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aulas 7,8,9&10

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Aula 07		
Nas aulas anteriores, vimos acerca dos momentos fundadores da nação brasileira: a Declaração de independência e o início da organização política nacional, o primeiro reinado e suas crises até a abdicação do imperador, Dom Pedro I.
O retorno do imperador a Portugal e sua abdicação do trono em favor de seu filho Pedro de Alcântara deu início ao período regencial, que terminaria com o golpe da maioridade que coroaria o novo monarca, Dom Pedro II. 
No período regencial, houve vários gabinetes e o governo foi conduzido por diversos regentes, até que o príncipe herdeiro pudesse alcançar a idade para assumir o governo. Mas as inúmeras crises internas e a eclosão de revoltas em todo o país obrigaram o Estado a antecipar a maioridade do príncipe, precipitando sua coroação, conforme estudamos na aula passada.
Quando Dom Pedro I renuncia, ele provoca um vazio no poder. Mesmo que tenham sido nomeados regentes para administrar o Estado, estes não tinham a legitimidade do monarca. Além disso, as disputas entre os diversos grupos políticos do império faziam com que o governo regencial fosse instável, e oscilasse em torno dos interesses das oligarquias dominantes.
Quando Dom Pedro I renuncia, ele provoca um vazio no poder. Mesmo que tenham sido nomeados regentes para administrar o Estado, estes não tinham a legitimidade do monarca. Além disso, as disputas entre os diversos grupos políticos do império faziam com que o governo regencial fosse instável, e oscilasse em torno dos interesses das oligarquias dominantes.
Memorias da Escravidão - Esta estrutura se manteve após a independência e os estados do Sul e do Nordeste, que esperavam maior influência nas decisões administrativas do país, se viram, novamente, deixados de lado. Estas regiões periféricas eram negligenciadas pela política econômica do império e as condições de vida de sua população eram cada vez mais precárias. Durante o primeiro reinado, já havia um grande descontentamento popular que a abdicação do imperador veio a agravar.
Cabanagem - É neste contexto que ocorrem as revoltas regenciais. Uma das primeiras foi a Cabanagem, na região do Grão Pará. No período imperial, a província do Grão-Pará englobava o que hoje é a região norte, em especial os atuais estados do Pará e Amazonas. Do ponto de vista político e administrativo, esta província sempre se manteve um tanto isolada do poder central, este afastamento teve suas consequências. Devemos tecer algumas considerações sobre o isolamento provincial.
Desde os primórdios da colonização do Brasil pelos portugueses, houve uma concentração no litoral da colônia. Por questões óbvias – facilidade de acesso, necessidade de proteção da costa, maior rapidez no escoamento de mercadorias por via marítima – a ocupação brasileira se deu, sobretudo pelo litoral. 
Progressivamente, esta dinâmica causou um afastamento das províncias do interior, que foram ocupadas depois de já iniciada a colonização efetiva, no século XVI. Esta estrutura irá criar uma relação centro periferia, que estará presente em diversos embates e pode ser facilmente percebida ao estudarmos a história do país. 
Mesmo hoje, há uma profunda diferença entre o desenvolvimento das regiões centrais, Sul e Sudeste e das regiões fora deste eixo. Veja mais sobre o assunto clicando no ícone de PDF.
BRASIL IMPERIAL O investimento diferenciado se faz notar mesmo nas áreas mais básicas, como saneamento, educação e saúde pública. De fato, tentar desenvolver as regiões Norte, Nordeste e Centro Oeste tem sido uma preocupação de diversos governos recentes, que têm feito investimentos – com maior ou menor sucesso – nos mais diversos setores. Mas este é um legado colonial que ainda pesa na política administrativa do país. Se este é o panorama do século XXI, onde há uma enorme integração proporcionada por diversos fatores, desde transporte até os meios de comunicação, imaginemos como isso se dava no século XIX. Não é a toa que a maior parte das revoltas regenciais tenha ocorrido em regiões e províncias que se sentiam marginalizadas pelo Estado. Embora tenhamos uma impressão superficial de que a independência brasileira foi um negócio “de pai pra filho”, este processo não ocorreu sem que houvesse resistência. Mesmo que não tenha havido uma luta armada nas proporções do que ocorrera entre as 13 colônias britânicas e a metrópole inglesa, a transição da colônia para a independência não foi um processo que tenha transcorrido sem transtornos e crises. Havia um movimento e resistência à independência, que desejava manter-se como colônia portuguesa e apoiava o retorno da Coroa ao comando do país.
No Grão Pará, as forças recolonizadoras provocaram uma luta interna. Esta região era dominada por uma elite formada por ricos comerciantes portugueses que, temerosos de perder seus privilégios com o fim do período colonial, iniciaram um movimento de resistência à emancipação politica do Brasil.
A população resistiu aos esforços portugueses de recolonização, mas só em 1823 conseguiram expulsar definitivamente os rebeldes e consolidar a independência, um ano depois de sua proclamação por Dom Pedro I. Um dos líderes da resistência aos portugueses foi o cônego Batista de Campos.
