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Elaine Moura São Paulo Rede Internacional de Universidades Laureate 2015 Didática I Elaine Moura São Paulo Rede Internacional de Universidades Laureate 2015 Sumário Capítulo 1 - Didática: pressupostos e características -----------------------------------------5 Introdução ------------------------------------------------------------------------------------------5 1 O conceito e o objeto da Didática -----------------------------------------------------------6 1.1 A evolução histórica da Didática ----------------------------------------------------------7 1.2 A função da escola na realidade brasileira ----------------------------------------- 10 2 Ensino-aprendizagem na Didática ---------------------------------------------------------- 15 2.1 O educador no século XXI ---------------------------------------------------------------- 18 2.2 A sala de aula como espaço de construção de aprendizagem significativa ------- 20 Síntese -------------------------------------------------------------------------------------------- 23 Referências Bibliográficas ---------------------------------------------------------------------- 24 5 Capítulo 1Didática: pressupostos e características Introdução No presente texto desenvolveremos o tema Didática: pressupostos e características. No desenvolvimento do conteúdo, você irá perceber que o trabalho docente é o mediador de objetivos, conteúdos e métodos, em função da aprendizagem dos alunos, e que as diferentes metodologias devem ser estruturadas em razão dos seus pressupostos básicos e do contexto em que foram criadas. Assim, como primeiro desafio, convido você a refletir sobre as seguintes problematizações: • Que discussões podemos construir sobre os pressupostos e as características da Didática? • Até que ponto a Didática é importante para o professor? • Será que todos os professores conhecem realmente a essência da Didática, seus verdadeiros objetivos e propostas de estudo? Você também irá perceber que o texto provoca uma reflexão acerca da problemática educacional brasileira e da Didática em relação a esse processo. Uma reflexão que envolve estudos sobre a fundamentação pedagógica consciente, de modo a unir a formação teórica à prática do professor. Nesse sentido, convido-o a buscar respostas também para as seguintes questões: • Por que vamos à escola? Para que serve a escola? Qual é a sua função? Qual o seu papel na sociedade? Qual o perfil do educador para atender às exigências atuais? As pesquisas e estudos sobre a aprendizagem avançam cada dia mais, pois é um tema que tem inúmeras conexões, nas mais diversas áreas. Indo mais além nas provocações, será que a discussão e a troca de ideias e experiências não facilitam a construção de uma aprendizagem significativa, além de favorecer o engajamento da turma, contribuindo com uma participação melhor e uma certa responsabilidade. 6 Laureate- International Universities Didática: pressupostos e características João Amós Comênio O nome Comênio é o aportuguesamento da assinatura latina (Comenius) de Jan Amos Komensky, nascido em 1592 em Nivnice, Morávia (então domínio dos Habsburgos, hoje República Tcheca). A maior contribuição de Comênio para a educação dos dias de hoje é, segundo o professor Gasparin (2011, p. 23), a ideia de “trazer a realidade social para a sala de aula, fazendo uso dos meios tecnológicos mais avançados à disposição”, de tão fascinado pela invenção da imprensa e pela possibilidade de disseminação de conhecimento que ela representava. VOCÊ O CONHECE? 1 O conceito e o objeto da Didática É muito comum ouvir dos nossos alunos em sala de aula: “Aquele professor não tem didática... Ele conhece o assunto, mas não sabe transmitir...” Ou recebermos perguntas como: “Para que serve a Didática? Qual é seu objeto de estudo? Qual é o seu campo?”. Percebemos com essas indagações e comentários que a Didática é vista como sinônimo de métodos e técnicas de ensino, e que a escola é reconhecida como instituição que apenas transmite conhecimento. No processo de ensino-aprendizagem, a Didática tem um papel fundamental. A palavra “didática” origina-se do grego didasko, cujo significado é ensinar ou instruir, ou, de forma mais sucinta, segundo Nóvoa (2007), a arte de transmitir conhecimentos, técnica de ensinar. A Didática pressupõe uma análise dos processos de construção dos saberes em cada área curricular e a discussão da natureza das atividades de aprendizagem, dos processos de pensamento e das inter-relações entre os diversos interventores no ato educativo. Constitui o enquadramento teórico fundamental em que se situam os quadros de referência de ação do professor. Dessa forma, pode-se dizer que a Didática é uma ciência que tem como objetivos fundamentais ocupar-se de estratégias de ensino, questões práticas relativas à metodologia e procedimentos que fazem parte do processo de ensino-aprendizagem. A palavra “didática” foi utilizada pela primeira vez por Ratke, em 1629, porém só veio a ser definida por João Amós Comênio em sua obra Didática Magna: a arte de ensinar tudo a todos, publicada em 1638, conceituando-se como “a arte de ensinar tudo a todos”. Comênio trata concomitantemente a Didática como técnica e também como instrumento de nivelamento do ensino, como se ela pudesse homogeneizar o desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem a todos os alunos. Podemos associar a Didática à busca de eficiência de ensino, ou seja, ao esforço de uma racionalização dos meios de ensinar. Muitas vezes, o ato de ensinar não se concretiza em aprendizagem, apesar do caráter de intencionalidade do ensino. Depende muitas vezes de como o aluno se encontra: se está estimulado à aprendizagem, se atende ao seu estilo de aprendizagem etc. 7 Qual é o campo da Didática? Qual é o seu objeto de estudo? O que torna sua abordagem na educação relevante e diferente das abordagens de outras disciplinas como Filosofia, Psicologia, Sociologia e História da Educação? NÓS QUEREMOS SABER! Para Castro (1991), o ideal de toda didática sempre foi que o ensino produzisse uma transformação no aprendiz, e que este, graças ao aprendido, se tornasse diferente, melhor, mais capaz, mais sábio. Precisamos deixar claro que a Didática tem um objeto próprio, que é o processo de ensino, campo principal da educação escolar. O modo