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1 Perfil dos Autores Neide Pérsico é graduada em Psicologia pela Universidade do Rio dos Sinos – UNISINOS – RS, especializada em Psicologia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica PUC – RS e em Gestão de RH pela UNISINOS – RS. Atua na área de Recursos Humanos há 22 anos, em empresas de grande e médio porte, nas áreas de desenvolvimento estratégico, desenvolvimento de pessoal e seleção de pessoas. Como docente faz parte do quadro da ULBRA – Canoas, lecionando Psicologia Aplicada ao Direito e Comportamento Humano nas Organizações. Sonia Beatriz Bagatini, Graduada em Psicologia pela Universidade do Rio dos Sinos – UNISINOS – RS. Especialização em Diagnóstico Psicológico pela Pontifícia Universidade Católica PUC- RS. Especialização em Violência pela Universidade de São Paulo USP-SP. Experiência profissional de 15 anos em Organização exercendo atividades em Seleção, Treinamento e Coordenação Técnica. Atualmente ocupa o cargo de Assessora da Direção, para atividades que visam o desenvolvimento organizacional. Professora da ULBRA nos Cursos Superiores de Graduação Tecnológica em Gestão Hospitalar (Legislação e Ética em Saúde e Serviços Hospitalares); Proteção da Criança e do Adolescente (Processos Sociais de Violência e Vulnerabilidade, Reordenamento de Práticas Sociais Individuais e Coletivas, Psicologia da Adolescência, Redes Sociais e Análise de Práticas de Redes Sociais); e no Curso de Administração (Competência Multidimensional – Módulo: Comportamento Humano nas Organizações). 2 Apresentação Na sociedade contemporânea somos cercados por organizações, das quais dependemos em diferentes aspectos da nossa vida. Podemos dizer que, em nível de trabalho, todos trabalham ou virão a trabalhar em ou com organizações. As novas tecnologias e as transformações sociais mudaram significativamente a vida das pessoas, exigindo características e habilidades de conhecimento técnico e domínio dos recursos tecnológicos da informática e informação. Paralelamente a esta exigência de mercado e das novas configurações das organizações, também surge a necessidade de competências sociais e habilidades para o relacionamento interpessoal. Estas últimas significam conhecer o comportamento humano e sua manifestação no ambiente organizacional, influenciando diretamente na consolidação do comportamento organizacional, que é o objetivo desta disciplina. A Disciplina de comportamento Humano nas Organizações, então tem por objetivo preparar os alunos para uma visão integrada ou total das organizações às pessoas que as compõem. A fim de que possam desenvolver competências essenciais para a compreensão da implicação do comportamento humano na estrutura e funcionamento, e na dinâmica organizacional. Transcendendo este objetivo a disciplina remete a reflexões com intuito de que o aluno além desta visão total ou sistêmica da organização assimile conteúdos que refletem diretamente para o seu auto-desenvolvimento no âmbito pessoal e profissional. Aliando assim o todo da disciplina para o crescimento pessoal do aluno. Essa obra propõe, acima de tudo, uma análise do comportamento organizacional nos aspectos psicológico e social, dando ênfase na interação das organizações com o humano e os impactos do funcionamento organizacional nesse processo. Servindo assim como a base de preparação dos alunos para as disciplinas seguintes que tratam a gestão de pessoas e desenvolvimento de competências. Primeiramente será abordado no capítulo 1 a evolução das organizações e os principais modelos adotados no gerenciamento das pessoas, a partir da Revolução Industrial, até os dias atuais. Nos capítulos 2 e 3, é realizada uma análise e compreensão do comportamento objetivo, conhecido e o oculto, subjetivo e da cultura organizacional 3 como expressão da identidade e personalidade da organização e suas manifestações através de suas crenças, valores, rituais, normas , tabus , estórias, heróis e forma de comunicação. Os capítulos posteriores são dedicados a explanação sobre o comportamento humano e suas manifestações no cenário organizacional. O capítulo 4 apresenta a organização como cenário para vivências de processos psíquicos inconscientes e suas diferentes formas de apresentação como: transferência, idealização e identificação. O capítulo 5 abrange a importante questão da formação da personalidade dos indivíduos e as motivações que levam os indivíduos a agirem para satisfazerem suas necessidades e realizar seus desejos. As pessoas são motivadas por necessidades fisiológicas, de segurança, sociais, de valorização e auto-realização conforme a hierarquia das necessidades de Maslow, necessidades classificadas como básicas e psicológicas. Segundo conceitos psicanalíticos a pessoa apresenta necessidades inconscientes relacionadas a cada tipo de personalidade que se manifestam em necessidades, atitudes e comportamentos. O Capítulo 6 trata do relacionamento interpessoal traçando a sua origem no desenvolvimento do ser humano que é a base para o relacionar-se em todos os grupos: familiares, sociais, religiosos e os de trabalho no contexto das organizações. Cada indivíduo ao buscar a interação social possui as necessidades de inclusão, controle e afeição, e cada uma delas mostra a identidade do grupo e suas implicações para a compreensão do funcionamento do mesmo. O estudo do poder no capítulo 7 compreende uma definição e a compreensão de sua estrutura na perspectiva de sua constituição psicológica no contexto histórico das formas de organização e desenvolvimento humano. Há diferentes fontes de poder nas organizações, algumas conhecidas e aceitas, outras não reconhecidas, mas que atuam dando uma dinâmica às relações de poder. A liderança como um poder formal é definida e caracterizada na atualidade traçando as características do líder e sua importância no dia a dia das organizações. O planejamento como função básica da administração e seu reflexo para o sucesso pessoal e organizacional e o perfil empreendedor como núcleo do desenvolvimento pessoal e profissional são apresentados no capítulo 8. A 4 transformação do trabalho nos últimos tempos tem exigindo do profissional mudança no seu perfil. A demanda do mercado de trabalho por profissionais com perfil empreendedor acontece também nas organizações, onde características empreendedoras são requeridas e valorizadas. Para você que busca a excelência no que faz, esta disciplina espera que as novas configurações das organizações sejam assimiladas e principalmente sirvam para a busca do sucesso em todas as organizações que você faz parte: seu meio familiar, social e de trabalho. Não esqueça que a saúde mental é a soma da capacidade para amar mais a capacidade de trabalhar. Amar e produzir. Família, trabalho e amigos. As autoras 5 Sumário Capítulo 1 – ORGANIZAÇÕES 1.1 Conceito de Organizações, 8 1.2 Evolução das Organizações, 9 1.3 Modelo Mecanicista, 11 1.4 Organizações como Organismo, 12 1.5 Modelo Japonês, 13 1.6 Revolução da Tecnologia da Informação, 15 Capítulo 2 – COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL APARENTE E SUBJACENTE 2.1 Comportamento Aparente, 19 2.2 Comportamento Subjacente, 20 2.2.1 A Estrutura Oculta do Psiquismo Humano e as Organizações, 21 2.2.2 Mecanismos de Defesa, 22 2.2.3 Inconsciente Coletivo, 24 2.2.4 Objeto Transicional, 25 2.2.5 Modalidades Emocionais e o Funcionamento das Organizações, 27 Capítulo 3 – CULTURA ORGANIZACIONAL 3.1 Introdução à Cultura Organizacional, 34 3.2 Elementos da Cultura, 38 3.2.1 Valores, 38 3.2.2 Crenças e Pressuposto, 39 3.2.3 Ritos, Rituais e Cerimônias,41 3.2.4 Estórias e Mitos, 42 3.2.5 Tabus, 43 3.2.6 Heróis, 43 3.2.7 Normas, 44 3.2.8 Comunicação, 44 Capítulo 4 – COMPORTAMENTO E PROCESSOS INCONSCIENTES 4.1 A organização como cenário para a vivência de processos inconscientes, 49 4.2 Transferência, 57 6 4.3 Identificação, 58 4.4 Idealização, 59 Capítulo 5 – PERSONALIDADE E MOTIVAÇÃO 5.1 Personalidade, 63 5.2 Tipos de Estrutura de Personalidade, 65 5.3 Motivação, 69 Capítulo 6 – RELACIONAMENTO INTERPESSOAL NAS ORGANIZAÇÕES 6.1 As bases do Relacionamento Interpessoal, 76 6.2 Diferenças Individuais e a Interação Social, 80 6.3 As Necessidades de Inclusão Controle e Afeição, 83 Capítulo 7 – PODER E LIDERANÇA 7.1 História e definições do Poder, 89 7.1.2 O Poder nas Organizações, 92 7.2 História e Definições de Liderança, 93 7.2.1 Liderança e Contemporaneidade, 95 Capítulo 8 – PLANEJAMENTO E EMPREENDEDORISMO 8.1 Definições de Planejamento, 100 8.2 Importância do Planejamento para o Sucesso Profissional e Organizacional, 101 8.3 Definição de Empreendedorismo, 102 8.4 Características do Empreendedor, 103 8.4.1 Característica High Tech, 104 8.4.2 Característica Hich Touch, 105 8.4.3 Inteligência Emocional, 106 7 Capítulo 1 – AS ORGANIZAÇÕES Neide Pérsico Vivemos em uma sociedade formada por organizações. As organizações estão tão presentes na vida das pessoas que na sociedade moderna as pessoas nascem, crescem, aprendem, trabalham, morrem e são codificadas em organizações. Um hospital, uma escola, companhia de energia elétrica são exemplos de organizações presentes no nosso dia-a-dia. Atualmente as organizações desempenham um papel muito importante em nosso cotidiano como não havia existido ainda. Estão presentes no nosso nascimento, em hospitais, em nosso registro por organizações governamentais e morremos em organizações ou passamos