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Aula 2 - Leitura e Produção de Textos - Ana Fontoura

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Leitura e Produção de Texto – Profa. Ana Madalena Fontoura – Aula 2 
 
1 
 
 
DISCIPLINA 
LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS 
Aula 2 
LÍNGUA/ LINGUAGEM/ VARIAÇÃO 
LINGUÍSTICA 
LÍNGUA FALADA E LÍNGUA ESCRITA 
 
CÓDIGO 
 GINS1007 
CRÉDITOS 
04 
TOTAL DE AULAS NO 
SEMESTRE 
80h/a 
 
OBJETIVOS 
 
 Conceituar língua e linguagem; 
 Refletir sobre a variação linguística; 
 Caracterizar as diferenças entre língua falada e língua escrita; 
 Reconhecer recursos de expressividade de cada uma dessas modalidades. 
 
 
CONTEÚDO 
 
 Língua e Linguagem. Variação linguística. A unidade linguística no cotidiano 
comunicativo. 
 A norma considerada padrão em sociedade. 
 Língua falada e língua escrita. Variação: semelhanças e diferenças. Recursos de 
expressividade da fala e da escrita. Reescritura de textos. 
 
 
ESTRATÉGIA 
 
 Apresentação de textos que explorem gírias, neologismos, arcaísmos, estrangeirismos, 
termos técnicos, latinismos; apresentação de textos falados ou escritos de diferentes regiões 
do Brasil 
 
 Apresentação de diferentes registros de fala e escrita; levantamento das marcas de 
oralidade; reescritura de textos. 
 
 
BIBLIOGRAFIA MÌNIMA 
 
ABREU, Antônio Suárez. Curso de redação. São Paulo: Ática, 2005 
BECHARA, Evanildo. Gramática escolar da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna, 
2002. 
CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Gramática reflexiva: texto, 
semântica e interação. São Paulo: Atual, 2005. 
 
CENTRO UNIVERSITÁRIO AUGUSTO MOTTA 
PRÓ-REITORIA DE ENSINO 
Leitura e Produção de Texto – Profa. Ana Madalena Fontoura – Aula 2 
 
2 
A LEITURA COMO INSTRUMENTO DE TRANSFORMAÇÃO DO SUJEITO E DA 
SOCIEDADE 
 
Ler o Mundo 
(Affonso Romano de Sant'Anna) 
 
Tudo é leitura. Tudo é decifração. Ou não. 
Depende de quem lê. (...) 
Tudo é leitura. Tudo é decifração. Ou não. Ou não, porque nem sempre deciframos 
os sinais à nossa frente. Ainda agora os jornais estão repetindo, a propósito das recentes 
eleições, "que é preciso entender o recado das urnas". Ou seja: as urnas falam, emitem 
mensagens. O sambista dizia que "as rosas não falam, as rosas apenas exalam o perfume 
que roubam de ti". Perfumes falam. E as urnas exalaram um cheiro estranho. O presidente 
diz que seu partido precisa tomar banho de "cheiro de povo". E enquanto repousava nesses 
feriados e tomava banho em nossas águas, ele tirou várias fotos com cheiro de povo. 
Paixão de ler. Ler a paixão. 
Como ler a paixão se a paixão é quem nos lê? Sim, a paixão é quando nossos 
inconscientes pergaminhos sofrem um desletrado terremoto. Na paixão somos lidos à nossa 
revelia. 
O corpo é um texto. Há que saber interpretá-lo. Alguns corpos, no entanto, vêm em 
forma de hieróglifos, dificílimos. Ou, a incompetência é nossa, iletrados diante dele? 
Quantas são as letras do alfabeto do corpo amado? Como soletrá-lo? Como sabê-
lo na ponta da língua? Tem 24 letras? Quantas letras estranhas, estrangeiras nesse corpo? 
Como achar o ponto G na cartilha de um corpo? Quantas novas letras podem ser 
incorporadas nesta interminável e amorosa alfabetização? Movido pelo amor, pela paixão, 
pode o corpo falar idiomas que antes desconhecia. 
O médico até que se parece com o amante. Ele também lê o corpo. Vem daí a 
semiologia. Ciência da leitura dos sinais. Dos sintomas. Daí partiu Freud, para ler o interior, 
o invisível texto estampado no inconsciente. Então, os lacanianos todos se deliciaram 
jogando com as letras - a letra do corpo, o corpo da letra. 
Portanto, não é só quem lê um livro, que lê. 
Um paisagista lê a vida de maneira florida e sombreada. Fazer um jardim é reler o 
mundo, reordenar o texto natural. A paisagem pode ter sotaque. Por isto se fala de um 
jardim italiano, de um jardim francês, de um jardim inglês. (...) 
O urbanista e o arquiteto igualmente escrevem, melhor dito, inscrevem, um texto na 
prancheta da realidade. Traçados de avenidas podem ser absolutistas, militaristas, e o risco 
das ruas pode ser democrático dando expressividade às comunidades. 
Tudo é texto. Tudo é narração. 
Um desfile de carnaval, por exemplo. Por isto se fala de "samba enredo". Enredo 
além da história pátria referida. A disposição das alas, as fantasias, a bateria, a comissão de 
frente são formas narrativas. 
Uma partida de futebol é uma forma narrativa. Saber ler uma partida - este o mérito 
do locutor esportivo, na verdade, um leitor esportivo. Ele, como o técnico, vê coisas no texto 
em jogo, que só depois de lidas por ele, por nós são percebidas. Ler, então, é um jogo. Uma 
disputa, uma conquista de significados entre o texto e o leitor. 
Paulinho da Viola dizia: "As coisas estão no mundo eu é que preciso aprender". Um 
arqueólogo lê nas ruínas a história antiga. O astrônomo lê a epopéia das estrelas. Ora, 
direis, ouvir & ler estrelas. Que estórias sublimes, suculentas, na Via Láctea. (...) 
Leitura e Produção de Texto – Profa. Ana Madalena Fontoura – Aula 2 
 
