina estivesse num outro lugar, como Brasília, a mudança seria quase instantânea, passando de um planalto deserto a uma cidade moderna, arejada, arborizada, com veículos circulando sem conflitos com o transeunte, edifícios com escala humana, descolados do verde chão possibilitando uma visão através deles, etc. Pessoas, veículos e edifícios apresentariam uma mudança menos significativa. A cidade nasce pronta e “moderna”, com um “estilo” uniforme e definido. Sem história. Ela seria narrada daí em mais, apresentando (teoricamente) poucas alterações. Depois, e a contragosto, a cidade cresceria na periferia, curiosamente seguindo o “modelo” anterior e teoricamente superado.
Se a máquina estivesse situada em um lugar como Ouro Preto a cidade aumentaria menos rapidamente até atingir um tamanho que somente depois, bastante mais tarde, apresentaria também um crescimento na periferia bem diferente do casco urbano da época da colônia. Se o olhar se detivesse apenas nesta área, a mudança até hoje seria pouco, muito pouco significativa, se comparada com os dois casos anteriores. Não mudariam nem o estilo, nem a densidade nem a altura das edificações, que são preservadas através da legislação por ser este lugar considerado um patrimônio histórico-cultural. Equipamentos de iluminação pública com energia elétrica, algumas antenas e cartazes diferentes seriam os elementos fixos mais notáveis. O número de pessoas nas praças e ruas seria grande em algumas épocas do ano. Turistasou em épocas de festas ou de aulas. O mais notável seria o aparecimento de veículos motorizados circulando pelas ruas (numa cidade “equivalente”, como Veneza, isto quase não existe, porque veículos deste tipo é exceção). Aqui se veria que ruas e veículos parecem incompatíveis, brigando uns com os outros para circular pelo mesmo apertado lugar.
Três casos diferentes. Se os veículos e pessoas desaparecessem das ruas aparentariam corresponder a três períodos históricos bastante diferentes. O são realmente. Mas coexistem e funcionam simultaneamente. Como é isto possível? A diferença entre uma carroça puxada por bois e um automóvel de última geração é muito notável. Entre um edifício colonial e um edifício dos chamados “inteligentes” também há uma diferença similar. 
Se a carroça ainda é eventualmente encontrada e também aparecem “novas” residências com aparência colonial, poder-se-ia dizer que são anacronismos resultantes da pobreza, da preservação cultural ou e/para turismo ecológico no primeiro caso (da carroça) ou dos caprichos de quem pretenda recriar uma aparência edilícia ou um modus vivendus de faz 200 ou 300 anos por motivos que só esta pessoa conhece. Por que algumas pessoas solicitam dos arquitetos um projeto com aparência de residência colonial e não abrem mão da geladeira elétrica, da TV de LCD e leds, do computador, do carro flex, celular, internet, nem se vestem à caráter conforme o modelo da época e nem andam pela cidade montados num cavalo, ou a pé? O que pretendem ao querer construir uma casa com esta aparência? Reviver uma época passada? Status social? Esnobismo? E por que um arquiteto faz este tipo de projetos que mais está para um usuário da colônia do que para um cidadão do moderno e contemporâneo mundo globalizado?
Excetuadas as novas condições tecnológicas, a mesma diferença significativa deveria existir entre o moderno apartamento ou casa de/em Brasília e um antigo (e pequeno?) sobrado em Ouro Preto. Quer dizer, a princípio, pela antiguidade das casas, poder-se-ia pensar que estariam obsoletas e que com as mudanças havidas entre a data em que foram erguidas e a atualidade as casas da cidade mineira deveriam estar transformadas num grande museu ou num cenário para eventos do tipo turístico ou cinematográfico, desabitadas. 
Mas isto não acontece e está longe da realidade. Qualquer casa preservada de Ouro Preto não apenas apresenta total condição de ser habitada, mas oferece também uma qualidade de ambiência pouco menor, igual, ou até melhor do que muitas casas contemporâneas. Adequações tecnológicas necessárias (retrofit) para sua atualização não resultariam em grandes transformações, e basicamente exigiriam novas instalações, elétricas e hidráulicas, mas não muito além disso, se bem conservadas, claro. 
O que seria bem diferente então? Equipamentos e mobiliário, decoração, arranjos, desde que não houvesse a necessidade de se ter uma garagem. Quem tenha visitado as ruínas da cidade de Pompéia, na Itália, sabe que da mesma maneira, aquelas casas exigiriam apenas este tipo de adequação (instalações) para ser atualmente habitadas sem maiores problemas.
Casas em Pompeia, cidade romana sepultada pela erupção do Vesúvio em 79 d.C.
O que pode-se deduzir disto? 1) Que o homem se adapta com certa facilidade a qualquer ambiente construído, desde que este apresente, desde a sua origem, condições de habitabilidade condizente com a sua cultura e posição social; 2) Que adequações necessárias à vida atual, podem ser relativamente simples, superficiais ou cosméticas; 3) Que reformas de maior consideração são possíveis se as dimensões e condições de conservação dos ambientes e a técnica construtiva utilizada o permitem; 4) Que a evolução sofrida pelas construções do tipo residencial e/ou de áreas não muito grandes ou de algumas funções não foi tão significativa assim com o passar de alguns séculos; 5) Que os projetistas não tem mudado à forma de projetar ou o resultado do processo projetual a não ser de maneira limitada; 6) Que aspectos de técnicas mais recentes e importantes não são do conhecimento geral ou específico do público e/ou dos profissionais, ou são pouco relevantes, caros ou não valem a pena do ponto de vista da relação complexidade-custo-benefício. São dúvidas...