como os professores entendem o que é ensinar afeta de maneira significativa o que efetivamente fazem em sala de aula e fora dela. O trabalho docente é uma das modalidades específicas da prática educativa mais ampla que ocorre na sociedade. O processo de ensino é considerado o objeto da Didática, e Laeng (1978), em seu Dicionário de Pedagogia, esclarece que: O estudo predominante do ensino caracterizou, sobretudo a didática do passado, dominada até certo ponto, pela figura central do professor, que na didática contemporânea cedeu lugar a uma nova projeção do aspecto correlativo da aprendizagem. (LAENG, 1978, p. 36). Conforme Libâneo (2013) salienta, a Didática é uma disciplina pedagógica, pois assegura o fazer pedagógico na escola, na sua dimensão político-social e técnica. Nela são estudados os processos de ensino por meio dos seus componentes: os conteúdos escolares, o ensino e a aprendizagem, estando fundamentada na Pedagogia. Como disciplina pedagógica, a Didática ocupa um lugar de destaque na formação do professor, pois sua atividade principal é o ensino, que se refere a dirigir, organizar, orientar e estimular a aprendizagem escolar dos alunos. Ela reúne em seu campo de conhecimento objetivos e modos de ação pedagógica na escola, sendo considerada uma Teoria do Ensino (LIBÂNEO, 2013). Para Castro (1991), o campo da Didática vem se ampliando cada vez mais, conquistando uma multiplicidade de teorias, experimentos e interpretações que esclarecem seus elementose as relações entre eles, abrangendo tudo o que interessa ao homem. Também apresenta fronteiras imprecisas e uma raiz intrínseca interdisciplinar. 1.1 A evolução histórica da Didática Desde a Antiguidade até o início do século XIX, valorizou-se uma aprendizagem do tipo passivo e receptivo, focada na memorização, com uma prática escolar com pouca compreensão por parte dos alunos. 8 Laureate- International Universities Didática: pressupostos e características O ensino baseava-se na concepção de que o ser humano era semelhante a uma cera, podendo ser moldado livremente. O pensamento humano era uma folha em branco, na qual tudo poderia ser escrito. Usava-se a repetição de exercícios graduados para ensinar a ler e a escrever. O professor utilizava- se de perguntas e respostas já prontas para que o aluno repetisse corretamente o que ouvia. Era o método de “fazer eco”, empregado em todas as disciplinas. Não havia a preocupação por parte do professor de que o aluno compreendesse o que falava e escrevia. Esse ensino de caráter verbal, sem reflexão por parte do aluno, baseado na repetição de fórmulas já prontas, predominou na prática escolar por um bom tempo. O ter didática no ato educativo não era preocupação de todos; alguns agiam com a certeza de que o domínio de um determinado saber era condição suficiente à tarefa de ensinar. Outros, mesmo antes de a Didática ser uma disciplina, preocupavam-se em sistematizar princípios de condução do ato educativo. Eram esses os “didatas” do século XVII. Vários filósofos e educadores não aceitavam o ensino voltado para a memorização e davam mais ênfase à compreensão. Entre eles, já destacamos anteriormente João Amós Comênio (1592- 1670), considerado o pai da Didática, por formular os princípios de uma educação racionalista. Para ele, segundo Libâneo (2013), a Didática está fundamentada em quatro princípios: • Todos os homens merecem a sabedoria, portanto, a educação é um direito natural de todos; • O homem deve ser educado de acordo com as características de idade e capacidade para o conhecimento, cabendo à Didática identificar tais características e os métodos adequados; • Os conhecimentos devem ser adquiridos a partir da observação, utilizando e desenvolvendo os órgãos dos sentidos; • O processo de ensino deve partir do conhecido para o desconhecido, isto é, começa pelo universal e termina no particular. Essas são ideias que estão presentes em sua obra Didática Magna: a arte de ensinar tudo a todos (1638), que teve influência direta sobre o trabalho docente. Comênio teve grande experiência como professor, não sendo apenas um teórico da educação, mas também contribuindo para a melhoria dos processos de ensino. Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) é autor da segunda revolução didática. Suas obras Do Contrato Social (1762) e Emílio, ou Da Educação (1762) dão origem a um novo conceito de infância: a criança é boa por natureza e corrompida posteriormente pela sociedade. O filósofo defendeu uma educação livre, espontânea e natural para a infância, mas não colocou em prática suas ideias nem elaborou uma teoria de ensino. Essa tarefa coube a um outro pedagogo suíço, Henrique Pestalozzi (1746-1827), que atribuía uma importância relevante ao método intuitivo, favorecendo no aluno o senso de observação, a análise dos objetos e fenômenos naturais e a capacidade da linguagem (LIBÂNEO, 2013). Johann Friedrich Herbart (1776-1841), influenciado pelas ideias de Comênio, Rousseau e Pestalozzi, desejou criar uma pedagogia científica, motivado pelos seus conhecimentos de Filosofia e Psicologia. Defendia a ideia de “educação pela instrução”; foi o fundador de um método de ensino que consistia numa série de passos baseados na ordem psicológica de aquisição do conhecimento: • Preparação: recordar o que foi visto na aula anterior; • Apresentação: o professor expõe o conteúdo novo a ser aprendido; • Associação: são apontadas diversas situações em que se podem aplicar os conhecimentos recentes apresentados. Trabalha-se aqui com os exemplos; • Generalização: com base nos exemplos anteriores, chega-se ao estabelecimento de padrões, de regularidades ou de leis gerais que permitam a aplicação do conteúdo assimilado em 9 O que é mais eficaz em Educação: o esforço autoeducativo do aluno ou a pressão externa, do meio social e cultural? NÓS QUEREMOS SABER! circunstância adequada; • Aplicação: é a fase dos exercícios a serem resolvidos, em classe ou em casa. John Dewey (1859-1952) e seus seguidores não aceitam a concepção herbartiana da educação pela instrução, defendendo a educação pela ação. Para ele, a escola não é uma preparação para a vida, é a própria vida. Defendia que a ação precede o conhecimento e o pensamento. O ser humano age e é eminentemente social. São as necessidades sociais que norteiam sua concepção de vida e de educação. Para