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DIDÁTICA
AULA 1
CONCEITO DE DIDÁTICA E SUA ORIGEM
VISÃO GERAL
Este tema é referente ao Conceito de Didática e sua Origem. Abordaremos a
construção histórica de Didática e sua efetivação como um campo de conhecimento da
Educação.
Compreender o conceito e a origem da Didática é importante para pensar sobre as
teorias de ensino e os métodos no processo de ensino e aprendizagem.
OBJETIVOS
1. Descrever conceitos fundamentais de didática e sua importância;
2. Explicar os desafios do ofício pedagógico;
3. Relacionar conceitos comenianos às práticas didáticas atuais.
CONCEITUAÇÃO
Vamos fazer uma reflexão:
1. Pense em você quando criança e em uma aula da sua matéria favorita.
2. Agora, pense na postura daquele professor ou professora que conseguiu cativar
a sua atenção, fazendo com que você tivesse mais simpatia pela matéria
lecionada.
3. Por último, pense em todos os atributos que esse profissional tinha que
conseguiam prender a sua atenção.
Já passou pela sua cabeça a quantidade de planejamento, treinamento e reflexão que
esse mesmo professor (ou professora) teve de percorrer para estar naquela sala de
aula?
Para que esse profissional estivesse na sua frente, foi trilhado um caminho que
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chamamos de Formação de Professores. E a Didática é uma parte primordial desse
caminho.
Ela é, efetivamente, um conjunto de procedimentos e métodos para instrução do ensino
aliada à Teoria Geral do Processo de Ensino e Aprendizagem (falaremos mais sobre
esse processo a seguir).
Saiba mais: você sabia que a Didática também é considerada uma ciência pedagógica? Por conta dessa
definição, todos os cursos de Pedagogia e Licenciaturas exigem essa disciplina nocurrículo, tornando-a parte
donúcleocomum eobrigatóriodaformaçãoacadêmicanesses cursos.
A Didática é um elemento pedagógico imprescindível para a docência, seja ela em
qualquer nível (ensino básico ou superior) ou modalidade (presencial ou a distancia).
Didática também pode ser entendida tanto como ciência quanto como arte do ensino
(HAIDT, 2011). Você deve estar se perguntando “como assim também?”. Afinal, o
conceito de Didática já foi explicado. Mas, veja bem, levando em consideração o fato de
ela abranger todos os procedimentos instrucionais, pode ser definida de várias formas.
Esse módulo explica isso de maneira mais objetiva. Então, não se assuste se, durante
esse conteúdo, surgirem mais definições de Didática. Os múltiplos significados
apresentados não se invalidam, mas se complementam.
Importante: a pedagoga Vera Candau tem uma fala que sintetiza muito bem a essência da
Didática…
“[...] a didática, em uma perspectiva instrumental, é concebida como um conjunto de
conhecimentos técnicos sobre o “como fazer” pedagógico, conhecimentos estes apresentados de
forma universal e, consequentemente, desvinculados dos problemas relativos ao sentido e aos fins
da educação, dos conteúdos específicos, assim como do contexto sociocultural concreto em que
foram gerados.”
(CANDAU,1997)
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PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM
Concluímos até aqui que existe um processo de ensino e aprendizagem em questão, e
a Didática entra nesse processo como ferramenta para auxiliar a escolha de estratégias
adequadas. Esse processo pode ser dividido em dois grandes momentos distintos, que
estão continuamente interligados:
1. Momento da reflexão teórica:
Quais instrumentos e técnicas para ensinar?
2. Direção da prática:
Como realizar um processo de aprendizagem com mais qualidade?
Curiosidade: você já percebeu, então, que apesar da Pedagogia e da Didática terem significados diferentes,
estão interligadas, certo?! Por isso, definimos:
● Didática (como já vimos): ciência e arte do Ensino.
● Pedagogia: ciência e arte da Educação.
(HAIDT, 2011)
O processo de ensino e aprendizagem não é uma tarefa fácil e exige um olhar atento
aos processos pedagógicos e às discussões contemporâneas sobre Educação. É
preciso pensar novas imagens sobre esse processo e levar experiências interessantes
para o educando.
Vejamos mais uma definição da Didática: área específica de estudo sobre conteúdos,
métodos e técnicas ideais para a construção das estratégias facilitadoras para o
processo de ensino e aprendizagem.
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PAPEL DO PEDAGOGO
Atualmente, há um discurso, às vezes mal-entendido, que o profissional de ensino
precisa ser o mediador do conhecimento ou não será mais necessário no futuro
(LIBÂNEO, 2010).
Muito pelo contrário: o professor, para atuar em sala de aula precisa não só fazer a
diferença na vida de seus alunos como utilizar fundamentos didáticos clássicos. E
alinhar a essas estratégias uma prática didático-pedagógica que considere os novos
tempos e as tecnologias disponíveis.
As principais discussões no campo da Didática apontam que o professor continuará
atuando e orientando o processo de aprendizagem em qualquer nível ou modalidade.
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A Didática, naturalmente, lida com os componentes técnica, aluno e realidade.
E isso inclui considerar:
● Os desafios do processo;
● As bases filosóficas;
● As bases histórico-sociais;
● As necessidades do aluno;
● As bases políticas.
Saiba mais: também é necessário que o profissional esteja atento às modificações sociotécnicas
que têm ocorrido nos últimos anos e considerar os atributos específicos das gerações mais novas:
os nativos digitais (pessoas que nasceram em meio às últimas tecnologias e não tiveram que
passar pela mesma adaptação que gerações anteriores).
Falando em tecnologia, é importante dizer que, com o avanço dela e com as variadas
mudanças nas normas educacionais no Brasil, a atualização constante se faz
necessária na vida de qualquer profissional. É preciso não só desenvolver
competências adequadas e coerentes ao ensino, como prestar atenção nesses pontos
– estudando, pesquisando e adaptando seus métodos à realidade na qual os
educandos vivem.
Ou seja, é essencial saber aprender para ensinar.
APLICAÇÃO DA DIDÁTICA
Ao utilizar saberes didáticos-pedagógicos em sala de aula, o professor demonstra
capacitação e a formação adequada. Mas, esse domínio de técnicas pedagógicas
precisa estar vinculado com conhecimento sobre os conteúdos a serem trabalhados
(nível conceitual) e com a inteligência emocional do docente (nível atitudinal), tão
necessária para o trato com as várias situações comuns e incomuns que podem
ocorrer em sala de aula e no contexto escolar.
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METODOLOGIA
=
DIMENSÃO CONCEITUAL
+
DIMENSÃO TÉCNICA
+
DIMENSÃO ATITUDINAL
Saiba mais: Beda, o Venerável (séc. VIII), considerado um dos eruditos da língua inglesa, tem, entre
suas afirmações:
“Há três caminhos para o fracasso: não ensinar o que se sabe, não praticar o que se ensina, e não
perguntar o que se ignora.”
ORIGEM DA DIDÁTICA
A seguir, faremos uma breve retrospectiva para que possamos perceber a evolução do
Ensino através dos tempos:
1. Pré-história: ensinar e aprender sempre foram processos inerentes às
práticas humanas.
Desde os primórdios da humanidade, podemos constatar através da evolução as
famílias e comunidades primitivas ensinando seus filhos e membros as
atividades da tribo, rituais e práticas sociais.
Certamente, com o passar dos anos, essas práticas foram ganhando uma
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estrutura de Didática e finalmente se tornaram uma ação didático-pedagógica.
Essa evolução estrutural dos processos didáticos contribuiu para a formação do
conceito de Didática.
2. Grécia antiga: a “formação do homem grego” foi solidificada,
necessariamente, pela compreensão de que:
“Não se pode evitar o emprego de expressões modernas como civilização, cultura,
tradição literatura ou educação. Nenhuma delas, porém, coincide realmente com o
que os gregos entendiam por Paideia [...]. Teríamos de empregá-los todos de uma
vez!”
(JAEGER, 2001)
Mas havia limite em tal formação, especialmente por conta da estreita ideia de
cidadania, que somente seria ampliada muito mais tarde.
E embora essa herança grega tenha permanecido por séculos, foi necessário
que uma nova obra trouxesse
um novo foco sobre a arte de educar ou sobre o
processo de educar...
3. No século XVII, a tal “sistematização do processo de ensinar” foi
finalmente consolidada pelo filósofo tcheco Johannes Amos Comenius
(1592-1670).
Em 1657, Comenius escreveu um livro para divulgar essas ideias, chamado
Didática Magna e é sobre a importância desse livro que falaremos a seguir.
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BASE TEÓRICA
Observe os livros acima: Didática Magna, de Comenius e Paideia, de Jaeger. Embora
eles não possam resumir toda a história da Didática, são materiais fundamentais na
compreensão desse processo.
Comenius é considerado um grande inovador em relação aos processos de ensino e
aprendizagem, porque já naquela época, ele defendia a universalidade da educação,
com o lema:
“Ensinar tudo a todos”.
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Assim, iniciou um método mais ativo e efetivo que partia dos conhecimentos mais
simples aos mais complexos - ideia também levantada por René Descartes
(1596-1650), conhecida como método cartesiano.
Os principais fundamentos do pensamento pedagógico de Comenius baseiam-se em 4
pilares:
1. Aquilo que o aluno deve construir como um saber.
2. O que nós, professores, temos que ensinar.
3. O conhecimento tem que ter aplicação prática e sólida.
4. O processo de ensinar deve ser claro e objetivo, e se pautar pelas necessidades
do indivíduo.
A seguir, uma parte da Didática Magna:
“Processo seguro e excelente de instituir, em todas as comunidades de qualquer reino cristão, cidades e
aldeias, escolas tais que toda a juventude de um e de outro sexo, sem excetuar ninguém para que possa ser
formada nos estudos, educada nos bons costumes, impregnada de piedade, e, desta maneira, possa ser, nos
anos da puberdade, instruída em tudo o que diz respeito à vida presente e à futura, com economia de tempo
e de fadiga, com agrado e com solidez.
Onde os fundamentos de todas as coisas que se aconselham são tirados da própria natureza das coisas; a
sua verdade é demonstrada com exemplos paralelos das artes mecânicas; o curso dos estudos é distribuído
por anos, meses, dias e horas; e, enfim, é indicado um caminho fácil e seguro de pôr estas coisas em prática
com bom resultado.
A proa e a popa da nossa Didática será investigar e descobrir o método segundo o qual os professores
ensinem menos e os estudantes aprendam mais; nas escolas, haja menos barulho, menos enfado, menos
trabalho inútil, e, ao contrário, haja mais recolhimento, mais atrativo e mais sólido progresso; na
Cristandade, haja menos trevas, menos confusão, menos dissídios, e mais luz, mais ordem, mais paz e mais
tranquilidade.
Que Deus tenha piedade de nós e nos abençoe! Faça brilhar sobre nós a luz da sua face e tenha piedade de
nós! Para que sobre esta terra possamos conhecer o teu caminho, ó Senhor, e a tua ajuda salutar a todas as
gentes (Salmo 66, 1-2).”
(COMENIUS, 2001.)
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A seguir, sintetizamos as principais ideias publicadas em Didática Magna:
1. Realidade do aluno
Comenius entendia que a Educação precisa utilizar a experiência pessoal do
aprendente como parte do processo. Para isso, o aluno precisava observar sua
realidade para depois agir sobre ela. Ele também instituiu o diálogo como forma de
aproximação e afeição do aluno com o conteúdo estudado.
2. Universalização da Educação
Outro ponto muito importante é sobre a ideia de universalização da Educação, porque
ele determina que a educação deve ser para todos os sexos (como sabemos, a mulher,
em muitos períodos históricos foi excluída dos processos escolares).
3. Ética e valores
Para Comenius, o processo da educação não é apenas o conteúdo a ser estudado, mas
a aprendizagem de valores e de atitudes que ajudarão a pessoa a ser melhor no
presente e no futuro. Os propósitos educativos precisam estar baseados no raciocínio
lógico, na investigação científica e na formação do conceito de ser humano enquanto
um sujeito moral, social, político, racional e afetivo. Um objetivo fundamental da
educação de Comenius era formar um sujeito bom e virtuoso, dotado de fé, a ponto de
praticar boas ações mediante às capacidades subjetivas do aluno.
4. Simplificação e aplicabilidade
Uma sinalização importante de Comenius: a Didática precisa agregar técnicas e
métodos que deixem o processo de aprendizado mais rápido, agradável, racional e
sirva para o sujeito no meio social.
5. Construção do saber
O processo de construção de saberes não é algo estanque e destituído de significado e
das relações com outras ciências, conteúdos e significados. Ao contrário, aprender é
estabelecer inter-relações entre os conteúdos e temas estudados.
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Esses são os principais pontos que podemos destacar de Comenius e sua
contribuição para a área da Educação e, especificamente, para o campo da Didática.
CONCLUSÃO
As ideias de Comenius certificam o pensamento do professor atual, baseadas nos
pilares da Educação e descrito no documento Educação: um tesouro a descobrir, de
Jacques Delors. Esse documento estabelece, entre outros assuntos, que a Didática
precisa ser centrada no desenvolvimento das quatro aprendizagens fundamentais
consideradas os pilares do conhecimento descritos abaixo:
1. Aprender a conhecer
2. Aprender a fazer
3. Aprender a conviver
4. Aprender a ser
(DELORS, 2001)
Ou seja, um documento orientado para professores e alunos do século XXI tem
semelhanças com as ideias de Comenius, que viveu lá no século XVII. Com isso, vemos
o quão inovador era Comenius.
Conceitos atuais como educação interdisciplinar, afetiva, colaborativa e baseada em
pesquisas e projetos foram levantados por Comenius em seu tempo. Ele entendia que a
escola não poderia ser um local de intranquilidade e desgosto para as crianças, mas
um lugar que desperte a curiosidade e a capacidade de pensar e imaginar.
CONQUISTAS ADQUIRIDAS
● Capacidade de pensar o processo pedagógico, o ensino e o papel que vai
assumir na construção do ensino e aprendizagem.
● Fortalecimento do espírito crítico e da inteligência emocional por meio da
contextualização do meio em que se vive.
● Habilidade de pensar conceitualmente a Didática e sua literatura.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CANDAU, Vera Maria. Da didática fundamental ao fundamental da didática.
In:OLIVEIRA, Maria Rita Neto Sales. DE ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso (Orgs.).
Alternativa no ensino de didática. Campinas, SP: Papirus, 1997, p. 71 – 95.
COMENIUS. Didática Magna. São Paulo: Martins Fontes, 2011.
DELORS, Jacques. Educação: tesouro a descobrir. São Paulo: Cortez; Brasília:
MEC/UNESCO, 2001.
HAIDT, Regina Célia Cazaux. Curso de Didática Geral. São Paulo: Ática, 2011.
JAEGER, Werner. Paideia. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
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AULA 2
TENDêNCIAS PEDAGÓGICAS
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DEFINIÇÃO DO TEMA
Neste tema, discutiremos as tendências pedagógicas liberal e progressista e a maneira
como elas influenciam a Educação.
PROPÓSITO
Este tema tem como finalidade a compreensão e a análise da Educação a partir dos
referenciais teóricos que a influenciam.
OBJETIVOS
IDENTIFICAR AS DUAS GRANDES TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS: LIBERAL E
PROGRESSISTA
CARACTERIZAR AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS LIBERAIS
DISTINGUIR AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS PROGRESSISTAS
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INTRODUÇÃO
O que é Tendência?
De acordo com o dicionário Priberam, a palavra tendência significa:
“A ação ou força pela qual um corpo tende a mover-se para alguma parte.”
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Nesse sentido, as tendências correspondem aos princípios que orientam as ações de
cada indivíduo. No campo educacional não é diferente: o professor, a escola, o aluno e
o ensino estão marcados por pensamentos que exercem forte influência sobre
as práticas educativas. Dessa forma, é importante compreender as características de
cada tendência pedagógica, pois esse conhecimento lhe ajudará a decidir os caminhos
que deseja seguir no processo de ensino-aprendizagem.
VOCÊ PERCEBEU A DIFERENÇA
NAS ABORDAGENS DE CADA
PROFESSOR?
Como vimos,
os princípios que
escolhemos orientam a nossa prática e a
forma como organizamos a Educação.
Eles podem ser sintetizados em
tendências, as quais veremos a partir de
agora.
PEDAGOGIA LIBERAL × PEDAGOGIA PROGRESSISTA
O contexto escolar é permeado por diferentes concepções de homem e de sociedade, ou
seja, há diferentes formas de enxergar o papel do homem no âmbito social e essas visões
influenciam a prática escolar. É nesse ponto que as tendências liberal e progressista se
diferenciam: ambas possuem visões particulares sobre a relação Homem × Sociedade.
Essa distinção acontece porque as tendências pedagógicas estão situadas
historicamente e se desenvolveram como resposta ao contexto social no qual surgiram.
Vejamos, com base em Libâneo* (1989), como essas tendências descrevem a
relação Homem × Sociedade e qual foi o contexto histórico em que elas se
desenvolveram.
*Libâneo: José Carlos Libâneo nasceu em 1945, em Angatuba – SP. Graduou-se em
Filosofia pela Pontífica Universidade Católica de São Paulo em 1966. É doutor em
educação e autor do livro “Democratização da Escola Pública – A Revisão Crítico-Social
dos Conteúdos”, onde defende uma escola que valorize a consciência crítica e que
permita ao indivíduo das classes dominadas superar a sua condição de oprimido.
(Informações coletadas do Currículo Lattes em 30/09/2019.)
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SÉCULOS XVIII / XIX
TENDÊNCIA LIBERAL
Na concepção liberal*, os papéis que
os indivíduos devem desempenhar
são voltados para a sociedade. Nesse
sentido, cabe à escola preparar
o indivíduo, de acordo com as
suas aptidões, para atender às demandas
sociais.
MARCO DO PERÍODO
Industrialização / Iluminismo / Revolução
científica
As ideias liberais são influenciadas
por Jonh Locke* e Adam Smith*. No
período entre os séculos XVIII e XIX a
sociedade vive uma série de
transformações: crescimento urbano,
processo de industrialização e aumento
das relações de troca (pessoas,
tecnologias e econômicas). Foi nesse
período, também, que notamos o
desenvolvimento de uma Revolução
Científica.
*Liberal: O pensamento liberal defende a liberdade política e econômica.
Alguns dos princípios do liberalismo são:
• Defesa da propriedade privada;
• Livre mercado;
• Mínima participação do Estado na economia;
• Igualdade perante à lei.
*John Locke: John Locke (1632-1704) nasceu na aldeia de Somerset, em Wrington, na
Inglaterra. Foi um dos principais representantes do empirismo, doutrina que afirmava que
o conhecimento era determinado pela experiência sensorial.
(Informações coletadas do site Ebiografia em 09/10/2019)
*Adam Smith: Adam Smith, (1723-1790) foi um economista e filósofo escocês. Ele é
considerado um dos maiores defensores do liberalismo econômico e também é
reconhecido como o pai da economia moderna.
(Informações coletadas do site Ebiografia em 09/10/2019)
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SÉCULO XX
TENDÊNCIA PROGRESSISTA
Na concepção progressista, o homem é
pensado como um protagonista. A escola,
nesse sentido, deve fornecer
os instrumentos necessários para que
o indivíduo possa discutir a sua atuação
em sociedade.
MARCO DO PERÍODO
Guerra Fria / Desenvolvimento
tecnológico
Após a Segunda Guerra Mundial o mundo
se dividiu em um conflito conhecido como
Guerra Fria. As tensões provocadas pela
disputa entre Estados Unidos e União
Soviética geraram críticas e movimentos,
que contestavam a ordem social
estabelecida. A disseminação do rádio e
da televisão associada à velocidade da
tecnologia e dos transportes
transformaram as relações sociais.
Como vimos, as tendências liberal e progressista surgiram em diferentes momentos
históricos. No entanto, não podemos entendê-las como se uma fosse sucessora da outra.
Cada tendência trouxe contribuições significativas para a Educação, que são aplicadas no
contexto escolar até os dias de hoje. Vejamos alguns exemplos:
TENDÊNCIA LIBERAL
Uma das técnicas de aprendizagem utilizadas por essa tendência é
a memorização, bastante comum no ensino de tarefas operacionais
ou de Matemática nas séries iniciais, para decorar tabuada, por
exemplo.
TENDÊNCIA PROGRESSISTA
Uma das técnicas utilizadas nessa tendência é a discussão em
grupo, muito empregada em diferentes áreas de conhecimento.
Podemos citar, como exemplo, uma atividade em sala de aula em
que um grupo de alunos de Publicidade se reúne para elaborar uma
estratégia de marketing.
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Perceba que a implementação dessas tendências no processo de ensinoaprendizagem está condicionado ao tipo de conhecimento que será aprendido e
ao contexto no qual essa aprendizagem será construída. Nos próximos módulos, vamos
conhecer as principais características das tendências liberal e progressista e
entenderemos como elas se subdividem.
Importante
A Didática auxilia a interpretação dessas tendências pedagógicas
para explorar os modos de fazer e de pensar na Educação.
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VERIFICANDO O APRENDIZADO
Para desbloquear o próximo módulo, é necessário que responda corretamente a uma das
questões a seguir.
1. Das afirmações a seguir, marque a que mais se adequa à Pedagogia Liberal:
a) O aluno é um sujeito ativo na construção do conhecimento e o professor atua como um
facilitador para que a aprendizagem ocorra.
b) A escola deve preparar os indivíduos para exercer os papéis sociais, permitindo que
eles estejam prontos às exigências do mercado e da sociedade em geral.
c) Os conteúdos que devem ser aprendidos são definidos exclusivamente a partir do
contexto social do aluno.
d) O aluno possui a autogestão da sua experiência de aprendizagem, inclusive na escolha
do conteúdo que estudará.
Feedback
A resposta certa é a letra B.
A Tendência Pedagógica Liberal dá ênfase ao ensino e ao conteúdo que o aluno deve
aprender a fim de responder plenamente às expectativas da sociedade em que está
inserido. Assim, o professor é responsável pelo processo de ensino-aprendizagem,
enquanto o aluno deve aproveitar ao máximo o conhecimento transmitido.
