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C A P Í T U L O 1 7 Contabilidade Industrial Se o leitor trabalhar numa empresa industrial, este capítulo é absolutamente imprescindível. Ele apresenta uma explicação concisa dos métodos contábeis utilizados por praticamente todas as empresas industriais para determinar e medir o custo do produto. Nada ocorre até a empresa conhecer o custo do produto. Para definir o preço de venda, controlar os custos e planejar o futuro, a empresa precisa conhecer os custos de fabricação dos produtos. ENTÃO, VOCÊ NÃO É UMA EMPRESA INDUSTRIAL Mas imaginemos que sua empresa não fabrique os próprios produtos. Neste caso, será mais fácil controlar seu entusiasmo durante este capítulo. No entanto, ainda assim, cabe observar que todos os gerentes utilizam informações sobre o custo dos produtos e que a vida de todos os produtos começa no estágio de fabricação. Mesmo que sua empresa não fabrique produtos, é muito importante a compreensão de como se acumulam e alocam os custos de fabricação aos produtos e de como os fabricantes tratam de certos problemas contábeis. Conceito Chave FABRICANTES DE PRODUTOS VERSUS REVENDEDORES DE PRODUTOS Os fabricantes são produtores: fabricam os produtos que vendem. Os varejistas (assim como os atacadistas e distribuidores) não fabricam os produtos que vendem; são canais de distribuição. Para os varejistas, o custo do produto é o custo da compra, conforme a fatura comercial. Para os fabricantes, o custo do produto é algo muito diferente; é o composto de diversos custos de produção. É preciso calculá-lo. O processo de fabricação é simples e curto, outras vezes é complexo e longo. Pode ser intensivo em trabalho ou intensivo em capital (ativos). Alguns produtos, como cereais para o desjejum, rolam ininterruptamente até o fim de uma linha de montagem contínua de produção em massa. É o chamado sistema de custo ou custeio da produção contínua. Também existe a fabricação descontínua, efetuada na base de um lote de cada vez. É o chamado sistema de custos ou custeio da produção por ordem. A impressão e a encadernação de 10.000 exemplares de um livro se enquadram como produção por ordem. O exemplo deste capítulo se refere a uma empresa industrial tradicional, que já vem operando há vários anos. Os gerentes já organizaram as máquinas, equipamentos, ferramentas e trabalhadores num processo de produção estável, ao mesmo tempo confiável e eficiente – tarefa monumental, para dizer o mínimo. A localização da fábrica é um fator crítico, como também o são os layout da fábrica, o treinamento dos empregados, a compra de matérias-primas e suprimentos e a observância da regulamentação governamental cada vez mais ampla, abrangendo segurança e medicina do trabalho, proteção ambiental e assim por diante. Esses pontos são mencionados apenas de passagem, antes de avançarmos para a determinação do custo do produto. Conceito Chave CUSTOS BÁSICOS DE FABRICAÇÃO E A EMPRESA DO EXMPLO Alguns fabricantes apuram o custo do produto mensalmente; outros, trimestralmente. Não existe um período padronizado. Pode ser feito por semana ou até diariamente. O ano é um período de tempo natural para o planejamento gerencial e para a elaboração das demonstrações financeiras. Assim, adotamos o ano como período do exemplo. Para a maior conveniência da análise, a empresa do exemplo fabrica um produto na sua única fábrica. A Figura 17.1 apresenta o relatório de lucros da empresa até a linha de lucro operacional (lucro antes das despesas financeiras e da provisão para o imposto de renda) e inclui o relatório de apoio do custo de fabricação, que ainda não foi apresentado. A empresa registrou custos totais de fabricação de R$ 8.220.000,00 e produziu 12.000 unidades durante o ano. Deste total, R$ 7.535.000,00 é contabilizado como custo dos produtos vendidos.* pela venda de 11.000 unidades durante o ano, e R$ 685.000,00 são alocados às 1.000 unidades que permaneceram em estoque.** Assim, essa parcela de R$ 685.000,00 do custo de fabricação do ano não se converterá em despesa até o próximo ano ou mais tarde, quando o estoque for vendido.