ele, segundo Libâneo (2013), a escola deveria tornar-se uma verdadeira comunidade de trabalho, em vez de um lugar isolado onde se aprendem lições sem ligação com a vida. Deveria respeitar a natureza da criança e aplicar o princípio do aprender fazendo, agindo, vivendo. Deveria desenvolver na criança a atenção, o pensamento reflexivo e a capacidade de estabelecer relações. A atividade escolar deveria priorizar situações de experiência em que são desenvolvidos as potencialidades, as capacidades, as necessidades e os interesses da criança. Dewey também foi um grande defensor dos métodos ativos, valorizando o ensino pela ação. Logo, o conhecimento e o ensino devem estar relacionados com a ação, a vida prática e a experiência. No século XIX, há oscilação entre dois modos de interpretar a relação didática: • Ênfase no sujeito: aprende a partir de sua curiosidade e motivação; • Ênfase no método: caminho para a aprendizagem formal. No Brasil, quando a Didática foi instituída como curso de licenciatura, em 1939, e mais tarde transformada em disciplina dos cursos de formação de professores, em 1946, prevaleceu o enfoque prescritivo, normativo e instrumental, o que Candau (1996, p. 86) denominou de “o momento da afirmação do técnico e o silenciador do político”. Preocupavam-se apenas com o “como ensinar” e com a padronização das ações didáticas, mas sem a contextualização social. A configuração da Didática como disciplina prescritiva tem sua razão de ser no predomínio das práticas pedagógicas tradicionais. Paulo Freire (2011) destaca que a educação tradicional acaba por transformar alunos em simples reprodutores e copiadores, ou seja, sujeitos acríticos. Esses alunos adotam o discurso do educador como verdade absoluta, não permitindo participação no processo educacional. Ainda de acordo com o autor, essa prática: [...] conduz os educandos à memorização mecânica do conteúdo narrado [...] os transformam em “vasilhas”, em recipientes a serem “enchidos” pelo educador. Quanto mais vá “enchendo” os recipientes com seus “depósitos”, tanto melhor educador será. Quanto mais se deixarem docilmente “encher”, tanto melhores educandos serão. Desta forma, a educação se torna um ato de depositar, em que os educandos são os depositários e o educador o depositante. (FREIRE, 2011, p. 58). 10 Laureate- International Universities Didática: pressupostos e características VOCÊ O CONHECE? Paulo Freire (1921-1997) foi um educador brasileiro, conhecido e respeitado mundialmente como um dos grandes pedagogos do século XX. Foi um importante crítico da educação tradicional e pregador daquilo que chamou de educação libertadora. A educação precisa reconhecer a pluralidade de experiências que o educando jovem/adulto traz de sua vida, articulando sua vivência, detectando sua realidade e seus saberes, para a partir deles ampliá-los, permitindo uma leitura crítica do mundo e uma apropriação e criação de conhecimentos que melhor capacitem o educando/sujeitoà ação transformadora de sua realidade social. Em 1970, os educadores entraram em contato com as teorias crítico-reprodutivistas, rebelando- se contra a institucionalização da pedagogia tecnicista. Nesse momento, segundo Candau (1996), reina a “Antididática”, ou seja, a Didática da afirmação do cunho político e da negação do técnico. Outra possibilidade teórica da Didática, segundo a mesma autora, é a Didática crítica, ou seja, o momento da síntese ou da negação da negação. A Didática crítica surge como o terceiro elo da tríade do pensamento dialético: tese, antítese e síntese. Ela sobrepõe o que é fundamental no ato educativo, ou seja, o entendimento da ação pedagógica como prática social e a multidimensionalidade do processo de ensino-aprendizagem, reconhecendo suas dimensões humana, técnica e política. O panorama do século XXI não é simples. A oscilação entre uma tendência psicológica, que destaca a relevância da compreensão da inteligência humana e sua construção, e outra, que se apoia na visão sociológica das relações escola-sociedade, parece dominar o conteúdo da disciplina. Esta vai se familiarizar com teorias de origem epistemológica e social, sem perder seu compromisso com a prática de ensino (CASTRO, 1991). Resumindo, a Didática crítica articula: • teoria e prática; • escola e sociedade; • conteúdo e forma; • técnica e política; • ensino e pesquisa. 1.2 A função da escola na realidade brasileira Para compreender o papel e a finalidade da escola, precisamos resgatar alguns aspectos históricos, iniciando pela sua criação. Desde quando foi criada, nas culturas do Oriente Próximo e do Egito, a escola foi reservada a poucos, com a finalidade de aquisição das técnicas de escrita, de leitura e de cálculo. 11 Se você quiser conhecer mais sobre a origem da escola ligada à educação da classe dominante, consulte: MANACORDA, Mário Alighiero. História da Educação. São Paulo: Cortez, 2010. NÃO DEIXE DE LER... O surgimento da escola e a institucionalização da educação acompanham os diferentes interesses religiosos, políticos, sociais, econômicos, culturais e ideológicos. Nas sociedades primitivas, a educação, como as outras formas de ação desenvolvidas pelo homem, consistia em uma ação espontânea. A palavra “escola” deriva do grego skholé, que significava, originalmente, o “lugar do ócio, do descanso, da folga”, pois era na escola que as pessoas conversavam e discutiam sobre os mais diversos assuntos. O termo acabou tendo o significado de “lugar onde se estuda”. Estudar era uma atividade possível apenas para aqueles privilegiados que não precisavam trabalhar. Somente a partir do século XIX é que surge a ideia do ensino obrigatório para todos, mas com grande resistência, pois os conservadores não viam a necessidade da educação para os indivíduos de classe baixa. Pelo contrário, tinham receio de que largassem as tarefas mecânicas e penosas para mudar de profissão e aspirar a outra posição social diferente daquela a que estariam destinados desde seu nascimento (DELVAL, 2001). Ainda no início do século XXI estamos lutando por escolas de qualidade para todos. Mas a defesa de uma escola para todos cresceu com a premissa de que frequentar a escola é a única garantia de aquisição dos valores dominantes na sociedade, como vínculo de socialização. Isso porque a educação é vista como a estratégia mais eficaz de combate à exclusão, pelo