Sua atuação em prol da liberdade e da manutenção da autonomia do Brasil frente as forças portuguesas lhe renderam uma enorme popularidade frente à população. Além de Batista Lopes, o fazendeiro Clemente Malcher e Eduardo Angelim também fizeram parte da resistência.
O império enviou tropas em 1823 para acabar definitivamente com a contenda, mas a própria independência chegaria tardiamente à região, em um claro exemplo de seu afastamento do poder central. A vitória sobre os portugueses foi obtida após o envio deste reforço, formado por mercenários ingleses liderados por John Greenfell.
Mas a consolidação da independência não mudou a realidade socioeconômica da região. A população pobre da cidade, que habitava casebres próximos dos rios - sendo por isso conhecidos como cabanos – não viram nenhuma mudança significativa em suas condições de vida. A permanência da realidade anterior à independência manteve a população sob agitação constante, mas o governo do imperador Dom Pedro I reprimia com violência extremada a oposição. Segundo o historiador Nelson Werneck Sodré, sobre a repressão empreendida contra os populares do Grão Pará:
Mas as práticas repressivas surtiram o efeito oposto ao desejado. Em lugar de pôr fim às hostilidades, aumentou sobremaneira a repulsa da população ao governo de Pedro I. O imperador também ignorou a contribuição das lideranças populares no combate aos portugueses e excluiu-os do governo. Sua abdicação, em 1831, tornou o clima político ainda mais instável
Saiba mais sobre essa situação e como ela se encerrou clicando no ícone de PDF.
A CABANAGEM Em 1833, o governo regencial enviou à província uma nova junta governativa, cujo objetivo era pôr fim, definitivamente, às agitações locais. Bernardo Lobo de Souza foi nomeado presidente, mas sua política não diferia da aplicada pelo imperador. Lobo de Souza mostrou-se avesso ao diálogo e manteve as práticas repressivas violentas, o que culminou com a eclosão da revolta dos cabanos, a Cabanagem, em 1835. Os rebeldes tomaram a capital, Belém, depuseram o presidente, Lobo de Souza, que foi executado. Clemente Malcher assumiu o poder, mas o novo governante era, antes de tudo, um fazendeiro e se identificava com os interesses das elites latifundiárias. Ao invés de propor o rompimento com a regência, Malcher jurou fidelidade ao imperador e aguardaria a maioridade de Dom Pedro II. Em uma clara submissão aos interesses do poder central, o que descontentou os revoltosos, que esperavam a radicalização do movimento. Assim como seu antecessor, Lobo de Souza, Clemente de Malcher é igualmente assassinado, e um dos irmãos Vinagrem, que haviam participado ativamente do movimento e da tomada de Belém, assumiu o poder, Francisco Vinagre. Por ter lutado ao lado dos cabanos, acreditava-se que o governo Francisco Vinagreatenderia aos interesses das camadas pobres da população, o que não ocorreu. Vinagre reafirmou a posição assumida por Malcher e buscava não a confrontação com a regência, mas o reconhecimento de seu governo por esta. Podemos perceber que, apesar de terem efetivamente chegado ao poder, não havia um consenso entre as lideranças dos cabanos sobre como proceder política e administrativamente. Dividido, o movimento acabou por ser enfraquecido, e em 1836 chega à província o novo governante, indicado pela regência, o militar José de Souza Soares de Andreia. Os revoltosos ainda resistiam, mas depois de algum tempo de luta, José de Souza assumiu o governo. Os revoltosos se refugiaram no interior, mas as forças do governo buscavam reprimir qualquer sublevação. A população da província era estimada na época em 100 mil habitantes dos quais entre 30 e 40% pereceram durante os anos da revolta. A cabanagem evidencia uma prática que seria comum nas revoltas regenciais, a intensa e violenta repressão empreendida pelas forças imperiais e que vitimaria milhares de pessoas envolvidas nos conflitos.
Dentre as revoltas regenciais, chama atenção, por sua singularidade, a Revolta dos Malês, ocorrida em Salvador, em 1835. Cabe lembrar que a escravidão no Brasil não é única ou homogênea.
Africanos de diferentes etnias foram trazidos para o país e, embora o etnocentrismo europeu que nos foi legado faça com que vejamos a África como um bloco, as diferenças culturais e as contribuições das diferentes tribos africanas para a cultura brasileira são inúmeras.
Podemos concluir que as revoltas regenciais evidenciam um período de grande descontentamento da população contra a ordem estabelecida e a instabilidade provocada pela abdicação. O desejo autonomista e os princípios de uma verdadeira federação foram alguns dos fundamentos ideológicos recorrentes aos movimentos que somente o golpe da maioridade e a posse de um imperador legítimo pôde controlar.
Aula 08	
Para analisarmos a questão da família escrava faz-se imprescindível os escritos do padre jesuíta Jorge Benci, que embora esteja temporalmente afastado do nosso estudo, ofereceu bases de como o escravo deveria ser tratado pelo seu senhor.