*** Nota: * No Brasil, a terminologia contábil mais comum é custo dos produtos vendidos (CPV), nas empresas industriais; custo das mercadorias vendidas (CMV), nas empresas mercantis; custo dos serviços prestados (CSP), nas empresas de serviços. (N.T.) ** Durante o processo de fabricação, que às vezes demora várias semanas ou meses, os custos de fabricação são primeiro acumulados numa conta de estoque, chamada produtos em elaboração. No fim do processo de produção, as unidades completas são transferidas para a conta de estoque produtos de acabados. *** Não analisamos aqui as diferenças entre os métodos PEPS ou FIFO e UEPS ou LIFO para a atribuição dos custos de produção unitária ao custo dos produtos vendidos e nos estoques. A opção entre os métodos contábeis se aplica tanto aos fabricantes como aos varejistas e atacadistas. Os custos de produção unitários geralmente variam entre os períodos. Assim, o custo dos produtos vendidos e a quantia alocada ao aumento dos estoques variam entre os dois métodos. Os custos de fabricação se dividem em quatro componentes básicos ou agrupamentos naturais: as matérias-primas são peças e materiais comprados que integram o produto acabado. A mão-de-obra direta se refere aos empregados que trabalham na linha de produção. Os custos de mão-de-obra direta incluem os benefícios sociais e os encargos indiretos que, nos Estados Unidos, adicionam, em geral, de 30 a 40% à remuneração básica do empregado. Por exemplo, as alíquotas da previdência social e da assistência médica (Medicare) situam-se hoje em 7,65% do salário; ainda existem as contribuições para o seguro-desemprego, planos de aposentadoria e pensão, seguro-saúde, seguro da remuneração dos trabalhadores, férias remuneradas e auxílio-doença. Os custos indiretos de fabricação abrangem todos os demais custos de produção. Alguns desses custos variam com a produção total, como a eletricidade que movimenta as máquinas e equipamentos. Esses custos indiretos variáveis são segregados dos custos indiretos fixos. No curto prazo, muitos custos indiretos de fabricação apresentam um valor constante e não dependem dos níveis de produção. Os exemplos são o imposto predial e territorial, o seguro contra incêndio da fábrica e os guardas de segurança que recebem salário fixo. Na empresa do exemplo, a capacidade de produção anual é de 12.000 unidades. O total dos custos indiretos de fabricação de R$ 2.100.000,00 fornece as instalações fixas e os recursos humanos para a produção de 12.000 unidades, em condições de operação normais. No caso, a produção efetiva do ano é igual à capacidade de produção. Na prática, a produção efetiva geralmente fica um pouco abaixo da capacidade. Voltaremos a essa questão mais tarde. Conceito Chave CALCULO DO CUSTO UNITÁRIO DE PRODUÇÃO O custo unitário de produção é determinado pela divisão do total do custo de fabricação no período pelo total da produção no período. R$ 8.200.000,00 (total do custo de fabricação) ÷ 12.000 (total da produção em unidades) = R$ 685,00 (custo unitário de produção). Observe imediatamente três coisas sobre o custo unitário de produção. Primeiro, é um valor calculado, não existe até ser computado. Evidentemente, o numerador e o denominador do cálculo devem estar corretos, senão o custo unitário de produção estará errado. Segundo, o custo unitário de produção é uma média. O custo total durante o período é dividido pela produçãototal no mesmo intervalo tempo, que é de um ano no exemplo. Os custos e quantidades podem variar diariamente, semanalmente ou mensalmente – mas a definição e o cálculo do custo unitário de produção é a média durante um certo período de tempo.* Nota: *No custeio da produção por ordem, o custo total da tarefa (ou seja, um lote ou um grupo de produtos fabricados como lote separado) é dividido pela quantidade total de unidade da tarefa, para determinar o custo unitário de produção. Terceiro aí se incluem apenas os custos de fabricação, e não as demais despesas referentes à operação da empresa, como marketing (promoção de vendas, propaganda etc.), despesas de entrega, despesas gerais e administrativas, despesas legais e despesas financeiras. Deve erigir-se uma muralha chinesa entre os custos de fabricação e todas as demais despesas que não se relacionam diretamente com a fabricação. A classificação e a segregação adequadas entre custos e despesas é de importância crítica.* Nota: *A prática comum no Brasil é reservar-se o termo custo para os gastos relativos a consumo na produção e despesa para os gastos referentes às atividades de administração, vendas e financiamento. A Lei 6.404/76 se refere a custo das mercadorias e serviços vendidos e a despesas com as vendas, despesas gerais e administrativas, despesas financeiras e outras despesas operacionais. (N.T.) As despesas com vendas e marketing, como propaganda, não são incluídas no custo do produto; são consideradas custos de efetivação das vendas e não de fabricação dos produtos. As despesas com pesquisa e desenvolvimento não são classificadas como custo do produto, ainda que levem ao desenvolvimento de novos produtos, novos métodos de fabricação, novos compostos de materiais ou outras melhorias tecnológicas. Os custos de matéria-prima e de mão-de-obra direta são evidentemente custos