poder que o conhecimento e as habilidades desenvolvidas fornecem à pessoa na sua inserção e participação social. Atualmente a maioria dos países tem definido a educação como obrigatória para todos, e a escola assumida pelo Estado (educação pública) como gratuita e laica. Laico significa a ausência de influências de entidades religiosas. Assim, um Estado laico é neutro em assuntos religiosos. Laicismo é uma doutrina filosófica que defende e promove a separação do Estado das igrejas e comunidades religiosas, assim como a neutralidade do Estado em matéria religiosa. Essa corrente surge a partir dos abusos que foram cometidos pela intromissão de correntes religiosas na política das nações. O laicismo teve seu auge no fim do século XIX e no início do século XX. Dessa forma, a educação constitui-se em uma dimensão fundamental da cidadania, o que nos leva a afirmar que, hoje, praticamente não há país no mundo que não garanta em sua legislação o acesso de seus cidadãos a uma educação fundamental. Em 1549, tem-se início a educação formal no Brasil, quando foi fundada em Salvador pelos padres jesuítas a primeira escola destinada a nativos e colonos. Os jesuítas catequizaram os 12 Laureate- International Universities Didática: pressupostos e características Muitas vezes nos perguntamos: Para que serve a escola? Por que vamos à escola? Qual é a sua função? Qual o seu papel na sociedade? NÓS QUEREMOS SABER! índios, ensinaram os filhos dos colonos portugueses a ler e escrever e formaram a elite local. Com o tempo, os índios foram excluídos das escolas, e a educação voltou-se quase exclusivamente para as elites. A educação escolar no Brasil só se organiza de fato como sistema educacional na década de 1930. A expansão de nosso sistema educacional, isto é, a preocupação com a oferta de escolas para todos ocorre a partir da década de 1960. Entretanto, não existiu por parte de nossos governantes uma preocupação em adequar o sistema para receber o grande contingente de crianças e jovens que estavam fora da escola. Assim, passamos a ter altas taxas de repetência, abandono e evasão, comprometendo a qualidade da educação. A escola é objeto de muitas mudanças, em virtude de fatores como: políticas educacionais (que nem sempre são favoráveis ao sucesso dos alunos); poucos recursos; ambiente familiar ou social desfavorável (que acarreta uma aprendizagem mais lenta); e a diversidade (já que a educação é pouco valorizada e não reconhecida como instrumento necessário para a igualdade de oportunidades). No eixo pedagógico, precisamos respeitar os diferentes estilos de aprendizagem, reconhecer as variadas formas de conhecimento e a diversidade cultural e social, garantindo a inclusão digital. É necessário garantir a transformação na escola, porque compensar ou adaptar leva muitas vezes à exclusão de determinados setores sociais. Todos querem uma educação que lhes sirva para viver com dignidade na sociedade atual. A escola precisa trabalhar com os conteúdos escolares (conceituais, procedimentais e atitudinais), isto é, com o conjunto de tudo o que o aluno precisa aprender para desenvolver ao máximo suas potencialidades. Na escola precisamos entender as necessidades de cada aluno e tratá-los de forma individualizada, o que é um aspecto fundamental para um ensino bem- sucedido. Precisamos construir, na escola básica, um alicerce sólido, que possa dar sustentação a futuras aprendizagens. É na escola que se trabalha sistematicamente com o conhecimento, mas a formação das crianças e jovens não cabe apenas a ela. A escola deve preocupar-se com trabalhar os conhecimentos acadêmicos sempre contextualizados à comunidade e ao meio familiar dos alunos, para que haja aprendizagem significativa. Podemos afirmar que a função da escola distingue-se de outras práticas educativas, como as que acontecem na família, no trabalho, na mídia, no lazer e nas demais formas de convívio social. 13 Assim, cabe a essa instituição: • O cuidado com as crianças A escola tem como função muito importante, mas não fundamental, o cuidar das crianças, principalmente na fase da educação infantil, enquanto seus pais estão trabalhando. Antes da urbanização e da industrialização, não havia tal necessidade; as mulheres permaneciam em casa, com seus filhos, e existia uma família extensa, composta de avós, tios, tias e outros familiares. Contudo, a crescente incorporação da mulher aomundo do trabalho e a redução do tamanho das famílias deram lugar ao aparecimento das creches e de escolas infantis, as quais acolhem a criança cada vez mais cedo. É importante ressaltar que o cuidar em um contexto educativo implica conhecer as necessidades básicas das crianças, isto é, propiciar situações de cuidado, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada. • A socialização Outra função relevante da escola é a socialização, ou seja, fazer com que as crianças tenham oportunidade de participar da vida social, convivendo com outras crianças. As crianças menores aprendem muitas coisas com os colegas mais velhos. A escola é um lugar que possibilita o convívio entre as crianças. Essa interação é muito valiosa para o desenvolvimento infantil, favorecendo a cooperação, a possibilidade de colocar-se no lugar dos outros, a reciprocidade e o aprendizado de muitas coisas importantes para a vida. A escola também se torna importante para a educação moral, pois os alunos aprendem regulações abstratas e atendem a normas que não são negociáveis: os dias letivos, as horas das aulas e do intervalo. O professor representa um papel muito importante, o da autoridade docente, que é diferente da autoridade dos pais, pois sabemos que a autoridade provém, em última instância, da sociedade. É na escola que o aluno aprende o que significa a autoridade do outro, que é representada pelo professor. • A aquisição do conhecimento Outra função da escola é a construção do conhecimento. Na sociedade atual, caracterizada pelo acúmulo de informações e pela necessidade de aquisição rápida de conhecimento, a leitura e a escrita são premissas básicas sem as quais é difícil integrar-se plenamente na vida social. A escola ocupa um papel muito importante na transmissão do conhecimento científico, já que as famílias, atualmente, não dispõem de tempo para ocupar-se da educação de seus filhos. E, muitas vezes, não têm competência para