Jorge Benci foi quem primeiro dissertou sobre a política do pão, pau e pano, ou seja, o alimento, o castigo e a vestimenta, pois, sendo escravo um investimento, não poderia sucumbir das mazelas provocadas pelo senhor. Também não fazia esquecer que para a sobrevivência do cativo era de suma importância o alimento espiritual, que seria ministrado através dos sacramentos durante as celebrações religiosas. No caso aqui vamos destacar a questão do sacramento matrimonial.
São elucidativas as palavras do autor, Jorge Benci, para entender como a igreja, desde os tempos coloniais, vê a formação da família escrava.
Clique na imagem e veja o texto escrito pelo jesuíta.1																							“E não devendo os senhores impedir o matrimônio aos servos, também lhes não devem impedir o uso dele depois de casados apartando o marido da mulher e deixando a um em casa, e mandando vender ou viver o outro em partes tão remotas, que não possam fazer vida conjugal. Porque quando não pequeis contra a justiça, privando o servo do que lhe compete por direito natural, como ensina o padre Sanchez; não se pode negar que pecas ao menos contra a caridade: porque apartando os servos casados um do outro, vindes a privá-los do bem do matrimônio, no que lheis causais dano mui grave, que a caridade proíbe se faça ao próximo sem urgentíssima causa”.  
Lendo o fragmento, podemos perceber que a igreja católica estimulava o sacramento do matrimônio entre os escravos. De certa forma, a formação de laços familiares entre escravos era uma forma de manter a paz nas senzalas. 
BENCI, Jorge. Economia cristã dos senhores no governo dos escravos. São Paulo: Grijaubo, 1977.
Caminhando para análises mais recentes sobre a escravidão, vemos uma tendência a ver o escravo como “coisa”, negando-lhe dessa maneira o caráter de agente social. Essa visão fica bem clara por exemplo nos estudos de Chalhoub, onde diz que ao cativo seriam negados todos os direitos, os sentimentos, mesmo os de família, e ele terminaria por “quase acreditar” na sua situação de inferioridade e agiria de acordo com as “determinações” da elite dominante.    
CHALHOUB, Sidney. Visões da liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
Outro autor que fez uma análise bastante interessante sobre a família escrava foi Fernando Henrique Cardoso, que estudou a sociedade escravocrata rio grandense.
No seu estudo, o autor deixa claro o caráter brando da escravidão nessa parte do país, no entanto devemos ressaltar que a escravidão tem um caráter único e um sentido de dominação de um pelo outro, não existindo nenhum tipo de escravidão  benevolente.
Se em um primeiro momento tivemos a construção do mito do escravo benevolente e passivo, em outro momento a historiografia construiu o mito do escravo rebelde, para explicar fugas, rebeliões, quilombos e outras formas de resistência que não passariam pela negociação. Outro autor que fez uma análise bastante interessante sobre a família escrava foi Fernando Henrique Cardoso, que estudou a sociedade escravocrata rio grandense.
No seu estudo, o autor deixa claro o caráter brando da escravidão nessa parte do país, no entanto devemos ressaltar que a escravidão tem um caráter único e um sentido de dominação de um pelo outro, não existindo nenhum tipo de escravidão  benevolente.
Se em um primeiro momento tivemos a construção do mito do escravo benevolente e passivo, em outro momento a historiografia construiu o mito do escravo rebelde, para explicar fugas, rebeliões, quilombos e outras formas de resistência que não passariam pela negociação.
Na década de 1980, uma nova corrente emergiu na historiografia procurando valorizar o escravo como agente social, que influiu de maneira incisiva para a formação da identidade nacional. Tais estudos mostram, por exemplo, que a rebeldia - antes encarada como única forma de contestação do cativo - pode ser entendida como uma das cartas que o escravo possuía para negociar sua situação. No que se refere à família, essa nova visão utiliza-se da demografia histórica e trouxe uma completa mudança no cenário da escravidão brasileira, principalmente através dos registros de família, casamento e herança.
A Família Escrava
As pesquisas mais recentes sobre a família escrava focaram em objetos de estudo mais limitados quanto ao espaço e ao período e, assim, permitiram uma investigação massiva dos documentos cartoriais e paroquiais.
Considerando variáveis importantes como características relativas à área urbana ou rural, o tamanho do plantel, a nacionalidade dos escravos, os trabalhos quantitativos têm sido acrescidos de uma análise mais qualitativa.
Autores como Manolo Florentino e José Roberto Góes mostram em seus estudos a família escrava estável como algo bastante comum durante o período da escravidão e  constatando a existência do que  poderia ser chamado de um mercado de famílias.
Logo, devemos admitir a interferência da família escrava no mercado. Essa forte influência é mais visível ainda após 1850 com o fim do tráfico intercontinental, e o consequente aumento da importância dos escravos. Assim, o tratamento dado a estes foi modificado, pois a subida do seu preço e a sua menor disponibilidade no mercado pesavam  muito no modo de agir e pensar.
Devemos ressaltar que embora desde 1831 o tráfico de escravo fosse considerado pirataria, é só a partir de 1850, com a Lei Eusébio de Queirós, que o governo brasileiro vai fiscalizar a prática do comércio ilícito. Porém, mesmo que o fim do tráfico intercontinental tenha facilitado a formação das famílias escravas, isto não significa que não existissem condições para sua existência antes; muito pelo contrário, na realidade, 1850 serviu somente para reforçar uma formação já existente e, com certeza, para aqueles autores que culpavam o sistema pela instabilidade da família, ficou maisfácil entendê-la.