de fabricação. Em conjunto, são chamados custos primários. Os materiais diretos e a mão-de-obra direta são atribuídos aos produtos específicos em fabricação. Os custos indiretos de fabricação, por outro lado, apresentam problemas de atribuição a um determinado produto. E os custos indiretos fixos são a verdadeira dor de cabeça. Em inglês, esses custos são chamados de overhead, que significa geral ou indireto em relação aos produtos em fabricação. Relatório do custo de fabricação do exercício Capacidade de produção anual = 12.000 unidades Produção efetiva = 12.000 unidades Componentes básicos do custo Por unidade Total Figura 17.1 Relatório do lucro operacional e do custo de fabricação Relatório do lucro operacional do exercício Volume de vendas = Por unidade Receita de vendas Custo dos produtos vendidos Lucro bruto (ou margem bruta) Despesas operac. variáveis Margem de contribuição Despesas operacionais fixas Lucro Operacional (antes das desp. financ. e da provisão do IR) 1.400 (685) 715 (305) 410 11.000 unidades Total 15.400.000 (7.535.000) 7.865.000 (3.355.000) 4.510.000 (2.300.000) 2.210.000 O custo dos produtos vendidos é igual ao volume de vendas vezes o custo unitário de produção As despesas induzidas pelo volume de vendas e pela receita de vendas estão incluídas neste total único. Essas despesas não são custos de fabricação, isto é, não são parte do processo de produção. São chamadas custos do período, pois são lançadas no período em que são registradas e não se tornam parte do custo do produto. Esses quatro tipos básicos do custo de fabricação são chamados custos do produto. Eles se tornam parte integrante do produto e não são contabilizados como despesas até a venda do produto. O custo das 1.000 unidades fabricadas mas não vendidas é adicionado à conta estoques, no ativo. Presume-se que este seja um aumento razoável em relação às vendas anuais e ao nível do estoque inicial. Matérias-primas Mão-de-obra direta Custos indiretos variáveis Custos indiretos fixos Total dos custos de fabricação Para 11.000 unidades vendidas Para 1.000 unidades que ficaram nos estoques Total do custo de fabricação 215 260 35 175 685 685 685 2.580.000 3.120.000 420.000 2.100.000 8.220.000 7.535.000 685.000 8.220.000 Considere, por exemplo, a ordem de impressão para a produção de 10.000 exemplares de um livro. Os custos com papel e tinta (matéria prima) são atribuíveis a cada lote de produção. Do mesmo modo, os empregados que ajustam e operam as impressoras (mão-de-obra direta) também são identificáveis em relação a cada tarefa. Todavia, não há como confrontar diretamente os custos indiretos de fabricação com os diferentes lotes de produção; ao contrário, esses custos devem ser alocados, distribuídos ou rateados. Ainda bem mais problemáticos são os custos indiretos de fabricação fixos, que incluem uma ampla variedade de custos, como imposto predial e territorial sobre a fábrica, depreciação dos equipamentos de produção, remuneração de médicos e enfermeiros, e a remuneração fixa de vice- presidente de fabricação. Os custos indiretos de fabricação fixos devem ser alocados de acordo com alguns critérios para o rateio desses custos entre os diferentes produtos fabricados pela empresa. A empresa do exemplo fabrica apenas um produto; assim, os custos indiretos de fabricação fixos e variáveis são atribuídos a este único produto. (O Capítulo 15 analisa alguns aspectos e métodos de alocação de custos.) Conceito Chave CLASSIFICAÇÃO DELIBERADAMENTE IMPRÓPRIA DOS CUSTOS DE FABRICAÇÃO Para minimizar o lucro tributável, sabe-se que alguns fabricantes adotam classificações propositadamente impróprias para os custos dos produtos. Alguns gastos que deveriam ter sido contabilizados como custo de fabricação são registrados como despesas com vendas ou despesas gerais e administrativas. Esses gastos classificados de forma inadequada não são incluídos no cálculo do custo unitário de produção. O objetivo é maximizar os custos que são lançados imediatamente em despesa. Ao reduzir o lucro tributável, a empresa posterga o pagamento do imposto de renda. Nos Estados Unidos, a Lei de Reforma Tributária de 1986 dedicou especial atenção à classificação dos custos indiretos de fabricação. A experiência do Internal Revenue Service – IRS (órgão correspondente à Secretaria da Recita Federal do Brasil) mostrava que muitos fabricantes estavam adotando a prática da classificação imprópria. Agora, a legislação tributária americana específica minuciosamente os gastos a serem contabilizados como custos indiretos de fabricação e, portanto, ativados. Ativar significa contabilizar o custo em conta de estoque, no ativo, mediante sua inclusão no custo unitário de