3 
Estamos com vários problemas de leitura hoje. Construímos sofisticadíssimos 
aparelhos que sabem ler. Eles nos leem. Nos leem melhor que nós mesmos. E mais: nós é 
que não os sabemos ler. Isto se dá não apenas com os objetos eletrônicos em casa ou com 
os aparelhos capazes de dizer há quantos milhões de anos viveu certa bactéria. Situação 
paradoxal: não sabemos ler os aparelhos que nos leem. Analfabetismo tecnológico. (...) 
Vi na fazenda de um amigo aparelhos eletrônicos, que ao tirarem leite da vaca, são 
capazes de ler tudo sobre a qualidade do leite, da vaca, e até o pensamento de quem está 
assistindo a cena. Aparelhos sofisticadíssimos leem o mundo e nos dão recados. A camada 
de ozônio está berrando um S.O.S., mas os chefes de governo, acovardados, tapam 
(economicamente) o ouvido. A natureza está dizendo que a água além de infecta, está 
acabando. Lemos a notícia e postergamos a tragédia para nossos netos. 
É preciso ler, interpretar e fazer alguma coisa com a interpretação. Feiticeiros e 
profetas liam mensagens nas vísceras dos animais sacrificados e paredes dos palácios. 
Cartomantes leem no baralho, copo d'água, búzios. Tudo é leitura. Tudo é decifração. 
Ler é uma forma de escrever com mão alheia. 
Minha vida daria um romance? Daria, se bem contado. Mas bem escrevê-lo são 
artes da narração. Mas só escreve bem, quem ao escrever sobre si mesmo, lê o mundo 
também. 
 
 
EXERCÍCIO 
 
a) Qual a temática abordada pelo texto acima? 
 
 
b) No texto, o que significa ler o mundo? 
 
 
c) O autor afirma que: “Tudo é leitura. Tudo é decifração. Ou não. Depende de quem 
lê.” De que forma a leitura é influenciada por seu leitor? Como o autor nos demonstra 
isso em seu texto? 
 
 
d) É possível existir leitura eficiente sem, previamente, se ter lido o mundo? Explique: 
 
 
_______________________________________________________________ 
 
 
Linguagem e língua 
(texto adaptado) 
 
Na origem de toda a atividade comunicativa do ser humano está a linguagem, que é 
a capacidade de se comunicar por meio de uma língua. Língua é um sistema de signos 
convencionais usados pelos membros de uma mesma comunidade. Em outras palavras: um 
grupo social convenciona e utiliza um conjunto organizado de elementos representativos. 
(...) 
Individualmente, cada pessoa pode utilizar a língua de seu grupo social de uma 
maneira particular, personalizada, desenvolvendo assim a fala. Observe: você, ao falar ou 
Leitura e Produção de Texto – Profa. Ana Madalena Fontoura – Aula 2 
 
4 
escrever, dá preferência a determinadas palavras ou construções, seja por hábito, seja por 
opção consciente. Esse seu modo particularde empregar a língua portuguesa é a sua fala. 
(...) Por mais original e criativa que seja, no entanto, sua fala deve estar contida no conjunto 
mais amplo que é a língua portuguesa; caso contrário, você estará deixando de empregar a 
nossa língua e não será mais compreendido pelos membros da nossa comunidade. Note, 
pois, que língua é um conceito amplo e elástico, capaz de abarcar todas as manifestações 
individuais, todas as falas. 
Estudar a língua portuguesa é tornar-se apto a utilizá-la com eficiência na produção e 
interpretação dos textos com que se organiza nossa vida social. Por meio desse estudo, 
amplia-se o exercício de nossa sociabilidade — e, consequentemente, de nossa cidadania, 
que passa a ser mais lúcida. Ampliam-se também as possibilidades de fruição dos textos, 
seja pelo simples prazer de saber produzi-los de forma bem feita, seja pela leitura mais 
sensível e inteligente dos textos literários. Conhecer bem a língua em que se vive e pensa é 
investir no ser humano que você é. 
 
(INFANTE, Ulisses. Do Texto ao Texto: curso prático de redação e leitura – São Paulo : 
Scipione, 1998, p.28,29.) 
 
 
 
 
Língua e identidade 
 
 Além de ser um meio de interação social, a língua também é uma forma de 
identidade cultural e grupal. 
 Falar a mesma língua de outra pessoa geralmente equivale a ter com elas muitas 
coisas em comum: referências culturais, esportivas, musicais, hábitos alimentares, etc. A 
língua é, portanto, um elemento importante na definição da identidade de um povo ou de 
um grupo social. 
 Mas não é só isso. Além de nossa identidade social, a língua revela também muito 
do que somos individualmente. Ela mostra nossa agressividade, afetividade, formalidade, 
gentileza, educação, etc. 
A tira abaixo é um exemplo de como a língua cria uma identidade grupal. 
 
 
 
Na tira que se segue, observe as diferenças existentes entre as falas dos 
personagens. Em sua opinião, a que se devem tais diferenças? 
Leitura e Produção de Texto – Profa. Ana Madalena Fontoura – Aula 2 
 
5 
 
 
 
 
 
 
 
 
Variedades linguísticas 
 
 Empregada por tão grande quantidade de indivíduos, em situações tão diferentes e a 
todo momento, é de se esperar que a língua não se apresente estática. Ou seja, 
condicionantes sociais, regionais e as diversas situações em que se realiza determinam a 
ocorrência de variações em uma língua. 
 
 Dino Preti subordina o estudo das variedades linguísticas a dois amplos campos: 
 
1. Variedades geográficas: 
 
 Falares regionais ou dialetos 
 
 Linguagem urbana x linguagem rural 
 
2. Variedades socioculturais: 
 
 . Variedades devidas ao falante 
 
- Dialetos sociais 
 
- Grau de escolaridade, profissão, idade, sexo, etc. 
 
 . Variedades devidas à situação: 
 
- Níveis de fala ou registros (formal/coloquial) 
 
- Tema, ambiente, intimidade ou não entre os falantes, estado emocional do 
falante. 
 