Podemos dividir a formação dos laços de parentescos em dois grupos, o primeiro são as ligações consanguíneas, que ainda pode ser subdividido em matrifocais e nucleares.
“Em épocas de estabilidade do desembarque de africanos, os grupos familiares nucleares (pais casados e seus filhos, ou  esposos cujo matrimônio era legalmente sancionado) eram maioria e abrangiam a maior parte dos parentes. Entre 1790 e 1808, seis entre cada dez familiares escravos eram deste tipo. Na medida em que o tráfico se incrementava, porém, os grupos familiares primários de base matrifocal (mães solteiras e seus rebentos), e os parentes a eles adscritos, tendiam a ser majoritários.”   
FLORENTINO, Manolo; GÓES, José Roberto. A paz das senzalas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1997
Notamos que tendo mão de obra disponível, a família tende a ficar unida, não havendo necessidade do senhor desmembrá-la. Inclusive, em alguns inventários post-mortem, quando a herança passa para as mãos dos filhos, é comum a permanência da estrutura nuclear.
Porém, sendo necessário o afastamento do núcleo familiar, dá-se a separação do pai. A estrutura da família matrifocal vai ser constituída pelas mães solteiras ou viúvas.
O segundo grupo, e ao nosso ver, o mais significativo, é a união familiar pelo batismo (o apadrinhamento), pois é dessa forma que vão estabelecer-se alianças políticas, vínculos de afeição, de identidade e de reciprocidade.
A questão da convivência entre os escravos era tensa, pois além da falta de mulheres - isso nos leva a crer que no tráfico atlântico o comércio de homens era mais intenso do que o de mulheres - havia a discriminação dos cativos da terra com os “negros novos”. Não podemos deixar de aludir que  outro fator para as tensões, e já amplamente estudado, é a relação com o senhor. Os escravos, para que garantissem sua sobrevivência em um “novo mundo”, tiveram de transformar antigas rivalidades em formas de solidariedade, e uma das formas de se garantir a sobrevivência do grupo era a constituição da família, mesmo que em grande parte os escravos não fossem casados com o consentimento divino, estavam repetindo uma prática da própria sociedade. Para os negros, a formação da família era uma maneira de sobrevivência e, para os senhores, um dos meios para a pacificação nas senzalas.
O estabelecimento de relações  familiares entre os pares era fundamental para a sua socialização. Relações tão intimamente ligadas à própria condição de ser escravo e que os olhares brancos por vezes não davam conta de sua amplitude.
As Leis Abolicionistas: Lei do Ventre Livre
Embora o Partido Liberal tenha se comprometido com a causa, foi o Partido Conservador o responsável pela primeira lei abolicionista. Em 28 de setembro de 1871, o Visconde de Rio Branco promulgou a Lei do Ventre Livre. Esta lei estipulou que os filhos de escravos que nascessem após o ano de publicação fossem considerados libertos. A partir daquele momento, integrantes das classes médias urbanas passaram a se organizar em favor do fim definitivo da escravidão. Ela foi criada depois de 21 anos sem qualquer medida governamental em relação ao fim da escravidão, e pretendia estabelecer um estágio evolutivo entre o trabalho escravo e o regime de trabalho livre, sem, contudo, causar mudanças abruptas na economia ou na sociedade. Ainda na Câmara dos Deputados, o projeto de lei obteve 65 votos favoráveis e 45 contrários. Já no Senado do Império foram 33 votos a favor e 7 contra.
Segundo o disposto na lei, os filhos dos escravos - chamados de ingênuos - tinham duas opções: ou ficavam com os senhores de suas mães até a maioridade (21 anos) ou poderiam ser entregues ao governo. Na prática, os escravocratas mantiveram os ingênuos nas suas propriedades, tratando-os como se fossem escravos. Em 1885, dos 400.000 ingênuos, somente 118 foram entregues ao governo - os proprietários optavam por libertar escravos doentes, cegos e deficientes físicos. Além disso, o índice de mortalidade infantil entre os escravos aumentou, pois além das péssimas condições de vida, cresceu o descaso pelos recém-nascidos. Porém, a lei foi responsável pela exposição dos problemas da escravidão na imprensa e em atos públicos.
Joaquim Nabuco escreveu, em 1883
“O abolicionismo é antes de tudo um movimento político, para o qual, sem dúvida, poderosamente concorre o interesse pelos escravos e a compaixão pela sua sorte, mas que nasce de um pensamento diverso: o de reconstruir o Brasil sobre o trabalho livre e a união das raças na liberdade.”
Ao longo desse período, as discussões sobre o abolicionismo ganharam maior intensidade. Alguns militantes - além de mostrarem a escravidão como um ato irracional e desumano - também argumentavam que a hegemonia do trabalho assalariado seria indispensável para que a economia do país se modernizasse. Outros abolicionistas mais exaltados defendiam a organização de fugas e rebeliões de escravos.