por elas. Quando usamos o telefone, ligamos a TV, andamos de trem, estamos em contato com organizações e dependendo das mesmas. As atividades relacionadas com a produção de bens, prestação de serviços, são realizadas e ou controladas por organizações. As organizações são formadas por tecnologia, recursos materiais e pessoas. Na vida moderna, a vida das pessoas depende das organizações e as organizações do trabalho das pessoas. Mas, a vida nem sempre foi assim. A invenção da máquina a vapor trouxe mudanças profundas na vida das pessoas, na estrutura social vigente, na concepção do trabalho e no comércio da época, esse movimento foi chamado de Revolução Industrial. Até então não existiam fábricas, a agricultura era a principal atividade e quem não era feudal trabalhava nas terras dos senhores feudais, e pagavam o uso da terra com parte da colheita. Outras pessoas trabalhavam em oficinas, em suas propriedades, eram sapateiros, alfaiates, artesãos, donos do seu próprio negócio. A produção era personalizada, atendia as necessidades e desejos de cada cliente. A Revolução Industrial gerou uma mudança significativa em toda sociedade, não só no sentido econômico, mas também na forma de viver. Com a Revolução Industrial vieram as indústrias, a formação das cidades. Os aglomerados de pessoas eram pequenos, a população começou a crescer, o trabalho em oficinas foi desaparecendo. Surgiu a classe operária, até então as pessoas não trabalhavam por salário. Inicialmente, as fábricas situavam-se em áreas rurais, próximas as margens de rios, dos quais faziam uso para suas atividades. Próximo a eles surgiam casas, oficinas, hospedarias, igrejas, etc. A mão-de-obra era recrutada em casas de correção 8 ou asilos. Os contratos de trabalho eram de longo tempo, como forma de fixar os empregados. Posteriormente as fábricas passaram a se localizar nos arredores das cidades. As indústrias se apresentavam como construções gigantes, que expeliam fumaça que acinzentavam as cidades, seus apitos eram ouvidos por todos e marcavam sua presença e controle. O ambiente das indústrias, suas condições de trabalho eram insalubre e inadequados, a ventilação e iluminação era escassa. Os salários baixos, o que levava os trabalhadores a morarem em porões e amontoarem-se em quartos com poucas condições sanitárias. Em decorrência da industrialização, a população cresceu e as cidades tornaram-se feias e envoltas em uma atmosfera fumacenta. Grande número de pessoas saíram do campo e migraram para perto das indústrias, provocando a urbanização. Os meios de transporte sofreram uma aceleração, surgiram os trens, o telégrafo , o selo, o telefone, levando a um avanço econômico, social, tecnológico e industrial. A Revolução Industrial começou em torno de 1860 e provocou principalmente: - Aparecimento das fábricas e empresas. - Substituição do artesão pelo operário especializado. - Crescimento das cidades e administração pública. - Surgimento dos sindicatos. - Início do Marxismo em função da exploração do capital. - Primeiras experiências sobre administração de empresas. As principais mudanças na concepção do trabalho foi a substituição da habilidade do artesão pela máquina, que produz com mais rapidez, maior quantidade e qualidade, reduzindo tempos de produção e a substituição da força do homem ou do animal pela força da máquina. 1.1 Conceito de organização O que se entende por organização tem evoluído ao longo dos anos. Chiavenato1 conceitua organização: “As organizações são concebidas como “unidades sociais” (ou agrupamentos humanos) intencionalmente construídas e reconstruídas, a fim de atingir objetivos específicos”. Schein, citado por Chiavenato2, relaciona características de uma organização. 1 Chiavenato, 2000, p.225 9 - A organização é um sistema que interage com o meio. - A organização tem objetivos definidos. - A organização é formada por subsistemas interdependentes. - O ambiente organizacional é dinâmico. - Por vezes é difícil estabelecer os limites entre a organização e o ambiente. Para Etizione, citado por Chiavenato3, as organizações apresentam algumas características que se apresentam em maior ou menor grau: - Hierarquia de autoridade. - Regras, procedimentos, controles e técnicas. - Divisão do trabalho e especialização no mesmo. - Objetivos definidos. 1.2 Evolução das Organizações Como já citado a Revolução Industrial fez surgir as indústrias, as fábricas, comércios e com eles as primeiras experiências sobre administração de empresas e os estudos relacionados à condução das organizações. Um dos primeiros estudos foi realizado por Max Weber, citado por Martins4. Weber tinha interesse em avaliar as conseqüências das mudanças na sociedade, na concepção do trabalho, no surgimento de uma sociedade envolvida em organizações e principalmente sobre o homem. Para tanto realizou estudos em organizações, procurando conhecer seu funcionamento e o homem, enquanto trabalhador, inserido nesse novo contexto. Weber preocupa-se mais com a ditadura do funcionário, ao invés da ditadura do proletariado, mais da metade da população encontrava-se trabalhando em fábricas, onde eram submetidos a uma rígida disciplina e a longas jornadas de trabalho. Weber desenvolveu a primeira observação sistemática sobre o avanço das organizações. Para Weber as organizações são formas de coordenar as atividades dos seres humanos, o seu trabalho, dentro de um espaço e tempo. O desenvolvimento das operações, a complexidade das mesmas, levou as organizações a uma regulamentação burocrática, com o objetivo de pré-estabelecer o comportamento organizacional, dentro de padrões rígidos, criou normas para lidar coma dinâmica do trabalho. Weber identificou o que foi chamado de Organizações 2 Chiavenato, 2000 3 Chiavenato, 2000 4 Martins, 1982 10 Burocráticas, modelo adotado pelas organizações para sistematizar e controlar suas operações e seus funcionários. Chiavenato5 relaciona as principais características do modelo burocrático: 1. Hierarquia de autoridade – o modelo de estrutura de poder é a pirâmide, onde os cargos de maior autoridade estão no topo e na base está a mão-de-obra operacional. A rede de comando é de cima para baixo, isto é, as decisões são tomadas no topo, enquanto que os demais devem cumprir as ordens, como dever. Cada parte superior controla as atividades e pessoas que estão baixo na hierarquia. 2. Existem normas e regras escritas de conduta para os funcionários: a conduta dos funcionários é regida por normas e regras, o funcionário deve se portar segundo as mesmas. 3. Existe um contrato de trabalho: todo funcionário tem uma carga horária de trabalho a ser cumprida e em troca recebe um salário por seu trabalho. 4. Há uma separação entre a vida pessoal e o trabalho na organização. O funcionário trabalha na fábrica, não importando para a organização a vida pessoal, o interesse se concentra apenas na vida profissional. 5. Os recursos materiais não pertencem ao funcionário. Os meios de produção não pertencem aos trabalhadores, não pertencem a eles as ferramentas, máquinas usadas no trabalho. Uma mudança significativa no mundo do trabalho ocorreu, até então, o trabalhador era dono dos seus instrumentos de trabalho. O tempo dedicado ao trabalho era definido por ele, ele mantinha o controle sobre seu tempo e do seu ritmo de trabalho. O produto era confeccionado totalmente por ele, o trabalhador concebia e manufaturava o produto por completo, passando na indústria a produzir parte dos produtos. Tirou-se o sentido de realização, tornando o trabalho alienado. Para Weber o modelo burocrático era uma forma racional e legal de exercer a dominação. Se apresentava como um modelo ideal, no qual os resultados poderiam ser maximizados, com precisão e disciplina. Podendo ser aplicado a qualquer organização, a burocracia demonstrava ser superior em relação a outras formas de organização. A organização burocrática era comparada a uma máquina, a nível de precisão, habilidade e rendimento. Para Weber o modelo burocrático era superior e primordial na administração de uma população cada vez mais crescente. 