Leitura e Produção de Texto – Profa. Ana Madalena Fontoura – Aula 2 
 
6 
Exemplos de Variedades Geográficas 
 
 
 
O anúncio faz um trocadilho entre “bichas” (filas), marca típica da sociedade urbana 
e burocratizada, e “bichos”, símbolo de natureza e vida natural. O texto, no entanto, talvez 
soe estranho ao falante da língua portuguesa que mora no Brasil. Para nós, as pessoas 
formam filas (e não bichas) quando aguardam sua vez de serem atendidas em um banco, 
em uma bilheteria de cinema, etc. 
Pode-se perceber facilmente que a maneira como o português é empregado no 
Brasil e em Portugal não é exatamente a mesma, assim como também é diferente nas 
regiões geográficas brasileiras e até numa mesma região. Tomemos como exemplo o 
Sudeste: os falares de Minas Gerais e do Rio de Janeiro apresentam suas peculiaridades e 
distinções. 
Do mesmo modo, as regiões urbanas e as regiões rurais também possuem 
vocabulário e pronúncia diferentes, bem como expressões típicas. 
Portanto, há variações na língua condicionadas a aspectos geográficos. 
 
Regionalismos 
 
 O Brasil é um país de dimensões continentais e mesmo assim ainda possui uma 
língua única. Além de contribuir para uma grande diversidade nos hábitos culturais, 
religiosos, políticos e artísticos, a influência de várias culturas deixou na língua portuguesa 
marcas que acentuam a riqueza de vocabulário e de pronúncia. 
 É importante destacar que as diferenças na nossa língua não constituem erro, mas 
são consequências das marcas deixadas por outros idiomas que entraram na formação do 
português brasileiro. Entre esses idiomas estão os indígenas e africanos, além dos 
europeus, como o francês e o italiano. 
 A influência desses elementos, presentes com maior ou menor intensidade em cada 
região do país, aliada ao desenvolvimento histórico peculiar de cada lugar, fez com que 
surgissem regionalismos, isto é, expressões típicas de determinada região. Essa variedade 
linguística pode se manifestar na construção sintática – por exemplo, em algumas regiões 
Leitura e Produção de Texto – Profa. Ana Madalena Fontoura – Aula 2 
 
7 
se diz sei não, em outras não sei -, mas a grande maioria dos regionalismos ocorre no 
vocabulário. 
 Assim, um mesmo objeto pode ser nomeado por palavras, diversas, conforme a 
região. Por exemplo: no Rio Grande do Sul, a pipa ou papagaio se chama pandorga; o 
semáforo pode ser designado por farol em São Paulo, e sinal ou sinaleiro no Rio de Janeiro. 
 Na culinária também há variados exemplos: a) Nordeste: macaxeira, Sul: aipim, 
Norte: uaipi ou maniva, Sudeste: mandioca; B) Sudeste: abóbora ou moranga, Nordeste: 
gerimum ou quibebe; C) Sudeste: mexerica ou tangerina, Sul: bergamota. 
 Leia o texto a seguir, que explica um uso regional da palavra trem. 
 
O verdadeiro significado da palavra trem 
 
Interessante que o assunto mineirês veio à tona logo no dia em que alguns 
transtornos foram causados pelo seu desconhecimento por parte de alguns jornalistas, que 
escreveram a seguinte manchete: “Trens batem de frente em Minas”. 
Os mineiros, obviamente, não deram a devida importância, já que para eles isto quer 
dizer apenas que duas coisas se chocaram: poderiam ter sido dois carros, um carro e uma 
moto, uma carroça e um carro de boi; ou até mesmo um choque entre uma mala de viagem 
e a mesa de jantar. 
Movido pela curiosidade, resolvi então consultar o Aurélio. E vejam o que diz: 
 
Trem [Do fr. Train] S. m. 1. Conjunto de objetos que formam a bagagem de um viajante. 2. 
Comitiva, séquito. 3. Mobiliário duma casa. 4. conjunto de objetos apropriados para certos 
serviços. 5. Carruagem, sege. 6. Vestuário, traje, trajo. 7. Mar. G. Brás. Grupamento de 
navios auxiliares destinados aos serviços (reparos, abastecimento, etc.) de uma esquadra. 
8. Brás. Comboio ferroviário; trem de ferro. 9. Brás. Bateria de cozinha.10. Brás. MG C.O 
Pop. Qualquer objeto ou coisa; coisa, negócio, treco, troço: “ensopando o arroz e abusando 
da pimenta, trem especial, apanhado ali mesmo, na horta” (Humberto Crispim Borges, 
Cacho de Tucum, p. 186). 11. Brás. MG S. Fam. Indivíduo sem préstimo, ou de mau caráter; 
traste. 
 
 Vejam que o sentido de comboio ferroviário é apenas o 8° e ainda é considerado um 
brasileirismo. 
 Comentei o fato com um amigo especialista em etimologia, que me esclareceu a 
questão: o comboio ferroviário recebeu o nome de trem justamente porque trazia, porque 
transportava, os trens das pessoas. Vale lembrar que nessa época, o Brasil possuía uma 
malha ferroviária com relativa capilaridade e o transporte ferroviário era o mais importante. 
Assim, era natural que as pessoas fizessem essa associação. 
 Moral da estória: 
 O mineiroé, antes de tudo, um erudito. Além de erudito, ainda é humilde e aceita que 
o pessoal dos outros estados tripudie da forma como usa a palavra trem. Na verdade, acho 
que isso faz parte do “espírito cristão do mineiro”. Ele escuta as gozações e pensa: que 
sejam perdoados, pois não sabem o que dizem. 
 
(Disponível em 
<http://www.odebate.com.br/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&1&id=1690>. 
Acesso em : 26 de Maio 2006) 
 
Leitura e Produção de Texto – Profa. Ana Madalena Fontoura – Aula 2 
 
8 
 
 
 Regionalismo é, na língua, o emprego de palavras ou expressões peculiares a 
determinadas regiões. Em literatura, é a produção literária que focaliza especialmente usos, 
costumes, falares e tradições regionais. 
 
 
Agora responda: A palavra trem constitui um dos regionalismos empregados pelo mineiro. 
Por que somente os mineiros não deram importância à manchete jornalística: “Trens batem 
de frente em Minas”? 
 
