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DIDÁTICA AULA 1 CONCEITO DE DIDÁTICA E SUA ORIGEM VISÃO GERAL Este tema é referente ao Conceito de Didática e sua Origem. Abordaremos a construção histórica de Didática e sua efetivação como um campo de conhecimento da Educação. Compreender o conceito e a origem da Didática é importante para pensar sobre as teorias de ensino e os métodos no processo de ensino e aprendizagem. OBJETIVOS 1. Descrever conceitos fundamentais de didática e sua importância; 2. Explicar os desafios do ofício pedagógico; 3. Relacionar conceitos comenianos às práticas didáticas atuais. CONCEITUAÇÃO Vamos fazer uma reflexão: 1. Pense em você quando criança e em uma aula da sua matéria favorita. 2. Agora, pense na postura daquele professor ou professora que conseguiu cativar a sua atenção, fazendo com que você tivesse mais simpatia pela matéria lecionada. 3. Por último, pense em todos os atributos que esse profissional tinha que conseguiam prender a sua atenção. Já passou pela sua cabeça a quantidade de planejamento, treinamento e reflexão que esse mesmo professor (ou professora) teve de percorrer para estar naquela sala de aula? Para que esse profissional estivesse na sua frente, foi trilhado um caminho que 1 chamamos de Formação de Professores. E a Didática é uma parte primordial desse caminho. Ela é, efetivamente, um conjunto de procedimentos e métodos para instrução do ensino aliada à Teoria Geral do Processo de Ensino e Aprendizagem (falaremos mais sobre esse processo a seguir). Saiba mais: você sabia que a Didática também é considerada uma ciência pedagógica? Por conta dessa definição, todos os cursos de Pedagogia e Licenciaturas exigem essa disciplina nocurrículo, tornando-a parte donúcleocomum eobrigatóriodaformaçãoacadêmicanesses cursos. A Didática é um elemento pedagógico imprescindível para a docência, seja ela em qualquer nível (ensino básico ou superior) ou modalidade (presencial ou a distancia). Didática também pode ser entendida tanto como ciência quanto como arte do ensino (HAIDT, 2011). Você deve estar se perguntando “como assim também?”. Afinal, o conceito de Didática já foi explicado. Mas, veja bem, levando em consideração o fato de ela abranger todos os procedimentos instrucionais, pode ser definida de várias formas. Esse módulo explica isso de maneira mais objetiva. Então, não se assuste se, durante esse conteúdo, surgirem mais definições de Didática. Os múltiplos significados apresentados não se invalidam, mas se complementam. Importante: a pedagoga Vera Candau tem uma fala que sintetiza muito bem a essência da Didática… “[...] a didática, em uma perspectiva instrumental, é concebida como um conjunto de conhecimentos técnicos sobre o “como fazer” pedagógico, conhecimentos estes apresentados de forma universal e, consequentemente, desvinculados dos problemas relativos ao sentido e aos fins da educação, dos conteúdos específicos, assim como do contexto sociocultural concreto em que foram gerados.” (CANDAU,1997) 2 PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM Concluímos até aqui que existe um processo de ensino e aprendizagem em questão, e a Didática entra nesse processo como ferramenta para auxiliar a escolha de estratégias adequadas. Esse processo pode ser dividido em dois grandes momentos distintos, que estão continuamente interligados: 1. Momento da reflexão teórica: Quais instrumentos e técnicas para ensinar? 2. Direção da prática: Como realizar um processo de aprendizagem com mais qualidade? Curiosidade: você já percebeu, então, que apesar da Pedagogia e da Didática terem significados diferentes, estão interligadas, certo?! Por isso, definimos: ● Didática (como já vimos): ciência e arte do Ensino. ● Pedagogia: ciência e arte da Educação. (HAIDT, 2011) O processo de ensino e aprendizagem não é uma tarefa fácil e exige um olhar atento aos processos pedagógicos e às discussões contemporâneas sobre Educação. É preciso pensar novas imagens sobre esse processo e levar experiências interessantes para o educando. Vejamos mais uma definição da Didática: área específica de estudo sobre conteúdos, métodos e técnicas ideais para a construção das estratégias facilitadoras para o processo de ensino e aprendizagem. 3 PAPEL DO PEDAGOGO Atualmente, há um discurso, às vezes mal-entendido, que o profissional de ensino precisa ser o mediador do conhecimento ou não será mais necessário no futuro (LIBÂNEO, 2010). Muito pelo contrário: o professor, para atuar em sala de aula precisa não só fazer a diferença na vida de seus alunos como utilizar fundamentos didáticos clássicos. E alinhar a essas estratégias uma prática didático-pedagógica que considere os novos tempos e as tecnologias disponíveis. As principais discussões no campo da Didática apontam que o professor continuará atuando e orientando o processo de aprendizagem em qualquer nível ou modalidade. 4 A Didática, naturalmente, lida com os componentes técnica, aluno e realidade. E isso inclui considerar: ● Os desafios do processo; ● As bases filosóficas; ● As bases histórico-sociais; ● As necessidades do aluno; ● As bases políticas. Saiba mais: também é necessário que o profissional esteja atento às modificações sociotécnicas que têm ocorrido nos últimos anos e considerar os atributos específicos das gerações mais novas: os nativos digitais (pessoas que nasceram em meio às últimas tecnologias e não tiveram que passar pela mesma adaptação que gerações anteriores). Falando em tecnologia, é importante dizer que, com o avanço dela e com as variadas mudanças nas normas educacionais no Brasil, a atualização constante se faz necessária na vida de qualquer profissional. É preciso não só desenvolver competências adequadas e coerentes ao ensino, como prestar atenção nesses pontos – estudando, pesquisando e adaptando seus métodos à realidade na qual os educandos vivem. Ou seja, é essencial saber aprender para ensinar. APLICAÇÃO DA DIDÁTICA Ao utilizar saberes didáticos-pedagógicos em sala de aula, o professor demonstra capacitação e a formação adequada. Mas, esse domínio de técnicas pedagógicas precisa estar vinculado com conhecimento sobre os conteúdos a serem trabalhados (nível conceitual) e com a inteligência emocional do docente (nível atitudinal), tão necessária para o trato com as várias situações comuns e incomuns que podem ocorrer em sala de aula e no contexto escolar. 5 METODOLOGIA = DIMENSÃO CONCEITUAL + DIMENSÃO TÉCNICA + DIMENSÃO ATITUDINAL Saiba mais: Beda, o Venerável (séc. VIII), considerado um dos eruditos da língua inglesa, tem, entre suas afirmações: “Há três caminhos para o fracasso: não ensinar o que se sabe, não praticar o que se ensina, e não perguntar o que se ignora.” ORIGEM DA DIDÁTICA A seguir, faremos uma breve retrospectiva para que possamos perceber a evolução do Ensino através dos tempos: 1. Pré-história: ensinar e aprender sempre foram processos inerentes às práticas humanas. Desde os primórdios da humanidade, podemos constatar através da evolução as famílias e comunidades primitivas ensinando seus filhos e membros as atividades da tribo, rituais e práticas sociais. Certamente, com o passar dos anos, essas práticas foram ganhando uma 6 estrutura de Didática e finalmente se tornaram uma ação didático-pedagógica. Essa evolução estrutural dos processos didáticos contribuiu para a formação do conceito de Didática. 2. Grécia antiga: a “formação do homem grego” foi solidificada, necessariamente, pela compreensão de que: “Não se pode evitar o emprego de expressões modernas como civilização, cultura, tradição literatura ou educação. Nenhuma delas, porém, coincide realmente com o que os gregos entendiam por Paideia [...]. Teríamos de empregá-los todos de uma vez!” (JAEGER, 2001) Mas havia limite em tal formação, especialmente por conta da estreita ideia de cidadania, que somente seria ampliada muito mais tarde. E embora essa herança grega tenha permanecido por séculos, foi necessário que uma nova obra trouxesse um novo foco sobre a arte de educar ou sobre o processo de educar... 3. No século XVII, a tal “sistematização do processo de ensinar” foi finalmente consolidada pelo filósofo tcheco Johannes Amos Comenius (1592-1670). Em 1657, Comenius escreveu um livro para divulgar essas ideias, chamado Didática Magna e é sobre a importância desse livro que falaremos a seguir. 7 BASE TEÓRICA Observe os livros acima: Didática Magna, de Comenius e Paideia, de Jaeger. Embora eles não possam resumir toda a história da Didática, são materiais fundamentais na compreensão desse processo. Comenius é considerado um grande inovador em relação aos processos de ensino e aprendizagem, porque já naquela época, ele defendia a universalidade da educação, com o lema: “Ensinar tudo a todos”. 8 Assim, iniciou um método mais ativo e efetivo que partia dos conhecimentos mais simples aos mais complexos - ideia também levantada por René Descartes (1596-1650), conhecida como método cartesiano. Os principais fundamentos do pensamento pedagógico de Comenius baseiam-se em 4 pilares: 1. Aquilo que o aluno deve construir como um saber. 2. O que nós, professores, temos que ensinar. 3. O conhecimento tem que ter aplicação prática e sólida. 4. O processo de ensinar deve ser claro e objetivo, e se pautar pelas necessidades do indivíduo. A seguir, uma parte da Didática Magna: “Processo seguro e excelente de instituir, em todas as comunidades de qualquer reino cristão, cidades e aldeias, escolas tais que toda a juventude de um e de outro sexo, sem excetuar ninguém para que possa ser formada nos estudos, educada nos bons costumes, impregnada de piedade, e, desta maneira, possa ser, nos anos da puberdade, instruída em tudo o que diz respeito à vida presente e à futura, com economia de tempo e de fadiga, com agrado e com solidez. Onde os fundamentos de todas as coisas que se aconselham são tirados da própria natureza das coisas; a sua verdade é demonstrada com exemplos paralelos das artes mecânicas; o curso dos estudos é distribuído por anos, meses, dias e horas; e, enfim, é indicado um caminho fácil e seguro de pôr estas coisas em prática com bom resultado. A proa e a popa da nossa Didática será investigar e descobrir o método segundo o qual os professores ensinem menos e os estudantes aprendam mais; nas escolas, haja menos barulho, menos enfado, menos trabalho inútil, e, ao contrário, haja mais recolhimento, mais atrativo e mais sólido progresso; na Cristandade, haja menos trevas, menos confusão, menos dissídios, e mais luz, mais ordem, mais paz e mais tranquilidade. Que Deus tenha piedade de nós e nos abençoe! Faça brilhar sobre nós a luz da sua face e tenha piedade de nós! Para que sobre esta terra possamos conhecer o teu caminho, ó Senhor, e a tua ajuda salutar a todas as gentes (Salmo 66, 1-2).” (COMENIUS, 2001.) 9 A seguir, sintetizamos as principais ideias publicadas em Didática Magna: 1. Realidade do aluno Comenius entendia que a Educação precisa utilizar a experiência pessoal do aprendente como parte do processo. Para isso, o aluno precisava observar sua realidade para depois agir sobre ela. Ele também instituiu o diálogo como forma de aproximação e afeição do aluno com o conteúdo estudado. 2. Universalização da Educação Outro ponto muito importante é sobre a ideia de universalização da Educação, porque ele determina que a educação deve ser para todos os sexos (como sabemos, a mulher, em muitos períodos históricos foi excluída dos processos escolares). 3. Ética e valores Para Comenius, o processo da educação não é apenas o conteúdo a ser estudado, mas a aprendizagem de valores e de atitudes que ajudarão a pessoa a ser melhor no presente e no futuro. Os propósitos educativos precisam estar baseados no raciocínio lógico, na investigação científica e na formação do conceito de ser humano enquanto um sujeito moral, social, político, racional e afetivo. Um objetivo fundamental da educação de Comenius era formar um sujeito bom e virtuoso, dotado de fé, a ponto de praticar boas ações mediante às capacidades subjetivas do aluno. 4. Simplificação e aplicabilidade Uma sinalização importante de Comenius: a Didática precisa agregar técnicas e métodos que deixem o processo de aprendizado mais rápido, agradável, racional e sirva para o sujeito no meio social. 5. Construção do saber O processo de construção de saberes não é algo estanque e destituído de significado e das relações com outras ciências, conteúdos e significados. Ao contrário, aprender é estabelecer inter-relações entre os conteúdos e temas estudados. 10 Esses são os principais pontos que podemos destacar de Comenius e sua contribuição para a área da Educação e, especificamente, para o campo da Didática. CONCLUSÃO As ideias de Comenius certificam o pensamento do professor atual, baseadas nos pilares da Educação e descrito no documento Educação: um tesouro a descobrir, de Jacques Delors. Esse documento estabelece, entre outros assuntos, que a Didática precisa ser centrada no desenvolvimento das quatro aprendizagens fundamentais consideradas os pilares do conhecimento descritos abaixo: 1. Aprender a conhecer 2. Aprender a fazer 3. Aprender a conviver 4. Aprender a ser (DELORS, 2001) Ou seja, um documento orientado para professores e alunos do século XXI tem semelhanças com as ideias de Comenius, que viveu lá no século XVII. Com isso, vemos o quão inovador era Comenius. Conceitos atuais como educação interdisciplinar, afetiva, colaborativa e baseada em pesquisas e projetos foram levantados por Comenius em seu tempo. Ele entendia que a escola não poderia ser um local de intranquilidade e desgosto para as crianças, mas um lugar que desperte a curiosidade e a capacidade de pensar e imaginar. CONQUISTAS ADQUIRIDAS ● Capacidade de pensar o processo pedagógico, o ensino e o papel que vai assumir na construção do ensino e aprendizagem. ● Fortalecimento do espírito crítico e da inteligência emocional por meio da contextualização do meio em que se vive. ● Habilidade de pensar conceitualmente a Didática e sua literatura. 11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CANDAU, Vera Maria. Da didática fundamental ao fundamental da didática. In:OLIVEIRA, Maria Rita Neto Sales. DE ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso (Orgs.). Alternativa no ensino de didática. Campinas, SP: Papirus, 1997, p. 71 – 95. COMENIUS. Didática Magna. São Paulo: Martins Fontes, 2011. DELORS, Jacques. Educação: tesouro a descobrir. São Paulo: Cortez; Brasília: MEC/UNESCO, 2001. HAIDT, Regina Célia Cazaux. Curso de Didática Geral. São Paulo: Ática, 2011. JAEGER, Werner. Paideia. São Paulo: Martins Fontes, 2001. 12 ============================================================================================= AULA 2 TENDêNCIAS PEDAGÓGICAS 1 / 45 DEFINIÇÃO DO TEMA Neste tema, discutiremos as tendências pedagógicas liberal e progressista e a maneira como elas influenciam a Educação. PROPÓSITO Este tema tem como finalidade a compreensão e a análise da Educação a partir dos referenciais teóricos que a influenciam. OBJETIVOS IDENTIFICAR AS DUAS GRANDES TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS: LIBERAL E PROGRESSISTA CARACTERIZAR AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS LIBERAIS DISTINGUIR AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS PROGRESSISTAS 2 / 45 INTRODUÇÃO O que é Tendência? De acordo com o dicionário Priberam, a palavra tendência significa: “A ação ou força pela qual um corpo tende a mover-se para alguma parte.” 3 / 45 Nesse sentido, as tendências correspondem aos princípios que orientam as ações de cada indivíduo. No campo educacional não é diferente: o professor, a escola, o aluno e o ensino estão marcados por pensamentos que exercem forte influência sobre as práticas educativas. Dessa forma, é importante compreender as características de cada tendência pedagógica, pois esse conhecimento lhe ajudará a decidir os caminhos que deseja seguir no processo de ensino-aprendizagem. VOCÊ PERCEBEU A DIFERENÇA NAS ABORDAGENS DE CADA PROFESSOR? Como vimos, os princípios que escolhemos orientam a nossa prática e a forma como organizamos a Educação. Eles podem ser sintetizados em tendências, as quais veremos a partir de agora. PEDAGOGIA LIBERAL × PEDAGOGIA PROGRESSISTA O contexto escolar é permeado por diferentes concepções de homem e de sociedade, ou seja, há diferentes formas de enxergar o papel do homem no âmbito social e essas visões influenciam a prática escolar. É nesse ponto que as tendências liberal e progressista se diferenciam: ambas possuem visões particulares sobre a relação Homem × Sociedade. Essa distinção acontece porque as tendências pedagógicas estão situadas historicamente e se desenvolveram como resposta ao contexto social no qual surgiram. Vejamos, com base em Libâneo* (1989), como essas tendências descrevem a relação Homem × Sociedade e qual foi o contexto histórico em que elas se desenvolveram. *Libâneo: José Carlos Libâneo nasceu em 1945, em Angatuba – SP. Graduou-se em Filosofia pela Pontífica Universidade Católica de São Paulo em 1966. É doutor em educação e autor do livro “Democratização da Escola Pública – A Revisão Crítico-Social dos Conteúdos”, onde defende uma escola que valorize a consciência crítica e que permita ao indivíduo das classes dominadas superar a sua condição de oprimido. (Informações coletadas do Currículo Lattes em 30/09/2019.) 4 / 45 SÉCULOS XVIII / XIX TENDÊNCIA LIBERAL Na concepção liberal*, os papéis que os indivíduos devem desempenhar são voltados para a sociedade. Nesse sentido, cabe à escola preparar o indivíduo, de acordo com as suas aptidões, para atender às demandas sociais. MARCO DO PERÍODO Industrialização / Iluminismo / Revolução científica As ideias liberais são influenciadas por Jonh Locke* e Adam Smith*. No período entre os séculos XVIII e XIX a sociedade vive uma série de transformações: crescimento urbano, processo de industrialização e aumento das relações de troca (pessoas, tecnologias e econômicas). Foi nesse período, também, que notamos o desenvolvimento de uma Revolução Científica. *Liberal: O pensamento liberal defende a liberdade política e econômica. Alguns dos princípios do liberalismo são: • Defesa da propriedade privada; • Livre mercado; • Mínima participação do Estado na economia; • Igualdade perante à lei. *John Locke: John Locke (1632-1704) nasceu na aldeia de Somerset, em Wrington, na Inglaterra. Foi um dos principais representantes do empirismo, doutrina que afirmava que o conhecimento era determinado pela experiência sensorial. (Informações coletadas do site Ebiografia em 09/10/2019) *Adam Smith: Adam Smith, (1723-1790) foi um economista e filósofo escocês. Ele é considerado um dos maiores defensores do liberalismo econômico e também é reconhecido como o pai da economia moderna. (Informações coletadas do site Ebiografia em 09/10/2019) 5 / 45 SÉCULO XX TENDÊNCIA PROGRESSISTA Na concepção progressista, o homem é pensado como um protagonista. A escola, nesse sentido, deve fornecer os instrumentos necessários para que o indivíduo possa discutir a sua atuação em sociedade. MARCO DO PERÍODO Guerra Fria / Desenvolvimento tecnológico Após a Segunda Guerra Mundial o mundo se dividiu em um conflito conhecido como Guerra Fria. As tensões provocadas pela disputa entre Estados Unidos e União Soviética geraram críticas e movimentos, que contestavam a ordem social estabelecida. A disseminação do rádio e da televisão associada à velocidade da tecnologia e dos transportes transformaram as relações sociais. Como vimos, as tendências liberal e progressista surgiram em diferentes momentos históricos. No entanto, não podemos entendê-las como se uma fosse sucessora da outra. Cada tendência trouxe contribuições significativas para a Educação, que são aplicadas no contexto escolar até os dias de hoje. Vejamos alguns exemplos: TENDÊNCIA LIBERAL Uma das técnicas de aprendizagem utilizadas por essa tendência é a memorização, bastante comum no ensino de tarefas operacionais ou de Matemática nas séries iniciais, para decorar tabuada, por exemplo. TENDÊNCIA PROGRESSISTA Uma das técnicas utilizadas nessa tendência é a discussão em grupo, muito empregada em diferentes áreas de conhecimento. Podemos citar, como exemplo, uma atividade em sala de aula em que um grupo de alunos de Publicidade se reúne para elaborar uma estratégia de marketing. 6 / 45 Perceba que a implementação dessas tendências no processo de ensinoaprendizagem está condicionado ao tipo de conhecimento que será aprendido e ao contexto no qual essa aprendizagem será construída. Nos próximos módulos, vamos conhecer as principais características das tendências liberal e progressista e entenderemos como elas se subdividem. Importante A Didática auxilia a interpretação dessas tendências pedagógicas para explorar os modos de fazer e de pensar na Educação. 7 / 45 VERIFICANDO O APRENDIZADO Para desbloquear o próximo módulo, é necessário que responda corretamente a uma das questões a seguir. 1. Das afirmações a seguir, marque a que mais se adequa à Pedagogia Liberal: a) O aluno é um sujeito ativo na construção do conhecimento e o professor atua como um facilitador para que a aprendizagem ocorra. b) A escola deve preparar os indivíduos para exercer os papéis sociais, permitindo que eles estejam prontos às exigências do mercado e da sociedade em geral. c) Os conteúdos que devem ser aprendidos são definidos exclusivamente a partir do contexto social do aluno. d) O aluno possui a autogestão da sua experiência de aprendizagem, inclusive na escolha do conteúdo que estudará. Feedback A resposta certa é a letra B. A Tendência Pedagógica Liberal dá ênfase ao ensino e ao conteúdo que o aluno deve aprender a fim de responder plenamente às expectativas da sociedade em que está inserido. Assim, o professor é responsável pelo processo de ensino-aprendizagem, enquanto o aluno deve aproveitar ao máximo o conhecimento transmitido. 