ensinar tais conhecimentos. • Os ritos de iniciação ou de passagem Por fim, a escola tem um papel de promover ritos de iniciação, ou seja, submeter os alunos a provas que servem de seleção para a vida social. Nas sociedades ocidentais, os ritos de passagem aparentemente desapareceram, ou variam muito de uma cultura para outra. Por exemplo, é difícil ver a menina de 15 anos debutando como uma marca, um corte com a vida anterior, deixando de ser criança para transformar-se em adulta. Mas parte das atividades escolares assumiu esse papel através de provas de ingresso, ou de 14 Laureate- International Universities Didática: pressupostos e características acesso, aos exames finais do Ensino Médio (ENEM), entre outros, pelos quais o aluno deve passar. Essas provas desempenham essa função de rito de iniciação, tendo grande repercussão social. A escola é parte integrante do todo social e, como tal, traz consigo as contradições da própria sociedade e exerce a função da socialização dos conhecimentos historicamente produzidos (VEIGA, 1996). É necessário que a escola considere as diferenças: nas condições materiais de vida e de cultura; nas experiências adquiridas fora da escola; e nas atitudes dos pais em relação à escola. Na escola são aprendidos, além do conhecimento, valores e normas de comportamento, fortalecendo a cooperação, a ajuda mútua e a solidariedade. É fundamental que a escola contribua para a emancipação e a liberação das velhas ideias e paradigmas para não ser apenas uma peça a mais na engrenagem da sociedade. A escola de hoje, apesar de todos os defeitos e deformações, não é mais a mesma de há 10, 20, 50 anos atrás. As formas que a escola assume em cada momento é sempre o resultado precário e provisório de um movimento permanente de transformação. Em função das pressões dos grupos sociais, das inovações científicas ou das próprias necessidades da economia, a escola muda, adaptando-se sempre aos novos tempos. (HARPER, 2006, p. 32). A educação é um dos recursos dos quais os homens lançam mão para satisfazer às suas necessidades. Entretanto, em locais onde não existem escolas, é possível haver redes e estruturas sociais de transferência de saber de uma geração para outra. A evolução da cultura humana levou o homem a transmitir conhecimento, criando situações sociais de ensinar-aprender-ensinar. É muito importante partir da combinação entre os conhecimentos práticos e o acadêmico, favorecendo a participação da comunidade, das famílias e dos professores. Assim, a escola torna-se uma comunidade de aprendizagem cujos agentes – equipe de gestão, conselho de pais, membros do sistema de ensino – tenham envolvimento e uma participação real, buscando a melhor escola para seus filhos, ou seja, para todos os alunos. Precisamos fortalecer os Pilares da Educação para o século XXI, definidos no Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, coordenada por Jacques Delors. Para poder dar resposta ao conjunto de suas missões, a educação deve organizar-se em torno de quatro aprendizagens fundamentais, que, ao longo de toda a vida, serão de algum modo para cada indivíduo os pilares do conhecimento: aprender a conhecer, isto é, adquirir os instrumentos da compreensão; aprender a fazer, para poder agir sobre o meio envolvente; aprender a viver juntos, a fim de participar e cooperar com os outros em todas as atividades humanas; e, finalmente, aprender a ser, via essencial que integra as três precedentes. É claro que essas quatro vias do saber constituem apenas uma, dado que existem entre elas múltiplos pontos de contato, de relacionamento e de permuta. • Aprender a ser: para melhor desenvolver a sua personalidade e estar à altura de agir com cada vez maior capacidade de autonomia, de discernimento e de responsabilidade pessoal. Para isso, não negligenciar na educação nenhuma das potencialidades de cada indivíduo: memória, raciocínio, sentido estético, capacidades físicas, aptidão para comunicar-se. • Aprender a conhecer: combinando uma cultura geral, suficientemente vasta, com a possibilidade de trabalhar em profundidade um pequeno número de matérias. O que também significa: aprender a aprender, para beneficiar-se das oportunidades oferecidas pela educação ao longo de toda a vida. 15 O Relatório está publicado em forma de livro no Brasil: DELORS, Jaques. Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo: Cortez, Brasília, DF: MEC/UNESCO, 2003. NÃO DEIXE DE LER... • Aprender a fazer: a fim de adquirir não somente uma qualificação profissional, mas, de uma maneira mais ampla, competências que tornem a pessoa apta a enfrentar numerosas situações e trabalhá-las em equipe. E também aprender a fazer no âmbito das diversas experiências sociais ou de trabalho que se oferecem aos jovens e adolescentes, quer espontaneamente, fruto do contexto local ou nacional, quer formalmente, graças ao desenvolvimento do ensino alternado com o trabalho. • Aprender a viver em conjunto: desenvolvendo a compreensão do outro e a percepção das interdependências – realizar projetos comuns e preparar-se para gerir conflitos – no respeito pelos valores do pluralismo, da compreensão mútua e da paz. Cada aspecto deve ser desenvolvido pelo corpo docente em suas aulas com o objetivo de registrar e analisar as reflexões construídas a partir da seguinte interação: prática discente e prática docente, fortalecendo o “aprender a aprender” cada vez mais nos alunos e nas próprias práticas. A educação requer que atuemos com prudência, mas com convicção. A realidade contemporânea e, principalmente, a realidade com a qual depararemos no futuro próximo requer indivíduos habilitados a atuar em cenários extremamente flutuantes. Tudo muda. E em uma velocidade que provavelmente os adultos de ontem não seriam capazes de acompanhar. A escola precisa formar pessoas comprometidas com mudanças,atentas ao avanço tecnológico e seu impacto sobre os processos e instruções sociais, sobre a economia e a sociedade em geral. Pessoas que desenvolvam o “fazer”, mas trabalhem o “saber fazer” e a compreensão do “para que fazer”, articulando a reflexão sobre “o que” e “por que” no planejamento, na elaboração, no desenvolvimento e na avaliação de suas ações. Acima de tudo, precisamos nos dar conta de que não estamos educando para hoje, mas para os anos de 2020, 2030, 2040. Como será o mundo nessa época? 