Muitos proprietários de terra e outras figuras envolvidas com a questão temiam que a escravidão fosse extinta de modo imediato no país. Segundo estes, a tomada de uma medida definitiva poderia abrir caminho para a ocorrência de rebeliões que poderiam desestabilizar gravemente a economia da época. Deste modo, vemos que a lentidão do governo imperial acabou legitimando uma abolição de tom gradual.
Lei dos Sexagenários
Os governos no Ceará e do Amazonas libertaram seus escravos e essa decisão aumentou a pressão da opinião pública e, em 1885, o governo deu mais um passo em direção à abolição promulgando a Lei Saraiva-Cotegipe, que regulava a “extinção gradual do elemento servil”.
Esta lei foi criada a partir de um projeto do deputado baiano Rui Barbosa, e ficou conhecida como Lei dos Sexagenários, determinou que os escravos maiores de sessenta anos fossem imediatamente libertados. Na época, a lei foi intensamente criticada, pois existiam poucos negros em idade avançada, isso ocorria pois as condições de trabalho dos escravos eram precárias. Sendo assim, poucos escravos viviam por tanto tempo. Além disso, com estes escravos em liberdade o ganho dos proprietários aumentava, já que eles não lucravam com escravos idosos.
Lei Áurea
Mesmo com o avanço das leis abolicionistas, foi somente em 1888, sob a regência da princesa Isabel, que a escravidão chegou ao fim. A aprovação da lei é vista como o resultado de um longo caminho traçado pela campanha abolicionista desde 1870. Porém, a apesar de a lei ser de extrema importância e ter dado fim à escravidão, ela não garantiu melhores condições aos escravos. A participação dos libertos na sociedade não estava em pauta, fazendo com que essa parcela da população ficasse desamparada.
Além da importância das campanhas abolicionistas, a postura da princesa regente é de extrema importância. Princesa Isabel era abolicionista e apoiou a aprovação da Lei do Ventre Livre de 1871. E também é sabido que a princesa utilizava seus próprios recursos para financiar alforrias.
Quando da aprovação da Lei Áurea, a princesa Isabel estava no seu terceiro período regencial, no qual enfrentou diversas crises marcadas pelas tensas relações com o Ministério, presidido pelo Barão de Cotegipe a quem ela forçou que se demitisse a fim de nomear João Alfredo Correia de Oliveira (1835-1915), para primeiro-ministro.
Com este novo primeiro-ministro, os abolicionistas passaram a conseguir enfrentar os proprietários de escravos e levar o projeto a votação. Além de conseguirem evitar que os donos de escravos conseguissem receber indenizações, projeto pendente no poder Legislativo e Judiciário.
O custo do posicionamento da princesa Isabel foi bastante alto, já que o fim da escravidão abalou as estruturas de sustentação da monarquia brasileira. Pouquíssimo tempo depois ocorreu a proclamação da República.
Agora é com você! Faça um exercício de fixação sobre o conteúdo estudado na aula de hoje e fique atento a todas as informações. Para isso, avance a tela.
Aula 09
Estefoi o caso do pensamento disseminado por José da Silva Lisboa, desde a primeira década do século XIX, que em suas obras e, especialmente, em seu artigo intitulado Do Trabalho, apontava para as desvantagens da utilização do trabalho escravo, para os seus aspectos morais, identificando no entanto um necessário processo de transição para o trabalho livre no Brasil, sem que houvesse alteração da ordem. No mesmo sentido, nas décadas seguintes, José Bonifácio em sua Representação à Assembléia Geral Constituinte Legislativa do Império do Brasil sobre a escravatura, previa a superação gradual do modelo escravista, para que fosse possível consolidar a obra de formação da nação e do povo brasileiro depois da Independência. Segundo Ricardo Salles havia uma tácita aceitação de que a escravidão era um mal, contudo necessário. E, neste sentido, colocar-se contra sua existência naquele momento significaria inviabilizar os projetos de uma nova nação. Por outro lado havia aqueles que defendiam, como Bernardo Pereira de Vasconcelos, que os homens de cor deveriam em princípio sempre ser considerados escravos. À defesa da superação da escravidão como condição para a consolidação da Independência, completado pela formação da Nação e do povo brasileiro, seguiram-se nas décadas seguintes dos elementos de fermentação ideológica que identificavam o elemento negro e indígena como refratários à civilização, ao progresso e à cultura. Neste sentido, nas décadas que se seguiram à emancipação, especialmente a partir da segunda metade do século XIX, consolidavase a noção de que o verdadeiro povo brasileiro só se constituiria em um futuro próximo, quando os efeitos da escravidão estivessem minimamente superados, circunscrevendo assim os efeitos da escravidão à própria população escrava e não ao conjunto da sociedade. Essa visão acabou se tornando predominante nas décadas seguintes, ajudando a tecer o substrato ideológico que marcou a sociedade do segundo reinado. Este percurso do pensamento em relação à expressão social sobre a escravidão caminhou para um deslocamento da noção de raça à de civilização.]