5 Chiavenato, 2000 11 1.3 Modelo Mecanicista As máquinas sempre seduziram o homem por sua eficiência, precisão e padronização, foi desejo do homem que uma organização funcionasse como uma máquina, onde tudo fosse previsível, controlado e funcionasse sincronizadamente, cada qual fazendo sua parte. Esse pensamento mecanicista norteou muitas organizações. O Modelo Mecanicista parte de uma visão comportamentalista, onde o comportamento pode ser moldado através de reforços positivos e negativos, do que se obtêm comportamentos desejados ou extraem-se comportamento. Não havia ainda estudos e analises que servissem de referência de como conduzir a administração das empresas. O ideal projetado pelo modelo mecanicista - burocrático era de que as organizações funcionassem como um relógio. Os funcionários chegassem no horário definido, parassem para o intervalo estipulado e retornassem o trabalho no horário indicado, mantendo sempre um ritmo de trabalho regular e satisfatório, diariamente, mês após mês e ano após ano. Uma rotina deveria ser cumprida rigidamente conforme padrão imposto pela empresa e os funcionários monitorados em seu desempenho. Mesmo nos dias atuais, algumas empresas de refeições, monitoram até mesmo a forma como o funcionário cumprimenta o cliente, agradece, fez a solicitação do pedido, etc. O atendimento deve seguir um padrão mecanizado, avaliando qualquer ação pessoal e individual. A Burocracia bem como a organização mecanicista existe até hoje. A burocracia está presente em todas as organizações e a mesma se faz necessária para um funcionamento ordenado, é o grau de rigidez em seus princípios de funcionamento que passou a ser questionado, uma vez que era identificado um comportamento de apatia, de cansaço entre os funcionários que não conseguiam produzir o quanto se esperava, a essência humana era negada. Morgan6 refere que o enfoque burocrático leva a um tipo de pensamento fragmentado e onde as estruturas, seja vertical ou horizontal, são muito rígidas, a informação e o conhecimento não circulam livremente. O Modelo Mecanicista não aceita a existência de relações informais nas organizações, aceita apenas a estrutura formal e as relações derivadas e previstas, isto é, as pessoas só se relacionam conforme a estrutura funcional e hierarquia definida, negligenciando a existência de relações pessoais extras e paralelas a 6 Morgan, 1996 12 estrutura formal, no entanto, é sabido que as relações informais acontecem em todos os níveis da organização. Outra crítica ao modelo Mecanicista-burocrático é a dificuldade em atender com rapidez e agilidade as demandas por mercado por ser um sistema rígido, onde a norma prevalece sobre o resultado. Diante de um modelo que dava mostras de não ser tão eficiente o quanto se propunha, outros olhares foram necessários para compreender as organizações. 1.4 Organizações como Organismo Da visão mecanicista nos anos 30/40 houve um movimento para perceber as organizações como um organismo possuidor de vida, com uma dinâmica interna e interagindo com o meio externo. A visão meramente funcional do trabalho foi ampliada para uma visão mais humana, onde as pessoas têm objetivos, necessidades, assim como a organização. Os trabalhadores possuem necessidades que buscam satisfação e o bom andamento do trabalho e o seu desempenho dependem da satisfação das mesmos. Essa visão, nos dias de hoje, nos parece lógica, mas nem sempre foi assim e não estava presente no início do século XX. A importância da satisfação das necessidades dos funcionários não fazia parte do rol de atribuição dos administradores da época. Só posteriormente foi aceita a idéia de que os funcionários para desenvolverem-se e envolverem-se com o trabalho precisavam estar motivados. Psicólogos e estudiosos da área se organizaram e iniciaram o processo de revelar que o modelo burocrático se contrapunha as necessidades dos trabalhadores enquanto pessoas. Nas organizações orgânicas a estrutura é mais flexível, a comunicação circula mais livremente, há maior participação dos funcionários na resolução de problemas, as pessoas são vistas como fonte de energia e com potencial de contribuição para o atingimento dos resultados. A estrutura de poder não se caracteriza como autoritária como no modelo burocrático, o poder é mais descentralizado. Por apresentar maior flexibilidade, este modelo responde com mais eficiência as demandas de rapidez e agilidade características dos novos tempos. O modelo burocrático recebeu críticas por se revelar moroso, em função de se preocupar demasiadamente com o cumprimento das normas e regras, muitas vezes comprometendo o resultado, para cumprir rigorosamente os padrões definidos pela organização. 13 Dentro da visão orgânica há a aceitação e reconhecimento da existência de relações informais, isto é, diferente do que prega o modelo burocrático, que previa e só reconhecia as relações formais, isto é, o previsto nas estruturas de poder e funcional, onde as pessoas só mantinham relações que estivessemrelacionadas ao trabalho. Toda e qualquer troca de amizade, de parceria, de alianças eram negadas. A visão orgânica reconhece que os funcionários estabelecem relações informais, que em horário de intervalo, de almoço, as pessoas se encontram, trocam informações, diante de situações de insegurança e ansiedade agrupam-se para sentirem-se mais seguros, existem necessidades sociais, de pertencimento, necessidades de reconhecimento, segurança. Os funcionários nas empresas não são robôs, são pessoas com vida que se revela na dinâmica de cada organização, apesar de tentativas, por parte de alguns administradores de não aceitar e tentar neutralizar e estabelecer mecanismos de controle dos aspectos humanos no dia-a-dia das organizações. 1.5 Modelo Japonês Na década de 80, o ocidente voltou sua atenção para o oriente. O Japão atraiu os olhares das empresas do ocidente por lançarem no mercado produtos com preço bastante competitivos e com qualidade superior. As empresas japonesas foram pioneiras em importantes mudanças na gestão de suas organizações, mudanças essas que levaram o sucesso testemunhado por todo mundo. Mesmo tendo vivido uma recessão econômica sofrida em função da II Guerra Mundial, o Japão conseguiu se posicionar economicamente chegando a apresentar ameaça para as indústrias do ocidente. Esse sucesso foi atribuído, principalmente ao modelo de gerenciamento das indústrias, que diferia em muito do modelo burocrático e do modelo adotado pelo ocidente. Principais diferenças - Enquanto no modelo burocrático o poder estava centralizado no topo, as decisões eram tomadas por poucos funcionários que ocupavam cargos de maior valor, e os demais eram executadores, cumpridores de ordens e orientações, no modelo japonês as bases são consultadas, participando do processo decisório. No modelo burocrático o poder segue o exemplo de uma pirâmide e o japonês o poder é mais distribuído. 14 Modelo burocrático Modelo Japonês Poder centralizado em poucos Poder exercido por mais pessoas - O modelo burocrático propõe a especialização do funcionário em uma atividade, defendendo a idéia de que a repetição leva a especialização e essa especialização a um maior conhecimento e rendimento. No modelo japonês o funcionário passa, conhece várias etapas do processo, exerce diferentes posições e cargos em áreas diferentes, propiciando um maior conhecimento de todo processo. Funcionários quando preparados para funções gerenciais realizam longos treinamentos assumindo posições em diferentes departamentos de organizações. A visão limitada do modelo burocrático é substituída pela importância da visão de todo sistema. - No Japão o emprego é vitalício, isto é, o funcionário permanece na organização até a aposentadoria, é desligado somente se cometer alguma falta grave. As promoções e aumentos são por tempo de empresa, por antiguidade, ao contrário do modelo burocrático, onde os aumentos e promoções é meritocrático, isto é, por mérito, conquista por resultados e desempenho, atingimento de objetivos. - Na concepção japonesa, o grupo, a equipe prevalece sobre o individual. A forma de trabalho, a resolução de problemas e encaminhamento de soluções e decisões são realizadas em grupo, bem como, o grupo é recompensado no atingimento de resultados. Na sociedade ocidental o desempenho individual é que é reconhecido, valorizado, estimulando a competição entre os pares das áreas e áreas entre áreas. - Nas organizações ocidentais, prevalece a relação apenas de ordem econômica com o empregado, é importante a vida profissional, funcional. Não é de interesse da empresa a vida pessoal do empregado. Na cultura japonesa faz parte dos interessas das organizações a vida privada, pessoal do funcionário. A empresa interessa-se pelas dificuldades ou necessidades do mesmo, auxiliando em diversos aspectos, como moradia, educação dos filhos, problemas de saúde, etc., esperando em troca dedicação e comprometimento. O gerenciamento das organizações japonesas, dando ênfase ao trabalho do grupo, participação nas decisões e valorizam da vida pessoal contrasta profundamente 15 com o modelo mecanicista-burocrático onde a hierarquia autoritária e a visão funcional e individual é que se destacam. Nas últimas décadas muitas empresas ocidentais adotaram princípios japoneses em seu gerenciamento. Técnicas adotadas como trabalhos em grupo, programas participativos, treinamento em diferentes funções e áreas objetivavam aumentar o comprometimento do funcionário e buscar resultados propostos pela empresa. 1.6 Revolução da Tecnologia da Informação Na década de 90, um novo movimento ocorre, trazendo profundas mudanças na relação das pessoas com as organizações e na organização do trabalho, o que foi chamado, segundo Castel7, de terceira revolução Industrial e Revolução de Tecnologia. A tecnologia de informação e comunicação invadia o campo do trabalho. As organizações foram tomadas pela tecnologia que permitiu a transcendência do espaço e do tempo. As informações poderam ser arquivadas e utilizadas em lugares diferentes e ao mesmo tempo, ocorreu um processo de descentralização das empresas, houve um processo de flexibilização da forma de gerenciar. O formato de muitas organizações foi transformado, surgiram as organizações em rede. Novas formas de produzir e organizar o trabalho surgiu. Para Henry Mintzberg8, existem diferentes formas de estruturas organizacionais que se adaptam às suas necessidades. Existe sempre as que seguem no modelo burocrático, mas cada qual com particularidades. No entanto a tecnologia da informação propiciou um processo de descentralização forte nas organizações e na forma de trabalho das pessoas que podem estar em contato diário com outras empresas e culturas do mundo. Informações, conhecimentos transitam com mais facilidade e livremente. 