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2. A Educação, historicamente, prepara o indivíduo para assumir o seu papel na
sociedade. Com as transformações no contexto social, modifica-se a percepção sobre a
atuação de professores e alunos.
Com base nisso, analise as afirmações a seguir e marque aquela que apresenta a
proposta da Pedagogia Progressista.
a) O professor deve incorporar a realidade do aluno como ponto de partida para a ação
educativa, favorecendo a conscientização das realidades sociais e culturais.
b) objetivo da Educação é definir os caminhos que todos os alunos devem seguir,
considerando, em alguma medida, suas características individuais.
c) No processo de ensino-aprendizagem, o professor é o responsável por transmitir os
conhecimentos que devem ser aprendidos pelo aluno.
d) Os alunos devem ser preparados para que exerçam, de maneira eficiente, o seu papel
social, que é historicamente estabelecido.
Feedback
A resposta certa é a letra A.
A Pedagogia Progressista faz uma análise crítica da realidade social e do papel da
Educação, propondo que o aluno seja responsável pela sua aprendizagem e construtor de
seu papel social.
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PEDAGOGIA LIBERAL
Muitos conhecem o liberalismo somente como uma tendência econômica, mas esse
movimento deve ser compreendido, também, em seu caráter filosófico.
Algumas demandas sociais e acontecimentos históricos marcaram o momento
de ascensão do liberalismo:
Diversas revoluções foram influenciadas pelo pensamento liberal, como as revoluções
inglesa e francesa e a Primavera dos Povos*. O liberalismo também ganhou força
especial com a nova dinâmica social experimentada no século XIX, que trouxe o modelo
econômico baseado na liberdade de produção e na propriedade privada, chamado
de capitalismo*.
*Revoluções inglesa e francesa e a Primavera dos Povos: Essas revoluções marcam as
mudanças dos sistemas políticos e a implementação de um modelo econômico
influenciado por uma política liberal. Baseado nas ideias de Adam Smith, os ingleses
fizeram a sua revolução em uma disputa
entre a casa das duas rosas (conflito entre a
casa de Lancaster e a Casa de York, que disputavam o trono inglês). Em seguida, na
Revolução Francesa, a burguesia lutou para superar o antigo regime. Por fim, no restante
da Europa, ocorre uma série de movimentos contra a monarquia estabelecida na época.
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*Capitalismo: O livro História do Capitalismo, de Osvaldo Coggiola, faz uma retrospectiva
sobre como o capitalismo se desenvolveu. Sugerimos a leitura dele para que você
conheça um pouco mais sobre esse tema.
A pintura A liberdade guiando o povo, de Eugène Delacroix, retrata bem o espírito da
população nesse período e a motivação para a mudança.
“A liberdade guiando o povo” / Pintura de Eugène Delacroix.
A Pintura “A liberdade guiando o povo” foi feita por Eugène Delacroix, artista francês do
Romantismo. Interessado também nos temas políticos, Delacroix pintou esse quadro para
retratar os acontecimentos do seu país.
A mulher, denominada Marianne, foi representada usando um gorro, com uma arma na
mão esquerda e a bandeira da França na mão direita. Essa pintura virou símbolo da
Revolução Francesa, pois o gorro era um adereço utilizado pelos escravos libertos na
Grécia e em Roma. Marianne, então, representava o grito de resistência frente ao sistema
da época.
(Informações coletadas do site da Embaixada da França no Brasil em 27/09/2019).
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E como esse pensamento liberal se refletiu no Brasil?
Em 1889, o Brasil se tornou uma
República, tendo como principal
influência intelectual o positivismo*.
Essa filosofia era defendida
por Benjamin Constant*, um dos ícones
brasileiros que tinha um sonho
revolucionário para aquele período:
alfabetizar 20% dos brasileiros até 1920,
índice que foi considerado impossível de
ser alcançado. O desafio dele nos
mostra a situação em que a educação
brasileira se encontrava à época.
*Positivismo: O positivismo, corrente filosófica que defende o conhecimento científico
como o único verdadeiro, tem como principal representante Auguste Comte (1798 –
1857), filósofo francês que defendia a criação de uma filosofia positivista.
*Benjamin Constant: Benjamin Constant (1833 – 1891) foi militar e político brasileiro.
Influenciado pelo pensamento positivista, criou o slogan da bandeira brasileira: Ordem e
Progresso.
(Informações coletadas do site Ebiografia em 10/10/2019)
A influência do liberalismo na República
também pode ser observada na
composição da nossa bandeira, obra
geométrica formada por quadriláteros e
medianizes, que leva os dizeres “Ordem
e Progresso” e que marca a tentativa de
se organizar a educação brasileira.
Perceba que, em meio às transformações, a Educação não fica imune, ela assume a
função de preparar o indivíduo para esse novo mundo, criando possibilidades para que
ele desenvolva o seu potencial. A escola, nesse sentido, aperfeiçoa o homem,
fornecendo instrumentos para que ele cumpra o seu papel no progresso social.
Nesse contexto de mudanças, a Pedagogia Liberal se ramifica em três linhas de
pensamento:
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TENDÊNCIA TRADICIONAL
O que se percebe durante o século XVIII, com o avanço do liberalismo, é a multiplicação
desse pensamento com a motivação para a mudança social. Novas funções passaram a
existir. A sociedade precisava crescer e a preparação do indivíduo tornou-se fundamental
para a construção de uma sociedade melhor.
Como já entendemos, a preparação do indivíduo para exercer o seu papel social é função
da Educação. Vejamos as principais características da Tendência Tradicional que
mostram como ela organiza o Sistema Educacional para atender à demanda que lhe é
atribuída.
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escola relação professoraluno
conteúdo
Prepara o aluno
intelectualmente e
desenha o caminho
que
todos devem percorrer
para chegar ao
conhecimento.
O professor é a
autoridade em sala de
aula, pois é ele quem
domina o conhecimento
científico. Ele deve
valorizar a disciplina e
estabelecer uma relação
de respeito perante os
alunos.
São os
conhecimentos
enciclopédicos,
aqueles acumulados
pela sociedade, que
possuem valor
intelectual.
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método aprendizagem avaliação
São expositivos, focam
na comunicação oral
do conteúdo e na
demonstração feitas
pelo professor. Os
exercícios de repetição
são valorizados, pois
permitem que o aluno
memorize os
conceitos e as
fórmulas.
É receptiva e
mecânica, o aluno
deve seguir todos os
passos
estabelecidos pelo
professor para
assimilar o conteúdo.
Por isso,
são usados exercícios
de repetição para
garantir que o aluno
aprendeu a matéria.
É feita por meio de
provas orais e escritas,
testes e exercícios
para
casa, com o objetivo de
metrificar o
conhecimento.
Observe que, nessa tendência, o professor possui uma atuação primordial, pois ele é
quem define qual conteúdo será estudado e elabora o planejamento do processo de
ensino-aprendizagem. Por ter um papel central, cabe ao professor não só repassar os
conhecimentos, mas também observar os alunos, aconselhar e corrigir possíveis erros.
Como a Tendência Tradicional se reflete nos âmbitos individual e social?
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CONSEQUÊNCIAS NO ÂMBITO
INDIVIDUAL
CONSEQUÊNCIAS NO ÂMBITO
SOCIAL
• Atividades individuais;
• Foco no conhecimento científico;
• Valorização de uma única cultura
ensinada pela escola, podendo
gerar inadaptação cultural*;
• Aceitação passiva* das divisões
sociais.
• Conservação dos padrões sociais;
• Defesa da organização social;
• Preferência pela especulação
teórica* e pela prática como repetição.
*Inadaptação cultural: Exemplo - O filme “Escritores da Liberdade” conta a história da
professora Gruwell, mulher jovem e idealista que vai dar aulas em uma escola de um
bairro pobre. Em uma das cenas do filme, Gruwell entra na turma e se depara com um
grupo de alunos fazendo uma caricatura de um dos colegas e debochando dos traços
negroides dele. A professora, muito indignada, lembra os alunos do que era feito aos
judeus durante o Holocausto. Após algumas provocações, os alunos manifestam o desejo
de saber mais sobre o assunto.
*Aceitação passiva: Exemplo - O filme “Ray Charles” conta a vida desse cantor e pianista
que, apesar da cegueira que o acometeu aos 7 anos, desenvolveu uma habilidade incrível
ao tocar piano. Em uma das cenas do filme, Ray chega à Geórgia, estado do sudeste dos
EUA; e, mesmo diante dos protestos contra a segregação racial, ele diz: “Eu estou fazendo
o meu trabalho. Esse é só o meu dinheiro. Isso aqui é assim mesmo. Foi como eu
aprendi”. Ray Charles desperta de sua aceitação passiva quando presencia um dos
promotores do evento agredindo um dos jovens negros que tentava conversar com ele.
*Especulação teórica: Exemplo - O filme “O Sorriso de Mona Lisa” conta a história de
Katherine Watson, uma professora jovem que vai ministrar aulas em uma escola feminina
e tradicional. Nessa escola, as alunas são educadas para se tornarem esposas cultas e
mães responsáveis. Em uma das cenas do filme, a professora Katherine inicia sua aula
apresentando fotos das obras de arte que compõem o tema da aula. Enquanto a
professora apresenta as imagens, as alunas imediatamente falam, em coro, as
informações que leram sobre as obras. As alunas demonstram que leram todos os livros
sugeridos, porém, são incapazes de refletir sobre o que representa todo aquele conjunto
de informações.
Ao longo do tempo, a Tendência Tradicional sofreu várias críticas. Dentre elas, podemos
destacar a falta de relação dos conteúdos estudados com a vida dos alunos. No entanto,
essa tendência trouxe significativas contribuições para a Educação, pois os seus
métodos de ensino são utilizados até hoje em diferentes áreas de conhecimento.
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Quer entender melhor?
A professora Angela Maria Paiva Gama* nos mostra, a seguir, um exemplo de como
podemos utilizar as técnicas da Tendência Tradicional.
*Angela Maria Paiva Gama: Atualmente é professora auxiliar da Universidade Estácio de
Sá e coordenadora do Curso de Pedagogia no Campus
Freguesia – UNESA. Atua, desde
2010, como professora do Ensino a Distância da Universidade Estácio de Sá. A professora
também participa do Centro de Filosofia Educação Para o Pensar, desde 2002.
(Informações coletadas do Lattes em 16/10/2019)
Acredito que diferentes metodologias
permitem que os objetivos de
aprendizagem sejam alcançados. A aula
expositiva, por exemplo, deve fazer parte
da apresentação de conteúdos
sequenciais. Podemos, então, no ensino
de múltiplos e divisores nas operações
com frações, primeiro apresentar os
conteúdos em uma aula expositiva e,
posteriormente, trazer exercícios
práticos para que o aluno possa
memorizar o conteúdo.
Perceba que, nesse contexto, a exposição do conteúdo pelo professor é essencial para
que o aluno entenda as regras das operações com frações para, em seguida, colocar em
prática, fazendo uso de exercícios. A exposição e a repetição, por meio de exercícios
práticos, nesse caso, permitem que ocorra a naturalização do conteúdo e,
consequentemente, ocorra a aprendizagem.
SAIBA MAIS!
Leia a entrevista de Inger Enkvist, professora catedrática
emérita de espanhol da Universidade de Lund, defensora da
tendência tradicional, na qual afirma que “a nova pedagogia é
um erro”.
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Que tal fazer uma pausa para retomar o que aprendemos até aqui? Então, vamos lá!
Observando esse esquema, dá para perceber que ainda tem muita coisa para
aprendermos.
Então vamos voltar ao nosso estudo sobre as Tendências!
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TENDÊNCIA RENOVADORA
O período entre os anos de 1910 e 1940 foram marcantes para a história da humanidade.
As grandes potências econômicas europeias (Alemanha, Itália, Inglaterra e França)
lutavam para dominar o mundo, seja pelo monopólio de mercados, de matéria-prima, de
território ou pelo poder militar. Nesse mesmo período, os Estados Unidos se consolidam
como uma potência econômica, acentuando essa luta por supremacia. Foi esse cenário
de tensão que motivou as duas Grandes Guerras Mundiais, que transformaram a
humanidade nos campos da política, economia e social.
Nesse contexto, a Educação também começa a mudar e a Tendência Renovadora traz a
reflexão de que a Educação deveria ser ampliada para todos os indivíduos, com o objetivo
de construir uma sociedade mais justa e equilibrada.
A ideia era dar melhores condições de
formação educacional aos homens para
que eles pudessem atuar de forma
mais efetiva na sociedade.
Como essa tendência chegou ao Brasil?
No Brasil, a Tendência Renovadora começou a surgir entre as décadas de 1920 e 1930,
quando o pensamento liberal chega com mais força e encontra as discussões em torno
da ideia da Escola Nova. Há uma disputa pelo reconhecimento dos diferentes saberes,
mas ainda fazendo distinção entre o que é conhecimento geral e experiência cotidiana.
Vejamos as principais características da Tendência Renovadora:
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escola relação professoraluno
conteúdo
Procura adequar os
alunos, considerando
suas individualidades,
às necessidades da
sociedade. Essa
adaptação integra, na
medida do possível, as
exigências do meio
social aos interesses e
às experiências dos
alunos.
O professor deve
estabelecer uma
relação harmônica com
os alunos, pois isso
contribuirá para que
lidere as experiências
de aprendizagem.
São definidos a partir
das experiências que
os alunos vivenciam
na construção da
aprendizagem.
Valoriza-se mais o
processo de
apreensão do
conhecimento do que
o saber acumulado.
20 / 45
método aprendizagem avaliação
Estimulam o
aprender-fazendo,
com atividades de
pesquisa e
experimentação. As
atividades também são
elaboradas
considerando a etapa
de desenvolvimento do
aluno.
É uma atividade de
descoberta. O aluno é
estimulado a
experimentar o
conhecimento.
É contínua e busca
identificar os êxitos
dos alunos durante o
processo
ensino-aprendizagem.
Observe o que Silva (2014) fala sobre a Tendência Renovadora:
“
Como pressupostos de aprendizagem, aprender se
torna uma atividade de descoberta, é uma
autoaprendizagem, sendo o ambiente apenas um
meio estimulador. Só é retido aquilo que se
incorpora à atividade do aluno, através da
descoberta pessoal; o que é incorporado passa a
compor a estrutura cognitiva para ser empregado
em novas situações. É a tomada de consciência,
segundo Piaget*.
SILVA*, 2014
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*Jean Piaget: Jean Piaget (1896-1980) foi um renomado psicólogo e filósofo suíço,
conhecido por seu trabalho pioneiro no campo da inteligência infantil. Piaget passou
grande parte de sua carreira profissional interagindo com crianças e estudando seu
processo de raciocínio. Seus estudos tiveram um grande impacto sobre os campos da
Psicologia e Pedagogia.
(Informações coletadas do Portal Educação em 21/10/2019.)
*Délcio Barros da Silva: Délcio Barros da Silva é ex-professor do departamento de Letras
da Universidade Federal de Santa Maria e atuou no curso de Pedagogia da Universidade
Estadual do Rio Grande do Sul.
Perceba que essa tendência começa a valorizar os interesses do aluno, permitindo que
ele manifeste a sua curiosidade e criatividade, cabendo ao professor estimular e facilitar
o processo de construção do conhecimento. No entanto, assim como a Tendência
Tradicional, a Renovadora sofreu algumas críticas, principalmente na condução
da experiência de aprendizagem, pois, por ser uma tendência que valoriza a ação do
aluno, os educadores poderiam pensar que não haveria a necessidade de se planejar as
situações-problema que o aluno deveria vivenciar, gerando um não-direcionamento das
atividades.
Agora, que tal vermos um relato de experiência?
Veja o que o professor Rodrigo Rainha viveu durante uma de suas aulas de história e
como ele usou as ideias da Tendência Renovadora para facilitar a aprendizagem dos
alunos.
Enquanto falava sobre a Segunda Guerra
Mundial em uma de minhas aulas, percebi
que os alunos começaram a dormir, e um
deles me falou: "— Professor, não consigo
entender por que devo estudar a Segunda
Guerra, isso não vai me servir pra nada".
Então, notei que eu não estava
relacionando o assunto da aula à vida dos
alunos. Diante disso, pedi a eles que
refletissem sobre como as guerras afetam
a vida das pessoas. Em seguida, um aluno
descendente de imigrantes relatou como
sua família fugiu da guerra. Com isso, os
alunos compreenderam como as guerras
podem movimentar e mudar a vida de uma
sociedade.
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Como você pode perceber, nas situações de aprendizagem, é essencial que o aluno
consiga perceber a relação do conhecimento a ser aprendido com a sua vida prática.
Esse é um desafio, não é mesmo? No entanto, assim como o professor Rainha fez, o
primeiro passo para realizar essa contextualização é ouvir o que os alunos têm a dizer.
Importante
Se olharmos para a história, seremos levados a entender que a
educação liberal começou com a Tendência Tradicional e depois
evoluiu para a Pedagogia Renovadora. Porém, esse não foi um
processo de substituição de uma pela outra, pois ambas possuem a
mesma concepção: formam o sujeito para a sociedade.
TENDÊNCIA TECNICISTA
O tecnicismo é fruto da melhoria dos processos industriais e de uma sociedade urbana.
Nesse sentido, a sistematização passa a ser central para melhorar os produtos e
aumentar a produtividade. Essas concepções, ao chegarem à Educação, trouxeram
inegáveis avanços, como a implementação do planejamento para organizar o trabalho
docente. Foram concebidas, pela primeira vez, visões de que a Educação deveria ser
observada como um sistema dinâmico, uma fábrica, e, para que fosse eficiente, todos os
processos envolvidos precisavam ser controlados.
Para entender essa ideia de controle na Educação, observe o peso que a gestão
escolar exerce na gestão do ensino:
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Vamos conhecer as principais características da Tendência Tecnicista:
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escola relação professoraluno
conteúdo
Organiza o ensino,
articulando-o ao
sistema produtivo.
Dessa forma, a escola
pode formar os alunos,
tornando-os
competentes
para o
mercado de trabalho.
O professor é um
técnico responsável
por executar o
programa
educacional e ao aluno
cabe reproduzir aquilo
que foi instruído a fazer.
São baseados em leis
científicas e
organizados de maneira
lógica e sequencial.
Tudo o que é ensinado
precisa ser mensurado.
25 / 45
método aprendizagem avaliação
Utilizam técnicas de
repetição, cópia,
treino e correção para
que o
aluno possa executar as
experiências de
aprendizagem de
maneira eficiente.
O aprendizado se dá
quando o aluno é capaz
de executar
eficientemente aquilo
que foi direcionado a
fazer. Nesse sentido, a
aprendizagem ocorre
quando o aluno
apresenta
comportamentos
diferentes daqueles que
manifestava quando
iniciou o processo de
ensino-aprendizagem.
Usa recursos para
medir a aprendizagem
dos
alunos, como provas e
testes.
26 / 45
Para a tendência tecnicista, o aluno é o recebedor e é parte da esteira de execução
do processo de ensino-aprendizagem.
É claro que essa ênfase na execução do processo de aprendizagem pode gerar
um conhecimento fragmentado, pois o aluno foca excessivamente na técnica e deixa de
compreender os motivos pelos quais ele executa aquela ação.
Vamos fazer mais uma pausa para complementar o nosso esquema?
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Estamos quase fechando o nosso esquema. Já viu o que falta?
Mas antes de conhecermos a Pedagogia Progressista, vamos ver se entendemos mesmo
o que dizem as tendências da Pedagogia Liberal!
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VERIFICANDO O APRENDIZADO
Para desbloquear o próximo módulo, é necessário que responda corretamente a uma das
questões a seguir.
3. Observe atentamente a ilustração a seguir, identificando a ação da professora sobre o
pensamento de seus alunos.
Marque a alternativa que indica a qual tendência essa ação está alinhada, que descreve
corretamente suas características.
a) Tendência Tradicional: a escola tem como papel formar o sujeito intelectualmente; o
aluno recebe os conhecimentos emitidos pelo professor.
b) Tendência Renovadora: a escola propicia experiências para o aluno; o professor é um
facilitador da experiência de aprendizagem.
c) Tendência Tradicional Renovadora: o aluno é o sujeito do processo ensino e
aprendizagem; o professor é o detentor dos conhecimentos que devem ser transmitidos
para o aluno.
d) Tendência Tecnicista: o aluno deve ser formado para atender à demanda do mercado
de trabalho; o professor é um técnico que monitora a execução do aluno.
Feedback
A resposta certa é a letra A.
Na tendência tradicional, a função da escola é formar o sujeito intelectualmente. O
professor é a autoridade máxima em sala de aula e responsável por definir o conteúdo
que será apreendido pelos alunos. Como ilustrado, a professora molda os pensamentos
dos alunos ao seu padrão, acreditando (por conta de sua formação e experiência docente)
que os está formando para melhor exercer seu papel social.
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4. O curta animado da Alike faz uma crítica à Tendência Pedagógica Tecnicista.
Com base no que você aprendeu sobre a Tendência Liberal Tecnicista, marque a
alternativa que apresenta as características dessa tendência:
a) O aluno deve receber os conhecimentos determinados pelo professor; a metodologia é
baseada em aulas expositivas e exercícios de repetição; o professor é quem detém o
conhecimento.
b) O aluno é formado para o mercado de trabalho desde a alfabetização; a metodologia é
baseada na repetição e na memorização; o professor é pensado como um técnico
instrutor e executor.
c) O aluno experimenta o conhecimento; na metodologia, o aluno é incentivado a
desenvolver o pensamento criativo; o professor baseia suas aulas na demanda dos
alunos.
d) O aluno é visto como o sujeito do processo de ensino-aprendizagem; a metodologia
abrange discussões em grupo e pesquisas; o professor é um mediador.
Feedback
A resposta certa é a letra B.
O curta, ao mesmo tempo em que mostra o professor determinando o padrão de escrita
que o menino deve seguir, exibe o pai em seu ambiente de trabalho digitando
documentos, de acordo com o padrão determinado pela empresa. Essa cena se alinha à
característica da tendência tecnicista, que forma o aluno para o mercado de trabalho, para
atender aos padrões exigidos pela sociedade.
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PEDAGOGIA PROGRESSISTA
Estamos diante de um novo contexto mundial:
A Guerra Fria está
no auge de suas
críticas e efeitos.