Os escassos estudos que temos sobre a construção da cidadania no século XIX enveredam-se, em sua maioria, pela via eleitoral, relegando a um segundo plano os meios pelos quais o Estado vai interferir diretamente na vida particular. Como exemplo poderíamos citar, dentre tantos outros episódios, a revolta da vacina do Rio de Janeiro, que embora seja em 1904, já no século XX, serve para ilustrar um dos meios pelos quais a força pública intervém no particular. É preciso expandir o estudo da cidadania “para além do exercício de Direito”.
Os meios que o Estado melhor vai ter para a comunicação com o cidadão, no período, além da política, será a Guarda Nacional, o serviço militar, o serviço do júri, o recenseamento e o registro civil.
A partir desse ponto é feito um estudo pormenorizado de cada uma dessas formas e suas consequências para a vida do brasileiro.
Quanto à questão eleitoral detém-se pouco, “...por ter merecido maior atenção...” e para surpresa nossa, afirma, que se comparado aos países europeus, no que se refere à amplitude do voto, a legislação brasileira era a mais liberal. Certamente essa liberalidade não pressupunha uma igualdade, e também não impedia as irregularidades, que foram várias vezes denunciadas, mas sem nenhum sucesso, o que acabava favorecendo a uma pequena elite.
O poder judiciário, importado da tradição anglo-saxônica, é implementado na constituição de 1824. Ele era de participação bastante limitada, pois além da necessidade de rendas, era obrigatório a alfabetização, o que restringia a 16% da população o direito de participação, por isso frequente surgia a dificuldade de ter um quórum que deveria ser de 50 jurados. É citado também o caráter corrupto do júri, no qual em várias localidades a população tinha medo da denúncia devido à certeza da impunidade.
A Guarda Nacional, outro meio de comunicação do governo com o povo, teve como inspiração a Garde francesa e tinha como principal objetivo tomar, momentaneamente, o lugar do exército que encontrava-se em grande conturbação.
Sua função era a de “... defesa externa, segurança interna e manutenção da ordem. A partir de 1850, encarregou-se principalmente do trabalho de policiamento.” Podemos entender a Guarda Nacional como uma troca entre o governo e os proprietários, que pelo serviço queriam o reconhecimento de seu poder. Portanto, não dá para olhar a Guarda Nacional somente como um braço armado dos latifundiários e, sim, como um sistema de troca entre esses dois níveis de poder. 
Temos agora o olhar voltado para como a população reagiu aos vários movimentos do Estado, a fim de burocratizar e secularizar a vida da sociedade brasileira. “Três iniciativas despertaram de modo especial a ira da população: o alistamento militar, o registro civil e a introdução do sistema métrico.” 
O que estava em jogo nas manifestações contrárias às formas de racionalização política era devido ao fato de que todas as mudanças representavam uma forma de regularização mais efetiva do cidadão pelo Estado, quebrando de repente o acordo da individualidade.
Se é verdade que as revoltas não propunham alternativa, que se limitavam à recusa, também é verdade que traziam implícita a ideia de um pacto não escrito, preexistente, segundo o qual o governo não tinha o direito de interferir no cotidiano das pessoas e desrespeitar suas tradições. Dizendo não, os rebeldes estavam de alguma maneira afirmando direitos, estavam fazendo política para garantir direitos tradicionais. Não deixava de ser um tipo de cidadania, embora em negativo.
 
CARVALHO, José Murilo de. Cidadania: Tipos e Percursos. In: 18 estudos históricos. Rio de Janeiro: CAT Torres, 1996.
Não poderíamos terminar esta aula sem citar um pensamento do professor José Murilo de Carvalho, pois nos leva a refletir em como encaramos as instituições estatais hoje:
“...o brasileiro foi forçado a tomar conhecimento do Estado e das decisões políticas, mas de maneira a não desenvolver lealdade em relação às instituições. O caminho para uma cidadania ativa era para ele muito mais longo do que para os súditos inglês e alemão.”
CARVALHO, José Murilo de. Cidadania: Tipos e Percursos. In: 18 estudos históricos. Rio de Janeiro: CAT Torres, 1996.
Aula 10
A Monarquia brasileira passou por um período de desgaste contínuo. A partir da segunda metade do século XIX, a oposição ao regime se tornou nítida e chegou aos jornais da época. 
Enquanto as cidades cresciam e se modernizavam ocorriam crises econômicas e novos agentes apareciam causando conflitos de interesses. Assim, o sistema monárquico ficava cada vez mais enfraquecido e distante das novas demandas.
O século XIX no Brasil foi marcado por grandes mudanças drásticas que modificaram as relações políticas, econômicas e sociais. A ideia de modernidade tomou conta e começou a entrar em oposição aos ideais do modelo republicano.
Economia
A economia durante o período imperial tinha suas margens bem estabelecidas. Era sustentada pelo trabalho escravo, embora o trabalho livre assalariado existisse, era pouco expressivo. Podemos dizer que a economia se sustentava na produção de café, que neste período já possuía uma tradição, pois era cultivado desde a década de 1820, então a elite brasileira era em sua maior parte composta por cafeicultores. 