8 / 45 2. A Educação, historicamente, prepara o indivíduo para assumir o seu papel na sociedade. Com as transformações no contexto social, modifica-se a percepção sobre a atuação de professores e alunos. Com base nisso, analise as afirmações a seguir e marque aquela que apresenta a proposta da Pedagogia Progressista. a) O professor deve incorporar a realidade do aluno como ponto de partida para a ação educativa, favorecendo a conscientização das realidades sociais e culturais. b) objetivo da Educação é definir os caminhos que todos os alunos devem seguir, considerando, em alguma medida, suas características individuais. c) No processo de ensino-aprendizagem, o professor é o responsável por transmitir os conhecimentos que devem ser aprendidos pelo aluno. d) Os alunos devem ser preparados para que exerçam, de maneira eficiente, o seu papel social, que é historicamente estabelecido. Feedback A resposta certa é a letra A. A Pedagogia Progressista faz uma análise crítica da realidade social e do papel da Educação, propondo que o aluno seja responsável pela sua aprendizagem e construtor de seu papel social. 9 / 45 PEDAGOGIA LIBERAL Muitos conhecem o liberalismo somente como uma tendência econômica, mas esse movimento deve ser compreendido, também, em seu caráter filosófico. Algumas demandas sociais e acontecimentos históricos marcaram o momento de ascensão do liberalismo: Diversas revoluções foram influenciadas pelo pensamento liberal, como as revoluções inglesa e francesa e a Primavera dos Povos*. O liberalismo também ganhou força especial com a nova dinâmica social experimentada no século XIX, que trouxe o modelo econômico baseado na liberdade de produção e na propriedade privada, chamado de capitalismo*. *Revoluções inglesa e francesa e a Primavera dos Povos: Essas revoluções marcam as mudanças dos sistemas políticos e a implementação de um modelo econômico influenciado por uma política liberal. Baseado nas ideias de Adam Smith, os ingleses fizeram a sua revolução em uma disputa entre a casa das duas rosas (conflito entre a casa de Lancaster e a Casa de York, que disputavam o trono inglês). Em seguida, na Revolução Francesa, a burguesia lutou para superar o antigo regime. Por fim, no restante da Europa, ocorre uma série de movimentos contra a monarquia estabelecida na época. 10 / 45 *Capitalismo: O livro História do Capitalismo, de Osvaldo Coggiola, faz uma retrospectiva sobre como o capitalismo se desenvolveu. Sugerimos a leitura dele para que você conheça um pouco mais sobre esse tema. A pintura A liberdade guiando o povo, de Eugène Delacroix, retrata bem o espírito da população nesse período e a motivação para a mudança. “A liberdade guiando o povo” / Pintura de Eugène Delacroix. A Pintura “A liberdade guiando o povo” foi feita por Eugène Delacroix, artista francês do Romantismo. Interessado também nos temas políticos, Delacroix pintou esse quadro para retratar os acontecimentos do seu país. A mulher, denominada Marianne, foi representada usando um gorro, com uma arma na mão esquerda e a bandeira da França na mão direita. Essa pintura virou símbolo da Revolução Francesa, pois o gorro era um adereço utilizado pelos escravos libertos na Grécia e em Roma. Marianne, então, representava o grito de resistência frente ao sistema da época. (Informações coletadas do site da Embaixada da França no Brasil em 27/09/2019). 11 / 45 E como esse pensamento liberal se refletiu no Brasil? Em 1889, o Brasil se tornou uma República, tendo como principal influência intelectual o positivismo*. Essa filosofia era defendida por Benjamin Constant*, um dos ícones brasileiros que tinha um sonho revolucionário para aquele período: alfabetizar 20% dos brasileiros até 1920, índice que foi considerado impossível de ser alcançado. O desafio dele nos mostra a situação em que a educação brasileira se encontrava à época. *Positivismo: O positivismo, corrente filosófica que defende o conhecimento científico como o único verdadeiro, tem como principal representante Auguste Comte (1798 – 1857), filósofo francês que defendia a criação de uma filosofia positivista. *Benjamin Constant: Benjamin Constant (1833 – 1891) foi militar e político brasileiro. Influenciado pelo pensamento positivista, criou o slogan da bandeira brasileira: Ordem e Progresso. (Informações coletadas do site Ebiografia em 10/10/2019) A influência do liberalismo na República também pode ser observada na composição da nossa bandeira, obra geométrica formada por quadriláteros e medianizes, que leva os dizeres “Ordem e Progresso” e que marca a tentativa de se organizar a educação brasileira. Perceba que, em meio às transformações, a Educação não fica imune, ela assume a função de preparar o indivíduo para esse novo mundo, criando possibilidades para que ele desenvolva o seu potencial. A escola, nesse sentido, aperfeiçoa o homem, fornecendo instrumentos para que ele cumpra o seu papel no progresso social. Nesse contexto de mudanças, a Pedagogia Liberal se ramifica em três linhas de pensamento: 12 / 45 TENDÊNCIA TRADICIONAL O que se percebe durante o século XVIII, com o avanço do liberalismo, é a multiplicação desse pensamento com a motivação para a mudança social. Novas funções passaram a existir. A sociedade precisava crescer e a preparação do indivíduo tornou-se fundamental para a construção de uma sociedade melhor. Como já entendemos, a preparação do indivíduo para exercer o seu papel social é função da Educação. Vejamos as principais características da Tendência Tradicional que mostram como ela organiza o Sistema Educacional para atender à demanda que lhe é atribuída. 13 / 45 escola relação professoraluno conteúdo Prepara o aluno intelectualmente e desenha o caminho que todos devem percorrer para chegar ao conhecimento. O professor é a autoridade em sala de aula, pois é ele quem domina o conhecimento científico. Ele deve valorizar a disciplina e estabelecer uma relação de respeito perante os alunos. São os conhecimentos enciclopédicos, aqueles acumulados pela sociedade, que possuem valor intelectual. 14 / 45 método aprendizagem avaliação São expositivos, focam na comunicação oral do conteúdo e na demonstração feitas pelo professor. Os exercícios de repetição são valorizados, pois permitem que o aluno memorize os conceitos e as fórmulas. É receptiva e mecânica, o aluno deve seguir todos os passos estabelecidos pelo professor para assimilar o conteúdo. Por isso, são usados exercícios de repetição para garantir que o aluno aprendeu a matéria. É feita por meio de provas orais e escritas, testes e exercícios para casa, com o objetivo de metrificar o conhecimento. Observe que, nessa tendência, o professor possui uma atuação primordial, pois ele é quem define qual conteúdo será estudado e elabora o planejamento do processo de ensino-aprendizagem. Por ter um papel central, cabe ao professor não só repassar os conhecimentos, mas também observar os alunos, aconselhar e corrigir possíveis erros. Como a Tendência Tradicional se reflete nos âmbitos individual e social? 15 / 45 CONSEQUÊNCIAS NO ÂMBITO INDIVIDUAL CONSEQUÊNCIAS NO ÂMBITO SOCIAL • Atividades individuais; • Foco no conhecimento científico; • Valorização de uma única cultura ensinada pela escola, podendo gerar inadaptação cultural*; • Aceitação passiva* das divisões sociais. • Conservação dos padrões sociais; • Defesa da organização social; • Preferência pela especulação teórica* e pela prática como repetição. *Inadaptação cultural: Exemplo - O filme “Escritores da Liberdade” conta a história da professora Gruwell, mulher jovem e idealista que vai dar aulas em uma escola de um bairro pobre. Em uma das cenas do filme, Gruwell entra na turma e se depara com um grupo de alunos fazendo uma caricatura de um dos colegas e debochando dos traços negroides dele. A professora, muito indignada, lembra os alunos do que era feito aos judeus durante o Holocausto. Após algumas provocações, os alunos manifestam o desejo de saber mais sobre o assunto. *Aceitação passiva: Exemplo - O filme “Ray Charles” conta a vida desse cantor e pianista que, apesar da cegueira que o acometeu aos 7 anos, desenvolveu uma habilidade incrível ao tocar piano. Em uma das cenas do filme, Ray chega à Geórgia, estado do sudeste dos EUA; e, mesmo diante dos protestos contra a segregação racial, ele diz: “Eu estou fazendo o meu trabalho. Esse é só o meu dinheiro. Isso aqui é assim mesmo. Foi como eu aprendi”. Ray Charles desperta de sua aceitação passiva quando presencia um dos promotores do evento agredindo um dos jovens negros que tentava conversar com ele. *Especulação teórica: Exemplo - O filme “O Sorriso de Mona Lisa” conta a história de Katherine Watson, uma professora jovem que vai ministrar aulas em uma escola feminina e tradicional. Nessa escola, as alunas são educadas para se tornarem esposas cultas e mães responsáveis. Em uma das cenas do filme, a professora Katherine inicia sua aula apresentando fotos das obras de arte que compõem o tema da aula. Enquanto a professora apresenta as imagens, as alunas imediatamente falam, em coro, as informações que leram sobre as obras. As alunas demonstram que leram todos os livros sugeridos, porém, são incapazes de refletir sobre o que representa todo aquele conjunto de informações. Ao longo do tempo, a Tendência Tradicional sofreu várias críticas. Dentre elas, podemos destacar a falta de relação dos conteúdos estudados com a vida dos alunos. No entanto, essa tendência trouxe significativas contribuições para a Educação, pois os seus métodos de ensino são utilizados até hoje em diferentes áreas de conhecimento. 16 / 45 Quer entender melhor? A professora Angela Maria Paiva Gama* nos mostra, a seguir, um exemplo de como podemos utilizar as técnicas da Tendência Tradicional. *Angela Maria Paiva Gama: Atualmente é professora auxiliar da Universidade Estácio de Sá e coordenadora do Curso de Pedagogia no Campus Freguesia – UNESA. Atua, desde 2010, como professora do Ensino a Distância da Universidade Estácio de Sá. A professora também participa do Centro de Filosofia Educação Para o Pensar, desde 2002. (Informações coletadas do Lattes em 16/10/2019) Acredito que diferentes metodologias permitem que os objetivos de aprendizagem sejam alcançados. A aula expositiva, por exemplo, deve fazer parte da apresentação de conteúdos sequenciais. Podemos, então, no ensino de múltiplos e divisores nas operações com frações, primeiro apresentar os conteúdos em uma aula expositiva e, posteriormente, trazer exercícios práticos para que o aluno possa memorizar o conteúdo. Perceba que, nesse contexto, a exposição do conteúdo pelo professor é essencial para que o aluno entenda as regras das operações com frações para, em seguida, colocar em prática, fazendo uso de exercícios. A exposição e a repetição, por meio de exercícios práticos, nesse caso, permitem que ocorra a naturalização do conteúdo e, consequentemente, ocorra a aprendizagem. SAIBA MAIS! Leia a entrevista de Inger Enkvist, professora catedrática emérita de espanhol da Universidade de Lund, defensora da tendência tradicional, na qual afirma que “a nova pedagogia é um erro”. 17 / 45 Que tal fazer uma pausa para retomar o que aprendemos até aqui? Então, vamos lá! Observando esse esquema, dá para perceber que ainda tem muita coisa para aprendermos. Então vamos voltar ao nosso estudo sobre as Tendências! 18 / 45 TENDÊNCIA RENOVADORA O período entre os anos de 1910 e 1940 foram marcantes para a história da humanidade. As grandes potências econômicas europeias (Alemanha, Itália, Inglaterra e França) lutavam para dominar o mundo, seja pelo monopólio de mercados, de matéria-prima, de território ou pelo poder militar. Nesse mesmo período, os Estados Unidos se consolidam como uma potência econômica, acentuando essa luta por supremacia. Foi esse cenário de tensão que motivou as duas Grandes Guerras Mundiais, que transformaram a humanidade nos campos da política, economia e social. Nesse contexto, a Educação também começa a mudar e a Tendência Renovadora traz a reflexão de que a Educação deveria ser ampliada para todos os indivíduos, com o objetivo de construir uma sociedade mais justa e equilibrada. A ideia era dar melhores condições de formação educacional aos homens para que eles pudessem atuar de forma mais efetiva na sociedade. Como essa tendência chegou ao Brasil? No Brasil, a Tendência Renovadora começou a surgir entre as décadas de 1920 e 1930, quando o pensamento liberal chega com mais força e encontra as discussões em torno da ideia da Escola Nova. Há uma disputa pelo reconhecimento dos diferentes saberes, mas ainda fazendo distinção entre o que é conhecimento geral e experiência cotidiana. Vejamos as principais características da Tendência Renovadora: 19 / 45 escola relação professoraluno conteúdo Procura adequar os alunos, considerando suas individualidades, às necessidades da sociedade. Essa adaptação integra, na medida do possível, as exigências do meio social aos interesses e às experiências dos alunos. O professor deve estabelecer uma relação harmônica com os alunos, pois isso contribuirá para que lidere as experiências de aprendizagem. São definidos a partir das experiências que os alunos vivenciam na construção da aprendizagem. Valoriza-se mais o processo de apreensão do conhecimento do que o saber acumulado. 20 / 45 método aprendizagem avaliação Estimulam o aprender-fazendo, com atividades de pesquisa e experimentação. As atividades também são elaboradas considerando a etapa de desenvolvimento do aluno. É uma atividade de descoberta. O aluno é estimulado a experimentar o conhecimento. É contínua e busca identificar os êxitos dos alunos durante o processo ensino-aprendizagem. Observe o que Silva (2014) fala sobre a Tendência Renovadora: “ Como pressupostos de aprendizagem, aprender se torna uma atividade de descoberta, é uma autoaprendizagem, sendo o ambiente apenas um meio estimulador. Só é retido aquilo que se incorpora à atividade do aluno, através da descoberta pessoal; o que é incorporado passa a compor a estrutura cognitiva para ser empregado em novas situações. É a tomada de consciência, segundo Piaget*. SILVA*, 2014 21 / 45 *Jean Piaget: Jean Piaget (1896-1980) foi um renomado psicólogo e filósofo suíço, conhecido por seu trabalho pioneiro no campo da inteligência infantil. Piaget passou grande parte de sua carreira profissional interagindo com crianças e estudando seu processo de raciocínio. Seus estudos tiveram um grande impacto sobre os campos da Psicologia e Pedagogia. (Informações coletadas do Portal Educação em 21/10/2019.) *Délcio Barros da Silva: Délcio Barros da Silva é ex-professor do departamento de Letras da Universidade Federal de Santa Maria e atuou no curso de Pedagogia da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul. Perceba que essa tendência começa a valorizar os interesses do aluno, permitindo que ele manifeste a sua curiosidade e criatividade, cabendo ao professor estimular e facilitar o processo de construção do conhecimento. No entanto, assim como a Tendência Tradicional, a Renovadora sofreu algumas críticas, principalmente na condução da experiência de aprendizagem, pois, por ser uma tendência que valoriza a ação do aluno, os educadores poderiam pensar que não haveria a necessidade de se planejar as situações-problema que o aluno deveria vivenciar, gerando um não-direcionamento das atividades. Agora, que tal vermos um relato de experiência? Veja o que o professor Rodrigo Rainha viveu durante uma de suas aulas de história e como ele usou as ideias da Tendência Renovadora para facilitar a aprendizagem dos alunos. Enquanto falava sobre a Segunda Guerra Mundial em uma de minhas aulas, percebi que os alunos começaram a dormir, e um deles me falou: "— Professor, não consigo entender por que devo estudar a Segunda Guerra, isso não vai me servir pra nada". Então, notei que eu não estava relacionando o assunto da aula à vida dos alunos. Diante disso, pedi a eles que refletissem sobre como as guerras afetam a vida das pessoas. Em seguida, um aluno descendente de imigrantes relatou como sua família fugiu da guerra. Com isso, os alunos compreenderam como as guerras podem movimentar e mudar a vida de uma sociedade. 22 / 45 Como você pode perceber, nas situações de aprendizagem, é essencial que o aluno consiga perceber a relação do conhecimento a ser aprendido com a sua vida prática. Esse é um desafio, não é mesmo? No entanto, assim como o professor Rainha fez, o primeiro passo para realizar essa contextualização é ouvir o que os alunos têm a dizer. Importante Se olharmos para a história, seremos levados a entender que a educação liberal começou com a Tendência Tradicional e depois evoluiu para a Pedagogia Renovadora. Porém, esse não foi um processo de substituição de uma pela outra, pois ambas possuem a mesma concepção: formam o sujeito para a sociedade. TENDÊNCIA TECNICISTA O tecnicismo é fruto da melhoria dos processos industriais e de uma sociedade urbana. Nesse sentido, a sistematização passa a ser central para melhorar os produtos e aumentar a produtividade. Essas concepções, ao chegarem à Educação, trouxeram inegáveis avanços, como a implementação do planejamento para organizar o trabalho docente. Foram concebidas, pela primeira vez, visões de que a Educação deveria ser observada como um sistema dinâmico, uma fábrica, e, para que fosse eficiente, todos os processos envolvidos precisavam ser controlados. Para entender essa ideia de controle na Educação, observe o peso que a gestão escolar exerce na gestão do ensino: 23 / 45 Vamos conhecer as principais características da Tendência Tecnicista: 24 / 45 escola relação professoraluno conteúdo Organiza o ensino, articulando-o ao sistema produtivo. Dessa forma, a escola pode formar os alunos, tornando-os competentes para o mercado de trabalho. O professor é um técnico responsável por executar o programa educacional e ao aluno cabe reproduzir aquilo que foi instruído a fazer. São baseados em leis científicas e organizados de maneira lógica e sequencial. Tudo o que é ensinado precisa ser mensurado. 25 / 45 método aprendizagem avaliação Utilizam técnicas de repetição, cópia, treino e correção para que o aluno possa executar as experiências de aprendizagem de maneira eficiente. O aprendizado se dá quando o aluno é capaz de executar eficientemente aquilo que foi direcionado a fazer. Nesse sentido, a aprendizagem ocorre quando o aluno apresenta comportamentos diferentes daqueles que manifestava quando iniciou o processo de ensino-aprendizagem. Usa recursos para medir a aprendizagem dos alunos, como provas e testes. 26 / 45 Para a tendência tecnicista, o aluno é o recebedor e é parte da esteira de execução do processo de ensino-aprendizagem. É claro que essa ênfase na execução do processo de aprendizagem pode gerar um conhecimento fragmentado, pois o aluno foca excessivamente na técnica e deixa de compreender os motivos pelos quais ele executa aquela ação. Vamos fazer mais uma pausa para complementar o nosso esquema? 27 / 45 Estamos quase fechando o nosso esquema. Já viu o que falta? Mas antes de conhecermos a Pedagogia Progressista, vamos ver se entendemos mesmo o que dizem as tendências da Pedagogia Liberal! 28 / 45 VERIFICANDO O APRENDIZADO Para desbloquear o próximo módulo, é necessário que responda corretamente a uma das questões a seguir. 3. Observe atentamente a ilustração a seguir, identificando a ação da professora sobre o pensamento de seus alunos. Marque a alternativa que indica a qual tendência essa ação está alinhada, que descreve corretamente suas características. a) Tendência Tradicional: a escola tem como papel formar o sujeito intelectualmente; o aluno recebe os conhecimentos emitidos pelo professor. b) Tendência Renovadora: a escola propicia experiências para o aluno; o professor é um facilitador da experiência de aprendizagem. c) Tendência Tradicional Renovadora: o aluno é o sujeito do processo ensino e aprendizagem; o professor é o detentor dos conhecimentos que devem ser transmitidos para o aluno. d) Tendência Tecnicista: o aluno deve ser formado para atender à demanda do mercado de trabalho; o professor é um técnico que monitora a execução do aluno. Feedback A resposta certa é a letra A. Na tendência tradicional, a função da escola é formar o sujeito intelectualmente. O professor é a autoridade máxima em sala de aula e responsável por definir o conteúdo que será apreendido pelos alunos. Como ilustrado, a professora molda os pensamentos dos alunos ao seu padrão, acreditando (por conta de sua formação e experiência docente) que os está formando para melhor exercer seu papel social. 29 / 45 4. O curta animado da Alike faz uma crítica à Tendência Pedagógica Tecnicista. Com base no que você aprendeu sobre a Tendência Liberal Tecnicista, marque a alternativa que apresenta as características dessa tendência: a) O aluno deve receber os conhecimentos determinados pelo professor; a metodologia é baseada em aulas expositivas e exercícios de repetição; o professor é quem detém o conhecimento. b) O aluno é formado para o mercado de trabalho desde a alfabetização; a metodologia é baseada na repetição e na memorização; o professor é pensado como um técnico instrutor e executor. c) O aluno experimenta o conhecimento; na metodologia, o aluno é incentivado a desenvolver o pensamento criativo; o professor baseia suas aulas na demanda dos alunos. d) O aluno é visto como o sujeito do processo de ensino-aprendizagem; a metodologia abrange discussões em grupo e pesquisas; o professor é um mediador. Feedback A resposta certa é a letra B. O curta, ao mesmo tempo em que mostra o professor determinando o padrão de escrita que o menino deve seguir, exibe o pai em seu ambiente de trabalho digitando documentos, de acordo com o padrão determinado pela empresa. Essa cena se alinha à característica da tendência tecnicista, que forma o aluno para o mercado de trabalho, para atender aos padrões exigidos pela sociedade. 