Na França,
estudantes se
levantam por
uma nova
educação.
Nos Estados
Unidos, os
movimentos civis
exigem mudanças e
lutam por direitos.
No Brasil, após a
empolgação com o
governo de
Juscelino,
passamos para um
quadro de crise que
leva à ascensão da
ditadura civil-militar.
Nesse cenário, grupos que não eram ouvidos até então começaram a se manifestar e lutar
por seus direitos, como o direito à Educação. Assim, mulheres, negros e emergentes
passaram a anunciar que se sentiam inadequados diante das práticas que eles
reconheceram como Velha Pedagogia. A escola, mais uma vez, precisou repensar o fazer
docente e reavaliar suas práticas para criar uma nova dinâmica educacional. A Pedagogia
Progressista, então, passou a fazer uma análise crítica sobre a Educação, buscando
identificar os fatores que interferem diretamente no campo educacional e explicam
o sucesso e o fracasso do aluno.
Vista por muitos estudiosos como uma concepção resultante da tendência renovadora,
a Pedagogia Progressista defende uma Educação mais integradora, que contemple 
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a realidade social do aluno no processo de ensino-aprendizagem. O seu principal
representante é Carl Rogers* (1902-1987), que desenvolveu técnicas aplicadas à
Educação que estimulavam o desenvolvimento da autonomia do indivíduo.
*Carl Rogers: Psicólogo e psicanalista, aplicou na Educação técnicas e procedimentos
próprios da terapia, como a empatia e a confiança, segundo os quais “o indivíduo é capaz
de resolver por si só seus problemas bastando que tenha autocompreensão ou percepção
do eu”.
Para saber sobre Carl Rogers, leia o texto “Carl Rogers, um psicólogo a serviço do
estudante”.
Como é estabelecida a relação entre o professor e o aluno?
Mantendo sempre o objetivo de valorizar a experiência do aluno e desenvolver a
sua autonomia, a Pedagogia Progressista se ramifica em outras três linhas de
pensamento:
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TENDÊNCIA LIBERTADORA
Essa é uma das linhas mais famosas no Brasil por sua busca de romper com
o autoritarismo. De acordo com essa tendência, o homem deve ser libertado de tudo
aquilo que lhe impossibilita de exercer todo o seu potencial. Assim, as mulheres não
precisam aceitar o machismo; os trabalhadores do campo não devem se submeter à
vontade dos grandes proprietários; e os negros não devem aceitar o racismo como algo
natural. Para que isso ocorra, é necessário que o homem tome consciência do seu estado
atual e das suas possibilidades de mudar a sua realidade.
É nesse processo de conscientização que a Educação começa a exercer o seu papel,
trazendo para o contexto escolar temas sociais e políticos e incluindo no processo
ensino-aprendizagem a realidade concreta dos alunos. Assim, autores como Paulo
Freire* (principal representante dessa tendência) e Dermeval Saviani* se empenham em
questionar o sistema tradicional de ensino e a função da escola como propagadora das
desigualdades sociais.
*FREIRE: Paulo Reglus Neves Freire (1921-1997) nasceu em Recife – Pernambuco. Foi
educador, escritor e filósofo. Graduou-se em Direito pela Universidade de Recife, mas
abandonou a advocacia e dedicou-se ao ensino de língua portuguesa no Colégio Oswaldo
Cruz e de Filosofia da Educação na Escola de Belas Artes da Universidade Federal de
Pernambuco.
Freire desenvolveu um método de alfabetização de jovens e adultos no qual o vocabulário
a ser ensinado se baseava no contexto imediato dos alunos. Esse método foi aplicado
pela primeira vez em 1962 em Angicos, sertão do Rio Grande do Norte.
(Informações coletadas do site eBiografia em 20/09/2019)
*Dermeval Saviani: Nasceu em Santo Antonio
de Posse, comarca de Mogi Mirim, no
interior do Estado de São Paulo. Formou-se em Filosofia e, atualmente, é professor da
PUC-SP onde desenvolve diversos projetos e pesquisas na área da Educação.
(Informações coletadas do site Letrasunifacead em 22/10/2019)
A principal questão da Educação Libertadora é:
COMO CONSTRUIR UM PROJETO DE
TRANSFORMAÇÃO SOCIAL A PARTIR DE UMA
NOVA PEDAGOGIA?
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Um dos caminhos utilizados
pela Tendência Libertadora para se
alcançar esse objetivo é
a problematização da realidade
social, na qual o aluno, por meio
de discussões, começa a analisar o
seu contexto e
a identificar necessidades
de melhoria da sua realidade.
Vejamos as principais características da Tendência Libertadora:
escola relação professoraluno
conteúdo
Tem o papel de
estimular a
conscientização da
realidade social para
transformá-la.
É construída com base
no diálogo, no qual
professor e aluno são
livres para expressarem
as suas contribuições
ao processo de ensinoaprendizagem.
São estabelecidos a partir
de temas
geradores, que partem
da vida prática dos
alunos.
34 / 45
método aprendizagem avaliação
Possuem como base o
diálogo, com o objetivo
de garantir a
participação do aluno.
Para isso, são
organizados grupos de
discussão.
É uma atividade de
problematização de
uma situação, com o
objetivo de tornar o
aluno mais crítico.
É feita uma avaliação
mútua, entre professor e
aluno, além de se
permitir a autoavaliação.
TENDÊNCIA LIBERTÁRIA
Após a Segunda Guerra e a Queda do Muro de Berlim, o discurso que se ouvia era de que
o mundo estava à beira de um colapso. No entanto, nos anos 1980, finalmente parecia
que o fantasma da morte por bombas nucleares tinha chegado ao fim, dando lugar a um
ambiente de liberdade representado pelos movimentos hippies* e pelo movimento punkrock*.
*Movimentos Hippies: Os movimentos de contracultura surgem em meados dos anos
1970 nos Estados Unidos e disseminam pelo mundo a ideia de um rompimento com a
sociedade estabelecida. Esse movimento criticava o sistema social construído e trazia a
ideia de que a estrutura da sociedade aprisionava os indivíduos. Para romper com essa
dinâmica, o movimento buscava a libertação da alma, com o retorno do homem à 
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natureza. Nessa perspectiva, a musicalidade foi fundamental para o estabelecimento de
novas experimentações de sons, como os de guitarras. No Brasil, o ícone desse
movimento é Raul Seixas, conhecido como maluco beleza.
*Movimento punk-rock: O Rock and roll surge em meados dos anos 1940 como uma
derivação mais agressiva do blues. O Rock and roll personifica a ideia de um novo jovem,
que luta por liberdade e está presente nos principais movimentos críticos à sociedade dos
anos seguintes. No fim da década 1970, na Inglaterra e nos Estados Unidos, surge uma
variação desse movimento que se intitula punk rock, que trazia a ideia de uma terrível
revolta contra o sistema e o que ele representava. O punk era a música dos guetos
operários, dos jovens sem perspectiva, que faziam, com seus vocais distorcidos e sua
melodia agressiva, uma intensa crítica social.
No Brasil, essa tendência se manifesta nos anos de 1980 nos movimentos pós-regime
civil-militar, com o retorno dos exilados e a conquista gradual da liberdade de expressão.
Os meios de comunicação em massa e os ambientes acadêmicos, políticos e culturais
contribuíram de forma significativa para a expansão desse discurso de liberdade.
Nesse clima, a Tendência Libertária traz a ideia de que, para construir uma sociedade
mais livre, a Educação precisa rejeitar todo tipo de repressão. Assim, no processo
educacional, somente têm relevância os conteúdos que permitem o seu uso prático. Essa
tendência enfatiza, também, a aprendizagem informal, via grupo. Um dos seus principais
autores é Maurício Tragtenberg* (1929-1998), que defendia que devemos superar os
limites da burocracia e criar processos mais livres de construção do conhecimento e de
uma sociedade mais horizontal.
*Maurício Tragtenberg: Nasceu no Rio Grande do Sul em uma família judaica e
camponesa. Sua formação começou como autodidata, obtendo o doutorado pela USP
posteriormente. É considerado um dos maiores sociólogos brasileiros.
(Informações coletadas do site Histórico UFFS em 20/09/2019.)
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Vejamos as principais características da Tendência Libertária:
escola relação professoraluno
conteúdo
Busca construir
indivíduos livres e
autogestores.
O professor está a
serviço do aluno, atuando
com um conselheiro.
Resultam das
necessidades do aluno
e não são impostos.
método aprendizagem avaliação
Contemplam a
liberdade de expressão
e valorizam a vivência
em grupo.
Enfatiza a
aprendizagem informal
e coletiva.
Não é punitiva e o aluno
é estimulado a se
autoavaliar.
37 / 45
TENDÊNCIA CRÍTICO-SOCIAL DOS CONTEÚDOS
X
Conteúdo Realidade social
Essa relação é a base da Tendência Crítico-social dos Conteúdos, pois ela prioriza
os conteúdos no seu confronto com as realidades sociais. Nesse sentido, a Educação
deve assegurar que todos tenham acesso aos conhecimentos científicos para que
possam desenvolver a sua consciência crítica frente à sociedade.
E COMO É A ATUAÇÃO DA
ESCOLA?
A escola deve dar ao aluno todos
os instrumentos necessários para
que ele seja capaz de transformar a
sua realidade a partir da reflexão de
sua prática social.
Para que o processo de construção da aprendizagem seja eficaz, a Tendência Críticosocial dos Conteúdos faz uso do princípio da aprendizagem significativa*, que considera
o que o aluno já sabe como ponto de partida para a aquisição do conhecimento. Nesse
sentido, a aprendizagem só ocorre quando o aluno é capaz de sintetizar o novo
conhecimento, relacionando-o com o que ele já sabe. Esse processo permite que o aluno
tenha uma visão mais ampla daquilo que está sendo aprendido.
38 / 45
*Aprendizagem significativa: Esse conceito foi desenvolvido por David Ausubel, psicólogo
da educação estadunidense. De acordo com Ausubel, na aprendizagem significativa há
interação entre uma nova informação com uma estrutura de conhecimento específica. O
cérebro humano, no momento do aprendizado, se organiza formando uma hierarquia
conceitual em que os elementos específicos são ligados a conhecimentos mais gerais.
Para saber mais sobre a aprendizagem significativa, leia o texto “O QUE É AFINAL
APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA?”.
A seguir, veremos as principais características da Tendência Crítico-social dos
Conteúdos:
escola relação professoraluno
conteúdo
É valorizada como local
de aquisição dos
saberes.
Professor e aluno são
colaboradores e trocam
conhecimentos.
São os conhecimentos
universais, acumulados
pela sociedade, que são
constantemente
reavaliados frente às
realidades sociais.
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método aprendizagem avaliação
Devem favorecer a
relação dos conteúdos
com os interesses dos
alunos.
Compreende a
capacidade do aluno de
processar as
informações, ligando os
conceitos específicos
aos mais gerais.
Não é um julgamento,
mas busca evidenciar o
progresso do aluno e a
sua aquisição de
conhecimentos mais
sistematizados.
Vamos conhecer mais um relato de experiência?
O professor Fábio José Paz da Rosa* compartilha conosco, a seguir, uma de suas
experiências em sala de aula em que desenvolve as bases da Tendência Crítico-social
dos Conteúdos.
*Fábio José Paz da Rosa: Doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro, atualmente, é professor auxiliar do curso de Licenciatura em Pedagogia, na
Universidade Estácio de Sá (UNESA). É autor do livro "Educação Profissional: Teoria e
Prática“, publicado pela Editora SESES. Além disso, o professor coordena o Projeto de
Pesquisa "Luz, Câmera e negritudes: o cinema negro na construção curricular nos cursos
de formação de professores" (UNESA) e o Grupo de Estudos Intelectualidade Negra,
Currículo e Formação docente (GINCF).
(Informações coletadas do Lattes em 16/10/2019)
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Sou professor de Sociologia
e, na escola,
preciso trabalhar com os alunos temas
como o racismo. Para isso, uso o cinema
negro, pois considero que é uma excelente
forma de permitir que os alunos tenham
contato com novas estéticas, produzidas e
pensadas por negros. Essa estratégia
também permite que os alunos negros se
reconheçam nas imagens apresentadas.
Com essa abordagem, a partir do
conteúdo visto, convido os alunos a
refletirem sobre o racismo e suas
implicações na sociedade em que vivem.
A experiência do professor nos mostra uma estratégia de relação dos conteúdos com
a realidade social. Nessa estratégia, os alunos são estimulados a interpretar a sua
realidade com base nos conteúdos aprendidos e a criar possibilidades de intervir em seu
meio para transformá-lo. Essa é a ideia central da Tendência Crítico-social dos
Conteúdos: desenvolver sujeitos que se tornem cada vez mais ativos na sociedade a
partir da aquisição de conhecimentos e da reflexão sobre os contextos sociais.
A pausa agora é para finalizarmos o nosso esquema. Vamos lá!
41 / 45
Pronto, agora o nosso esquema está finalizado!
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VERIFICANDO O APRENDIZADO
5. No famoso livro Pedagogia do Oprimido (2017, p. 96), Paulo Freire diz que:
“Ninguém educa ninguém, como também ninguém se educa a si mesmo: os homens se
educam em comunhão, mediatizados pelo mundo”.
Neste fragmento, podemos perceber a opinião do autor, que apresenta a Educação como
algo intrinsicamente social, que se dá na relação entre as pessoas. Desse modo, qual é a
tendência pedagógica que abarca o trabalho de Freire?
a) Tendência Libertadora, que considera o professor como detentor do conhecimento que
será transmitido ao aluno.
b) Tendência Libertadora, cuja ênfase se dá nas relações interpessoais.
c) Tendência Libertária, na qual o professor administra o ensino-aprendizagem e o aluno
responde a tal planejamento.
d) Tendência Crítico-social dos Conteúdos, em que o professor não deve dirigir o aluno no
que tange às atividades.
Feedback
A resposta certa é a letra B.
As ideias de Paulo Freire se voltam para a compreensão da Educação como ferramenta
de mudança do mundo, pois, ao oferecer autoria ao aluno no processo de sua
aprendizagem, permite que perceba as desigualdades sociais e possa confrontar esta
realidade se assim o desejar. As relações interpessoais ganham destaque à medida que
favorecem o reconhecimento do outro como sujeito, também participante da mesma
realidade social.
43 / 45
6. Relacione as Tendências Progressistas com as práticas educativas.
1. Tendência Libertadora
2. Tendência Libertária
3. Tendência Critico-social dos Conteúdos
( ) Propõe como método a dialogicidade: trabalho em grupo de discussão e
conscientização.
( ) Propõe o método participativo e fundamentado no saber universal: vínculo entre
teoria e prática.
( ) Há interação diretiva: troca entre professores e alunos. O professor é mediador.
( ) O conteúdo emerge dos interesses dos alunos e não é pré-determinado.
( ) Tem um caráter político, incorporando a realidade vivencial do aluno ao ensino.
a) 3 – 2 – 1 – 1 – 2
b) 2 – 3 – 2 – 1 – 1
c) 1 – 1 – 3 – 3 – 2
d) 1 – 3 – 3 – 2 – 1
Feedback
A resposta certa é a letra D.
A Tendência Progressista vê o aluno como sujeito do processo de ensino e
aprendizagem. Nesse sentido, o objetivo da Educação é construir alunos críticos,
capazes de refletir sobre sua realidade social e transformá-la. A diferenciação entre
Libertadora, Libertária e Crítico-social dos Conteúdos está, a partir do pensamento dos
autores que as defendem, especificamente ligada ao papel do ensino, ao método
adotado e à relação professor-aluno.
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Como vimos neste tema, no campo educacional, encontramos diferentes discussões
sobre tendências pedagógicas que, em comum, têm dirigido suas atenções em busca do
melhor papel da escola e da sociedade no processo de ensino e aprendizagem.
REFERÊNCIAS
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. São Paulo: Moderna, 1998.
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da educação. São Paulo: Moderna, 2006.
COSTA, Marisa Vorraber et al. O currículo nos limiares do contemporâneo. Rio de Janeiro
: DP&A, 1999.
GADOTTI, Moacir. Pensamento pedagógico brasileiro. São Paulo : Ática, 1988.
LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da escola pública. São Paulo: Loyola, 1989.
LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da escola pública: a pedagogia crítico-social dos
conteúdos. 21 ed. São Paulo: Loyola, 2006.
MATUI, Jiron. Construtivismo. São Paulo: Moderna, 1998.
QUEIROZ, Cecília T. A. Pontes de; MOITA, Filomena Maria G. da S. C. Fundamentos
sociofilosóficos da educação. Campina Grande; Natal: UEPB/UFRN, 2007
SANTOS, Santa Marli Pires dos (org). O lúdico na formação do educador. Petrópolis (RJ):
Vozes, 1997.
45 / 45
SAVIANI, Demerval. Escola e democracia. 36 ed. Campinas (SP): Autores Associados,
2003.
SAVIANI, Dermeval. Pedagogia: o espaço da educação na universidade. In: Cadernos de
Pesquisa, v. 37, n. 130, jan./abr. 2007.
SILVA, Delcio Barros da. As principais tendências pedagógicas na prática escolar
brasileira e seus pressupostos de aprendizagem. UFSM. 2014.
TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e Interação. São Paulo : Cortez, 1998.
EXPLORE +
Leia:
Pedagogia: o espaço da educação na universidade.
Assista:
DERMEVAL SAVIANI | A pedagogia histórico-crítica.
CONTEUDISTAS
Allan de Carvalho Rodrigues
Antonio Sergio de Giacomo Macedo
Rodrigo dos Santos Rainha
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AULA 3
ABORDAGENS DIDÁTICAS NA PRÁTICA DOCENTE
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DEFINIÇÃO DO TEMA
Neste tema, discutiremos as tendências pedagógicas liberal e progressista e a maneira
como elas influenciam a Educação.
PROPÓSITO
Este tema tem como finalidade a compreensão e a análise da Educação a partir dos
referenciais teóricos que a influenciam.
OBJETIVOS
IDENTIFICAR AS DUAS GRANDES TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS: LIBERAL E
PROGRESSISTA
CARACTERIZAR AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS LIBERAIS
DISTINGUIR AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS PROGRESSISTAS
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INTRODUÇÃO
O que é Tendência?
De acordo com o dicionário Priberam, a palavra tendência significa:
“A ação ou força pela qual um corpo tende a mover-se para alguma parte.”
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Nesse sentido, as tendências correspondem aos princípios que orientam as ações de
cada indivíduo. No campo educacional não é diferente: o professor, a escola, o aluno e
o ensino estão marcados por pensamentos que exercem forte influência sobre
as práticas educativas. Dessa forma, é importante compreender as características de
cada tendência pedagógica, pois esse conhecimento lhe ajudará a decidir os caminhos
que deseja seguir no processo de ensino-aprendizagem.
VOCÊ PERCEBEU A DIFERENÇA
NAS ABORDAGENS DE CADA
PROFESSOR?
Como vimos, os princípios que
escolhemos orientam a nossa prática e a
forma como organizamos a Educação.
Eles podem ser sintetizados em
tendências, as quais veremos a partir de
agora.
PEDAGOGIA LIBERAL × PEDAGOGIA PROGRESSISTA
O contexto escolar é permeado por diferentes concepções de homem e de sociedade, ou
seja, há diferentes formas de enxergar o papel do homem no âmbito social e essas visões
influenciam a prática escolar. É nesse ponto que as tendências liberal e progressista se
diferenciam: ambas possuem visões particulares sobre a relação Homem × Sociedade.
Essa distinção acontece porque as tendências pedagógicas estão situadas
historicamente e se desenvolveram como resposta ao contexto social no qual surgiram.
Vejamos, com base em Libâneo* (1989), como essas tendências descrevem a
relação Homem × Sociedade e qual foi o contexto histórico em que elas se
desenvolveram.
*Libâneo: José Carlos Libâneo nasceu em 1945, em Angatuba – SP. Graduou-se em
Filosofia pela Pontífica Universidade Católica de São Paulo em 1966. É doutor em
educação e autor do livro “Democratização da Escola Pública – A Revisão Crítico-Social
dos Conteúdos”, onde defende uma escola que valorize a consciência crítica
e que
permita ao indivíduo das classes dominadas superar a sua condição de oprimido.
(Informações coletadas do Currículo Lattes em 30/09/2019.)
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SÉCULOS XVIII / XIX
TENDÊNCIA LIBERAL
Na concepção liberal*, os papéis que
os indivíduos devem desempenhar
são voltados para a sociedade. Nesse
sentido, cabe à escola preparar
o indivíduo, de acordo com as
suas aptidões, para atender às demandas
sociais.
MARCO DO PERÍODO
Industrialização / Iluminismo / Revolução
científica
As ideias liberais são influenciadas
por Jonh Locke* e Adam Smith*. No
período entre os séculos XVIII e XIX a
sociedade vive uma série de
transformações: crescimento urbano,
processo de industrialização e aumento
das relações de troca (pessoas,
tecnologias e econômicas). Foi nesse
período, também, que notamos o
desenvolvimento de uma Revolução
Científica.
*Liberal: O pensamento liberal defende a liberdade política e econômica.
Alguns dos princípios do liberalismo são:
• Defesa da propriedade privada;
• Livre mercado;
• Mínima participação do Estado na economia;
• Igualdade perante à lei.
*John Locke: John Locke (1632-1704) nasceu na aldeia de Somerset, em Wrington, na
Inglaterra. Foi um dos principais representantes do empirismo, doutrina que afirmava que
o conhecimento era determinado pela experiência sensorial.
(Informações coletadas do site Ebiografia em 09/10/2019)
*Adam Smith: Adam Smith, (1723-1790) foi um economista e filósofo escocês. Ele é
considerado um dos maiores defensores do liberalismo econômico e também é
reconhecido como o pai da economia moderna.
(Informações coletadas do site Ebiografia em 09/10/2019)
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SÉCULO XX
TENDÊNCIA PROGRESSISTA
Na concepção progressista, o homem é
pensado como um protagonista. A escola,
nesse sentido, deve fornecer
os instrumentos necessários para que
o indivíduo possa discutir a sua atuação
em sociedade.