Variedades socioculturais 
 
I) Variedades devidas ao falante 
 
a) Grupos culturais 
 
Uma pessoa que conhece a língua que emprega apenas “de ouvido”, que não teve a 
oportunidade de tomar conhecimento das regras internas que a compõem, domina essa 
língua de cujas realizações participa de forma diversa de uma pessoa que tem contato com 
esse código linguístico por meio de livros, periódicos, dicionários ou ainda por intermédio da 
convivência com pessoas de boa formação intelectual. 
 
Atenção: Não se quer dizer que um fale melhor ou pior que o outro. Deseja-se 
apenas registrar o fato de que a formação escolar de um indivíduo, por exemplo, suas 
atividades profissionais, seu nível cultural podem determinar um domínio diferente da língua. 
Cada classe social – econômica, mas sobretudo culturalmente falando – emprega a 
língua de uma maneira especial. 
 
b) O jargão (uma variação social) 
c) 
Observe os diversos grupos profissionais: cada um deles faz uso de um determinado 
vocabulário e expressões que são típicos do seu trabalho. O jargão – essa linguagem 
técnica que alguns profissionais dominam – é empregado por um grupo restrito e muitas 
vezes é inacessível a outros falantes da língua. 
 Se pensarmos, por exemplo, na linguagem da economia, da informática... Quantos 
de nós estamos preparados para entendê-las? 
 
Exemplos de jargão: 
Medicina 
"Apresenta uma massa cística indeterminada e septos espessos irregulares mas com 
realce mensurável." 
Informática 
"O tweak pode ser feito no BIOS da motherboard". 
 
Leitura e Produção de Texto – Profa. Ana Madalena Fontoura – Aula 2 
 
9 
"A mochila vem com um mouse ótico USB com scrolling de quatro direções e conexão 
Plug&Play". 
 
 
 
 
d) Gíria 
 
 A gíria é uma das variedades que uma língua pode apresentar. Quase sempre é 
criada por um grupo social, como os dos fãs de rap, de funk, de heavy metal, o dos surfistas, 
dos skatistas, dos grafiteiros, dos bikers, etc. 
 
 
 
Leitura e Produção de Texto – Profa. Ana Madalena Fontoura – Aula 2 
 
10 
 
II) Variedades devidas à situação: 
 
 
 
 O humor da tira é determinado pelo “excesso de informalidade” por parte do 
namorado que acaba de ser apresentado aos pais da garota. 
 Como uma norma de boa educação, espera-se que a pessoa estranha seja gentil, 
dirija-se aos donos da casa com respeito e manifeste alguma cerimônia, com um pedido de 
licença. Cabe à pessoa visitada dispensar as formalidades e fazer com que o estranho se 
sinta bem. 
Nesse caso, observe que o namorado nem mesmo cumprimenta a garota e se dirige 
aos pais dela com tanta grosseria que Hagar toma uma posição “defensiva”, ameaçando o 
rapaz com um machado. 
A ilustração nos mostra o emprego de uma linguagem pouco adequada à situação 
que envolve as personagens. 
Analisando nossa própria maneira de falar, cada um de nós é capaz de perceber que 
dominamos várias “línguas”, ou seja, temos várias maneiras de “registrar” a língua. A cada 
momento fazemos uso de um desses registros. 
 
Falamos genericamente sobre variações da linguagem, mas seria conveniente 
destacar ao menos três delas: a linguagem coloquial, a norma culta e a linguagem literária. 
 
Linguagem coloquial ou norma popular 
 
É a linguagem que empregamos em nosso cotidiano, em situações sem formalidade, 
com interlocutores que consideramos “iguais” a nós no que diz respeito ao domínio da 
língua. Na linguagem coloquial, não há preocupação no tocante a um falar “certo” ou 
“errado”, uma vez que não nos sentimos pressionados pela necessidade de usar regras e 
damos prioridade à expressividade, à transmissão da informação por si. 
 
“Os princípios da norma popular compõem uma verdadeira gramática popular e 
implicam uma simplificação considerável da gramática culta, num uso muito grande de 
elementos afetivos, numa pronúncia menos cuidada, num abundante vocabulário gírio e 
outros elementos afetivos da língua e, em geral, revelam uma menor dose de reflexão na 
escolha das formas linguísticas pelo usuário”. 
Dino Preti 
 
Leitura e Produção de Texto – Profa. Ana Madalena Fontoura – Aula 2 
 
11 
A variação de maior prestígio: A norma culta ou norma padrão 
 
Se há tantas variações de uma língua, qual delas é a ensinada na escola? Por que 
essa e na as demais? “Quem” faz essa escolha? 
 Essas perguntas apenas refletem um fato: de todas as variações, uma tem mais 
prestígio que as demais e acaba por ser escolhida como padrão a todos os falantes. 
 
“Dialeto padrão: também chamado norma padrão culta, ou, simplesmente norma 
culta, é o dialeto a que se atribui, em determinado contexto social, maior prestígio; é 
considerado o modelo – daí a designação de padrão, de norma – segundo o qual se avaliam 
os demais dialetos. É o dialeto falado pelas classes sociais privilegiadas, particularmente em 
situações de maior formalidade, usado nos meios de comunicação de massa (jornais, 
revistas, noticiários de televisão, etc.), ensinado na escola, e codificado nas gramáticas 
escolares (por isso, é corrente a falsa ideia de que só o dialeto padrão pode ter uma 
gramática, quando qualquer variedade linguística pode ter a sua). É ainda, 
fundamentalmente, o dialeto usado quando se escreve (há naturalmente, diferenças formais, 
que decorrem das condições específicas de produção da língua escrita, por exemplo, de sua 
descontextualização. Excetuadas diferenças de pronúncia e pequenas diferenças de 
vocabulário, o dialeto padrão sobrepõe-se aos dialetos regionais, e é o mesmo, em toda a 
extensão do país” 
Magda Soares 
 
 
Linguagem Literária 
 
 Chamamos de linguagem literária aquela que é empregada por poetas e prosadores 
da língua dos mais diversos períodos que compõem uma literatura. 
 Muitas vezes, o padrão que os escritores empregam segue a norma culta; não raro, 
porém, apresentam desvios desse padrão, buscando maior expressividade, maior reflexão 
por parte do leitor. 
 Assim, os desvios da norma culta passíveis de serem encontrados em um texto 
literário diferenciam-se de um desvio de um falante comum, distraído ou não conhecedor 
das variações da língua basicamente por este dado: são desvios intencionais, de quem 
conhece muitas variações e faz escolha (“passeia”) entre elas para atender a algum objetivo 
específico ou obter um recurso expressivo. 
 