30 / 45 PEDAGOGIA PROGRESSISTA Estamos diante de um novo contexto mundial: A Guerra Fria está no auge de suas críticas e efeitos. Na França, estudantes se levantam por uma nova educação. Nos Estados Unidos, os movimentos civis exigem mudanças e lutam por direitos. No Brasil, após a empolgação com o governo de Juscelino, passamos para um quadro de crise que leva à ascensão da ditadura civil-militar. Nesse cenário, grupos que não eram ouvidos até então começaram a se manifestar e lutar por seus direitos, como o direito à Educação. Assim, mulheres, negros e emergentes passaram a anunciar que se sentiam inadequados diante das práticas que eles reconheceram como Velha Pedagogia. A escola, mais uma vez, precisou repensar o fazer docente e reavaliar suas práticas para criar uma nova dinâmica educacional. A Pedagogia Progressista, então, passou a fazer uma análise crítica sobre a Educação, buscando identificar os fatores que interferem diretamente no campo educacional e explicam o sucesso e o fracasso do aluno. Vista por muitos estudiosos como uma concepção resultante da tendência renovadora, a Pedagogia Progressista defende uma Educação mais integradora, que contemple 31 / 45 a realidade social do aluno no processo de ensino-aprendizagem. O seu principal representante é Carl Rogers* (1902-1987), que desenvolveu técnicas aplicadas à Educação que estimulavam o desenvolvimento da autonomia do indivíduo. *Carl Rogers: Psicólogo e psicanalista, aplicou na Educação técnicas e procedimentos próprios da terapia, como a empatia e a confiança, segundo os quais “o indivíduo é capaz de resolver por si só seus problemas bastando que tenha autocompreensão ou percepção do eu”. Para saber sobre Carl Rogers, leia o texto “Carl Rogers, um psicólogo a serviço do estudante”. Como é estabelecida a relação entre o professor e o aluno? Mantendo sempre o objetivo de valorizar a experiência do aluno e desenvolver a sua autonomia, a Pedagogia Progressista se ramifica em outras três linhas de pensamento: 32 / 45 TENDÊNCIA LIBERTADORA Essa é uma das linhas mais famosas no Brasil por sua busca de romper com o autoritarismo. De acordo com essa tendência, o homem deve ser libertado de tudo aquilo que lhe impossibilita de exercer todo o seu potencial. Assim, as mulheres não precisam aceitar o machismo; os trabalhadores do campo não devem se submeter à vontade dos grandes proprietários; e os negros não devem aceitar o racismo como algo natural. Para que isso ocorra, é necessário que o homem tome consciência do seu estado atual e das suas possibilidades de mudar a sua realidade. É nesse processo de conscientização que a Educação começa a exercer o seu papel, trazendo para o contexto escolar temas sociais e políticos e incluindo no processo ensino-aprendizagem a realidade concreta dos alunos. Assim, autores como Paulo Freire* (principal representante dessa tendência) e Dermeval Saviani* se empenham em questionar o sistema tradicional de ensino e a função da escola como propagadora das desigualdades sociais. *FREIRE: Paulo Reglus Neves Freire (1921-1997) nasceu em Recife – Pernambuco. Foi educador, escritor e filósofo. Graduou-se em Direito pela Universidade de Recife, mas abandonou a advocacia e dedicou-se ao ensino de língua portuguesa no Colégio Oswaldo Cruz e de Filosofia da Educação na Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Pernambuco. Freire desenvolveu um método de alfabetização de jovens e adultos no qual o vocabulário a ser ensinado se baseava no contexto imediato dos alunos. Esse método foi aplicado pela primeira vez em 1962 em Angicos, sertão do Rio Grande do Norte. (Informações coletadas do site eBiografia em 20/09/2019) *Dermeval Saviani: Nasceu em Santo Antonio de Posse, comarca de Mogi Mirim, no interior do Estado de São Paulo. Formou-se em Filosofia e, atualmente, é professor da PUC-SP onde desenvolve diversos projetos e pesquisas na área da Educação. (Informações coletadas do site Letrasunifacead em 22/10/2019) A principal questão da Educação Libertadora é: COMO CONSTRUIR UM PROJETO DE TRANSFORMAÇÃO SOCIAL A PARTIR DE UMA NOVA PEDAGOGIA? 33 / 45 Um dos caminhos utilizados pela Tendência Libertadora para se alcançar esse objetivo é a problematização da realidade social, na qual o aluno, por meio de discussões, começa a analisar o seu contexto e a identificar necessidades de melhoria da sua realidade. Vejamos as principais características da Tendência Libertadora: escola relação professoraluno conteúdo Tem o papel de estimular a conscientização da realidade social para transformá-la. É construída com base no diálogo, no qual professor e aluno são livres para expressarem as suas contribuições ao processo de ensinoaprendizagem. São estabelecidos a partir de temas geradores, que partem da vida prática dos alunos. 34 / 45 método aprendizagem avaliação Possuem como base o diálogo, com o objetivo de garantir a participação do aluno. Para isso, são organizados grupos de discussão. É uma atividade de problematização de uma situação, com o objetivo de tornar o aluno mais crítico. É feita uma avaliação mútua, entre professor e aluno, além de se permitir a autoavaliação. TENDÊNCIA LIBERTÁRIA Após a Segunda Guerra e a Queda do Muro de Berlim, o discurso que se ouvia era de que o mundo estava à beira de um colapso. No entanto, nos anos 1980, finalmente parecia que o fantasma da morte por bombas nucleares tinha chegado ao fim, dando lugar a um ambiente de liberdade representado pelos movimentos hippies* e pelo movimento punkrock*. *Movimentos Hippies: Os movimentos de contracultura surgem em meados dos anos 1970 nos Estados Unidos e disseminam pelo mundo a ideia de um rompimento com a sociedade estabelecida. Esse movimento criticava o sistema social construído e trazia a ideia de que a estrutura da sociedade aprisionava os indivíduos. Para romper com essa dinâmica, o movimento buscava a libertação da alma, com o retorno do homem à 35 / 45 natureza. Nessa perspectiva, a musicalidade foi fundamental para o estabelecimento de novas experimentações de sons, como os de guitarras. No Brasil, o ícone desse movimento é Raul Seixas, conhecido como maluco beleza. *Movimento punk-rock: O Rock and roll surge em meados dos anos 1940 como uma derivação mais agressiva do blues. O Rock and roll personifica a ideia de um novo jovem, que luta por liberdade e está presente nos principais movimentos críticos à sociedade dos anos seguintes. No fim da década 1970, na Inglaterra e nos Estados Unidos, surge uma variação desse movimento que se intitula punk rock, que trazia a ideia de uma terrível revolta contra o sistema e o que ele representava. O punk era a música dos guetos operários, dos jovens sem perspectiva, que faziam, com seus vocais distorcidos e sua melodia agressiva, uma intensa crítica social. No Brasil, essa tendência se manifesta nos anos de 1980 nos movimentos pós-regime civil-militar, com o retorno dos exilados e a conquista gradual da liberdade de expressão. Os meios de comunicação em massa e os ambientes acadêmicos, políticos e culturais contribuíram de forma significativa para a expansão desse discurso de liberdade. Nesse clima, a Tendência Libertária traz a ideia de que, para construir uma sociedade mais livre, a Educação precisa rejeitar todo tipo de repressão. Assim, no processo educacional, somente têm relevância os conteúdos que permitem o seu uso prático. Essa tendência enfatiza, também, a aprendizagem informal, via grupo. Um dos seus principais autores é Maurício Tragtenberg* (1929-1998), que defendia que devemos superar os limites da burocracia e criar processos mais livres de construção do conhecimento e de uma sociedade mais horizontal. *Maurício Tragtenberg: Nasceu no Rio Grande do Sul em uma família judaica e camponesa. Sua formação começou como autodidata, obtendo o doutorado pela USP posteriormente. É considerado um dos maiores sociólogos brasileiros. (Informações coletadas do site Histórico UFFS em 20/09/2019.) 36 / 45 Vejamos as principais características da Tendência Libertária: escola relação professoraluno conteúdo Busca construir indivíduos livres e autogestores. O professor está a serviço do aluno, atuando com um conselheiro. Resultam das necessidades do aluno e não são impostos. método aprendizagem avaliação Contemplam a liberdade de expressão e valorizam a vivência em grupo. Enfatiza a aprendizagem informal e coletiva. Não é punitiva e o aluno é estimulado a se autoavaliar. 37 / 45 TENDÊNCIA CRÍTICO-SOCIAL DOS CONTEÚDOS X Conteúdo Realidade social Essa relação é a base da Tendência Crítico-social dos Conteúdos, pois ela prioriza os conteúdos no seu confronto com as realidades sociais. Nesse sentido, a Educação deve assegurar que todos tenham acesso aos conhecimentos científicos para que possam desenvolver a sua consciência crítica frente à sociedade. E COMO É A ATUAÇÃO DA ESCOLA? A escola deve dar ao aluno todos os instrumentos necessários para que ele seja capaz de transformar a sua realidade a partir da reflexão de sua prática social. Para que o processo de construção da aprendizagem seja eficaz, a Tendência Críticosocial dos Conteúdos faz uso do princípio da aprendizagem significativa*, que considera o que o aluno já sabe como ponto de partida para a aquisição do conhecimento. Nesse sentido, a aprendizagem só ocorre quando o aluno é capaz de sintetizar o novo conhecimento, relacionando-o com o que ele já sabe. Esse processo permite que o aluno tenha uma visão mais ampla daquilo que está sendo aprendido. 38 / 45 *Aprendizagem significativa: Esse conceito foi desenvolvido por David Ausubel, psicólogo da educação estadunidense. De acordo com Ausubel, na aprendizagem significativa há interação entre uma nova informação com uma estrutura de conhecimento específica. O cérebro humano, no momento do aprendizado, se organiza formando uma hierarquia conceitual em que os elementos específicos são ligados a conhecimentos mais gerais. Para saber mais sobre a aprendizagem significativa, leia o texto “O QUE É AFINAL APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA?”. A seguir, veremos as principais características da Tendência Crítico-social dos Conteúdos: escola relação professoraluno conteúdo É valorizada como local de aquisição dos saberes. Professor e aluno são colaboradores e trocam conhecimentos. São os conhecimentos universais, acumulados pela sociedade, que são constantemente reavaliados frente às realidades sociais. 39 / 45 método aprendizagem avaliação Devem favorecer a relação dos conteúdos com os interesses dos alunos. Compreende a capacidade do aluno de processar as informações, ligando os conceitos específicos aos mais gerais. Não é um julgamento, mas busca evidenciar o progresso do aluno e a sua aquisição de conhecimentos mais sistematizados. Vamos conhecer mais um relato de experiência? O professor Fábio José Paz da Rosa* compartilha conosco, a seguir, uma de suas experiências em sala de aula em que desenvolve as bases da Tendência Crítico-social dos Conteúdos. *Fábio José Paz da Rosa: Doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, atualmente, é professor auxiliar do curso de Licenciatura em Pedagogia, na Universidade Estácio de Sá (UNESA). É autor do livro "Educação Profissional: Teoria e Prática“, publicado pela Editora SESES. Além disso, o professor coordena o Projeto de Pesquisa "Luz, Câmera e negritudes: o cinema negro na construção curricular nos cursos de formação de professores" (UNESA) e o Grupo de Estudos Intelectualidade Negra, Currículo e Formação docente (GINCF). (Informações coletadas do Lattes em 16/10/2019) 40 / 45 Sou professor de Sociologia e, na escola, preciso trabalhar com os alunos temas como o racismo. Para isso, uso o cinema negro, pois considero que é uma excelente forma de permitir que os alunos tenham contato com novas estéticas, produzidas e pensadas por negros. Essa estratégia também permite que os alunos negros se reconheçam nas imagens apresentadas. Com essa abordagem, a partir do conteúdo visto, convido os alunos a refletirem sobre o racismo e suas implicações na sociedade em que vivem. A experiência do professor nos mostra uma estratégia de relação dos conteúdos com a realidade social. Nessa estratégia, os alunos são estimulados a interpretar a sua realidade com base nos conteúdos aprendidos e a criar possibilidades de intervir em seu meio para transformá-lo. Essa é a ideia central da Tendência Crítico-social dos Conteúdos: desenvolver sujeitos que se tornem cada vez mais ativos na sociedade a partir da aquisição de conhecimentos e da reflexão sobre os contextos sociais. A pausa agora é para finalizarmos o nosso esquema. Vamos lá! 41 / 45 Pronto, agora o nosso esquema está finalizado! 42 / 45 VERIFICANDO O APRENDIZADO 5. No famoso livro Pedagogia do Oprimido (2017, p. 96), Paulo Freire diz que: “Ninguém educa ninguém, como também ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo”. Neste fragmento, podemos perceber a opinião do autor, que apresenta a Educação como algo intrinsicamente social, que se dá na relação entre as pessoas. Desse modo, qual é a tendência pedagógica que abarca o trabalho de Freire? a) Tendência Libertadora, que considera o professor como detentor do conhecimento que será transmitido ao aluno. b) Tendência Libertadora, cuja ênfase se dá nas relações interpessoais. c) Tendência Libertária, na qual o professor administra o ensino-aprendizagem e o aluno responde a tal planejamento. d) Tendência Crítico-social dos Conteúdos, em que o professor não deve dirigir o aluno no que tange às atividades. Feedback A resposta certa é a letra B. As ideias de Paulo Freire se voltam para a compreensão da Educação como ferramenta de mudança do mundo, pois, ao oferecer autoria ao aluno no processo de sua aprendizagem, permite que perceba as desigualdades sociais e possa confrontar esta realidade se assim o desejar. As relações interpessoais ganham destaque à medida que favorecem o reconhecimento do outro como sujeito, também participante da mesma realidade social. 43 / 45 6. Relacione as Tendências Progressistas com as práticas educativas. 1. Tendência Libertadora 2. Tendência Libertária 3. Tendência Critico-social dos Conteúdos ( ) Propõe como método a dialogicidade: trabalho em grupo de discussão e conscientização. ( ) Propõe o método participativo e fundamentado no saber universal: vínculo entre teoria e prática. ( ) Há interação diretiva: troca entre professores e alunos. O professor é mediador. ( ) O conteúdo emerge dos interesses dos alunos e não é pré-determinado. ( ) Tem um caráter político, incorporando a realidade vivencial do aluno ao ensino. a) 3 – 2 – 1 – 1 – 2 b) 2 – 3 – 2 – 1 – 1 c) 1 – 1 – 3 – 3 – 2 d) 1 – 3 – 3 – 2 – 1 Feedback A resposta certa é a letra D. A Tendência Progressista vê o aluno como sujeito do processo de ensino e aprendizagem. Nesse sentido, o objetivo da Educação é construir alunos críticos, capazes de refletir sobre sua realidade social e transformá-la. A diferenciação entre Libertadora, Libertária e Crítico-social dos Conteúdos está, a partir do pensamento dos autores que as defendem, especificamente ligada ao papel do ensino, ao método adotado e à relação professor-aluno. 44 / 45 Como vimos neste tema, no campo educacional, encontramos diferentes discussões sobre tendências pedagógicas que, em comum, têm dirigido suas atenções em busca do melhor papel da escola e da sociedade no processo de ensino e aprendizagem. REFERÊNCIAS ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. São Paulo: Moderna, 1998. ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da educação. São Paulo: Moderna, 2006. COSTA, Marisa Vorraber et al. O currículo nos limiares do contemporâneo. Rio de Janeiro : DP&A, 1999. GADOTTI, Moacir. Pensamento pedagógico brasileiro. São Paulo : Ática, 1988. LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da escola pública. São Paulo: Loyola, 1989. LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da escola pública: a pedagogia crítico-social dos conteúdos. 21 ed. São Paulo: Loyola, 2006. MATUI, Jiron. Construtivismo. São Paulo: Moderna, 1998. QUEIROZ, Cecília T. A. Pontes de; MOITA, Filomena Maria G. da S. C. Fundamentos sociofilosóficos da educação. Campina Grande; Natal: UEPB/UFRN, 2007 SANTOS, Santa Marli Pires dos (org). O lúdico na formação do educador. Petrópolis (RJ): Vozes, 1997. 45 / 45 SAVIANI, Demerval. Escola e democracia. 36 ed. Campinas (SP): Autores Associados, 2003. SAVIANI, Dermeval. Pedagogia: o espaço da educação na universidade. In: Cadernos de Pesquisa, v. 37, n. 130, jan./abr. 2007. SILVA, Delcio Barros da. As principais tendências pedagógicas na prática escolar brasileira e seus pressupostos de aprendizagem. UFSM. 2014. TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e Interação. São Paulo : Cortez, 1998. EXPLORE + Leia: Pedagogia: o espaço da educação na universidade. Assista: DERMEVAL SAVIANI | A pedagogia histórico-crítica. CONTEUDISTAS Allan de Carvalho Rodrigues Antonio Sergio de Giacomo Macedo Rodrigo dos Santos Rainha =================================================================================================== AULA 3 ABORDAGENS DIDÁTICAS NA PRÁTICA DOCENTE 1 / 45 DEFINIÇÃO DO TEMA Neste tema, discutiremos as tendências pedagógicas liberal e progressista e a maneira como elas influenciam a Educação. PROPÓSITO Este tema tem como finalidade a compreensão e a análise da Educação a partir dos referenciais teóricos que a influenciam. OBJETIVOS IDENTIFICAR AS DUAS GRANDES TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS: LIBERAL E PROGRESSISTA CARACTERIZAR AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS LIBERAIS DISTINGUIR AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS PROGRESSISTAS 2 / 45 INTRODUÇÃO O que é Tendência? De acordo com o dicionário Priberam, a palavra tendência significa: “A ação ou força pela qual um corpo tende a mover-se para alguma parte.” 3 / 45 Nesse sentido, as tendências correspondem aos princípios que orientam as ações de cada indivíduo. No campo educacional não é diferente: o professor, a escola, o aluno e o ensino estão marcados por pensamentos que exercem forte influência sobre as práticas educativas. Dessa forma, é importante compreender as características de cada tendência pedagógica, pois esse conhecimento lhe ajudará a decidir os caminhos que deseja seguir no processo de ensino-aprendizagem. VOCÊ PERCEBEU A DIFERENÇA NAS ABORDAGENS DE CADA PROFESSOR? Como vimos, os princípios que escolhemos orientam a nossa prática e a forma como organizamos a Educação. Eles podem ser sintetizados em tendências, as quais veremos a partir de agora. PEDAGOGIA LIBERAL × PEDAGOGIA PROGRESSISTA O contexto escolar é permeado por diferentes concepções de homem e de sociedade, ou seja, há diferentes formas de enxergar o papel do homem no âmbito social e essas visões influenciam a prática escolar. É nesse ponto que as tendências liberal e progressista se diferenciam: ambas possuem visões particulares sobre a relação Homem × Sociedade. Essa distinção acontece porque as tendências pedagógicas estão situadas historicamente e se desenvolveram como resposta ao contexto social no qual surgiram. Vejamos, com base em Libâneo* (1989), como essas tendências descrevem a relação Homem × Sociedade e qual foi o contexto histórico em que elas se desenvolveram. *Libâneo: José Carlos Libâneo nasceu em 1945, em Angatuba – SP. Graduou-se em Filosofia pela Pontífica Universidade Católica de São Paulo em 1966. É doutor em educação e autor do livro “Democratização da Escola Pública – A Revisão Crítico-Social dos Conteúdos”, onde defende uma escola que valorize a consciência crítica e que permita ao indivíduo das classes dominadas superar a sua condição de oprimido. (Informações coletadas do Currículo Lattes em 30/09/2019.) 4 / 45 SÉCULOS XVIII / XIX TENDÊNCIA LIBERAL Na concepção liberal*, os papéis que os indivíduos devem desempenhar são voltados para a sociedade. Nesse sentido, cabe à escola preparar o indivíduo, de acordo com as suas aptidões, para atender às demandas sociais. MARCO DO PERÍODO Industrialização / Iluminismo / Revolução científica As ideias liberais são influenciadas por Jonh Locke* e Adam Smith*. No período entre os séculos XVIII e XIX a sociedade vive uma série de transformações: crescimento urbano, processo de industrialização e aumento das relações de troca (pessoas, tecnologias e econômicas). Foi nesse período, também, que notamos o desenvolvimento de uma Revolução Científica. *Liberal: O pensamento liberal defende a liberdade política e econômica. Alguns dos princípios do liberalismo são: • Defesa da propriedade privada; • Livre mercado; • Mínima participação do Estado na economia; • Igualdade perante à lei. *John Locke: John Locke (1632-1704) nasceu na aldeia de Somerset, em Wrington, na Inglaterra. Foi um dos principais representantes do empirismo, doutrina que afirmava que o conhecimento era determinado pela experiência sensorial. (Informações coletadas do site Ebiografia em 09/10/2019) *Adam Smith: Adam Smith, (1723-1790) foi um economista e filósofo escocês. Ele é considerado um dos maiores defensores do liberalismo econômico e também é reconhecido como o pai da economia moderna. (Informações coletadas do site Ebiografia em 09/10/2019) 5 / 45 SÉCULO XX TENDÊNCIA PROGRESSISTA Na concepção progressista, o homem é pensado como um protagonista. A escola, nesse sentido, deve fornecer os instrumentos necessários para que o indivíduo possa discutir a sua atuação em sociedade. MARCO DO PERÍODO Guerra Fria / Desenvolvimento tecnológico Após a Segunda Guerra Mundial o mundo se dividiu em um conflito conhecido como Guerra Fria. As tensões provocadas pela disputa entre Estados Unidos e União Soviética geraram críticas e movimentos, que contestavam a ordem social estabelecida. A disseminação do rádio e da televisão associada à velocidade da tecnologia e dos transportes transformaram as relações sociais. Como vimos, as tendências liberal e progressista surgiram em diferentes momentos históricos. No entanto, não podemos entendê-las como se uma fosse sucessora da outra. Cada tendência trouxe contribuições significativas para a Educação, que são aplicadas no contexto escolar até os dias de hoje. Vejamos alguns exemplos: TENDÊNCIA LIBERAL Uma das técnicas de aprendizagem utilizadas por essa tendência é a memorização, bastante comum no ensino de tarefas operacionais ou de Matemática nas séries iniciais, para decorar tabuada, por exemplo. TENDÊNCIA PROGRESSISTA Uma das técnicas utilizadas nessa tendência é a discussão em grupo, muito empregada em diferentes áreas de conhecimento. Podemos citar, como exemplo, uma atividade em sala de aula em que um grupo de alunos de Publicidade se reúne para elaborar uma estratégia de marketing. 