MARCO DO PERÍODO
Guerra Fria / Desenvolvimento
tecnológico
Após a Segunda Guerra Mundial o mundo
se dividiu em um conflito conhecido como
Guerra Fria. As tensões provocadas pela
disputa entre Estados Unidos e União
Soviética geraram críticas e movimentos,
que contestavam a ordem social
estabelecida. A disseminação do rádio e
da televisão associada à velocidade da
tecnologia e dos transportes
transformaram as relações sociais.
Como vimos, as tendências liberal e progressista surgiram em diferentes momentos
históricos. No entanto, não podemos entendê-las como se uma fosse sucessora da outra.
Cada tendência trouxe contribuições significativas para a Educação, que são aplicadas no
contexto escolar até os dias de hoje. Vejamos alguns exemplos:
TENDÊNCIA LIBERAL
Uma das técnicas de aprendizagem utilizadas por essa tendência é
a memorização, bastante comum no ensino de tarefas operacionais
ou de Matemática nas séries iniciais, para decorar tabuada, por
exemplo.
TENDÊNCIA PROGRESSISTA
Uma das técnicas utilizadas nessa tendência é a discussão em
grupo, muito empregada em diferentes áreas de conhecimento.
Podemos citar, como exemplo, uma atividade em sala de aula em
que um grupo de alunos de Publicidade se reúne para elaborar uma
estratégia de marketing.
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Perceba que a implementação dessas tendências no processo de ensinoaprendizagem está condicionado ao tipo de conhecimento que será aprendido e
ao contexto no qual essa aprendizagem será construída. Nos próximos módulos, vamos
conhecer as principais características das tendências liberal e progressista e
entenderemos como elas se subdividem.
Importante
A Didática auxilia a interpretação dessas tendências pedagógicas
para explorar os modos de fazer e de pensar na Educação.
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VERIFICANDO O APRENDIZADO
Para desbloquear o próximo módulo, é necessário que responda corretamente a uma das
questões a seguir.
1. Das afirmações a seguir, marque a que mais se adequa à Pedagogia Liberal:
a) O aluno é um sujeito ativo na construção do conhecimento e o professor atua como um
facilitador para que a aprendizagem ocorra.
b) A escola deve preparar os indivíduos para exercer os papéis sociais, permitindo que
eles estejam prontos às exigências do mercado e da sociedade em geral.
c) Os conteúdos que devem ser aprendidos são definidos exclusivamente a partir do
contexto social do aluno.
d) O aluno possui a autogestão da sua experiência de aprendizagem, inclusive na escolha
do conteúdo que estudará.
Feedback
A resposta certa é a letra B.
A Tendência Pedagógica Liberal dá ênfase ao ensino e ao conteúdo que o aluno deve
aprender a fim de responder plenamente às expectativas da sociedade em que está
inserido. Assim, o professor é responsável pelo processo de ensino-aprendizagem,
enquanto o aluno deve aproveitar ao máximo o conhecimento transmitido.
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2. A Educação, historicamente, prepara o indivíduo para assumir o seu papel na
sociedade. Com as transformações no contexto social, modifica-se a percepção sobre a
atuação de professores e alunos.
Com base nisso, analise as afirmações a seguir e marque aquela que apresenta a
proposta da Pedagogia Progressista.
a) O professor deve incorporar a realidade do aluno como ponto de partida para a ação
educativa, favorecendo a conscientização das realidades sociais e culturais.
b) objetivo da Educação é definir os caminhos que todos os alunos devem seguir,
considerando, em alguma medida, suas características individuais.
c) No processo de ensino-aprendizagem, o professor é o responsável por transmitir os
conhecimentos que devem ser aprendidos pelo aluno.
d) Os alunos devem ser preparados para que exerçam, de maneira eficiente, o seu papel
social, que é historicamente estabelecido.
Feedback
A resposta certa é a letra A.
A Pedagogia Progressista faz uma análise crítica da realidade social e do papel da
Educação, propondo que o aluno seja responsável pela sua aprendizagem e construtor de
seu papel social.
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PEDAGOGIA LIBERAL
Muitos conhecem o liberalismo somente como uma tendência econômica, mas esse
movimento deve ser compreendido, também, em seu caráter filosófico.
Algumas demandas sociais e acontecimentos históricos marcaram o momento
de ascensão do liberalismo:
Diversas revoluções foram influenciadas pelo pensamento liberal, como as revoluções
inglesa e francesa e a Primavera dos Povos*. O liberalismo também ganhou força
especial com a nova dinâmica social experimentada no século XIX, que trouxe o modelo
econômico baseado na liberdade de produção e na propriedade privada, chamado
de capitalismo*.
*Revoluções inglesa e francesa e a Primavera dos Povos: Essas revoluções marcam as
mudanças dos sistemas políticos e a implementação de um modelo econômico
influenciado por uma política liberal. Baseado nas ideias de Adam Smith, os ingleses
fizeram a sua revolução em uma disputa entre a casa das duas rosas (conflito entre a
casa de Lancaster e a Casa de York, que disputavam o trono inglês). Em seguida, na
Revolução Francesa, a burguesia lutou para superar o antigo regime. Por fim, no restante
da Europa, ocorre uma série de movimentos contra a monarquia estabelecida na época.
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*Capitalismo: O livro História do Capitalismo, de Osvaldo Coggiola, faz uma retrospectiva
sobre como o capitalismo se desenvolveu. Sugerimos a leitura dele para que você
conheça um pouco mais sobre esse tema.
A pintura A liberdade guiando o povo, de Eugène Delacroix, retrata bem o espírito da
população nesse período e a motivação para a mudança.
“A liberdade guiando o povo” / Pintura de Eugène Delacroix.
A Pintura “A liberdade guiando o povo” foi feita por Eugène Delacroix, artista francês do
Romantismo. Interessado também nos temas políticos, Delacroix pintou esse quadro para
retratar os acontecimentos do seu país.
A mulher, denominada Marianne, foi representada usando um gorro, com uma arma na
mão esquerda e a bandeira da França na mão direita. Essa pintura virou símbolo da
Revolução Francesa, pois o gorro era um adereço utilizado pelos escravos libertos na
Grécia e em Roma. Marianne,
então, representava o grito de resistência frente ao sistema
da época.
(Informações coletadas do site da Embaixada da França no Brasil em 27/09/2019).
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E como esse pensamento liberal se refletiu no Brasil?
Em 1889, o Brasil se tornou uma
República, tendo como principal
influência intelectual o positivismo*.
Essa filosofia era defendida
por Benjamin Constant*, um dos ícones
brasileiros que tinha um sonho
revolucionário para aquele período:
alfabetizar 20% dos brasileiros até 1920,
índice que foi considerado impossível de
ser alcançado. O desafio dele nos
mostra a situação em que a educação
brasileira se encontrava à época.
*Positivismo: O positivismo, corrente filosófica que defende o conhecimento científico
como o único verdadeiro, tem como principal representante Auguste Comte (1798 –
1857), filósofo francês que defendia a criação de uma filosofia positivista.
*Benjamin Constant: Benjamin Constant (1833 – 1891) foi militar e político brasileiro.
Influenciado pelo pensamento positivista, criou o slogan da bandeira brasileira: Ordem e
Progresso.
(Informações coletadas do site Ebiografia em 10/10/2019)
A influência do liberalismo na República
também pode ser observada na
composição da nossa bandeira, obra
geométrica formada por quadriláteros e
medianizes, que leva os dizeres “Ordem
e Progresso” e que marca a tentativa de
se organizar a educação brasileira.
Perceba que, em meio às transformações, a Educação não fica imune, ela assume a
função de preparar o indivíduo para esse novo mundo, criando possibilidades para que
ele desenvolva o seu potencial. A escola, nesse sentido, aperfeiçoa o homem,
fornecendo instrumentos para que ele cumpra o seu papel no progresso social.
Nesse contexto de mudanças, a Pedagogia Liberal se ramifica em três linhas de
pensamento:
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TENDÊNCIA TRADICIONAL
O que se percebe durante o século XVIII, com o avanço do liberalismo, é a multiplicação
desse pensamento com a motivação para a mudança social. Novas funções passaram a
existir. A sociedade precisava crescer e a preparação do indivíduo tornou-se fundamental
para a construção de uma sociedade melhor.
Como já entendemos, a preparação do indivíduo para exercer o seu papel social é função
da Educação. Vejamos as principais características da Tendência Tradicional que
mostram como ela organiza o Sistema Educacional para atender à demanda que lhe é
atribuída.
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escola relação professoraluno
conteúdo
Prepara o aluno
intelectualmente e
desenha o caminho
que
todos devem percorrer
para chegar ao
conhecimento.
O professor é a
autoridade em sala de
aula, pois é ele quem
domina o conhecimento
científico. Ele deve
valorizar a disciplina e
estabelecer uma relação
de respeito perante os
alunos.
São os
conhecimentos
enciclopédicos,
aqueles acumulados
pela sociedade, que
possuem valor
intelectual.
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método aprendizagem avaliação
São expositivos, focam
na comunicação oral
do conteúdo e na
demonstração feitas
pelo professor. Os
exercícios de repetição
são valorizados, pois
permitem que o aluno
memorize os
conceitos e as
fórmulas.
É receptiva e
mecânica, o aluno
deve seguir todos os
passos
estabelecidos pelo
professor para
assimilar o conteúdo.
Por isso,
são usados exercícios
de repetição para
garantir que o aluno
aprendeu a matéria.
É feita por meio de
provas orais e escritas,
testes e exercícios
para
casa, com o objetivo de
metrificar o
conhecimento.
Observe que, nessa tendência, o professor possui uma atuação primordial, pois ele é
quem define qual conteúdo será estudado e elabora o planejamento do processo de
ensino-aprendizagem. Por ter um papel central, cabe ao professor não só repassar os
conhecimentos, mas também observar os alunos, aconselhar e corrigir possíveis erros.
Como a Tendência Tradicional se reflete nos âmbitos individual e social?
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CONSEQUÊNCIAS NO ÂMBITO
INDIVIDUAL
CONSEQUÊNCIAS NO ÂMBITO
SOCIAL
• Atividades individuais;
• Foco no conhecimento científico;
• Valorização de uma única cultura
ensinada pela escola, podendo
gerar inadaptação cultural*;
• Aceitação passiva* das divisões
sociais.
• Conservação dos padrões sociais;
• Defesa da organização social;
• Preferência pela especulação
teórica* e pela prática como repetição.
*Inadaptação cultural: Exemplo - O filme “Escritores da Liberdade” conta a história da
professora Gruwell, mulher jovem e idealista que vai dar aulas em uma escola de um
bairro pobre. Em uma das cenas do filme, Gruwell entra na turma e se depara com um
grupo de alunos fazendo uma caricatura de um dos colegas e debochando dos traços
negroides dele. A professora, muito indignada, lembra os alunos do que era feito aos
judeus durante o Holocausto. Após algumas provocações, os alunos manifestam o desejo
de saber mais sobre o assunto.
*Aceitação passiva: Exemplo - O filme “Ray Charles” conta a vida desse cantor e pianista
que, apesar da cegueira que o acometeu aos 7 anos, desenvolveu uma habilidade incrível
ao tocar piano. Em uma das cenas do filme, Ray chega à Geórgia, estado do sudeste dos
EUA; e, mesmo diante dos protestos contra a segregação racial, ele diz: “Eu estou fazendo
o meu trabalho. Esse é só o meu dinheiro. Isso aqui é assim mesmo. Foi como eu
aprendi”. Ray Charles desperta de sua aceitação passiva quando presencia um dos
promotores do evento agredindo um dos jovens negros que tentava conversar com ele.
*Especulação teórica: Exemplo - O filme “O Sorriso de Mona Lisa” conta a história de
Katherine Watson, uma professora jovem que vai ministrar aulas em uma escola feminina
e tradicional. Nessa escola, as alunas são educadas para se tornarem esposas cultas e
mães responsáveis. Em uma das cenas do filme, a professora Katherine inicia sua aula
apresentando fotos das obras de arte que compõem o tema da aula. Enquanto a
professora apresenta as imagens, as alunas imediatamente falam, em coro, as
informações que leram sobre as obras. As alunas demonstram que leram todos os livros
sugeridos, porém, são incapazes de refletir sobre o que representa todo aquele conjunto
de informações.
Ao longo do tempo, a Tendência Tradicional sofreu várias críticas. Dentre elas, podemos
destacar a falta de relação dos conteúdos estudados com a vida dos alunos. No entanto,
essa tendência trouxe significativas contribuições para a Educação, pois os seus
métodos de ensino são utilizados até hoje em diferentes áreas de conhecimento.
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Quer entender melhor?
A professora Angela Maria Paiva Gama* nos mostra, a seguir, um exemplo de como
podemos utilizar as técnicas da Tendência Tradicional.
*Angela Maria Paiva Gama: Atualmente é professora auxiliar da Universidade Estácio de
Sá e coordenadora do Curso de Pedagogia no Campus Freguesia – UNESA. Atua, desde
2010, como professora do Ensino a Distância da Universidade Estácio de Sá. A professora
também participa do Centro de Filosofia Educação Para o Pensar, desde 2002.
(Informações coletadas do Lattes em 16/10/2019)
Acredito que diferentes metodologias
permitem que os objetivos de
aprendizagem sejam alcançados. A aula
expositiva, por exemplo, deve fazer parte
da apresentação de conteúdos
sequenciais. Podemos, então, no ensino
de múltiplos e divisores nas operações
com frações, primeiro apresentar os
conteúdos em uma aula expositiva e,
posteriormente, trazer exercícios
práticos para que o aluno possa
memorizar o conteúdo.
Perceba que, nesse contexto, a exposição do conteúdo pelo professor é essencial para
que o aluno entenda as regras das operações com frações para, em seguida, colocar em
prática, fazendo uso de exercícios. A exposição e a repetição, por meio de exercícios
práticos, nesse caso, permitem que ocorra a naturalização do conteúdo e,
consequentemente, ocorra a aprendizagem.
SAIBA MAIS!
Leia a entrevista de Inger Enkvist, professora catedrática
emérita de espanhol da Universidade de Lund, defensora da
tendência tradicional, na qual afirma que “a nova pedagogia
é
um erro”.
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Que tal fazer uma pausa para retomar o que aprendemos até aqui? Então, vamos lá!
Observando esse esquema, dá para perceber que ainda tem muita coisa para
aprendermos.
Então vamos voltar ao nosso estudo sobre as Tendências!
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TENDÊNCIA RENOVADORA
O período entre os anos de 1910 e 1940 foram marcantes para a história da humanidade.
As grandes potências econômicas europeias (Alemanha, Itália, Inglaterra e França)
lutavam para dominar o mundo, seja pelo monopólio de mercados, de matéria-prima, de
território ou pelo poder militar. Nesse mesmo período, os Estados Unidos se consolidam
como uma potência econômica, acentuando essa luta por supremacia. Foi esse cenário
de tensão que motivou as duas Grandes Guerras Mundiais, que transformaram a
humanidade nos campos da política, economia e social.
Nesse contexto, a Educação também começa a mudar e a Tendência Renovadora traz a
reflexão de que a Educação deveria ser ampliada para todos os indivíduos, com o objetivo
de construir uma sociedade mais justa e equilibrada.
A ideia era dar melhores condições de
formação educacional aos homens para
que eles pudessem atuar de forma
mais efetiva na sociedade.
Como essa tendência chegou ao Brasil?
No Brasil, a Tendência Renovadora começou a surgir entre as décadas de 1920 e 1930,
quando o pensamento liberal chega com mais força e encontra as discussões em torno
da ideia da Escola Nova. Há uma disputa pelo reconhecimento dos diferentes saberes,
mas ainda fazendo distinção entre o que é conhecimento geral e experiência cotidiana.
Vejamos as principais características da Tendência Renovadora:
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escola relação professoraluno
conteúdo
Procura adequar os
alunos, considerando
suas individualidades,
às necessidades da
sociedade. Essa
adaptação integra, na
medida do possível, as
exigências do meio
social aos interesses e
às experiências dos
alunos.
O professor deve
estabelecer uma
relação harmônica com
os alunos, pois isso
contribuirá para que
lidere as experiências
de aprendizagem.
São definidos a partir
das experiências que
os alunos vivenciam
na construção da
aprendizagem.
Valoriza-se mais o
processo de
apreensão do
conhecimento do que
o saber acumulado.
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método aprendizagem avaliação
Estimulam o
aprender-fazendo,
com atividades de
pesquisa e
experimentação. As
atividades também são
elaboradas
considerando a etapa
de desenvolvimento do
aluno.
É uma atividade de
descoberta. O aluno é
estimulado a
experimentar o
conhecimento.
É contínua e busca
identificar os êxitos
dos alunos durante o
processo
ensino-aprendizagem.
Observe o que Silva (2014) fala sobre a Tendência Renovadora:
“
Como pressupostos de aprendizagem, aprender se
torna uma atividade de descoberta, é uma
autoaprendizagem, sendo o ambiente apenas um
meio estimulador. Só é retido aquilo que se
incorpora à atividade do aluno, através da
descoberta pessoal; o que é incorporado passa a
compor a estrutura cognitiva para ser empregado
em novas situações. É a tomada de consciência,
segundo Piaget*.
SILVA*, 2014
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*Jean Piaget: Jean Piaget (1896-1980) foi um renomado psicólogo e filósofo suíço,
conhecido por seu trabalho pioneiro no campo da inteligência infantil. Piaget passou
grande parte de sua carreira profissional interagindo com crianças e estudando seu
processo de raciocínio. Seus estudos tiveram um grande impacto sobre os campos da
Psicologia e Pedagogia.
(Informações coletadas do Portal Educação em 21/10/2019.)
*Délcio Barros da Silva: Délcio Barros da Silva é ex-professor do departamento de Letras
da Universidade Federal de Santa Maria e atuou no curso de Pedagogia da Universidade
Estadual do Rio Grande do Sul.
Perceba que essa tendência começa a valorizar os interesses do aluno, permitindo que
ele manifeste a sua curiosidade e criatividade, cabendo ao professor estimular e facilitar
o processo de construção do conhecimento. No entanto, assim como a Tendência
Tradicional, a Renovadora sofreu algumas críticas, principalmente na condução
da experiência de aprendizagem, pois, por ser uma tendência que valoriza a ação do
aluno, os educadores poderiam pensar que não haveria a necessidade de se planejar as
situações-problema que o aluno deveria vivenciar, gerando um não-direcionamento das
atividades.
Agora, que tal vermos um relato de experiência?
Veja o que o professor Rodrigo Rainha viveu durante uma de suas aulas de história e
como ele usou as ideias da Tendência Renovadora para facilitar a aprendizagem dos
alunos.
Enquanto falava sobre a Segunda Guerra
Mundial em uma de minhas aulas, percebi
que os alunos começaram a dormir, e um
deles me falou: "— Professor, não consigo
entender por que devo estudar a Segunda
Guerra, isso não vai me servir pra nada".
Então, notei que eu não estava
relacionando o assunto da aula à vida dos
alunos. Diante disso, pedi a eles que
refletissem sobre como as guerras afetam
a vida das pessoas. Em seguida, um aluno
descendente de imigrantes relatou como
sua família fugiu da guerra. Com isso, os
alunos compreenderam como as guerras
podem movimentar e mudar a vida de uma
sociedade.
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Como você pode perceber, nas situações de aprendizagem, é essencial que o aluno
consiga perceber a relação do conhecimento a ser aprendido com a sua vida prática.
Esse é um desafio, não é mesmo? No entanto, assim como o professor Rainha fez, o
primeiro passo para realizar essa contextualização é ouvir o que os alunos têm a dizer.
Importante
Se olharmos para a história, seremos levados a entender que a
educação liberal começou com a Tendência Tradicional e depois
evoluiu para a Pedagogia Renovadora. Porém, esse não foi um
processo de substituição de uma pela outra, pois ambas possuem a
mesma concepção: formam o sujeito para a sociedade.
TENDÊNCIA TECNICISTA
O tecnicismo é fruto da melhoria dos processos industriais e de uma sociedade urbana.
Nesse sentido, a sistematização passa a ser central para melhorar os produtos e
aumentar a produtividade. Essas concepções, ao chegarem à Educação, trouxeram
inegáveis avanços, como a implementação do planejamento para organizar o trabalho
docente. Foram concebidas, pela primeira vez, visões de que a Educação deveria ser
observada como um sistema dinâmico, uma fábrica, e, para que fosse eficiente, todos os
processos envolvidos precisavam ser controlados.
Para entender essa ideia de controle na Educação, observe o peso que a gestão
escolar exerce na gestão do ensino:
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Vamos conhecer as principais características da Tendência Tecnicista:
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escola relação professoraluno
conteúdo
Organiza o ensino,
articulando-o ao
sistema produtivo.
Dessa forma, a escola
pode formar os alunos,
tornando-os
competentes para o
mercado de trabalho.
O professor é um
técnico responsável
por executar o
programa
educacional e ao aluno
cabe reproduzir aquilo
que foi instruído a fazer.
São baseados em leis
científicas e
organizados de maneira
lógica e sequencial.
Tudo o que é ensinado
precisa ser mensurado.
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método aprendizagem avaliação
Utilizam técnicas de
repetição, cópia,
treino e correção para
que o
aluno possa executar as
experiências de
aprendizagem de
maneira eficiente.
O aprendizado se dá
quando o aluno é capaz
de executar
eficientemente aquilo
que foi direcionado a
fazer. Nesse sentido, a
aprendizagem ocorre
quando o aluno
apresenta
comportamentos
diferentes daqueles que
manifestava quando
iniciou o processo de
ensino-aprendizagem.
Usa recursos para
medir a aprendizagem
dos
alunos, como provas e
testes.
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Para a tendência tecnicista, o aluno é o recebedor e é parte da esteira de execução
do processo de ensino-aprendizagem.
É claro que essa ênfase na execução do processo de aprendizagem pode gerar
um conhecimento fragmentado, pois o aluno foca excessivamente na técnica e deixa de
compreender os motivos pelos quais ele executa aquela ação.
Vamos fazer mais uma pausa
para complementar o nosso esquema?
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Estamos quase fechando o nosso esquema. Já viu o que falta?
