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Universidade Federal de Lavras Departamento de Biologia Setor de Biologia Celular Fundamentos de Biologia Celular - GBI 174 Notas de Aula Tema 6 – Organelas de síntese e degradação O citoplasma das células eucarióticas tem boa parte de seu volume preenchido por um conjunto de compartimentos membranosos individualizados, mas funcionalmente relacionados para síntese e direcionamento de moléculas, bem como para processos de degradação. Tanto a síntese, que envolve Retículo Endoplasmático e Complexo de Golgi, quanto a degradação, que envolve lisossomos e peroxissomos, são essenciais para a manutenção das células e serão tratados a seguir. 6.1 RETÍCULO ENDOPLASMÁTICO (RE) O retículo endoplasmático (RE) é um sistema intracitoplasmático de membranas que se dispõe como uma rede, formando numerosos compartimentos que se intercomunicam e que têm continuidade com a membrana do envelope nuclear. O seu desenvolvimento varia nos diferentes tipos celulares, de acordo com as diversas funções celulares, podendo chegar a ocupar metade do volume celular total. O retículo endoplasmátcio tem duas porções bastante distintas quanto à composição molecular, morfologia e função: o retículo endoplasmático rugoso (RER) e o retículo endoplasmático liso (REL) (Figura 1). COMPOSIÇÃO MOLECULAR E ESTRUTURA DO RE O RER é constituído por uma rede de labirintos de sacos achatados e vesículas que se intercomunicam, formando um espaço interno único. Este espaço interno é chamado de lúmen ou espaço da cisterna do RE. Na face da membrana voltada para o citosol encontram-se os ribossomos, na forma de polissomos, unidos por meio do mRNA e dispostos freqüentemente em "rosetas" ou espirais. A presença destas partículas é responsável pela denominação "rugoso" (Figura 1). Figura 1. As duas porções do Retículo Endoplasmático (RE). A adesão dos ribossomos ao RE é sempre feita pela subunidade maior de tal maneira que a cadeia polipeptídica nascente originada no ribossomo penetra para a cavidade (luz) do RE, através de um transportador presente na membrana. Este acoplamento do ribossomo à membrana do RER se dá graças ao sistema de sinalização da proteína, visto na seção anterior. Todas as proteínas destinadas ao RER (membrana, enzimas lisossomais, secreção) apresentam no início da cadeia a sequência sinalizadora que faz com que o complexo ribossômico se encaminhe para a membrana do RER. Este direcionamento é intermediado por uma partícula de reconhecimento de sinal (SRP) , um complexo de RNA e proteínas. Esta SRP se liga ao peptídeo-sinal assim que ele emerge do ribossomo, bloqueando a síntese protéica até que o conjunto ribossomo + SRP atinja a membrana. Quando isto ocorre, existe um receptor SRP na membrana do RER que reconhece o conjunto, a SRP é liberada e a cadeia polipeptídica passa a ser sintetizada para dentro do lúmen do retículo (Figura 2). RE R RE R RE L RE L Figura 2. Etapas para acoplamento dos ribossomos à membrana do RER intermediado pelo sistema peptídeo-sinal/PRS. A membrana que o delimita tem composição lipoprotéica típica das membranas biológicas, com algumas proteínas de membrana bastante distintas das do REL, provavelmente associadas às suas funções específicas e ancoragem dos ribossomos. Possui também outras proteínas, especialmente enzimas envolvidas no dobramento e glicolização de proteínas. O RE sem ribossomos associados é denominado de retículo endoplasmático liso (REL). Sua estrutura é mais tubular, podendo se intercomunicar com o RER e originar-se a partir deste (Figura 1). Existem ainda regiões de transição que são parcialmente rugosas, denominadas elementos transitórios, de onde partem as vesículas liberadas pelo RE. A membrana do REL tem fração protéica diferenciada e direcionada a processos de síntese e degradação de lipídios. BIOGÊNESE E FUNÇÕES DO RE Ambos os RE são formados a partir da expansão da membrana através da adição de novas moléculas de glicolipídios e glicoproteínas. Como o RE é uma organela fundamental na síntese destes constituintes de membrana, ele é um dos responsáveis pelo seu próprio crescimento e, portanto, só pode ser formado a partir de um RE preexistente. Como já foi dito, os REL e RER apresentam