 
EXERCÍCIOS 
 
TEXTO 1: 
 
Receita cazêra minera de: Mói di repôi nu ái iói 
 
Ingredienti: 
5 denti dí ái 
3 cuié di oi 
1 cabêsss di repôi 
Leitura e Produção de Texto – Profa. Ana Madalena Fontoura – Aula 2 
 
12 
1 cuié di mastumati 
Sá agosto 
 
Modi Fazê 
 
 Casca o ái, pica o ái i socao ái cum sá. Quenta o ói na cassarola i foga o ài socado 
no ói quentim. Pica o repôi beeemmm finim. Foga o repôi no ói quentim junto cum o ái 
fogado. Põim a mastumati i mexi cum a cuié pra fazê o môi. Sirva cum róis i meléti. Isso 
é bom dimais da conta sô. 
 
 
1. Existem muitas brincadeiras a respeito do modo como falam certos grupos de 
pessoas de vários Estados Brasileiros. A receita lida é um exemplo, pois imita com certo 
exagero a fala de mineiros de certas regiões e, para isso, deixa de seguir as regras da 
língua escrita. Reescreva a receita de acordo com as normas da língua escrita. 
 
 
 
2. No trecho “casca o ái, pica o ái soca o ái cum sá. Quenta o ói na cassarola i foga o 
ái socado no ói quentin”, há repetição de duas palavras. 
 
a. identifique-as: 
 
 
b. A repetição de palavras é muito comum na língua falada. Como você 
reescreveria o trecho a fim de evitar ou amenizar as repetições? 
 
 
4. Na receita lida, o locutor emite sua opinião a respeito do prato, embora esse 
procedimento não seja comum nas receitas. Identifique o trecho em que isso ocorre. 
 
 
5. No trecho “beeemmm finim”, observe a forma como a palavra bem foi escrita. 
 
a. O que essa grafia sugere quanto ao modo de pronunciar a palavra? 
 
 
b. Que sentido esse modo de pronunciar a palavra cria no contexto? 
 
 
6. A língua empregada na receita é diferente daquela utilizada pelos jornais, revistas 
e livros. Apesar disso, é possível compreender a receita? Justifique sua resposta. 
 
 
 
Texto 2: Leia este anúncio: 
 
Leitura e Produção de Texto – Profa. Ana Madalena Fontoura – Aula 2 
 
13 
 
 
1. O anúncio tem a finalidade de promover um aparelho de som de determinada marca. 
Para isso, simula a situação de uma pessoa que faz um pedido a Papai Noel. 
a. Que tipo de texto é enviado a Papai Noel? 
 
b. Quem você imagina que seja o locutor desse texto? Por quê? 
 
 
2. A linguagem pode indicar tanto o grupo social a que pertence o locutor quanto o grau de 
intimidade existente entre os interlocutores. Observe a linguagem empregada no texto: 
a. O locutor do texto trata Papai Noel de modo formal ou informal? Justifique sua 
resposta com algumas expressões do texto. 
 
 
b. Identifique palavras ou expressões que façam parte da gíria dos adolescentes. 
 
 
c. Em certo trecho, o locutor trata o interlocutor de modo respeitoso, provavelmente 
por causa da idade do Papai Noel. Identifique a expressão que revela esse tratamento. 
 
 
3. É comum, na linguagem oral, buscarmos formas simplificadas, mais curtas, que podem 
ser pronunciadas em menos tempo. Daí haver o fenômeno de certas palavras serem 
reduzidas, como, por exemplo, cê, usada em lugar de você; moto, em lugar de 
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14 
motocicleta. Identifique, no texto, três exemplos de formas reduzidas, típicas da linguagem 
oral. 
 
 
4. Para convencer Papai Noel a lhe dar o aparelho de som, o locutor usa um argumento, isto 
é, uma justificativa ou explicação. Qual é esse argumento? 
 
 
5. Pense agora na situação de produção do anúncio. Ele foi publicado às vésperas do Natal 
em uma revista de circulação nacional, lida geralmente por pessoas adultas, da classe 
média, com bom poder aquisitivo. Os textos dessa revista são predominantemente escritos 
na variedade padrão. 
a. Na verdade, quem são os leitores que o anúncio tem em vista: os adolescentes ou 
os pais dos adolescentes? 
 
 
b. Troque ideias com os colegas: Considerando-se a intencionalidade do anúncio, 
por que, então, o texto faz uso de uma variedade linguística não padrão? 
 
 
 
PARTE 2 
LÍNGUA FALADA E LÍNGUA ESCRITA 
 
A língua falada e a língua escrita são equivalentes? 
 
 Nem sempre. Cada uma dessas modalidades tem a sua especificidade. A língua 
falada é mais natural, já que aprendemos a falar imitando o que ouvimos. Já a língua escrita 
só é aprendida depois que dominamos a língua falada. Esta não é uma simples transcrição 
do que falamos; está mais subordinada às normas gramaticais. Assim, requer mais atenção 
e conhecimento de quem fala. Por ser escrita, permanece por mais tempo, ao passo que a 
língua falada é mais efêmera, passageira. Algumas vezes é possível encontrar na 
modalidade escrita recursos da língua falada. 
 Segundo Mary Kato (1986), um indivíduo no processo de escolarização bem-
sucedida passaria pelas seguintes etapas em seu aperfeiçoamento linguístico: 
 
F1  E1  E2  F2 
Língua falada, 
adquirida no meio 
social em que se 
nasce e vive e com 
que se comunica 
com os demais. 
A escrita adquirida 
mediante processo 
inicial de 
alfabetização 
escolar. Nessa fase, 
os traços da língua 
falada pelo aprendiz 
interferem nessa 
escrita. 
Nessa etapa da 
escolarização, a 
escrita já é, em seus 
aspectos 
convencionais, 
dominada pelo 
aprendiz. Já não há 
mais interferência da 
fala. 
Em um processo 
inverso, aqui a fala é 
que passa a sofrer 
influência da escrita 
convencional. Trata-
se da transferência 
dos traços dessa 
escrita padronizada 
para a fala. 
 