6 / 45 Perceba que a implementação dessas tendências no processo de ensinoaprendizagem está condicionado ao tipo de conhecimento que será aprendido e ao contexto no qual essa aprendizagem será construída. Nos próximos módulos, vamos conhecer as principais características das tendências liberal e progressista e entenderemos como elas se subdividem. Importante A Didática auxilia a interpretação dessas tendências pedagógicas para explorar os modos de fazer e de pensar na Educação. 7 / 45 VERIFICANDO O APRENDIZADO Para desbloquear o próximo módulo, é necessário que responda corretamente a uma das questões a seguir. 1. Das afirmações a seguir, marque a que mais se adequa à Pedagogia Liberal: a) O aluno é um sujeito ativo na construção do conhecimento e o professor atua como um facilitador para que a aprendizagem ocorra. b) A escola deve preparar os indivíduos para exercer os papéis sociais, permitindo que eles estejam prontos às exigências do mercado e da sociedade em geral. c) Os conteúdos que devem ser aprendidos são definidos exclusivamente a partir do contexto social do aluno. d) O aluno possui a autogestão da sua experiência de aprendizagem, inclusive na escolha do conteúdo que estudará. Feedback A resposta certa é a letra B. A Tendência Pedagógica Liberal dá ênfase ao ensino e ao conteúdo que o aluno deve aprender a fim de responder plenamente às expectativas da sociedade em que está inserido. Assim, o professor é responsável pelo processo de ensino-aprendizagem, enquanto o aluno deve aproveitar ao máximo o conhecimento transmitido. 8 / 45 2. A Educação, historicamente, prepara o indivíduo para assumir o seu papel na sociedade. Com as transformações no contexto social, modifica-se a percepção sobre a atuação de professores e alunos. Com base nisso, analise as afirmações a seguir e marque aquela que apresenta a proposta da Pedagogia Progressista. a) O professor deve incorporar a realidade do aluno como ponto de partida para a ação educativa, favorecendo a conscientização das realidades sociais e culturais. b) objetivo da Educação é definir os caminhos que todos os alunos devem seguir, considerando, em alguma medida, suas características individuais. c) No processo de ensino-aprendizagem, o professor é o responsável por transmitir os conhecimentos que devem ser aprendidos pelo aluno. d) Os alunos devem ser preparados para que exerçam, de maneira eficiente, o seu papel social, que é historicamente estabelecido. Feedback A resposta certa é a letra A. A Pedagogia Progressista faz uma análise crítica da realidade social e do papel da Educação, propondo que o aluno seja responsável pela sua aprendizagem e construtor de seu papel social. 9 / 45 PEDAGOGIA LIBERAL Muitos conhecem o liberalismo somente como uma tendência econômica, mas esse movimento deve ser compreendido, também, em seu caráter filosófico. Algumas demandas sociais e acontecimentos históricos marcaram o momento de ascensão do liberalismo: Diversas revoluções foram influenciadas pelo pensamento liberal, como as revoluções inglesa e francesa e a Primavera dos Povos*. O liberalismo também ganhou força especial com a nova dinâmica social experimentada no século XIX, que trouxe o modelo econômico baseado na liberdade de produção e na propriedade privada, chamado de capitalismo*. *Revoluções inglesa e francesa e a Primavera dos Povos: Essas revoluções marcam as mudanças dos sistemas políticos e a implementação de um modelo econômico influenciado por uma política liberal. Baseado nas ideias de Adam Smith, os ingleses fizeram a sua revolução em uma disputa entre a casa das duas rosas (conflito entre a casa de Lancaster e a Casa de York, que disputavam o trono inglês). Em seguida, na Revolução Francesa, a burguesia lutou para superar o antigo regime. Por fim, no restante da Europa, ocorre uma série de movimentos contra a monarquia estabelecida na época. 10 / 45 *Capitalismo: O livro História do Capitalismo, de Osvaldo Coggiola, faz uma retrospectiva sobre como o capitalismo se desenvolveu. Sugerimos a leitura dele para que você conheça um pouco mais sobre esse tema. A pintura A liberdade guiando o povo, de Eugène Delacroix, retrata bem o espírito da população nesse período e a motivação para a mudança. “A liberdade guiando o povo” / Pintura de Eugène Delacroix. A Pintura “A liberdade guiando o povo” foi feita por Eugène Delacroix, artista francês do Romantismo. Interessado também nos temas políticos, Delacroix pintou esse quadro para retratar os acontecimentos do seu país. A mulher, denominada Marianne, foi representada usando um gorro, com uma arma na mão esquerda e a bandeira da França na mão direita. Essa pintura virou símbolo da Revolução Francesa, pois o gorro era um adereço utilizado pelos escravos libertos na Grécia e em Roma. Marianne, então, representava o grito de resistência frente ao sistema da época. (Informações coletadas do site da Embaixada da França no Brasil em 27/09/2019). 11 / 45 E como esse pensamento liberal se refletiu no Brasil? Em 1889, o Brasil se tornou uma República, tendo como principal influência intelectual o positivismo*. Essa filosofia era defendida por Benjamin Constant*, um dos ícones brasileiros que tinha um sonho revolucionário para aquele período: alfabetizar 20% dos brasileiros até 1920, índice que foi considerado impossível de ser alcançado. O desafio dele nos mostra a situação em que a educação brasileira se encontrava à época. *Positivismo: O positivismo, corrente filosófica que defende o conhecimento científico como o único verdadeiro, tem como principal representante Auguste Comte (1798 – 1857), filósofo francês que defendia a criação de uma filosofia positivista. *Benjamin Constant: Benjamin Constant (1833 – 1891) foi militar e político brasileiro. Influenciado pelo pensamento positivista, criou o slogan da bandeira brasileira: Ordem e Progresso. (Informações coletadas do site Ebiografia em 10/10/2019) A influência do liberalismo na República também pode ser observada na composição da nossa bandeira, obra geométrica formada por quadriláteros e medianizes, que leva os dizeres “Ordem e Progresso” e que marca a tentativa de se organizar a educação brasileira. Perceba que, em meio às transformações, a Educação não fica imune, ela assume a função de preparar o indivíduo para esse novo mundo, criando possibilidades para que ele desenvolva o seu potencial. A escola, nesse sentido, aperfeiçoa o homem, fornecendo instrumentos para que ele cumpra o seu papel no progresso social. Nesse contexto de mudanças, a Pedagogia Liberal se ramifica em três linhas de pensamento: 12 / 45 TENDÊNCIA TRADICIONAL O que se percebe durante o século XVIII, com o avanço do liberalismo, é a multiplicação desse pensamento com a motivação para a mudança social. Novas funções passaram a existir. A sociedade precisava crescer e a preparação do indivíduo tornou-se fundamental para a construção de uma sociedade melhor. Como já entendemos, a preparação do indivíduo para exercer o seu papel social é função da Educação. Vejamos as principais características da Tendência Tradicional que mostram como ela organiza o Sistema Educacional para atender à demanda que lhe é atribuída. 13 / 45 escola relação professoraluno conteúdo Prepara o aluno intelectualmente e desenha o caminho que todos devem percorrer para chegar ao conhecimento. O professor é a autoridade em sala de aula, pois é ele quem domina o conhecimento científico. Ele deve valorizar a disciplina e estabelecer uma relação de respeito perante os alunos. São os conhecimentos enciclopédicos, aqueles acumulados pela sociedade, que possuem valor intelectual. 14 / 45 método aprendizagem avaliação São expositivos, focam na comunicação oral do conteúdo e na demonstração feitas pelo professor. Os exercícios de repetição são valorizados, pois permitem que o aluno memorize os conceitos e as fórmulas. É receptiva e mecânica, o aluno deve seguir todos os passos estabelecidos pelo professor para assimilar o conteúdo. Por isso, são usados exercícios de repetição para garantir que o aluno aprendeu a matéria. É feita por meio de provas orais e escritas, testes e exercícios para casa, com o objetivo de metrificar o conhecimento. Observe que, nessa tendência, o professor possui uma atuação primordial, pois ele é quem define qual conteúdo será estudado e elabora o planejamento do processo de ensino-aprendizagem. Por ter um papel central, cabe ao professor não só repassar os conhecimentos, mas também observar os alunos, aconselhar e corrigir possíveis erros. Como a Tendência Tradicional se reflete nos âmbitos individual e social? 15 / 45 CONSEQUÊNCIAS NO ÂMBITO INDIVIDUAL CONSEQUÊNCIAS NO ÂMBITO SOCIAL • Atividades individuais; • Foco no conhecimento científico; • Valorização de uma única cultura ensinada pela escola, podendo gerar inadaptação cultural*; • Aceitação passiva* das divisões sociais. • Conservação dos padrões sociais; • Defesa da organização social; • Preferência pela especulação teórica* e pela prática como repetição. *Inadaptação cultural: Exemplo - O filme “Escritores da Liberdade” conta a história da professora Gruwell, mulher jovem e idealista que vai dar aulas em uma escola de um bairro pobre. Em uma das cenas do filme, Gruwell entra na turma e se depara com um grupo de alunos fazendo uma caricatura de um dos colegas e debochando dos traços negroides dele. A professora, muito indignada, lembra os alunos do que era feito aos judeus durante o Holocausto. Após algumas provocações, os alunos manifestam o desejo de saber mais sobre o assunto. *Aceitação passiva: Exemplo - O filme “Ray Charles” conta a vida desse cantor e pianista que, apesar da cegueira que o acometeu aos 7 anos, desenvolveu uma habilidade incrível ao tocar piano. Em uma das cenas do filme, Ray chega à Geórgia, estado do sudeste dos EUA; e, mesmo diante dos protestos contra a segregação racial, ele diz: “Eu estou fazendo o meu trabalho. Esse é só o meu dinheiro. Isso aqui é assim mesmo. Foi como eu aprendi”. Ray Charles desperta de sua aceitação passiva quando presencia um dos promotores do evento agredindo um dos jovens negros que tentava conversar com ele. *Especulação teórica: Exemplo - O filme “O Sorriso de Mona Lisa” conta a história de Katherine Watson, uma professora jovem que vai ministrar aulas em uma escola feminina e tradicional. Nessa escola, as alunas são educadas para se tornarem esposas cultas e mães responsáveis. Em uma das cenas do filme, a professora Katherine inicia sua aula apresentando fotos das obras de arte que compõem o tema da aula. Enquanto a professora apresenta as imagens, as alunas imediatamente falam, em coro, as informações que leram sobre as obras. As alunas demonstram que leram todos os livros sugeridos, porém, são incapazes de refletir sobre o que representa todo aquele conjunto de informações. Ao longo do tempo, a Tendência Tradicional sofreu várias críticas. Dentre elas, podemos destacar a falta de relação dos conteúdos estudados com a vida dos alunos. No entanto, essa tendência trouxe significativas contribuições para a Educação, pois os seus métodos de ensino são utilizados até hoje em diferentes áreas de conhecimento. 16 / 45 Quer entender melhor? A professora Angela Maria Paiva Gama* nos mostra, a seguir, um exemplo de como podemos utilizar as técnicas da Tendência Tradicional. *Angela Maria Paiva Gama: Atualmente é professora auxiliar da Universidade Estácio de Sá e coordenadora do Curso de Pedagogia no Campus Freguesia – UNESA. Atua, desde 2010, como professora do Ensino a Distância da Universidade Estácio de Sá. A professora também participa do Centro de Filosofia Educação Para o Pensar, desde 2002. (Informações coletadas do Lattes em 16/10/2019) Acredito que diferentes metodologias permitem que os objetivos de aprendizagem sejam alcançados. A aula expositiva, por exemplo, deve fazer parte da apresentação de conteúdos sequenciais. Podemos, então, no ensino de múltiplos e divisores nas operações com frações, primeiro apresentar os conteúdos em uma aula expositiva e, posteriormente, trazer exercícios práticos para que o aluno possa memorizar o conteúdo. Perceba que, nesse contexto, a exposição do conteúdo pelo professor é essencial para que o aluno entenda as regras das operações com frações para, em seguida, colocar em prática, fazendo uso de exercícios. A exposição e a repetição, por meio de exercícios práticos, nesse caso, permitem que ocorra a naturalização do conteúdo e, consequentemente, ocorra a aprendizagem. SAIBA MAIS! Leia a entrevista de Inger Enkvist, professora catedrática emérita de espanhol da Universidade de Lund, defensora da tendência tradicional, na qual afirma que “a nova pedagogia é um erro”. 17 / 45 Que tal fazer uma pausa para retomar o que aprendemos até aqui? Então, vamos lá! Observando esse esquema, dá para perceber que ainda tem muita coisa para aprendermos. Então vamos voltar ao nosso estudo sobre as Tendências! 18 / 45 TENDÊNCIA RENOVADORA O período entre os anos de 1910 e 1940 foram marcantes para a história da humanidade. As grandes potências econômicas europeias (Alemanha, Itália, Inglaterra e França) lutavam para dominar o mundo, seja pelo monopólio de mercados, de matéria-prima, de território ou pelo poder militar. Nesse mesmo período, os Estados Unidos se consolidam como uma potência econômica, acentuando essa luta por supremacia. Foi esse cenário de tensão que motivou as duas Grandes Guerras Mundiais, que transformaram a humanidade nos campos da política, economia e social. Nesse contexto, a Educação também começa a mudar e a Tendência Renovadora traz a reflexão de que a Educação deveria ser ampliada para todos os indivíduos, com o objetivo de construir uma sociedade mais justa e equilibrada. A ideia era dar melhores condições de formação educacional aos homens para que eles pudessem atuar de forma mais efetiva na sociedade. Como essa tendência chegou ao Brasil? No Brasil, a Tendência Renovadora começou a surgir entre as décadas de 1920 e 1930, quando o pensamento liberal chega com mais força e encontra as discussões em torno da ideia da Escola Nova. Há uma disputa pelo reconhecimento dos diferentes saberes, mas ainda fazendo distinção entre o que é conhecimento geral e experiência cotidiana. Vejamos as principais características da Tendência Renovadora: 19 / 45 escola relação professoraluno conteúdo Procura adequar os alunos, considerando suas individualidades, às necessidades da sociedade. Essa adaptação integra, na medida do possível, as exigências do meio social aos interesses e às experiências dos alunos. O professor deve estabelecer uma relação harmônica com os alunos, pois isso contribuirá para que lidere as experiências de aprendizagem. São definidos a partir das experiências que os alunos vivenciam na construção da aprendizagem. Valoriza-se mais o processo de apreensão do conhecimento do que o saber acumulado. 20 / 45 método aprendizagem avaliação Estimulam o aprender-fazendo, com atividades de pesquisa e experimentação. As atividades também são elaboradas considerando a etapa de desenvolvimento do aluno. É uma atividade de descoberta. O aluno é estimulado a experimentar o conhecimento. É contínua e busca identificar os êxitos dos alunos durante o processo ensino-aprendizagem. Observe o que Silva (2014) fala sobre a Tendência Renovadora: “ Como pressupostos de aprendizagem, aprender se torna uma atividade de descoberta, é uma autoaprendizagem, sendo o ambiente apenas um meio estimulador. Só é retido aquilo que se incorpora à atividade do aluno, através da descoberta pessoal; o que é incorporado passa a compor a estrutura cognitiva para ser empregado em novas situações. É a tomada de consciência, segundo Piaget*. SILVA*, 2014 21 / 45 *Jean Piaget: Jean Piaget (1896-1980) foi um renomado psicólogo e filósofo suíço, conhecido por seu trabalho pioneiro no campo da inteligência infantil. Piaget passou grande parte de sua carreira profissional interagindo com crianças e estudando seu processo de raciocínio. Seus estudos tiveram um grande impacto sobre os campos da Psicologia e Pedagogia. (Informações coletadas do Portal Educação em 21/10/2019.) *Délcio Barros da Silva: Délcio Barros da Silva é ex-professor do departamento de Letras da Universidade Federal de Santa Maria e atuou no curso de Pedagogia da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul. Perceba que essa tendência começa a valorizar os interesses do aluno, permitindo que ele manifeste a sua curiosidade e criatividade, cabendo ao professor estimular e facilitar o processo de construção do conhecimento. No entanto, assim como a Tendência Tradicional, a Renovadora sofreu algumas críticas, principalmente na condução da experiência de aprendizagem, pois, por ser uma tendência que valoriza a ação do aluno, os educadores poderiam pensar que não haveria a necessidade de se planejar as situações-problema que o aluno deveria vivenciar, gerando um não-direcionamento das atividades. Agora, que tal vermos um relato de experiência? Veja o que o professor Rodrigo Rainha viveu durante uma de suas aulas de história e como ele usou as ideias da Tendência Renovadora para facilitar a aprendizagem dos alunos. Enquanto falava sobre a Segunda Guerra Mundial em uma de minhas aulas, percebi que os alunos começaram a dormir, e um deles me falou: "— Professor, não consigo entender por que devo estudar a Segunda Guerra, isso não vai me servir pra nada". Então, notei que eu não estava relacionando o assunto da aula à vida dos alunos. Diante disso, pedi a eles que refletissem sobre como as guerras afetam a vida das pessoas. Em seguida, um aluno descendente de imigrantes relatou como sua família fugiu da guerra. Com isso, os alunos compreenderam como as guerras podem movimentar e mudar a vida de uma sociedade. 22 / 45 Como você pode perceber, nas situações de aprendizagem, é essencial que o aluno consiga perceber a relação do conhecimento a ser aprendido com a sua vida prática. Esse é um desafio, não é mesmo? No entanto, assim como o professor Rainha fez, o primeiro passo para realizar essa contextualização é ouvir o que os alunos têm a dizer. Importante Se olharmos para a história, seremos levados a entender que a educação liberal começou com a Tendência Tradicional e depois evoluiu para a Pedagogia Renovadora. Porém, esse não foi um processo de substituição de uma pela outra, pois ambas possuem a mesma concepção: formam o sujeito para a sociedade. TENDÊNCIA TECNICISTA O tecnicismo é fruto da melhoria dos processos industriais e de uma sociedade urbana. Nesse sentido, a sistematização passa a ser central para melhorar os produtos e aumentar a produtividade. Essas concepções, ao chegarem à Educação, trouxeram inegáveis avanços, como a implementação do planejamento para organizar o trabalho docente. Foram concebidas, pela primeira vez, visões de que a Educação deveria ser observada como um sistema dinâmico, uma fábrica, e, para que fosse eficiente, todos os processos envolvidos precisavam ser controlados. Para entender essa ideia de controle na Educação, observe o peso que a gestão escolar exerce na gestão do ensino: 23 / 45 Vamos conhecer as principais características da Tendência Tecnicista: 24 / 45 escola relação professoraluno conteúdo Organiza o ensino, articulando-o ao sistema produtivo. Dessa forma, a escola pode formar os alunos, tornando-os competentes para o mercado de trabalho. O professor é um técnico responsável por executar o programa educacional e ao aluno cabe reproduzir aquilo que foi instruído a fazer. São baseados em leis científicas e organizados de maneira lógica e sequencial. Tudo o que é ensinado precisa ser mensurado. 25 / 45 método aprendizagem avaliação Utilizam técnicas de repetição, cópia, treino e correção para que o aluno possa executar as experiências de aprendizagem de maneira eficiente. O aprendizado se dá quando o aluno é capaz de executar eficientemente aquilo que foi direcionado a fazer. Nesse sentido, a aprendizagem ocorre quando o aluno apresenta comportamentos diferentes daqueles que manifestava quando iniciou o processo de ensino-aprendizagem. Usa recursos para medir a aprendizagem dos alunos, como provas e testes. 26 / 45 Para a tendência tecnicista, o aluno é o recebedor e é parte da esteira de execução do processo de ensino-aprendizagem. É claro que essa ênfase na execução do processo de aprendizagem pode gerar um conhecimento fragmentado, pois o aluno foca excessivamente na técnica e deixa de compreender os motivos pelos quais ele executa aquela ação. Vamos fazer mais uma pausa para complementar o nosso esquema? 27 / 45 Estamos quase fechando o nosso esquema. Já viu o que falta? Mas antes de conhecermos a Pedagogia Progressista, vamos ver se entendemos mesmo o que dizem as tendências da Pedagogia Liberal! 28 / 45 VERIFICANDO O APRENDIZADO Para desbloquear o próximo módulo, é necessário que responda corretamente a uma das questões a seguir. 