2 Ensino-aprendizagem na Didática Sem um conceito claro do que é ensinar, é impossível encontrar critérios de comportamentos apropriados para compreender o que acontece em uma sala de aula. A maioria dos métodos de ensino é defendida por pouco mais do que palpites ou preconceitos pessoais. As atividades de ensino são bem variadas e só podem ser caracterizadas por seu objetivo e propósito, pois quem ensina não apenas transmite um conteúdo, mas também está favorecendo a construção de aprendizagens de diferentes conceitos através da mediação pedagógica. Por outro lado, segundo Cordeiro (2007), a compreensão do conceito de ensino só pode ser feita com referência ao conceito de aprendizagem. Ensinar pode ter diversos significados e produzir vários resultados naquele que aprende. É importante destacar a existência de estilos de aprendizagem dos alunos. Por isso, há a necessidade de o ensino vir ao encontro do que favorece e facilita essa aprendizagem. Por exemplo, alguns 16 Laureate- International Universities Didática: pressupostos e características alunos podem ter mais facilidade fazendo experimentações; outros, pesquisando; e outros, ainda, ouvindo e interagindo. Ensinar sempre corresponde a ensinar algo a alguém, pois: Uma pessoa ensina quando transmite fatos, cultiva hábitos, treina habilidades, desenvolve capacidades, ensina alguém a nadar ou apreciar música clássica, mostra como funciona um foguete lunar ou porque os planetas se movem em volta do sol. (PASSMORE, 2001, p. 65). Sabemos que a Pedagogia pode ser conceituada como a ciência e a arte da educação; já a Didática é definida como a ciência e a arte do ensinar. NÃO DEIXE DE VER... O filme Sociedade dos poetas mortos. Observe como o professor de Literatura ensina seus alunos e como consegue envolvê-los. Perceba como desafia os estudantes, respeitando as diferenças individuais. Ensinar e aprender são coisas diferentes? Pode haver ensino sem aprendizagem? Pode haver aprendizagem sem ensino? Ensinar e aprender são duas faces de uma mesma moeda. A Didática não pode tratar do ensino por parte do professor sem considerar a aprendizagem do aluno. Se o objeto de estudo da Didática é o processo de ensino, não se pode deixar de considerar o conjunto de atividades ligadas à apropriação e à produção de conhecimentos que envolvem o desenvolvimento de habilidades intelectuais e psicomotoras, além da formação de atitudes que estejam comprometidas com a compreensão da realidade por parte do aluno. Ensinar é um processo que envolve a organização e a diretividade do professor, de caráter sistemático, intencional e flexível, com o propósito de obter diferentes resultados (conhecimentos, habilidades intelectuais e psicomotoras e atitudes). Assim, não significa apenas transmitir conhecimentos, mas um meio de organizar as atividades, de modo que o aluno aprenda e produza conhecimentos. Ao professor compete preparar, dirigir, acompanhar e avaliar o processo de ensino. O objetivo Ensinar Edudação Aprender Edudação Figura 1 – Ensinar e aprender, os dois lados de uma mesma moeda: a Educação. Adaptado de: <http://www.thinkstockphotos.com.pt/>. Acesso em: 06 jul. 2015. 17 disso é estimular atividades próprias dos alunos para favorecer a aprendizagem. A Didática apresenta-se em três dimensões que permeiam o processo formativo: técnica, humana e política. A escola, quando exerce seu papel social de educar, deve estar atenta a essas três dimensões, que estão sempre interligadas (como mostra a figura a seguir) para favorecer uma aprendizagem significativa por parte do aluno. Segundo Candau (1996), o centro configurador do ensino-aprendizagem está na perspectiva de articulação dessas três dimensões. Figura 2 – A inter-relação entre as dimensões técnica, política e humana da Didática. Fonte: Autora. Técnica Política Humana Quando se fala no processo de ensino-aprendizagem, deve-se considerar todos os atores envolvidos. É preciso ponderar que o ensino-aprendizagem é resultante de uma relação social, de um conjunto de interações humanas que não podemos resumir como simples procedimentos técnicos isolados. No processo de ensino-aprendizagem está presente a relação humana, mas seria uma abordagem reducionista considerá-la como centro configurador do processo. Na dimensão técnica, o processo de ensino-aprendizagem é visto como ação intencional, sistemática, que procura organizar as condições que melhor favoreçam a aprendizagem. Quando levamos a Didática em conta apenas como dimensão técnica, estamos considerando-a como depósito e fonte de bons métodos de transmissão dos conhecimentos e de avaliação dos resultados obtidos. Caso consideremos a dimensão técnica da Didática e do processo de ensino- aprendizagem dissociados do que se passa na sala de aula, não atingiremos uma aprendizagem significativa nos alunos. Se todo o processo de ensino-aprendizagem é contextualizado, a dimensão sociopolítica lhe é inerente, estando presente em toda a prática pedagógica. O ensino da Didática deve partir da perspectiva multidimensional do processo de ensino- aprendizagem. Isso quer dizer que precisamos considerar também a relação pedagógica, que engloba o conjunto de interações que se estabelecem entre professor, alunos e conhecimento. A relação pedagógica 18 Laureate- International Universities Didática: pressupostos e características é complexa quando se pensa no ensino e na aprendizagem na sala de aula, portanto é necessário considerar suas várias dimensões: dimensão dialógica; dimensão pessoal, humana; dimensão cognitiva; dimensão político-social. Que função a educação exercerá em relação às grandes interrogações propostas para o século XXI? Qual o perfil do educador para atender às exigências atuais? NÓS QUEREMOS SABER! 