produção. Lembre-se de que o custo dos estoques permanece no ativo e não é baixada a despesa até a venda dos produtos. Os seguintes itens devem ser classificados definitivamente como custos de fabricação: benefícios aos empregados de produção; retrabalho, sucatas e perdas de estoques; controle de qualidade; reparos e manutenção de rotina em máquinas e equipamentos de produção. Evidentemente, a depreciação das máquinas e equipamentos de produçãoe o imposto predial e territorial sobre a fábrica devem ser classificados como custos indiretos de fabricação. Para ilustrar os efeitos das classificações inadequadas dos custos de fabricação, suponha que R$ 480,000,00 dos custos indiretos de fabricação fixos da empresa foram classificados como despesas operacionais fixas. Todos os outros custos e despesas permaneceram inalterados. A Figura 17.2 mostra os efeitos desta classificação inadequada. Atente sobretudo para a linha do lucro operacional, que é o lucro tributável antes da dedução das despesas financeiras. Na Figura 17.2, as despesas operacionais fixas são infladas em R$ 480.000,00 (de R$ 2.300.000,00 para R$ 2.780.000,00) A diferença provém dos custos indiretos de fabricação fixos, que diminuíram de R$ 2.100.000,00 para R$ 1.620.000,00. Assim, os R$ 480.000,00 de custos indiretos de fabricação fixos não foram importados às 12.000 unidades produzidas, reduzindo o custo unitário de produção em R$ 40,00, de R$ 685,00 para R$ 645,00. Lembre-se de que 1.000 das 12.000 unidades fabricadas durante o ano ficaram no estoque final, por não terem sido vendidas. Os custos de cada uma das 1.000 unidades em estoque estão subavaliadas em R$ 40,00, referentes aos custos indiretos de fabricação fixos, gerando a diferença total de R$ 40.000,00 a menos no custo final. O lucro operacional, ou seja, o lucro tributável antes das despesas financeiras, também apresenta uma diferença negativa de R$ 40.000,00, em decorrência do erro de classificação. Assim, o imposto de renda para o ano também será inferior ao devido. Em outras palavras, os livros foram manipulados para o registro de R$ 40.000,00 a menos no lucro operacional, simplesmente pela classificação de alguns gastos fora do lucro operacional.* Nota: *Embora seja um tanto incomum, o fabricante poderia começar e terminar o período sem estoques. Neste caso, o lucro seria o mesmo para qualquer classificação dos custos, embora a correta classificação dos custos seja importante nos relatórios gerenciais. É possível fixar o preço de venda a partir do acréscimo de uma determinada porcentagem de markup ao custo unitário de produção. Assim, os gerentes devem estar seguros quanto à inclusão de todos os custos indiretos de fabricação no cálculo do custo unitário de produção. Do contrário, a porcentagem do markup deve ser ajustada, pois estaria incidindo sobre um custo unitário de produção subavaliado. O melhor curso de ação parece ser a partir da classificação adequada de todos os custos indiretos de fabricação. Conceito Chave A maioria dos fabricantes apresenta custo indiretos de fabricação fixos bastante elevados: depreciação da fabricação e dos equipamentos, salários de uma ampla variedade d empregados (do vice-presidente de produção aos faxineiros), prêmio de seguro contra incêndio, imposto predial e territorial, e literalmente centenas de outros custos. Os custos indiretos de fabricação fixos geram capacidade de produção. Os gerentes devem mensurar ou pelo menos estimar da melhor maneira possível a capacidade de produção resultante dos custos indiretos de fabricação fixos. Capacidade é o potencial de produção máximo, em determinado período de tempo, resultante das instalações de fabricação disponíveis para uso imediato. Suponha que a capacidade de produção anual da empresa fosse de 15.000 unidades em vez de 12.000 unidades presumidas no exemplo anterior. A empresa classificou corretamente os custos entre custos de fabricação e outras despesas operacionais. Todos os outros fatores de lucro e produção continuam inalterados. A empresa fabricou apenas 12.000 unidades durante o ano. A diferença de 3.000 unidades entre a produção efetiva e a capacidade de produção é chamada capacidade ociosa. Resumindo, a empresa operou a 80% da capacidade: 12.000 unidades de produção efetiva ÷ 15.000 unidades de capacidade de produção = 80%. Convém salientar que 20% de capacidade ociosa não é incomum. Uma notícia recente da Associated Press afirma que: O índice de utilização da capacidade industrial do país permaneceu inalterado em janeiro, em 82,2%... Os fabricantes de bens duráveis... operaram a 79,9% da capacidade... enquanto os fabricantes de bens não duráveis trabalharam 86,1% da capacidade. Normalmente, quando