3. Observe atentamente a ilustração a seguir, identificando a ação da professora sobre o pensamento de seus alunos. Marque a alternativa que indica a qual tendência essa ação está alinhada, que descreve corretamente suas características. a) Tendência Tradicional: a escola tem como papel formar o sujeito intelectualmente; o aluno recebe os conhecimentos emitidos pelo professor. b) Tendência Renovadora: a escola propicia experiências para o aluno; o professor é um facilitador da experiência de aprendizagem. c) Tendência Tradicional Renovadora: o aluno é o sujeito do processo ensino e aprendizagem; o professor é o detentor dos conhecimentos que devem ser transmitidos para o aluno. d) Tendência Tecnicista: o aluno deve ser formado para atender à demanda do mercado de trabalho; o professor é um técnico que monitora a execução do aluno. Feedback A resposta certa é a letra A. Na tendência tradicional, a função da escola é formar o sujeito intelectualmente. O professor é a autoridade máxima em sala de aula e responsável por definir o conteúdo que será apreendido pelos alunos. Como ilustrado, a professora molda os pensamentos dos alunos ao seu padrão, acreditando (por conta de sua formação e experiência docente) que os está formando para melhor exercer seu papel social. 29 / 45 4. O curta animado da Alike faz uma crítica à Tendência Pedagógica Tecnicista. Com base no que você aprendeu sobre a Tendência Liberal Tecnicista, marque a alternativa que apresenta as características dessa tendência: a) O aluno deve receber os conhecimentos determinados pelo professor; a metodologia é baseada em aulas expositivas e exercícios de repetição; o professor é quem detém o conhecimento. b) O aluno é formado para o mercado de trabalho desde a alfabetização; a metodologia é baseada na repetição e na memorização; o professor é pensado como um técnico instrutor e executor. c) O aluno experimenta o conhecimento; na metodologia, o aluno é incentivado a desenvolver o pensamento criativo; o professor baseia suas aulas na demanda dos alunos. d) O aluno é visto como o sujeito do processo de ensino-aprendizagem; a metodologia abrange discussões em grupo e pesquisas; o professor é um mediador. Feedback A resposta certa é a letra B. O curta, ao mesmo tempo em que mostra o professor determinando o padrão de escrita que o menino deve seguir, exibe o pai em seu ambiente de trabalho digitando documentos, de acordo com o padrão determinado pela empresa. Essa cena se alinha à característica da tendência tecnicista, que forma o aluno para o mercado de trabalho, para atender aos padrões exigidos pela sociedade. 30 / 45 PEDAGOGIA PROGRESSISTA Estamos diante de um novo contexto mundial: A Guerra Fria está no auge de suas críticas e efeitos. Na França, estudantes se levantam por uma nova educação. Nos Estados Unidos, os movimentos civis exigem mudanças e lutam por direitos. No Brasil, após a empolgação com o governo de Juscelino, passamos para um quadro de crise que leva à ascensão da ditadura civil-militar. Nesse cenário, grupos que não eram ouvidos até então começaram a se manifestar e lutar por seus direitos, como o direito à Educação. Assim, mulheres, negros e emergentes passaram a anunciar que se sentiam inadequados diante das práticas que eles reconheceram como Velha Pedagogia. A escola, mais uma vez, precisou repensar o fazer docente e reavaliar suas práticas para criar uma nova dinâmica educacional. A Pedagogia Progressista, então, passou a fazer uma análise crítica sobre a Educação, buscando identificar os fatores que interferem diretamente no campo educacional e explicam o sucesso e o fracasso do aluno. Vista por muitos estudiosos como uma concepção resultante da tendência renovadora, a Pedagogia Progressista defende uma Educação mais integradora, que contemple 31 / 45 a realidade social do aluno no processo de ensino-aprendizagem. O seu principal representante é Carl Rogers* (1902-1987), que desenvolveu técnicas aplicadas à Educação que estimulavam o desenvolvimento da autonomia do indivíduo. *Carl Rogers: Psicólogo e psicanalista, aplicou na Educação técnicas e procedimentos próprios da terapia, como a empatia e a confiança, segundo os quais “o indivíduo é capaz de resolver por si só seus problemas bastando que tenha autocompreensão ou percepção do eu”. Para saber sobre Carl Rogers, leia o texto “Carl Rogers, um psicólogo a serviço do estudante”. Como é estabelecida a relação entre o professor e o aluno? Mantendo sempre o objetivo de valorizar a experiência do aluno e desenvolver a sua autonomia, a Pedagogia Progressista se ramifica em outras três linhas de pensamento: 32 / 45 TENDÊNCIA LIBERTADORA Essa é uma das linhas mais famosas no Brasil por sua busca de romper com o autoritarismo. De acordo com essa tendência, o homem deve ser libertado de tudo aquilo que lhe impossibilita de exercer todo o seu potencial. Assim, as mulheres não precisam aceitar o machismo; os trabalhadores do campo não devem se submeter à vontade dos grandes proprietários; e os negros não devem aceitar o racismo como algo natural. Para que isso ocorra, é necessário que o homem tome consciência do seu estado atual e das suas possibilidades de mudar a sua realidade. É nesse processo de conscientização que a Educação começa a exercer o seu papel, trazendo para o contexto escolar temas sociais e políticos e incluindo no processo ensino-aprendizagem a realidade concreta dos alunos. Assim, autores como Paulo Freire* (principal representante dessa tendência) e Dermeval Saviani* se empenham em questionar o sistema tradicional de ensino e a função da escola como propagadora das desigualdades sociais. *FREIRE: Paulo Reglus Neves Freire (1921-1997) nasceu em Recife – Pernambuco. Foi educador, escritor e filósofo. Graduou-se em Direito pela Universidade de Recife, mas abandonou a advocacia e dedicou-se ao ensino de língua portuguesa no Colégio Oswaldo Cruz e de Filosofia da Educação na Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Pernambuco. Freire desenvolveu um método de alfabetização de jovens e adultos no qual o vocabulário a ser ensinado se baseava no contexto imediato dos alunos. Esse método foi aplicado pela primeira vez em 1962 em Angicos, sertão do Rio Grande do Norte. (Informações coletadas do site eBiografia em 20/09/2019) *Dermeval Saviani: Nasceu em Santo Antonio de Posse, comarca de Mogi Mirim, no interior do Estado de São Paulo. Formou-se em Filosofia e, atualmente, é professor da PUC-SP onde desenvolve diversos projetos e pesquisas na área da Educação. (Informações coletadas do site Letrasunifacead em 22/10/2019) A principal questão da Educação Libertadora é: COMO CONSTRUIR UM PROJETO DE TRANSFORMAÇÃO SOCIAL A PARTIR DE UMA NOVA PEDAGOGIA? 33 / 45 Um dos caminhos utilizados pela Tendência Libertadora para se alcançar esse objetivo é a problematização da realidade social, na qual o aluno, por meio de discussões, começa a analisar o seu contexto e a identificar necessidades de melhoria da sua realidade. Vejamos as principais características da Tendência Libertadora: escola relação professoraluno conteúdo Tem o papel de estimular a conscientização da realidade social para transformá-la. É construída com base no diálogo, no qual professor e aluno são livres para expressarem as suas contribuições ao processo de ensinoaprendizagem. São estabelecidos a partir de temas geradores, que partem da vida prática dos alunos. 34 / 45 método aprendizagem avaliação Possuem como base o diálogo, com o objetivo de garantir a participação do aluno. Para isso, são organizados grupos de discussão. É uma atividade de problematização de uma situação, com o objetivo de tornar o aluno mais crítico. É feita uma avaliação mútua, entre professor e aluno, além de se permitir a autoavaliação. TENDÊNCIA LIBERTÁRIA Após a Segunda Guerra e a Queda do Muro de Berlim, o discurso que se ouvia era de que o mundo estava à beira de um colapso. No entanto, nos anos 1980, finalmente parecia que o fantasma da morte por bombas nucleares tinha chegado ao fim, dando lugar a um ambiente de liberdade representado pelos movimentos hippies* e pelo movimento punkrock*. *Movimentos Hippies: Os movimentos de contracultura surgem em meados dos anos 1970 nos Estados Unidos e disseminam pelo mundo a ideia de um rompimento com a sociedade estabelecida. Esse movimento criticava o sistema social construído e trazia a ideia de que a estrutura da sociedade aprisionava os indivíduos. Para romper com essa dinâmica, o movimento buscava a libertação da alma, com o retorno do homem à 35 / 45 natureza. Nessa perspectiva, a musicalidade foi fundamental para o estabelecimento de novas experimentações de sons, como os de guitarras. No Brasil, o ícone desse movimento é Raul Seixas, conhecido como maluco beleza. *Movimento punk-rock: O Rock and roll surge em meados dos anos 1940 como uma derivação mais agressiva do blues. O Rock and roll personifica a ideia de um novo jovem, que luta por liberdade e está presente nos principais movimentos críticos à sociedade dos anos seguintes. No fim da década 1970, na Inglaterra e nos Estados Unidos, surge uma variação desse movimento que se intitula punk rock, que trazia a ideia de uma terrível revolta contra o sistema e o que ele representava. O punk era a música dos guetos operários, dos jovens sem perspectiva, que faziam, com seus vocais distorcidos e sua melodia agressiva, uma intensa crítica social. No Brasil, essa tendência se manifesta nos anos de 1980 nos movimentos pós-regime civil-militar, com o retorno dos exilados e a conquista gradual da liberdade de expressão. Os meios de comunicação em massa e os ambientes acadêmicos, políticos e culturais contribuíram de forma significativa para a expansão desse discurso de liberdade. Nesse clima, a Tendência Libertária traz a ideia de que, para construir uma sociedade mais livre, a Educação precisa rejeitar todo tipo de repressão. Assim, no processo educacional, somente têm relevância os conteúdos que permitem o seu uso prático. Essa tendência enfatiza, também, a aprendizagem informal, via grupo. Um dos seus principais autores é Maurício Tragtenberg* (1929-1998), que defendia que devemos superar os limites da burocracia e criar processos mais livres de construção do conhecimento e de uma sociedade mais horizontal. *Maurício Tragtenberg: Nasceu no Rio Grande do Sul em uma família judaica e camponesa. Sua formação começou como autodidata, obtendo o doutorado pela USP posteriormente. É considerado um dos maiores sociólogos brasileiros. (Informações coletadas do site Histórico UFFS em 20/09/2019.) 36 / 45 Vejamos as principais características da Tendência Libertária: escola relação professoraluno conteúdo Busca construir indivíduos livres e autogestores. O professor está a serviço do aluno, atuando com um conselheiro. Resultam das necessidades do aluno e não são impostos. método aprendizagem avaliação Contemplam a liberdade de expressão e valorizam a vivência em grupo. Enfatiza a aprendizagem informal e coletiva. Não é punitiva e o aluno é estimulado a se autoavaliar. 37 / 45 TENDÊNCIA CRÍTICO-SOCIAL DOS CONTEÚDOS X Conteúdo Realidade social Essa relação é a base da Tendência Crítico-social dos Conteúdos, pois ela prioriza os conteúdos no seu confronto com as realidades sociais. Nesse sentido, a Educação deve assegurar que todos tenham acesso aos conhecimentos científicos para que possam desenvolver a sua consciência crítica frente à sociedade. E COMO É A ATUAÇÃO DA ESCOLA? A escola deve dar ao aluno todos os instrumentos necessários para que ele seja capaz de transformar a sua realidade a partir da reflexão de sua prática social. Para que o processo de construção da aprendizagem seja eficaz, a Tendência Críticosocial dos Conteúdos faz uso do princípio da aprendizagem significativa*, que considera o que o aluno já sabe como ponto de partida para a aquisição do conhecimento. Nesse sentido, a aprendizagem só ocorre quando o aluno é capaz de sintetizar o novo conhecimento, relacionando-o com o que ele já sabe. Esse processo permite que o aluno tenha uma visão mais ampla daquilo que está sendo aprendido. 38 / 45 *Aprendizagem significativa: Esse conceito foi desenvolvido por David Ausubel, psicólogo da educação estadunidense. De acordo com Ausubel, na aprendizagem significativa há interação entre uma nova informação com uma estrutura de conhecimento específica. O cérebro humano, no momento do aprendizado, se organiza formando uma hierarquia conceitual em que os elementos específicos são ligados a conhecimentos mais gerais. Para saber mais sobre a aprendizagem significativa, leia o texto “O QUE É AFINAL APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA?”. A seguir, veremos as principais características da Tendência Crítico-social dos Conteúdos: escola relação professoraluno conteúdo É valorizada como local de aquisição dos saberes. Professor e aluno são colaboradores e trocam conhecimentos. São os conhecimentos universais, acumulados pela sociedade, que são constantemente reavaliados frente às realidades sociais. 39 / 45 método aprendizagem avaliação Devem favorecer a relação dos conteúdos com os interesses dos alunos. Compreende a capacidade do aluno de processar as informações, ligando os conceitos específicos aos mais gerais. Não é um julgamento, mas busca evidenciar o progresso do aluno e a sua aquisição de conhecimentos mais sistematizados. Vamos conhecer mais um relato de experiência? O professor Fábio José Paz da Rosa* compartilha conosco, a seguir, uma de suas experiências em sala de aula em que desenvolve as bases da Tendência Crítico-social dos Conteúdos. *Fábio José Paz da Rosa: Doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, atualmente, é professor auxiliar do curso de Licenciatura em Pedagogia, na Universidade Estácio de Sá (UNESA). É autor do livro "Educação Profissional: Teoria e Prática“, publicado pela Editora SESES. Além disso, o professor coordena o Projeto de Pesquisa "Luz, Câmera e negritudes: o cinema negro na construção curricular nos cursos de formação de professores" (UNESA) e o Grupo de Estudos Intelectualidade Negra, Currículo e Formação docente (GINCF). (Informações coletadas do Lattes em 16/10/2019) 40 / 45 Sou professor de Sociologia e, na escola, preciso trabalhar com os alunos temas como o racismo. Para isso, uso o cinema negro, pois considero que é uma excelente forma de permitir que os alunos tenham contato com novas estéticas, produzidas e pensadas por negros. Essa estratégia também permite que os alunos negros se reconheçam nas imagens apresentadas. Com essa abordagem, a partir do conteúdo visto, convido os alunos a refletirem sobre o racismo e suas implicações na sociedade em que vivem. A experiência do professor nos mostra uma estratégia de relação dos conteúdos com a realidade social. Nessa estratégia, os alunos são estimulados a interpretar a sua realidade com base nos conteúdos aprendidos e a criar possibilidades de intervir em seu meio para transformá-lo. Essa é a ideia central da Tendência Crítico-social dos Conteúdos: desenvolver sujeitos que se tornem cada vez mais ativos na sociedade a partir da aquisição de conhecimentos e da reflexão sobre os contextos sociais. A pausa agora é para finalizarmos o nosso esquema. Vamos lá! 41 / 45 Pronto, agora o nosso esquema está finalizado! 42 / 45 VERIFICANDO O APRENDIZADO 5. No famoso livro Pedagogia do Oprimido (2017, p. 96), Paulo Freire diz que: “Ninguém educa ninguém, como também ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo”. Neste fragmento, podemos perceber a opinião do autor, que apresenta a Educação como algo intrinsicamente social, que se dá na relação entre as pessoas. Desse modo, qual é a tendência pedagógica que abarca o trabalho de Freire? a) Tendência Libertadora, que considera o professor como detentor do conhecimento que será transmitido ao aluno. b) Tendência Libertadora, cuja ênfase se dá nas relações interpessoais. c) Tendência Libertária, na qual o professor administra o ensino-aprendizagem e o aluno responde a tal planejamento. d) Tendência Crítico-social dos Conteúdos, em que o professor não deve dirigir o aluno no que tange às atividades. Feedback A resposta certa é a letra B. As ideias de Paulo Freire se voltam para a compreensão da Educação como ferramenta de mudança do mundo, pois, ao oferecer autoria ao aluno no processo de sua aprendizagem, permite que perceba as desigualdades sociais e possa confrontar esta realidade se assim o desejar. As relações interpessoais ganham destaque à medida que favorecem o reconhecimento do outro como sujeito, também participante da mesma realidade social. 43 / 45 6. Relacione as Tendências Progressistas com as práticas educativas. 1. Tendência Libertadora 2. Tendência Libertária 3. Tendência Critico-social dos Conteúdos ( ) Propõe como método a dialogicidade: trabalho em grupo de discussão e conscientização. ( ) Propõe o método participativo e fundamentado no saber universal: vínculo entre teoria e prática. ( ) Há interação diretiva: troca entre professores e alunos. O professor é mediador. ( ) O conteúdo emerge dos interesses dos alunos e não é pré-determinado. ( ) Tem um caráter político, incorporando a realidade vivencial do aluno ao ensino. a) 3 – 2 – 1 – 1 – 2 b) 2 – 3 – 2 – 1 – 1 c) 1 – 1 – 3 – 3 – 2 d) 1 – 3 – 3 – 2 – 1 Feedback A resposta certa é a letra D. A Tendência Progressista vê o aluno como sujeito do processo de ensino e aprendizagem. Nesse sentido, o objetivo da Educação é construir alunos críticos, capazes de refletir sobre sua realidade social e transformá-la. A diferenciação entre Libertadora, Libertária e Crítico-social dos Conteúdos está, a partir do pensamento dos autores que as defendem, especificamente ligada ao papel do ensino, ao método adotado e à relação professor-aluno. 44 / 45 Como vimos neste tema, no campo educacional, encontramos diferentes discussões sobre tendências pedagógicas que, em comum, têm dirigido suas atenções em busca do melhor papel da escola e da sociedade no processo de ensino e aprendizagem. REFERÊNCIAS ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. São Paulo: Moderna, 1998. ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da educação. São Paulo: Moderna, 2006. COSTA, Marisa Vorraber et al. O currículo nos limiares do contemporâneo. Rio de Janeiro : DP&A, 1999. GADOTTI, Moacir. Pensamento pedagógico brasileiro. São Paulo : Ática, 1988. LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da escola pública. São Paulo: Loyola, 1989. LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da escola pública: a pedagogia crítico-social dos conteúdos. 21 ed. São Paulo: Loyola, 2006. MATUI, Jiron. Construtivismo. São Paulo: Moderna, 1998. QUEIROZ, Cecília T. A. Pontes de; MOITA, Filomena Maria G. da S. C. Fundamentos sociofilosóficos da educação. Campina Grande; Natal: UEPB/UFRN, 2007 SANTOS, Santa Marli Pires dos (org). O lúdico na formação do educador. Petrópolis (RJ): Vozes, 1997. 45 / 45 SAVIANI, Demerval. Escola e democracia. 36 ed. Campinas (SP): Autores Associados, 2003. SAVIANI, Dermeval. Pedagogia: o espaço da educação na universidade. In: Cadernos de Pesquisa, v. 37, n. 130, jan./abr. 2007. SILVA, Delcio Barros da. As principais tendências pedagógicas na prática escolar brasileira e seus pressupostos de aprendizagem. UFSM. 2014. TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e Interação. São Paulo : Cortez, 1998. EXPLORE + Leia: Pedagogia: o espaço da educação na universidade. Assista: DERMEVAL SAVIANI | A pedagogia histórico-crítica. CONTEUDISTAS Allan de Carvalho Rodrigues Antonio Sergio de Giacomo Macedo Rodrigo dos Santos Rainha ==================================================================================== AULA 4 AÇÃO PEDAGÓGICA E TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA DEFINIÇÃO Este tema está fundamentado na relação entre o conhecimento científico e o conhecimento escolar a partir da compreensão do conceito de transposição didática e da ação pedagógica como atuação consciente do professor em sua prática cotidiana. PROPÓSITO Os conceitos de transposição didática e de ação pedagógica são fundamentais para compreender como conseguimos trabalhar com conhecimentos historicamente constituídos no contexto acadêmico. A compreensão desses conceitos torna-se, portanto, fundamental para refletir acerca da atuação do docente em sua prática cotidiana. OBJETIVOS MÓDULO 1 Identificar o conceito de ação pedagógica MÓDULO 2 Definir o conceito de transposição didática INTRODUÇÃO Quando falamos em aprendizagem, logo pensamos na sala de aula. A figura do aprender ficou marcada por muito tempo em um modelo tradicional de ensino, no qual o professor era o centro e o detentor do conhecimento, tendo como objetivo do processo apenas o ato de instruir. Posteriormente, por meio de estudos e reflexões sobre este tema, a ação, as práticas do professor e a concepção de ensino e de educar tiveram novas perspectivas e abordagens. Teorias mais antigas pensavam no aluno como um papel em branco, prestes a ser preenchido; por isso, sua voz e seus saberes eram invisibilizados, ou seja, descartados pelos desejos e saberes daqueles que tinham o saber científico. O processo de ensino-aprendizagem focava na memorização e uniformidade de currículos e métodos. Assim, os professores se detinham em trabalhar todos os saberes que vinham dos livros e da academia utilizando as mesmas práticas para todas as turmas e todos os alunos. Foto 1: Sala de aula tradicional (Fonte: USP). Foto 2: Cartilha (Fonte: Plataforma do letramento). Com o passar do tempo, as concepções de ensino e do ensinar passaram por mudanças, e a ação pedagógica começou a ser repensada, tendo o aluno como centro do processo de ensino-aprendizagem. AÇÃO PEDAGÓGICA Para falarmos de ação pedagógica, precisamos antes entender alguns pontos: 1. O conceito de Ação Pedagógica entrou em vigor ao longo do século XX. Antes disso, o entendimento da didática era filosófica. Assim, perdia seu sentido diante da necessidade de estruturas mais concretas. Como exemplo, a taxa de analfabetismo do Brasil, que apresentava como média nacional a ordem de 74,6%. 2. A ação pedagógica não é sinônimo de ação docente, mas a efetiva articulação entre as ações do professor e do aluno. Então, a didática atua na reflexão da prática que se dá entre professores e alunos. 