funções bem diferenciadas. O RER é o primeiro passo da via biossintética-secretória de proteínas e está presente em todas as células, mas com grande abundância em células que realizam intensa secreção de proteínas, como, por exemplo, em glândulas. Os polipeptídeos sintetizados para dentro de sua cavidade pelos ribossomos acoplados à sua membrana sofrerão um processo de maturação, orientação e transporte em vesículas. Uma das principais funções do RER é o dobramento da proteína para atingir sua conformação final. No seu lúmen ocorre a formação das pontes dissulfeto por meio de reação enzimática específica e, ainda, a montagem de proteínas oligoméricas, ou seja, aquelas que possuem mais de uma cadeia polipeptídica. Caso esta montagem final não esteja correta, a proteína não é transportada para fora, mas sim retida, podendo até ser degradada. Outro tipo de processamento que a proteína pode sofrer é a adição de oligossacarídeos simples, principalmente nas proteínas destinadas a glicoproteínas. O término da adição do oligossacarídeo correto ocorre no complexo de Golgi, como veremos mais tarde. Uma vez ocorridos estes processamentos, a proteína pode ser retida no RER, no caso das proteínas residentes que possuem um sinal de retenção, ou transportada para o complexo de Golgi na forma de vesículas. O REL é o principal local de síntese e metabolismo de ácidos graxos e fosfolipídios. A porção lipídica das membranas biológicas, incluindo o colesterol, é produzida no REL. O colesterol é também processado para originar os hormônios que serão liberados pela célula pela via secretória. Em células especializadas, nestes processos, o REL é abundante, no entanto, na maioria das células ele ocupa um pequeno volume. Nos vertebrados, a desintoxicação do organismo se dá nas membranas do REL, especialmente no fígado, rins, pulmões, intestinos e pele. Este processo ocorre por meio do metabolismo das drogas, convertendo-as em compostos altamente solúveis em água, podendo ser liberados da célula e secretados pela urina. Outra função do REL é a captura do íon Ca++ do citosol para seu interior. Neste caso, o REL pode representar um sistema intracelular com um gradiente iônico que origina diferenças de potencial envolvidas em respostas rápidas a sinais extracelulares. Algumas regiões do REL se especializam nesta função, podendo constituir quase sua totalidade, como no caso das células musculares. Este REL altamente especializado recebe o nome de retículo sarcoplasmático e participa ativamente na contração muscular. Os produtos finais do REL e do RER são englobados pela membrana dos mesmos, formando vesículas que se desprendem e são transportadas para o Complexo de Golgi. 6.2 COMPLEXO DE GOLGI (CG) O complexo ou aparelho de Golgi foi observado pela primeira vez por Camilo Golgi, em 1898, com o emprego de um método de coloração com prata. No entanto, somente com o advento do microscópio eletrônico pode-se obter detalhes de sua estrutura. O aparelho de Golgi é uma parte diferenciada do sistema de endomembranas, que ocupa uma posição intermediária no citoplasma, uma vez que está localizado espacial e temporalmente entre o RE, por um lado, e as vesículas secretoras e a membrana plasmática, por outrolado. Dessa forma, ele participa no transporte e processamento de muitas substâncias que são produzidas no RE e são eventualmente liberadas para fora da células, ou para outras organelas, como os lisossomos. COMPOSIÇÃO QUÍMICA E ESTRUTURA DO COMPLEXO DE GOLGI Assim como o RE, o aparelho (ou complexo) de Golgi é delimitado por membrana lipoprotéica, com composição química intermediária entre o RE e a membrana plasmática em relação à composição dos fosfolipídios e da proteínas. Possui em seu lúmen, enzimas específicas e carboidratos envolvidos no processamento de glicoproteínas e glicolipídios, bem como enzimas hidrolíticas que serão empacotadas no lisossomo. A morfologia do Complexo de Golgi é semelhante nas células animais e vegetais. Ele é constituído por um grupo de cisternas membranosas discóides empilhadas e achatadas. O número de pilhas de cisternas por unidade varia de 3 a 7 na maioria das células, podendo chegar em 10 a 20 em algumas células (Euglena), como a uma única cisterna em certos