Mas antes de conhecermos a Pedagogia Progressista, vamos ver se entendemos mesmo
o que dizem as tendências da Pedagogia Liberal!
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VERIFICANDO O APRENDIZADO
Para desbloquear o próximo módulo, é necessário que responda corretamente a uma das
questões a seguir.
3. Observe atentamente a ilustração a seguir, identificando a ação da professora sobre o
pensamento de seus alunos.
Marque a alternativa que indica a qual tendência essa ação está alinhada, que descreve
corretamente suas características.
a) Tendência Tradicional: a escola tem como papel formar o sujeito intelectualmente; o
aluno recebe os conhecimentos emitidos pelo professor.
b) Tendência Renovadora: a escola propicia experiências para o aluno; o professor é um
facilitador da experiência de aprendizagem.
c) Tendência Tradicional Renovadora: o aluno é o sujeito do processo ensino e
aprendizagem; o professor é o detentor dos conhecimentos que devem ser transmitidos
para o aluno.
d) Tendência Tecnicista: o aluno deve ser formado para atender à demanda do mercado
de trabalho; o professor é um técnico que monitora a execução do aluno.
Feedback
A resposta certa é a letra A.
Na tendência tradicional, a função da escola é formar o sujeito intelectualmente. O
professor é a autoridade máxima em sala de aula e responsável por definir o conteúdo
que será apreendido pelos alunos. Como ilustrado, a professora molda os pensamentos
dos alunos ao seu padrão, acreditando (por conta de sua formação e experiência docente)
que os está formando para melhor exercer seu papel social.
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4. O curta animado da Alike faz uma crítica à Tendência Pedagógica Tecnicista.
Com base no que você aprendeu sobre a Tendência Liberal Tecnicista, marque a
alternativa que apresenta as características dessa tendência:
a) O aluno deve receber os conhecimentos determinados pelo professor; a metodologia é
baseada em aulas expositivas e exercícios de repetição; o professor é quem detém o
conhecimento.
b) O aluno é formado para o mercado de trabalho desde a alfabetização; a metodologia é
baseada na repetição e na memorização; o professor é pensado como um técnico
instrutor e executor.
c) O aluno experimenta o conhecimento; na metodologia, o aluno é incentivado a
desenvolver o pensamento criativo; o professor baseia suas aulas na demanda dos
alunos.
d) O aluno é visto como o sujeito do processo de ensino-aprendizagem; a metodologia
abrange discussões em grupo e pesquisas; o professor é um mediador.
Feedback
A resposta certa é a letra B.
O curta, ao mesmo tempo em que mostra o professor determinando o padrão de escrita
que o menino deve seguir, exibe o pai em seu ambiente de trabalho digitando
documentos, de acordo com o padrão determinado pela empresa. Essa cena se alinha à
característica da tendência tecnicista, que forma o aluno para o mercado de trabalho, para
atender aos padrões exigidos pela sociedade.
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PEDAGOGIA PROGRESSISTA
Estamos diante de um novo contexto mundial:
A Guerra Fria está
no auge de suas
críticas e efeitos.
Na França,
estudantes se
levantam por
uma nova
educação.
Nos Estados
Unidos, os
movimentos civis
exigem mudanças e
lutam por direitos.
No Brasil, após a
empolgação com o
governo de
Juscelino,
passamos para um
quadro de crise que
leva à ascensão da
ditadura civil-militar.
Nesse cenário, grupos que não eram ouvidos até então começaram a se manifestar e lutar
por seus direitos, como o direito à Educação. Assim, mulheres, negros e emergentes
passaram a anunciar que se sentiam inadequados diante das práticas que eles
reconheceram como Velha Pedagogia. A escola, mais uma vez, precisou repensar o fazer
docente e reavaliar suas práticas para criar uma nova dinâmica educacional. A Pedagogia
Progressista, então, passou a fazer uma análise crítica sobre a Educação, buscando
identificar os fatores que interferem diretamente no campo educacional e explicam
o sucesso e o fracasso do aluno.
Vista por muitos estudiosos como uma concepção resultante da tendência renovadora,
a Pedagogia Progressista defende uma Educação mais integradora, que contemple 
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a realidade social do aluno no processo de ensino-aprendizagem. O seu principal
representante é Carl Rogers* (1902-1987), que desenvolveu técnicas aplicadas à
Educação que estimulavam o desenvolvimento da autonomia do indivíduo.
*Carl Rogers: Psicólogo e psicanalista, aplicou na Educação técnicas e procedimentos
próprios da terapia, como a empatia e a confiança, segundo os quais “o indivíduo é capaz
de resolver por si só seus problemas bastando que tenha autocompreensão ou percepção
do eu”.
Para saber sobre Carl Rogers, leia o texto “Carl Rogers, um psicólogo a serviço do
estudante”.
Como é estabelecida a relação entre o professor e o aluno?
Mantendo sempre o objetivo de valorizar a experiência do aluno e desenvolver a
sua autonomia, a Pedagogia Progressista se ramifica em outras três linhas de
pensamento:
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TENDÊNCIA LIBERTADORA
Essa é uma das linhas mais famosas no Brasil por sua busca de romper com
o autoritarismo. De acordo com essa tendência, o homem deve ser libertado de tudo
aquilo que lhe impossibilita de exercer todo o seu potencial. Assim, as mulheres não
precisam aceitar o machismo; os trabalhadores do campo não devem se submeter à
vontade dos grandes proprietários; e os negros não devem aceitar o racismo como algo
natural. Para que isso ocorra, é necessário que o homem tome consciência do seu estado
atual e das suas possibilidades de mudar a sua realidade.
É nesse processo de conscientização que a Educação começa a exercer o seu papel,
trazendo para o contexto escolar temas sociais e políticos e incluindo no processo
ensino-aprendizagem a realidade concreta dos alunos. Assim, autores como Paulo
Freire* (principal representante dessa tendência) e Dermeval Saviani* se empenham em
questionar o sistema tradicional de ensino e a função da escola como propagadora das
desigualdades sociais.
*FREIRE: Paulo Reglus Neves Freire (1921-1997) nasceu em Recife – Pernambuco. Foi
educador, escritor e filósofo. Graduou-se em Direito pela Universidade de Recife, mas
abandonou a advocacia e dedicou-se ao ensino de língua portuguesa no Colégio Oswaldo
Cruz e de Filosofia da Educação na Escola de Belas Artes da Universidade Federal de
Pernambuco.
Freire desenvolveu um método de alfabetização de jovens e adultos no qual o vocabulário
a ser ensinado se baseava no contexto imediato dos alunos. Esse método foi aplicado
pela primeira vez em 1962 em Angicos, sertão do Rio Grande do Norte.
(Informações coletadas do site eBiografia em 20/09/2019)
*Dermeval Saviani: Nasceu em Santo Antonio de Posse, comarca de Mogi Mirim, no
interior do Estado de São Paulo. Formou-se em Filosofia e, atualmente, é professor da
PUC-SP onde desenvolve diversos projetos e pesquisas na área da Educação.
(Informações coletadas do site Letrasunifacead em 22/10/2019)
A principal questão da Educação Libertadora é:
COMO CONSTRUIR UM PROJETO DE
TRANSFORMAÇÃO SOCIAL A PARTIR DE UMA
NOVA PEDAGOGIA?
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Um dos caminhos utilizados
pela Tendência Libertadora para se
alcançar esse objetivo é
a problematização da realidade
social, na qual o aluno, por meio
de discussões, começa a analisar o
seu contexto e
a identificar necessidades
de melhoria da sua realidade.
Vejamos as principais características da Tendência Libertadora:
escola relação professoraluno
conteúdo
Tem o papel de
estimular a
conscientização da
realidade social para
transformá-la.
É construída com base
no diálogo, no qual
professor e aluno são
livres para expressarem
as suas contribuições
ao processo de ensinoaprendizagem.
São estabelecidos a partir
de temas
geradores, que partem
da vida prática dos
alunos.
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método aprendizagem avaliação
Possuem como base o
diálogo, com o objetivo
de garantir a
participação do aluno.
Para isso, são
organizados grupos de
discussão.
É uma atividade de
problematização de
uma situação, com o
objetivo de tornar o
aluno mais crítico.
É feita uma avaliação
mútua, entre professor e
aluno, além de se
permitir a autoavaliação.
TENDÊNCIA LIBERTÁRIA
Após a Segunda Guerra e a Queda do Muro de Berlim, o discurso que se ouvia era de que
o mundo estava à beira de um colapso. No entanto, nos anos 1980, finalmente parecia
que o fantasma da morte por bombas nucleares tinha chegado ao fim, dando lugar a um
ambiente de liberdade representado pelos movimentos hippies* e pelo movimento punkrock*.
*Movimentos Hippies: Os movimentos de contracultura surgem em meados dos anos
1970 nos Estados Unidos e disseminam pelo mundo a ideia de um rompimento com a
sociedade estabelecida. Esse movimento criticava o sistema social construído e trazia a
ideia de que a estrutura da sociedade aprisionava os indivíduos. Para romper com essa
dinâmica, o movimento buscava a libertação da alma, com o retorno do homem à 
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natureza. Nessa perspectiva, a musicalidade foi fundamental para o estabelecimento de
novas experimentações de sons, como os de guitarras. No Brasil, o ícone desse
movimento é Raul Seixas, conhecido como maluco beleza.
*Movimento punk-rock: O Rock and roll surge em meados dos anos 1940 como uma
derivação mais agressiva do blues. O Rock and roll personifica a ideia de um novo jovem,
que luta por liberdade e está presente nos principais movimentos críticos à sociedade dos
anos seguintes. No fim da década 1970, na Inglaterra e nos Estados Unidos, surge uma
variação desse movimento que se intitula punk rock, que trazia a ideia de uma terrível
revolta contra o sistema e o que ele representava. O punk era a música dos guetos
operários, dos jovens sem perspectiva, que faziam, com seus vocais distorcidos e sua
melodia agressiva, uma intensa crítica social.
No Brasil, essa tendência se manifesta nos anos de 1980 nos movimentos pós-regime
civil-militar, com o retorno dos exilados e a conquista gradual da liberdade de expressão.
Os meios de comunicação em massa e os ambientes acadêmicos, políticos e culturais
contribuíram de forma significativa para a expansão desse discurso de liberdade.
Nesse clima, a Tendência Libertária traz a ideia de que, para construir uma sociedade
mais livre, a Educação precisa rejeitar todo tipo de repressão. Assim, no processo
educacional, somente têm relevância os conteúdos que permitem o seu uso prático. Essa
tendência enfatiza, também, a aprendizagem informal, via grupo. Um dos seus principais
autores é Maurício Tragtenberg* (1929-1998), que defendia que devemos superar os
limites da burocracia e criar processos mais livres de construção do conhecimento e de
uma sociedade mais horizontal.
*Maurício Tragtenberg: Nasceu no Rio Grande do Sul em uma família judaica e
camponesa. Sua formação começou como autodidata, obtendo o doutorado pela USP
posteriormente. É considerado um dos maiores sociólogos brasileiros.
(Informações coletadas do site Histórico UFFS em 20/09/2019.)
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Vejamos as principais características da Tendência Libertária:
escola relação professoraluno
conteúdo
Busca construir
indivíduos livres e
autogestores.
O professor está a
serviço do aluno, atuando
com um conselheiro.
Resultam das
necessidades do aluno
e não são impostos.
método aprendizagem avaliação
Contemplam a
liberdade de expressão
e valorizam a vivência
em grupo.
Enfatiza a
aprendizagem informal
e coletiva.
Não é punitiva e o aluno
é estimulado a se
autoavaliar.
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TENDÊNCIA CRÍTICO-SOCIAL DOS CONTEÚDOS
X
Conteúdo Realidade social
Essa relação é a base da Tendência Crítico-social dos Conteúdos, pois ela prioriza
os conteúdos no seu confronto com as realidades sociais. Nesse sentido, a Educação
deve assegurar que todos tenham acesso aos conhecimentos científicos para que
possam desenvolver a sua consciência crítica frente à sociedade.
E COMO É A ATUAÇÃO DA
ESCOLA?
A escola deve dar ao aluno todos
os instrumentos necessários para
que ele seja capaz de transformar a
sua realidade a partir da reflexão de
sua prática social.
Para que o processo de construção da aprendizagem seja eficaz, a Tendência Críticosocial dos Conteúdos faz uso do princípio da aprendizagem significativa*, que considera
o que o aluno já sabe como ponto de partida para a aquisição do conhecimento. Nesse
sentido, a aprendizagem só ocorre quando o aluno é capaz de sintetizar o novo
conhecimento, relacionando-o com o que ele já sabe. Esse processo permite que o aluno
tenha uma visão mais ampla daquilo que está sendo aprendido.
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*Aprendizagem significativa: Esse conceito foi desenvolvido por David Ausubel, psicólogo
da educação estadunidense. De acordo com Ausubel, na aprendizagem significativa há
interação entre uma nova informação com uma estrutura de conhecimento específica. O
cérebro humano, no momento do aprendizado, se organiza formando uma hierarquia
conceitual em que os elementos específicos são ligados a conhecimentos mais gerais.
Para saber mais sobre a aprendizagem significativa, leia o texto “O QUE É AFINAL
APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA?”.
A seguir, veremos as principais características da Tendência Crítico-social dos
Conteúdos:
escola relação professoraluno
conteúdo
É valorizada como local
de aquisição dos
saberes.
Professor e aluno são
colaboradores e trocam
conhecimentos.
São os conhecimentos
universais, acumulados
pela sociedade, que são
constantemente
reavaliados frente às
realidades sociais.
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método aprendizagem avaliação
Devem favorecer a
relação dos conteúdos
com os interesses dos
alunos.
Compreende a
capacidade do aluno de
processar as
informações, ligando os
conceitos específicos
aos mais gerais.
Não é um julgamento,
mas busca evidenciar o
progresso do aluno e a
sua aquisição de
conhecimentos mais
sistematizados.
Vamos conhecer mais um relato de experiência?
O professor Fábio José Paz da Rosa* compartilha conosco, a seguir, uma de suas
experiências em sala de aula em que desenvolve as bases da Tendência Crítico-social
dos Conteúdos.
*Fábio José Paz da Rosa: Doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro, atualmente, é professor auxiliar do curso de Licenciatura em Pedagogia, na
Universidade Estácio de Sá (UNESA). É autor do livro "Educação Profissional: Teoria e
Prática“, publicado pela Editora SESES. Além disso, o professor coordena o Projeto de
Pesquisa "Luz, Câmera e negritudes: o cinema negro na construção curricular nos cursos
de formação de professores" (UNESA) e o Grupo de Estudos Intelectualidade Negra,
Currículo e Formação docente (GINCF).
(Informações coletadas do Lattes em 16/10/2019)
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Sou professor de Sociologia e, na escola,
preciso trabalhar com os alunos temas
como o racismo. Para isso, uso o cinema
negro, pois considero que é uma excelente
forma de permitir que os alunos tenham
contato com novas estéticas, produzidas e
pensadas por negros. Essa estratégia
também permite que os alunos negros se
reconheçam nas imagens apresentadas.
Com essa abordagem, a partir do
conteúdo visto, convido os alunos a
refletirem sobre o racismo e suas
implicações na sociedade em que vivem.
A experiência do professor nos mostra uma estratégia de relação dos conteúdos com
a realidade social. Nessa estratégia, os alunos são estimulados a interpretar a sua
realidade com base nos conteúdos aprendidos e a criar possibilidades de intervir em seu
meio para transformá-lo. Essa é a ideia central da Tendência Crítico-social dos
Conteúdos: desenvolver sujeitos que se tornem cada vez mais ativos na sociedade a
partir da aquisição de conhecimentos e da reflexão sobre os contextos sociais.
A pausa agora é para finalizarmos o nosso esquema. Vamos lá!
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Pronto, agora o nosso esquema está finalizado!
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VERIFICANDO O APRENDIZADO
5. No famoso livro Pedagogia do Oprimido (2017, p. 96), Paulo Freire diz que:
“Ninguém educa
ninguém, como também ninguém se educa a si mesmo: os homens se
educam em comunhão, mediatizados pelo mundo”.
Neste fragmento, podemos perceber a opinião do autor, que apresenta a Educação como
algo intrinsicamente social, que se dá na relação entre as pessoas. Desse modo, qual é a
tendência pedagógica que abarca o trabalho de Freire?
a) Tendência Libertadora, que considera o professor como detentor do conhecimento que
será transmitido ao aluno.
b) Tendência Libertadora, cuja ênfase se dá nas relações interpessoais.
c) Tendência Libertária, na qual o professor administra o ensino-aprendizagem e o aluno
responde a tal planejamento.
d) Tendência Crítico-social dos Conteúdos, em que o professor não deve dirigir o aluno no
que tange às atividades.
Feedback
A resposta certa é a letra B.
As ideias de Paulo Freire se voltam para a compreensão da Educação como ferramenta
de mudança do mundo, pois, ao oferecer autoria ao aluno no processo de sua
aprendizagem, permite que perceba as desigualdades sociais e possa confrontar esta
realidade se assim o desejar. As relações interpessoais ganham destaque à medida que
favorecem o reconhecimento do outro como sujeito, também participante da mesma
realidade social.
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6. Relacione as Tendências Progressistas com as práticas educativas.
1. Tendência Libertadora
2. Tendência Libertária
3. Tendência Critico-social dos Conteúdos
( ) Propõe como método a dialogicidade: trabalho em grupo de discussão e
conscientização.
( ) Propõe o método participativo e fundamentado no saber universal: vínculo entre
teoria e prática.
( ) Há interação diretiva: troca entre professores e alunos. O professor é mediador.
( ) O conteúdo emerge dos interesses dos alunos e não é pré-determinado.
( ) Tem um caráter político, incorporando a realidade vivencial do aluno ao ensino.
a) 3 – 2 – 1 – 1 – 2
b) 2 – 3 – 2 – 1 – 1
c) 1 – 1 – 3 – 3 – 2
d) 1 – 3 – 3 – 2 – 1
Feedback
A resposta certa é a letra D.
A Tendência Progressista vê o aluno como sujeito do processo de ensino e
aprendizagem. Nesse sentido, o objetivo da Educação é construir alunos críticos,
capazes de refletir sobre sua realidade social e transformá-la. A diferenciação entre
Libertadora, Libertária e Crítico-social dos Conteúdos está, a partir do pensamento dos
autores que as defendem, especificamente ligada ao papel do ensino, ao método
adotado e à relação professor-aluno.
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Como vimos neste tema, no campo educacional, encontramos diferentes discussões
sobre tendências pedagógicas que, em comum, têm dirigido suas atenções em busca do
melhor papel da escola e da sociedade no processo de ensino e aprendizagem.
REFERÊNCIAS
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. São Paulo: Moderna, 1998.
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da educação. São Paulo: Moderna, 2006.
COSTA, Marisa Vorraber et al. O currículo nos limiares do contemporâneo. Rio de Janeiro
: DP&A, 1999.
GADOTTI, Moacir. Pensamento pedagógico brasileiro. São Paulo : Ática, 1988.
LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da escola pública. São Paulo: Loyola, 1989.
LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da escola pública: a pedagogia crítico-social dos
conteúdos. 21 ed. São Paulo: Loyola, 2006.
MATUI, Jiron. Construtivismo. São Paulo: Moderna, 1998.
QUEIROZ, Cecília T. A. Pontes de; MOITA, Filomena Maria G. da S. C. Fundamentos
sociofilosóficos da educação. Campina Grande; Natal: UEPB/UFRN, 2007
SANTOS, Santa Marli Pires dos (org). O lúdico na formação do educador. Petrópolis (RJ):
Vozes, 1997.
45 / 45
SAVIANI, Demerval. Escola e democracia. 36 ed. Campinas (SP): Autores Associados,
2003.
SAVIANI, Dermeval. Pedagogia: o espaço da educação na universidade. In: Cadernos de
Pesquisa, v. 37, n. 130, jan./abr. 2007.
SILVA, Delcio Barros da. As principais tendências pedagógicas na prática escolar
brasileira e seus pressupostos de aprendizagem. UFSM. 2014.
TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e Interação. São Paulo : Cortez, 1998.
EXPLORE +
Leia:
Pedagogia: o espaço da educação na universidade.
Assista:
DERMEVAL SAVIANI | A pedagogia histórico-crítica.
CONTEUDISTAS
Allan de Carvalho Rodrigues
Antonio Sergio de Giacomo Macedo
Rodrigo dos Santos Rainha
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AULA 4
AÇÃO PEDAGÓGICA E TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA
DEFINIÇÃO
Este tema está fundamentado na relação
entre o conhecimento científico e o
conhecimento escolar a partir da
compreensão do conceito de transposição
didática e da ação pedagógica como
atuação consciente do professor em sua
prática cotidiana.
PROPÓSITO
Os conceitos de transposição didática e de
ação pedagógica são fundamentais para
compreender como conseguimos trabalhar
com conhecimentos historicamente
constituídos no contexto acadêmico. A
compreensão desses conceitos torna-se,
portanto, fundamental para refletir acerca
da atuação do docente em sua prática
cotidiana.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Identificar o conceito de ação pedagógica
MÓDULO 2
Definir o conceito de transposição didática
INTRODUÇÃO
Quando falamos em aprendizagem, logo pensamos na sala de aula. A figura do aprender ficou
marcada por muito tempo em um modelo tradicional de ensino, no qual o professor era o
centro e o detentor do conhecimento, tendo como objetivo do processo apenas o ato de
instruir. Posteriormente, por meio de estudos e reflexões sobre este tema, a ação, as práticas
do professor e a concepção de ensino e de educar tiveram novas perspectivas e abordagens.
Teorias mais antigas pensavam no aluno
como um papel em branco, prestes a ser
preenchido; por isso, sua voz e seus
saberes eram invisibilizados, ou seja,
descartados pelos desejos e saberes
daqueles que tinham o saber científico.
O processo de ensino-aprendizagem focava
na memorização e uniformidade de
currículos e métodos. Assim, os
professores se detinham em trabalhar
todos os saberes que vinham dos livros e
da academia utilizando as mesmas práticas
para todas as turmas e todos os alunos.
Foto 1: Sala de aula tradicional (Fonte: USP). Foto 2:
Cartilha (Fonte: Plataforma do letramento).