3. A educação não acontece apenas pelo docente. Todos os envolvidos no processo de planejamento - sejam eles professores, coordenadores pedagógicos e gestores - devem ter como guia dessa ação os alunos e seus conhecimentos e saberes. A partir desses pontos, passamos a entender que a educação não acontece somente na escola. Embora essa afirmação possa ser considerada óbvia, é necessário que percebamos o quanto ela está relacionada à educação escolar e, consequentemente, com a prática docente. Se por um lado a educação é um processo que não se restringe apenas à escola, mas à sociedade, por outro a escola é um espaço privilegiado de ensinoaprendizagem legitimamente estabelecido. Quando a escola se constitui enquanto espaço social de ensino, aquilo que será ensinado passa a ter mais legitimidade que outros tipos de saber que não passam por esse mesmo lugar. E, se precisamos selecionar, também indicamos que tipo de saberes receberá ou não tal legitimidade. Estamos entrando no espaço da intencionalidade e da relação de poder, portanto, começamos a falar de Ação Pedagógica. SABER X PODER O espaço escolar é um local historicamente marcado pela relação entre saber e poder. Como vimos no vídeo, a Esfinge devorou todos aqueles que não conseguiam decifrar seu enigma. Considerando sua própria atitude, após ter o enigma decifrado por Édipo, chegamos à conclusão de que toda a sua identidade, a condição de sua existência, estava centrada no fato de apenas ela possuir o saber, o que lhe garantia determinado poder. Essa relação também está presente no cotidiano escolar. Michel Foucault levanta em seu livro, Microfísica do poder, Michel Foucault levanta uma discussão sobre saber e poder. Ele explica que precisamos notar que o poder não se encontra nos polos ou nas pontas de onde ele é exercido e para onde ele exerce, ou seja, que a única forma de percebermos relações de poder é pelas relações. Ou seja, as nossas relações sociais são marcadas por disputas, e essa teia de relações de poder toca e modifica constantemente o cotidiano. Como a Ação Didática no ato educacional nos remete à intencionalidade, essa relação é afetada pela teia de poderes, mas também se integra em um conjunto de regras sociais que o professor se vale para manter do seu lado elementos do poder. A noção de que ele estabelece uma vigília constante sobre os alunos, e que seu poder de punição de formas diversas está presente, faz parte do cotidiano estrutural do ensino. Por outro lado, ocorre o enfrentamento constante dos alunos questionando a autoridade desses professores e a importância dos saberes presentes no currículo formal escolar. A desmotivação, o mau desempenho e o confronto atuam como indicadores dessas práticas de questionamento sobre a detenção do poder. O professor se encontra em uma conjuntura complexa e necessita traçar estratégias, construir práticas que permitam que o processo de ensinoaprendizagem seja efetivo, apesar das disputas. As pressões das relações escolares podem tornar a dinâmica da escola um espaço de tensão e enfrentamento. Por isso, o professor deve ultrapassar o modelo tradicional de ensino e propor um processo de ensino-aprendizagem repleto de intencionalidade.Com base nisso, discurse como as relações de saber e poder ocorrem entre professores e alunos e como superá-las. Diante dos enfrentamentos escolares, o aluno tende a tomar uma posição de resistência. Ele questiona o significado do aprendizado, o valor do conhecimento curricular e o motivo dos seus saberes de vida serem depreciados em relação aos saberes escolares. Por isso, as ações que ocorrem na escola devem estar alinhadas às dinâmicas sociais e de pensamento. O sujeito que atua na educação precisa se preparar, desenhar estratégias, perceber objetivos, entender as forças que influem em seu trabalho. Considerando todos esses aspectos, a ação pedagógica pode ser pensada em três passos fundamentais: PERCEBER O PROFESSOR COMO UM AGENTE EDUCADOR, DEFINIR O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM e IDENTIFICAR AS NECESSIDADES DO EDUCANDO. PERCEBER O PROFESSOR COMO UM AGENTE EDUCADOR É fundamental que aquele que ensina se reconheça como agente educador, devendo entender que há a necessidade de uma série de procedimentos, escolhas, preparo e posturas. Esse elemento fundamental da ação docente é, muitas vezes, mal compreendido, pois o docente é apresentado como detentor absoluto do conhecimento e, portanto, não permitiria interferência ou contribuição no ato de ensinar. Vamos entender na prática: Em meu primeiro emprego como professora, meus alunos, além de não prestarem atenção na aula, debochavam e até pareciam ter raiva de mim. Tentando mudar aquele cenário, levei um encarte de jornal de um mercado do bairro e propus que eles simulassem uma ida às compras. Ao destacar a importância de se fazer contas corretamente para não faltar dinheiro, demonstrei a importância da matemática. Percebi que, para alcançar os meus objetivos com a turma, seria necessário assumir meu papel de agente educador, planejando a aula antecipadamente, analisando os interesses dos meus alunos e aproximando minha realidade da deles. DEFINIR O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM Para que a proposta educacional faça sentido e tenha utilidade, devemos adequar as escolhas metodológicas à contextualização da realidade do aluno. Para isso, precisamos introduzir o aluno no processo educativo e permitir que ele traga elementos conhecidos e corriqueiros para a sala de aula, alcançando, a partir desses elementos, novos saberes e sentidos para conhecimentos anteriormente adquiridos. Vamos entender na prática: Oriundo de uma ótima faculdade e com muitas especializações, entrei na escola desejando revolucionar o ensino; assim, preparei uma aula que me agradaria se eu fosse aluno. Para minha surpresa, as crianças mostravam desinteresse e questionavam a necessidade de aprender aquilo. Ao observar o trabalho de uma colega extremamente tradicional, vi uma turma participativa e interessada. Foi uma grande decepção, pois eu estava preparado, conhecendo as teorias mais modernas. Quando lhe pedi o seu segredo, ela me questionou se eu conhecia os interesses e a realidade dos alunos. Entendi que eu deveria levar em consideração o cotidiano deles, mostrando que me importava com as suas opiniões e buscando estratégias adequadas à realidade deles – e não à minha. IDENTIFICAR AS NECESSIDADES DO EDUCANDO Como terceiro passo, é preciso planejar. Talvez esse pareça ser um elemento menos importante que os anteriores pelo caráter meramente técnico que possa aparentar. Se por um lado o planejamento e a escolha do processo de ensino-aprendizagem exigem determinados conhecimentos didáticos, por outro, o professor não pode acreditar que essa opção técnica seja totalmente independente das percepções anteriores. Se o professor não tiver plena consciência das necessidades de seu educando, poderá estipular que determinado encadeamento de conteúdo será apreendido pela turma toda, ao mesmo tempo, sem se preocupar, assim, com as dificuldades (ou habilidades) específicas de grupos ou alunos. Por isso, cabe ao docente identificar quais saberes são fundamentais e farão diferença na vida e no cotidiano deles, escolhendo estratégias de ensino que tenham significado para as suas vidas. Vamos entender na prática: Fui convidado para ministrar um treinamento em uma empresa sobre um assunto que eu dominava bastante. No primeiro dia, falei por horas e horas. Tinha a certeza de ter me saído muito bem. Pedi para a turma fazer uma prova e me assustei com o resultado: ninguém tinha entendido nada. Ao refletir sobre tal processo, decidi mudar minha abordagem. No dia seguinte, perguntei se sabiam por que estavam ali e o que gostariam de aprender. Eles relataram seus medos e expectativas quanto à formação. Em seguida, eu disse como poderia ajudá-los – e todo o processo mudou. Tentando despertar sua curiosidade, trouxe para a realidade deles o conhecimento abordado. Ali eu aprendi uma lição: minha ação como docente não deve estar centrada no que eu preciso passar, mas na relação entre o meu conhecimento e o que o aluno precisa aprender. Acredito que você já percebeu que não é tão fácil ser professor. Esse profissional deve pensar no cotidiano, no dia após dia da função e, ao mesmo tempo, não perder o ímpeto e o ânimo de criar e recriar. Para que isso seja possível, é importante que o professor nunca se esqueça que é um agente educador, que deve sempre levar a sério a sua responsabilidade em conduzir e dinamizar o processo de ensino-aprendizagem, respeitando o conhecimento do aluno como forma de valorizar e redimensionar essa troca. TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA Você já teve um professor memorável? Aquele que sempre tinha novas abordagens para sua matéria, trazia materiais diferentes para exemplificar o aprendizado ou até fazia músicas com o conteúdo das disciplinas? Apesar da passagem dos anos, você ainda se lembra daquela aula e dos ensinamentos aprendidos naquele dia. Quando transformamos os conceitos científicos necessários para o aprendizado escolar e trabalhamos de forma que eles passem a ter significado para o aluno, chamamos esse processo de transposição didática. Através dela, é possível realizarmos uma identificação dos conteúdos e conceitos científicos que necessitam ser trabalhados para que façam sentido na escola. Mas, antes de falarmos da transposição didática, é importante que conheçamos a diferença entre os tipos de conhecimento que transitam pelo espaço escolar. Agora que você entendeu a diferença entre o saber científico e o saber escolar, vamos pensar na prática. Imagine a seguinte situação: É o seu primeiro dia de aula como professor. Você já é um profissional preparado, com grande bagagem histórica de leitura e de experiências, e recebe como missão levar uma parte desse conhecimento a pessoas com vivências e maturidades diferentes. Qual será a melhor abordagem para iniciar a sua aula? a) Apesar de o meu conhecimento ser muito importante, os alunos não terão capacidade de aprender. Por isso, devo reduzir o conteúdo ao máximo e deixá-lo bem fácil, a fim de que eles possam entendê-lo e aprendam apenas o básico. b) Eu sei que eles possuem experiência de vida, mas sou eu que tenho o conhecimento que eles realmente precisam adquirir. Como meu conhecimento é o mais importante, todos os alunos devem concentrar o máximo de atenção apenas no conteúdo e seguir o que eu determinar, pois o que falarei será vital para eles. NENHUMA DAS ALTERNATIVAS ESTÁ CORRETA. Quando nos referimos aos saberes escolares e científicos, parece que ambos são isolados, porém são indissociáveis. Não podemos pensar no saber científico sem levar em consideração o cotidiano e as experiências que surgem dentro e fora da sala de aula. Ao mesmo tempo, nossos alunos precisam ter acesso ao conhecimento acadêmico e ao resultado de suas observações e experimentações, o que fomenta sempre o interesse e desperta a curiosidade. Para que haja equilíbrio entre transmissão e aquisição do conhecimento, o professor deve apresentar o conteúdo não só com qualidade conceitual e científica, mas coerente com a realidade dos alunos, de modo que faça sentido para eles e que desperte o desejo de aprender. Para isso, é importante que entendamos que o aluno está no centro do processo e cabe a você mediar esses conhecimentos de forma que ele se envolva com o tema e tenha interesse em querer saber cada vez mais, sendo: I - INFORMAÇÃO A apresentação do conteúdo deve possuir informações de qualidade, bem organizadas e estruturadas de forma que o aluno possa ter acesso ao conhecimento facilmente em qualquer lugar e de forma compreensiva. E - EMOÇÃO O aluno precisa ter suas emoções despertadas para que a informação possa lhe fazer sentido: ele não deve ficar apático diante daquilo que lhe é apresentado. C - CONHECIMENTO A combinação da informação do conteúdo com o impacto das emoções do aluno gera o conhecimento, e a ferramenta que auxilia no equilíbrio dessa combinação é a transposição didática. A junção da informação com a emoção para formar o conhecimento é chamada de transposição didática. Então, agora que você aprendeu esses conceitos, vamos repensar o caso da sala de aula visto anteriormente? Com a transposição didática compreendemos a importância de o professor identificar que o seu trabalho é produzir um novo caminho para o desenvolvimento do aluno, proporcionando novas formas de aprender e levando em consideração o cotidiano escolar sem impedir o acesso dos alunos a essas informações. Vamos, a seguir, entender mais profundamente esse conceito. SURGIMENTO DA TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA O conceito de transposição didática surgiu em 1975 com Michel Verret e foi aprofundado por Yves Chevallard em 1985. Chevallard desenvolveu a ideia de transposição em que o saber científico se modifica quando é passado para o campo escolar, ou seja: não basta apenas transmitir as informações aos alunos, desconsiderando o contexto necessário para sua compreensão. Em nossa sociedade, os conhecimentos geralmente estão pautados em duas grandes áreas: saber científico e saber escolar. Em outras palavras, a transposição didática trabalha com a adaptação do conhecimento científico para transmiti-lo ao aluno com base em estratégias pedagógicas de ensino. Como você pode ver no vídeo, o processo de passagem do saber científico para o saber escolar ocorre de forma mais eficaz quando o conteúdo apresentado faz sentido e se adapta à realidade do aluno. A transposição didática não auxiliará apenas a pensar nos conhecimentos que os alunos podem trazer a partir das suas experiências. Mais que isso, ela permite identificar como os conhecimentos formarão esse sujeito para o futuro. Talvez você esteja pensando: Qual o significado do conteúdo para a realidade do aprendiz? Qual é o objetivo desse conhecimento para o futuro do aluno? E são justamente essas duas questões que vão sustentar e contextualizar a concepção da transposição didática. CONTEXTUALIZANDO A TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA O processo de contextualização da transposição didática permite que tornemos o conhecimento científico ou de referências mais próximo à realidade e às experiências dos alunos. Assim, o conhecimento se torna mais concreto e menos abstrato. Esse processo permite a diversificação da metodologia, possibilitando o aprimoramento da aula com conhecimentos vinculados aos cotidianos dos alunos. Sob essa perspectiva, elaborar o conhecimento com a transposição didática faz com que possamos construir um saber com significado e sentido, refletindo sempre sobre as questões apresentadas dentro da escola. O processo de troca de conhecimentos é interligado pela transposição em três momentos: Saber Sábio É utilizado pelos autores, livros didáticos e pela ciência. Saber Ensinar É usado para atingir os objetivos em sala, ou seja, o planejamento escolar. Saber Ensinado É produzido efetivamente em sala de aula com os alunos. 1. O saber sábio vem do meio acadêmico para a escola através dos livros e do conhecimento do professor. 2. Através do planejamento, o saber sábio se transforma em saber ensinar, pensando e refletindo sobre as ações que ocorrerão dentro da sala de aula. 3. No saber ensinado, a ciência e o planejamento são colocados em prática e o conhecimento é construído conjuntamente com o aluno, aquele para quem é pensado todo esse processo. UM ESTUDIOSO DA FÍSICA APRESENTA UM CONHECIMENTO “DURO”, ISTO É, COM LINGUAGEM E CÓDIGO ESPECÍFICOS DA FÍSICA (SABER SÁBIO). QUANDO PASSAMOS ESSE CONHECIMENTO PARA A ESCOLA, ELE DEVE RECEBER UMA OUTRA LINGUAGEM E UMA NOVA FORMA DE SER ENSINADO. O SABER ENSINAR É O MOMENTO EM QUE O PROFESSOR ORGANIZA OS CONTEÚDOS E CONHECIMENTOS PARA DIALOGAR COM OS ALUNOS E REFLETIR SOBRE A MELHOR FORMA DE ABORDAGEM E ENTENDIMENTO. O SABER ENSINADO BUSCA PRODUZIR UMA NOVA LINGUAGEM PARA O EDUCANDO, OU SEJA, O DOCENTE DESENVOLVE SUA AULA E A APLICA DE UMA MANEIRA QUE O ALUNO DESENVOLVA O PROCESSO DE ENSINOAPRENDIZAGEM. A intenção não é simplificar ou exemplificar os conteúdos, mas demonstrar como podemos transformá-los para que o conhecimento seja mais acessível para quem está aprendendo. É preciso trazer o conhecimento para uma linguagem cotidiana, que afete o aluno, fazendo com que ele possa estabelecer o conhecimento. O conceito de transposição didática é fundamental para se pensar sobre a produção do conhecimento escolar. Sendo assim, quando nos debruçamos sobre o conceito, podemos perceber que alguns professores estão acostumados a pegar o conhecimento de forma bruta e transmiti-lo da mesma forma ao aluno e, por isso, algumas matérias podem ser consideradas incompreensíveis e até desestimulantes. Quando pegamos o conhecimento científico, planejamos levando em consideração a realidade e as experiências empíricas e escolares dos alunos; respeitando os seus saberes e seu cotidiano, o processo de ensino-aprendizado se torna prazeroso, relevante e dotado de sentido. Mas não se engane, adaptar o conhecimento acadêmico para fins didáticos não é um processo simples. Dois movimentos são centrais para essa transposição didática: Vamos entender melhor esses conceitos por meio de um exemplo: Juliana vai dar a sua primeira aula. Empolgada, ao ver que a primeiro tema da aula era sobre Botânica, caprichou, levou os manuais clássicos que tinha, pois imaginou que os alunos iam querer saber sobre aquilo. Além disso, preparou uma apresentação virtual, na qual os alunos veriam todos os nomes e formas do bioma da Mata Atlântica. Seria a melhor aula da sua vida. Chegando à sala de aula, a turma estava uma confusão. A professora Juliana tentou acalmar a turma, mas, quando começou a aula, três alunos dormiam, doze brincavam e quatro, desesperados, tentando prestar atenção, faziam perguntas que iam irritando a professora iniciante. Eles também foram perdendo o interesse, mas o professor não conseguia entender, afinal, tinha feito tudo tão certinho! A professora Juliana teve dificuldades com a sua turma por realizar apenas a transposição externa, ou seja, pensou apenas nos materiais que permitam que o aluno aprenda. O problema ocorre quando a transposição externa é confrontada com o cotidiano e, por isso, é fundamental que estejamos atentos aos movimentos que ocorrem na transposição interna, ou seja, na instituição escolar, mais especificamente na sala de aula. Essas questões contextuais postas por Chevallard como esfera marcada pelas lutas, disputas e negociações de grupos políticos, sociais e didáticos na escolha, seleção e transposição dos saberes, são denominados de noosfera. Ela correspondente à dimensão social que conduz, permite e indica como a transposição didática ocorre. Por isso, os professores devem estar atentos aos caminhos tomados na construção da noosfera, às escolhas curriculares feitas e como entram neste jogo. Como Chevallard nos aponta: Quando consideramos as mudanças didáticas com mais cuidado, percebemos que muitas vezes elas ocorrem apenas em nível superficial, alterando pouco as estruturas mais profundas do fazer docente. Por isso, o ato de refletir nossas práticas, dialogando com a realidade, o cotidiano do aluno, é fundamental no compartilhamento e na troca do conhecimento. Como podemos ver na situação do professor, quando utilizamos o saber da transposição externa com a realidade da transposição interna, os alunos demonstram não só o aprendizado pontual, mas toda a bagagem de conhecimento que os formam. TRANSPOSIÇÃO DIGITAL A transposição didática pode ocorrer não só no ambiente presencial, mas também à distância. Quando falamos na adequação do conhecimento em meios digitais, temos a transposição didática digital. Esse tipo de abordagem busca dialogar sempre com quem está do outro lado da tela, seja através de computadores, tablets ou até celulares, valendo-se de recursos e técnicas que estimulam o aluno a interagir com diversos objetos de aprendizagem. Além disso, na transposição digital, devemos ter atenção em relação à linguagem utilizada para que ela seja acessível a diferentes públicos. Este tipo de linguagem é chamada de hipermidiática. LINGUAGEM HIPERMIDIÁTICA A linguagem hipermidiática na transposição digital exige a integração de diferentes linguagens (verbais e não verbais) em busca de um sentido ou objetivo. No nosso caso, fazer com que o aluno adquira conhecimento de forma autônoma. Essa integração entre várias linguagens tem como objetivo promover o interesse pelo assunto e oportunizar o melhor entendimento do conteúdo. Assim, a linguagem hipermidiática realiza a combinação de diversos recursos e objetos de aprendizagem em prol do aprendizado. Vamos entender isso na prática: Pense que você é um professor tutor de um curso EAD. O que você vai escrever será lido por um aluno que deseja aprender. Seu conteúdo é extenso e com termos específicos do conteúdo. Você precisa de uma ponte para transpor esse conhecimento, que em um primeiro momento é inacessível a ele. Mas como fazer isso? Este é o nosso principal desafio como professor: Transformar o conteúdo considerado puramente acadêmico de modo que ele se torne acessível e agradável ao entendimento do aluno. Quando um professor consegue fazer a transposição didática de um conteúdo é porque ele trouxe aquele assunto complexo para um nível de fácil compreensão, ou seja, para o inteligível, de modo a democratizar o conhecimento. E é através da linguagem hipermidiática que será possível realizar uma transposição didática digital eficaz, recursos esses que ilustrarão ou simplificarão os conceitos sem reduzi-los. CONSIDERAÇÕES FINAIS A ação pedagógica não deve ser confundida com a prática docente. Embora ambas estejam intimamente ligadas ao cotidiano do professor, a prática docente está conectada diretamente a uma preocupação metodológica (portanto, didática), já a ação pedagógica parte de pressupostos políticos de que toda ação é atravessada por escolhas que podem ou não ser explícitas e conscientes. E é nesse âmbito que entra a transposição didática, como ação de transformar o conhecimento científico em um conteúdo adequado às necessidades e à potencialidade dos alunos. Essa transposição didática pode ocorrer não só no ambiente presencial, mas também à distância, através de elementos hipermidiáticos que minimizam a distância entre quem ensina e quem aprende. PODCAST Agora, com a palavra os professores Luiz Rafael Silva e Rodrigo Rainha, no podcast. CONQUISTAS ADQUIRIDAS Reunimos as suas conquistas. Olha o que conseguiu fazer: • Identificou o conceito de ação pedagógica. • Definiu o conceito de transposição didática. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARTOLOMÉ MARTÍNEZ, B. La Educación en la Hispania antigua y medieval. Madrid: Morata, 1992. CHEVALLARD, Y. La Transposition Didactique: Du Savoir Savant au Savoir Ensigné. Grenoble: La pensée Sauvage, 1991. CHEVALLARD, Y. Sobre a teoria da transposição didática: algumas considerações introdutórias. Revista de Educação, Ciências e Matemática, v.3, n.2, mai-ago 2013, p. 1 – 14. MOURA, E.; ZUCCHETTI, D. Educação além da escola: acolhida a outros saberes. Cadernos de Pesquisa, v.40, n.140, p. 629-648, maio/ago. 2010. POLIDORO, L.; STIGAR, R. A Transposição Didática: a passagem do saber científico para o saber escolar. Ciberteologia. Ano VI, n. 27, 2010, p. 1 – 7. ZASLAVSKY, A. Ação pedagógica, ação comunicativa e didática. Conjectura: Filos. Educ., v. 22, n. 1, p. 69-81, Caxias do Sul, jan./abr. 2017. p. 69-81. EXPLORE + • Transposição didática sobre o ensino de produção textual na BNCC; • Symposium - Yves Chevallard; • Rubem Alves - A Escola Ideal; • A Transposição Didática: a passagem do saber científico para o saber escolar. ============================================== DIDÁTICA AULA 5 OS PROCESSOS DIDÁTICOS E OS DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADE DEFINIÇÃO Neste tema, compreenderemos os processos da produção do conhecimento educacional no mundo contemporâneo, considerando as metodologias ativas como proposta de ação pedagógica. PROPÓSITO Este tema tem como propósito demonstrar como é necessário para a formação docente vincular as competências e habilidades desenvolvidas no interior da sala de aula ao contexto em que a escola está inserida no mundo contemporâneo. OBJETIVOS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO PARA O SÉCULO XXI A idade contemporânea se refere ao tempo presente, ou seja, aquele em que vivemos. É esse o contexto que nos interessa e com base no qual vamos estudar os processos didáticos que podem ser aplicados na Educação como forma de responder às suas demandas. Uma vez que o nosso foco é a Educação, podemos citar alguns aspectos do mundo contemporâneo que influenciam diretamente o contexto escolar e que se apresentam como desafios na contemporaneidade. São eles: Sobre isso, vejamos o que Delors (2001, p. 11) afirma: “Ante os múltiplos desafios do futuro, a educação surge como um trunfo indispensável à humanidade na sua construção dos ideais da paz, da liberdade e da justiça social.” (DELORS, 2001) A citação acima faz parte do prefácio do relatório organizado por Delors, elaborado entre 1993 e 1996 por inúmeros especialistas do mundo todo, cujo objetivo era trazer de volta à Educação sua principal característica: ser ferramenta indispensável à convivência humana. Esse documento faz, então, uma retrospectiva do século XX, apresentando os cenários de uma Educação voltada ao século XXI. Para isso, o relatório organizado por Delors (2001) busca identificar o que denomina de tensões a ultrapassar, que constituem a base do que se apresentaria no século XXI. Podemos resumir essas tensões provenientes do século XX da seguinte forma: GLOBAL X LOCAL Todos nós somos chamados a nos tornar cidadãos do mundo, especialmente a partir da difusão de informações das mídias digitais, mas sem perder a identidade e o interesse pela realidade local, regional. UNIVERSAL X SINGULAR Refere-se à inevitável mundialização da cultura: cada vez mais, somos chamados a consumir uma cultura globalizada. Disso resulta a importância de buscar formas de preservar as raízes culturais do próprio povo, da própria etnia. TRADIÇÃO X MODERNIDADE Especialmente por conta dos avanços das Tecnologias da Informação (TIs), corre-se o risco de abandonar tudo que não se enquadre nos moldes da sociedade midiática. SOLUÇÕES DE CURTO PRAZO X SOLUÇÕES DE LONGO PRAZO Essa mesma sociedade midiática tem levado as pessoas a um imediatismo em vários âmbitos da convivência social. Torna-se necessário pensar em planejamentos mais sólidos (ainda que com prazos maiores que o esperado) frente aos problemas encontrados, mas sem negar as urgências também presentes. LIVRE COMPETITIVIDADE X IGUALDADE DE OPORTUNIDADES Talvez, esta seja uma das tensões mais antigas, identificada desde o início do século. Na maioria das vezes, a competitividade, que poderia levar à criatividade, à inovação e ao desenvolvimento, concretiza-se na forma de exclusão social. CONHECIMENTO X SABER A preocupação é estabelecida, aqui, pela tendência de se formar o aluno para atender às exigências do mercado. Não se pode renunciar a uma formação que dê atenção à saúde física e psicológica dos indivíduos, o que engloba, também, uma relação mais saudável com o meio ambiente. ESPIRITUAL X MATERIAL É preciso encontrar caminhos de valorização da subjetividade humana, uma formação de valores que, longe de provocar conflitos, deve servir de instrumento de tolerância e respeito às diferenças e aos pluralismos em diversos âmbitos da sociedade. Para enfrentar esses desafios, são apresentados quatro grandes pilares que servem de suporte a um projeto educacional chamado Educação para o século XXI: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser. Perceba que a simples articulação entre as palavras conhecer-fazer-conviverser já aponta para as características essenciais da Educação: contribuir para que o aluno construa conhecimentos, de modo que ele possa agir sobre a sua realidade social e transformá-la. REFLEXÕES PEDAGÓGICAS PARA O SÉCULO XXI Alinhados à percepção do relatório organizado por Delors sobre a educação contemporânea, três autores merecem destaque por suas reflexões pedagógicas. São eles: Edgar Morin, Philippe Perrenoud e Ken Robinson. Vamos conhecê-los! Esta citação faz parte do famoso livro de Edgar Morin, Os sete saberes necessários à Educação do Futuro. A proposta de Morin é apresentar esses saberes como condição reflexiva para se pensar a Educação na forma como vinha se apresentando ao longo do século XX. A ideia é, a partir disso, projetar os avanços necessários para assumir seu papel de protagonista na formação do cidadão do século XXI. Morin, então, aborda sete problemas específicos da Educação, que chama de “buracos negros”. Vejamos: O que é o conhecimento? O ensino dá o conhecimento, porém não ensina o que é. Qual a pertinência do conhecimento? O ensino tende a valorizar as disciplinas, deixando de lado o contexto no qual o conhecimento será implementado. Qual o papel da identidade humana? O ensino, em geral, ignora a identidade humana e a sua relação com as ciências. O que significa compreender? O ensino não aborda o significado da palavra “compreender” e a necessidade de se compreender uns aos outros. O que fazer com as incertezas? O ensino não aborda a capacidade de lidar com aquilo que não é previsível. Qual o papel da globalização no conhecimento? O ensino, em geral, não aborda o fato de que tudo está conectado e de que a comunidade tem sido direcionada para um destino comum. Qual a responsabilidade individual e social? O ensino não aborda essa relação de responsabilidades nos âmbitos social e individual. Perceba que os sete problemas apontados por Morin como buracos negros são a base para construção de sete saberes a serem explorados, uma vez que conduzem a uma reflexão complexa acerca dos reais impactos que tais saberes trazem à realidade escolar. No entanto, é importante ressaltar que a proposta desse autor não é modificar os programas educacionais, anulando a estrutura de disciplinas. Antes, Morin propõe uma integração dos sete saberes com as disciplinas já estabelecidas. Então, reveja o gráfico anterior e observe que, para o desenvolvimento de cada saber escolar de maneira encadeada, devemos levar em consideração esses saberes. Esta citação faz parte da obra de Perrenoud (2000), Dez novas competências para ensinar, e mostra uma preocupação específica desse autor acerca da formação docente e, consequentemente, da aprendizagem. Perrenoud, nessa obra, elenca as 10 competências necessárias para o professor: Apesar da complexidade de definir o papel do professor e, portanto, sua formação, nesse livro, Perrenoud (2000) procurou apresentar algumas competências possíveis e explorá-las de forma a oferecer um suporte ao docente que desejasse assumir um papel mais comprometido com a Educação do século XXI. A principal contribuição de Perrenoud para a educação contemporânea foi a valorização do conceito de competências. Esse conceito parece não só ter sobrevivido às duas décadas do século XXI, como tem fundamentado grande parte da legislação educacional, especialmente no Brasil. Esta citação expressa um dos questionamentos de Robinson feito em 2006 enquanto ele se apresentava em uma importante conferência nos Estados Unidos: As escolas matam a criatividade? Nessa mesma conferência, Robinson buscou responder a esse questionamento criticando o que ele chama de “modelo técnico-industrial da educação”, disfarçado de “modelo acadêmico”. Esse modelo, presente no mundo todo, valoriza apenas um aspecto da formação humana – geralmente a lógicomatemática – e não permite que outras perspectivas tenham relevância na formação do indivíduo. A partir disso, pode-se responder à pergunta de Robinson: Sim! As escolas estão matando a criatividade! Como resposta a esse contexto, Robinson propõe um processo educacional que valorize as aptidões individuais, permitindo que cada estudante trace caminhos para seu aprendizado e, consequentemente, realize-se pessoal e profissionalmente. Dessa forma, o estudante poderá contribuir efetivamente para a sociedade em que vive. Embora com teor bastante utópico, as ideias de Robinson continuam presentes em muitas conferências e projetos educacionais além de seus livros. METODOLOGIAS ATIVAS Como vimos, os pilares da Educação para o século XXI, conhecer-fazer-conviverser, influenciam significativamente na aprendizagem dos alunos. Um fator importante nesse processo é a motivação para a aprendizagem. Por isso, no contexto contemporâneo, torna-se necessário identificar os aspectos que motivam e encantam os mais jovens. Sobre isso, vejamos o que Martha Gabriel afirma: “A evolução das tecnologias digitais de informação e comunicação tem transformado profundamente a sociedade em todas as suas dimensões, inclusive na Educação.” (GABRIEL, 2013) Essa autora identifica as tecnologias digitais como um fator que tem transformado a sociedade. Uma vez que vem ocupando um lugar central na vida das pessoas, a tecnologia tem sido identificada como um fator de motivação dos alunos. Por isso, torna-se necessário integrar essas tecnologias às metodologias de ensino, de modo que sejam importantes aliadas da aprendizagem. Uma estratégia pedagógica bastante centrada no aluno e que é potencializada pelo uso das tecnologias digitais é a metodologia ativa. Vejamos como José Moran (2015) define essa metodologia: “As metodologias ativas são pontos de partida em direção a processos mais avançados de reflexão, de integração cognitiva, de generalização, de reelaboração de novas práticas. Nas metodologias ativas, o aprendizado se dá a partir da antecipação, durante o curso, de problemas e situações reais (os mesmos que os alunos vivenciarão depois na vida profissional).” (MORAN, 2015, p. 18-19) Portanto, as metodologias ativas buscam colocar o aluno no centro do processo de ensino e aprendizagem, permitindo que crie soluções e busque os conhecimentos de que necessita. Nesse contexto, o professor atua muito mais como um orientador do processo de construção da aprendizagem, estimulando, também, a interação entre os alunos. Perceba que o professor deixa de ser o detentor do conhecimento, pois, atualmente, o aluno tem acesso a uma quantidade enorme de informações proporcionadas pelas tecnologias digitais. Ao professor, cabe, então, orientar os alunos nessa busca pelo conhecimento. Podemos citar alguns dos métodos utilizados nas metodologias ativas: O sucesso de qualquer uma dessas metodologias depende da mudança decisiva na atuação do professor em sala de aula. Com o uso de metodologias ativas, o professor precisa enxergar o aluno sob a perspectiva da ação e da parceria, ou seja, o trabalho pedagógico deve estar fundamentado no diálogo. O que caracteriza um meio que se propõe ativo é o posicionamento da inteligência em contraposição à passividade característica dos métodos tradicionais de ensino. Além de pensar, o aluno precisa sentir o que está fazendo para não ficar entediado com o conteúdo. Para incluir os sentimentos na construção de conhecimento, é necessário dar significado ao que se aprende, a partir do bom humor, da disposição e da alegria no processo de aprendizado. Portanto, as tecnologias digitais são muito importantes para oferecer ferramentas para a realização dessa proposta. Percebeu que, nas metodologias ativas, como o foco do ensino está no aluno, ele pode traçar o seu próprio caminho para chegar ao conhecimento? Isso acontece porque, nessas metodologias, os meios para se buscar o conhecimento não são determinados. O aluno pode, de acordo com suas características, utilizar diferentes ferramentas e métodos para buscar uma informação e construir o conhecimento, de acordo com seu perfil de aprendizagem. O autor Howard Gardner desenvolveu uma teoria que nos ajuda a identificar diferentes perfis de aprendizagem - a Teoria das Inteligências Múltiplas –, segundo a qual existem nove perfis de inteligência que determinam a forma de aprender. São eles: Inteligência verbal Habilidade de utilizar as palavras de forma efetiva. Inteligência lógico-matemática Habilidade de utilizar os números de forma efetiva. Inteligência cinestésica-corporal Habilidade de expressar ideias e sentimentos usando o corpo. Inteligência espacial Habilidade de perceber o espaço físico. Inteligência musical Habilidade de expressar formas musicais. Inteligência interpessoal Habilidade de perceber os sentimentos, as emoções e as motivações das pessoas. Inteligência intrapessoal Habilidade de se autoconhecer e agir com base nisso. Inteligência natural Habilidade de lidar com a natureza. Inteligência existencial Habilidade de compreender o mundo transcendental. O conhecimento dos diferentes tipos de inteligência permite ao professor selecionar os métodos que mais se adéquam aos perfis de aprendizagem dos seus alunos. Esse autoconhecimento possibilita ao aluno escolher as ferramentas e os métodos que facilitarão não só a busca, como também a manifestação do conhecimento. TEORIAS QUE EMBASAM O USO DE METODOLOGIAS ATIVAS A concepção teórica que embasa as metodologias ativas é o interacionismo. Essa concepção entende o sujeito como um ser ativo, que constrói e se apropria de seus conhecimentos particulares a partir dos elementos e estímulos fornecidos por outras pessoas e pelo meio em que vive. De acordo com essa teoria, cabe ao professor estimular e oferecer várias opções de aprendizado e caminhos, a fim de que o aluno construa seus conhecimentos por meio de um planejamento didático e pedagógico que facilite a aprendizagem. Os principais teóricos que embasam a perspectiva interacionista são Jean Piaget, Lev Vygotsky e John Dewey. Em suas concepções, esses teóricos concebem o aprendizado sempre relacionado ao contexto social no qual o aluno está inserido. Para Piaget (apud MUNARI, 2010), as interações sociais possuem grande importância, pois é por meio delas que novas informações e características do meio são transmitidas, contribuindo para a assimilação do conhecimento de maneira ativa, de acordo com o estágio de desenvolvimento cognitivo do sujeito. Vejamos como ocorre esse processo: Perceba que, para Piaget (apud MUNARI, 2010), as interações sociais são o principal meio de aprendizado, pois à medida que interage com pessoas e objetos, o indivíduo está progredindo em suas formas de pensamento e em suas ações. Nesse processo interacional, o sujeito compreende que sua ação deve contribuir para a cooperação do grupo, desenvolvendo, assim, uma vida afetiva. Para Vygotsky (apud IVIC, 2010), os processos sociais são importantes para a construção do conhecimento. Dessa forma, o desenvolvimento do indivíduo acontece a partir das interações que estabelece desde sua infância com o meio social no qual está inserido. Vejamos como ocorre esse processo: Imagine uma criança crescendo no seu meio familiar e recebendo todo tipo de informações. A partir das interações estabelecidas, essa mesma criança desenvolve os processos mentais superiores, que são: Para Vygotsky (apud IVIC, 2010), é por meio do contato com outras pessoas que o sujeito se apropria dos instrumentos e signos e os internaliza, desenvolvendose intelectualmente. De acordo com essa perspectiva, é importante partir do que o aluno sabe para acessar o conhecimento ainda não aprendido por ele. Por isso, o professor deve levar em conta o conhecimento real da criança e gerar situações que provoquem novas aprendizagens. Dewey (apud WESTBROOK; TEIXEIRA, 2010, p. 16-17) defende que a aprendizagem ocorre pela experiência. Para ele, quando os alunos frequentam um espaço de aprendizado, estão vivendo a vida e aprendendo a partir dela. Por isso, o autor considera errada o pensamento cujo princípio afirma que a escola forma o aluno para a vida. De acordo com a perspectiva desse teórico, a vivência na escola faz parte da vida. Essa instituição precisa proporcionar momentos de aprendizagem com significado para o estudante, propiciando experiências motivadoras. Para Dewey (apud WESTBROOK; TEIXEIRA, 2010, p. 16-17), ao chegar na escola, a criança já traz conhecimentos e experiências que devem ser considerados no processo de ensino e aprendizagem. Vamos entender um pouco mais a visão do autor: Quando a criança inicia sua escolaridade, leva consigo quatro impulsos inatos: Esses impulsos são os recursos naturais, que devem ser utilizados como pontos de partida para se investir no desenvolvimento ativo da criança. Nesse processo, cabe ao professor buscar os interesses e o contexto social da criança e utilizá-los como insumo para elaborar atividades que motivem o seu desenvolvimento, atuando como um orientador no processo de construção do conhecimento. Neste tema, você identificou alguns dos principais desafios para a Educação do século XXI e perceber as metodologias ativas como a principal estratégia pedagógica a ser utilizada como resposta a esse contexto cada vez mais permeado pelas tecnologias digitais. Sabendo da complexidade do processo de ensino e aprendizagem, torna-se essencial reconheceu as individualidades dos alunos, envolvendo-os nas tomadas de decisão, a fim de torná-los ativos e participativos na construção do conhecimento. Referências Bibliográficas DELORS, J. Educação: tesouro a descobrir. São Paulo: Cortez; Brasília: UNESCO, 2001. FERRARI, M. Howard Gardner, o cientista das inteligências múltiplas. São Paulo: Nova Escola, 2008. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/1462/howard-gardner-o-cientista-dasinteligencias-multiplas. Acesso em: 23 jan. 2020. FRAZÃO, D. Jean Piaget – psicólogo e pesquisador em Pedagogia. [S. l.]: Biografias, 2015. Disponível em: https://www.ebiografia.com/jean_piaget/. Acesso em: 23 jan. 2020. FRAZÃO, D. Lev Vygotsky – psicólogo bielo-russo. [S. l.]: Biografias, 2017. Disponível em: https://www.ebiografia.com/lev_vygotsky/. Acesso em: 23 jan. 2020. GABRIEL, M. Biografia. [S. l.]: Martha Gabriel, [20--]. Disponível em: https://www.martha.com.br/biografia/. Acesso em: 23 jan. 2020. GABRIEL, M. Educar: a (r)evolução digital na educação. São Paulo: Saraiva, 2013. GESTÃO ESCOLAR. Organização do trabalho pedagógico – pensadores da educação – Jacques Delors. Curitiba: Secretaria da Educação do Paraná, [20--]. Disponível em: http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.ph p?conteudo=337. Acesso em: 23 jan. 2020. IVIC, I. Lev Semionovich Vygotsky. Recife: Massangana, 2010. MORAN, J. Mudando a educação com metodologias ativas. Ponta Grossa: UEPG, 2015. MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez; Brasília: UNESCO, 2001. MUNARI, A. Jean Piaget. Recife: Massangana, 2010. PARADIGMA DA MATRIX. Biografia: Ken Robinson. [S. l.]: Paradigma da Matrix, 2011. Disponível em: http://pt.paradigmatrix.com/2011/01/12/biografia-kenrobinson/. Acesso em: 23 jan. 2020. PAULA, R. N. F. de. Philippe Perrenoud. [S. l.]: InfoEscola, [20--]. Disponível em: https://www.infoescola.com/biografias/philippe-perrenoud/. Acesso em: 23 jan. 2020. PERRENOUD, P. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artmed, 2000. SÓ PEDAGOGIA. John Dewey. [S. l.]: Virtuous Tecnologia da Informação, [20--]. Disponível em: https://www.pedagogia.com.br/biografia/john_dewey.php. Acesso em: 23 jan. 2020. VASCONCELOS, A. Edgar Morin. [S. l.]: Escola Educação, [20--]. Disponível em: https://escolaeducacao.com.br/edgar-morin/. Acesso em: 23 jan. 2020. WESTBROOK, R. (org.). John Dewey. Recife: Massangana, 2010. Explore+ Vídeos • O saber e o sabor • Jean Piaget - Fases do desenvolvimento • Ken Robinson: Escolas matam a criatividade? Artigos • A noção de experiência em John Dewey, a educação progressiva e o currículo de Ciências • As teorias pedagógicas modernas revisitadas pelo debate contemporâneo na educação • Os sete saberes necessários à educação do futuro • Inteligências múltiplas e representações Obra • VYGOTSKY, L. S. A construção do pensamento e da linguagem. Tradução de Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 2000. ========================================= AULA 6 DIDÁTICA E USO DAS TECNOLOGIAS DEFINIÇÃO Neste tema, estudaremos a evolução tecnológica e seus impactos no ambiente educacional. Em especial, falaremos sobre alguns tipos de ferramentas e exploraremos o uso das tecnologias digitais na ação docente. PROPÓSITO Este tema tem como finalidade apresentar o contexto tecnológico em que vivemos, suas relações com o cotidiano, além dos principais recursos que permitem instrumentalizar a tecnologia em sala de aula. OBJETIVOS 1. Reconhecer os impactos das tecnologias digitais na sociedade; 2. Identificar tendências tecnológicas que influenciam o ambiente escolar; 3. Aplicar as tecnologias digitais em sala de aula para alcançar diferentes objetivos educacionais. MÓDULO 1 Reconhecer os impactos das tecnologias digitais na sociedade Impactos das tecnologias digitais na sociedade Para começar nossa reflexão, assista ao vídeo a seguir que mostra uma experiência de inclusão digital desenvolvida por Sugata Mitra1 , conhecida como “O buraco no muro”. Assista ao vídeo no material online. Você percebeu como as crianças foram facilmente atraídas pelas tecnologias digitais? Viu como elas rapidamente entenderam como usar o computador e o que poderiam fazer com ele? A experiência “O buraco no muro” é um exemplo de como as tecnologias digitais podem impactar uma sociedade e mudar a forma como as pessoas se relacionam com o conhecimento. Hoje, estamos diante de uma sociedade dominada pela cibercultura, cada vez mais impregnada pelo ciberespaço2 . As pessoas estão imersas no mundo digital, especialmente nas redes sociais. Trata-se de um mundo digital que modificou nossa experiência em vários aspectos do cotidiano, como assistir a filmes, pedir comida, transporte, dentre outros. 1 Professor da disciplina Tecnologia Educacional da Escola de Educação, Ciências da Comunicação e Linguagem, na Universidade de Newcastle. É reconhecido pelo seu experimento “O buraco no muro”, onde mostrou que crianças são extremamente capazes de aprender quando estão em um ambiente propício. Pela sua atuação, Sugata Mitra ganhou o Prêmio TED em 2013. Para assistir ao vídeo “O buraco no muro” completo, acesse o material online. 2 O conceito de ciberespaço foi criado na pós-modernidade por William Gibson, escritor norte-americano. Segundo o autor, esse é um espaço de comunicação que ocorre através de redes de computadores. É um espaço aberto em que qualquer pessoa pode interagir com outras ou com a própria máquina. O texto Ciberespaço: uma nova configuração do ser no mundo, de Silva et al, vai ajudá-lo a saber um pouco mais sobre esse assunto. Para conhecê-lo, acesse aqui. Esse contexto mostra o quanto as tecnologias digitais estão se tornando importantes para a vida das pessoas. Vamos pensar um pouco mais sobre esse assunto? No vídeo a seguir, a partir da animação do ilustrador e cartunista Steve Cutts3 , o professor Rodrigo Rainha nos convida a refletir sobre os impactos da tecnologia na sociedade. Assista ao vídeo no material online. A animação de Steve Cutts nos serve de alerta, especialmente para o tempo em que vivemos. A inserção e o uso de meios e ferramentas digitais transformaram e transformarão cada vez mais nosso comportamento social, nossas relações de trabalho e de ensino. As gerações nascidas após os anos 1990 – geralmente chamadas de Geração Z – cresceram imersas no mundo das mídias digitais e são criadas na virtualização das relações sociais com pessoas e objetos. Por isso, também são chamados de nativos digitais. Vamos entender um pouco melhor essa geração? Leia a reportagem a seguir que descreve o estilo de vida da Geração Z. A Geração Z e a conexão 24 horas por dia Os 2 bilhões de jovens nascidos depois de 1995 estão decididos a construir uma vida distante dos códigos e das aspirações dos mais velhos. 3 É um ilustrador e animador do Reino Unido. Desenvolveu projetos para agências de renome, incluindo a UNESCO, The Gaia Foundation, Isobar, dentre outras. Trabalha, principalmente, com as ferramentas: Adobe After Effects, Toon Boom Harmony, Photoshop, Cinema 4D e Manga Studio. Para assistir à animação “Escravos da Tecnologia” completa, acesse o material online. Leia a reportagem completa no material online. (Reportagem produzida pela revista Exame) A reportagem mostra como o cotidiano das pessoas foi transformado pelo uso das mídias digitais. Mesmo aqueles nascidos em décadas anteriores se viram obrigados a se adaptar, de certa forma, a tais tecnologias. Independentemente de idade, a quase totalidade das pessoas utiliza soluções tecnológicas diversas diariamente (como caixas eletrônicos, por exemplo) e tem seus celulares como principal interface desse mundo digital. Como esse cenário afeta a Educação? Atualmente, os alunos da Educação Infantil e do Ensino Fundamental têm contato com vídeos, jogos e aplicativos digitais. Essa dinâmica muda a relação da criança com o conhecimento e a forma como aprendem, além de alterar as relações entre as pessoas nos processos escolares. É exatamente por isso que a educação contemporânea deve pensar nas atividades didáticas desenvolvidas em sala de aula a partir da tecnologia digital. Sobre isso, cabem algumas reflexões: Qual é a responsabilidade dos educadores diante da utilização excessiva das mídias digitais pelas crianças? Como podemos aproveitar a aparente atração pelas mídias digitais a favor do ensino e da aprendizagem? Espera-se que o professor tenha uma preocupação permanente com os processos que facilitam a aprendizagem de seus alunos. Por isso, ele deve adequar o seu planejamento didático às inovações tecnológicas utilizadas pelos alunos. Nesse exercício de adaptação, vemos que muitas ferramentas digitais possuem o potencial, inclusive, de mudar a forma como ensinamos e aprendemos. MÓDULO 2 Identificar tendências tecnológicas que influenciam o ambiente escolar. Conectando a sala de aula A tecnologia faz parte do cotidiano das pessoas e, consequentemente, da maioria dos nossos alunos. Eles estão imersos nas mídias digitais, valorizam as interações por meio de redes sociais e não são apenas consumidores de informações, mas também são produtores. Esse contexto traz um novo desafio à Educação: pensar em métodos de ensino e avaliação capazes de auxiliar o aprendizado dos alunos com o uso das tecnologias digitais. Atenção Já passou a época em que os eletrônicos eram vistos como inimigos do aprendizado. Com a popularização do digital, é impossível fingir que esse mundo e suas possibilidades não existem ou acreditar que elas não devem fazer parte da vida das pessoas. Difícil não ver alguém, mesmo crianças pequenas, mexendo habilidosamente em seus celulares, tablets e outros dispositivos. A disrupção é um conceito relacionado a essas mudanças, que envolve as tecnologias digitais. Assista ao vídeo a seguir em que Roberto Paes explica o significado desse termo e como ele afeta a vida das pessoas e, consequentemente, a prática educacional. Assista ao vídeo no material online. Quando falamos em recursos tecnológicos, logo nos vem à mente cenários e ferramentas incríveis, como se estivéssemos vislumbrando um futuro ao estilo Minority Report4 . Ainda não é como naquele filme, mas as instituições de ensino e os alunos e professores fazem uso de aplicações, dispositivos e programas de computador para as tarefas educacionais. Veja algumas ferramentas usadas atualmente nos processos de ensino e aprendizagem: • Armazenamento em nuvem, isto é, espaço para salvar arquivos, compartilhar documentos e construir trabalhos em grupo. • Ambientes virtuais de aprendizagem, pagos ou gratuitos, que servem para diversas funções, como disponibilizar material, cadastrar tarefas, calendários, interagir com a escola etc. • Plataformas de publicação de conteúdo, nas quais alunos e professores consomem, produzem e indicam conteúdos. • Serviços de busca são usados no contexto escolar para localizar informações, imagens, acessar dicionários, enciclopédias, bibliotecas virtuais etc. • Ferramentas de comunicação, como o e-mail (pouco usado por jovens), diversas plataformas e redes sociais permitem envio de mensagem, criação de grupo, transmissão ao vivo etc. O que vem por aí? A cada ano, novas tecnologias avançam em diferentes esferas e a Educação segue o mesmo ritmo. Estamos vendo diariamente uma revolução tecnológica, que potencializa uma revolução na Educação. Isso quer dizer que a tecnologia deixou de ser algo relacionado ao laboratório de informática ou à sala de multimídia. Hoje, é pauta de gestores, professores, alunos, pais e responsáveis. Diversas fundações, empresas e instituições produzem relatórios que indicam as tendências de uso de tecnologia em contexto educacional. Destacamos duas delas: a Webcourseworks5 , consultoria que também fornece tecnologia; e a Educause6 , organização sem fins lucrativos, que busca aprimorar a Educação pelo uso de tecnologia. 4 Minority Report é um filme de ficção científica lançado em 2002, estrelado por Tom Cruise e dirigido por Steven Spielberg. A história se passa no ano de 2054, quando John Anderton (Cruise) chefia a área de pré-crime, parte do departamento de polícia especializada em antever crimes por meio de 3 videntes. 5 Empresa americana de consultoria (também provedora de serviços) focada em tecnologias que aprimoram a aprendizagem. Fundada em 1979, ela usa o modelo de Hype Cycle da Gartner adaptado para a educação. 6 Dentre as diversas iniciativas promovidas pela Educause (https://www.educause.edu/), destacamos os estudos sobre melhores práticas de TI para instituições de ensino superior. Separamos algumas tendências de uso de tecnologia no contexto educacional para que você conheça suas características e possibilidades de aplicação para a Educação Básica e Ensino Superior. Veja a seguir: ARMAZENAMENTO EM NUVEM O acesso a qualquer hora e em qualquer lugar é o grande apelo do uso de nuvem. Além de compartilhar arquivos e materiais, as ferramentas de colaboração presentes nessas plataformas permitem cocriar, o que facilita o uso para trabalhos em grupo. Soma-se a isso a quase infinita capacidade de armazenamento de conteúdo. ROBÓTICA EDUCACIONAL Muitas escolas começaram a oferecer em seus currículos a disciplina de Robótica, algo que já existia com mais frequência no Ensino Superior, em especial nos cursos de Engenharia e de Tecnologia. Seu estudo estimula a associação entre teoria e prática, além usar o erro e a criatividade como métodos de ensino. Outro aspecto fundamental é a possibilidade de inserir o ensino de linguagem de programação como parte da metodologia, permitindo explorar a competência de pensamento computacional. REALIDADE VIRTUAL, AUMENTADA E MISTA Primeiramente, é importante conhecer as diferenças: • A realidade virtual ocorre quando temos a sensação de imersão e usamos um óculos específico para isso; • A realidade aumentada usa um dispositivo (como o celular) para expandir a realidade física observável; • A realidade mista mescla aspectos físicos com virtuais, como, por exemplo, um voo virtual de asa-delta com o uso de ventiladores e molas para simular o ambiente físico real. USO DE DISPOSITIVOS MÓVEIS Apesar de ainda ser visto como um inimigo do professor, o celular pode ser um grande aliado para o emprego de novas metodologias. Os benefícios são muitos: leitura de textos didáticos, pesquisa, atividades online síncronas, criação de conteúdo, uso de aplicativos educacionais etc. É óbvio que a implementação e o monitoramento do uso de dispositivos em sala de aula são essenciais para o sucesso. Uma das preocupações deve ser a democratização do uso, assegurando que todos os alunos tenham iguais condições para estudar. Por isso, é comum encontrarmos iniciativas em que a escola disponibiliza um dispositivo para cada aluno. INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL (IA) Trata-se de um vastíssimo campo de aplicação. Porém, se concentrarmos o foco no contexto educacional, podemos destacar algumas aplicações: • Tecnologias de voz: a IA permite aplicar tecnologias como speech-to-text (“da fala para texto”) para traduzir simultaneamente conversas em ferramentas de comunicação por vídeo, bem como usar assistentes virtuais por comando de voz para fazer anotações; • Uso de chatbots: mecanismos de conversação com robôs, que simulam linguagem natural, podendo ser aplicado para sanar dúvidas de conteúdo, por exemplo; • Reconhecimento facial: pode ser usado para marcar frequência de alunos, capturar emoções, como atenção, desatenção, apatia etc. MÓDULO 3 Aplicar as tecnologias digitais em sala de aula para alcançar diferentes objetivos educacionais Como aplicar as tecnologias digitais em sala de aula Antes de conhecer as diferentes aplicações das tecnologias digitais, assista ao vídeo a seguir, que mostra como o Colégio Internacional Everest utiliza as tecnologias digitais em seu contexto escolar. A partir de agora, você conhecerá algumas ferramentas digitais que poderão ser aplicadas em sala de aula, com o objetivo de tornar o processo ensino e aprendizagem mais dinâmico, divertido e motivador. Enquanto você conhece os diferentes tipos de ferramentas, aproveite as dicas e tutorais para criar os seus próprios recursos educativos. Vamos lá! Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) AVA é uma plataforma digital que permite o desenvolvimento de cursos online. Nesse espaço, é possível disponibilizar conteúdos interativos e objetos de aprendizagem, desenvolver avaliações de aprendizagem, gerenciar o desenvolvimento dos alunos e interagir com outras pessoas. Essas ações fazem desses ambientes virtuais locais ricos para a construção e compartilhamento de conhecimento. E quais são os benefícios dos AVA? Com base em Schelemmer 7 (2005), elencamos os principais benefícios para o professor e para o aluno. PROFESSOR • Permite que a informação alcance um número elevado de pessoas, uma vez que não há limites de tempo ou espaço; • Possibilita a disponibilização, atualização e compartilhamento de informações em tempo real; • Atua como suporte para práticas educacionais interdisciplinares e transdisciplinares; • Permite a adequação da abordagem de ensino aos diferentes estilos de aprendizagem e às características da comunidade para a qual o curso será direcionado. ALUNO • Possibilita acesso fácil à informação, uma vez que o aluno pode acessar de qualquer lugar e em qualquer horário; • Permite o compartilhamento de informações e a criação de conteúdos de forma coletiva; • Permite que a ação educacional seja mais adequada às necessidades do aluno, uma vez que o tempo e os métodos podem ser correspondentes ao seu perfil. Hoje, muitos AVA estão disponíveis gratuitamente, possibilitando que professores de diferentes áreas de conhecimento criem espaços de aprendizagem virtual voltados 7 Eliane Schlemmer é doutora em Informática na Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atua em projetos voltados para a área de Educação e Tecnologias Digitais e é autora de livros sobre a temática, como: Comunidades de Aprendizagem e de Prática de Metaversos; Learning in Metaverses: Co-Existing in Real Virtuality (Aprendizagem em metaversos: coexistem na realidade virtual). para o seu contexto educacional. Por isso, a seguir, vamos apresentar alguns AVA que poderão servir como suporte para a construção desses ambientes. Crie o seu próprio ambiente virtual! Acesse o material online e saiba como. Conteúdos digitais Outra forma de aplicar as tecnologias digitais no ambiente escolar é através da criação de conteúdos digitais, que podem ser disponibilizados em sites ou blogs e criados em sistemas gerenciadores de conteúdos. O professor, então, pode mudar a dinâmica das aulas usando essa ferramenta como apoio para: • Transmissão e compartilhamento de conteúdos e informações • Interações com os alunos além do espaço escolar • Utilização de diferentes mídias, como áudio e vídeo • Desenvolvimento de atividades de pesquisa • Disponibilização de testes e avaliações Mas como criar conteúdos digitais educativos? 1. Comece planejando como será o seu site ou blog: qual é o público-alvo, quais serão os assuntos abordados, qual será a estrutura e como será a identidade visual. 2. Escolha um layout agradável. A identidade visual precisa ser harmônica: ícones, imagens e fontes devem seguir um padrão visual. Alguns gerenciadores de conteúdo disponibilizam templates prontos. Basta escolher o que mais se adequa ao seu projeto. 3. Crie espaços de interação com os alunos onde eles poderão colocar dúvidas, sugestões e expor as suas opiniões e ideias. Aproveite para integrar as redes sociais ao seu site. Elas são excelentes espaços de interação com os alunos. 4. Utilize diferentes mídias, como vídeos, músicas, podcasts, aplicativos, revistas digitais, jogos, dentre outras. Crie o seu próprio conteúdo digital! Acesse o material online e saiba como. Objetos de Aprendizagem Os Objetos de Aprendizagem (OA) são recursos, digitais ou não, usados como suporte para o desenvolvimento da aprendizagem, que podem ser reutilizados, permitindo a aplicação em diferentes contextos. Para que um recurso seja considerado um OA, utilizado em cursos a distância, ele deve atender a alguns critérios apresentados a seguir, com base em Braga8 (2012): • Atender a uma função didática - Deve ter objetivos de aprendizagem claros e alcançáveis; • Disponibilidade - Precisa ser facilmente encontrado pelo usuário; • Acessibilidade - Deve ser acessado por qualquer pessoa (com ou sem deficiência) e utilizado em diferentes contextos; • Precisão - Deve atender, com precisão, aos requisitos propostos; • Confiabilidade - A estrutura deve estar em perfeito funcionamento, sem erros no conteúdo; • Portabilidade - Deve funcionar em diferentes sistemas, AVA e dispositivos; 8 Juliana Cristina Braga é doutora em Computação Aplicada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (2004), mestre em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Viçosa (2000) e graduada em Ciência da Computação pela Universidade Federal de Viçosa (1997). Atua, principalmente, em temas relacionados à área de Computação. Atualmente, é pesquisadora e professora da Universidade Federal do ABC e uma das líderes do grupo de pesquisa INTERA - Inteligência em Tecnologias Educacionais e Recursos Acessíveis. Além disso, é autora de dois livros sobre objetos de aprendizagem. • Interoperabilidade - Deve permitir que os dados sejam exportados para diferentes sistemas; • Usabilidade - Deve ser de fácil utilização e seguir os padrões de usabilidade. Como exemplos de Objetos de Aprendizagem, temos: • Vídeos • Podcasts • E-books • Infográficos • Jogos • Recursos de realidade aumentada Que tal criar alguns objetos de aprendizagem? Acesse o material online e saiba como. Avaliações Online A avaliação da aprendizagem é uma das etapas fundamentais do processo de ensino e aprendizagem, pois é o momento em que se faz um diagnóstico dos conhecimentos do aluno, pode-se verificar o seu progresso e se ele alcançou os objetivos propostos ao final da ação educacional. Hoje, existem diversas ferramentas que permitem ao professor elaborar testes, questionários e trabalhos e disponibilizá-los em plataformas online, possibilitando que os alunos realizem as avaliações e tenham acesso ao resultado da sua performance. Veja algumas dicas para elaborar avaliações online: 1. As questões da avaliação devem contemplar todos os temas abordados no conteúdo. Você pode elaborar uma questão para cada tópico para garantir que todos os temas sejam contemplados. 2. Elabore questões baseadas em exemplos da vida real. Isso aproxima o conteúdo ao contexto dos alunos e os estimula a refletir sobre questões práticas. 3. Diversifique os tipos de questões de acordo com as ferramentas e com o ambiente virtual que você utilizará. 4. Elabore textos claros e diretos. O aluno precisa compreender claramente o que é solicitado e quais são os comandos que deve realizar. 5. Limite o tempo de realização da avaliação e as tentativas de resposta. Isso estimula o aluno a buscar o melhor desempenho nas avaliações. 6. Elabore feedbacks para todas as questões, explicando as que estão certas e as que estão erradas. Lembre-se que o aluno, na maioria das vezes, realiza a avaliação online sozinho. Por isso, é necessário ser claro nos feedbacks. Que tal criar algumas avaliações online? Acesse o material online e saiba como. CONSIDERAÇÕES FINAIS Como vimos, o uso das tecnologias digitais em sala de aula permite aproximar os métodos de ensino à realidade do aluno. Essas tecnologias também são ferramentas capazes de potencializar o aprendizado. Uma vez que as tecnologias evoluem continuamente, é importante que o professor esteja atento a essas mudanças, pois elas trazem novas possibilidades ao processo de ensino e aprendizagem, bem como novas competências a serem alcançadas pelo professor e pelos alunos. Referências BRAGA, J.; DOTTA, S. C.; Pimentel, Edson; STRANSKY, B. Desafios para o Desenvolvimento de Objetos de Aprendizagem Reutilizáveis e de Qualidade. In: DesafIE - Workshop de Desafios da Computação aplicados à Educação, 2012, Curitiba. Anais do DesafIE - Workshop de Desafios da Computação aplicados à Educação, 2012. LÈVY, P. Cibercultura. São Paulo: 34, 1999. LUND, M. Os três tipos de inovação de Clayton Christensen. Disponível em: https://epocanegocios.globo.com/Economia/noticia/2019/02/os-tres-tipos-deinovacao-de-clayton-christensen.html. Acesso em: 22 out. 2019. RAMOS, B. Eletrônicos estão substituindo livre brincar, aponta pesquisa. Disponível em: http://www.ebc.com.br/infantil/para-pais/2016/07/eletronicos-estao-substituindolivre-brincar-aponta-pesquisa. Acesso em: 22 out. 2019. REVISTA EXAME. A Geração Z e a conexão 24 horas por dia. Disponível em: https://exame.abril.com.br/tecnologia/a-geracao-z-e-a-conexao-24-horas-por-dia/. Acesso em: 22 out. 2019. SCHELEMMER, Eliane; Ambiente virtual de aprendizagem (AVA): uma proposta para a sociedade em rede na cultura da aprendizagem. In: VALENTINI, Carla Beatris; SOARES, Eliana Maria do Sacramento. Aprendizagem em Ambientes Virtuais: compartilhando ideias e construindo cenários. Caxias do Sul: EDUCs, 2005.