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Classificação e Interpretação dos negócios jurídicos (roteiro de aula)

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Classificação dos negócios jurídicos
Obs: Esse esquema classificatório não é exaustivo, uma vez que a doutrina cuida de apresentar outros subtipos, de acordo com os mais variados critérios.
Quanto ao número de declarantes, os negócios jurídicos poderão ser:
a) unilaterais – quando concorre apenas uma manifestação de vontade (o testamento, a renúncia, p. ex.);
b) bilaterais – quando concorrem as manifestações de vontades de duas partes, formadoras do consenso (os contratos de compra e venda, locação, prestação de serviços, p. ex.);
c) plurilaterais – quando se conjugam, no mínimo, duas vontades paralelas, admitindo-se número superior, todas direcionadas para a mesma finalidade (o contrato de sociedade, p. ex.).
Quanto ao exercício de direitos poderão ser:
a) negócios de disposição – quando autorizam o exercício de amplos direitos, inclusive de alienação, sobre o objeto transferido. Em regra, são negócios jurídicos translativos, a exemplo da doação;
b) negócios de administração – admitem apenas a simples administração e uso do objeto cedido. É o que ocorre no comodato e no mútuo.[2: A respeito dessa classificação, cf. Maria Helena Diniz, Curso de Direito Civil Brasileiro, 15. ed., São Paulo: Saraiva, 1999, v. 1, p. 278.]
Quanto às vantagens patrimoniais, poderão ser:
a) gratuitos – são aqueles em que somente uma das partes é beneficiada (a doação pura, p. ex.);
b) onerosos – consistem em negócios em que ao benefício auferido experimenta-se um sacrifício correspondente (os contratos de empreitada, de compra e venda, de mútuo a juros etc.). Subtipificam-se em: comutativos e aleatórios. Nos primeiros, existe um equilíbrio subjetivo entre as prestações pactuadas, de forma que as vantagens auferidas pelos declarantes equivalem-se entre si (na locação, por exemplo, existe equilíbrio subjetivo entre as prestações do locador – cessão do uso do bem –, e do locatário – pagamento do aluguel). Já nos segundos, a prestação de uma das partes fica condicionada a um acontecimento exterior, não havendo o equilíbrio subjetivo próprio da comutatividade. Assim, no contrato de compra de coisas futuras (de uma safra, p. ex.), o comprador pode assumir o risco de, naquele ano, a plantação não prosperar, não vindo a produzir absolutamente nada ou produzindo em quantidade inferior ao esperado. Nessas hipóteses, o preço previamente convencionado será devido, já que assumiu tal risco, ao pactuar um negócio jurídico de natureza aleatória;[3: Também chamado de mútuo feneratício.]
c) neutros – são destituídos de atribuição patrimonial específica, não se incluindo em nenhuma das duas categorias supra-apresentadas. É o caso da instituição voluntária do bem de família, que não tem natureza gratuita nem onerosa;[4: Orlando Gomes, ob. cit., p. 361.]
d) bifrontes – são negócios que tanto podem ser gratuitos como onerosos. Tudo depende da intenção perseguida pelas partes. O contrato de depósito, por exemplo, é, em princípio, gratuito, embora nada impeça seja convencionada a remuneração do depositário, convertendo-o em negócio oneroso.
Quanto à forma, poderão ser:
a) formais ou solenes – são aqueles que exigem, para a sua validade, a observância da forma prevista em lei (venda de imóvel de valor superior ao limite legal, o casamento etc.);
b) não formais ou de forma livre – são aqueles cujo revestimento exterior é livremente pactuado, sem interferência legal (doação de bem móvel etc.), sendo a regra geral dos negócios jurídicos no ordenamento brasileiro (CC/2002, art. 107).
Quanto ao momento da produção de efeitos, poderão ser:
a) inter vivos – produzem os seus efeitos estando as partes ainda em vida;
b) mortis causa – pactuados para produzir efeitos após a morte do declarante (testamento, p. ex.).
Quanto à existência, poderão ser:
a) principais – existentes por si mesmos (compra e venda, mútuo, leasing etc.);
b) acessórios – cuja existência pressupõe a do principal (penhor, fiança etc.).
Quanto ao conteúdo, os negócios jurídicos poderão ser:
a) patrimoniais – relacionados com bens ou direitos aferíveis pecuniariamente (negócios reais, obrigacionais etc.);
b) extrapatrimoniais – referentes a direitos sem conteúdo econômico (direitos puros de família, direitos de personalidade etc.).
Quanto à eficácia do negócio jurídico, classificam-se em:
a) constitutivos – cuja eficácia opera-se ex nunc, ou seja, a partir do momento da celebração;
b) declaratórios ou declarativos – negócios em que os efeitos retroagem ao momento da ocorrência fática a que se vincula a declaração de vontade, ou seja, ex tunc.
Quanto à relação jurídica base:
Negócio Jurídico de Direito Material;
Negócio Jurídico Processual: inovação do Código de Processo Civil de 2015, que passou a admitir, expressamente, que as partes celebrassem negócio jurídico para estipular mudanças no procedimento, inclusive com a possibilidade de criação de um calendário para a prática de atos processuais[5: “Art. 190. Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito às partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo.Parágrafo único. De ofício ou a requerimento, o juiz controlará a validade das convenções previstas neste artigo, recusando-lhes aplicação somente nos casos de nulidade ou de inserção abusiva em contrato de adesão ou em que alguma parte se encontre em manifesta situação de vulnerabilidade.”][6: “Art. 191. De comum acordo, o juiz e as partes podem fixar calendário para a prática dos atos processuais, quando for o caso.§ 1.º O calendário vincula as partes e o juiz, e os prazos nele previstos somente serão modificados em casos excepcionais, devidamente justificados.§ 2.º Dispensa-se a intimação das partes para a prática de ato processual ou a realização de audiência cujas datas tiverem sido designadas no calendário.”]
Interpretação do negócio jurídico
Regra geral: art. 112 do CC/2002
Importância da Boa Fé: art. 113 (“Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração”), quanto nas disposições genéricas sobre os contratos.[7: CC/2002: “Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato.Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios da probidade e boa-fé”.]
Interpretação estrita dos negócios jurídicos benéficos e da renúncia: art. 114

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