Com o passar do tempo, as concepções de ensino e do ensinar passaram por
mudanças, e a ação pedagógica começou a ser repensada, tendo o aluno como
centro do processo de ensino-aprendizagem.
AÇÃO PEDAGÓGICA
Para falarmos de ação pedagógica, precisamos antes entender alguns pontos:
1. O conceito de Ação
Pedagógica entrou em
vigor ao longo do
século XX. Antes disso,
o entendimento da
didática era filosófica.
Assim, perdia seu
sentido diante da
necessidade de
estruturas mais
concretas. Como
exemplo, a taxa de
analfabetismo do
Brasil, que
apresentava como
média nacional a
ordem de 74,6%.
2. A ação pedagógica
não é sinônimo de
ação docente, mas a
efetiva articulação
entre as ações do
professor e do aluno.
Então, a didática atua
na reflexão da prática
que se dá entre
professores e alunos.
3. A educação não
acontece apenas pelo
docente. Todos os
envolvidos no
processo de
planejamento - sejam
eles professores,
coordenadores
pedagógicos e
gestores - devem ter
como guia dessa ação
os alunos e seus
conhecimentos e
saberes.
A partir desses pontos, passamos a entender que a educação não acontece somente na escola.
Embora essa afirmação possa ser considerada óbvia, é necessário que percebamos o quanto
ela está relacionada à educação escolar e, consequentemente, com a prática docente.
Se por um lado a educação é um processo que não se restringe apenas à escola,
mas à sociedade, por outro a escola é um espaço privilegiado de ensinoaprendizagem legitimamente estabelecido. Quando a escola se constitui
enquanto espaço social de ensino, aquilo que será ensinado passa a ter mais
legitimidade que outros tipos de saber que não passam por esse mesmo lugar. E,
se precisamos selecionar, também indicamos que tipo de saberes receberá ou
não tal legitimidade. Estamos entrando no espaço da intencionalidade e da
relação de
poder, portanto, começamos a falar de Ação Pedagógica.
SABER X PODER
O espaço escolar é um local historicamente marcado pela relação entre saber e
poder.
Como vimos no vídeo, a Esfinge devorou todos aqueles que não conseguiam decifrar seu
enigma. Considerando sua própria atitude, após ter o enigma decifrado por Édipo, chegamos à
conclusão de que toda a sua identidade, a condição de sua existência, estava centrada no fato
de apenas ela possuir o saber, o que lhe garantia determinado poder. Essa relação também
está presente no cotidiano escolar.
Michel Foucault levanta em seu livro,
Microfísica do poder, Michel Foucault
levanta uma discussão sobre saber e
poder. Ele explica que precisamos notar
que o poder não se encontra nos polos ou
nas pontas de onde ele é exercido e para
onde ele exerce, ou seja, que a única forma
de percebermos relações de poder é pelas
relações. Ou seja, as nossas relações sociais
são marcadas por disputas, e essa teia de
relações de poder toca e modifica
constantemente o cotidiano.
Como a Ação Didática no ato educacional
nos remete à intencionalidade, essa
relação é afetada pela teia de poderes, mas
também se integra em um conjunto de
regras sociais que o professor se vale para
manter do seu lado elementos do poder. A
noção de que ele estabelece uma vigília
constante sobre os alunos, e que seu poder
de punição de formas diversas está
presente, faz parte do cotidiano estrutural
do ensino.
Por outro lado, ocorre o enfrentamento
constante dos alunos questionando a
autoridade desses professores e a
importância dos saberes presentes no
currículo formal escolar. A desmotivação, o
mau desempenho e o confronto atuam
como indicadores dessas práticas de
questionamento sobre a detenção do
poder.
O professor se encontra em uma conjuntura complexa e necessita traçar
estratégias, construir práticas que permitam que o processo de ensinoaprendizagem seja efetivo, apesar das disputas.
As pressões das relações escolares podem tornar a dinâmica da escola um espaço de tensão e
enfrentamento. Por isso, o professor deve ultrapassar o modelo tradicional de ensino e propor
um processo de ensino-aprendizagem repleto de intencionalidade.Com base nisso, discurse
como as relações de saber e poder ocorrem entre professores e alunos e como superá-las.
Diante dos enfrentamentos escolares, o aluno tende a tomar uma posição de resistência. Ele
questiona o significado do aprendizado, o valor do conhecimento curricular e o motivo dos
seus saberes de vida serem depreciados em relação aos saberes escolares. Por isso, as ações
que ocorrem na escola devem estar alinhadas às dinâmicas sociais e de pensamento. O
sujeito que atua na educação precisa se preparar, desenhar estratégias, perceber objetivos,
entender as forças que influem em seu trabalho.
Considerando todos esses aspectos, a ação pedagógica pode ser pensada em três
passos fundamentais: PERCEBER O PROFESSOR COMO UM AGENTE EDUCADOR,
DEFINIR O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM e IDENTIFICAR AS
NECESSIDADES DO EDUCANDO.
PERCEBER O PROFESSOR COMO UM
AGENTE EDUCADOR
É fundamental que aquele que ensina se reconheça como agente educador, devendo
entender que há a necessidade de uma série de procedimentos, escolhas, preparo e posturas.
Esse elemento fundamental da ação docente é, muitas vezes, mal compreendido, pois o
docente é apresentado como detentor absoluto do conhecimento e, portanto, não permitiria
interferência ou contribuição no ato de ensinar. Vamos entender na prática:
Em meu primeiro emprego como professora, meus alunos, além de não
prestarem atenção na aula, debochavam e até pareciam ter raiva de mim.
Tentando mudar aquele cenário, levei um encarte de jornal de um mercado do
bairro e propus que eles simulassem uma ida às compras.
Ao destacar a importância de se fazer contas corretamente para não faltar
dinheiro, demonstrei a importância da matemática. Percebi que, para alcançar os
meus objetivos com a turma, seria necessário assumir meu papel de agente
educador, planejando a aula antecipadamente, analisando os interesses dos
meus alunos e aproximando minha realidade da deles.
DEFINIR O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM
Para que a proposta educacional faça sentido e tenha utilidade, devemos adequar as escolhas
metodológicas à contextualização da realidade do aluno. Para isso, precisamos introduzir o
aluno no processo educativo e permitir que ele traga elementos conhecidos e corriqueiros
para a sala de aula, alcançando, a partir desses elementos, novos saberes e sentidos para
conhecimentos anteriormente adquiridos. Vamos entender na prática:
Oriundo de uma ótima faculdade e com muitas especializações, entrei na escola
desejando revolucionar o ensino; assim, preparei uma aula que me agradaria se
eu fosse aluno. Para minha surpresa, as crianças mostravam desinteresse e
questionavam a necessidade de aprender aquilo.
Ao observar o trabalho de uma colega extremamente tradicional, vi uma turma
participativa e interessada. Foi uma grande decepção, pois eu estava preparado,
conhecendo as teorias mais modernas. Quando lhe pedi o seu segredo, ela me
questionou se eu conhecia os interesses e a realidade dos alunos. Entendi que eu
deveria levar em consideração o cotidiano deles, mostrando que me importava
com as suas opiniões e buscando estratégias adequadas à realidade deles – e
não à minha.
IDENTIFICAR AS NECESSIDADES DO
EDUCANDO
Como terceiro passo, é preciso planejar. Talvez esse pareça ser um elemento menos
importante que os anteriores pelo caráter meramente técnico que possa aparentar. Se por um
lado o planejamento e a escolha do processo de ensino-aprendizagem exigem determinados
conhecimentos didáticos, por outro, o professor não pode acreditar que essa opção técnica
seja totalmente independente das percepções anteriores.
Se o professor não tiver plena consciência das necessidades de seu educando, poderá estipular
que determinado encadeamento de conteúdo será apreendido pela turma toda, ao mesmo
tempo, sem se preocupar, assim, com as dificuldades (ou habilidades) específicas de grupos ou
alunos. Por isso, cabe ao docente identificar quais saberes são fundamentais e farão diferença
na vida e no cotidiano deles, escolhendo estratégias de ensino que tenham significado para as
suas vidas. Vamos entender na prática:
Fui convidado para ministrar um treinamento em uma empresa sobre um
assunto que eu dominava bastante. No primeiro dia, falei por horas e horas.
Tinha a certeza de ter me saído muito bem. Pedi para a turma fazer uma prova e
me assustei com o resultado: ninguém tinha entendido nada. Ao refletir sobre tal
processo, decidi mudar minha abordagem.
No dia seguinte, perguntei se sabiam por que estavam ali e o que gostariam de
aprender. Eles relataram seus medos e expectativas quanto à formação. Em
seguida, eu disse como poderia ajudá-los – e todo o processo mudou. Tentando
despertar sua curiosidade, trouxe para a realidade deles o conhecimento
abordado. Ali eu aprendi uma lição: minha ação como docente não deve estar
centrada no que eu preciso passar, mas na relação entre o meu conhecimento e
o que o aluno precisa aprender.
Acredito que você já percebeu que não é tão fácil ser professor. Esse profissional
deve pensar no cotidiano, no dia após dia da função e, ao mesmo tempo, não
perder o ímpeto e o ânimo de criar e recriar. Para que isso seja possível, é
importante que o professor nunca se esqueça que é um agente educador, que
deve sempre levar a sério a sua responsabilidade em conduzir e dinamizar o
processo de ensino-aprendizagem, respeitando o conhecimento do aluno como
forma de valorizar e redimensionar essa troca.
TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA
Você já teve um professor memorável? Aquele que sempre tinha novas abordagens para sua
matéria, trazia materiais diferentes para exemplificar o aprendizado ou até fazia músicas com
o conteúdo das disciplinas? Apesar da passagem dos anos, você ainda se lembra daquela aula
e dos ensinamentos aprendidos
naquele dia.
Quando transformamos os conceitos científicos necessários para o aprendizado
escolar e trabalhamos de forma que eles passem a ter significado para o aluno,
chamamos esse processo de transposição didática. Através dela, é possível
realizarmos uma identificação dos conteúdos e conceitos científicos que
necessitam ser trabalhados para que façam sentido na escola. Mas, antes de
falarmos da transposição didática, é importante que conheçamos a diferença
entre os tipos de conhecimento que transitam pelo espaço escolar.
Agora que você entendeu a diferença entre o saber científico e o saber escolar, vamos pensar
na prática. Imagine a seguinte situação:
É o seu primeiro dia de aula como professor. Você já é um profissional
preparado, com grande bagagem histórica de leitura e de experiências, e recebe
como missão levar uma parte desse conhecimento a pessoas com vivências e
maturidades diferentes. Qual será a melhor abordagem para iniciar a sua aula?
a) Apesar de o meu conhecimento ser
muito importante, os alunos não terão
capacidade de aprender. Por isso, devo
reduzir o conteúdo ao máximo e deixá-lo
bem fácil, a fim de que eles possam
entendê-lo e aprendam apenas o básico.
b) Eu sei que eles possuem experiência de
vida, mas sou eu que tenho o
conhecimento que eles realmente
precisam adquirir. Como meu
conhecimento é o mais importante, todos
os alunos devem concentrar o máximo de
atenção apenas no conteúdo e seguir o
que eu determinar, pois o que falarei será
vital para eles.
NENHUMA DAS ALTERNATIVAS ESTÁ CORRETA.
Quando nos referimos aos saberes escolares e científicos, parece que ambos são isolados,
porém são indissociáveis. Não podemos pensar no saber científico sem levar em consideração
o cotidiano e as experiências que surgem dentro e fora da sala de aula. Ao mesmo tempo,
nossos alunos precisam ter acesso ao conhecimento acadêmico e ao resultado de suas
observações e experimentações, o que fomenta sempre o interesse e desperta a curiosidade.
Para que haja equilíbrio entre transmissão e aquisição do conhecimento, o professor deve
apresentar o conteúdo não só com qualidade conceitual e científica, mas coerente com a
realidade dos alunos, de modo que faça sentido para eles e que desperte o desejo de
aprender.
Para isso, é importante que entendamos que o aluno está no centro do processo e cabe a
você mediar esses conhecimentos de forma que ele se envolva com o tema e tenha interesse
em querer saber cada vez mais, sendo:
I - INFORMAÇÃO
A apresentação do
conteúdo deve possuir
informações de
qualidade, bem
organizadas e
estruturadas de forma
que o aluno possa ter
acesso ao conhecimento
facilmente em qualquer
lugar e de forma
compreensiva.
E - EMOÇÃO
O aluno precisa ter suas
emoções despertadas
para que a informação
possa lhe fazer sentido:
ele não deve ficar apático
diante daquilo que lhe é
apresentado.
C - CONHECIMENTO
A combinação da
informação do conteúdo
com o impacto das
emoções do aluno gera o
conhecimento, e a
ferramenta que auxilia no
equilíbrio dessa
combinação é a
transposição didática.
A junção da informação com a emoção para formar o conhecimento é chamada
de transposição didática.
Então, agora que você aprendeu esses conceitos, vamos repensar o caso da sala de aula visto
anteriormente?
Com a transposição didática compreendemos a importância de o professor
identificar que o seu trabalho é produzir um novo caminho para o
desenvolvimento do aluno, proporcionando novas formas de aprender e levando
em consideração o cotidiano escolar sem impedir o acesso dos alunos a essas
informações. Vamos, a seguir, entender mais profundamente esse conceito.
SURGIMENTO DA TRANSPOSIÇÃO
DIDÁTICA
O conceito de transposição didática surgiu em 1975 com Michel Verret e foi aprofundado por
Yves Chevallard em 1985. Chevallard desenvolveu a ideia de transposição em que o saber
científico se modifica quando é passado para o campo escolar, ou seja: não basta apenas
transmitir as informações aos alunos, desconsiderando o contexto necessário para sua
compreensão. Em nossa sociedade, os conhecimentos geralmente estão pautados em duas
grandes áreas: saber científico e saber escolar.
Em outras palavras, a transposição didática trabalha com a adaptação do
conhecimento científico para transmiti-lo ao aluno com base em estratégias
pedagógicas de ensino.
Como você pode ver no vídeo, o processo de passagem do saber científico para o saber escolar
ocorre de forma mais eficaz quando o conteúdo apresentado faz sentido e se adapta à
realidade do aluno.
A transposição didática não auxiliará apenas a pensar nos conhecimentos que os alunos
podem trazer a partir das suas experiências. Mais que isso, ela permite identificar como os
conhecimentos formarão esse sujeito para o futuro.
Talvez você esteja pensando:
Qual o significado do conteúdo para a realidade do aprendiz?
Qual é o objetivo desse conhecimento para o futuro do aluno?
E são justamente essas duas questões que vão sustentar e contextualizar a concepção da
transposição didática.
CONTEXTUALIZANDO A
TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA
O processo de contextualização da transposição didática permite que tornemos o
conhecimento científico ou de referências mais próximo à realidade e às experiências dos
alunos. Assim, o conhecimento se torna mais concreto e menos abstrato.
Esse processo permite a diversificação da metodologia, possibilitando o aprimoramento da
aula com conhecimentos vinculados aos cotidianos dos alunos. Sob essa perspectiva, elaborar
o conhecimento com a transposição didática faz com que possamos construir um saber com
significado e sentido, refletindo sempre sobre as questões apresentadas dentro da escola.
O processo de troca de conhecimentos é interligado pela transposição em três momentos:
Saber Sábio
É utilizado pelos autores,
livros didáticos e pela
ciência.
Saber Ensinar
É usado para atingir os
objetivos em sala, ou seja,
o planejamento escolar.
Saber Ensinado
É produzido efetivamente
em sala de aula com os
alunos.
1. O saber sábio vem do meio acadêmico
para a escola através dos livros e do
conhecimento do professor.
2. Através do planejamento, o saber sábio
se transforma em saber ensinar, pensando
e refletindo sobre as ações que ocorrerão
dentro da sala de aula.
3. No saber ensinado, a ciência e o
planejamento são colocados em prática e o
conhecimento é construído conjuntamente
com o aluno, aquele para quem é pensado
todo esse processo.
UM ESTUDIOSO DA FÍSICA
APRESENTA UM
CONHECIMENTO “DURO”,
ISTO É, COM LINGUAGEM
E CÓDIGO ESPECÍFICOS
DA FÍSICA (SABER SÁBIO).
QUANDO PASSAMOS ESSE
CONHECIMENTO PARA A
ESCOLA, ELE DEVE
RECEBER UMA OUTRA
LINGUAGEM E UMA
NOVA FORMA DE SER
ENSINADO.
O SABER ENSINAR É O
MOMENTO EM QUE O
PROFESSOR ORGANIZA OS
CONTEÚDOS E
CONHECIMENTOS PARA
DIALOGAR COM OS
ALUNOS E REFLETIR
SOBRE A MELHOR FORMA
DE ABORDAGEM E
ENTENDIMENTO.
O SABER ENSINADO
BUSCA PRODUZIR UMA
NOVA LINGUAGEM PARA
O EDUCANDO, OU SEJA, O
DOCENTE DESENVOLVE
SUA AULA E A APLICA DE
UMA MANEIRA QUE O
ALUNO DESENVOLVA O
PROCESSO DE ENSINOAPRENDIZAGEM.
A intenção não é simplificar ou exemplificar os conteúdos, mas demonstrar como
podemos transformá-los para que o conhecimento seja mais acessível para quem
está aprendendo. É preciso trazer o conhecimento para uma linguagem
cotidiana, que afete o aluno, fazendo com que ele possa estabelecer o
conhecimento.
O conceito de transposição didática é fundamental para se pensar sobre a produção do
conhecimento escolar. Sendo assim, quando nos debruçamos sobre o conceito, podemos
perceber que alguns professores estão acostumados a pegar o conhecimento de forma bruta e
transmiti-lo da mesma forma ao aluno e, por isso, algumas matérias podem ser consideradas
incompreensíveis e até desestimulantes.
Quando pegamos o conhecimento científico, planejamos levando em
consideração a realidade e as experiências empíricas e escolares dos alunos;
respeitando os seus saberes e seu cotidiano,
o processo de ensino-aprendizado
se torna prazeroso, relevante e dotado de sentido.
Mas não se engane, adaptar o conhecimento acadêmico para fins didáticos não é um processo
simples. Dois movimentos são centrais para essa transposição didática:
Vamos entender melhor esses conceitos por meio de um exemplo:
Juliana vai dar a sua primeira aula. Empolgada, ao ver que a primeiro tema da aula era sobre
Botânica, caprichou, levou os manuais clássicos que tinha, pois imaginou que os alunos iam
querer saber sobre aquilo.
Além disso, preparou uma apresentação virtual, na qual os alunos veriam todos os nomes e
formas do bioma da Mata Atlântica. Seria a melhor aula da sua vida.
Chegando à sala de aula, a turma estava uma confusão. A professora Juliana tentou acalmar a
turma, mas, quando começou a aula, três alunos dormiam, doze brincavam e quatro,
desesperados, tentando prestar atenção, faziam perguntas que iam irritando a professora
iniciante.
Eles também foram perdendo o interesse, mas o professor não conseguia entender, afinal,
tinha feito tudo tão certinho!
A professora Juliana teve dificuldades com a sua turma por realizar apenas a
transposição externa, ou seja, pensou apenas nos materiais que permitam que o
aluno aprenda. O problema ocorre quando a transposição externa é confrontada
com o cotidiano e, por isso, é fundamental que estejamos atentos aos
movimentos que ocorrem na transposição interna, ou seja, na instituição escolar,
mais especificamente na sala de aula.
Essas questões contextuais postas por Chevallard como esfera marcada pelas lutas, disputas e
negociações de grupos políticos, sociais e didáticos na escolha, seleção e transposição dos
saberes, são denominados de noosfera. Ela correspondente à dimensão social que conduz,
permite e indica como a transposição didática ocorre. Por isso, os professores devem estar
atentos aos caminhos tomados na construção da noosfera, às escolhas curriculares feitas e
como entram neste jogo. Como Chevallard nos aponta:
Quando consideramos as mudanças didáticas com mais cuidado, percebemos
que muitas vezes elas ocorrem apenas em nível superficial, alterando pouco as
estruturas mais profundas do fazer docente.
Por isso, o ato de refletir nossas práticas, dialogando com a realidade, o cotidiano do aluno, é
fundamental no compartilhamento e na troca do conhecimento.
Como podemos ver na situação do professor, quando utilizamos o saber da transposição
externa com a realidade da transposição interna, os alunos demonstram não só o aprendizado
pontual, mas toda a bagagem de conhecimento que os formam.
TRANSPOSIÇÃO DIGITAL
A transposição didática pode ocorrer não só no ambiente presencial, mas também à distância.
Quando falamos na adequação do conhecimento em meios digitais, temos a transposição
didática digital.
Esse tipo de abordagem busca dialogar sempre com quem está do outro lado da tela, seja
através de computadores, tablets ou até celulares, valendo-se de recursos e técnicas que
estimulam o aluno a interagir com diversos objetos de aprendizagem.
Além disso, na transposição digital, devemos ter atenção em relação à linguagem
utilizada para que ela seja acessível a diferentes públicos. Este tipo de linguagem
é chamada de hipermidiática.
LINGUAGEM HIPERMIDIÁTICA
A linguagem hipermidiática na transposição digital exige a integração de diferentes linguagens
(verbais e não verbais) em busca de um sentido ou objetivo. No nosso caso, fazer com que o
aluno adquira conhecimento de forma autônoma. Essa integração entre várias linguagens tem
como objetivo promover o interesse pelo assunto e oportunizar o melhor entendimento do
conteúdo.
Assim, a linguagem hipermidiática realiza a combinação de diversos recursos e objetos de
aprendizagem em prol do aprendizado. Vamos entender isso na prática:
Pense que você é um professor tutor de um curso EAD. O que você vai escrever será lido por
um aluno que deseja aprender. Seu conteúdo é extenso e com termos específicos do
conteúdo. Você precisa de uma ponte para transpor esse conhecimento, que em um primeiro
momento é inacessível a ele. Mas como fazer isso?
Este é o nosso principal desafio como professor:
Transformar o conteúdo considerado puramente acadêmico de modo que ele se
torne acessível e agradável ao entendimento do aluno.