2.1 O educador no século XXI O educador no século XXI precisa facilitar a busca e a seleção de informações, contextualizando os fatos reais da vida no currículo de sua disciplina. Também deve assumir o papel de orientador no processo da passagem da informação para o conhecimento, sendo um agente do desenvolvimento da capacidade de aplicação prática e útil desse conhecimento. Para tanto, o professor necessita conhecer a realidade do aluno, sua linguagem, seus valores e seus objetivos de vida. Por isso, é preciso conectar-se com o cotidiano para poder fazer as devidas adaptações aos contextos educacionais. O educador favorece o desenvolvimento da responsabilidade nos alunos, promovendo um trabalho em grupo, no qual eles refletem, discutem e decidem o que fazer. Quando as regras são transgredidas, discutem em grupo os problemas de violência e indisciplina, fortalecendo a sua autonomia. O professor do século XXI precisa, mais do que nunca, ser um modelo para os seus alunos, favorecendo o pensar sobre questões éticas, sociais e políticas, favorecer a compreensão da sua realidade e integrar-se à mudança social que visa ao bem de todos. A sociedade espera que o professor não seja um mero transmissor de conteúdos e abra espaços de reflexão e participação em seu cotidiano, de modo que possa verificar se a teoria que orienta sua prática serve ou não para aqueles alunos, favorecendo uma aprendizagem significativa, um ensino para compreensão. Hoje, o avanço da tecnologia exige que os docentes tenham uma competência dos consumidores(usuários qualificados das tecnologias da informação), além das competências dos produtores de bens (o conhecimento). O problema do Brasil não está mais apenas em sua condição socioeconômica, que forçaria os alunos a abandonarem a escola para trabalhar. Na realidade, atualmente o problema é fazer a criança brasileira aprender, baseando-se em pedagogias que atendam às suas necessidades. O professor é o eterno aprendiz, não é aquele que “dá aula”, ou seja, “reproduz conhecimento”, mas sim, segundo Boff (2004), aquele que cuida da aprendizagem dos alunos. Saber cuidar significa dedicação envolvente, ter compromisso ético e técnico, habilidade sensível e sempre renovada de suporte ao aluno, incluindo-se a rota de construção da autonomia. O professor é figura fundamental no processo de aprendizagem dos alunos, ocupando um lugar 19 Paradigma significa padrões a serem seguidos; é um pressuposto filosófico, uma matriz, ou seja, uma teoria, um conhecimento que dá origem ao estudo de um campo científico; uma realização científica com métodos e valores que são concebidos como modelo, ou, ainda, uma referência inicial que serve como base para estudos e pesquisas. NÓS QUEREMOS SABER! NÃO DEIXE DE VER... Filme: Nenhum a menos No interior da China comunista, uma garota de 13 anos fica com a obrigação de cuidar dos alunos de uma escola primária muito pobre. Prometem uma recompensa se ela não perder nenhum deles. Leva isso a sério, de tal forma que quando um se perde na cidade grande, vai atrás dele, movimentando até a TV. Figura 3 – Cartaz do filme Nenhum a menos. Fonte: <http://www.ador- ocinema.com/>. Acesso em: 28 mar. 2015. de apoio, orientação, avaliação, estímulo e mediação. O aluno é o centro do cenário, pensando, pesquisando, elaborando, fundamentando, argumentando, lendo e construindo conhecimento. Quando falamos em educador para o século XXI, precisamos em primeiro lugar pensar no perfil do aluno deste século. É importante destacar esse aluno precisa do mesmo “cuidado” dispensado às gerações anteriores, para que se desenvolva de forma autônoma e emancipatória. É o momento em que o mundo transformado pelas novas tecnologias encontra um aluno que necessita de um professor e de uma escola que dialoguem com ele. Um aluno que quer participar, fazer suas próprias escolhas, que não está mais calado, apenas prestando atenção no professor. A escola tem um grande desafio e uma oportunidade. O desafio é formular projetos pedagógicos que contemplem as inovações tecnológicas e promovam a interatividade dos alunos; trata-se de uma oportunidade de quebrar o paradigma de ensino que se tornou obsoleto no século XXI. No início do século XXI, observamos o quanto ainda temos de avançar para conseguir uma ordem internacional mais justa e solidária. Quantas desigualdades sociais, de alcance planetário, existem sem muito esforço político para repará-las ou mesmo eliminá-las? É preciso sempre analisar de onde partimos, que heranças conservamos e aprofundamos e com o que contribuiremos para a educação do século XXI. 20 Laureate- International Universities Didática: pressupostos e características MORAIS, Regis de (Org.). Sala de aula, que espaço é esse? Campinas, SP: Papirus, 2004. NÃO DEIXE DE LER... 2.2 A sala de aula como espaço de construção de aprendizagem significativa A sala de aula é um espaço de construção de habilidades, conhecimentos, atitudes e formação das relações e de fortalecer os nossos valores. Isso é consenso entre os educadores. Assim, podemos dizer que a sala de aula é: • um espaço de convivência, pois existe uma integração com a realidade que favorece e estimula a presença, a discussão, o estudo, a pesquisa e o debate entre os alunos; • um espaço de convivência humana, de respeito ao aluno, do diálogo, da abertura à crítica, do aprender a conviver e aprender a ser; • um espaço de relações pedagógicas, de construção do conhecimento, específico de ensino- aprendizagem, de saberes, procedimentos e atitudes, dinâmico, vivo, inovador, real e desafiador, de surgimento de novas mediações quando as contradições se apresentam; • um espaço de vivência, aberto e cheio de realidade, num movimento de mão dupla: recebendo e trabalhando com a realidade e desenvolvendo-a com o conhecimento e a ciência. Há uma troca constante entre alunos, professor e o conhecimento historicamente acumulado; • um espaço de vida, uma vez que o aluno percebe que suas aulas permitem a ele estudar, discutir e encontrar caminhos e/ou encaminhamentos para problemas na sua vida real e na vida do seu grupo. Permite aplicações práticas relacionadas com os conhecimentos prévios, com as experiências e com as necessidades dos alunos. Como vida, a sala de aula tenderá a conviver com a complexidade própria da realidade, trabalhará com sentimentos e atitudes, além de habilidades e conhecimentos. Você é capaz de dar algumas respostas para a pergunta: “Sala de aula, que espaço é esse?”