vegetais inferiores. Associada a estas pilhas está uma série de vesículas pequenas que se localizam em toda a vizinhança, sendo responsáveis pela entrada e saída de lipídios e proteínas no complexo, bem como entre suas cisternas. É uma estrutura polarizada apresentando três regiões distintas: uma face proximal, formadora ou cis, geralmente convexa e localizada próximo ao envoltório nuclear ou ao RE; uma face côncava, denominada distal, de maturação ou trans, voltada para a membrana plasmática e entre elas uma região mediana formada por várias cisternas que se intercomunicam através de vesículas (Figura 3). Figura 3. Morfologia do Complexo de Golgi. FUNÇÕES DO APARELHO DE GOLGI Nesta organela ocorre uma intensa polimerização de carboidratos. Estes podem ser oligossacarídeos que serão acoplados aos lipídios e proteínas que atingem seu lúmen, ou polissacarídeos que serão exportados como os componentes pécticos e hemicelulose de células vegetais ou carboidratos da matriz extracelular de células animais. Outras funções do CG estão sempre associadas à sua interação com o RE. As glicoproteínas e glicolipídios de todas as membranas da célula são liberados da região trans do Golgi como produtos da interação funcional entre RE e CG, sendo esses dois compartimentos responsáveis pela constante renovação de membranas. Da interação RE e CG também resulta a formação dos lisossomos, cujas enzimas são produzidas no RER e direcionadas para o CG, onde serão processadas, selecionadas e empacotadas na forma de vesículas, as quais são liberadas no citoplasma para terminarem sua maturação e atuarem como lisossomo. O Complexo de Golgi é o passo final da secreção de lipídios, proteínas e carboidaratos (polimerizados em seu interior). As proteínas empacotadas e/ou glicolisadas no RER (p.ex. anticorpos), bem como os lipídios (p.ex hormônios) produzidos no REL, são transportadas até o aparelho de Golgi por meio de vesículas que se fundem na face cis do aparelho, liberando suas moléculas constituintes. A partir de então, estas moléculas passam pelos diferentes compartimentos do aparelho, passando em cada um deles por uma modificação bioquímica específica, sendo as principais delas a adição de oligossacarídeos complexos, grupos fostato e grupos sulfato. Para muitas proteínas, estas mudanças significam a aquisição de sua forma ativa, p.ex., a insulina chega ao aparelho de Golgi como pró-insulina e tem ali a sua maturação completada. A passagem de um compartimento para outro se dá por meio do brotamento e fusão de vesículas. Quando atingem a região trans, a maturação é completada e as moléculas são empacotadas em vesículas de secreção. Este contínuo brotamento e fusão de vesículas provoca uma constante renovação do aparelho e a manutenção de sua integridade. A secreção pode ser contínua, de modo que o seu produto é descarregado tão logo seja elaborado, ou descontínua, ocorrendo de tal maneira que a síntese e o transporte intracelular são seguidos pelo acúmulo do produto de secreção em grânulos especiais, os quais são liberados para o espaço extracelular mediante um sinal específico. Em ambos os casos a vesícula se funde com a membrana plasmática e libera seu conteúdo para o exterior (Figura 4) Figura 4. O Complexo de Golgi e a secreção de moléculas de forma contínua ou regulada 6.3 LISOSSOMO CARACTERÍSTICAS GERAIS Os lisossomos podem ser definidos como vesículas membranosas repletas de enzimas responsáveis pela digestão intracelular. Apresentam cerca de 40 hidrolases ácidas, as quais são capazes de digerir a maioria das substâncias biológicas, em um meio ácido, com pH em torno de 5,0. Além de uma coleção exclusiva de enzimas, o lisossomo possui uma membrana que difere das demais pela presença de proteínas transportadoras que permitem a passagem dos subprodutos da digestão (aminoácidos, nucleotídeos, etc.) para o citosol e pela presença de uma bomba de H+ que, com gasto de ATP, mantém a concentração deste íon alta em seu lúmen para manutenção de seu pH ótimo (Figura 5). Figura 5. Características gerais dos lisossomos A função dos lisossomos é a digestão intracelular de diferentes alvos (restos intra e extracelulares, microrganismos, organelas), o que acarreta também uma grande variedade de