Além disso, essa elite tinha seu lugar demarcado, pois o café começou a ser cultivado no Vale do Rio Paraíba do Sul, área que compreendia grande parte do Rio de Janeiro e outra parcela de São Paulo.
Rapidamente o cultivo do café se expandiu largamente pela região sudeste, atingindo o Espírito Santo, outras áreas de São Paulo como Campinas e Ribeirão Preto e depois Minas Gerais, na região da Zona da Mata. Vale lembrar que Minas Gerais também se destacava pelo comércio interno ligado a pecuária.
Com essa expansão cada vez mais fazendas apareciam e escravos eram comprados e o trabalho de imigrantes crescia, porém nãohavia preocupação com planejamento de longo prazo e manutenção das terras, estas fazendas não possuíam praticamente nenhum outro recurso que não o esforço dos próprios trabalhadores. 
Nem mesmo técnicas simples como o uso de arado e fertilizantes eram comuns e até o transporte ocorria de forma arcaica, no lombo de mulas.
Podemos perceber que o desgaste do solo era inevitável e irreversível, com isso a estratégia adotada pelos cafeicultores, uma vez o que solo se tornava infértil, era de mover o cultivo para uma nova região produtiva. Assim o que começou como crescimento econômico logo se transformou em estagnação, pois não havia mais áreas na região do Vale do Paraíba que fossem produtivas.
Ao mesmo tempo em que isto ocorria, no Oeste Paulista a produção crescia. Mas percebemos diferenças bastante significativas, a forma de cultivo no Oeste Paulista era mais refinada. O crescimento da produção estava aliado à tecnologia, os fazendeiros começaram a utilizar máquinas para beneficiar o café, além disso, a região atraiu muito mais imigrantes, principalmente italianos, e recebeu capital estrangeiro. E com as ferrovias o transporte do café se tornou mais rápido, prático e lucrativo.
Esta região se adaptou às mudanças que ocorriam e se beneficiou delas. Embora tenha contado com muito mais escravos, quando o tráfico interprovincial foi proibido começaram a utilizar imigrantes, o que estimulou sua vinda. O que não significava que fossem a favor da abolição, muito pelo contrário, até bem perto da assinatura da Lei Áurea a maioria era contra.
Esta transição trouxe uma nova forma de pensar. Enquanto os latifundiários do Vale do Paraíba tinham uma mentalidade aristocrática, os do Oeste Paulista começaram a agir com uma mentalidade burguesa voltada para o acúmulo de capital. 
A modernidade fazia oposição aos títulos de nobreza, ela representava esse novo modo de comércio e de valorização do lucro. O fazendeiro passava a ser o homem de negócios, fazendo crescer uma burguesia agrária.
Política A cidade de São Paulo teve um crescimento muito rápido e havia se tornado a província mais rica, tudo isso proporcionado pelo café. Era a província que mais arrecadava em tributos e o que o governo devolvia causava indignação. A centralização do império não agradava mais a elite da região, que passou a ver no federalismo a forma de ganhar a autonomia necessária. Crescia então o interesse e a propagação de ideais republicanos. Juntamente com o período de crescimento da propaganda republicana o movimento abolicionista crescia. Como vimos anteriormente a abolição da escravidão foi um processo iniciado pela Lei do Ventre Livre em 1871, ela não ocorreu abruptamente. A abolição não foi o resultado de nenhuma insurreição de escravos, mas para os dirigentes a situação após a Guerra do Paraguai era de instabilidade, posto que não poderiam contar com a lealdade de uma grande parcela da sociedade.1 Porém não foi apenas em São Paulo que as ideias republicanas ganhavam adeptos, na capital do império, o Rio de Janeiro, nesta mesma época foi lançado o Manifesto Republicano (1870). E embora a movimentação na capital fosse grande, não constituía um bloco unificado. A República era a mudança que se queria, mas havia dois grupos que pensavam em caminhos diferentes para chegar lá. Os evolucionistas pensavam que caberia à elite conduzir a mudança, de forma gradual. Enquanto os revolucionários pensavam na república sendo consolidada através de uma revolução popular. Poucos anos depois, em 1873 surgia o Partido Republicano Paulista (PRP), composto de fazendeiros transitava entre liberais e conservadores, o partido ajudou a propagar os ideais republicanos. Logo esta nova visão política fez sucesso em outros estados como Rio Grande do Sul. O republicanismo foi crescendo nas cidades. No Rio de Janeiro, por exemplo, havia comícios, palestras entre outros recursos de propaganda desta proposta política. A imprensa republicana criticava duramente o imperador e cada vez mais jornais entravam em circulação. 1 FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 1998. p. 220. Havia diferenças significativas entre o movimento republicano em São Paulo e no Rio de Janeiro. Em São Paulo, representado pelo PRP, os ideais giravam em torno do federalismo, onde as principais unidades da federação seriam as províncias. Além disso, havia menor interesse no fim da escravidão, na defesa de liberdades civis e políticas. Até as vésperas da Abolição o PRP evitou discutir seu posicionamento frente ao fim da escravidão. As demandas da classe paulista também eram diferentes, sua representação no Parlamento e nos órgãos da Monarquia era inferior aos demais estados, e aliada a esta insatisfação havia também reclamações sobre a aplicações das rendas governamentais, enquanto a província contribuía para o crescimento da receita do Império não recebia os benefícios proporcionais. Já no Rio de Janeiro não houve organização em partidos políticos, assim os partidos republicanos mais significativos do período estavam em São Paulo e Minas Gerais.
