Buscar

Direito Penal - Especial (Arts. 129 a 133 - Comentados)

Prévia do material em texto

PARTE ESPECIAL 
TÍTULO I 
DOS CRIMES CONTRA A PESSOA 
CAPÍTULO I 
DOS CRIMES CONTRA A VIDA 
CAPÍTULO II 
DAS LESÕES CORPORAIS 
 
 
Lesão corporal 
 Art. 129. Ofender a integridade corporal 
ou a saúde de outrem: 
 Pena - detenção, de três meses a um ano. 
P.S.: Nem toda agressão constitui lesão corporal. 
Vide: Eritema, puxão de cabelo (art. 21, DL 3688/41) ou 
Injúria Real (art. 140, §2º, CP). 
Lesão corporal de natureza grave 
§ 1º Se resulta: 
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais 
de trinta dias; 
II - perigo de vida; 
III - debilidade permanente de membro, sentido ou 
função; 
 IV - aceleração de parto: 
 Pena - reclusão, de um a cinco anos. 
 
Grave: Lesão grave, mas transitória e/ou parcial. 
§ 2° Se resulta: 
 
I - Incapacidade permanente para o trabalho; 
II - enfermidade incurável; 
III - perda ou inutilizarão do membro, sentido ou função; 
IV - deformidade permanente; 
V - aborto: 
 
Pena - reclusão, de dois a oito anos. 
 
Gravíssima: Grave e permanente e total. 
Lesão corporal seguida de morte 
 
§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias 
evidenciam que o agente não quis o resultado, 
nem assumiu o risco de produzi-lo: 
 
Pena - reclusão, de quatro a doze anos. 
 
Diminuição de pena 
§ 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de 
relevante valor social ou moral ou sob o domínio de 
violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação 
da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um 
terço. 
 Substituição da pena 
§ 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda 
substituir a pena de detenção pela de multa, de 
duzentos mil réis a dois contos de réis: 
I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo 
anterior; 
II - se as lesões são recíprocas. 
 
 Lesão corporal culposa 
§ 6° Se a lesão é culposa: 
Pena - detenção, de dois meses a um ano. 
 
Aumento de pena 
§ 7o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer 
qualquer das hipóteses dos §§ 4o e 6o do art. 121 deste 
Código. (§4º: Pena aumentada de 1/3, se o crime resulta de 
inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o 
agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir 
as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão. 
§6º : Praticado por milícia ou grupo de extermínio). 
 
§ 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 
121. (§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de 
aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio 
agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária). 
 
Violência Doméstica 
§ 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, 
descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com 
quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, 
prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de 
coabitação ou de hospitalidade: 
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. 
§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as 
circunstâncias são as indicadas no § 9o deste artigo, 
aumenta-se a pena em 1/3 (um terço). 
§ 11. Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será 
aumentada de um terço se o crime for cometido contra 
pessoa portadora de deficiência. 
 
 
CLASSIFICAÇÃO: 
 
• COMUM: praticado por qualquer pessoa; 
• MATERIAL: menciona o resultado (ofensa a integridade 
corporal ou a saúde), exigindo a produção deste; 
• DANO: exige-se a efetiva lesão do bem jurídico 
tutelado; 
• INSTANTÂNEO: atinge a consumação com a ofensa a 
integridade corporal ou a saúde, não se prolongando 
no tempo; 
• FORMA LIVRE: admite qualquer meio execução; 
• UNISSUBJETIVO: pode ser praticado por um só agente; 
 
 
 