lisosomos, que diferem entre si com relação à forma e tamanho. Por isso, os lisossomos são vistos como uma família heterogênea de organelas distintas, cuja única característica comum é a presença de uma grande quantidade de enzimas hidrolíticas em solução ácida. São formados a partir da interação funcional entre retículo endoplasmático e complexo de Golgi, sendo liberados da região trans desse último, contendo suas enzimas características. No RER as enzimas hidrolíticas lisossomais são adicionadas de um oligossacarídeo com uma manose terminal e envidada ao CG onde essa manose é fosforilada. Ao chegar na face trans, todas as hidrolases apresentam a manose-6-fosfato e são “capturadas” por um receptor de membrana para essa marca (Figura 6). Dessa forma todas as hidrolases são segregadas para serem empacotadas juntas. Figura 6. Processo de formação do lisossomo envolvendo Retículo Endoplasmático e Complexo de Golgi. A DIGESTÃO INTERCELULAR As substâncias a serem digeridas no lisossomo chegam até ele por 3 vias diferentes: endocitose, fagocitose e autofagia (Figura 7). Em todos os casos a estratégia consiste no envolvimento do alvo da digestão por membrana formando uma vesícula que se funde com o lisossomo garantindo que apenas o alvo da digestão tenha contato com as enzimas hidrolíticas. Endocitose é um processo de englobamento de moléculas externas à célula, onde uma pequena região da membrana plasmática se invagina, até que seja formada uma pequena vesícula (0,1 µm) intracelular contendo partículas externas. Essa endocitese pode ou não ser mediada por receptores de membrana, sendo que nesse último caso ocorre seleção das moléculas que têm afinidade pelo receptor. Em ambos os casos, a vesícula formada é chamada de endossomo prematuro. Dentro desta vesícula, algumas substâncias já são recicladas, enquanto outras permanecem formando o endossomo tardio. Figura 7. As três vias de formação de vesículas contendo material destinado à digestão pelo lisossomo. A fagocitose é a internalização de partículas grandes, como bactérias e fragmentos celulares. Primeiro, a partícula se ancora na superfície celular e, em seguida, a membrana plasmática se expande de forma a englobar a patícula totalmente. A vesícula formada é então bem maior (1 a2 µm) que as da endocitose e é chamada de fagossomo. Outra diferença importante entre a fagocitose e a endocitose é o fato de a expansão da membrana exigir a participação ativa de microfilamentos da sua superfície interna (Figura 8). Figura 8. Fagocitose de uma bactéria por meio de emissão de pseudópodos decorrentes de intensa atividade de microfilamentos em associação com miosina. A autofagia ocorre quando componentes intracelulares são digeridos. Muitas vezes a célula precisa eliminar componentes que não são eficientes para serem renovados, como ocorre normalmente com mitocôndrias e peroxissomos. Nesse caso, essas organelas são, provavelmente, marcados para serem degradados. Isso faz com que ele seja envolto por membranas derivadas do RE, formando uma vesícula denominada autofagossomo. No processo de digestão, ilustrado na Figura 7, as vesículas formadas, endossomo tardios, fagossomo e autofagossomo, unem-se ao lisossomo primário, ou seja, à bolsa membranosa cheia de enzimas hidrolíticas advinda do aparelho de Golgi, formando o lisossomo secundário ou maduro, também chamado de vacúolo digestivo. Esta fusão faz com que as enzimas hidrolíticas possam atuar sobre o material a ser digerido. Sob condições ideais, o material estranho é digerido pelas enzimas lisossômicas, resultando em produtos de baixo peso molecular que atravessam a membrana lisossômica e podem ser incorporados à célula e reutilizados em vários ciclos metabólicos. No entanto, algumas vezes, a digestão de substâncias estranhas pode ser incompleta, formando os corpos residuais. Nas amebas e outros protozoários, os corpos residuais são eliminados através da defecação. Em outras células podem permanecer por longo tempo e contribuir para o processo de envelhecimento. IMPORTÂNCIA DOS LISOSSOMOS Heterofagia: a digestão de material de origem exógena ocorre em organismos unicelulares com propósitos de nutrição. Nos metazoários, a heterofagia funciona como mecanismo de defesa (ex: neutrófilos fagocitando bactérias) e desdobrando componentes a serem aproveitados pelas células ou transportando-os a um novo destino. Nutrição em fungo: substratos vizinhos ao micélio são desdobrados por ação lisossomol em moléculas que são então absorvidas para a nutrição dos fungos. Autofagia: componentes celulares são eliminados constantemente da célula por autofagia. Esta atividade está relacionada à renovação e ao "turnover" (remontagem) normais dos componentes celulares, bem como à inanição e morte celular. Regressão ou remodelação de tecidos: durante a metamorfose dos anfíbios, por exemplo, ocorre uma reorganização considerável de tecido por meio da ação de enzimas lisossômicas. A perda da cauda do girino e a redução no tamanho do útero humano após o parto são exemplos dessa atividade dos lisossomos. Remodelação de tecido ósseo: os osteoclastos, células destruidoras de ossos, que ao lado dos osteoblastos (produtores de osso), são responsáveis pela contínua remodelação do tecido ósseo e possivelmente, participam da reabsorção óssea liberando enzimas lisossômicas extracelularmente. Lisossomos e doenças humanas: na artrite reumatóide, silicose, asbestose (doenças produzidas pela inalação de partículas de silício ou amianto, respectivamente) e na gota (acúmulo de cristais de ácido úrico nas articulações), ocorre a liberação de enzimas lisossômicas pelos macrófagos e a inflamação aguda pode desencadear o aumento da síntese de colágeno. As doenças de depósitos (acúmulo de glicogênio ou glicolipídios nas células) são causadas por uma mutação que afeta uma das enzimas lisossômicas que participam no catabolismo de uma determinada substância. 6.4 PEROXISSOMOS Os peroxissomos são organelas encontradas em todas as células eucarióticas. Como apresentam morfologia semelhante à dos lisossomos, eles eram inicialmente considerados como tal. Após estudos de fracionamento celular, verificou-se que sua coleção de enzimas era totalmente distinta da dos lisossomos. Eles são, assim como a mitocôndria, um importante local de utilização da reatividade química do oxigênio para degradação de compostos orgânicos. COMPOSIÇÃO QUÍMICA E FUNÇÕES Os peroxissomos são delimitados por membrana única, apresentam tamanho de 0,5 a 1,0 µm e uma estrutura cristalina em seu interior formada por enzimas (Figura 9). Em seu interior possuem enzimas que atuam na degradação de compostos orgânicos (ácidos graxos e aminoácidos) em reações oxidativas que levam à formação do peróxido de hidrogênio: RH2 + O2 R + H2O2 A quebra de moléculas de ácidos graxos é a principal função desta organela. Em um processo denominado β-oxidação, as cadeias de ácido graxo são separadas em moléculas de dois átomos de carbono, as quais são convertidas em acetil-CoA para serem utilizadas em outras rotas metabólicas. Além de ocorrer nos peroxissomos, a β- oxidação ocorre também nas mitocôndrias. Seja qual for o composto orgânico degradado, ocorre a formação do peróxido de hidrogênio (H2O2). Esta molécula é altamente reativa, capaz de danificar componentes celulares. Por isso, os peroxissomos possuem enzimas oxidativas, as catalases, que degradam H2O2 , gerando H2O e O2. Estas enzimas podem estar em quantidade tão elevada que chegam a formar um arranjo cristalino visível ao microscópio eletrônico (Figura 9). Figura 9. Estrutura do peroxissomo em micoscopia eletrônica. O peróxido de hidrogênio pode também ser usado por estas enzimas para eliminar substâncias tóxicas ao organismo, como o excesso de álcool, nas células do rim e do fígado: H2O2+ R’ H2 R’ + 2 H2O Devido à diversidade de compostos orgânicos que podem degradar, os peroxissomos são normalmente organelas que apresentam grande variação quanto à coleção que contêm, até mesmo em células do mesmo organismo. Além disso, se adaptam rapidamente a mudanças ambientais, aumentando de tamanho em função da maior disponibilidade de compostos a serem degradados. Em células vegetais, os peroxissomos das células de sementes em germinação são sede do ciclo do glioxilato, descrito apenas nessas células. A obtenção de glicose como fonte de energia para o desenvolvimento da plântula se dá a partir da degradação de moléculas de ácido graxo presentes nos lipídios das células cotiledonares. As