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15 
 Na maioria dos casos, os textos escritos produzidos pelas pessoas de pouca ou 
fraca escolaridade, situa-se entre as fases E1 e E2, ou seja, elas trazem para a sua escrita 
traços da variante falada de seu meio. Com isso, sua escrita fica marcada pela oralidade, ou 
seja, uma escrita que se distancia do modelo de escrita padrão. 
 Observe o exemplo que se segue: 
 
No caderno de reclamações do condomínio, o síndico leu a seguinte mensagem: 
 
 Seu síndico, eu e outros moradores desse condomínio tivemos conversando e todos 
são unânimes pelo fato de que não é possível conviver junto com um pessoal que não 
sabem se comportar, eu mesmo já pedi outro dia para eles não fazer barulhos depois de 
certa hora, mais eles botam música alta e não tão nem aí. Se eu fosse o senhor multava 
eles, pois não sabem se comportar. Aí eu queria vê se eles continuavam a se comportar 
assim. 
 
DESAFIO: quem seria capaz de identificar as interferências da fala no texto acima? Como 
poderíamos transcrever o trecho, observando as normas da escrita padrão? 
 
__________________________________________________________________________ 
__________________________________________________________________________ 
__________________________________________________________________________ 
__________________________________________________________________________ 
__________________________________________________________________________ 
__________________________________________________________________________ 
__________________________________________________________________________ 
__________________________________________________________________________ 
__________________________________________________________________________ 
__________________________________________________________________________ 
 
 
 Até agora, falamos da diferença essencial entre a língua escrita e a língua falada. 
Dessa diferença se originam outras, igualmente importantes e, em alguns casos, tão 
significativas que se podem mesmo falar na existência de dois códigos distintos: o código 
falado e o código escrito, cada um com suas regras próprias de funcionamento. Vejamos 
algumas delas. 
 
 A língua falada se concretiza por meio da emissão dos sons da língua, os fonemas. 
Na escrita, utilizam-se as letras, que não mantêm uma correspondência exata com 
os fonemas: háletras que representam fonemas diferentes (a letras X por exemplo, 
em exame, xadrez e sintaxe); há fonemas representados por mais de uma letra (/x/ 
em chave, por exemplo); há até casos em que a letra não representa nenhum 
fonema (h em hoje). Fatos como esses fazem com que a ortografia se torne às 
vezes mais complexa; ora, é obvio que essa questão afeta diretamente o manejo da 
língua escrita, tendo reduzida influência sobre o código falado. 
 
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16 
 
 O código oral conta com elementos de expressividade que o código escrito não 
consegue reproduzir com muita eficiência. Destacamos a acentuação e a 
entonação, capazes de modificar completamente o significado de certas frases e 
que só são parcialmente recuperáveis por certas construções da língua escrita. Há, 
por exemplo, várias formas de falar a palavra sim, podendo-se até atribuir-lhe 
significação oposta à usual. Na escrita, o que se pode fazer são construções do tipo: 
 “Sim”, disse ela, alvoroçada. 
 “Sim...”, respondeu uma voz debilitada. 
 “Sim?”, irrompeu, indignado. 
 “Sim!”, observou ele, com profunda ironia. 
 
 Além disso, a língua escrita utiliza a pontuação para sugerir certas características da 
língua falada. Não se deve esquecer, entretanto, que a pontuação tem antes de tudo uma 
função organizadora dos enunciados, permitindo-nos dispô-los dentro de certa lógica. Essa 
função antecede uma eventual tentativa de reproduzir de forma escrita a melodia própria da 
língua falada. Uma pontuação inadequada pode gerar incoerência no texto, como no 
exemplo a seguir: 
 
João toma banho quente e sua mãe diz ele quero banho frio. 
 
 Observe a diferença: 
 
João toma banho quente e sua. – Mãe – diz ele – quero banho frio. 
 
 Da mesma forma, o uso da pontuação pode interferir inclusive com o sentido da 
frase. Compare as duas orações que se seguem; 
 
Eu telefonei para meu filho que mora em Mauá. 
 
 A pessoa em questão tem vários filhos e telefonou especificamente para o que mora 
em Mauá. A segunda oração restringe o sentido da primeira. 
 
Eu telefonei para meu filho, que mora em Mauá. 
 
 Neste caso, a pessoa só tem esse filho e, por acaso, ele mora em Mauá. Em vez de 
restringir o sentido da primeira oração, a segunda apenas acrescenta um dado adicional, 
uma explicação complementar. 
 
 Voltando à questão da língua falada e da língua escrita, o uso de algumas estruturas 
gramaticais é bastante diferente nos dois códigos. Enquanto a língua falada utiliza 
exclamações e onomatopeias e produz frases muitas vezes inacabadas ou com rupturas de 
construção, a língua escrita desenvolve frases mais logicamente construídas, evitando a 
repetição de termos, comum durante a fala. 
 