É possível então viver confortavelmente em qualquer habitação construída de acorde com alguns poucos princípios? Em geral e salvo exceção pode-se afirmar com segurança: sim, com alguma adequação técnica e funcional ou com um ajuste do morador. Indo a extremos: pôde-se habitar uma oca, desde que se aceite morar nessas condições. Mas, é uma oca o que se corresponde com o desejo, possibilidades e necessidades de um morador do século XXI? Observe-se na página seguinte a fotografia de hotetontes frente a sua vivenda em Kalahari, Namibia.
Um outro tipo de habitação que remonta a tempos primitivos, quando o homem habitava as cavernas são habitações em Capadoxia que em alguns casos aproveitam formações naturais com algumas intervenções e outras são levantadas utilizando barro e pedras seguindo o modelo natural e que semelham enormes cupinzeiros. O curioso é que estas habitações são utilizadas até hoje e aparentemente oferecem um tipo de conforto que satisfaz as necessidades (básicas?) dos usuários. Vide as figuras a seguir.
 
Figura da esquerda: Capadócia, Construções em terra/rocha 1 (Capadócia)
Figura da direita: Construções em terra/rocha 2 (Capadócia)
O que nós projetistas vamos a oferecer para o nosso cliente e futuro morador? Podemos oferecer alguma condição de moradia melhor da que ele conhece? 
Ou:
Quais são os critérios por nós utilizados para projetar? 
Qual o conceito de morar que apresentamos para este ser ou família? 
Que vamos oferecer como alternativa de melhor qualidade?
Lembremos: o ambiente deve ser adequado ao morador, às suas necessidades, satisfazer as suas expectativas, lhe oferecer todo o conforto possível. 
Mas e se ele não solicita um projeto novo adequado ao que pretende ou se tiver que se conformar com o que compra pronto o aluga? Ele deverá se ajustar, se adaptar a este imóvel. 
O que como arquitetos podemos oferecer é um ambiente que também possa ser adaptável ou ajustável, ou ter a flexibilidade (o termo utilizado habitualmente em arquitetura) necessária, assim como um banco ou um volante podem ser ajustados num automóvel. Por que não?
Por último: quando se trata de um ambiente, independente da sua beleza, resistência e funcionalidade, lembremos que até um galpão poderia atender a estes requisitos dependendo o tipo de consideração que sobre o resultado se faça. E lembremos que há um tipo de arquitetura denominada de contêiner ou na versão portuguesa: de contenedor, que conceitualmente não é essencialmente diferente de um galpão industrial. Mas o que se pretende não é oferecer somente um esqueleto frio, tecnicamente eficiente e funcional, mas um abrigo, uma construção, uma casa, que ofereça condições para ser efetivamente um lar, que possa ser usufruído e vivenciado como tal. Deve provocar uma sensação de afeição. Esta, do ponto de vista da nossa profissão, também é nosso objetivo.
Reflexão final: 
A casa é geralmente composta por diversos ambientes. Estes podem ser autônomos, ter uma independência ou diferenciação funcional, mas configuram um conjunto, com elementos ou partes de uma mesma coisa, tal qual tronco, cabeça e extremidades são partes de um mesmo corpo. Devemos, pois pensá-los integrados. Isto significa estabelecer vínculos, uma relação funcional e espacial entre eles. O critério a utilizar, as formas em como se dão esta estruturação, integração, articulação e ambiência são os fatores que vão dar o caráter da casa. Isto é definido através do partido adotado. Temos partido quando todas as questões abertas são respondidas e harmonizadas.
Esta harmonia se dá em base a intenções e critérios, estruturados num (melhor) conceito de forma de vida, de morar, proposto pelo arquiteto. Tirando partido (aproveitando), claro, tudo aquilo (potencial)que o local, o programa, os recursos e o futuro morador nos possibilitam.
A casa, ou qualquer outra “engenhoca” não é um artefato estranho que pousa em qualquer lugar independente das condições deste. Deve estabelecer uma correta e proveitosa relação com o contexto, aproveitando ao máximo seu potencial geral e em corretas condições bioclimáticas e de sustentabilidade, oferecendo o máximo conforto possível.
E por último: não deve ser um monumento ao ego do arquiteto. A não ser que seja o próprio dono e seja quem em definitivo vai morar nela.
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Bibliografia
Algumas leituras extras podem ajudar a refletir sobre estes e outros assuntos da arquitetura, em particular do tratado na disciplina: a questão da casa e do morar:
RASMUSSEN, Steen Eiler. Arquitetura vivenciada. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. 246p. (Coleção A) Número de Chamada: 72.01 R225e.Pc 2.ed. 
REIS FILHO, Nestor Goulart. Quadro da arquitetura no Brasil. 10. ed. São Paulo: Perspectiva, 2002. 211p. Número de Chamada: 72(81) R375q 10.ed
RYBCZYNSKI, Witold. Casa: pequena história de uma idéia. 3. ed. Rio de Janeiro: Record, 2002. 261p. Número de Chamada: 728.1 R989h.Ps 3.ed.
Ainda bem que não nací na China, 
Senão acabaria ensopado...
Essa sim que parece
uma casa...
� Auxiliando a memória: substantivo é toda palavra que, sem ajuda de outra designa a substância, seja ela real ou metafísica. Ex: flor, homem, carro, tempo, diabo...vade retro!
� Confortável ou não, luxuosa, rústica, apenas decorativa e/ou funcional, simbólica como trono, etc.
� Esta conceituação de conceito (desculpando a redundância) é de autor que não foi identificado.
� Vide Partido e Arché em “Composição arquitetônica. Teoria, fundamentos e conceitos básicos” deste mesmo professor.

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