reações envolvidas nesta conversão de ácido graxo para açúcar são conhecidas como ciclo do glioxalato, por isso, esses peroxissomos são especialmente chamados de glioxissomos. Neste ciclo, os ácidos graxos são convertidos em acetil CoA, que é usado para produzir ácido succínico nos peroxissomos. Este composto sai do peroxissomo e é convertido em glicose. Nas células animais, este ciclo não ocorre, portanto, elas são incapazes de fazer a conversão de ácido graxo em açúcar. BIOGÊNESE Ao contrário do que se pensava, a membrana do peroxissomo não se origina do RE. Um peroxissomo, assim como as mitocôndrias, cloroplastos e o próprio RE, só se origina de um outro preexistente e todas as suas proteínas são importadas do citosol. Esta importação se dá, conforme vimos na teoria do sinal, mediante a presença de um peptídeo-sinal na proteína citosólica específica e presença de receptor na face externa da membrana, para reconhecimento do peptídeo-sinal. A montagem de novos peroxissomos se dá por meio de crescimento e fissão. O peroxissomo cresce por meio de incorporação de constituintes de membrana e importação de mais proteínas citosólicas específicas. Quando atinge um tamanho adequado, ocorre uma fissão originando dois peroxissomos-filhos (Figura 10). Figura 12. Processo de formação do peroxissomo a partir de um pré-exsitente por crescimento e fissão. 6.5 VACÚOLOS CARACTERÍSTICAS GERAIS Os vacúolos são organelas membranosas, cheias de líquido e que desempenhamuma gama de funções diferentes em células vegetais e de fungos. Sua membrana, denominada tonoplasto, tem composição lipo-protéica, e contém proteínas transportadoras específicas. Nas células vegetais maduras, em geral, está presente um único vacúolo (Figura 5). Figura 13 Célula vegetal diferenciada onde se evidencia um vacúolo único central Importação de proteínas Crescimento Fissão binária O lúmen do vacúolo é, geralmente, preenchido por uma solução aquosa que pode conter as mais diversas substâncias (por exemplo pigmentos, nutrientes, enzimas hidrolíticas, compostos nitrogenados, metabólitos secundários), dependendo da função que ele desempenha na célula. O número e o tamanho dos vacúolos dependem do tipo de célula e do seu estágio de desenvolvimento. Nos primeiros estágios do desenvolvimento, os vacúolos em geral ocupam pouco volume na célula e podem estar presentes em maior quantidade e tamanho reduzido. A esse conjunto de pequenos vacúolos dá-se o nome de vacuoma e a célula é descrita como altamente vacuolizada. À medida que a célula se diferencia o vacúolo também sofre uma maturação que envolve a fusão dos vacúolos menores e que pode ocupar até 90% do volume celular (Figura 6). Como o citosol fica confinado à periferia da célula, os grandes vacúolos, algumas vezes, são atravessados por cordões de citoplasma contínuos com a orla do vacúolo e exibindo uma corrente (ciclose). Figura 14. Desenvolvimento do vacúolo vegetal ao longo do processo de maturação da célula. ASPECTOS FUNCIONAIS O armazenamento de substâncias no vacúolo Em células vegetais, os vacúolos funcionam como uma organela de armazenamento de diferentes tipos de substâncias, que podem ser de reserva, dejetos do metabolismo e pigmentos. Em células de semente de ervilha e feijão, os vacúolos armazenam proteínas até que o processo de germinação inicie e elas sejam degradadas para fornecer aminoácidos. Moléculas nutrientes produzidas em excesso, como sacarose produzida na fotossíntese e os compostos nitrogenados produzidos pela fixação de N2 atmosférico, também são armazenadas no vacúolo até que sejam necessárias no citosol. Pigmentos de antocianina (coloração roxa) são armazenados em vacúolos de folhas e também em pétalas de flores para a atração de insetos polinizadores. Outras substâncias, como a borracha e compostos voláteis responsáveis por aromas, também podem estar armazenados nos vacúolos. Ao contrário dos animais, os vegetais não apresentam um sistema excretor diferenciado, ficando a cargo dos vacúolos servir como depósito de dejetos do metabolismo celular e do excesso de sais na célula. O acúmulo destas substâncias, especialmente de sais de oxalato e carbonato, forma depósitos cristalinos em diferentes configurações, denominados inclusões