 Em síntese: 
 
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17 
 LÍNGUA FALADA LÍNGUA ESCRITA 
• Palavra sonora • Palavra gráfica 
• Recursos: signos acústicos e 
extralinguísticos, gestos, entorno 
físico e psíquico 
• Pobreza de recursos não-
linguísticos; uso de letras, sinais de 
pontuação 
• Requer a presença dos interlocutores. 
Ganha em vivacidade 
• Comunicação unilateral. Ganha em 
permanência 
• 
É espontânea e imediata. Uso de 
palavras-curinga, de frases feitas 
• É mais precisa e elaborada. Ausência 
de cacoetes linguísticos e 
vulgarismos 
• A expressividade permite prescindir de 
certas regras 
• Mais correção na elaboração das 
frases. Evita a improvisação 
• É repetitiva e redundante • É mais sintética. A redundância é um 
recurso estilístico 
• A informação é permeada de 
subjetividade e influenciada pela 
presença do interlocutor 
• É mais objetiva. É possível esquecer 
o interlocutor 
• O contexto extralinguístico é 
importante 
• O contexto extralinguístico tem 
menos influência 
 
@@@@@@ 
 
REGISTROS DA LÍNGUA FALADA 
 
 Há pelo menos dois níveis de língua falada: a culta ou padrão e a coloquial ou 
popular. A linguagem coloquial também aparece nas gírias, na linguagem familiar, na 
linguagem vulgar e nos regionalismos ou dialetos. Essas variações são explicadas por 
vários fatores: 
 
 A – Diversidade de situações em que se encontra o falante: uma solenidade ou uma 
festa entre amigos; 
 
 B – Grau de instrução do falante e também do ouvinte; 
 
 C – Grupo a que pertence o falante. Este é um fator determinante na formação da 
gíria; 
 
 D – Localização geográfica: há muitas diferenças entre o falar de um nordestino e o 
de um gaúcho, por exemplo. Estas diferenças constituem os regionalismos e os dialetos. 
 
 Os registros linguísticos poderiam ser assim divididos: 
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18 
Modalidade escrita Modalidade falada 
 
Literário 
Formal 
Informal 
Pessoal 
Oratório 
Formal 
Coloquial tenso 
Coloquial distenso 
Familiar 
Vulgar 
 
ALGUNS EXEMPLOS DE EXPRESSÕES LINGUÍSTICAS TÍPICAS DA LÍNGUA FALADA: 
 
 A – Eu não vi ela hoje; 
 
 B – Ninguém deixou ele falar; 
 
 C – Deixe eu ver isso! 
 
 D – Não assisti o filme nem vou assisti-lo; 
 
 E – Sou teu pai, por isso vou perdoá-lo; 
 
 Obs: Será que você conseguiria reescrever essas frases considerando a elaboração 
necessária à língua escrita? 
 
A LÍNGUA FALADA COMO RECURSO LINGUíSTICO 
 
 Muitos escritores, para dar maior vivacidade aos seus textos, utilizam características 
da língua falada como gírias, expressões populares e incorreções gramaticais. Assim, as 
modalidades de língua falada e escrita, possuem especificações quanto à sua produção e 
emprego. A oralidade não está somente ligada à fala, e pode ser encontrada (e utilizada) em 
ou textos diversos, como recurso construtor de sentido. 
 
Veja o exemplo abaixo: 
 
Cante lá, que eu canto cá 
 
Poeta, cantô de rua, 
Que na cidade nasceu, 
Cante a cidade que é sua, 
Que eu canto o sertão que é meu. 
Se aí você teve estudo, 
Aqui, Deus me ensinou tudo, 
Sem de livro precisá 
Por favô, não mêxa aqui, 
Que eu também não mexo aí, 
Cante lá, que eu canto cá. 
 
Patativa de Assaré/Antônio Gonçalves da Silva 
(Do livro: "Cante lá, que Eu Canto cá", Rio de Janeiro: Vozes, 1978. [Fragmento]) 
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19 
 
Leia o texto que se segue: 
 
 Um gerente de vendas recebeu o seguinte fax de um de seus novos vendedores: 
 
 “Seo Gomis, 
 O criente de Belzonte pidiu mais cuatrucenta pessa. Faz favortomá as providenssa. 
Abrasso, Nirso.” 
 
 Aproximadamente uma hora depois, recebeu outro: 
 
 “Seo Gomis, 
 Os relatório di venda vai xegá atrazado proquê to fexando umasvenda. Temo que 
mandá treis mir pessa. Amanhã ta xegano. Abrasso, Nirso.” 
 
 No dia seguinte, 
 
 “Seo Gomis, 
 Num xeguei pucausa de que vendi mais deis mir em Beraba. To indo pra Brazilha.” 
 
 No outro, 
 
 “Seo Gomis, 
 Brazilha fexô 20 mil. Vô pra Fronilópolis e di lá pra Sum Paulono vinhão das cete 
hora.” 
 
 Assim foi o mês inteiro. O gerente, muito preocupado com a imagem da empresa, 
por conta do “portuguêis do Nirso”, levou ao presidente as mensagens que recebeu do 
vendedor. O presidente escutou atentamente o gerente e disse: 
 - Deixe comigo que eu tomarei as providências necessárias. 
 E tomou. Redigiu de próprio punho um aviso e o afixou no mural da empresa, 
juntamente com as mensagens de fax do vendedor: 
 
 “A parti de oje nois tudo vamo fazê feito o Nirso. Si priocupá menos em iscrevê serto, 
modi vendê mais.Acinado, o prizidenti.” 
 
(http://g1linguaescritalinguafalada.blogspot.com/2009/12/um-gerente-de-vendas-recebeu-o-
seguinte.html) 
 
 
1. Em que consiste o humor nesse texto? 
 
 
2. A mensagem de Nirso atingiu o seu objetivo? Justifique sua resposta. 
 
 
3. Qual modalidade da língua é predominante no texto? Justifique. 
 
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20 
4. Como você caracterizaria Nirso, a partir da linguagem que emprega? 
 
 
5. Reescreva as mensagens de Nirso e o aviso do presidente, passando-os para a norma 
padrão, e entregue o trabalho em folha separada, para avaliação do professor. 
 
@@@@@@ 
 
LINGUAGEM FORMAL E LINGUAGEM INFORMAL 
 
Como já vimos, a linguagem pode ser mais ou menos formal dependendo da 
situação comunicativa e do grau de intimidade entre os interlocutores. 
A linguagem formal é usada em situações formais, seja por escrito (correspondência 
entre empresas, artigos de certos jornais e revistas, textos científicos, livros didáticos), seja 
oralmente (conferência, discurso, reunião de negócios). Geralmente é empregada quando 
alguém se dirige a um interlocutor com quem não tem proximidade: ao fazer uma solicitação 
a uma autoridade ou comparecer a uma entrevista de emprego, por exemplo. Além de 
seguir a variedade padrão, a linguagem formal tem como características marcantes a 
polidez e a seleção cuidadosa das palavras. 
Empregada em situações informais, como correspondência entre amigos e 
familiares, a linguagem informal pressupõe certo grau de intimidade com o interlocutor. 
Apresenta uma estrutura mais solta, com construções mais simples; podem-se empregar 
abreviações, diminutivos, gírias e, às vezes, construções sintáticas que não seguem a 
variedade padrão. É importante lembrar que usar essa linguagem não significa que o 
emissor não saiba se comunicar de outra forma quando necessário. A linguagem informal é 
mais comumente utilizada na fala do que na escrita; no entanto, há escritos em que ela se 
faz necessária - por exemplo, um bilhete para uma situação do dia a dia. 
 