os índices de utilização chegam a 85%, os economistas começam a preocupar-se com pontos de estrangulamento e aumento de preços. A produção abaixo da capacidade em determinado ano significa que a gerência deva reduzir a escala dos recursos de produção. A capacidade de produção envolve um horizonte de planejamento de longo prazo. A maioria dos fabricantes mantém em reserva uma parcela da capacidade, para fins de crescimento e para o atendimento de surtos inesperados na demanda pelos produtos. A nossa preocupação diz respeito a como determinar o custo de produção unitária em face da capacidade ociosa de 20%. Na maioria das situações, o nível de 20% de capacidade ociosa seria considerado dentro da faixa de normalidade. Assim, a empresa calcularia o custo de produção unitário da maneira já demonstrada. Os R$ 2.100.000,00 de custos indiretos de fabricação fixos seriam divididos pelas 12.000 unidades de produção efetiva, obtendo-se a taxa de aplicação (burden rate) dos custos variáveis de fabricação fixos de R$ 175,00. Esse é o valor incluído no custo unitário de produção da Figura 17.1. A teoria é que a quantidade efetiva de unidades produzidas deve absorver a totalidade dos custos indiretos de fabricação fixos do ano, embora uma fração desses custos tenha sido “depreciada”, uma vez que a empresa não produziu a plena capacidade. Assim, o custo da ociosidade está enterrado no custo unitário de produção, que teria sido menor se a empresa tivesse produzido à plena capacidade e diluído os custos indiretos de fabricação fixos entre as 15.000 unidades. A principal alternativa consiste em dividir o total dos custos indiretos de fabricação fixos pela capacidade. Daí resultaria uma taxa de aplicação dos custos indiretos de fabricação fixos de R$ 140,00, ou seja: R$ 2.100.000,00 (total dos custos indiretos de fabricação fixos) + 15.000 unidades (capacidade anual) = R$ 140,00 (taxa de aplicação). Em termos de valores totais, a empresa tinha uma capacidade ociosa de 20% durante o ano; assim, 20% de R$ 2.100.000,00 dos custos indiretos de fabricação fixos, ou R$ 240.000,00, seriam registrados como despesas com capacidade ociosa do ano. Essa quantia não seria incluída no cálculo do custo unitário de produção e teria baixado direto para despesa do período.* Nota: *O custo dos produtos vendidos seria de R$ 7.150.000,00 (11.000 unidades vendidas x R$ 650,00 de custo unitário de produção = R$ 7.150.000,00); a despesa com capacidade ociosa seria de R$ 420.000,00 e o total dos itens seria de R$ 7.570.000,00, que é R$ 35.000,00 a mais do que os R$ 7.535.000,00 de custo dos produtos vendidos na Figura 17.1. Em síntese, o lucro operacional seria R$ 35.000,00 inferior e os estoques também apresentariam a mesma diferença para menos. Os gerentes talvez prefiram não tratar o custo da ociosidade como despesa isolada, chamando a atenção para a situação. No relatório dos custos de fabricação, os gerentes perceberiam com facilidade que a empresa produziu a apenas 80% da capacidade e estariam cientes de que o custo unitário de produção foi mais alto do que o resultante da plena utilização da capacidade. Se, por outro lado, a produção efetiva tivesse sido substancialmente inferior à capacidade de produção, a taxa de aplicação dos custos indiretosde fabricação fixos não poderia basear-se na produção efetiva. O custo da ociosidade deveria constar dos relatórios internos como despesa segregada na demonstração do resultado para fins gerenciais (as demonstrações financeiras externas raramente divulgam o custo de ociosidade como despesa isolada). Relatório do custo de fabricação do exercício Capacidade de produção anual = 12.000 unidades Produção efetiva = 12.000 unidades Componentes básicos do custo Por unidade Total Figura 17.2 Classificação inadequada dos custos de fabricação Nos Estados Unidos, a regra contábil geralmente aceita é que a taxa de aplicação dos custos indiretos de fabricação fixos deve basear-se em níveis de produção normais, não necessariamente iguais a 100% de capacidade de produção, mas, em geral, na faixa de 75 a 90%. No entanto, deve admitir-se que não existem diretrizes rígidas sobre o assunto. Em resumo, alguma parcela do custo da ociosidade normal fica embutida no custo unitário de produção. Pois a taxa de aplicação dos custos indiretos de produção fixos se baseia em níveis de produção inferiores à capacidade.