Quando um professor consegue fazer a transposição didática de um conteúdo é porque ele
trouxe aquele assunto complexo para um nível de fácil compreensão, ou seja, para o
inteligível, de modo a democratizar o conhecimento. E é através da linguagem hipermidiática
que será possível realizar uma transposição didática digital eficaz, recursos esses que
ilustrarão ou simplificarão os conceitos sem reduzi-los.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A ação pedagógica não deve ser confundida com a prática docente. Embora ambas estejam
intimamente ligadas ao cotidiano do professor, a prática docente está conectada diretamente
a uma preocupação metodológica (portanto, didática), já a ação pedagógica parte de
pressupostos políticos de que toda ação é atravessada por escolhas que podem ou não ser
explícitas e conscientes. E é nesse âmbito que entra a transposição didática, como ação de
transformar o conhecimento científico em um conteúdo adequado às necessidades e à
potencialidade dos alunos.
Essa transposição didática pode ocorrer não só no ambiente presencial, mas também à
distância, através de elementos hipermidiáticos que minimizam a distância entre quem ensina
e quem aprende.
PODCAST
Agora, com a palavra os professores Luiz Rafael Silva e Rodrigo Rainha, no podcast.
CONQUISTAS ADQUIRIDAS
Reunimos as suas conquistas. Olha o que conseguiu fazer:
• Identificou o conceito de ação pedagógica.
• Definiu o conceito de transposição didática.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARTOLOMÉ MARTÍNEZ, B. La Educación en la Hispania antigua y medieval. Madrid: Morata,
1992.
CHEVALLARD, Y. La Transposition Didactique: Du Savoir Savant au Savoir Ensigné. Grenoble: La
pensée Sauvage, 1991.
CHEVALLARD, Y. Sobre a teoria da transposição didática: algumas considerações introdutórias.
Revista de Educação, Ciências e Matemática, v.3, n.2, mai-ago 2013, p. 1 – 14.
MOURA, E.; ZUCCHETTI, D. Educação além da escola: acolhida a outros saberes. Cadernos de
Pesquisa, v.40, n.140, p. 629-648, maio/ago. 2010.
POLIDORO, L.; STIGAR, R. A Transposição Didática: a passagem do saber científico para o saber
escolar. Ciberteologia. Ano VI, n. 27, 2010, p. 1 – 7.
ZASLAVSKY, A. Ação pedagógica, ação comunicativa e didática. Conjectura: Filos. Educ., v. 22,
n. 1, p. 69-81, Caxias do Sul, jan./abr. 2017. p. 69-81.
EXPLORE +
• Transposição didática sobre o ensino de produção textual na BNCC;
• Symposium - Yves Chevallard;
• Rubem Alves - A Escola Ideal;
• A Transposição Didática: a passagem do saber científico para o saber escolar.
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DIDÁTICA AULA 5
OS PROCESSOS DIDÁTICOS E OS DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADE
DEFINIÇÃO
Neste tema, compreenderemos os processos da produção do conhecimento
educacional no mundo contemporâneo, considerando as metodologias ativas
como proposta de ação pedagógica.
PROPÓSITO
Este tema tem como propósito demonstrar como é necessário para a formação
docente vincular as competências e habilidades desenvolvidas no interior da sala
de aula ao contexto em que a escola está inserida no mundo contemporâneo.
OBJETIVOS
DESAFIOS DA EDUCAÇÃO PARA O SÉCULO XXI
A idade contemporânea se refere ao tempo presente, ou seja, aquele em que
vivemos. É esse o contexto que nos interessa e com base no qual vamos estudar
os processos didáticos que podem ser aplicados na Educação como forma de
responder às suas demandas.
Uma vez que o nosso foco é a Educação, podemos citar alguns aspectos do
mundo contemporâneo que influenciam diretamente o contexto escolar e que se
apresentam como desafios na contemporaneidade. São eles:
Sobre isso, vejamos o que Delors (2001, p. 11) afirma:
“Ante os múltiplos desafios do futuro,
a educação surge como um trunfo
indispensável à humanidade na sua construção dos ideais da paz, da liberdade e
da justiça social.”
(DELORS, 2001)
A citação acima faz parte do prefácio do relatório organizado por Delors,
elaborado entre 1993 e 1996 por inúmeros especialistas do mundo todo, cujo
objetivo era trazer de volta à Educação sua principal característica:
ser ferramenta indispensável à convivência humana. Esse documento faz, então,
uma retrospectiva do século XX, apresentando os cenários de uma Educação
voltada ao século XXI. Para isso, o relatório organizado por Delors (2001) busca
identificar o que denomina de tensões a ultrapassar, que constituem a base do
que se apresentaria no século XXI. Podemos resumir essas tensões
provenientes do século XX da seguinte forma:
GLOBAL X LOCAL
Todos nós somos chamados a nos tornar cidadãos do mundo, especialmente a
partir da difusão de informações das mídias digitais, mas sem perder
a identidade e o interesse pela realidade local, regional.
UNIVERSAL X SINGULAR
Refere-se à inevitável mundialização da cultura: cada vez mais, somos
chamados a consumir uma cultura globalizada. Disso resulta a importância de
buscar formas de preservar as raízes culturais do próprio povo, da própria etnia.
TRADIÇÃO X MODERNIDADE
Especialmente por conta dos avanços das Tecnologias da Informação (TIs),
corre-se o risco de abandonar tudo que não se enquadre nos moldes
da sociedade midiática.
SOLUÇÕES DE CURTO PRAZO X SOLUÇÕES DE LONGO PRAZO
Essa mesma sociedade midiática tem levado as pessoas a um imediatismo em
vários âmbitos da convivência social. Torna-se necessário pensar
em planejamentos mais sólidos (ainda que com prazos maiores que o esperado)
frente aos problemas encontrados, mas sem negar as urgências também
presentes.
LIVRE COMPETITIVIDADE X IGUALDADE DE OPORTUNIDADES
Talvez, esta seja uma das tensões mais antigas, identificada desde o início do
século. Na maioria das vezes, a competitividade, que poderia levar à criatividade,
à inovação e ao desenvolvimento, concretiza-se na forma de exclusão social.
CONHECIMENTO X SABER
A preocupação é estabelecida, aqui, pela tendência de se formar o aluno para
atender às exigências do mercado. Não se pode renunciar a uma formação que
dê atenção à saúde física e psicológica dos indivíduos, o que engloba, também,
uma relação mais saudável com o meio ambiente.
ESPIRITUAL X MATERIAL
É preciso encontrar caminhos de valorização da subjetividade humana, uma
formação de valores que, longe de provocar conflitos, deve servir de instrumento
de tolerância e respeito às diferenças e aos pluralismos em diversos âmbitos
da sociedade.
Para enfrentar esses desafios, são apresentados quatro grandes pilares que
servem de suporte a um projeto educacional chamado Educação para o século
XXI: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser.
Perceba que a simples articulação entre as palavras conhecer-fazer-conviverser já aponta para as características essenciais da Educação: contribuir para que
o aluno construa conhecimentos, de modo que ele possa agir sobre a
sua realidade social e transformá-la.
REFLEXÕES PEDAGÓGICAS PARA O SÉCULO XXI
Alinhados à percepção do relatório organizado por Delors sobre a educação
contemporânea, três autores merecem destaque por suas reflexões
pedagógicas. São eles: Edgar Morin, Philippe Perrenoud e Ken Robinson. Vamos
conhecê-los!
Esta citação faz parte do famoso livro de Edgar Morin, Os sete saberes
necessários à Educação do Futuro. A proposta de Morin é apresentar esses
saberes como condição reflexiva para se pensar a Educação na forma como
vinha se apresentando ao longo do século XX. A ideia é, a partir disso, projetar os
avanços necessários para assumir seu papel de protagonista na formação do
cidadão do século XXI. Morin, então, aborda sete problemas específicos da
Educação, que chama de “buracos negros”.
Vejamos:
O que é o conhecimento?
O ensino dá o conhecimento, porém não ensina o que é.
Qual a pertinência do conhecimento?
O ensino tende a valorizar as disciplinas, deixando de lado o contexto no qual o
conhecimento será implementado.
Qual o papel da identidade humana?
O ensino, em geral, ignora a identidade humana e a sua relação com as ciências.
O que significa compreender?
O ensino não aborda o significado da palavra “compreender” e a necessidade de
se compreender uns aos outros.
O que fazer com as incertezas?
O ensino não aborda a capacidade de lidar com aquilo que não é previsível.
Qual o papel da globalização no conhecimento?
O ensino, em geral, não aborda o fato de que tudo está conectado e de que a
comunidade tem sido direcionada para um destino comum.
Qual a responsabilidade individual e social?
O ensino não aborda essa relação de responsabilidades nos âmbitos social e
individual.
Perceba que os sete problemas apontados por Morin como buracos negros são
a base para construção de sete saberes a serem explorados, uma vez que
conduzem a uma reflexão complexa acerca dos reais impactos que tais saberes
trazem à realidade escolar. No entanto, é importante ressaltar que a proposta
desse autor não é modificar os programas educacionais, anulando a estrutura de
disciplinas. Antes, Morin propõe uma integração dos sete saberes com
as disciplinas já estabelecidas. Então, reveja o gráfico anterior e observe que,
para o desenvolvimento de cada saber escolar de maneira encadeada, devemos
levar em consideração esses saberes.
Esta citação faz parte da obra de Perrenoud (2000), Dez novas competências
para ensinar, e mostra uma preocupação específica desse autor acerca
da formação docente e, consequentemente, da aprendizagem. Perrenoud, nessa
obra, elenca as 10 competências necessárias para o professor:
Apesar da complexidade de definir o papel do professor e, portanto, sua
formação, nesse livro, Perrenoud (2000) procurou apresentar algumas
competências possíveis e explorá-las de forma a oferecer um suporte ao
docente que desejasse assumir um papel mais comprometido com
a Educação do século XXI. A principal contribuição de Perrenoud para a
educação contemporânea foi a valorização do conceito de competências. Esse
conceito parece não só ter sobrevivido às duas décadas do século XXI, como
tem fundamentado grande parte da legislação educacional, especialmente no
Brasil.
Esta citação expressa um dos questionamentos de Robinson feito em 2006
enquanto ele se apresentava em uma importante conferência nos Estados
Unidos:
As escolas matam a criatividade?
Nessa mesma conferência, Robinson buscou responder a esse questionamento
criticando o que ele chama de “modelo técnico-industrial da educação”,
disfarçado de “modelo acadêmico”. Esse modelo, presente no mundo todo,
valoriza apenas um aspecto da formação humana – geralmente a lógicomatemática – e não permite que outras perspectivas tenham relevância na
formação do indivíduo. A partir disso, pode-se responder à pergunta de
Robinson: Sim! As escolas estão matando a criatividade!
Como resposta a esse contexto, Robinson propõe um processo educacional que
valorize as aptidões individuais, permitindo que cada estudante trace caminhos
para seu aprendizado e, consequentemente, realize-se pessoal e
profissionalmente. Dessa forma, o estudante poderá contribuir efetivamente
para a sociedade em que vive. Embora com teor bastante utópico, as ideias de
Robinson continuam presentes em muitas conferências e projetos educacionais
além de seus livros.
METODOLOGIAS ATIVAS
Como vimos, os pilares da Educação para o século XXI, conhecer-fazer-conviverser, influenciam significativamente na aprendizagem dos alunos. Um fator
importante nesse processo é a motivação para a aprendizagem. Por isso, no
contexto contemporâneo, torna-se necessário identificar os aspectos que
motivam e encantam os mais jovens. Sobre isso, vejamos o que Martha
Gabriel afirma:
“A evolução das tecnologias digitais de informação e comunicação tem
transformado profundamente a sociedade
em todas as suas dimensões,
inclusive na Educação.”
(GABRIEL, 2013)
Essa autora identifica as tecnologias digitais como um fator que tem
transformado a sociedade. Uma vez que vem ocupando um lugar central na vida
das pessoas, a tecnologia tem sido identificada como um fator de motivação
dos alunos. Por isso, torna-se necessário integrar essas tecnologias às
metodologias de ensino, de modo que sejam importantes aliadas da
aprendizagem.
Uma estratégia pedagógica bastante centrada no aluno e que é potencializada
pelo uso das tecnologias digitais é a metodologia ativa. Vejamos como José
Moran (2015) define essa metodologia:
“As metodologias ativas são pontos de partida em direção a processos mais
avançados de reflexão, de integração cognitiva, de generalização, de
reelaboração de novas práticas. Nas metodologias ativas, o aprendizado se dá a
partir da antecipação, durante o curso, de problemas e situações reais (os
mesmos que os alunos vivenciarão depois na vida profissional).”
(MORAN, 2015, p. 18-19)
Portanto, as metodologias ativas buscam colocar o aluno no centro do processo
de ensino e aprendizagem, permitindo que crie soluções e busque os
conhecimentos de que necessita. Nesse contexto, o professor atua muito mais
como um orientador do processo de construção da aprendizagem, estimulando,
também, a interação entre os alunos. Perceba que o professor deixa de ser o 
detentor do conhecimento, pois, atualmente, o aluno tem acesso a uma
quantidade enorme de informações proporcionadas pelas tecnologias digitais.
Ao professor, cabe, então, orientar os alunos nessa busca pelo conhecimento.
Podemos citar alguns dos métodos utilizados nas metodologias ativas:
O sucesso de qualquer uma dessas metodologias depende da mudança decisiva
na atuação do professor em sala de aula. Com o uso de metodologias ativas, o
professor precisa enxergar o aluno sob a perspectiva da ação e da parceria, ou
seja, o trabalho pedagógico deve estar fundamentado no diálogo.
O que caracteriza um meio que se propõe ativo é o posicionamento da
inteligência em contraposição à passividade característica dos métodos
tradicionais de ensino. Além de pensar, o aluno precisa sentir o que está
fazendo para não ficar entediado com o conteúdo. Para incluir os sentimentos
na construção de conhecimento, é necessário dar significado ao que se
aprende, a partir do bom humor, da disposição e da alegria no processo de
aprendizado. Portanto, as tecnologias digitais são muito importantes para
oferecer ferramentas para a realização dessa proposta.
Percebeu que, nas metodologias ativas, como o foco do ensino está no aluno, ele
pode traçar o seu próprio caminho para chegar ao conhecimento?
Isso acontece porque, nessas metodologias, os meios para se buscar o
conhecimento não são determinados. O aluno pode, de acordo com suas
características, utilizar diferentes ferramentas e métodos para buscar uma
informação e construir o conhecimento, de acordo com seu perfil de
aprendizagem. O autor Howard Gardner desenvolveu uma teoria que nos ajuda a
identificar diferentes perfis de aprendizagem - a Teoria das Inteligências
Múltiplas –, segundo a qual existem nove perfis de inteligência que determinam
a forma de aprender. São eles:
Inteligência verbal
Habilidade de utilizar as palavras de forma efetiva.
Inteligência lógico-matemática
Habilidade de utilizar os números de forma efetiva.
Inteligência cinestésica-corporal
Habilidade de expressar ideias e sentimentos usando o corpo.
Inteligência espacial
Habilidade de perceber o espaço físico.
Inteligência musical
Habilidade de expressar formas musicais.
Inteligência interpessoal
Habilidade de perceber os sentimentos, as emoções e as motivações das
pessoas.
Inteligência intrapessoal
Habilidade de se autoconhecer e agir com base nisso.
Inteligência natural
Habilidade de lidar com a natureza.
Inteligência existencial
Habilidade de compreender o mundo transcendental.
O conhecimento dos diferentes tipos de inteligência permite ao professor
selecionar os métodos que mais se adéquam aos perfis de aprendizagem dos
seus alunos. Esse autoconhecimento possibilita ao aluno escolher as
ferramentas e os métodos que facilitarão não só a busca, como também a
manifestação do conhecimento.
TEORIAS QUE EMBASAM O USO DE METODOLOGIAS ATIVAS
A concepção teórica que embasa as metodologias ativas é o interacionismo.
Essa concepção entende o sujeito como um ser ativo, que constrói e se apropria
de seus conhecimentos particulares a partir dos elementos e
estímulos fornecidos por outras pessoas e pelo meio em que vive.
De acordo com essa teoria, cabe ao professor estimular e oferecer várias opções
de aprendizado e caminhos, a fim de que o aluno construa seus conhecimentos
por meio de um planejamento didático e pedagógico que facilite a
aprendizagem.
Os principais teóricos que embasam a perspectiva interacionista são Jean
Piaget, Lev Vygotsky e John Dewey. Em suas concepções, esses teóricos
concebem o aprendizado sempre relacionado ao contexto social no qual o aluno
está inserido.
Para Piaget (apud MUNARI, 2010), as interações sociais possuem grande
importância, pois é por meio delas que novas informações e características do
meio são transmitidas, contribuindo para a assimilação do conhecimento de
maneira ativa, de acordo com o estágio de desenvolvimento cognitivo do sujeito.
Vejamos como ocorre esse processo:
Perceba que, para Piaget (apud MUNARI, 2010), as interações sociais são o
principal meio de aprendizado, pois à medida que interage com pessoas e
objetos, o indivíduo está progredindo em suas formas de pensamento e em
suas ações. Nesse processo interacional, o sujeito compreende que sua ação
deve contribuir para a cooperação do grupo, desenvolvendo, assim, uma vida
afetiva.
Para Vygotsky (apud IVIC, 2010), os processos sociais são importantes para
a construção do conhecimento. Dessa forma, o desenvolvimento do indivíduo
acontece a partir das interações que estabelece desde sua infância com o meio
social no qual está inserido. Vejamos como ocorre esse processo:
Imagine uma criança crescendo no seu meio familiar e recebendo todo tipo
de informações.
A partir das interações estabelecidas, essa mesma criança desenvolve
os processos mentais superiores, que são:
Para Vygotsky (apud IVIC, 2010), é por meio do contato com outras pessoas que
o sujeito se apropria dos instrumentos e signos e os internaliza, desenvolvendose intelectualmente. De acordo com essa perspectiva, é importante partir do que
o aluno sabe para acessar o conhecimento ainda não aprendido por ele. Por isso,
o professor deve levar em conta o conhecimento real da criança e gerar
situações que provoquem novas aprendizagens.
Dewey (apud WESTBROOK; TEIXEIRA, 2010, p. 16-17) defende que
a aprendizagem ocorre pela experiência. Para ele, quando os alunos frequentam
um espaço de aprendizado, estão vivendo a vida e aprendendo a partir dela. Por
isso, o autor considera errada o pensamento cujo princípio afirma que a escola
forma o aluno para a vida. De acordo com a perspectiva desse teórico, a vivência
na escola faz parte da vida. Essa instituição precisa proporcionar momentos de
aprendizagem com significado para o estudante, propiciando
experiências motivadoras.
Para Dewey (apud WESTBROOK; TEIXEIRA, 2010, p. 16-17), ao chegar na escola,
a criança já traz conhecimentos e experiências que devem ser considerados no
processo de ensino e aprendizagem. Vamos entender um pouco mais a visão do
autor:
Quando a criança inicia sua escolaridade, leva consigo quatro impulsos inatos:
Esses impulsos são os recursos naturais, que devem ser utilizados como pontos
de partida para se investir no desenvolvimento ativo da criança.
Nesse processo, cabe ao professor buscar os interesses e o contexto social da
criança e utilizá-los como insumo para elaborar atividades que motivem o seu
desenvolvimento, atuando como um orientador no processo de construção do
conhecimento.
Neste tema, você identificou
alguns dos principais desafios para a Educação do
século XXI e perceber as metodologias ativas como a principal estratégia
pedagógica a ser utilizada como resposta a esse contexto cada vez mais
permeado pelas tecnologias digitais. Sabendo da complexidade do processo de
ensino e aprendizagem, torna-se essencial reconheceu as individualidades dos
alunos, envolvendo-os nas tomadas de decisão, a fim de torná-los ativos e
participativos na construção do conhecimento.
Referências Bibliográficas
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2001.
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FRAZÃO, D. Lev Vygotsky – psicólogo bielo-russo. [S. l.]: Biografias, 2017.
Disponível em: https://www.ebiografia.com/lev_vygotsky/. Acesso em: 23 jan.
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GABRIEL, M. Biografia. [S. l.]: Martha Gabriel, [20--]. Disponível
em: https://www.martha.com.br/biografia/. Acesso em: 23 jan. 2020.
GABRIEL, M. Educar: a (r)evolução digital na educação. São Paulo: Saraiva, 2013.
GESTÃO ESCOLAR. Organização do trabalho pedagógico – pensadores da
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Disponível
em: http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.ph
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MORAN, J. Mudando a educação com metodologias ativas. Ponta Grossa:
UEPG, 2015.
MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo:
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MUNARI, A. Jean Piaget. Recife: Massangana, 2010.
PARADIGMA DA MATRIX. Biografia: Ken Robinson. [S. l.]: Paradigma da Matrix,
2011. Disponível em: http://pt.paradigmatrix.com/2011/01/12/biografia-kenrobinson/. Acesso em: 23 jan. 2020.
PAULA, R. N. F. de. Philippe Perrenoud. [S. l.]: InfoEscola, [20--]. Disponível
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PERRENOUD, P. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artmed,
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SÓ PEDAGOGIA. John Dewey. [S. l.]: Virtuous Tecnologia da Informação, [20--].
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VASCONCELOS, A. Edgar Morin. [S. l.]: Escola Educação, [20--]. Disponível
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WESTBROOK, R. (org.). John Dewey. Recife: Massangana, 2010.
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• O saber e o sabor
• Jean Piaget - Fases do desenvolvimento
• Ken Robinson: Escolas matam a criatividade?
Artigos
• A noção de experiência em John Dewey, a educação progressiva e o
currículo de Ciências
• As teorias pedagógicas modernas revisitadas pelo debate
contemporâneo na educação
• Os sete saberes necessários à educação do futuro
• Inteligências múltiplas e representações
Obra
• VYGOTSKY, L. S. A construção do pensamento e da linguagem. Tradução
de Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
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AULA 6
DIDÁTICA E USO DAS
TECNOLOGIAS
DEFINIÇÃO
Neste tema, estudaremos a evolução tecnológica e seus impactos no ambiente
educacional. Em especial, falaremos sobre alguns tipos de ferramentas e
exploraremos o uso das tecnologias digitais na ação docente.