7 Castel, 1999 8 Mintzberg, 1979 16 Ponto Final Podemos perceber que nos últimos duzentos anos a sociedade passou por mudanças sociais, econômicas, estruturais bastante significativas. Essas mudanças revelam-se na forma de viver, como trabalho. Até a primeira Revolução Industrial o trabalho acontecia principalmente na agricultura ou em oficinas. Com o surgimento das indústrias, essa passou a grande consumidora da mão-de-obra e com isso a necessidade de organizar e coordenar o trabalho das pessoas foi primordial. O primeiro modelo de gerenciamento foi o Burocrático – Mecanicista. Diante das restrições do Modelo Burocrático surgiu o movimento de conceber a organização como sendo dinâmica, possuindo vida e com eles as pessoas que a integravam. Nos anos 80 a cultura entrou em cena como um aspecto o ser considerado e valorizado para buscar o comprometimento dos funcionários na busca dos resultados propostos pela empresa. Na década de 90 aconteceu a revolução tecnológica, chamada de Revolução da Informação que trouxe grandes mudanças na estruturação das organizações e conseqüentemente na forma de trabalhar. Esses movimentos reverteram em mudanças na forma de trabalhar das pessoas e consequentemente nas suas vidas como pessoas. No âmbito das organizações, das máquinas, percebe-se que há muito a ser estudado, a nível de humano, para que esse humano possa colocar em prática todas suas potencialidades. Atividade Classifique em Verdadeiro (V) ou Falso (F) as afirmativas: ( ) O Modelo Burocrático–Mecanicista foi o primeiro modelo identificado na administração das organizações. ( ) O poder na Burocracia é exercido por muitos, é descentralizado. ( ) O pensamento Mecanicista faz parte da visão mecanicista das organizações. ( ) No Modelo Japonês o grupo é valorizado, em detrimentodo individual. ( ) A importância de considerar as necessidades das pessoas para melhorar o desempenho faz parte da visão mecanicista das organizações. ( ) A Revolução da informação levou às organizações a possibilidade de transcender o tempo e o espaço. ( ) O cumprimento das regras e normas em detrimento do resultado e pertinente ao Modelo Orgânico. ( ) Weber considerava o Modelo Burocrático como sendo ideal e o mais eficiente. 17 ( ) Com a Revolução da Informação surgiram as organizações em rede. Capítulo 1 1 – Chiavenato, 2000, p. 225 2 – Ibid, 2000 3 – Ibid, 2000 4 – Martins, 1982 5 – Chiavenato, 2000 6 – Morgan, 1996 7 – Castel, 1999 8 – Mintzberger, 1979 Referências Bibliográficas CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede: a era da informação: economia, sociedade e cultura. V. 1. São Paulo: Paz e Terra, 1999. CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração. 2 ed. Revista e atualizada. Rio de Janeiro: Campos, 2000. FLEURY, Afonso. Aprendizagem e inovação organizacional: as experiências Japão, Coréia e Brasil. 2. ed. 1997. GIDDENS, Anthony. As conseqüências da modernidade. Ed. UNESP, 1991. 177 p. GUERREIRO RAMOS, Alberto. A nova ciência das organizações: uma reconceituação da riqueza das nações. Rio de Janeiro: Ed. da Fundação Getúlio Vargas, 1981. MARTINS, Carlos Benedito. O que é sociologia. São Paulo: Brasiliense, 2004. MINTZBERG, Henry. Criando organizações eficazes: estruturas em cinco configurações. São Paulo: Atlas, 1995. MORGAN, Gareth. Imagens de Organização. São Paulo: Atlas, 1996. 421 p. 18 Capítulo 2 – COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL APARENTE E SUBJACENTE Sonia Beatriz Bagatini Neste capítulo você irá conhecer e refletir a respeito do comportamento organizacional sob dois aspectos interdependentes: o aparente e o subjacente, um visível e o outro não aparente. Dois lados que influenciam diretamente no comportamento e na cultura de uma organização. Conforme define Moscovici1 estes dois lados seriam a luz e a sombra, ou, Foguel2, o que aflora e o que não aflora e ainda Morgan3 que refere as organizações usando uma metáfora de prisão psíquica “porque as organizações se tornam alvos de armadilhas geradas pelo inconsciente”. Ainda sobre o lado subjacente ou oculto nos grupos, Osório4 em seus estudos com base psicanalítica sobre a psicologia grupal, refere que as relações pessoais nos grupos são influenciadas diretamente por motivações inconscientes que nos levam a compreender os fenômenos das interações grupais. Em todas essas terminologias encontramos a expressão de que mesmo aquilo que não vemos também influencia diretamente na dinâmica e vida organizacional. A busca de cumprir metas, objetivos e atingir resultados, as tarefas, os serviços, tecnologia, hierarquia e controle, produtividade, equipe, enfim o funcionamento de uma organização recebe influência permanente daquilo que podemos ver e aquilo que não podemos ver no ambiente em que vivemos, ou na cultura organizacional. Nos temas que serão apresentados você desenvolverá o conhecimento essencial para entender a composição da cultura de uma organização por elementos racionais e por forças inconscientes atuantes. No próximo capítulo será realizado estudo mais detalhado sobre a cultura organizacional e os elementos racionais, restringindo aqui maior ênfase ao comportamento subjacente. Para uma compreensão adequada será abordada uma visão geral do comportamento aparente para então seguir com a definição do subjacente. Esta conceituação e caracterização do subjacente abarcarão os estudos de várias formas de manifestação da estrutura oculta da natureza comportamental humana e suas revelações nas organizações. A importância de assimilar estes conteúdos do presente capítulo está na construção de uma habilidade de compreender as influências do comportamento humano, sua interação grupal na composição do comportamento e dinâmica organizacional. 1 Moscovici, 2003 2 Foguel, 1985 3 Morgan, 1996, p. 209 4 Osório, 2003 19 2.1 Comportamento Aparente Todos os aspectos do ambiente e da organização que são sempre observados e se revelam física e formalmente compõem o aparente de uma organização. Incluem-se os recursos, tecnologia o mobiliário, equipamentos, as estruturas organizacionais. No âmbito comportamental, a interação entre as pessoas também é observada e estas relações constituem a cultura organizacional. É importante observar que assim como a sociedade, cultura de uma organização é composta por três dimensões: a material, psicossocial e a ideológica. Segundo Moscovici5 , a material compreende a estrutura de uma organização, seu ambiente físico, recursos materiais e tecnologia. A psicossocial refere-se à estrutura funcional e de poder através de relações formais e informais emergentes. A ideológica na estruturação de normas e valores declarados e conscientes bem como os subjacentes. A integração destas três dimensões compõe o funcionamento da organização de forma constante para sua adaptação interna. Além da inter-relação destas três dimensões paralelamente deve ocorrer a sua relação com o mundo externo, a sociedade. Aliás, a cultura da organização deve sempre buscar esta interação com a sociedade para sua adaptação externa para sua própria sobrevivência. As organizações econômicas, por exemplo, que não estiverem afinadas a realidade externa e suas constantes mudanças de mercado e de informação, correm o risco se tornarem estanques. Uma organização social que não acompanha as estatísticas e índices das necessidades de seu serviço para a realidade social da comunidade que está inserida, corre o risco de se tornarem inoperantes e refletir o mal uso de um recurso que poderia estar sendo mais bem empregado em outra política pública para a sociedade. Assim como a cultura organizacional deve sempre buscar um posicionamento estratégico adequado no ambiente externo através de estabelecimento de missão e metas e outros recursos para obtenção do sucesso, deve também buscar o equilíbrio interno nas três dimensões anteriormente citadas. Neste equilíbrio interno existe o comportamento aparente que então é definido como tudo que visivelmente compõe a organização desde sua estrutura física, o trabalho em si, e as relações interpessoais aparentes que fazem a organização funcionar. Estes comportamentos são limitados pelas normas, crenças, filosofia, objetivos, ou seja, as “regras do jogo”, elementos da cultura organizacional que serão estudados no próximo capítulo. 5 Moscovici, 2003 20 Foguel6 ao retratar as questões que afloram x que não afloram em uma organização, descreve que nas relações dos grupos aflora muito mais as conversas sobre os interesses da empresa, os resultados, virtudes, habilidades, problemas e oportunidades de mercado. Sendo estes assuntos abertos à conversação porque englobam as metas, tecnologia, mercado, estrutura, finanças e competência técnica. Neste sentido esses conteúdos que dizem respeito ao formal e ao concreto da cultura organizacional são aceitos e ficam no claro, no visível. Adaptada de uma ilustração apresentada por Stanley Herman citada em Foguel7, apresenta o desenho de um iceberg, denominado “iceberg organizacional” onde todo o aparente da organização aqui descrito seria o topo do iceberg, ou seja, que está acima do nível da água, portanto é o que parece, é aceito. Já o que está imerso ou “escondido” na parte inferior do iceberg seria o subjacente, ou o não aparente, o escuro, ou a sombra da organização. 