* Nota: *O parecer de Orientação CVM 24/92, aplicável às companhias abertas, trata da capacidade ociosa. Lá está dito que: “O custo referente à capacidade instalada deve ser transferido às unidades produzidas, integralmente, sempre que as instalações produtivas estiverem sendo utilizadas em condições normais. A partir do ponto em que a ociosidade deixar de estar dentro dos limites da normalidade, o custo referente a essa ociosidade em excesso deve ser levado diretamente à despesa não operacional, a título Relatório do lucro operacional do exercício Volume de vendas = Por unidade Receita de vendas Custo dos produtos vendidos Lucro bruto (ou margem bruta) Despesas operac. variáveis Margem de contribuição Despesas operacionais fixas Lucro Operacional (antes das desp. financ. e da provisão do IR) 1.400 (645) 755 (305) 450 11.000 unidades Total 15.400.000 (7.095.000) 8.305.000 (3.355.000) 4.950.000 (2.780.000) 2.170.000 O custo dos produtos vendidos é igual ao volume de vendas vezes o custo unitário de produção, que agora é de apenas R$ 645,00 por unidade. Inclui R$ 480.000,00 de custo de fabricação, o que é incorreto. Este é o lucro tributável antes da dedução das despesas financeiras. Está R$ 40.000,00 mais baixo por causa da classificação inadequada dos custos de fabricação. Este total não inclui R$ 480.000,00 de custos indiretos de fabricação, que foram classificados de maneira imprópria, conforme mostrado acima. O custo das 1.000 unidades fabricadas mas não vendidas é adicionado à conta estoques, no ativo. Mas aqui o cálculo está baseado no custo unitário de produção mais baixa de R$ 645,00. Matérias-primas Mão-de-obra direta Custos indiretos variáveis Custos indiretos fixos Total dos custos de fabricação Para 11.000 unidades vendidas Para 1.000 unidades que ficaram nos estoques Total do custo de fabricação 215 260 35 135 645 645 645 2.580.000 3.120.000 420.000 1.620.000 7.740.000 7.095.000 645.000 7.740.000 de item extraordinário, não se admitindo a sua transferência para estoques, evitando-se, desta maneira, o risco de uma superavaliação destes e da não possibilidade de sua recuperação.” (N.T.) Conceito Chave INEFICIÊNCIA DE FABRICAÇÃO O cenário de fabricação ideal é o da eficiência de produção máxima – sem desperdício de materiais, subaproveitamento de mão-de-obra, altos níveis de retrabalho de itens reprovados pela inspeção de qualidade, ineficiência energética e assim por diante. O objetivo é a eficiência ótima e a produtividade máxima para todos os custos variáveis de fabricação. Hoje, a palavra-chave é TQM, ou gestão de qualidade total, como meio para a obtenção dessas eficiências e maximização da qualidade. Os relatórios de controle gerencial devem destacar com nitidez os índices de produtividade para cada fator do processo de produção – para cada item de matéria-prima, para cada atividade de mão-de-obra e para os diferentes componentes do custo variável. Um dos principais índices de produtividade, por exemplo, é o de horas de mão-de-obra direta por unidade. Dez ou quinze anos atrás, eram necessárias dez horas para a fabricação de uma tonelada de aço. Hoje, a duração do processo foi reduzida para cerca de quatro horas. Um artigo recente no The New York Time comentou que era impressionante a pequena quantidade de empregados que se encontravam a área de produção das modernas usinas siderúrgicas. O cálculo do custo unitário do produto se baseia na premissa básica de que o processo de fabricação é razoavelmente eficiente, ou seja, que os índices de produtividade referentes a todos os fatores de custo estão bastante próximos dos padrões. Os gerentes devem analisar os índices de produtividade dos relatórios de controle de produção e adotar ações corretivas rápidas para a solução dos problemas. No entanto, ocasionalmente, a situação se descontrola e surge o problema contábil de como tratar as grandes ineficiências. Como explicação, suponha que a empresa do exemplo tenha desperdiçado matérias-primas durante o ano. Imagine que o custo total de matéria-prima no cenário original, de R$ 2.580.000,00 (ver Figura 17.1), incluísse R$ 660.000,00 de perdas de matéria-prima. Esse material foi sucateado e não foi utilizado nos produtos finais. O problema talvez tenha sido pela inexperiência ou falta de treinamento dos empregados. Também é possível que se tenham utilizado materiais de qualidade inferior, aquém dos padrões de controle de qualidade dos produtos, como tentativa de redução dos custos. Evidentemente, o problema deveria ter sido sanado antes de atingir tais proporções, a ação corretiva deveria ter sido mais rápida. De qualquer maneira, imagine que o problema persistiu e o resultado foi o desperdício de R$ 660.000,00 em materiais descartados como sucata, em vez de serem utilizados no processo de produção. A abordagem preferida é retirar os R$ 660.000,00 dos cálculos do custo unitário de produção, pois o desperdício atípico o reduziria em R$ 55,00: R$ 660.000,00 (custo do desperdício da matéria-prima) ÷ 12.000 