PROPÓSITO
Este tema tem como finalidade apresentar o contexto tecnológico em que vivemos,
suas relações com o cotidiano, além dos principais recursos que permitem
instrumentalizar a tecnologia em sala de aula.
OBJETIVOS
1. Reconhecer os impactos das tecnologias digitais na sociedade;
2. Identificar tendências tecnológicas que influenciam o ambiente escolar;
3. Aplicar as tecnologias digitais em sala de aula para alcançar diferentes
objetivos educacionais.
MÓDULO 1
Reconhecer os impactos das
tecnologias digitais na sociedade
Impactos das tecnologias digitais na sociedade
Para começar nossa reflexão, assista ao vídeo a seguir que mostra uma experiência de
inclusão digital desenvolvida por Sugata Mitra1
, conhecida como “O buraco no muro”.
Assista ao vídeo no material online.
Você percebeu como as crianças foram facilmente atraídas
pelas tecnologias digitais?
Viu como elas rapidamente entenderam como usar o
computador e o que poderiam fazer com ele?
A experiência “O buraco no muro” é um exemplo de como as tecnologias digitais
podem impactar uma sociedade e mudar a forma como as pessoas se relacionam
com o conhecimento. Hoje, estamos diante de uma sociedade dominada pela
cibercultura, cada vez mais impregnada pelo ciberespaço2
. As pessoas estão imersas
no mundo digital, especialmente nas redes sociais. Trata-se de um mundo digital que
modificou nossa experiência em vários aspectos do cotidiano, como assistir a filmes,
pedir comida, transporte, dentre outros.
1 Professor da disciplina Tecnologia Educacional da Escola de Educação, Ciências da Comunicação e Linguagem, na
Universidade de Newcastle. É reconhecido pelo seu experimento “O buraco no muro”, onde mostrou que crianças são
extremamente capazes de aprender quando estão em um ambiente propício. Pela sua atuação, Sugata Mitra ganhou o
Prêmio TED em 2013. Para assistir ao vídeo “O buraco no muro” completo, acesse o material online.
2 O conceito de ciberespaço foi criado na pós-modernidade por William Gibson, escritor norte-americano. Segundo o
autor, esse é um espaço de comunicação que ocorre através de redes de computadores. É um espaço aberto em que
qualquer pessoa pode interagir com outras ou com a própria máquina. O texto Ciberespaço: uma nova configuração do
ser no mundo, de Silva et al, vai ajudá-lo a saber um pouco mais sobre esse assunto. Para conhecê-lo, acesse aqui.
Esse contexto mostra o quanto as tecnologias digitais
estão se tornando importantes para a vida das pessoas.
Vamos pensar um pouco mais sobre esse assunto?
No vídeo a seguir, a partir da animação do ilustrador e cartunista Steve Cutts3
, o
professor Rodrigo Rainha nos convida a refletir sobre os impactos da tecnologia na
sociedade.
Assista ao vídeo no material online.
A animação de Steve Cutts nos serve de alerta, especialmente para o tempo em que
vivemos. A inserção e o uso de meios e ferramentas digitais transformaram e
transformarão cada vez mais nosso comportamento social, nossas relações de
trabalho e de ensino. As gerações nascidas após os anos 1990 – geralmente
chamadas de Geração Z – cresceram imersas no mundo das mídias digitais e são
criadas na virtualização das relações sociais com pessoas e objetos. Por isso,
também são chamados de nativos digitais.
Vamos entender um pouco melhor essa geração?
Leia a reportagem a seguir que descreve o estilo de vida da
Geração Z.
A Geração Z e a conexão 24 horas por dia
Os 2 bilhões de jovens nascidos depois de 1995 estão decididos a construir uma vida
distante dos códigos e das aspirações dos mais velhos.
3 É um ilustrador e animador do Reino Unido. Desenvolveu projetos para agências de renome, incluindo a UNESCO, The
Gaia Foundation, Isobar, dentre outras. Trabalha, principalmente, com as ferramentas: Adobe After Effects, Toon Boom
Harmony, Photoshop, Cinema 4D e Manga Studio. Para assistir à animação “Escravos da Tecnologia” completa, acesse
o material online.
Leia a reportagem completa no material online.
(Reportagem produzida pela revista Exame)
A reportagem mostra como o cotidiano das pessoas foi transformado pelo uso das
mídias digitais. Mesmo aqueles nascidos em décadas anteriores se viram obrigados a
se adaptar, de certa forma, a tais tecnologias. Independentemente de idade, a quase
totalidade das pessoas utiliza soluções tecnológicas diversas diariamente (como
caixas eletrônicos, por
exemplo) e tem seus celulares como principal interface desse
mundo digital.
Como esse cenário afeta a Educação?
Atualmente, os alunos da Educação Infantil e do Ensino Fundamental têm contato com
vídeos, jogos e aplicativos digitais. Essa dinâmica muda a relação da criança com o
conhecimento e a forma como aprendem, além de alterar as relações entre as
pessoas nos processos escolares. É exatamente por isso que a educação
contemporânea deve pensar nas atividades didáticas desenvolvidas em sala de aula a
partir da tecnologia digital. Sobre isso, cabem algumas reflexões:
Qual é a responsabilidade dos educadores diante da
utilização excessiva das mídias digitais pelas crianças?
Como podemos aproveitar a aparente atração pelas mídias
digitais a favor do ensino e da aprendizagem?
Espera-se que o professor tenha uma preocupação permanente com os processos que
facilitam a aprendizagem de seus alunos. Por isso, ele deve adequar o seu
planejamento didático às inovações tecnológicas utilizadas pelos alunos. Nesse
exercício de adaptação, vemos que muitas ferramentas digitais possuem o potencial,
inclusive, de mudar a forma como ensinamos e aprendemos.
MÓDULO 2
Identificar tendências tecnológicas
que influenciam o ambiente escolar.
Conectando a sala de aula
A tecnologia faz parte do cotidiano das pessoas e, consequentemente, da maioria dos
nossos alunos. Eles estão imersos nas mídias digitais, valorizam as interações por
meio de redes sociais e não são apenas consumidores de informações, mas também
são produtores. Esse contexto traz um novo desafio à Educação: pensar em métodos
de ensino e avaliação capazes de auxiliar o aprendizado dos alunos com o uso das
tecnologias digitais.
Atenção
Já passou a época em que os eletrônicos eram vistos como inimigos do
aprendizado. Com a popularização do digital, é impossível fingir que esse mundo
e suas possibilidades não existem ou acreditar que elas não devem fazer parte
da vida das pessoas. Difícil não ver alguém, mesmo crianças pequenas,
mexendo habilidosamente em seus celulares, tablets e outros dispositivos.
A disrupção é um conceito relacionado a essas mudanças, que envolve as tecnologias
digitais. Assista ao vídeo a seguir em que Roberto Paes explica o significado desse
termo e como ele afeta a vida das pessoas e, consequentemente, a prática
educacional.
Assista ao vídeo no material online.
Quando falamos em recursos tecnológicos, logo nos vem à mente cenários e
ferramentas incríveis, como se estivéssemos vislumbrando um futuro ao estilo 
Minority Report4
. Ainda não é como naquele filme, mas as instituições de ensino e os
alunos e professores fazem uso de aplicações, dispositivos e programas de
computador para as tarefas educacionais.
Veja algumas ferramentas usadas atualmente nos processos de ensino e
aprendizagem:
• Armazenamento em nuvem, isto é, espaço para salvar arquivos, compartilhar
documentos e construir trabalhos em grupo.
• Ambientes virtuais de aprendizagem, pagos ou gratuitos, que servem para
diversas funções, como disponibilizar material, cadastrar tarefas, calendários,
interagir com a escola etc.
• Plataformas de publicação de conteúdo, nas quais alunos e professores
consomem, produzem e indicam conteúdos.
• Serviços de busca são usados no contexto escolar para localizar informações,
imagens, acessar dicionários, enciclopédias, bibliotecas virtuais etc.
• Ferramentas de comunicação, como o e-mail (pouco usado por jovens),
diversas plataformas e redes sociais permitem envio de mensagem, criação de
grupo, transmissão ao vivo etc.
O que vem por aí?
A cada ano, novas tecnologias avançam em diferentes esferas e a Educação segue o
mesmo ritmo. Estamos vendo diariamente uma revolução tecnológica, que
potencializa uma revolução na Educação. Isso quer dizer que a tecnologia deixou de
ser algo relacionado ao laboratório de informática ou à sala de multimídia. Hoje, é
pauta de gestores, professores, alunos, pais e responsáveis.
Diversas fundações, empresas e instituições produzem relatórios que indicam as
tendências de uso de tecnologia em contexto educacional.
Destacamos duas delas: a Webcourseworks5
, consultoria que também fornece
tecnologia; e a Educause6
, organização sem fins lucrativos, que busca aprimorar a
Educação pelo uso de tecnologia.
4 Minority Report é um filme de ficção científica lançado em 2002, estrelado por Tom Cruise e dirigido por Steven
Spielberg. A história se passa no ano de 2054, quando John Anderton (Cruise) chefia a área de pré-crime, parte do
departamento de polícia especializada em antever crimes por meio de 3 videntes.
5 Empresa americana de consultoria (também provedora de serviços) focada em tecnologias que aprimoram a
aprendizagem. Fundada em 1979, ela usa o modelo de Hype Cycle da Gartner adaptado para a educação.
6 Dentre as diversas iniciativas promovidas pela Educause (https://www.educause.edu/), destacamos os estudos sobre
melhores práticas de TI para instituições de ensino superior.
Separamos algumas tendências de uso de tecnologia no contexto educacional para
que você conheça suas características e possibilidades de aplicação para a Educação
Básica e Ensino Superior. Veja a seguir:
ARMAZENAMENTO EM NUVEM
O acesso a qualquer hora e em qualquer lugar é o grande apelo do uso de nuvem.
Além de compartilhar arquivos e materiais, as ferramentas de colaboração presentes
nessas plataformas permitem cocriar, o que facilita o uso para trabalhos em grupo.
Soma-se a isso a quase infinita capacidade de armazenamento de conteúdo.
ROBÓTICA EDUCACIONAL
Muitas escolas começaram a oferecer em seus currículos a disciplina de Robótica,
algo que já existia com mais frequência no Ensino Superior, em especial nos cursos de
Engenharia e de Tecnologia. Seu estudo estimula a associação entre teoria e prática,
além usar o erro e a criatividade como métodos de ensino. Outro aspecto
fundamental é a possibilidade de inserir o ensino de linguagem de programação como
parte da metodologia, permitindo explorar a competência de pensamento
computacional.
REALIDADE VIRTUAL, AUMENTADA E MISTA
Primeiramente, é importante conhecer as diferenças:
• A realidade virtual ocorre quando temos a sensação de imersão e usamos um
óculos específico para isso;
• A realidade aumentada usa um dispositivo (como o celular) para expandir a
realidade física observável;
• A realidade mista mescla aspectos físicos com virtuais, como, por exemplo,
um voo virtual de asa-delta com o uso de ventiladores e molas para simular o
ambiente físico real.
USO DE DISPOSITIVOS MÓVEIS
Apesar de ainda ser visto como um inimigo do professor, o celular pode ser um grande
aliado para o emprego de novas metodologias. Os benefícios são muitos: leitura de
textos didáticos, pesquisa, atividades online síncronas, criação de conteúdo, uso de
aplicativos educacionais etc.
É óbvio que a implementação e o monitoramento do uso de dispositivos em sala de
aula são essenciais para o sucesso.
Uma das preocupações deve ser a democratização do uso, assegurando que todos os
alunos tenham iguais condições para estudar. Por isso, é comum encontrarmos
iniciativas em que a escola disponibiliza um dispositivo para cada aluno.
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL (IA)
Trata-se de um vastíssimo campo de aplicação. Porém, se concentrarmos o foco no
contexto educacional, podemos destacar algumas aplicações:
• Tecnologias de voz: a IA permite aplicar tecnologias como speech-to-text (“da
fala para texto”) para traduzir simultaneamente conversas em ferramentas de
comunicação por vídeo, bem como usar assistentes virtuais por comando de
voz para fazer anotações;
• Uso de chatbots: mecanismos de conversação com robôs, que simulam
linguagem natural, podendo ser aplicado para sanar dúvidas de conteúdo, por
exemplo;
• Reconhecimento facial: pode ser usado para marcar frequência de alunos,
capturar emoções, como atenção, desatenção, apatia etc.
MÓDULO 3
Aplicar as tecnologias digitais em sala de aula
para alcançar diferentes
objetivos educacionais
Como aplicar as tecnologias digitais em sala de
aula
Antes de conhecer as diferentes aplicações das tecnologias digitais, assista ao vídeo a
seguir, que mostra como o Colégio Internacional Everest utiliza as tecnologias digitais
em seu contexto escolar.
A partir de agora, você conhecerá algumas ferramentas digitais que poderão ser
aplicadas em sala de aula, com o objetivo de tornar o processo ensino e
aprendizagem mais dinâmico, divertido e motivador. Enquanto você conhece os
diferentes tipos de ferramentas, aproveite as dicas e tutorais para criar os seus
próprios recursos educativos. Vamos lá!
Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA)
AVA é uma plataforma digital que permite o desenvolvimento de cursos online. Nesse
espaço, é possível disponibilizar conteúdos interativos e objetos de aprendizagem,
desenvolver avaliações de aprendizagem, gerenciar o desenvolvimento dos alunos e
interagir com outras pessoas. Essas ações fazem desses ambientes virtuais locais
ricos para a construção e compartilhamento de conhecimento.
E quais são os benefícios dos AVA?
Com base em Schelemmer 7
(2005), elencamos os principais benefícios para o
professor e para o aluno.
PROFESSOR
• Permite que a informação alcance um número elevado de pessoas, uma vez
que não há limites de tempo ou espaço;
• Possibilita a disponibilização, atualização e compartilhamento de informações
em tempo real;
• Atua como suporte para práticas educacionais interdisciplinares e
transdisciplinares;
• Permite a adequação da abordagem de ensino aos diferentes estilos de
aprendizagem e às características da comunidade para a qual o curso será
direcionado.
ALUNO
• Possibilita acesso fácil à informação, uma vez que o aluno pode acessar de
qualquer lugar e em qualquer horário;
• Permite o compartilhamento de informações e a criação de conteúdos de
forma coletiva;
• Permite que a ação educacional seja mais adequada às necessidades do aluno,
uma vez que o tempo e os métodos podem ser correspondentes ao seu perfil.
Hoje, muitos AVA estão disponíveis gratuitamente, possibilitando que professores de
diferentes áreas de conhecimento criem espaços de aprendizagem virtual voltados
7 Eliane Schlemmer é doutora em Informática na Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atua em
projetos voltados para a área de Educação e Tecnologias Digitais e é autora de livros sobre a temática, como:
Comunidades de Aprendizagem e de Prática de Metaversos; Learning in Metaverses: Co-Existing in Real Virtuality
(Aprendizagem em metaversos: coexistem na realidade virtual).
para o seu contexto educacional. Por isso, a seguir, vamos apresentar alguns AVA que
poderão servir como suporte para a construção desses ambientes.
Crie o seu próprio ambiente
virtual!
Acesse o material online e saiba como.
Conteúdos digitais
Outra forma de aplicar as tecnologias digitais no ambiente escolar é através da
criação de conteúdos digitais, que podem ser disponibilizados em sites ou blogs e
criados em sistemas gerenciadores de conteúdos.
O professor, então, pode mudar a dinâmica das aulas usando essa ferramenta como
apoio para:
• Transmissão e compartilhamento de conteúdos e informações
• Interações com os alunos além do espaço escolar
• Utilização de diferentes mídias, como áudio e vídeo
• Desenvolvimento de atividades de pesquisa
• Disponibilização de testes e avaliações
Mas como criar conteúdos digitais educativos?
1. Comece planejando como será o seu site ou blog: qual é o público-alvo, quais
serão os assuntos abordados, qual será a estrutura e como será a identidade
visual.
2. Escolha um layout agradável. A identidade visual precisa ser harmônica:
ícones, imagens e fontes devem seguir um padrão visual. Alguns gerenciadores 
de conteúdo disponibilizam templates prontos. Basta escolher o que mais se
adequa ao seu projeto.
3. Crie espaços de interação com os alunos onde eles poderão colocar dúvidas,
sugestões e expor as suas opiniões e ideias. Aproveite para integrar as redes
sociais ao seu site. Elas são excelentes espaços de interação com os alunos.
4. Utilize diferentes mídias, como vídeos, músicas, podcasts, aplicativos, revistas
digitais, jogos, dentre outras.
Crie o seu próprio conteúdo
digital!
Acesse o material online e saiba como.
Objetos de Aprendizagem
Os Objetos de Aprendizagem (OA) são recursos, digitais ou não, usados como suporte
para o desenvolvimento da aprendizagem, que podem ser reutilizados, permitindo a
aplicação em diferentes contextos.
Para que um recurso seja considerado um OA, utilizado em cursos a distância, ele
deve atender a alguns critérios apresentados a seguir, com base em Braga8
(2012):
• Atender a uma função didática - Deve ter objetivos de aprendizagem claros e
alcançáveis;
• Disponibilidade - Precisa ser facilmente encontrado pelo usuário;
• Acessibilidade - Deve ser acessado por qualquer pessoa (com ou sem
deficiência) e utilizado em diferentes contextos;
• Precisão - Deve atender, com precisão, aos requisitos propostos;
• Confiabilidade - A estrutura deve estar em perfeito funcionamento, sem erros
no conteúdo;
• Portabilidade - Deve funcionar em diferentes sistemas, AVA e dispositivos;
8 Juliana Cristina Braga é doutora em Computação Aplicada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (2004),
mestre em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Viçosa (2000) e graduada em Ciência da Computação
pela Universidade Federal de Viçosa (1997). Atua, principalmente, em temas relacionados à área de Computação.
Atualmente, é pesquisadora e professora da Universidade Federal do ABC e uma das líderes do grupo de pesquisa
INTERA - Inteligência em Tecnologias Educacionais e Recursos Acessíveis. Além disso, é autora de dois livros sobre
objetos de aprendizagem.
• Interoperabilidade - Deve permitir que os dados sejam exportados para
diferentes sistemas;
• Usabilidade - Deve ser de fácil utilização e seguir os padrões de usabilidade.
Como exemplos de Objetos de Aprendizagem, temos:
• Vídeos
• Podcasts
• E-books
• Infográficos
• Jogos
• Recursos de realidade aumentada
Que tal criar alguns objetos
de aprendizagem?
Acesse o material online e saiba como.
Avaliações Online
A avaliação da aprendizagem é uma das etapas fundamentais do processo de ensino
e aprendizagem, pois é o momento em que se faz um diagnóstico dos conhecimentos
do aluno, pode-se verificar o seu progresso e se ele alcançou os objetivos propostos
ao final da ação educacional.
Hoje, existem diversas ferramentas que permitem ao professor elaborar testes,
questionários e trabalhos e disponibilizá-los em plataformas online, possibilitando que
os alunos realizem as avaliações e tenham acesso ao resultado da sua performance.
Veja algumas dicas para elaborar avaliações online:
1. As questões da avaliação devem contemplar todos os temas abordados no
conteúdo. Você pode elaborar uma questão para cada tópico para garantir que
todos os temas sejam contemplados.
2. Elabore questões baseadas em exemplos da vida real. Isso aproxima o
conteúdo ao contexto dos alunos e os estimula a refletir sobre questões
práticas.
3. Diversifique os tipos de questões de acordo com as ferramentas e com o
ambiente virtual que você utilizará.
4. Elabore textos claros e diretos. O aluno precisa compreender claramente o que
é solicitado e quais são os comandos que deve realizar.
5. Limite o tempo de realização da avaliação e as tentativas de resposta. Isso
estimula o aluno a buscar o melhor desempenho nas avaliações.
6. Elabore feedbacks para todas as questões, explicando as que estão certas e as
que estão erradas. Lembre-se que o aluno, na maioria das vezes, realiza a
avaliação online sozinho. Por isso, é necessário ser claro nos feedbacks.
Que tal criar algumas
avaliações online?
Acesse o material online e saiba como.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como vimos, o uso das tecnologias digitais em sala de aula permite aproximar os
métodos de ensino à realidade do aluno. Essas
tecnologias também são ferramentas
capazes de potencializar o aprendizado. Uma vez que as tecnologias evoluem
continuamente, é importante que o professor esteja atento a essas mudanças, pois
elas trazem novas possibilidades ao processo de ensino e aprendizagem, bem como
novas competências a serem alcançadas pelo professor e pelos alunos.
Referências
BRAGA, J.; DOTTA, S. C.; Pimentel, Edson; STRANSKY, B. Desafios para o
Desenvolvimento de Objetos de Aprendizagem Reutilizáveis e de Qualidade. In: DesafIE
- Workshop de Desafios da Computação aplicados à Educação, 2012, Curitiba. Anais
do DesafIE - Workshop de Desafios da Computação aplicados à Educação, 2012.
LÈVY, P. Cibercultura. São Paulo: 34, 1999.
LUND, M. Os três tipos de inovação de Clayton Christensen. Disponível em:
https://epocanegocios.globo.com/Economia/noticia/2019/02/os-tres-tipos-deinovacao-de-clayton-christensen.html. Acesso em: 22 out. 2019.
RAMOS, B. Eletrônicos estão substituindo livre brincar, aponta pesquisa. Disponível
em: http://www.ebc.com.br/infantil/para-pais/2016/07/eletronicos-estao-substituindolivre-brincar-aponta-pesquisa. Acesso em: 22 out. 2019.
REVISTA EXAME. A Geração Z e a conexão 24 horas por dia. Disponível em:
https://exame.abril.com.br/tecnologia/a-geracao-z-e-a-conexao-24-horas-por-dia/.
Acesso em: 22 out. 2019.
SCHELEMMER, Eliane; Ambiente virtual de aprendizagem (AVA): uma proposta para a
sociedade em rede na cultura da aprendizagem. In: VALENTINI, Carla Beatris; SOARES,
Eliana Maria do Sacramento. Aprendizagem em Ambientes Virtuais: compartilhando
ideias e construindo cenários. Caxias do Sul: EDUCs, 2005.

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