sólidas, podendo levar a célula a se especializar apenas no seu armazenamento. Estes subprodutos do metabolismo, bem como outras substâncias tóxicas presentes no vacúolo, podem agir como um agente de defesa quando a planta é comida ou danificada. Alongamento celular A concentração de sais, açúcares e outros materiais dissolvidos no vacúolo pode ser alta, criando um gradiente osmótico que propicia entrada de água no seu lúmen. O vacúolo aumenta de volume acarretando a compressão do citoplasma contra a parede celular (pressão de turgor). Nas regiões em que a parede apresenta um afrouxamento de sua estrutura, essa pressão auxilia significativamente o alongamento celular, claro que auxiliado por outros fatores. Esta é uma forma bastante econômica que a célula usa para o seu crescimento, com aumento do volume celular sem necessidade de aumento do volume citosólico. Digestão intracelular Os vacúolos de células vegetais e de fungos contêm hidrolases ácidas e, portanto, apresentam atividade lisossomal e participam ativamente do processo de digestão intracelular. Hoje, sabe-se que o tonoplasto é uma membrana muito semelhante à plasmática, rica em bombas de íons, incluindo aquelas dependentes do ATP, explicando seu pH muito menor que o do citoplasma, o que favorece a ação das hidrolases. A degradação de materiais dentro dos vacúolos produz solutos de baixo peso molecular, que ficam armazenados como pequenas moléculas (açúcares e aminoácidos) para uso no citoplasma. Quando as células vegetais morrem, o tonoplasto rompe-se e as hidrolases saem para o citoplasma, participando da dissolução da célula, denominada autólise. Isto é benéfico em casos como a formação do sistema de condução (a parede celular permanece), abscisão de flores e frutos, em que os conteúdos úteis são utilizados pelas partes que sobrevivem na planta. Função homeostática O vacúolo desempenha um papel importante na manutenção da integridade da célula, mesmo quando submetida a variações extremas em seu ambiente. As variações de pH e de tonicidade do ambiente imediato à célula são rapidamente combatidas pelo vacúolo por meio de processos de degradação de moléculas em seu interior e do transporte de íons e moléculas através de sua membrana. Em protozoários, o vacúolo contrátil impede que estas células estourem quando colocadas em meio hipotônico. Ele absorve água do citosol e, periodicamente, a descarrega para fora da célula através da fusão com a membrana plasmática. Assim, ele impede que entre água em quantidade suficiente para causar a lise celular. 6.6 EXERCÍCIOS PROPOSTOS 1. Caracterize o retículo endoplasmático e diferencie as suas duas porções do ponto de vista morfológico. 2. Descreva o processo que leva ao acomplamento dos ribossomos na membrana do RER e à síntese da proteína dentro do interior desse compartimento. 3. Que funções cada uma das porções do RE pode desempenhar? 4. Descreva a morfologia do compelxo de Golgi. 5. Qual a importância das vesículas para o funcionamento do complexo de Golgi? 6. Que tipo de molécula o complexo de Golgi é capaz de sintetizar? 7. Como se dá a formação dos componentes de membrana da célula? 8. Qual o envolvimento do complexo de Golgi na secreção celular? 9. Descreva as principais caracterísitcas do lisossomo. 10. Qual a função do lisossomo na célula? 11. Descreva os processos pelos quais partículas externas podem ser englobadas pelas células. 12. Comente brevemente sobre diferentes situações em que o lisossomo é importante 13. Faça uma comparação entre lisossomo e peroxissomo levando em conta a morfologia, tipo de enzimas, função e biogênese. 14. O que é um glioxissomo? 15. Descreva as principais caracterísitcas do vacúolo. 16. Como é o processo de maturação do vacúolo? 17. Descreva as diferentes funções desempenhadas pelos vacúolos nas células vegetais. BIBLIOGRAFIA: ALBERTS, B. et al. Fundamentos de biologia celular. 3a ed. Porto Alegre: Artmed editora, 2011. 864p. DE ROBERTIS, E. D.P. e DE ROBERTIS, E. M. F. Bases da Biologia Celular e Molecular. 9ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012, 376p. JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Biologia Celular e Molecular. 9ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012, 376p