unidades de produção = R$ 55,00. O excesso de R$ 660.000 no custo da matéria-prima seria deduzido de uma vez só como despesa extraordinária ou prejuízo no relatório de lucros. Também seria possível incluir o custo das matérias-primas desperdiçadas no custo unitário de produção, mas a conseqüência provável seria um número perigosamente enganoso. No entanto, o destaque dos excessos de custo de matéria-prima no relatório de lucros para fins gerenciais talvez seja um assunto sensível. Evidentemente, ninguém quer assumir a culpa pelo erro. O melhor seria enterrar o desperdício no custo de produção unitário e deixar que afete o lucro dessa maneira pouca nítida, em vez de salientá-lo de maneira ostensiva e chamar a atenção da alta administração. Muitas empresas industriais adotam o sistema de custo-padrão. Talvez o termo sistema aqui seja muito amplo. O seu significado é que a empresa utilizacertos procedimentos para definir benchmarks de desempenho e depois compara os custos efetivos contra esses paradigmas, como ajuda aos gerentes no exercício das funções de controle. Os padrões de quantidade e preço diferentes às matérias-primas, mão-de-obra direta e custos indiretos de fabricação atuam como medidas de desempenho, destacando-se quaisquer variações ou desvios em relação aos paradigmas. Apesar dos notórios benefícios dos sistemas de custo padrão, muitas empresas industriais não adotam qualquer sistema formal dessa natureza, entre outros motivos porque o desenvolvimento e atualização dos padrões exigem muito tempo e dinheiro. Se os padrões não estiverem corretos e atualizados, talvez redundem em mais malefícios. No entanto, de qualquer maneira, os custos afetivos devem ser comparados contra padrões de desempenho. No mínimo, é preciso confrontar os custos correntes com os obtidos no passado. Muitas associações comerciais coletam e publicam médias de custos setoriais muito úteis como bases de comparação. Conceito Chave EXCESSO DE PRODUÇÃO Consulte mais uma vez a Figura 17.1. Observe que o custo de produção unitário de R$ 685,00 inclui R$ 175,00 de custos indiretos de fabricação fixos. Se as unidades forem vendidas, esses custos indiretos são transferidos para custo dos produtos vendidos; em caso contrário, os R$ 175,00 unitários são incluídos no saldo final dos estoques. No exemplo, os estoques aumentaram em 1.000 unidades; assim, os estoques no final do período carregam R$ 175.000,00 de custos indiretos de fabricação fixos que não serão baixados para despesa até a venda dos produtos em períodos futuros. A inclusão de todos os custos indiretos de fabricação fixos nos estoques é o chamado custeio real por absorção pleno. Parece muito razoável, não? As empresas em crescimento precisam de bastante capacidade para a fabricação dos produtos vendidos durante o ano e ainda para a acumulação de estoques em antecipação ao aumento das vendas no ano seguinte. No entanto, as empresas às vezes incorrem em excesso de produção. A quantidade fabricada é muito superior às vendas do período e o aumento dos estoques é muito grande, bem maior do que seria necessário para o próximo ano. Suponha, por exemplo, que a empresa tenha vendido apenas 6.000 unidades durante o ano, apesar da produção efetiva de 12.000 unidades. A Figura 17.3 apresenta os relatórios de lucros e de custos de fabricação para esse cenário de “desastre”. Observe que o estoque da empresa teria aumentado em 6.000 unidades – a mesma quantidade de unidades vendidas durante o ano! O aumento do estoque poderia ocorrer em antecipação à expectativa de uma greve duradoura no futuro próximo, a qual fecharia a produção durante vários meses. Ou talvez a empresa previsse série escassez de matéria-prima nos próximos. Seriam justificativas plausíveis para a acumulação dos estoques, mas presuma um aumento imotivado. Ao contrário, parta da premissa de que a empresa ficou bem aquém das metas de vendas para o ano e não ajustou a produção à nova realidade. E também imagine que as previsões de vendas para o ano seguinte não são muito animadoras. O grande saldo de estoques no fim do ano envolve todo tipo de problemas. Onde armazenar o excedente? Será preciso reduzir o preço de venda para liquidar os estoques? E os custos indiretos de fabricação fixos incluídos nos estoques. Esta última questão acarreta problemas contábeis bastante difíceis. Se a produção tivesse sido de apenas 6.000 unidades, em vez das 12.000 efetivas, a empresa estaria com 50% de capacidade ociosa – tema já analisado neste capítulo. Ao produzir 12.000 unidades, a empresa parece estar aproveitando integralmente a capacidade de produção. Mas será que é isso mesmo? A fabricação de estoques excessivos é uma forma de