A Igreja e o Estado
A Constituição de 1824 marcava a união entre o Estado e a Igreja, o que significava que o Catolicismo era a religião oficial do Império brasileiro e que a Igreja ficava subordinada ao Estado. A Constituição dava direito ao Estado de negar a validade de regras eclesiásticas caso o quisesse.
O conflito entre as duas instituições começou quando novas diretrizes foram adotadas pelo Vaticano no pontificado de Pio IX. O papa passou a ser mais rígido em relação ao que considerava “liberdades modernas” e em 1870 foi promulgado o dogma da infalibilidade papal.
Assim, o bispo de Olinda seguiu à risca as determinações do papa e proibiu a entrada de maçons nas irmandades religiosas. Como a maçonaria exercia influência entre os dirigentes, Visconde do Rio Branco, presidente do Conselho dos Ministros, era maçom. 
A atitude do bispo de Olinda desagradou às autoridades e ele foi preso e condenado, logo após outro bispo foi preso.
A oposição republicana utilizou o incidente em suas propagandas e o movimento positivista passou a defender a separação entre o Estado e a Igreja, que seria alcançada com a proclamação da República.
Os Militares
A partir dos anos 1880 a política ganhou espaço nos quartéis. Com a guerra do Paraguai diversos escravos foram incorporados à corporação, tudo isso porque os fazendeiros tinham o direito de enviar seus escravos em seu lugar para o campo de batalha. 
Além disso, o governo ofereceu liberdade aos escravos que fossem à guerra a fim de aumentar o número de recrutas. Esta aproximação ajudou a propagar a simpatia pelo abolicionismo, mais um elemento que contribuiu para o afastamento do exército e a monarquia.
Até a década de 1850, o Exército brasileiro era composto por membros da elite. As décadas seguintes representaram mudanças nesse quadro, pois a corporação oferecia salários baixos e aos poucos foram perdendo o prestígio social.
Mesmo antes da Guerra do Paraguai já havia dentro do exército críticas ao Império, com a reorganização da Academia Militar, após o conflito, a corporação recuperou parte de seu prestígio. Assim, aumentava a participação de membros de Exército na política.
Nessas circunstâncias, uma grande solidariedade conquistou a oficialidade do Exército, unindo-a entre si e com as tropas e evidenciando diferenças entre o militar e o civil. Nos quartéis, o poder dos civis logo passou a ser questionado. Em 1886, as opiniões dos militares chegaram às ruas através dos jornais.
Logo, dois nomes ficaram em evidência: Caxias e Floriano. O primeiro era um dos líderes do Partido Conservador e chegou a ser presidente do Conselho de Ministros antes da guerra. Já Floriano tinha conexões dentro do Partido Liberal, que o ajudou a ganhar prestígio em sua carreira, mas seu discurso era de militar e cidadão.
A Proclamação da República
A República tomou vida através do militarismo. Foi um golpe de Estado que instaurou o novo regime. Os republicanos passaram deminoria a uma forte frente, em pouco tempo, aliando-se aos militares, insatisfeitos com o regime e com a nova elite que surgira no país.
A Abolição da Escravidão em 1888 é considerada o “último suspiro” da Monarquia Brasileira. A escravidão era a base do sistema latifundiário. Com os escravos sendo libertos, um imperador autoritário não se encaixava mais no novo quadro do século XIX.
A ameaça de reconfiguração da Guarda Nacional serviu de motivação para que o Marechal Deodoro da Fonseca agrupasse suas tropas no Rio de Janeiro e invadisse o Ministério da Guerra.
Há relatos que contam que na verdade os militares queriam apenas exigir a mudança do Ministro da Guerra, mas a ameaça militar foi grande o suficiente para a dissolução do gabinete imperial e a proclamação da República.
Em 15 de novembro de 1889 ocorreu o golpe militar, porém ele foi reafirmado através da proclamação civil por integrantes do Partido Republicano, na Câmara dos Deputados.
Como vimos até agora, a República foi consequência de um período de mudanças e um governo que perdeu a base de sustentação política e o apoio popular.
Reação da Monarquia
Diante destas mudanças, os monarquistas não conseguiram impedir o crescimento do republicanismo. Ao final do século XIX, observava-se os sinais de enfraquecimento da Monarquia representados pela incapacidade de conciliar o novo e o antigo.
A Monarquia tentava atender a demanda dos conservadores mas as camadas médias urbanas, crescentes nas cidades, e os fazendeiros do Oeste Paulista.
A República, como toda grande ruptura, passou por diversas fases de transformação. Os primeiros anos foram marcados por divergências e disputadas em torno do caminho a seguir e a conciliação dos diversos interesses no novo regime. E os monarquistas conseguiram aproveitar os espaços deixados pelo bloco político republicano.

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