2.2 Comportamento SubjacenteSeguindo o raciocínio do iceberg organizacional, então o subjacente da organização refere-se à parte que não está visível, e constitui a maior parte da cultura organizacional. Imagine então um iceberg, aquela ponta que está acima do nível da água representa o aparente, o físico, o visível e o aceitável. Toda aquela parte imersa, escondida, não visível, constitui parte da cultura organizacional que muitas vezes não é trabalhada ou não é aceita. Incluem-se nesta definição as atitudes e valores, sentimentos de raiva, alegria, medo, desrespeito, normas grupais, interações, mecanismos de defesa, motivações e desejos. Ao metaforizar o lado oculto ou subjacente como prisão psíquica, Morgan8 refere-se que as características racionais de uma organização são uma expressão real de impulsos e desejos inconscientes. Assim o racional serve para dar uma forma ao irracional. Para entender o inconsciente é necessário nos reportarmos ao inicio da vida do ser humano. Desde a tenra idade, impulsos vão sendo reprimidos e construindo o inconsciente. Seria este então um depósito de desejos e impulsos que foram reprimidos a favor de viver em harmonia com seus semelhantes e construindo assim a história 6 Foguel, 1985 7 Ibid, 1985 8 Morgan, 1996 21 familiar e social do sujeito. À medida que amadurece o homem vai sublimando ou canalizando estes impulsos para que atuem de forma aceita pelo mundo externo. Freud o pai da psicanálise, citado por Morgan9, “considera ser a essência da sociedade a repressão do indivíduo e a essência do indivíduo a repressão de si próprio”. Esta concepção nos remete a busca de sentidos ocultos da cultura organizacional nas condutas tanto daqueles que foram seus fundadores como aqueles que a preservam, e pode elucidar ainda mais a metáfora de que o homem é prisioneiro então de sua história pessoal, e seguidores de Freud e Jung apontados por Morgan10, que de acordo com esta visão, o passado influencia o presente através do inconsciente. E a conscientização pelas pessoas desta influência seria a sua liberdade. Criaram formas de auto conhecimento que levam as pessoas a entenderem como na relação com o mundo exterior surgem dimensões ocultas internas. Como as organizações são criadas ou fundadas e mantidas ou preservadas por seres humanos, é evidente que as estruturas ocultas ou subjacentes das pessoas que constituem estes grupos através dos relacionamentos interpessoais, influenciam diretamente esta organização. Portanto podem favorecer melhor entendimento desta organização. 2.2.1 A Estrutura Oculta do Psiquismo Humano e as Organizações A estrutura do psiquismo humano é composta pelo Ego, ou estrutura que se relaciona com o mundo externo, seria o EU que interage com a sociedade através das funções de atenção, memória, senso-percepção, consciência, orientação pensamento, linguagem, inteligência, conduta e afeto. O Superego é formado por conteúdos de moral e ética, o certo e errado, que não estão sempre conscientes, mas assim se tornam diante de uma situação que necessita uma avaliação de efetivar determinado comportamento ou não, de acordo com estes valores internalizados. Por exemplo, ao se defrontar com alguma situação que coloque em pauta a opção ou a tentação de fazer algo errado, os valores e moral do pré-consciente vem para a consciência para que o sujeito reflita e tome a sua decisão. É a nossa polícia interna. O ID é a parte mais profunda, onde estão armazenados conteúdos instintivos, inconscientes, recalcados ou reprimidos. É estrutura que mesmo não seja consciente, não se torna consciente, a não ser através de laboratórios de auto-conhecimento. Ele se manifesta através de traços de personalidade, comportamentos, e que interfere diretamente na relação com outras pessoas e no seu próprio viver e, portanto interfere 9 Morgan, 1996 10 Ibid, 1996 22 nas organizações da qual faz parte, seja familiar, de trabalho, social ou outras. Moscovici11 ao tratar sobre a “sombra” das organizações em um enfoque psicanalítico, refere que “o inconsciente é considerado determinante de muitas ações aparentemente inexplicáveis por outros enfoques teóricos” 2.2.2 Mecanismos de Defesa: Seguindo a teoria psicanalítica a maneira como o ser humano consegue lidar com os impulsos que foram reprimidos é através dos mecanismos de defesa. Estes que redirecionam os impulsos reprimidos para que assumam novas formas e possam se manifestar de maneira menos ameaçadora e com mais controle. Constituem as defesas naturais contra as frustrações que sofrem todos os indivíduos. Os mecanismos de defesa são, então, processos automáticos e inconscientes que a personalidade se utiliza para manter o equilíbrio e estabilidade psicológica. Você já parou para pensar que os cuidados que recebemos desde bebês, a socialização educação, e o nosso amadurecimento vão moldando nossos impulsos e os que não são aceitáveis para a convivência familiar e social vão sendo “empurrados” para o inconsciente. E agora você lida com os conteúdos deste depósito recorrendo a vários mecanismos de defesa para manter o controle sobre eles. Estamos falando de você e de todos nós. Este recurso é fundamental para a qualidade das relações interpessoais. São as armas contra conflitos. A seguir relatamos os principais tipos destes mecanismos nas organizações, segundo Anna Freud12. - Repressão: É o mecanismo base de todos os outros. Consiste em empurrar para o inconsciente todo o impulso inaceitável para o Ego. Desejos, impulsos, pensamentos que seriam incompatíveis com as auto-exigências e motivações conscientes ou o perturbariam, são excluídos do campo de percepção da consciência. - Projeção: Quando atribuímos os próprios sentimentos, impulsos, desejos em uma outra pessoa. Por exemplo, quando uma pessoa enfatiza certas características negativas em outra pessoa para não ver em si própria. Projeta então sentimentos próprios para fora de si, em vez de assumi-lo e entende-lo. - Idealização: Refere-se a uma valorização dos aspectos positivos de uma determinada situação, para não enxergar os aspectos negativos. Por exemplo, uma pessoa que não conseguiu alcançar um resultado satisfatório em determinada tarefa supervaloriza alguns aspectos positivos alcançados e subestima o resultado total que não foi positivo. 11 Moscovici, 2003 12 Anna Freud, 1968, cap. 3, 4, 5 e 9 23 - Racionalização: Criação de justificativas bem elaboradas, lógicas e coerentes que não correspondem a idéia ou sentimento real, pois este poderá ser muito doloroso ao Ego. Exemplo da estória da raposa e as uvas -Fixação: A pessoa se fixa em um padrão, idéia ou atitude, por temer outras que poderiam provocar alguma insatisfação ou sentimento negativo. - Negação: O mecanismo que faz a pessoa negar um fato, uma idéia ou uma situação que poderá trazer a tona um impulso. Podemos citar as distrações, esquecimentos, bloqueios de percepção. - Regressão: Caracteriza um retrocesso a formas anteriores de pensamento ou desenvolvimento causado por frustrações ou conflitos. Gestores podem recorrer a este tipo de mecanismo ao se defrontarem com situações de conflito, então surge o desejo de voltar a formas anteriores de administrar para buscar no passado a situação de satisfação. A repetição de experiências anteriores, porém podem significar um fracasso pior do que aquele experimentado em uma situação difícil de mudança, por exemplo. - Formação Reativa: É o mecanismo que visa transformar um sentimento ou uma atitude em formas opostas de manifestação. Podemos citar como exemplo uma secretária que está com muita raiva de seu gerente, e como não é possíveldemonstrar a raiva, ela se dirige com muita delicadeza e educação oferecendo uma xícara de café, ao invés de expressar seu impulso agressivo. -Sublimação: A sublimação é um mecanismo muito importante, pois, canaliza impulsos ameaçadores e não aceitos socialmente em formas aceitáveis. Um bom exemplo deste mecanismo encontra nas pessoas que possuem impulsos agressivos e sublimam para atividades esportivas ou para obra de arte. Foguel13 reforça que a importância da compreensão destes mecanismos refere-se ao fato de que nas organizações as pessoas não estão atentas para seus motivos inconscientes. Não percebem que pensam de uma forma e agem de outra, ou ainda não tem atitudes como desejariam ter. A busca do autoconhecimento é essencial para compreender estes mecanismos e então transforma-los em força para uma melhor adaptação e se sentir bem e feliz. Se as organizações conhecerem os motivos conscientes, mas também os inconscientes dos fundadores, por exemplo, colabora para estratégia de uma organização, bem como proporcionar espaços para que as pessoas possam expressar e canalizar estes instintos, fantasias, sentimentos e desejos é fundamental para que o esforço individual para não demonstrá-los através da repressão no ambiente 13 Foguel, 1985 24 organizacional, não venha se tornar doentio ou avançar para outras formas negativas de insatisfação. As tendências nas organizações tem sido, sim, proporcionar momentos inclusive de brincadeiras e atividades lúdicas em que estas tensões normais de adaptação a situação externa sejam desmistificadas diminua assim a ansiedade. 