Questões: 
Fabrício conduzia um trator no interior de sua fazenda, arando 
a terra para uma plantação, quando, por descuido, atropelou 
Laurete, que foi internada e perdeu uma das pernas. Assim, 
Fabrício: 
a) praticou o crime de lesão corporal previsto no Código de 
Trânsito Brasileiro (Lei nº 9.503/1997). 
b) praticou o crime de lesão corporal grave pela debilidade 
permanente de membro, previsto no artigo 129, § 1º, III, do CP. 
c) praticou o crime de lesão corporal grave pela perda de 
membro, previsto no artigo 129, § 2º, III, do CP. 
d) praticou o crime de lesão corporal culposa, previsto no artigo 
129, § 6º do CP. 
e) não praticou crime. 
Joseval, no calor de uma discussão com Marinalda, sua 
namorada, por divergências esportivas, pois torcem 
para times distintos, desferiu um soco no rosto desta, 
que resultou em lesão, após o que Marinalda passou a 
não sentir mais paladar. Assim, Joseval: 
a) deve responder pelo crime de lesão corporal 
simples. 
b) deve responder pelo crime de lesão corporal grave. 
c) deve responder pelo crime de lesão corporal 
gravíssima. 
d) não deve responder por crime algum, pois a 
imputabilidade fica excluída pela emoção ou pela 
paixão. 
O crime de lesão corporal seguida de morte 
caracteriza-se quando: 
a) da ação culposa de lesão advém o resultado morte. 
b) da conduta resulta morte e as circunstâncias 
evidenciam que o agente não quis o resultado, nem 
assumiu o risco de produzi-lo. 
c) a vítima ou seu precário estado de saúde contribuem 
para o resultado morte, que era desejado pelo 
agente. 
d) o agente assumiu o risco de produzir o resultado mais 
grave, embora não o desejasse. 
e) o agente, num primeiro momento, deseja lesionar, 
mas num segundo momento passa a agir para obter o 
resultado morte. 
Sobre o crime de lesão corporal, verifica-se o 
seguinte: 
a) por tratar-se de crime material, a consumação 
ocorrerá quando a ofensa incidir apenas sobre a 
saúde física da vítima. 
b) será gravíssima a lesão se dela resultar o 
abortamento, desde que este tenha sido o resultado 
visado. 
c) será reconhecida a qualificadora da deformidade 
permanente quando a ofensa ocorrer no rosto da 
vítima. 
d) a diferença entre a contravenção penal de vias de fato 
e a lesão corporal está na inexistência de dano à 
incolumidade física da vítima. 
CAPÍTULO III 
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE 
Perigo de contágio venéreo 
Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais 
ou qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia 
venérea, de que sabe ou deve saber que está 
contaminado: (dolo de perigo) 
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. 
§ 1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia: 
(crime de perigo com dolo de dano) 
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. 
 
No crime previsto no art. 130, CP (contágio venéreo), 
como tratar a situação em que da relação sexual ocorre 
o contágio da vítima, resultado que não faz parte da 
vontade do agente? 
Entende a maioria da doutrina que a efetiva contaminação 
da vítima constitui mero exaurimento do crime. Não haverá, 
portanto, mudança quanto ao enquadramento típico da 
conduta. 
 
P.S.: Heleno Fragoso e Magalhães Noronha entendem 
que, mesmo quando não há transmissão não faz parte da 
vontade do agente, ocorrendo a mesma o agente responderá 
pela lesão corporal praticada (grave ou gravíssima). 
 
CLASSIFICAÇÃO: 
 
• PRÓPRIO: demanda uma qualidade especial do agente 
(pessoa contaminada); 
• FORMAL: não exige a ocorrência de resultado 
naturalístico; 
• PERIGO: consuma-se apenas com a prática da relação 
sexual ou ato libidinoso; 
• INSTANTÂNEO: resultado não se prolonga no tempo; 
• FORMA VINCULADA: só pode ser cometido por 
relação sexual ou ato libidinoso; 
• UNISSUBJETIVO: pode ser praticado por um só agente. 
 
 
 
Perigo de contágio de moléstia grave 
 
Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a 
outrem moléstiagrave de que está 
contaminado, ato capaz de produzir o 
contágio: 
 
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. 
 
 
CLASSIFICAÇÃO: 
 
• PRÓPRIO: demanda uma qualidade especial do agente 
(portador de moléstia grave); 
• FORMAL: não exige a ocorrência de resultado 
naturalístico; 
• PERIGO (com dolo de dano): parte da doutrina 
classifica como crime de dano; 
• INSTANTÂNEO: resultado não se prolonga no tempo; 
• FORMA LIVRE: pode ser cometido por qualquer meio 
eleito pelo agente; 
• UNISSUBJETIVO: pode ser praticado por um só agente. 
 