 
A linguagem formal é usada em situações formais, e sua estrutura obedece às 
regras da variedade padrão. 
 
A linguagem informal é usada em situações informais, e sua estrutura permite o 
uso de gírias, diminutivos e expressões que não fazem parte da variedade padrão. 
 
 
MAIS EXERCÍCIOS 
 
Partindo da leitura do texto abaixo, procure refletir tendo como base o conceito de 
registro e as múltiplas formas de contextualização da língua. 
 
O burocrata 
Leó Montenegro 
 
 Robelério, o burocrata, caminhava pela Cinelândia, quando ouviu o grito: 
 - É o bicho! Quem se meter a besta de reagir vai levar com uma bala na ideia! 
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21 
 Robelério levantou o dedo para falar. 
 - Perdão, mas os senhores não nos comunicaram por memorando que iriam assaltar 
hoje. 
 O chefe do bando falava e gesticulava com a arma: 
 - Tá pensando que nós temos tempo pra palhaçada? Passa logo a grana, senão vai 
levar um pombo sem asas nos cornos! 
 Robelério não perdeu a pose: 
 - É exatamente sobre isso que eu estava falando. Se tivesse sido comunicado do 
assalto, estaria com dinheiro em caixa para atender os senhores. Outrossim, informo que os 
senhores deveriam usar um crachá para que possam ser reconhecidos como assaltantes. 
 Uma velhinha para o Robelério: 
 - Ih, moço, para de falar difícil com eles, porque vai acabar dando um nó na ideia 
deles e vai ser tiro pra todo lado. 
 Robelério para a velhinha: 
 - Em resposta a vossa solicitação, informo que não poderei adotar tais providências, 
vez que, como se observa, o assalto está desorganizado e fora de seus padrões normais. 
 Um dos bandidos, para o chefe: 
 - Esse cara é maluco. Acho melhor não atirar nele, por causa de que é proibido bater 
e atirar em maluco. 
 O chefe nem estava aí: 
 - Maluco ou não, se ele não parar com essa frescura, eu aperto o gatilho. 
 Robelério era um pentelho: 
 - A propósito, vossa senhoria tem nota fiscal dessa arma? Se não tem, fique 
sabendo que está infringindo a Lei 38 do Código de Defesa do Consumidor. Isso representa 
dizer que sua empresa de assaltos está sujeita a uma multa de 400 UFIR’s. 
 O chefe do bando desandou a dar pulinhos: 
 - Vai multar a mãe! Isto é um assalto, não entendeu? 
 Robelério: 
 - Desconheço a ação por absoluta falta de comunicação, por memorando, de que ela 
seria desenvolvida. 
 Parou aí, porque o bandido deu-lhe um tiro no braço e se mandou com a quadrilha. 
Mas o pior foi quando a ambulância chegou. Robelério não queria ir para o hospital de jeito 
nenhum: 
 - Sem um memorando avisando ao estabelecimento hospitalar sobre a minha 
chegada, nada feito. 
 Foi levado à força. 
 
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22 
 
PERGUNTA-SE: Como se processa o humor no texto em questão? Comente. 
 
 
TEXTOS DIVERSOS 
 
Para refletir... 
 
● RUI BARBOSA E O LADRÃO 
 
Diz a lenda que Rui Barbosa, ao chegar em casa, ouviu um barulho estranho vindo 
do seu quintal. Chegando lá, constatou haver um ladrão tentando levar seus patos de 
criação. Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e, surpreendendo-o ao tentar pular o 
muro com seus amados patos, disse-lhe: 
- Oh, bucéfalo anácrono! Não o interpelo pelo valor intrínseco dos meus bípedes 
palmípedes, mas sim pelo ato vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação, 
levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa. Se isso fazes por necessidade, transijo; mas 
se é para zombares da minha elevada prosopopéia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei 
com minha metafórica bengala bem no alto do teu obtuso cocuruto, e o farei com tal ímpeto 
que reduzirei a tua massa encefálica à quinquagésima potência que o vulgo denomina nada. 
E o ladrão, confuso, diz: 
- Dotô, eu levo o deixo os pato? 
 
 
 Esta próxima é para ser comentada à luz da política atual. Até que ponto 
nossa ideologia pessoal e preconceitos influem na expressão de nossos 
pensamentos? 
 
Um homem passeia tranquilamente por um parque em Nova York quando, de 
repente vê um pitt bull raivoso a ponto de atacar a uma aterrorizada menininha de 7 anos. 
Os curiosos olham de longe, mas - mortos de medo - não fazem nada. O homem não 
titubeia e se lança sobre o cachorro, toma-lhe a garganta e o mata. Um policial que viu o 
ocorrido se aproxima, maravilhado, dizendo-lhe: O senhor é um herói. Amanhã todos 
poderão ler na primeira página dos jornais: "Valente nova-iorquino salva a vida de uma 
menininha". O homem responde: - Obrigado, mas eu não sou de Nova York. - Bom, diz o 
policial, então dirão: "Valente americano salva a vida de uma menininha". - Mas é que eu 
não sou americano, insiste o homem. - Bom, isso é o de menos. De onde é o senhor? - 
Sou árabe - responde o valente. No dia seguinte os jornais publicam: "Terrorista árabe 
massacra de maneira selvagem um cachorro americano de pura raça, em plena luz do dia e 
em frente de uma menininha de 7 anos que chorava aterrorizada." 
 
 
@@@@@@

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