2.2.3 O Inconsciente Coletivo A definição de Inconsciente coletivo retrata a psique humana como componente de uma realidade universal que é transmitida como herança psicológica comum da humanidade. Carl G. Jung citado por Morgan14 criou esta teoria que denominou de Inconsciente Coletivo porque segundo, esta teoria o homem primitivo e o homem moderno tem muitas coisas em comum revelados através tradições, lendas e outros. Jung estudou estes fenômenos transculturais, e utiliza o termo “Sombra” para caracterizar o inconsciente do indivíduo e todos os impulsos lá que estão escondidos. Refere também, conforme citado por Moscovici15 que “Além dos aspectos primitivos, deficientes, negativos, a sombra também contém forças vitais valiosas, espontâneas, intuições positivas e impulsos criativos. Estas forças precisam ser assimiladas em experiências reais e não reprimidas”. Perceba que esta constatação de que o lado sombra também tem aspectos positivos vem de encontro com o exposto de que é extremamente importante ter espaços nas organizações para trabalhar este lado oculto e assim favorecer o crescimento profissional e pessoal do indivíduo e conseqüentemente o organizacional e seus resultados. Se é importante trabalhar os impulsos velados, mais ainda trará benefícios se esta espontaneidade e capacidade criativa tiverem oportunidades de se manifestar. Seguindo o pensamento de Jung, citado por Morgan16 e Moscovici17, a sombra da organização também contém aspectos reprimidos que se manifestam para chegar ao lado iluminado ou claro da organização. Podemos observar esta situação em comportamentos de politicagem informal, artimanhas, manobras fraudulentas, sabotagens, stress, depressão. Estas manifestações tendem a se agravar se ao invés de oferecer espaço para as necessidades emocionais, a organização aumentar o controle rígido nas rotinas e atividades. 14 Morgan, 1996 15 Moscovici, 2003, p. 32 16 Morgan, 1996 17 Moscovici, 2003 25 Assim como na psique do humano, a sombra organizacional apresenta conteúdos de forças não conhecidas e podem apresentar potencial positivo para energia e criatividade para a organização. Estudiosos e pesquisadores são unânimes em acreditar que a conscientização da sombra individual e coletiva abre caminho para o auto-conhecimento, reconhecimento de preconceitos e melhora o desenvolvimento da organização e dos indivíduos que a compõe. Seguindo o pensamento do inconsciente coletivo, Jung, citado por Morgan18, estudou uma estrutura que faz a ligação do individuo com o inconsciente coletivo e denominou de arquétipo. O mais interessante está na constituição dos arquétipos, pois estes são formados por idéias e formas herdadas de outras culturas e gerações. Conteúdos inconscientes encontrados em sonhos, mitos e idéias de homens primitivos, antigos e modernos. Vários arquétipos se fazem presentes nas sociedades e nas organizações, como o de guerreiro e herói, de rei, mago, príncipe romântico, da quaternidade (por exemplo, uma diretoria em que “quatro são os grandes”) em que a magia mística do número quatro que significa equilíbrio, totalidade até a perfeição. Outro muito presente nas organizações são os da grande mãe e do velho sábio os mitos da questão das estratégias masculinas e femininas. O mais conhecido é do herói e jornada heróica. Em todas as épocas e culturas da humanidade o herói é o símbolo da luta do bem contra o mal, e na suas jornadas. Grandes líderes como Moisés Jesus Cristo, Buda foram sendo associados a outros líderes, pela condição de liderança em assumir riscos, desafio, perigos, e oportunidades de mudanças, transmitindo aos seus seguidores integridade e poder. A herança destes valores através do inconsciente coletivo faz com que os grupos identifiquem estas características nos papéis de liderança. Podemos na atualidade identificar a busca por liderança carismática, por exemplo, como uma revivência do mito do herói e jornada heróica, ou seja, do inconsciente coletivo. 2.2.4 Objeto Transicional Certamente quando você era criança possuía um brinquedo ou um objeto preferido e que não gostava de se separar dele. Estes objetos variam de panos, bonecas, ursos, fraldas de tecido entre outros, nos quais o ser humano em determinada fase da infância, se apega de forma mais intensa. Por isso são denominados de “intermediários” ou “transicionais”. 18 Morgan, 1996 26 Donald Winnicott, psicanalista especializado na infância, citado por Moscovici19, estudou o papel destes objetos para o desenvolvimento da criança. Eles criam uma área de ilusão como uma ponte entre o mundo interior e exterior da criança. Entre o eu e o não eu, portanto mantém na criança um sentido de identidade. Com alguma modificação neste objeto, a criança sente que sua existência está sendo ameaçada. Quem já não viu ou foi uma criança que segura uma fralda de tecido para dormir ou sentir-se confortável e tranqüilo, e não permite que a mesma seja lavada para não modificar suas características? Pois é tão comum e tão importante para o desenvolvimento humano. É importante porque através deste objeto de transição a criança vai formando sua identidade e a relação com o mundo externo. Posteriormente estes objetos vão sendo substituídos por outros e assegurando a capacidade de aceitar mudanças. Na fase adulta este objeto pode estar relacionado a um grupo de trabalho, a uma tarefa, a uma filosofia e até pessoas da organização da qual faz parte. Mas se por outro lado houver uma maior fixação por determinado objeto, com incapacidade para renunciá-lo reflete um adulto com rígido comprometimento com algum aspecto particular e que não aceita mudanças. Conforme Moscovici20, ”É bastante difícil abandonar um passado/presente seguro confortável para enfrentar um presente/futuro incerto que impõe alterações na própria identidade. A teoria dos objetos transicionais ajuda a compreender os processos dessa passagem”. Neste sentido você pode refletir que a teoria do objeto transicional se tornou uma contribuiçãopara planejamento e implementação de mudanças e desenvolvimento organizacional. Uma mudança não é apenas uma atividade ou um negócio racional, e si m também implica em processos inconscientes de medo de perda da identidade da estabilidade e conforto na relação com o mundo externo. Sendo assim mais uma vez você pode observar que o inconsciente embora não apareça esta sempre atuando e influenciando as pessoas e os grupos. Se um objeto transicional é uma fase intermediária inicialmente da criança se desprendendo da mãe, deixando primeiro o seio materno pela chupeta, depois pelo ursinho de pelúcia e depois por outros. Isso quer dizer que a diferenciação do “eu” e do “não eu” (que é a mãe), é uma mudança que ocorre aos poucos, gradativamente. E assim deve ser nas mudanças profissionais e organizacionais. O adulto continua com necessidade de objetos transicionais que são substituídos por outros nos processos de mudança quer inevitavelmente todos 19 Moscovici, 2003 20 Moscovici, 2003, p. 24 27 vivenciam. O próprio agente de mudança (líder, consultor ou outra pessoa) em uma organização poderá servir de objeto transicional. 2.2.5 Modalidades Emocionais e o Funcionamento das Organizações Outra fantástica contribuição da psicanálise para o estudo de grupos de pessoas, citada por Osório21, veio através dos estudos de W. R. Bion (1970) que analisou a atividade mental dos indivíduos quando na situação de grupo. Observou que na situação grupal os indivíduos apresentam uma atividade mental na modalidade emocional composta por fantasias inconscientes compartilhadas. Estas fantasias determinam o aparecimento dos supostos básicos. Estes vão servir para transtornar a outra modalidade que é de tarefa. A modalidade de tarefa é caracterizada por uma orientação racional para as tarefas em si com descrição normativa do grupo de trabalho, objetivos metas, etc. Os grupos não operam sempre na modalidade tarefa, pois surgem obstáculos, conflitos, problemas e aí pode ocorrer regressões a estágios infantis, utilizar mecanismos de defesa para conseguir lidar com situações conflituosas ou que refletem alguma possibilidade de ameaça. Então o que seriam estes supostos básicos? São modalidades emocionais que influenciam inevitavelmente os grupos de trabalho, perturbam e até podem vir a impedir o cumprimento de objetivos, metas e o trabalho em si. Existem três tipos de supostos básicos: de dependência, de luta e fuga e de acasalamento. Osório22 em seus estudos sobre grupo de trabalho define o suposto básico de dependência aquele em que “o grupo se comporta como se esperasse que um líder fosse se responsabilizar por todas as iniciativas e tomar conta dos membros do grupo como os pais fazem em relação aos filhos pequenos”. Refere que neste suposto básico a fantasia inconsciente que predomina é a visão do líder como figura onipotente. O suposto básico de luta e fuga é definido como; o suposto “no qual o grupo age como se existisse um inimigo que se deveria enfrentar ou que se deveria evitar”. Já aqui a fantasia inconsciente predominante é de que o líder é invencível. No suposto básico de acasalamento o grupo “verifica a crença de que os problemas ou necessidades do grupo serão solucionados por alguém que ainda não nasceu e que o fará mediante a união geradora de dois elementos do grupo, independentemente do sexo ou função que nele desempenhem e com o 21 Osório, 2003 22 Ibid, 2003, p. 18 28 consentimento e a cumplicidade dos demais membros do grupo”. A fantasia presente é a de que este líder que está por nascer é a perfeição. Você deve estar pensando em que implica essas modalidades emocionais para o funcionamento da organização. É de extrema importância que entenda estes supostos básicos porque eles interferem diretamente na tarefa no trabalho. E se eles persistirem