 
 
 
 
STF: Portador do Vírus HIV e Tentativa de Homicídio 
 
 
 
 
Em conclusão de julgamento, a Turma deferiu habeas corpus para 
imprimir a desclassificação do delito e determinar o envio do processo 
para distribuição a uma das varas criminais comuns estaduais. 
Tratava-se de HC em que se discutia se o portador do vírus HIV, tendo 
ciência da doença e deliberadamente a ocultando de seus parceiros, 
teria praticado tentativa de homicídio ao manter relações sexuais sem 
preservativo. A defesa pretendia a desclassificação do delito para o de 
perigo de contágio de moléstia grave (CP: “Art. 131 Praticar, com o fim 
de transmitir a outrem moléstia grave de que está contaminado, ato 
capaz de produzir o contágio: ...”) — v. Informativo 584. Entendeu-se 
que não seria clara a intenção do agente, de modo que a 
desclassificação do delito far-se-ia necessária, sem, entretanto, 
vinculá-lo a um tipo penal específico. Tendo em conta que o Min. 
Marco Aurélio, relator, desclassificava a conduta para o crime de perigo 
de contágio de moléstia grave (CP, art. 131) e o Min. Ayres Britto, para 
o de lesão corporal qualificada pela enfermidade incurável (CP, art. 
129, § 2º, II), chegou-se a um consenso, apenas para afastar a 
imputação de tentativa de homicídio. Salientou-se, nesse sentido, que 
o Juiz de Direito, competente para julgar o caso, não estaria sujeito 
sequer à classificação apontada pelo Ministério Público. HC 98712/SP 
 
Questão interessante. 
 José, contaminado com o vírus HIV, pratica relação sexual com 
sua esposa, Maria, a qual acaba contaminada. No entanto, 
José apesar de saber da patologia que o acometia, não 
pretendia a transmissão. Assumiu o risco de transmitir a 
doença, pois não queria, diante de uma negativa ou da 
utilização de preservativo, despertar a desconfiança de sua 
companheira a respeito de eventual infidelidade. Neste caso, 
praticou que crime? 
 
No caso, não há que se falar no art. 130 do CP, já que a 
enfermidade transmitida não constitui moléstia venérea. 
O sujeito não agiu com o fim de transmitir moléstia grave, 
portanto, não se caracteriza o art. 131, CP. 
No caso em tela o agente cometeu o crime de lesão corporal. 
Perigo para a vida ou saúde de outrem 
 
Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo 
direto e iminente: 
 
Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não 
constitui crime mais grave. 
 
Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a 
um terço se a exposição da vida ou da saúde de outrem 
a perigo decorre do transporte de pessoas para a 
prestação de serviços em estabelecimentos de 
qualquer natureza, em desacordo com as normas 
legais. 
 
 
CLASSIFICAÇÃO: 
 
 
• COMUM: não demanda uma qualidade especial do 
agente; 
• PERIGO: consuma-se apenas com a exposição da vida 
ou saúde de alguém a perigo; 
• INSTANTÂNEO: resultado não se prolonga no tempo; 
• FORMA LIVRE: pode ser cometido por qualquer meio 
eleito pelo agente; 
• UNISSUBJETIVO: pode ser praticado por um só agente. 
 
 
 
Abandono de incapaz 
Art. 133 - Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, 
guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, 
incapaz de defender-se dos riscos resultantes do 
abandono: 
 
Pena - detenção, de seis meses a três anos. 
 
§ 1º - Se do abandono resulta lesão corporal de natureza 
grave: 
 
Pena - reclusão, de um a cinco anos. 
 
§ 2º - Se resulta a morte: 
 
Pena - reclusão, de quatro a doze anos. 
 
 
Aumento de pena 
 
§ 3º - As penas cominadas neste artigo 
aumentam-se de um terço: 
 
 I - se o abandono ocorre em lugar ermo; 
 
 II - se o agente é ascendente ou descendente, 
cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima. 
 
 III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos 
 
CLASSIFICAÇÃO: 
 • PRÓPRIO: demanda uma qualidade especial do agente 
(Pessoa que tem sob seu cuidado, guarda, vigilância ou 
autoridade pessoa incapaz); 
• PERIGO: é indispensável comprovar a situação de 
perigo; 
• INSTANTÂNEO: resultado não se prolonga no tempo; 
• FORMA LIVRE: pode ser cometido por qualquer meio 
eleito pelo agente; 
• UNISSUBJETIVO: pode ser praticado por um só agente.

Continue navegando