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A EROSÃO DO SERVIÇO SOCIAL TRADICIONAL NO BRASIL

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO 
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
SERVIÇO SOCIAL
Larissa Torres Gomes
2.2.2 A erosão do Serviço Social “tradicional” no Brasil 
 Ainda que o universo teórico-ideológico dos suportes originais do Desenvolvimento de Comunidade fosse candidamente acrítico e profundamente mistificador dos processos reais e não supusesse uma ruptura com os pressupostos gerais do tradicionalismo. Era a inserção do assistente social em que equipes multiprofissionais nas quais, dado o caráter relativamente novo destas experiências entre nós, o seu estatuto não estava previamente definido como subalterno. A gravitação do Desenvolvimento de Comunidade crescia porque, além da incorporação ao seu ideário de nomes respeitados na profissão, nele os novos quadros visualizavam a forma de intervenção profissional mais consoante com as necessidades se as características de uma sociedade como a brasileira. Na plástica expressão de fino analista, o assistente social quer deixar de ser “apóstolo ” para investir -se da condição de “agente de mudança”. Alguns pontos do governo de Juscelino Kubitschek ajudam a compreender o mercado de trabalho do assistente social na década de 1960. Por exemplo, o impulso que esse governo deu à industrialização, instalando fábricas de automóveis e fábricas subsidiárias. Nesse período, o Brasil se abria ao capital internacional e buscava o desenvolvimentismo para superar o subdesenvolvimento. Na verdade, tanto as empresas privadas: como as instituições públicas foram movidas a buscarem o trabalho do assistente social para estabelecer o controle dos trabalhadores. Vale lembrar que entre 1961 e 1964, as manifestações da sociedade brasileira pela democracia e as manifestações das classes subalternas e exploradas que ocorreram entre 1960-1961-1964 criaram sérios obstáculos ao projeto econômico da classe dominante até que, em garantia dos interesses do capital internacional, aplicou-se o golpe militar de 1964. As adequações das instituições sociais ao projeto da ditadura e a implantação das empresas médias, estatais e monopolistas no final de 1960, ampliaram o mercado de trabalho dos assistentes sociais. Além desses espaços de trabalho, o assistente social atuava nas "organizações de filantropia privada", as quais não tinham vínculos com o Estado ou com as empresas. E essas organizações buscavam o trabalho do assistente social em função da miséria, do inchamento das áreas urbanas e outras sequelas sociais aprofundadas pelo regime militar. O Serviço Social de Caso visava adaptar o indivíduo ao seu meio, para aqueles que estivessem fora dos padrões sociais. Orientava-se por uma concepção que considerava a sociedade como estruturada, definitivamente, só havendo condições para ajustes e reformas. O Serviço Social de Grupo visava ajudar as pessoas por meio de experiências de grupo. Deu-se importância à técnica de Desenvolvimento de Comunidade (DC) e à técnica de Desenvolvimento e Organização de Comunidade (DC) discutidas no II Congresso Brasileiro de Serviço Social (1961). Sem dúvida o DC era uma técnica mais articulada, porém ela não discutia a sociedade. É importante destacar que a reformulação na metodologia do Serviço Social tradicional não foi uma opção pura dos assistentes sociais, visto que ela veio no bojo das mudanças do projeto desenvolvimentista mesmo antes do regime militar.
2.2.3. A erosão do serviço social tradicional na américa latina
 O Serviço Social tradicional latino-americano entrou em crise quando iniciou o seu processo de erosão, na década de 1960. Convém destacar que a crise do Serviço Social tradicional latino-americano não era uma exclusividade desse Continente. Essa crise era tributária dos movimentos libertários da década de 1960, podemos citar entre eles, o movimento do negro, o movimento da mulher, o movimento ambientalista, os quais colocavam em xeque a ordem burguesa chamada também desociedade capitalista e, como tal, o Estado e as instituições públicas. Se os movimentos libertários questionavam a sociedade capitalista e o papel das instituições sociais e do Estado, é de se esperar que a forma de atuação do Serviço Social fosse questionada. Porém, o desgaste do Serviço Social tradicional não foi por questões teóricas e metodológicas, mas por questões externas, uma vez que os seus críticos estavam fora da profissão. Em resposta aos questionamentos feitos ao Serviço Social tradicional, um grupo de assistentes sociais organizou o movimento para dar um novo conceito ao Serviço Social latino-americano, com o objetivo de construir um Serviço Social que atendesse às necessidades da América Latina. Podemos vincular a ruptura com o Serviço Social tradicional com as lutas para libertar a América Latina do domínio imperialista e para transformar a estrutura capitalista. O Serviço Social tradicional nasceu para atender interesses da classe dominante, portanto, não dá para supor que o Serviço Social sozinho deixasse de atender aos interesses norte-americanos. Sendo o Serviço Social norteado pela ordem burguesa ou capitalista, a resposta à crise do seu fazer profissional não poderia centrar-se nos questionamentos de sua prática porque fazia-se necessário analisar os vínculos da profissão com a dominação imperialista. Ao questionar a dominação imperialista e o papel que os assistentes sociais desempenhavam face aos novos desafios, a vanguarda do Serviço Social latino-americano indicava que era necessário repensar o trabalho do assistente social. E a partir desta reflexão surgiu o Movimento de Reconceituação do Serviço Social na América Latina, foi também conhecido como movimento da "reconceptualização" teve início em 1965 e durou uma década. O Movimento de Reconceituação trouxe para os assistentes sociais a identificação político-ideológica da existência de lados antagônicos, duas classes sociais antagônicas, dominantes e dominados, negando, portanto a neutralidade profissional, que historicamente tinha orientado a profissão. Esta revelação abriu na categoria a possibilidade de articulação profissional com o projeto de uma das classes, dando inicio ao debate coletivo sobre a dimensão política da profissão. Neste contexto podemos afirmar que o Movimento de reconceituação do Serviço Social na América Latina constituiu-se numa expressão de ruptura com o Serviço Social tradicional e conservador; e na possibilidade de uma nova identidade profissional com ações voltadas às demandas da classe trabalhadora cujo eixo de sua preocupação da situação particular para a relação geral/particular, e passa a ter uma visão política da interação e da intervenção. O Movimento de Reconceituação se cria e se desenvolve a partir da identificação político-ideológica da profissão pelo capital e da negação de uma prática conservadora do Serviço Social, afirmando um compromisso político com a classe subalterna. Esse movimento se fez presente em âmbito mundial, pois era parte integrante do processo internacional de erosão do Serviço Social tradicional e, portanto, nesta medida, partilha de suas causalidades e características. A união pretendida pelo movimento de reconceituação do Serviço Social latino-americanos foi desfeita pela implantação da ditadura no continente e pelas posições distintas que os assistentes sociais adotaram em relação ao Serviço Social tradicional. Quanto à ditadura, pode-se afirmar que as ditaduras burguesas não deixaram vingar as propostas que situavam a ultrapassagem do subdesenvolvimento como função da transformação substantiva dos quadros societários latino-americanos. Apesar de todas as dificuldades, o movimento de reconceituação conseguiu colocar na pauta dos encontros profissionais assuntos de interesses latino-americanos em lugar dos debates pan-americanistas, patrocinados pelos Estados Unidos.
Recife
05 de setembro de 2018

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