por muito tempo pode se tornar parte da cultura organizacional. No caso da dependência imagine que o grupo espera tudo de seu líder e segue as determinações, ninguém se manifesta para assumir alguma responsabilidade diante de uma situação emergencial. Dependência extrema significa a baixa ou nenhuma existência de autonomia ou iniciativa por parte das pessoas. Se o líder for um “pai” que luta, protege e provê atenderá as necessidades e à fantasia inconsciente do grupo. È importante salientar que as figuras líder e grupo se complementam. O líder que mantém este grupo tem a necessidade oposta de onipotência, protetor e provedor. Um exemplo claro deste suposto básico encontramos nos grupos religiosos, e em organizações que a ordem, disciplina submissão e obediência são o eixo de sua cultura. Com todos os conteúdos estudados até aqui você deve perceber que este suposto até pode atender as fantasias inconscientes deste grupo, mas também sabemos que mesmo filhos mais dóceis se rebelam porque o ser humano evolui e se evolui dentro de um grupo com esta modalidade emocional, a resposta a mudanças pode ser de agressividade. Sabemos que há uma ordem direta entre servidão e explosão, quanto mais submisso o grupo maior é a reação com emoções muito intensas diante de adversidades ou mudanças. Este grupo dependente ao se desiludir com figura do líder por não atender todas as suas necessidades, pode passar para a modalidade de luta e fuga. Já o suposto básico de luta e fuga inclui defesas mais primitivas em relação a ansiedade. Nesta modalidade o grupo percebe tudo que lhe favorece como bom e tudo que não lhe favorece como mau ou inimigo. Como a concentração é no negativo, só resta atacar ou fugir deste inimigo. Encontram-se emoções muito fortes de raiva, ódio, medo e suspeição que leva o grupo a ação em um dos dois pólos. Como o próprio nome já diz a luta se caracteriza por contestações em relação ao líder, podendo chegar a situações mais radicais de competitividade, confrontos, e hostilidade. A forte característica então é a paranóia que se estende a outros grupos pessoas ou departamentos de uma organização. No outro pólo de fuga, é gerada pelo medo do “inimigo”. O grupo se distancia isolando-se assim do perigo. Nas organizações muitos grupos com este funcionamento demonstram através de tarefas detalhadas, controles com 29 funcionamento eficientemente econômico, o desejo de segurança interna e não exatamente o interesse com a produtividade. Não conseguindo lidar ou enfrentar o inimigo, então evade, foge se isola. Esta característica de alienação protege o grupo dos perigos ou das pessoas e do mundo externo perigosos. Você pode pensar que existem vantagens para este tipo de funcionamento porque é muito comum nas áreas industriais, comerciais e políticas. Mas perceba que o grupo vai perdendo contato com a realidade, se torna inerte, não aberto à renovação. Contrariando, assim, tudo que se sabe sobre a natureza humana, criatividade e espontaneidade. E, conseqüentemente, pode isolar a própria organização, o que converge dos princípios de adaptação externa das organizações para sua sobrevivência e crescimento como você estudará no próximo capítulo e já conheceu a natureza das organizações no capítulo anterior. Na última modalidade que é a de acasalamento, pela definição você já deve ter percebido que a idéia essencial diz respeito a um grupo muito mais positivo porque tem esperança. Se algo, pessoa ou idéia poderá surgir para salvar o grupo de determinada situação ou ansiedade o grupo desenvolve muito mais iniciativas. Estas iniciativas são feitas em pares “como um acasalamento simbólico” sempre encorajado ou estimulado pelos demais membros do grupo. Aqui a fantasia inconsciente é de que um novo líder ou idéia vai resolver os problemas causando certo alívio de ansiedade e proporcionasatisfação que é pleno de fé e esperança. As características essenciais destes grupos são: a criatividade, flexibilidade, liderança democrática, a busca por inovações e o desafio. A realidade organizacional que mais possui este grupo são as de pesquisa, de desenvolvimento e de alta tecnologia. A visão é sempre voltada para o futuro, procuram sempre inovações com estilo colaborativo, correm riscos se preocupam em melhorar o mundo e são voltados mais para o prazer do que o lucro. Mesmo com todas estas características positivas, esta modalidade pode levar a riscos excessivos devido ao super otimismo e idealismo que se tornam perigosos somados a outra característica que desconsidera a realidade econômica pode levar ao fracasso. Muitas vezes estes grupos são subgrupos de uma organização ou um departamento, que não precisam mesmo se preocupar com a questão do lucro, que ficando a cargo de outro setor. Neste caso os riscos de fracasso são bem menores ou inexistentes. Para Osório23, estes supostos básicos se entrelaçam e estão sempre presentes nos grupos de trabalho. Você já deve ter notado que quanto mais forte e atuante as fantasias inconscientes de cada modalidade mais comprometida negativamente está a tarefa. O que deve acontecer sempre é o amadurecimento do grupo e assim esta 23 Osório, 2003 30 interferência negativa nas tarefas vão diminuindo, conforme aumenta a maturidade do grupo. Rioch, citado por Osório24, afirma que em grupos mais maduros, “o líder do grupo dependente é apenas confiável; o do grupo de luta-fuga é tão somente corajoso e o do grupo de acasalamento é simplesmente criativo”. Portanto conhecendo estas modalidades emocionais é possível proporcionar aos grupos espaços para trabalhá- las é possível que estes grupos amadureçam e atinjam o nível descrito por Rioch tornando a organização bem mais próxima de alcançar os resultados e objetivos e seu crescimento. 24 Ibid, 2003, p. 18 31 Ponto Final A compreensão de que assim como a luz, o lado escuro ou a sombra da organização embora subjacente ou não visível influencie diretamente na cultura de uma organização é o tema norteador dos conhecimentos repassados neste capítulo. Partindo-se deste eixo, e enxergando a organização como constituída por objetivos, tarefas e por pessoas e suas relações, reforçamos que tanto o lado racional destas duas constituições como o lado inconsciente, atuam de sobremaneira sobre a dinâmica relacional e de atividades nas organizações. Você, então deve assimilar que as formas de atuação do lado subjacente se dão através de comportamentos dos grupos e dos indivíduos que são a organização propriamente dita. Desde os grupos por setores e departamentos, a equipe diretiva e fundadores contribuem pra a construção do lado subjacente através dos impulsos reprimidos e suas manifestações pelos mecanismos de defesa a nível individual. De forma grupal através do inconsciente coletivo, e das modalidades emocionais cujas fantasias inconscientes formam os pressupostos básicos de funcionamento dos grupos. A compreensão do significado oculto do objeto transicional em nossas vidas tem extrema contribuição para o entendimento dos sentimentos subjacentes na formação da identidade de cada um e do grupo em relação à organização. Estes conhecimentos devem levar a uma compreensão de que cada vez mais é necessário este olhar para as pessoas e possibilitar um “lugar” para seus sentimentos e fantasias inconscientes se tornarem vistos e trabalhados para atingir de fato o sucesso pessoal, profissional e organizacional. Muito mais que isso esse trabalhar as fantasias inconscientes é propor espaço para externalizar estas fantasias através de brincadeiras. , O acesso a este conhecimento leva as organizações a buscar transformar os conteúdos da “sombra” em “luz”. Como organizar atividades e estratégias para integração dos grupos que leva em conta a externalização de fantasias e alívio de tensões através brincadeiras e dinâmicas. Ou ainda planejamento de perfil de executivos, por exemplo, associados aos arquétipos. Cada vez mais a razão e a fantasia e a emoção se aproximam para a excelência dos indivíduos, grupos, equipes e organizações. Nas disciplinas seguintes você conhecerá todas estas formas de gestão de pessoas e de competências e talentos em que o conteúdo deste capítulo é essencial. Portanto fique atento às questões que muitas vezes não são o que parecem e precisam ser analisadas com tranqüilidade e equilíbrio atingindo assim uma maturidade, o que inclui o autoconhecimento e compreensão das 32 relações humanas. Maturidade que e possibilita não perder o foco da racionalidade e o foco do cerne das relações humanas que é suas necessidades, motivações e emoções, que se manifestam nos comportamentos no dia a dia. Atividade Reflita sobre as questões a seguir e descreva com suas palavras o que é assinalado. 1) Como você caracteriza o comportamento organizacional aparente. 2) O que caracteriza o comportamento organizacional subjacente. 3) Especifique qual a relação destes dois comportamentos com a pirâmide organizacional. 4) Qual a definição e a importância dos mecanismos de defesa para a vida das pessoas e para a organização. 5) Identifique a relação entre uma criança com um ursinho de pelúcia que a acompanha em certos momentos e que ela não se separa dele de maneira alguma inclusive não quer que o lave para não modificá-lo, e as dificuldades de pessoas ou grupos para aceitar uma mudança na organização que faz parte. 6) Reflita sobre qual dos três supostos básicos tem características mais positivas para facilitar um amadurecimento para o grupo e assim atingir melhor os resultados organizacionais. 