. Basta garantir um espaço físico bem organizado? Qual é o papel das trocas de experiências entre as pessoas em uma sala de aula? Como se caracterizam a autoridade e o autoritarismo do professor na sala de aula? Não deixe de ler a obra indicada acima, onde poderá encontrar respostas para essas e outras questões importantes. A integração do grupo/classe deve ser muito valorizada pelo aluno e pelo professor, pois é um facilitador da aprendizagem para os alunos. Essa visão heterogênea do grupo/classe possibilita uma melhor aprendizagem, pois o aluno aprende as diferentes visões de mundo, de vida, uma aprendizagem horizontal, não apenas individual e vertical na relação com o professor. É muito importante estimular os alunos a se tornarem independentes. É preciso organizar e conduzir o ensino visando à autonomia intelectual dos estudantes, para que desenvolvam capacidades e iniciativas para buscar fontes de informação, pesquisar em diferentes fontes 21 NÃO DEIXE DE VER... Não deixe de assistir ao vídeo Autonomia, produzido pela Atta Mídia e Educação, no qual são expostas as ideias da educadora Constance Kamii. Figura 4 – Cartaz do filme Autonomia. Fonte: <http://www.attamidia.com.br/produtos. php?/aut/11/constance-kamii/>. Acesso em: 28 mar. 2015. midiáticas, confrontar textos e autores, ler artigos e fazer pesquisa, tornando-se autônomos, e não ficando na dependência do professor. Os alunos, quando saem da universidade, levam muitas lembranças dos seus professores e sempre se recordam daqueles com quem tiveram maior convivência, diálogo, respeito, os ensinava a pensar, a pesquisar, tinham paixão pela docência, amizade e aspectos do processo de ensino-aprendizagem. A postura do professor é essencial para que ocorram essas lembranças, quando ele deixa de ser o dono do saber para ser o mediador na relação da aprendizagem dos alunos, fortalecendo o trabalho em equipe, um trabalho de troca, integração e socialização. A sala de aula é o espaço onde se constrói o conhecimento com a colaboração de todos e onde se buscam respostas para os problemas do meio em que vivemos; é um espaço de ação, de reflexão, de muita participação, com respeito mútuo entre alunos e professor, onde é preciso que aconteçam a integração de teoria e prática e o uso da tecnologia educacional como ferramenta para aprendizagem. O professor precisa levar em conta tudo o que cada criança traz para a escola e sempre considerar cada aluno como único, não o tratando como mais um. Quando a criança vai para a escola, leva com ela todos os seus sonhos, fantasias, curiosidades e necessidades. Já tem muitas ideias prévias sobre os diferentes conhecimentos, experiências, descobertas e valores. 22 Laureate- International Universities Didática: pressupostos e características Quais as oportunidades de vivência lúdica que os educadores têm no seu cotidiano?Será que a sala de aula não pode ser um espaço para a sua própria vivência pessoal? NÓS QUEREMOS SABER! Para saber mais, vale a pena ler o livro: TONUCCI, Francesco. Com olhos de criança. Porto Alegre: Artmed, 2008. NÃO DEIXE DE LER... O trabalho na sala de aula poderá se beneficiar do caráter lúdico como forma de abordagem, sem perder a sua relação pedagógica. Existe espaço para a manifestação do lúdico no dia a dia, não apenas nas datas estabelecidas pelos calendários escolares. Porém não se deve considerar a instrumentalização do jogo, numa perspectiva de buscar eficiência, através de formas amenas de transmissão de conteúdos necessários para o bom desempenho de aprendizagens específicas. É preciso valorizar a sala de aula como ponto de troca de aprendizagem, ou seja, atribuir-lhe valor pedagógico. 23 Esperamos que, ao estudar o conteúdo do texto apresentado, alguns pontos tenham chamado sua atenção, tais como: A Didática é uma ciência que tem como preocupação central ocupar-se de estratégias de ensino, questões práticas relativas à metodologia e procedimentos que façam parte do processo de ensino-aprendizagem; A Didática está associada à busca de eficiência do processo de ensino-aprendizagem, estudando os processos de ensino por meio dos seus componentes: os conteúdos escolares, o ensino e a aprendizagem; A função da escola é proporcionar um conjunto de práticas preestabelecidas com o propósito de contribuir para que os alunos se apropriem de conteúdos sociais e culturais de maneira crítica e construtiva, intervindo efetivamente para promover o desenvolvimento e a socialização de seus alunos; Na escola é necessário entender as necessidades de cada aluno e tratá-los de forma individualizada, isto é, respeitar os diferentes estilos de aprendizagem, reconhecer as várias formas de conhecimento e a diversidade cultural e social, garantindo a inclusão digital; Ensinar e aprender são coisas diferentes que, no entanto, devem caminhar juntas. Não há ensino sem aprendizagem, embora possa existir aprendizagem sem ensino; Ensinar não significa apenas transmitir conhecimentos, mas um meio de organizar as atividades, de modo que o aluno aprenda e produza conhecimentos; O professor não pode ser um mero transmissor de conteúdos, mas alguém que abra espaços de reflexão e participação em seu cotidiano, de modo que possa verificar se a teoria que orienta sua prática serve ou não para aqueles alunos. Para tanto, precisa conhecer a realidade dos alunos, sua linguagem, seus valores e seus objetivos de vida; O professor não pode ser o dono do saber, mas sim o mediador na relação da aprendizagem dos alunos, fortalecendo o trabalho em equipe, um trabalho de troca, integração e socialização. SínteseSíntese 24 Laureate- International Universities Didática: pressupostos e características BOFF, Leonardo. Saber cuidar: ética do humano, compaixão pela terra. Petrópolis: Vozes, 2004 CANDAU, Vera Maria. A didática em questão. São Paulo: Saraiva, 1996. CASTRO, Amélia Domingues de. A trajetória histórica da Didática. Ideias, São Paulo: FDE, n. 11, 1991. CORDEIRO, Jaime. Didática. São Paulo: Contexto, 2007. DELORS, Jacques (Coord.). Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo: Cortez, Brasília, DF: MEC/UNESCO, 2003. DELVAL, Juan. Aprender na vida e aprender na escola. Porto Alegre: Artmed, 2001. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 2011. GASPARIN, João Luiz. Comênio: a emergência da modernidade na educação. Petrópolis: Vozes, 2011. HARPER, Babette et al. Cuidado, escola! São Paulo: Brasiliense, 2006. LAENG, Mauro. Dicionário de Pedagogia. Lisboa: Dom Quixote, 1978. LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 2013. MANACORDA, Mário Alighiero. História da Educação. São Paulo: Cortez, 2010. NÓVOA, Antonio. Os professores e as histórias da sua vida. In: Vidas de professores. Porto: Porto Editora, 2007. PASSMORE, J. O conceito de ensino. 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