utilização falsa e ilusória da capacidade de produção. Relatório do custo de fabricação do exercício Capacidade de produção anual = 12.000 unidades Produção efetiva = 12.000 unidades Componentes básicos do custo Por unidade Total Figura 17.3 Acumulação excessiva de estoques. Relatório do lucro operacional do exercício Volume de vendas = Por unidade Receita de vendas Custo dos produtos vendidos Lucro bruto (ou margem bruta) Despesas operac. variáveis Margem de contribuição Despesas operacionais fixas Lucro Operacional (antes das desp. financ. e da provisão do IR) 1.400 (685) 715 (305) 410 11.000 unidades Total 8.400.000 (4.110.000) 4.290.000 (1.830.000) 2.460.000 (2.300.000) 160..000 O custo destas unidades inclui R$ 1.050.000,00 de custos indiretos de fabricação fixos, que é a metade do custo do ano. O custo das 6.000 unidades fabricadas mas não vendidas é adicionado à conta estoques, no ativo. Matérias-primas Mão-de-obra direta Custos indiretos variáveis Custos indiretos fixos Total dos custos de fabricação Para 6.000 unidades vendidas Para 6.000 unidades que ficaram nos estoques Total do custo de fabricação 215 260 35 175 685 685 685 2.580.000 3.120.000 420.000 2.100.000 8.220.000 4.110.000 4.110.000 8.220.000 Um bom ponto a ser sustentado é que os custos indiretos de fabricação fixos não devem ser transferidos para os excessos de estoque; o valor desses custos fixos que em condições normais seriam transferidos para os estoques deve ser baixado como despesa do período. Se a empresa não for capaz de cortar os custos indiretos de fabricação fixos, o que é muito difícil no curto prazo, esse encargo se transferirá para o ano seguinte. O melhor é pegar o touro pelo chifre neste ano. Presuma que a empresa precisará reduzir os estoques no próximo ano, o que significa a necessidade de cortar a produção. Se a empresa não for capaz de efetuar reduções substanciais nos custos indiretos de fabricação fixos, a capacidade ociosa no próximo ano será muito grande. A questão é se o excesso de estoques no fim do período deve ser avaliado apenas pelos custos variáveis de fabricação e excluir os custos indiretos de fabricação fixos. Do ponto de vista prático, é muito difícil traçar uma linha entre os níveis de estoque normais e excessivos. Se os estoques finais não forem excessivamente elevados, o método de avaliação mais adequado é o custo real por absorção pleno. A taxa de aplicação dos custos indiretos de fabricação fixos é incluída no custo unitário de produção de todas as unidades no estoque final.* Ponto Final Os fabricantes precisam determinar o custo unitário dos produtos; também devem desenvolver sistemas de contabilidade relativamente complexos para acompanhar todas as modalidades de custos resultantes das atividades de fabricação. Os custos diretos de matéria-prima e de mão-de-obra e os custos indiretos de fabricação variáveis são de apuração relativamente fácil. Já os custos indiretos de fabricação fixos envolvem outro grau de complexidade. Este capítulo examina a questão do excesso dos custos de fabricação devido a ineficiências, e de excesso de produção em relação às vendas. Os gerentes precisam ficar à frente dessassituações, caso ocorram, e saber como os custos de produção unitários são afetados pelos procedimentos contábeis no tratamento desses problemas.** Nota: * Uma teoria sustenta que o estoque final não deve incluir qualquer parcela de custos indiretos de fabricação fixos, independentemente da situação de normalidade ou anormalidade das quantidades estocadas. O custo unitário de produção conteria apenas custos de fabricação variáveis. É o chamado custeio direto, embora a denominação mais adequada seja custeio variável. Não é aceitável para efeitos de relatórios financeiros externos ou de imposto de renda. ** No Brasil, de acordo com os princípios fundamentais de contabilidade, o método contábil indicado é o custeio real por absorção, ou seja, os custos de produção devem ser os custos reais incorridos, obtidos por meio da contabilidade geral e mediante o sistema por absorção, incluindo com relação a cada produto todos os gastos de produção diretos e indiretos. A legislação fiscal também impõe o custo real por absorção na avaliação na avaliação dos estoques e na apuração dos resultados e obriga as empresas a manter contabilidade de custos integradas e coordenada com a contabilidade geral (Decreto- Lei 1598/77 e Parecer Normativo 06/79), sob pena de adoção de critérios arbitrários. No entanto, para efeitos gerenciais, nada impede que se utilize o custeio direto ou variável, pelo qual os custos fixos são lançados diretamente no resultado do período. (N.T.)
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