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Memoriais de Defesa em Ação Penal


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XVII EXAME - 2 FASE DA OAB - MEMORIAIS
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1º VARA CRIMINAL DA COMARCA DE FLORIANÓPOLIS-SC
10 LINHAS 
DANIEL, já qualificado nos autos da ação penal nº ..., que lhe move a JUSTIÇA PÚBLICA, por seu advogado que esta lhe subscreve, vem, respeitosamente a presença de Vossa Excelência apresentar MEMORIAIS com fundamento no art. 403, §3º do CPP, pelos motivos de fatos e de direitos a seguir expostos:
DOS FATOS 
Daniel, nascido em 02 de abril de 1990, é filho de Rita, empregada doméstica que trabalha na residência da família Souza. Ao tomar conhecimento, por meio de sua mãe, que os donos da residência estariam viajando para comemorar a virada de ano, vai até o local, no dia 02 de janeiro de 2010, e subtrai o veículo automotor dos patrões de sua genitora, pois queria fazer um passeio com sua namorada.
Desde o início, contudo, pretende apenas utilizar o carro para fazer um passeio pelo quarteirão e, depois, após encher o tanque de gasolina novamente, devolvê-lo no mesmo local de onde o subtraiu, evitando ser descoberto pelos proprietários. Ocorre que, quando foi concluir seu plano, já na entrada da garagem para devolver o automóvel no mesmo lugar em que o havia subtraído, foi surpreendido por policiais militares, que, sem ingressar na residência, perguntaram sobre a propriedade do bem.
Ao analisarem as câmeras de segurança da residência, fornecidas pelo próprio Daniel, perceberam os agentes da lei que ele havia retirado o carro sem autorização do verdadeiro proprietário. Foi, então, Daniel denunciado pela prática do crime de furto simples, destacando o Ministério Público que deixava de oferecer proposta de suspensão condicional do processo por não estarem preenchidos os requisitos do Art. 89 da Lei nº 9.099/95, tendo em vista que Daniel responde a outra ação penal pela prática do crime de porte de arma de fogo.
Em 18 de março de 2010, a denúncia foi recebida pelo juízo competente, qual seja, da 1ª Vara Criminal da Comarca de Florianópolis. Os fatos acima descritos são integralmente confirmados durante a instrução, sendo certo que Daniel respondeu ao processo em liberdade. Foram ouvidos os policiais militares como testemunhas de acusação, e o acusado foi interrogado, confessando que, de fato, utilizou o veículo sem autorização, mas que sua intenção era devolvê-lo, tanto que foi preso quando ingressava na garagem dos proprietários do automóvel.
Após, foi juntada a Folha de Antecedentes Criminais de Daniel, que ostentava apenas aquele processo pelo porte de arma de fogo, que não tivera proferida sentença até o momento, o laudo de avaliação indireta do automóvel e o vídeo da câmera de segurança da residência. O Ministério Público, em sua manifestação derradeira, requereu a condenação nos termos da denúncia.
DOS DIREITOS 
O réu foi denunciado pela prática de furto simples, previsto no art. 155 do CP, cuja a pena máxima cominada ao crime é de 4 anos. 
Desta forma o prazo prescricional previsto no art. 109, IV do CP, seria de 8 anos. Contudo, o acusado ao tempo dos fatos era menor de 21 anos e faz jus a redução do prazo pela metade nos termos do art. 115 do CP, ou seja, 4 anos. Considerando que a denúncia foi recebida em 18/03/2010 e até pelo menos 17/07/2015 não há publicação de sentença condenatória, conclui-se que incidiu no caso de prescrição da pretensão punitiva em abstrato, já que entre o recebimento da denúncia até o dia 17/07/2015 já decorreu o prazo de 5 anos. Logo, deve-se declarar a extinção da punibilidade pela prescrição nos termos do art. 107, IV do CP.
O réu foi acusado de ter subtraído o veículo automotor dos patrões de sua genitora, ocorre que ele não tinha a intenção de ficar com a res furtiva, pretendia apenas usá-lo e depois devolver no mesmo lugar, tanto que até mesmo encheu o tanque de gasolina e foi preso quando fazia a devolução.
Logo, o acusado não teve o dolo de se apossar da coisa de forma definitiva, caso contrário não teria feito a devolução do bem nas mesma condições em que o encontrou, caracterizando o furto de uso, caso que exclui a tipicidade da conduta e deve ser o réu absolvido sumariamente.
Caso assim não entenda Vossa Excelência, deve ser considerado que foi juntada folha de antecedentes contendo informações de que o réu responde a outro processo pelo porte ilegal de armas. Todavia, nos termos da súmula 444 do STJ, não é possível a utilização de inquéritos ou processos em andamento para elevar a pena base. Considerando tal processo para aumentar a pena fere o principio da presunção de inocência previsto no art. 5º, LVII da CF, portanto, que seja afastado os maus antecedentes e fixada a pena no minimo legal.
Ao tempo dos fatos o réu era menor de 21 anos, nessa caso aplica-se a atenuante da menoridade nos termos do art. 65, I do CP.
Ao ser interrogado o réu confessou a utilização do veículo sem a autorização dos proprietários, cabendo portanto, a aplicação da atenuante da confissão nos termos do art. 65, III, "d" do CP.
A pena prevista para o delito imputado ao réu é de 4 anos, logo na hipótese de eventual condenação o magistrado deverá fixar a pena para cumprimento inicial no regime aberto nos termos do art. 33, §2º, "c", já que o réu é primário e as circunstâncias judiciais são favoráveis.
Analisando que o crime praticado não teve violência nem grave ameaça, bem como a pena deverá ser fixada abaixo de da máxima, ou seja, menos que 4 anos, poderá no caso em tela substituir a pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos nos termos do art. 44 do CP.
DOS PEDIDOS
Diante de todo exposto requer que seja a presente ação recebida e provida declarando extinta a punibilidade pela prescrição de acordo com o art. 107, IV do CP ou que seja absolvido o réu sumariamente por atipicidade da conduta, nos termos do art. 386, III do CPP. 
Caso assim não entenda Vossa Excelência, que seja afastada a presença dos maus antecedentes nos termos da súmula 444 do STJ, fixando a pena no minimo legal, sendo reconhecidas as atenuantes da menoridade e da confissão, fixando o regime inicial aberto ou até mesmo substituindo a pena provativa de liberdade pela restritivas de direitos.
Termos em que, 
Pede deferimento. 
Florianópolis, 24 de julho de 2015. 
Advogado - OAB