7) Qual o seu entendimento sobre inconsciente coletivo e qual o arquétipo mais comum que observamos nas organizações. Capítulo 2 1 – Moscovici, 2003 2 – Foguel, 1985 3 – Morgan, 1996, p. 209 4 – Osório, 2003 5 – Moscovici, 2003 6 – Foguel, 1985 7 – Ibid, 1985 8 – Morgan, 1996 9 – Ibid, 1996 10 – Ibid, 1996 33 11 – Moscovici, 2003 12 – Anna Freud, 1968, cap. 3, 4, 5 e 9 13 – Foguel, 1985 14 – Morgan, 1996 15 – Moscovici, 2003, p. 32 16 – Morgan, 1996 17 – Moscovici, 2003 18 – Morgan, 1996 19 – Moscovici, 2003 20 – Moscovici, 2003, p. 24 21 – Osório, 2003 22 – Ibid, 2003, p. 18 23 – Ibid, 2003 24 – Ibid, 2003, p. 18 Referências Bibliográficas FREUD, Anna. O Ego e os Mecanismos de Defesa. Rio de Janeiro: BUP ( Biblioteca Universal Popular), 1968. FOGUEL, Sergio, SOUZA, Carlos César. Desenvolvimento Organizacional. São Paulo: Atlas, 1985. MORGAN, Gareth. Imagens de Organização. São Paulo: Atlas, 1996. 421 p. MOSCOVICI, Fela. Renascença Organizacional. Rio de janeiro: José Olympio, 2003 OSÓRIO, Luiz Carlos. Psicologia Grupal: uma nova disciplina para o advento de uma era. Porto Alegre: Artmed, 2003. 34 Capítulo 3 – CULTURA ORGANIZACIONAL Neide Pérsico 3.1 Introdução à Cultura Organizacional Vimos no capítulo anterior que para compreendermos o funcionamento de uma organização, o olhar e a percepção devem ir além do que nos é mostrado e falado, a percepção deve transcender o aparente e ir para o mundo dos significados. Cada indivíduo possui uma maneira própria de ser, o que caracteriza sua personalidade, uma organização também tem seu jeito próprio de funcionar, e possui sua própria personalidade, que se revela nos seus valores, crenças, funcionamento, regras, normas, missão, etc. A forma como ela percebe as pessoas, isto é, se sãoconfiáveis ou não, se são pessoas que necessitam de constante controle ou são responsáveis por suas responsabilidades e não necessitam ser controladas, o valor dado os Recursos Humanos são exemplos de posições que caracterizam a cultura, a maneira de ser de uma organização. É esse jeito de ser, essa personalidade organizacional que chamamos de Cultura da Organização. A visão da existência e da importância da cultura de uma empresa pelos administradores revelou-se com o surgimento do Japão na década de 70/80, posicionando-se, fortemente no mercado de automóveis e eletroeletrônicos. Justificando o sucesso Japonês ao seu modelo de gerenciamento e a cultura existente na sociedade e refletida nas organizações. Moscovici1 cita Schein que define cultura como sendo um conjunto de crenças e pressupostos, maneiras de agir que se mostraram eficientes na resolução de problemas e situações, além de auxiliarem na integração dos seus membros e na adaptação a realidade externa. Moscovici2 refere que a cultura de uma organização apresenta três funções básicas: - 1ª favorecer a integração dos integrantes através dos valores, crenças, normas, regras, multiplicadios a todos os integrantes da organização. - 2ª servir de referência para adaptação na solução de problemas - 3ª auxiliar na redução de ansiedade, uma vez que serve de referencial de apoio e norte em situações de insegurança e admissão de novos funcionários. 1 Moscovici, 1995 2 Ibid, 1995 35 Morgan3 aborda a importância do entendimento da cultura para a compreensão dos eventos e ações da vida de uma organização. A cultura organizacional é repassada a todos os funcionários, novos e antigos. É através dela que é divulgado as regras que regem o comportamento da empresa, o que é valorizado, o que é passível de punição, o que é esperado, qual é o percurso para se atingir ascensão, o que é permitido e o que não é permitido. Moscovici4 relaciona que a cultura pode ser percebida, conhecida através da parte material, isto é, prédios, móveis, organização e distribuição das salas, máquinas, áreas, etc. Da estrutura psicosocial, isto é, da estrutura de poder definida e praticada, bem como de relações entre as pessoas, áreas, etc. A terceira dimensão é a ideológica, isto é, os valores, as crenças e os pressupostos básicos que permeiam as ações da organização. Fleury5 cita Schein, que refere que a cultura de uma organização pode ser desvendada a partir da análise da: 1 – A História da Organização, em que condições e quando foi fundada, as circunstâncias da época, a personalidade do fundador, fatores sociais e políticos da época. 2 – Situações críticas, de crise revelam como a organização se porta. É nos momentos de crise, de sucesso ou fracasso que as crenças, os valores se revelam com nitidez. 3 – Na admissão de novos funcionários, através de programas de integração e treinamento se dá o primeiro contato formalizado com a cultura da organização, principalmente com as normas, regras, procedimentos e valores daquela instituição. 4 – As políticas de Recursos Humanos através, isto é, através de políticas de admissão, demissão, disciplina, política de remuneração, benefícios, promoções, treinamento e outras mais a empresa revela-se. 5 – A forma como acontece a comunicação na organização é um indicador de sua cultura. A comunicação pode ser formal ou informal, se dá pelos canais formais ou a comunicação informal prevalece, é clara ou velada, é objetiva ou passa dupla mensagem. 6 – A organização do trabalho, como é realizada a gestão, a distribuição do trabalho, o uso do poder indicam o funcionamento organizacional. É consenso entre autores que a cultura organizacional apresenta-se não só no que é comunicado abertamente, mas também, deve ser entendida como sendo fruto de razões inconscientes. Muitos comportamentos organizacionais são explicados por 3 Morgan, 1996 4 Moscovici, 1995 5 Fleury, 1991 36 motivos inconscientes que se revelam simbolicamente em cerimônias, ritos, crenças, relações, mitos, estórias, etc. A idéia de que o sucesso de uma organização está associado a uma cultura forte invadiu as organizações e os administradores trabalham e criam estratégias para o fortalecimento da cultura. Morgan6 refere que a organização como cultura destaca o lado humano da organização. Na cultura repousa muitos simbolismos e significados que devem ser interpretados para serem compreendidos e que a cultura dá significado a vida organizacional. A cultura envolve-se com a comunicação de normas, valores, linguagem, cerimônias que transmitem valores, crenças, ideologias, cujo principal objetivo é reforçar padrões de comportamento desejáveis e esperados pela organização, por isso, uma das propostas principais da cultura é exercer controle sobre o comportamento das pessoas. Exemplo é percebido quando a empresa define o tipo de sentimentos que são aceitos e não aceitáveis no trabalho, que tipo de termos, linguagem é bem vista. Na cultura organizacional há uma simbologia que pode ser usada para alcançar objetivos propostos pela organização. Segundo Morgan7 muitos administradores são convencidos de que uma cultura forte levará os funcionários a trabalharem com maior comprometimento e mais contentes, o que tem os levado a usar a cultura como meio de controle para tingirem seus objetivos. Importante salientar que a cultura é determinada, principalmente, pelos dirigentes da organização, podendo ser o fundador ou dirigentes contratados. Forças contrarias por parte dos funcionários podem ocorrer em forma de resistência e boicotes. Autores também concordam que pode existir subculturas, isto é, áreas, departamentos podem apresentar uma cultura própria, diferente da apresentada pela organização. Parte da cultura de uma organização é expressa simbolicamente, através de rituais, cerimônias, estórias, mitos, seus heróis. Essa expressão se dá com o uso do imaginário das pessoas. Mas o que é o imaginário? Freitas8 discorrendo sobre o imaginário refere-se como sendo a imaginação, o espaço mental onde estão 6 Morgan, 1996 7 Ibid, 1996 8 Freitas, 2002 37 representados desejos, fantasias, sonhos. Castorides citado por Freitas9, refere que a sociedade é repleta de significados, símbolos compartilhados pela sociedade. O imaginário é o espaço onde existem significados que são compartilhados que para entender é preciso fazer uso da imaginação, isto é, ver o que não está expresso objetivamente, enxergar significado, sentido. As pessoas quando nascem já encontram uma sociedade repleta de significados e símbolos. Conforme foi visto no capítulo anterior, Moscovici10 discorre sobre o inconsciente coletivo de Jung que segundo sua teoria somos herdeiros de um repetido inconsciente dos nossos antepassados, o que constitui o inconsciente coletivo, que é comum a grupo de pessoas, comunidade, a humanidade. E existência do inconsciente coletivo explicaria a perpetuação de algumas crenças, tabus, simbologia. Na sociedade o racional, o real convive igualmente com o imaginário. As organizações preenchem hoje um espaço anteriormente ocupado por outras instituições, ocupando também o espaço de representação do simbólico. As organizações na busca acirrada por resultados buscam cada vez mais meios para atingir seus integrantes e captam as mudanças sociais e as necessidades das pessoas e as usam, reelaboram para atingirem seus objetivos. Freitas11 refere que Enriquez vê a organização como sistema que é ao mesmo tempo cultural, simbólico e imaginário. As organizações procuram traduzir uma realidade como se a vida social fosse aquilo
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