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A possibilidade de haver um crime de homicídio privilegiado Cópia

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Análise sobre o crime de homicídio
O Código Penal de 1940 utiliza a expressão homicídio para nomear o crime que suprime a vida alheia, independentemente das condições ou circunstâncias em que esse crime é praticado. Assim, homicídio é a eliminação da vida de alguém causada por outrem. Admite tanto a forma culposa quanto a dolosa. Dentro da forma dolosa há três modalidades: homicídio simples (art. 121, caput), homicídio privilegiado (art. 121, § 1º) e homicídio qualificado (art. 121, § 2º). As circunstâncias em que o crime se der determinarão a sua adequação à uma ou à outra modalidade. 
A possibilidade de haver um crime de homicídio privilegiado-qualificado;
O homicídio privilegiado-qualificado é conhecido também como homicídio híbrido. Configura-se quando o agente comete o crime de acordo com as motivações do § 1º do art. 121 do Código Penal, e para executá-lo utiliza os meios (inc. III) ou os modos (inc. IV) qualificadores do § 2º do referido artigo. 
A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal nesse sentido afirma que:
A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é firme no sentido da possibilidade de homicídio privilegiado-qualificado, desde que não haja incompatibilidade entre as circunstâncias do caso. Noutro dizer, tratando-se de qualificadora de caráter objetivo (meios e modos de execução do crime), é possível o reconhecimento do privilégio (sempre de natureza subjetiva).
Os meios e os modos são considerados qualificadoras objetivas, por isso não conflitam com as privilegiadoras, que são sempre subjetivas. Porém, se as qualificadoras também forem de caráter subjetivo haverá conflito e incompatibilidade com a privilegiadora, é o caso dos motivos (inc. I e II) e dos fins (inc. IV) qualificadores. Isso ocorre pois os motivos são nobres nas privilegiadoras, e antissociais nas qualificadoras. 
A hipótese de um crime privilegiado-qualificado ser hediondo ou não; 
A Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990, que dispõe sobre os crimes hediondos, determina que em seu art. 1º, inc. I que serão considerados crimes hediondos o homicídio (art. 121, CP), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e o homicídio qualificado (art. 121, § 2º, incisos I, II, III, IV, V, VI e VII, CP), independentemente de o crime ser tentado ou consumado. 
Quanto ao fato de o crime ser privilegiado-qualificado reforça-se o que já foi dito a cima, apenas as qualificadoras de caráter objetivo poderão coexistir com as privilegiadoras, que serão sempre subjetivas. 
Ao analisar o homicídio privilegiado-qualificado em conjunto com a figura do crime hediondo percebe-se que a Lei nº 8.072/90 não faz menção à figura hibrida do homicídio, portanto, este não integra o rol dos crimes hediondos. Tento em vista o Princípio da Legalidade Estrita, que determina que salvo nas hipóteses em que haja um benefício ao réu, não é possível a interpretação extensiva do direito penal, não é possível estender a hediondez à referida figura. Uma vez que feito isso o agente ficaria sujeito à cumprir sua pena obrigatoriamente em regime inicial fechado, à proibição de concessão de anistia, graça ou indulto, a progressão de regime seria possível apenas após cumpridos 2/5 da pena, se primário, e 3/5 da pena, se reincidente, o que é evidentemente danoso ao indivíduo. 
Diante da inexistência de previsão legal, bem como o menor desvalor da conduta, em razão dos motivos determinantes do crime, em comparação ao homicídio qualificado, o homicídio qualificado-privilegiado não pode ser considerado como crime hediondo. O próprio Código Penal abre a possibilidade de uma maior valoração dos motivos do crimes em face à outros aspectos ao prever no art. 67 que “[...] a pena deve aproximar-se do limite indicado pelas circunstâncias preponderantes, entendendo-se como tais as que resultam dos motivos determinantes do crime [...]” 
Assim, o caráter hediondo da infração penal do homicídio privilegiado-qualificado fica afastado em razão do reconhecimento do privilégio.
Como ficaria a questão do homicídio passional considerando o privilégio do domínio da violenta emoção X a qualificadora do feminicídio.
Determinados homicídios são chamados de “passionais”, termo que deriva de “paixão”, assim, considera-se o crime praticado por paixão. O dicionário Michaelis apresenta vários significados para a palavra paixão, entre eles “Sentimento, entusiasmo, predileção ou amor tão intensos que ofuscam a razão; Hábito ou vício incontrolável, dominador”. Apesar do sentido amplo de paixão, em sentido jurídico considera-se passional apenas o crime cometido em razão de relacionamento sexual ou amoroso.
De acordo com a redação atual do Código Penal, a classificação do crime como passional é irrelevante, o termo passional nem mesmo chega a ser mencionado. Determina ainda o CP em seu art. 28, inc. I que a emoção ou a paixão não excluem a imputabilidade do agente. 
Porém, tal crime pode revestir-se das características de crime privilegiado desde que se apresente os requisitos exigidos no § 1º do art. 121 do CP, são eles: injusta provocação da vítima, domínio de violenta emoção, imediatismo, ou seja, a ação deve se dar logo em seguida à injusta provocação. Por exemplo, se o agente flagra sua esposa com o amante e, dominado por violenta emoção, desfere logo em seguida vários tiros contra eles, poderá responder pelo homicídio privilegiado, desde que presentes as condições exigidas. Ressalta-se que se a emoção ou a paixão estiverem ligadas a alguma doença ou deficiência mental, poderão excluir a imputabilidade do agente.
Em relação à qualificadora do feminicídio (art. 121, § 2º, inc. VI), prevalece o entendimento de que trata-se de um qualificadora subjetiva, uma vez que incide quando o homicídio é cometido contra a mulher por razões da condição de sexo feminino. A violência de gênero não é uma forma de execução do crime, mas, sim, seu motivo. Por isso que é subjetiva, refere-se à esfera interna do agente, à sua consciência. Tendo isso em vista é nítida a impossibilidade da incidência da privilegiadora da violenta emoção. Quando qualificadora e privilegiadora são subjetivas não podem coexistir, o reconhecimento de uma afasta a outra. 
Referências Bibliográficas 
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus n. 97034/MG. Relator: BRITTO, Ayres. Publicado no DJe-081 de 07-05-2010. Disponível em: <http://stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28HOMICIDIO+PRIVILEGIADO-QUALIFICADO%29&base=baseAcordaos&url=http://tinyurl.com/y7wmba6v>. Acessado em: 21 ago. 2018
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte Especial 2: dos crimes contra a pessoa. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. v. 2.
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: Parte especial, arts. 121 a 212. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. v. 2.
MICHAELIS. Significado da palavra paixão. Disponível em: <https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/paix%C3%A3o/ >. Acesso em: 21 ago. 2018

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